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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ – UESPI

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS – CCSA


CURSO: BACHARELADO EM DIREITO
DISCIPLINA: PSICOLOGIA JURÍDICA
PROFESSORA: SARAH TEIXEIRA

REFLEXÕES JURÍDICO-PSICOLÓGICAS ACERCA DA VIOLÊNCIA CONTRA A


MULHER

Aline Alves
André F. Siqueira
Bruna T. D. de Melo
Camila F. R. Matos
Débora R. P. de Oliveira
Maresa C. Barros
Yasmin R. C. Alves

TERESINA – PI
AGOSTO / 2019
1. Introdução

O Brasil passou, nos últimos anos, por um processo de busca pela proteção a
pessoas em situação de vulnerabilidade, que vem como corolário do princípio
constitucional da dignidade da pessoa humana, que coloca o ser humano como centro do
ordenamento jurídico. Com isso veio, de forma natural e previsível, resposta contrária dos
setores mais conservadores e reacionários da sociedade.
Neste trabalho trataremos da violência contra a mulher e, para uma melhor
compreensão do que está a ser escrito, será feita uma contextualização histórica e
também dos valores atribuídos a ela. Será dada especial importância ao crime de
feminicídio, a todo o debate acerca da construção desse tipo penal e a desconfiança da
população no sistema judiciário como guardião da lei.
Não menos importante é a abordagem sobre violência física, sexual e
psicológica, todas previstas expressamente na Lei Maria da Penha. Os desdobramentos
desse ambiente no que diz respeito à hierarquia de emprego e salários e, não menos
importante, no ambiente doméstico.

2. Conceitos e valores atribuídos ao gênero

Refletir sobre o termo “violência” traz, inevitavelmente, uma multiplicidade de


conceitos. Em síntese, são ações exercidas mediante uso de força ou constrangimento de
qualquer espécie sobre alguém, tendo como pano de fundo determinado fim. Quando se
agrega o elemento “gênero” a esse conceito, emergem perspectivas políticas, históricas e
culturais, que são relevantes e necessárias para o correto entendimento do problema,
suas causas, justificativas, bem como para a busca de intervenções preventivas e/ou
punitivas.
Em primeira análise, pode-se conceituar violência de gênero como a
discriminação ou agressão de qualquer natureza baseada numa concepção de
superioridade de determinado gênero em relação ao outro, e que, hodiernamente, apesar
dos avanços legislativos e constitucionais acerca deesse tipo de violência, ainda configura
como um crime presente nas sociedades atuais, cujos índices de ocorrência são
crescentes e preocupantes.
Assim, compreender as relações sociopolíticas e estruturais de um contexto
marcado historicamente por uma realidade social rígida, machista e patriarcal, além do
determinismo comportamental validado e esperado da mulher e do homem, é de
fundamental relevância ao estudo inicial do tema. Em vista disso, é necessário,
primeiramente, o entendimento distintivo dos termos “sexo” e “gênero”. Nesse sentido,
Scott, elencando um panorama analítico histórico, expõe:

“Na sua utilização mais recente, o “gênero” parece


ter feito aparição inicial entre as feministas
americanas, que queriam enfatizar o caráter
fundamentalmente social das distinções baseadas
no sexo. A palavra indicava uma rejeição ao
determinismo biológico implícito no uso de termos
como “sexo” ou “diferença sexual”. O termo “gênero”
enfatizava igualmente o aspecto relacional das
definições normativas das feminilidades.” (1990,
p.72)

Dessa forma, para além de uma noção meramente biológica, as relações de


gênero englobam aspectos sociais diversos, ou seja, o estudo do âmbito completo da
violência de gênero reclama a compreensão de suas bases na realidade social. Nesse
viés, é sabido que, ao longo da história, às mulheres foram designados papéis de caráter
doméstico, matrimonial e familiar, ao passo que ao homem atribuía-se o papel de
provedor e atuação na esfera pública e política.
Assim, nas cidades gregas a figura feminina não tinha participação política,
tampouco status de cidadã. Durante a Idade Média, em conformidade com os valores
católicos dominantes, a mulher continuou submissa à autoridade masculina, mantendo
sua condição associada à esfera doméstica. Nesse período, a violência contra as
mulheres era comum e até aceita socialmente, justificada na autoridade do homem.
Somente após o século XVIII começaram a emergir as primeiras manifestações
no sentido de se reconhecerem direitos à classe feminina. Contudo, somente no fim do
século XIX surgiu o movimento feminista e, a partir de então, a luta por direitos e
dignidade ganhou traços mais fortes e efetivos. Atualmente, no século XXI, ainda há
reprodução de valores históricos ultrapassados que corroboram práticas violentas e
abusivas contra as mulheres, fato evidenciado nas altas taxas de feminicídio,
desigualdade salarial e violência doméstica.
Posto isso, é evidente que, não obstante a adoção de medidas legais como a
Lei Maria da Penha, a sociedade brasileira ainda reflete de maneira sólida valores
patriarcais, atribuindo constantemente funções válidas como masculinas e femininas,
dotando, muitas vezes, de carga desigual a essas atribuições. Nesse sentido, Pereira e
Pereira (2011) citando Saffioti (2001) afirmam que:

