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COMEÇANDO DO ZERO - ISOLADA

Direito Tributário
Josiane Minardi

CONCEITO DE TRIBUTO b) Em moeda ou cujo valor nela se possa


exprimir: O legislador infraconstitucional
incorreu em redundância ao repetir o caráter
Não há um conceito de tributo expresso na pecuniário da prestação, não havia a
Constituição Federal, apenas um conceito necessidade de insistir com a locução “em
implícito. O conceito expresso está no artigo 3º moeda” “ou cujo valor nela possa se exprimir”,
do Código Tributário Nacional – CTN: pois ao tratar de obrigação pecuniária, é
porque será paga em dinheiro.
Art. 3º Tributo é toda prestação Ninguém poderá entregar ao fisco, como
pecuniária compulsória, em moeda forma de pagamento, algo que não seja
ou cujo valor nela se possa dinheiro, salvo o caso do art.156, XI do CTN,
exprimir, que não constitua sanção que trata sobre a dação de bem imóvel,
de ato ilícito, instituída em lei e quando houver expressa previsão em lei.
cobrada mediante atividade Observa-se que mesmo nesse caso, por se
administrativa plenamente tratar de uma exceção, há necessariamente a
vinculada. (grifo nosso). previsão em lei para autorizar o pagamento do
tributo com a entrega de bem imóvel.
a) Tributo é toda prestação pecuniária
compulsória: Quer dizer o comportamento c) Que não constitua sanção de ato
obrigatório de uma prestação em dinheiro, ilícito: Ninguém paga o tributo por ter
independem da vontade do sujeito passivo, que desrespeitado uma lei, tributo não é castigo.
deve efetivá-la, ainda que contra seu interesse. Ao contrário paga-se o tributo por incorrer em
O Código Tributário Nacional ao se referir a uma situação prevista em lei como hipótese de
palavra “toda” prestação, estabelece que incidência tributária, ou seja, o legislador
qualquer prestação que se enquadre em todos elegeu uma situação que uma vez praticada
os requisitos do art. 3º do CTN será tributo, pelo sujeito, no mundo concreto, estará sujeita
independentemente da denominação, à incidência da norma tributária e por essa
conforme determina o art. 4º do CTN: razão irá nascer a obrigação de pagar um
tributo.
Art. 4º A natureza jurídica específica Por exemplo: A Lei prevê que a hipótese de
do tributo é determinada pelo fato incidência tributária do Imposto sobre Renda
gerador da respectiva obrigação, ou proventos de qualquer natureza - IR é
sendo irrelevantes para qualificá-la: “auferir renda”, o sujeito terá que pagar IR
I - a denominação e demais quando auferir renda, porque praticou o fato
características formais adotadas previsto em lei.
pela lei; Assim sendo, pode-se afirmar que uma lei
II - a destinação legal do produto da descreve hipoteticamente um estado de fato e
sua arrecadação. (grifos nossos). dispõe que a realização concreta, no mundo
fenomênico, do que foi descrito, determina o
É importante frisar nesse momento, que nascimento de uma obrigação de pagar um
ainda que o art. 4º do CTN no inciso II tributo.1
menciona que seria irrelevante a destinação As hipóteses de incidência da norma
legal do produto para ser tributo, temos que a tributária são sempre constituídas por fatos
partir da Constituição Federal de 1988, para as lícitos, que uma vez ocorridos no mundo
contribuições e empréstimo compulsório é jurídico nasce a obrigação de pagar o tributo.
relevante sim a destinação, pois nessas Contudo, verifica-se que embora a hipótese
exações a denominação e a destinação são de incidência tributária não possa ser algo
destacadas pelo próprio legislador constituinte, ilícito, os frutos de uma atividade ilícita podem
não tendo relevância para a identificação do ser objeto de tributação.
fato gerador do tributo, como ocorre com os
impostos, taxas e contribuições de melhoria.
1
ATALIBA, Geraldo. Hipótese de Incidência
Tributária. 6ª Ed. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 53.

