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LUTA ANTIRRACISTA E EDUCAÇÃO

Ana Carolina Dartora

Sabemos que vivemos num país racista, portanto a luta antirracista


configura-se também como uma luta democrática, e demanda o engajamento
de todos os cidadãos, não apenas os negros, e os mais diversos esforços em
todos os âmbitos, sejam eles tanto políticos, quanto educacionais e, por fim
sociais.
Infelizmente, após alguns anos de avanços em políticas públicas, o
que se vê é uma configuração do plano político nacional que atenta contra
direitos fundamentais arduamente conquistados pelos cidadãos, exemplo
disso foi a aprovação Emenda à Constituição nº 55, mais conhecida como a
PEC dos gastos públicos.
Considero a aprovação dessa emenda uma medida racista, que atinge
diretamente a população negra e pobre do país, pois reduz os investimentos
em saúde e educação por 20 anos.
Destaca-se a importância da prioridade do debate racial na luta contra
ideológica, pois, após avanços importantes em relação à promoção da
igualdade racial, e na educação, como por exemplo, a política de cotas nas
Universidades Federais, sofreremos um grande retrocesso com a redução
dos investimentos na área da educação.
Seguido a isso, tem-se Reforma do Ensino Médio voltada para
implementação da escola em tempo integral que não contempla o Plano
Nacional de Educação (PNE), que, entre outros aspectos, versa sobre o a lei
10.639/03 de Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana, que de
acordo com a nova BNCC (Base Nacional Comum Curricular) torna-se parte
do conteúdo não obrigatória nos currículos do Ensino Médio.
É muito clara a ideologia do grupo político que leva a cabo as recentes
reformas no país, e os impactos que resultarão de suas ações na nação
brasileira e seu projeto de nação, que em última análise significa a
manutenção da população negra na condição pobre e periférica e
manutenção da ideologia vigente.
Portanto é necessário ter a compreensão de “por que a ideologia é
possível: qual sua origem, quais seus fins, quais seus mecanismos
e quais seus efeitos históricos, isto é, sociais, econômicos, políticos
e culturais”, para continuar a construção de uma sociedade justa.
(CHAUÍ, 1994, p. 21).

É fundamental continuar olhando para o futuro, haja vista a


importância da luta autônoma, mas também a importância das organizações
sociais e democratização dos aparelhos políticos e ideológicos, bem como
manter viva a noção de que mudanças nem sempre são boas; algumas
podem ser retrocessos. Desta maneira, se faz necessário ter compreensão
das conjunturas políticas e dos desejos individuais em todos os âmbitos da
sociedade.
Promulgou-se em 16 de fevereiro de 2017 a lei 13.415, que versa
sobre o novo ensino médio, e como já dito anteriormente alterou trechos da
LDB. Não está esclarecido ao certo como isso resulta na questão da lei
10.639/03, porém compreende-se que alterar sem consulta popular prévia,
dos movimentos sociais, bem como dos pesquisadores da área, uma lei que
levou tanto tempo para ser construída e efetivada, no momento em que se
começa a colher os primeiros frutos da mesma, é aterrador.
São muitos os desafios ainda existentes no campo educacional e a
luta democrática no Brasil é uma luta antirracista. Percebe-se a necessidade
de intensificar a luta para que a escola adote novas práticas, mude posturas
e consolide um currículo elaborado e desenvolvido, pois este possui papel
fundamental na construção das identidades dos sujeitos, uma vez que é
responsável por definir, o que é ensinado pelos professores e apreendido
pelos alunos no âmbito institucional.
Sendo assim o currículo dá as nuances do processo de como se
ensina e é feito de escolhas. Desse modo, não pode ser visto como neutro
ou imparcial, de acordo com Silva (1999), a questão da raça e da etnia não
pode ser somente um “tema transversal”, pois envolve conhecimento, poder
e identidade.

Por mais difíceis que sejam os caminhos, o desejo de todos os povos


é o desenvolvimento intelectual e histórico, mas isso obedece a uma lógica
objetiva do processo histórico.

Porém nenhum sistema opressor por mais obsoleto que seja, acaba
por si só, é a luta que o conduz a cova. A opressão do povo negro no Brasil
não acabará de morte natural. Por isso compreende-se que a verdadeira
democracia brasileira só acontecerá através da ação individual e consciente
de seu povo em suas organizações coletivas reivindicando suas
necessidades sociais.

REFERÊNCIAS

DARTORA, Ana Carolina. A Experiencia Social das Adolescentes Negras na


Escola Pública, Ideologia e PEC 55. In: OLIVEIRA, L. (Org). Educação e
Interseccionalidades. Curitiba. NEAB/UFPR, 2018. p. 63-74.

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