“A maior parte das agressões é consequência da


adesão da sociedade a construções de papéis
desiguais entre os gêneros. Os papéis sexuais,
considerados padrões culturais de comportamento
que vigoram em uma sociedade, em um
determinado momento histórico, determinam o que
se espera de homens e mulheres nos espaços
públicos e privados. Em cada cultura,
comportamentos para cada sexo são estimulados
em meninos e meninas desde que nascem. Em sua
maioria, outorgam maior poder aos homens,
principalmente na família, gerando os episódios de
dominação e violência.” (2011, p. 23)

Conforme o exposto, a construção social do gênero tem sua origem desde os


primeiros momentos da socialização, a partir da reprodução de valores tidos como padrão
social. Dessa forma, na atual conjuntura brasileira tem-se a reprodução de condutas
normativas ditas como adequadas para cada gênero e isso perpetua seu caráter patriarcal
e serve de base para a ocorrência de casos de violência. Tais situações de caráter
violento constituem-se desde a desigualdade salarial, assédios até casos de feminicídos.
Dentro dessa análise, Saffioti (2001) argumenta que:

“No exercício da função patriarcal, os homens detêm


o poder de determinar a conduta das categorias
sociais nomeadas, recebendo autorização ou, pelo
menos, tolerância da sociedade para punir o que se
lhes apresenta como desvio. [...] a execução do
projeto de dominação-exploração da categoria social
homens exige que sua capacidade de mando seja
auxiliada pela violência. Com efeito, a ideologia de
gênero é insuficiente para garantir a obediência das
vítimas potenciais aos ditames do patriarca, tendo
esta necessidade de fazer uso da violência.”
(2001, p. 115)

Feitas tais considerações sociais, históricas e conceituais preliminares com o


escopo de abrir caminho para uma compreensão mais aprofundada da estrutura da
violência de gênero, buscar-se-á, agora, adentrar nesse estudo de modo mais detalhado
e significativo.

3. Tipificar ou não o feminicídio no código penal?

Como já foi abordado, a violência contra a mulher advém de um contexto


sociocultural patriarcal em que ser mulher significa ser subordinada, seja a julgamento de
cunho moral, estereótipos de comportamento e submissão hierárquica no meio político e
profissional, por ainda erroneamente ser entendido no imaginário social, mesmo que
implicitamente, que essas aqui referidas não têm legitimidade para definir o que querem
para a própria vida, estando sempre a sombra de uma figura norteadora e em caso de
quebra dessa expectativa, é que muitas vezes ocorrem os feminicídios.
Paralela a esta exposição, surge a questiúncula sobre a tipificação criminal do
feminicídio; Sabe-se que retirar a vida de alguém configura o crime de homicídio, mas as
correntes a favor da inserção do feminicídio no código penal defendem que, diferente do
homicídio, a violência de gênero contra a figura feminina acontece a partir do ódio ou
menosprezo por sua condição de mulher.
Alguns países latino-americanos resolveram incluir feminicídio na legislação
penal, após reuniões internacionais a respeito do tema, intrinsecamente ligados aos
direitos humanos e ao principal deles, o direito à vida. Porém, tornaram-se de difícil
cumprimento por romperem com vários princípios, como por exemplo a razoabilidade e
individualização da pena, princípio da legalidade e por não serem claras o suficiente para
nortear o judiciário a uma interpretação concisa, além de que, vários países abordam de
maneiras diferentes, de forma que o que é feminicídio em um Estado pode não ser no
outro.
No que se refere às correntes defensivas da tipificação, alega-se que existe
uma considerável perda de vidas femininas em condições que não se repetem no caso do
gênero oposto; e que estando previsto no ordenamento jurídico, tal crime ganharia mais
visibilidade social e facilitaria o acesso à justiça; o que por consequência, obrigaria o
Estado a adotar políticas públicas de conscientização, prevenção e erradicação desse tipo
de violência, além de punir adequadamente, o transgressor da lei.
Quanto aos que possuem opinião contrária, o principal argumento é que o
problema não será resolvido apenas aumentando penas e acrescentando novas figuras
penais, pois o Direito penal não é capaz de mudar o comportamento ou de ressocializar o
infrator. Além destes, também expõem que feminicídio generaliza as necessidades
diferentes de cada mulher, pois historicamente mulheres negras ou indígenas sempre
tivera uma maior dificuldade de acesso à justiça do que as brancas de classe média, por
exemplo. E, por fim, deixam o questionamento se os sujeitos ativos sempre são homens.
É certo que, ambas são consistentes e independentemente da posição
adotada, é necessário a união das duas vertentes, pois a violência de gênero praticada
contra a mulher precisa de atenção e certeza de quem a comete não sairá impune, ao
mesmo tempo que é necessário que desde o ambiente doméstico a uma escala social
ampla, seja reconhecido que ser mulher não é sinônimo de fragilidade e submissão mas
sim de força e igualdade como qualquer outro ser humano em suas plenas capacidades.