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Como vimos, o legislador não pode eleger subtraídos à contabilização regular


uma situação ilícita, mas ao eleger uma das empresas e subtraídos à
situação lícita como hipótese de incidência, declaração de rendimentos:
essa hipótese lícita pode ter sido originada de caracterização, em tese, de crime
uma atividade ilícita, o que não irá importar de sonegação fiscal, a acarretar a
para fins de tributação. competência da Justiça Federal e
Veja no caso do Imposto sobre rendas ou atrair pela conexão, o tráfico de
proventos de qualquer natureza – IR, a entorpecentes: irrelevância da
hipótese de incidência, também chamada pelo origem ilícita, mesmo quando
legislador de “fato gerador” é “auferir renda”, criminal, da renda subtraída à
assim o sujeito que auferir renda terá a tributação.
obrigação de pagar IR, e não importa para fins A exoneração tributária dos
de tributação como essa renda foi auferida, o resultados econômicos de fato
que importa é que o sujeito incorreu na criminoso - antes de ser corolário
previsão da norma tributária, qual seja, auferir do princípio da moralidade –
renda. constituiu violação do princípio da
Assim, se o sujeito auferiu renda de isonomia fiscal, de manifesta
atividades ilícitas, para o direito tributário inspiração ética.
apenas importa que o sujeito praticou o fato
previsto na norma tributária, qual seja, auferiu Os Tribunais Superiores aplicam o Princípio
renda e por essa razão terá que pagar o IR. “Pecunia non olet”, segundo o qual o tributo
O artigo 118, I do Código Tributário Nacional não tem cheiro, não importa de onde vem,
– CTN prevê que a definição do fato gerador nesse caso, a renda auferida, o que importa é
será interpretada abstraindo-se da validade dos que ocorreu o fato gerador do IR, “auferir
atos praticados pelo sujeito. renda”, e por essa razão, aplicando-se o art.
118, I do CTN deve-se haver a tributação.
Art. 118. A definição legal do fato Pelo princípio da “Pecunia non olet” extrai-
gerador é interpretada abstraindo- se o conteúdo axiológico do valor de justiça,
se: direcionando a exigibilidade da exação sobre
I - da validade jurídica dos atos quem possui capacidade contributiva, ainda
efetivamente praticados pelos que o rendimento provenha de atividade ilícita.
contribuintes, responsáveis, ou d) Instituída em lei – o tributo só pode ser
terceiros, bem como da natureza do instituído por meio de lei, de acordo com o art.
seu objeto ou dos seus efeitos; 150, I da Constituição Federal e art. 97 do
II - dos efeitos dos fatos CTN, e por meio de instrumento normativo com
efetivamente ocorridos. força de lei, ou seja, por meio de Medida
Provisória, conforme prevê o art. 62 da CF.
No caso do sujeito que aufere renda pela e) cobrada mediante atividade
venda de entorpecentes, a ilicitude é administrativa plenamente vinculada – O
irrelevante para fins tributários, o que importa é tributo será cobrado pelo Poder Público que
que foi praticado o fato gerador, “auferir renda” não terá margens para escolhas
e por essa razão o sujeito deverá pagar IR. discricionárias. O fiscal não poderá cobrar o
O STF tem o entendimento majoritário de tributo de acordo com a conveniência e
que praticado o fato gerador previsto em lei, oportunidade, irá exigir a obrigação tributária
deve ser pago o imposto, independentemente do contribuinte exatamente como está disposto
da atividade ser lícita ou ilícita, conforme na legislação.
podemos observar da ementa do HC
77.530/RS da relatoria do Ministro Sepúlveda
Pertence: ESPÉCIES DE TRIBUTOS

Drogas: tráfico de drogas,


envolvendo sociedades comerciais Muito se discute quantas espécies
organizadas, com lucros vultosos tributárias subsistem no nosso ordenamento

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jurídico, devido a possibilidade de diversas A contribuição paga pelo Empregador


