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APRESENTAÇÃO TIM INGOLD CAPÍTULO III

L’ÉDUCATION EM MINEUR
Educação “em menor”

Propõe usar a educação em menor, para desafiar a doutrina hegemônica do conhecimento “em
maior”. Pensar essa educação “em menor”, como uma experimentação. Não afim de
experimentar visando novos resultados, pensando necessariamente no “produto final”.
Experimentar, para abrir e pensar em novas possibilidades. Assim como na Dança, com a
improvisação, muitas vezes pensada em ampliar o vocabulário motor e repertório de
movimento. Ambas são pensadas, estudadas e possuem suas técnicas. É mais especulativo do
que confirmatório, segundo o Ingold.
Para experimentar, você precisa estar plenamente atento. A atenção voltada para o
compartilhamento – e não transmissão - do conhecimento, é também relacionada a atenção da
qualidade da presença do artista que explora, improvisa e cria.

p. 56 e 57 usa a metáfora-exemplo do lenhador, que pra cortar a madeira vai buscar a fibra
certa, o movimento preciso e a direção mais adequada para tal corte, a partir da experiência
motora de tal ação. Da mesma forma, usa esse exemplo como para falar de uma habilidade que
não é imposta, mas que é descoberta pelo fazer, onde cada um aprende a partir da sua
experiência de “cortar a fibra”.

LIBERDADE DO HABITO:
Dois pontos da atenção:
Princípios da vontade - relação transversal – ensinamento maior (interrompe o movimento)
Princípios do hábito - relação longitudinal – ensinamento menor (atenção segue o movimento)
Paradoxo da falsa liberdade (??) p. 58