4. Tipos de violência

Conforme estabelecido anteriormente, a violência de gênero e, em especial o


conceito de violência em si, são associadas, de maneira equivocada, por grande parte da
sociedade, exclusivamente ao uso da força. Contudo, esses conceitos abordam muitos
mais que a força física, referem-se também a qualquer ação ou conduta que tem como
consequência um dano ou sofrimento (físico, psicológico etc.) e que tenha por base uma
ideologia de superioridade em relação ao outro – neste trabalho, em relação a mulher, em
especial. Três tipos de violência contra mulher serão abordados: física, psicológica e
sexual.

4.1 A violência física

É caracterizada pelo uso da força física que tem como finalidade causar dor e
sofrimento na mulher, podendo deixar marcas corporais ou não. Podem ser tipificadas
como ações dessa natureza: tapas, empurrões, socos, mordidas, chutes, cortes etc.
4.2 Violência psicológica
Apesar de ser comum, não é facilmente identificada, pois se trata de um abuso
verbal, econômico ou determinada ação que tenha como objetivo atingir a autoestima e a
identidade da mulher, através de intimidações e ameaças, por exemplo. Todavia, esse tipo
de violência aborda dois aspectos importantes. O primeiro é que por se tratar de algo
“interno” à mulher, tem uma certa complexidade, além do que, se faz preciso toda uma
análise e estudo da vítima, em cada caso. O segundo é que, o entendimento dessas
ações, citadas acima, como violentas, nem sempre é unânime, depende de contextos
culturais, históricos, sociais etc.

4.3 Violência sexual

É conceituada como toda prática sexual que, por ser contra a vontade da
vítima, é realizada coercitivamente. Assim, a vítima sofre abuso físico, além de ameaças e
agressões. Logo, ações como estupro e exploração sexual são práticas exemplificativas
dessa espécie de violência. Ao final de todas essas definições, pode-se destacar que
essas três tipificações não são excludentes. Assim como é de conhecimento público, atos
dessas naturezas podem atingir simultaneamente a mesma vítima.

5. Do ambiente doméstico

A simultaneidade de atos violentos, citada acima, pode acontecer em qualquer


ambiente, apesar de o mais comum ser o doméstico. Assim, o local onde se tem a ideia
de lar, proteção e segurança, torna-se o pior pesadelo de muitas mulheres atualmente.
Apesar de serem qualificadas como atos violentos, atitudes como abuso sexual e controle
psicológico muitas vezes não são identificadas pela sociedade e nem mesmo pela vítima
– mãe, esposa, filha etc.
Esse não reconhecimento, é consequência de toda uma bagagem cultural e
ideológica que identifica a mulher como alguém inferior e subordinado ao homem, tanto
no ambiente social quanto no doméstico. Assim, na maioria das vezes, essas mulheres
vítimas tratam de maneira natural essas ações agressivas.
Essas práticas de origem antiga, só tiveram visibilidade política e social
recentemente. Assim, ditos populares como “em briga de marido e mulher, ninguém mete
a colher” se tornam alvo de críticas, pois ilustram que os limites do privado, muitas vezes,
legitimam e ignoram a gravidade das violências. Posto isso, nota-se a necessidade do
rompimento da dicotomia existente entre público e privado, bem como a de exigir
responsabilidades do Estado e da sociedade para que seja assegurado a todas as vítimas
o respeito à dignidade humana.