formas para classificá-los. estaria mais próxima de imposto, segundo a
Alfredo Augusto Becker e Pontes de classificação de Roque Antonio Carrazza.
Miranda, por exemplo defendem a teoria A classificação pode ser intrínseca,
bipartida das espécies tributárias que seria estrutural quando se faz a verificação de dados
apenas impostos e taxas. interiores ao objeto.
Há uma classificação que distingue com A classificação pode ser extrínseca,
relação a vinculação e não vinculação do funcional quando se faz a verificação de dados
tributo. exteriores ao objeto.
Vinculado seria o tributo relacionado a uma A maior tendência de classificação é a
atividade estatal pessoal para o contribuinte, intrínseca, pois tem a menor chance de
como exemplo das taxas e contribuição de ambiguidade. Exemplo de classificação a Água
melhoria. Quando o sujeito ao pagar o tributo é substância líquida para matar a sede, nesse
ele já sabe exatamente qual será a caso como é uma classificação extrínseca
contraprestação estatal, no caso da pode haver ambiguidade, pois posso pensar
contribuição de melhoria, será pago quando em outra substância para matar a sede que
ocorrer uma obra pública cuja consequência não seja a água, agora quando falamos a Água
seja volorização imobiliária para o contribuinte. é uma substância líquida composta por H20
Já no caso das taxas serão pagas pela aqui por ser uma classificação intríseca não há
utilização efetiva ou potencial de um serviço como existir ambiguidade.
público específico e divisível ou pelo exercício Por essa razão a classificação que toma por
regular do Poder de Polícia. tributo não vinculados e vinculados, trata-se de
A não-vinculação não está relacionada a uma classificação intrínseca e por isso não há
uma atividade estatal específica, mas chances de ambiguidade. Agora os
simplesmente a arrecadação de dinheiro aos doutrinadores que classificam em cinco
cofres públicos para suprir as necessidades espécies, misturam as classificações, pois os
públicas. impostos, taxas e contribuições de melhoria
Quando o contribuinte paga o tributo ele (tributos vinculados direta ou indiretamente e
paga sem saber qual será a contraprestação tributos não vinculados) estariam classificados
estatal, ocorrerá uma contraprestação estatal, pelo método intrínseco, enquanto quando falam
mas não se sabe qual será, exemplo: das contribuições e empréstimos compulsórios
Impostos. já estariam na classificação extrínseca e isso é
Para que ocorra a obrigação de pagar os inadmissível, misturar dois métodos de
impostos, basta que ocorra o fato gerador, no classificações. (observação de Eurico de
caso do IPVA, haverá o dever de pagá-lo para Santi).
o sujeito proprietário de veículo automotor
Geraldo Ataliba estabeleceu a diferença O art. 5º do CTN prevê três espécies
entre taxa e contribuição de melhoria, quando tributárias:
se trata ainda de tributos vinculados. Para o
Autor a taxa seria vinculada direta e imediata, 1) Impostos
teve a atuação do Estado nasce a obrigação
tributárias. No caso das contribuições de 2) Taxas
melhoria teria uma vinculação indireta,
mediata, pois não basta a simples construção 3) Contribuição de Melhoria
de uma obra pública para se ter a imediata
cobrança do tributo, deve ter ainda a A Constituição Federal no art. 145 prevê
valorização imobiliária, por isso nesse caso a três espécies tributárias:
vinculação seria mediata e indireta para as
contribuições de melhoria. 1) Impostos
Contribuição de INSS, seria segundo a
classificação de Roque Antonio Carrazza uma 2) Taxas
taxa.
3) Contribuição de Melhoria

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O art. 148 da CF faz menção ao de intervenção no domínio


Empréstimo Compulsório e o art. 149 da CF econômico e de interesse das
refere-se às Contribuições. categorias profissionais ou
O art. 149 divide as contribuições em três econômicas. (grifos nossos)
modalidades, que serão estudadas em outro
capítulo: Visto o conceito de tributo e as espécies
a) Contribuição Social tributárias passamos para análise de como os
b) Contribuição de Intervenção no tributos irão ingressar em nosso ordenamento
Domínio Econômico (CIDE) jurídico.
c) Contribuição de interesse de
categoria profissional ou econômica
COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA
E o art. 149-A da CF traz a Contribuição
para custeio do serviço de iluminação
pública – COSIP. Competência Tributária é a outorga de
poder concedido pela Constituição Federal aos
Ainda que o Código Tributário Nacional Entes Federativos para que eles possam criar,
adote a teoria tripartida, por classificar as instituir e majorar tributos.
espécies tributárias em apenas três, (impostos, Somente os entes federativos apresentam
taxas, contribuição de melhoria), a maioria dos competência tributária, pois os tributos só
doutrinadores, dentre eles, Aliomar Balleiro, e o podem ser instituídos por meio de lei, e apenas
Supremo Tribunal Federal adotam a teoria os entes federativos apresentam Poder
pentapartida, que seriam 5 espécies Legislativo.
tributárias: Não podemos confundir competência
tributária com competência para legislar em
direito tributário.
a) Impostos A competência para legislar sobre direito
tributário é a outorga de poder concedido pela
b) taxas Constituição Federal para editar leis que
versem sobre tributos e relações jurídicas a
c) contribuição de melhoria eles pertinentes. É uma competência
concedida aos entes federativos para traçarem
d) contribuição regras sobre o exercício do poder de tributar.