Masschelen fala da escola na grécia antiga, que escola significava “tempo livre”, mas não no
sentido do lazer, onde o momento pessoal se sobrepõe ao institucional. Mas a liberdade
significava livre de hierarquia: o professor e o aluno eram uma comunidade igual, onde cada
um é diferente e tem algo pra dar. Essa imagem nos conduz a pensar a escola com o objetivo
de anular a armadilha da ordem social, de não distribuir a cada criança um modo de falar e de
agir, mas de separar os meios dos fins, de descolar os pensamentos...afim de libertá-los e trazê-
los presentes para o aqui e o agora e torná-los disponíveis. (61)
Masschelen traz a educação como uma prática de cuidado, como uma forma de liberdade, como
um campo vivo dos relacionamentos e por isso não pode ser reduzida como aplicação de
método. Essa abordagem, do estudo “em maior” busca transformar perguntas em respostas,
colocando um ponto final e encerrando o estudo. O que ele deseja preservar é o estudo crítico,
que não tenha uma triangulação de um ponto fixo para outro, que seja não só uma via de mão
dupla, mas de vias múltiplas: professor – aluno, aluno-aluno, aluno-professor.
Várias coisas derivam dessa lógica especulativa e não vertical do estudo, e o autor se detém a
três delas: a primeira é que ninguém estuda sozinho, a ação do estudo independente não é
defendida, mas sim uma troca entre mais de uma pessoa. Por isso, a escola é um lugar onde
eles se abrem para as coisas, onde estão abertos e dispostos a ver as coisas como elas são. Isso
se dá não para encontrar um fim, não pra se apropriar de um conhecimento, mas de
desfamiliarizar com ele.
A segunda consequência é que o estudo não é intermediário, mas é “entre”. Ou seja, não é uma
transição de um estado para outro, como se houvesse um ponto A até o ponto B e o aluno fica
no meio, sem sair do lugar. Isso seria o estudo “em maior”. Por sua vez, o estudo “em menor”
repensa essa sequencia linear “da ignorancia ao conhecimento”, pensando a jornada como uma
linha perpendicular entre os dois pontos. Essa pequena linha revela um universo inteiro e é
assim que segundo Masschelein, devemos ver a escola.
A terceira consequencia do estudo “em menor”, é ver a escola como um meio termo. De fora,
parece fechado, parece um confinamento. Mas pra quem entra, revela um mundo inteiro, pois
o estudante de fato integra esse ambiente, deixando de lado o passado e o futuro e se
acomodando no que Pennac chama de “o presente indicativo”.
Nesse sentido, o estar presente coletivamente não significa só estar presente para os outros. Os
outros também estão presentes para nós. Os outros também são exatraídos das suas posições e
das categorizações que lhe foram atribuídas, liberados dos fins que geralmente são empurrados.
São trazidos para a atenção, para fazer pensar não sobre eles, mas com eles. Eles são parte
integrante do nosso mundo e nós dos deles. Nós cuidamos deles e de nós. Isso é o que significa
estudar.
Então, no estudo “em maior” o objetivo é “adquirir” conhecimento, tem um começo onde o
aluno “não tem” conhecimento e um fim quando o aluno adquire alguma coisa, com um
caminho metódico. Esse estudo promete uma “emancipação” dos sujeitos, mas acaba em uma
reprodução, uma imitação.
Ao mesmo tempo, aponta o papel do professor, para isso traz Biesta que aponta a diferença
entre “aprender com alguém” e “ser ensinado por alguém”. Nesse sentido, o professor é um
exemplo de conduta e que deve mostrar quem ele é, o que ele tem. Para tanto, precisa conhecer
os alunos, suas habilidades e suas necessidades.
A relação entre o professor e o aluno deve ser de interesse mútuo, ambos compartilham o
interesse nesse processo, tanto professor quanto aluno progridem juntos, com diferentes ciclos
de demonstração, enriquecendo o caminho de ambas as partes.
p. 70: comparação da sua caixa de ferramentas com o kit de ferramentas dos alunos: na dos
alunos, são fones de ouvido, smartfone e oculos de sol. na sua, há um lapis, um caderno e um
óculos. O que sai do lápis é uma improvisação, o caderno oferece memórias, rascunhos,
pensamentos confusos, rabiscos, listas de palavras, ideias confusas e interminadas... os óculos
são uma ferramenta da atenção, que possibilita ele de enxergar e compensa a visão diminuída
dele.
Através do kit do aluno, ele se ausenta do espaço: o oculos o protege do brilho do sol, o
smartfone “rouba” o toque dos dedos e os fones do ouvido desambientaliza, porque não escuta
o que ocorre ao seu redor, então não faz contato sensorial com o ambiente.
Então, ingold questiona o tipo de aprendizado que substitui o professor (a presença) pela
imagem na tela, a informação on-line que pode ser acessada e que não requer nenhum esforço
produtivo do aluno? Faz uma crítica ao estudo tecnológico, comparando o quadro negro com a
tela fria do computador, onde hoje a gente só projeta ao inves de se reunir ao redor do quadro
e compartilhar o que sabemos. Oferece uma reflexão aos laboratórios de estudos, que são um
mercado de consumo que atende a necessidade que o jovem estudante precisa. Mas, por outro
lado, se a aprendizagem pode ocorrer em qualquer lugar, porque então ainda temos escolas e
universidades?
A resposta é porque esses espaços são centros de estudos. Ao contrario do kit de ferramentas
do aluno, o estudo é uma produção e não um consumo, é um estudo que reúne os professores
e os alunos ao redor da mesa, e não os isola, o professor gravando sua aula e o aluno
reproduzindo e assistindo na tela fria. O estudo, então, vai se renovando, visando gerar interesse
em comum e não satisfazer desejos individuais. Nesse sentido, proporciona amizade, cuidado
e até amor, diz Ingold, porque não é um fingimento de preocupar-se com o outro, é de fato estar
ali, junto, preocupado com o bem-estar. O estudo, então, é uma transformação e não um
treinamento.
Esse processo não facilita as coisas, pelo contrário, pode ser perturbador pois rompe com ideias
pre-concebidas, perturba o pensamento e o entendimento enraizado da dinâmica de aprender.
Mas, ao mesmo tempo, é libertador.
Esse processo de emancipação é, para Biesta, totalmente inútil. Para finalizar, Ingold questiona
se essa forma de aprendizado emancipatório tem algo a ver com educação, e responde: eu,
particularmente, acho que não.

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