6. Do espaço de trabalho

Enquanto no ambiente doméstico as mulheres são vítimas de violência, no de


trabalho elas se tornam alvos de desigualdades. Ao analisar os cargos exercidos por
mulheres nas empresas, percebe-se a existência de padrões a serem seguidos em cada
posição, o que é essencial para que o empregado tenha melhor desempenho em sua
função. Contudo, preconceito e desigualdade se fazem presentes também.
Um dos maiores desequilíbrios existentes nas empresas é em relação aos
cargos de liderança, os quais são em grande maioria ocupados por homens. Alguns dos
argumentos utilizados para explicar o baixo número de mulheres em cargos de liderança
serão debatidos a seguir. Em relação às características de liderança, os homens são
vistos, principalmente, como eficazes e firmes, enquanto as mulheres como altamente
comunicativas e organizadas. Pode-se observar que todas essas qualidades são
essenciais para um bom líder. Então, qual a diferença?
O problema está na pressão que as mulheres que ocupam cargos de liderança
recebem de todos ao seu redor. Erros não são tolerados e características que são
atribuídas como inatas (organização, comunicação, dedicação etc.) a elas são exigidas,
nas quais a falta ou deficiência são tidas como irresponsabilidade, caso diverso se fosse
cometido por um homem.
Em relação a maternidade, muitas empresas a veem como obstáculo,
especialmente por que será necessária uma substituição da empregada. Além disso,
ainda em relação aos filhos, é notório que estes dependem da mãe, já que, por exemplo,
na maioria das vezes que acontece um imprevisto, será ela a solicitada (idas ao médico,
reuniões de escola etc.). Assim, à medida que o tempo de trabalho dessas mulheres
diminui, sua ambição para ir mais além e atingir altos cargos, também é prejudicada.
A aparência feminina também se torna alvo de preconceitos, pois muitos
atribuem a presença das mulheres em altos cargos a alguma vantagem ou
relacionamento amoroso com chefes, devido à sua “beleza feminina” e aos seus “atributos
físicos”. Apesar desses “motivos” contra a ocupação das mulheres em cargos de
lideranças, atualmente, pode-se visualizar um aumento do número de líderes mulheres
nas companhias negociais, o que nos mostra um grande avanço das resistências dessas
mulheres.