e) empréstimo compulsório

Nesse sentido, transcreve-se trecho do voto


do Ministro do STF Moreira Alves, em 29-06-
1992, no RE nº 146.733-9/SP:

(…) De fato, a par das três


modalidades de tributos (os
impostos, as taxas e as
contribuições de melhoria), a que
se refere o art. 145, para declarar
que são competentes para instituí-los
a União, os Estados, o Distrito
Federal e os Município, os arts. 148
e 149 aludem a duas outras
modalidades tributárias, para cuja
instituição só a União é competente:
o empréstimo compulsório e as
contribuições sociais, inclusive as

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Todos os Entes Federativos apresentam Art. 30. Compete aos Municípios:


competência para legislar sobre direito
tributário. I - legislar sobre assuntos de
O art. 24 da Constituição Federal prevê interesse local;
competência concorrente entre a União, os II - suplementar a legislação
Estados e Distrito Federal para legislar sobre federal e a estadual no que
direito tributário. couber;
Compete à União a edição de normas gerais III - instituir e arrecadar os
e aos Estados e Distrito Federal poderá tributos de sua competência,
suplementar a legislação federal. bem como aplicar suas rendas,
Mas se não existir norma federal, Estados e sem prejuízo da obrigatoriedade de
Distrito Federal apresentam competência plena prestar contas e publicar
para legislar sobre direito tributário. balancetes nos prazos fixados em
Se sobrevier a norma geral pela União, lei;
haverá suspensão da lei estadual no que lhe
for contrária. A lei federal não irá revogar a lei A competência Tributária como vimos é o
estadual porque não há entre elas uma poder concedido pela Constituição Federal aos
hierarquia. Entes Federativos para que eles possam
Diante da ausência de norma geral da União instituir, criar e majorar tributos. A
sobre IPVA, cada Estado exerceu a competência Tributária Apresenta 5
competência legislativa plena, com base no art. características importantes:
24, § 3º da CF.
a) Indelegabilidade:
Art. 24. Compete à União, aos A Constituição não só prevê a competência
Estados e ao Distrito Federal tributária como também reparte, partilha esse
legislar concorrentemente sobre: poder entre as pessoas políticas que compõe a
I - direito tributário, financeiro, Federação, porque essas precisam ter
penitenciário, econômico e autonomia financeira, não basta terem apenas
urbanístico autonomia administrativa, autonomia política.
(...) A base do federalismo é a autonomia dos
§ 1º - No âmbito da legislação Entes, por essa razão há a repartição do Poder
concorrente, a competência da de Tributar entre os Entes Federativos. Quando
União limitar-se-á a estabelecer a Constituição outorga o poder para os Entes
normas gerais. Federativos, ela estabelece exatamente quais
§ 2º - A competência da União para serão os tributos de competência de cada Ente
legislar sobre normas gerais não e a competência tributária é indelegável, quer
exclui a competência suplementar dizer, intransferível.
dos Estados. O Ente Federativo não poderá transferir a
§ 3º - Inexistindo lei federal sobre sua competência tributária para nenhum outro
normas gerais, os Estados Ente. Assim, se a Constituição outorgou poder
exercerão a competência para a União instituir o Imposto sobre Produtos
legislativa plena, para atender a Industrializados(IPI) apenas ela poderá instituir
suas peculiaridades. esse imposto, mais ninguém!
§ 4º - A superveniência Vejamos quais são os tributos de
de lei federal sobre normas gerais competência tributária de cada Ente
suspende a eficácia da lei estadual, Federativo:
no que lhe for contrário.

O art. 30 da CF estabelece a competência


dos Municípios para legislarem sobre assuntos
de interesse local e suplementar legislação
federal, estadual no que lhe couber.

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arrecadar ou fiscalizar tributos, ou


de executar leis, serviços, atos ou
decisões administrativas em matéria
tributária, conferida por uma
pessoa jurídica de direito público
a outra, nos termos do § 3º do artigo
18 da Constituição.
§ 1º A atribuição compreende as
garantias e os privilégios processuais
que competem à pessoa jurídica de
direito público que a conferir.
§ 2º A atribuição pode ser revogada,
a qualquer tempo, por ato unilateral
da pessoa jurídica de direito público
que a tenha conferido.
§ 3º Não constitui delegação de
competência o cometimento, a
pessoas de direito privado, do
encargo ou da função de arrecadar
tributos