7. Feminicídio: Definição e Dados Quantitativos

A Lei nº 13.104, de 09 de março de 2015, criou em nossa legislação a figura do


feminicídio, que é o homicídio que tem como vítima a mulher, em razão de seu gênero, de
sua condição do sexo feminino, envolvendo violência doméstica e familiar, menosprezo ou
discriminação à condição da mulher. O principal motivo para o uso do termo é o fato de
que o crime é diferente por si só. Suas razões e motivações são peculiares, voltadas a
atingir o gênero feminino; É um delito de discriminação e ódio, cometido contra uma
mulher pelo fato de ela ser mulher.
Tal situação, advém do machismo e patriarcado, que são maneiras culturais de
a sociedade colocar as mulheres num lugar de inferioridade, submissão e subserviência;
De acordo com essa lente, a autoridade máxima é exercida pelo homem e
automaticamente a mulher se torna um ser desimportante, tida muitas vezes como objeto.
Antes de esmiuçar os pontos mais importantes da referida lei, é imprescindível fazer uma
análise dos antecedentes que culminaram na tipificação do Feminicídio, como
qualificadora do crime de homicídio contido no Art. 121 do Código Penal Brasileiro.
Feminicídio é uma palavra “nova” para designar uma prática antiga, uma vez
que mulheres morrem de formas trágicas todos os dias no Brasil: são espancadas,
estranguladas, agredidas brutalmente até o momento em que perdem a vida. Por muito
tempo esse tipo de crime cometido contra vítimas do sexo feminino foi negligenciado no
Brasil. Esse termo, atualmente tão difundido em meios acadêmicos, jurídicos e
jornalísticos, só passou a figurar como crime no Brasil no ano de 2015.
No âmbito do Legislativo, foi formada uma Comissão Parlamentar Mista de
Inquérito para tratar da violência contra a mulher no país, propor uma investigação acerca
da situação desse tipo de violência nos estados brasileiros, para que com isso fossem
tomadas as devidas providências, que viessem a majorar o tratamento penal desse delito
repugnante. A discussão desse processo durou de março de 2012 a julho de 2013,
quando se percebeu a relação direta existente entre crime de gênero e feminicídio.
A Lei 13.104 foi sancionada em 04 de Março de 2015, e ficou popularmente
conhecida por criar o delito de “feminicídio”, mas na verdade, trouxe uma nova
modalidade de “homicídio qualificado”, inscrita no inciso VI, do artigo 121, parágrafo 2º, do
Código Penal. O legislador, com a elaboração dessa lei, entendeu que a mulher vítima de
violência doméstica e familiar se encontra em situação de vulnerabilidade ou de
hipossuficiência.
Por conta disso, incidindo nas hipóteses objetivas de aplicação da Lei Maria da
Penha e estando a mulher em situação de vulnerabilidade ou de hipossuficiência, seu
homicídio caracterizará feminicídio. Esse crime de ódio contra indivíduos do sexo feminino
pode ser compreendido como a instância última de controle da mulher pelo homem: o
controle da vida e da morte.
Esse controle se expressa como afirmação irrestrita de posse, igualando a
mulher a um objeto, quando cometido por parceiro ou ex-parceiro; como subjugação da
intimidade e da sexualidade da mulher, por meio da violência sexual associada ao
assassinato; como destruição da identidade da mulher, pela mutilação ou desfiguração de
seu corpo; como degradação da dignidade da mulher, submetendo-a à tortura ou a
tratamento cruel ou humilhante.
Tal norma introduziu no § 2º do artigo 121 do Código Penal o inciso VI,
qualificadora que trata do feminicídio, e também o incluiu no rol dos crimes hediondos (art.
1º, I, da Lei nº 8.072/1990). Na qualificadora do feminicídio, o sujeito passivo é a mulher;
Importante ressaltar que nesse trecho da legislação não há que se falar em analogia
contra o réu. A mulher se traduz num dado objetivo da natureza, e para que o crime seja
configurado como feminicídio, não basta somente que a vítima seja mulher, a morte tem
que ocorrer por “razões da condição de sexo feminino”, requisito subjetivo.
Nesse ínterim, o dispositivo é bastante claro ao caracterizar o sujeito passivo(a
vítima) desse crime. O sujeito passivo do feminicídio é do sexo feminino, não estando
englobado o transexual, mesmo que obtenha a retificação do seu registro civil. O critério
utilizado para definir a vítima é o biológico. Dessa forma, o transexual não foi inserido por
essa norma, não podendo ser vítima de feminicídio, para efeitos do Direito Penal.
Ademais, é importante ressaltar que como a Lei 13.104 não define
expressamente quem pode ser sujeito ativo do feminicídio, tanto o homem quanto a
mulher poderão cometê-lo e, por consequência, responder por esse crime. Então, a
mulher vítima pode estar em condição de vulnerabilidade em relação à outra mulher com
quem conviva, tenha convivido, ou possua relação de parentesco ou de intimidade.
Diante disso, pode ser caracterizado como feminicídio o homicídio cometido
por uma mulher contra sua companheira em razão da condição de gênero, nutrindo
sentimento de ódio, discriminação ou desprezo em relação ao sexo feminino.
A nova legislação trouxe inovações no âmbito do Direito Penal, especificando,
três grandes mudanças na legislação. A primeira, contida no inciso I, trata da inclusão do
feminicídio como circunstância qualificadora do homicídio, descrevendo seus requisitos
típicos; A segunda, contida no inciso II, trata do aumento de pena desse crime (de um
terço/metade) quando for praticado: durante a gestação da vítima ou nos três meses
posteriores ao parto; contra pessoa menor de quatorze anos, maior de sessenta anos e
também contra pessoa deficiente; Também há aumento da pena se o crime for praticado
na presença de descendente ou ascendente da vítima.
Em relação a essa última hipótese citada anteriormente, o crime cometido na
presença de ascendente ou de descendente da vítima, por contado trauma psicológico
que o ato traz para quem o assiste, notadamente quando se trata de parente próximo, é
motivo para agravar a pena. Contudo, não basta que o crime seja gravado e
posteriormente exibido. A exigência da norma é que o crime seja cometido “na presença”
(que pode ser física ou virtual), o que pressupõe atualidade.
Ademais, ainda com relação ao inciso I – que determina o agravamento da
pena quando o delito for praticado durante o período de gravidez, ou mesmo após o
nascimento da criança (três meses posteriores ao parto) – poderão culminar nas
seguintes situações: morte do feto (em sentido amplo) e da vítima; o feto sobrevive, mas a
vítima falece; o feto morre e a vítima sobrevive; tanto o feto quanto a vítima sobrevivem.
Com efeito, em quaisquer dessas hipóteses a pena será agravada.
A norma também determina o aumento da pena quando o crime for praticado
nos três meses posteriores ao parto, período esse em que a criança é mais dependente
da mãe. O dispositivo igualmente determina o aumento da pena em razão da idade da
vítima (menor de 14 ou maior de 60 anos), ou por ser ela portadora de deficiência. No que
se refere à idade da vítima, o que fundamenta essa majorante é o fato de que essas
pessoas merecem maior proteção penal em face da pequena ou da avançada idade, além
da conduta do agente ser mais reprovável aos olhos da sociedade (culpabilidade).

7.1 Casos concretos

Diante desse contexto alarmante, observa-se que casos de violência contra a


mulher aumentam de forma gradativa em todo Brasil. Em Teresina, capital do Estado do
Piauí, segundo dados do último levantamento feito pela Secretaria de Segurança Pública,
o índice de feminicídio cresceu em 50% no ano de 2018 quando comparado ao ano
anterior. Essa realidade causa grande comoção na sociedade, uma vez que são crimes
cometidos de maneira brutal e sem qualquer possibilidade de defesa da vítima. Nessa
perspectiva, dois casos serão abordados detalhadamente: o assassinato da cabeleireira
Aretha Dantas, em 2018, e o da estudante de Direito Camila Abreu, em 2017, ambas
vítimas de feminicídio.
Em primeira análise, é importante ressalvar que tais aspectos, além de
atentaram contra a vida, atingem a honra e procuram desfigurar a imagem da mulher em
si. Isso é bastante notório no homicídio de Aretha Dantas, que foi assassinada na
madrugada do dia 15 de maio de 2018 pelo ex namorado, Paulo Neto. O agressor
desferiu mais de 20 facadas contra a vítima e, na perícia, foram verificadas no corpo
marcas de atropelamento. Tal fato constatou a hipótese levantada pela Polícia Civil: Após
assassiná-la, o agressor deixou seu corpo na Avenida Maranhão, no centro da cidade.
Com essas características é relevante se atentar a dois fatos do homicídio: o
objeto utilizado para matá-la e o local onde o corpo foi deixado. Nesse viés, o instrumento
usado (arma branca) é enquadrado em um gênero, que na maioria dos casos é de
intimidade entre vítima e agressor. Desse modo, crimes de feminicídio geralmente
ocorrem entre pessoas com vínculos afetivos, sem qualquer motivação plausível, mas
apenas em decorrência da vulnerabilidade da vítima, pelo fato de ser mulher. Sob o
aspecto do ambiente onde o corpo foi deixado, revela um caráter simbólico na cena do
crime, pois foi com o intuito de ferir a honra de Aretha frente aos bons costumes da
sociedade, uma vez que se tratava de uma área marcada pela prática de prostituição.
Por fim, é importante evidenciar que o caso supracitado ainda não foi ao
Tribunal de Júri, mas o assassino confesso se encontra preso e alega que agiu em
legítima defesa. No entanto, é acusado de homicídio com vários agravantes e a acusação
de feminicídio se faz presente. Em segunda análise, têm-se o caso concreto de
assassinato da estudante de Direito Camila Abreu.
Ao contrário do primeiro crime citado, o qual foi premeditado de acordo com as
investigações, em virtude do ex namorado não aceitar o término do relacionamento e a
possibilidade de Aretha viver ao lado de outra pessoa, o assassinato de Camila ocorreu
após uma discussão com o então namorado, o capitão da Polícia Militar Alisson Wattson.
Com base nas investigações, os dois estavam em uma festa quando
começaram uma discussão. Após o ocorrido, Allison sai com Camila e os dois travam uma
luta corporal e, ao tentar fugir da situação, de acordo com os laudos médicos, é atingida
pelas costas por disparos de arma de fogo. No cadáver foram encontrados diversos
vestígios de violência antes da execução da estudante, marcas nas pernas, fraturas na
tíbia e vestígio de resistência, pois foi encontrado DNA do agressor nas unhas de Camila.
Nesse crime ocorreu uma desfiguração da vítima e, posteriormente a ocultação de
cadáver, que foi encontrado dois dias após o delito, em uma estrada na zona Rural de
Teresina.
O inquérito policial já foi concluído e o réu vai a Júri Popular. Nesse episódio é
relevante a percepção de que o relacionamento entre os dois era conturbado e, segundo
testemunhas, Alisson tinha um ciúme possessivo de Camila. Dessa maneira, percebe-se
a existência de um relacionamento abusivo, já que era exercido um controle sobre a
vítima através de ameaças psicológicas e até mesmo agressões físicas.
Assim, é perceptível que apesar da tipificação e da maior visibilidade do crime
de gênero contra a mulher, ainda persiste a violência, tendo em vista a quantidade diária
de casos em todo país. Dessa maneira, justifica-se a criação de uma lei que proteja de
forma exclusiva o sexo feminino, pois embora o número de mortes entre pessoas do sexo
masculino seja maior, os motivos são secundários, ou seja, devido a acidentes e violência
urbana e não ligados necessariamente ao sexo.
Portanto, com a análise dos casos concretos e seus respectivos
detalhamentos, o combate à violência de gênero no país ainda necessita passar por
vários avanços. Segundo Facchi (2011, p. 143), as mulheres são, na guerra e na paz, as
principais vítimas de atos de violência física e moral. Logo, para superar tal cenário é
imprescindível a desconstrução da sociedade brasileira machista e patriarcal, e assim, se
alcançará a igualdade entre homens e mulheres.