Exemplo é o caso do Imposto Territorial


Rural (ITR) cuja competência tributária, ou
seja, a competência para criá-lo, institui-lo ou
majorá-lo é da União, conforme estabelece o
art. 153, VI da CF, que poderá, no entanto,
delegar a função de arrecadar e fiscalizar, ou
seja, a capacidade ativa tributária aos
Municípios, nos termos do art. 153, § 4º, III da
CF.
Obs: O Distrito Federal apresenta Pela literalidade do art. 7º do CTN a
competência tributária para instituir o IPTU, capacidade ativa tributária só pode ser
ITBI e ISS por força do disposto no art. 147 da delegada para uma pessoa jurídica de direito
CF que estabelece que os impostos dos público.
Municípios serão do Distrito Federal. (Art. 147. Para fixar, temos:
Competem à União, em Território Federal, os
impostos estaduais e, se o Território não for
dividido em Municípios, cumulativamente, os
impostos municipais; ao Distrito Federal
cabem os impostos municipais).

Como vimos a competência tributária que


consiste na criação, instituição e majoração b) Facultatividade: Os Entes Federativos
de tributo é indelegável. Contudo as funções não estão obrigados a instituir os tributos,
administrativas de arrecadar, fiscalizar cuja competência tributária lhe foi atribuída
tributos e executar leis que compreendem a pela Constituição Federal.
capacidade ativa tributária essa sim pode ser O art. 145 da CF determina que a União,
delegável. Estados, Distrito Federal e Municípios
“poderão”, e não “deverão” instituir tributos. A
CTN - Art. 7º - A competência partir dessa regra a doutrina diz que a
tributária é indelegável, salvo competência tributária no Brasil é
atribuição das funções de facultativa.

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Exemplo: o Imposto sobre Grandes estiver aplicando o percentual exigido na área


Fortunas – IGF, que compete à União a sua da saúde, e também, no caso de débitos de um
instituição, até hoje não foi criado e não há Ente, e suas Autarquias com outro Ente que irá
problema algum, porque a competência fazer o repasse.
tributária é facultativa! O parágrafo único do art. 11 da LC nº
Muitos indagam sobre a Lei de 101/2000 proibiu apenas o repasse das
responsabilidade Fiscal, LC nº 101/2000 que transferências voluntárias e não das
estabelece em seu art. 11 que somente exerce obrigatórias, por isso não seria inconstitucional.
uma boa gestão fiscal o Ente Federativo que
instituir e cobrar todos os tributos. c) Incaducabilidade: O direito do Ente
Federativo instituir o tributo pode ser exercido a
Art. 11. Constituem requisitos qualquer tempo. O fato da União não ter
essenciais da responsabilidade na instituído o IGF, em 1988, quando da
gestão fiscal a instituição, previsão promulgação da Constituição Federal, não lhe
e efetiva arrecadação de todos os retira o direito de institui-lo agora, passados
tributos da competência mais de 20 anos.
constitucional do ente da Federação.
Parágrafo único. É vedada a d) Inalterabilidade: a competência tributária
realização de transferências não pode ser alterada por lei
voluntárias para o ente que não infraconstitucional. Assim, quando a
observe o disposto no caput, no que Constituição, no art. 156, I prevê que o IPTU irá
se refere aos impostos. incidir sobre a propriedade de imóvel urbano,
não pode uma lei modificar tal competência ao
Quanto a arrecadação não restam dúvidas ponto de determinar que o IPTU tenha como
dessa obrigatoriedade, mas a obrigatoriedade hipótese de incidência, fato gerador a mera
quanto à Instituição fere a Constituição Federal posse de imóvel urbano.
que não obriga aos Entes Federativos Observe que o art. 32 do CTN prevê como
instituírem os tributos. fato gerador do IPTU a propriedade, a posse e
Observa-se, ainda, que o parágrafo único do o domínio útil de imóvel urbano.
art. 11 da LC nº 101/2000 prevê uma sanção O fato é que o Código Tributário Nacional é
para o Ente Federativo que não instituir todos de 1966 e a nossa Constituição é de 1988,
os impostos de sua competência. O dispositivo assim esse artigo do CTN só foi recepcionado
legal proíbe a realização de transferências pelo nosso ordenamento jurídico, ao considerar
voluntárias àquele que não instituir todos os que será contribuinte do IPTU o possuidor ou
impostos. aquele que detenha o domínio útil se houver o
animus domini.
LC nº 101/200 - Art. 11 (...) Logo, o mero detentor da posse, como o
Parágrafo único. É vedada a locatário não é contribuinte do IPTU, porque a
realização de transferências lei não pode alterar a competência tributária e a
voluntárias para o ente que não CF determina que apenas o proprietário é
observe o disposto no caput, no contribuinte desse imposto.
que se refere aos impostos. A competência tributária não pode ser
alterada por meio de lei, mas Emenda
O STF em Medida Cautelar ADI nº 2238 Constitucional poderá alterá-la.
entendeu que o parágrafo único do art. 11 da Como exemplo temos a EC nº 19/02 que
LC nº 101/2000 não viola a Constituição inseriu na Constituição o art. 149-A e criou a
Federal porque a Lei trata de transferências Contribuição para custeio do serviço de
voluntárias. iluminação pública (COSIP).
As transferências obrigatórias de impostos
que estão nos artigos 153, § 5º, 157, 158 e 159 e) Irrenunciabilidade: A competência
da Constituição Federal essas sim só poderão tributária é irrenunciável, o Ente Federativo não
deixar de serem repassadas no caso do art. pode jamais renunciar sua competência
160 da CF, quando o Ente Federativo não