8. Quem é a vítima? – Lei Maria da Penha

Em primeira análise, é importante ressaltar alguns fatores que influenciaram a


edição da Lei Maria da Penha. As primeiras políticas públicas com o recorte de gênero
foram implementadas em 1980. Em 1985 ocorreu a criação da primeira Delegacia de
Polícia de Defesa da Mulher. A Constituição Federal de 1988 trouxe em seu texto
aspectos em que coibia a violência no âmbito familiar nos termos do § 8º, do artigo 226,
que dispõe: “O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que
a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações”.
O movimento feminista teve forte influência ao trazer visibilidade à questão da
violência, sendo um dos grandes responsáveis para que os crimes cometidos contra as
mulheres fossem considerados como violação aos direitos humanos.
Dessa maneira, a Conferência Mundial dos Direitos Humanos, realizada em Viena,
Áustria, em 1993, em seu Artigo 18 reconheceu “os Direitos Humanos das mulheres e das
meninas são inalienáveis e constituem parte integrante e indivisível dos Direitos Humanos
Universais”, e que a violência de gênero é incompatível com a dignidade e o valor da
pessoa humana. É necessário ressaltar como a violência contra a mulher é indissociável
da categoria de gênero, visto que é um reflexo da nossa sociedade que desde sua
colonização perpassa a cultura patriarcal, o homem sendo o chefe de família e a mulher
assumindo apenas o papel de dona de casa, reprodutora e caracterizada como frágil.
Nesse sentido, é perceptível como até para que a mulher obtivesse o direito de
voto foram necessárias lutas, movimentos sociais, sendo isso devido à forma como a
mesma era tratada desde quando o nosso país foi colonizado, marcado pela dominação e
exclusão da mulher, algo que é disseminado socialmente, visto que mulheres ainda se
encontram como dependentes e submissas aos homens, tanto no que se refere a
diversos planos, como econômico, social e cultural.
Desse modo, após a Constituição de 1988, os casos de violência de gênero eram
tratados conforme a Lei 9.099/1995, Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. Essa
Lei criou mecanismos de solução de conflitos destinados a solucionar crimes de menor
potencial ofensivo, aqueles cujas condutas tipificadas tenham pena máxima não superior
a dois anos. Além disso, em 2003, foi criada a Secretaria de Políticas para as Mulheres
(SPM), e ocorreu o início da Política Nacional de enfrentamento à violência contra as
Mulheres.
Por conta do momento histórico, em que ocorriam avanços para garantir respeito e
dignidade as mulheres, houve a criação da Lei Maria da Penha. Entretanto, é importante
salientar que a violência de gênero sempre ocorreu. Dessa forma, o governo federal,
através da Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres, em parceria com cinco
organizações não governamentais e atendendo a tratados internacionais assinados e
ratificados pelo Brasil, criou um projeto de lei que, após aprovado por unanimidade na
Câmara e no Senado Federal, foi transformado, em agosto de 2006, na Lei 11.340. Essa
lei é conhecida pelo nome da mulher que se fez notar pela luta por seus direitos, e de
todas as mulheres do país: Maria da Penha.
Seguindo essa linha de raciocínio, a criação dessa lei foi baseada na história de
uma mulher cearense, que ganhou notoriedade por conta de sua luta contra a exclusão e
a violência de gênero. Destarte, ela passou aproximadamente 23 anos sofrendo violência
doméstica do seu marido, na época. O professor universitário e ex-marido de Maria da
Penha, Marco Antônio Herredia Viveros, tentou matar a sua esposa por duas vezes,
sendo a primeira em 1983, quando deu um tiro em Maria da Penha enquanto dormia,
deixando-a paraplégica. Após ela se recuperar, a mesma foi mantida em cárcere privado.
Maria sofreu, ainda, outras agressões, e uma nova tentativa de assassinato (por
eletrocussão). Na ocasião, ela tinha 38 anos e três filhas.
A segunda tentativa de assassinato que foi o estopim para ela denunciar o seu
agressor. A investigação começou em junho do mesmo ano, mas a denúncia só foi
apresentada ao Ministério Público Estadual em setembro de 1984. Oito anos depois
Herredia foi condenado a oito anos de prisão, mas se valeu de recursos jurídicos para
protelar o cumprimento da pena. Em 28 de outubro de 2002 ele foi preso e cumpriu dois
anos de prisão em regime fechado.
A luta de Maria da Penha Maia Fernandes, ficou conhecida não apenas no Brasil,
mas também fora dele. De fato, em 1998, com o intuito de lutar por seus direitos e o de
todas as mulheres brasileiras, em parceria com o Comitê Latino-americano e do Caribe
para a Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM), e o Centro pela Justiça e o Direito
Internacional (CEJIL), Maria da Penha denunciou o Brasil na Comissão Interamericana de
Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) por causa da
tolerância e omissão com que eram tratados pela justiça brasileira os casos de violência
contra a mulher. Esse caso então chegou à Comissão Interamericana dos Direitos
Humanos da OEA, que acatou, pela primeira vez, a denúncia de um crime de violência
doméstica. Condenando, assim, o Brasil, que foi obrigado a cumprir algumas
recomendações, dentre as quais a de mudar a legislação brasileira, de maneira a permitir,
nas relações de gênero, a prevenção e a proteção da mulher em situação de violência
doméstica, bem como a punição do agressor.
Essa Lei visa criar mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a
mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre
a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código
de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências .
A Lei 11.340/2006 define violência doméstica e familiar contra a mulher, e
estabelece as formas de violência doméstica, como sendo física, psicológica, sexual,
patrimonial e moral; traz em seu texto medidas protetivas de urgência à ofendida; proíbe a
aplicação de penas pecuniárias; prevê a criação de Juizados Especiais de violência
doméstica e familiar contra a mulher com competência civil e criminal, para abranger
todas as questões; prevê um capítulo específico para o atendimento, pela autoridade
policial para os casos de violência doméstica contra a mulher; a mulher somente poderá
renunciar da denúncia perante o juiz.
Ademais, possibilita a prisão em flagrante como também a prisão preventiva, pelo
juiz, quando houver risco à integridade física ou psicológica da mulher; a vítima de
violência será notificada dos atos processuais especialmente quanto ao ingresso e saída
da prisão do agressor; a mulher deverá estar acompanhada de advogado ou defensor, em
todos os atos processuais; esse tipo de violência é considerado um agravante de pena; a
pena do crime de violência doméstica passou de três meses a três anos; se a violência
doméstica for cometida contra mulher portadora de deficiência, a pena será aumentada
em 1/3; altera a Lei de Execuções Penais, para permitir que o Juiz determine o
comparecimento obrigatório do agressor a programas de recuperação e reeducação.
Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher o juiz poderá
aplicar, de imediato, ao agressor as seguintes medidas protetivas de urgência, entre
outras: afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a mulher; proibição de
aproximação da mulher, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de
distância entre estes e o agressor; restrição ou suspensão de visitas aos dependentes
menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar; prestação de
alimentos provisionais ou provisórios.
Quando necessário, o juiz ainda poderá: encaminhar a mulher e seus dependentes
a programa oficial ou comunitário de proteção ou de atendimento; determinar a
recondução da mulher e a de seus dependentes ao respectivo domicílio, após
afastamento do agressor; determinar o afastamento da mulher do lar, sem prejuízo dos
direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos; determinar a separação de corpos.
Sendo possível até fazer uma diferenciação, pois a lei 9.099/ 1995 não estabelecia
as formas dessa violência; permitia a aplicação de penas pecuniárias, como as de cestas
básicas e multa; Os Juizados Especiais Criminais tratavam somente do crime. Para
resolver questões de família, como separação, pensão, e guarda dos filhos, a mulher,
vítima de violência, tinha que ingressar com outro processo, na vara da família; a
autoridade policial efetuava um resumo dos fatos através do TCO – Termo
Circunstanciado de Ocorrência; a mulher podia desistir da denúncia na delegacia; essa
Lei não utilizava a prisão em flagrante do agressor nem previa a prisão preventiva para os
crimes de violência doméstica; a vítima não era informada quanto ao andamento dos atos
processuais.; a mulher, em geral, não ia acompanhada de advogado ou defensor público
nas audiências; a pena para o crime de violência doméstica era de seis meses a um ano;
a violência doméstica contra mulher portadora de deficiência não aumentava a pena; não
previa o comparecimento do agressor a programas de recuperação e reeducação.
Em suma, ainda têm muitos avanços para serem conquistados e barreiras a serem
rompidas pela mulher, mas a Lei Maria da Penha trouxe grande progresso para garantir
proteção e dignidade a mesma sendo isso de forma tipificado pelo ordenamento jurídico.
Nessa sequência, as medidas protetivas se tornaram mais eficazes diante do agressor
bem como aumentou o número de delegacias especializadas nesse tipo de violência.
Aliás, é uma das leis mais conhecidas do País e que, segundo dados do Ipea de 2015,
contribuiu para reduzir cerca de 10% na taxa de homicídios contra mulheres praticados
dentro de casa. Inclusive, encorajou as vítimas a denunciarem todo tipo de agressão.

9. Conclusão

Ações concretas por parte do Estado na busca pela proteção a pessoas em


situação de vulnerabilidade é algo relativamente novo, como pode ser percebido da leitura
deste trabalho. Havia apenas uma proteção formal, não garantida no mundo dos fatos.
Delegacias especializadas, por exemplo, na proteção da mulher não existem em todas as
unidades da federação. A ação pública incondicionada foi muito importante também em
todo o processo, uma vez que evita que as vítimas retirem a queixa por medo do
agressor. Outros avanços foram as qualificadoras, que puderam majorar as penas dos
agressores, fazendo-os permanecer por mais tempo longe da vítima. Como já dito, ações
como essa são apenas parte de um todo. A mudança tem que vir de toda a sociedade, e
isso leva tempo, não é feito num estalar de dedos. Mais importante, além disso, é não
mais naturalizar violências de quaisquer tipo, sejam físicas ou psicológicas.
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