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tributária em favor de outro Ente, ele pode título, pelos Estados, suas autarquias e pelas
apenas deixar de exercê-la. fundações que instituírem e mantiverem;
Assim, o fato da União não ter criado ainda b) 20% do produto da arrecadação do
o IGF não confere o direito dos Estados, por imposto residual.
exemplo, instituírem esse imposto, porque a
competência é Irrenunciável. Nos termos do art. 158 da CF competem
aos Municípios:
Para memorizar, a competência tributária é:
a) 100% da arrecadação do IR incidente na
1) Indelegável fonte, sobre rendimentos pagos, a qualquer
título, pelos Municípios, suas autarquias e
2) facultativa pelas fundações que instituírem e mantiverem;
b) 50% do ITR, como via de regra, e 100%
3) Incaducável do ITR quando o Município detiver a
capacidade ativa tributária, ou seja, a função
4) Inalterável de arrecadar, fiscalizar esse imposto.
c) 50% do IPVA
5) Irrenunciável d) 25% do ICMS

O art. 159 da CF, prevê que a União


REPARTIÇÃO DAS RECEITAS entregará 48% da arrecadação do Imposto
TRIBUTÁRIAS sobre Renda e proventos de qualquer natureza
(IR) e sobre produtos industrializados (IPI) da
A Constituição Federal prevê algumas seguinte forma:
hipóteses de transferência obrigatória da
arrecadação dos impostos, conforme os artigos a) 21,5% ao Fundo de Participação dos
153, § 5º, 157, 158 e 159. Estados e do Distrito Federal;
No art. 153,§ 5º da CF – A União é obrigada b) 22,5% ao Fundo de Participação dos
a repassar 30% da arrecadação do IOF Municípios;
incidente sobre o ouro ativo financeiro para o c) 3% para aplicação em programas de
Estado, conforme a origem e 70% para o financiamento ao setor produtivo das Regiões
Município, conforme a origem. Norte, Nordeste e Centro-Oeste, através de
suas instituições financeiras de caráter
§ 5º - O ouro, quando definido em lei regional, de acordo com os planos regionais de
como ativo financeiro ou instrumento desenvolvimento, ficando assegurada ao semi-
cambial, sujeita-se exclusivamente à árido do Nordeste a metade dos recursos
incidência do imposto de que trata o destinados à Região, na forma que a lei
inciso V do "caput" deste artigo, devido estabelecer;
na operação de origem; a alíquota d) 1% ao Fundo de Participação dos
mínima será de um por cento, Municípios, que será entregue no primeiro
assegurada a transferência do decêndio do mês de dezembro de cada ano
montante da arrecadação nos
seguintes termos: Os incisos II e III do art. 159 da CF
I - trinta por cento para o Estado, o determinam que:
Distrito Federal ou o Território,
conforme a origem; a) 10% da arrecadação do Imposto sobre
II - setenta por cento para o produtos industrializados será repassado aos
Município de origem. Estados e ao Distrito Federal,
proporcionalmente ao valor das respectivas
De acordo com o art. 157 da CF competem exportações de produtos industrializados.
aos Estados e Distrito Federal: b) 29% do produto da arrecadação da
a) 100% da arrecadação do IR incidente na contribuição de intervenção no domínio
fonte, sobre rendimentos pagos, a qualquer econômico prevista no art. 177, § 4º aos

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Estados e o Distrito Federal, distribuídos na


forma da lei, observada a destinação a que se
refere o inciso II, c, do referido parágrafo

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