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ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.2950-23586-1-ED.

0712201316

Silva AAT da, Mazzo A, Fumincelli L et al. O uso das soluções antissépticas...

ARTIGO ORIGINAL
O USO DAS SOLUÇÕES ANTISSÉPTICAS: A PRÁTICA DO ENFERMEIRO
THE USE OF ANTI-SEPTIC SOLUTIONS: THE NURSE’S PRACTICE
EL USO DE SOLUCIONES ANTISSÉPTICAS: LA PRÁTICA DE LAS ENFERMEIRAS
Amanda de Assunção Teodoro da Silva1, Alessandra Mazzo2, Laís Fumincelli3, Mirella de Souza Castelhano4,
Carolina Beltreschi Bardivia5, Isabel Amélia Costa Mendes6
RESUMO
Objetivo: averiguar o conhecimento e como o enfermeiro utiliza as soluções antissépticas. Método: estudo
exploratório-descritivo de abordagem quantitativa, realizado em duas instituições hospitalares do interior do
estado de São Paulo (SP), Brasil, nas quais foram entrevistados os enfermeiros de plantão e observados os
setores que utilizavam soluções antissépticas, em dezembro de 2011. Os dados foram armazenados no Excel,
analisados e discutidos com a literatura, após a aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética em
Pesquisa, Protocolo 1005/2009. Resultados: dentre os nove enfermeiros e quatro unidades observadas na
instituição A e 38 enfermeiros e 13 unidades da B, foi identificado baixo nível de conhecimento em relação às
boas práticas de utilização e aos aspectos legais das soluções antissépticas. Conclusão: necessário que ocorra
disseminação do conhecimento para melhor utilização desses produtos. Descritores: Enfermeiro;
Enfermagem; Antissepsia; Antissépticos.
ABSTRACT
Objective: to ascertain nurses’ knowledge of antiseptic solutions and how they use them. Method: an
exploratory-descriptive study with a quantitative approach, undertaken in December 2011 in two hospital
institutions in the state of São Paulo (SP), Brazil, in which the nurses on duty were interviewed and the
sectors using antiseptic solutions were observed. The data was stored in Excel, and analyzed and discussed
with the literature, following the Research Ethics Committee’s approval of the research project under
Protocol 1005/2009. Results: among the nine nurses and four units observed in institution A and the 38 nurses
and 13 units of institution B, a low level of knowledge was observed in relation to good practice in the use of,
and to the legal aspects regarding, antiseptic solutions. Conclusion: it is necessary for knowledge to be
publicized for these products to be used better. Descriptors: Nurse; Nursing; Antisepsis; Antiseptics.
RESUMEN
Objetivo: investigar el uso y conocimiento de lãs enfermeras en relación las soluciones antissépticas.
Método: estudio descriptivo realizado en dos hospitales en el estado de São Paulo (SP), Brasil. La recolección
de datos se realizó través de la observación, con instrumento estructurada y entrevista, con el un
cuestionario. En diciembre de 2011, los encuestados eran enfermeras y se observaron los sectores que uso de
soluciones antisépticas. Se analizaron los datos con Excel, frecuencia y porcentaje, con la literatura sobre el
tema. El estudio fue aprobado por el Comité de Ética en Investigación bajo protocolo 1005/2009. Resultados:
entre los 9 enfermeras y 4 unidades observadas enlainstitución A y 38 enfermeras y 13 unidades de B,
fueposible identificar el bajo nivel de conocimientos sobre buenasprácticas de uso y aspectos legales de
soluciones antisépticas. Conclusión: debe ocurrir la difusión del conocimiento para un mejor uso de los
mismos. Descriptores: Enfermera; Enfermería; Antisepsia; Antisépticos.
1
Enfermeira, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo/EERP-USP. Ribeirão Preto (SP), Brasil. E-mail:
a_manda_teodoro@yahoo.com.br; 2Enfermeira, Professora Doutora, Departamento de Enfermagem Geral e Especializada, Escola de
Enfermagem de Ribeirão Preto/EERP-USP, Centro Colaborador da Organização Mundial de Saúde para o desenvolvimento da Pesquisa em
Enfermagem e Obstetrícia. Ribeirão Preto (SP), Brasil. E-mail: amazzo@eerp.usp.br; 3Enfermeira, Mestranda, Programa Enfermagem
Fundamental, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/EERP-USP. Ribeirão Preto (SP), Brasil. E-mail: lais.fumincelli@usp.br; 4Enfermeira,
Bolsista de Apoio Técnico a Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico na Escola de Enfermagem de
Ribeirão Preto/EERP-USP junto ao Grupo GEPUREn. Ribeirão Preto (SP), Brasil. E-mail: mirella@eerp.usp.br; 5Aluna de Bacharelado em
Enfermagem, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/EERP-USP. Ribeirão Preto (SP), Brasil. Email: carolinabardivia@usp.br;
6
Enfermeira, Professora Titular, Departamento de Enfermagem Geral e Especializada, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/EERP-USP,
Centro Colaborador da Organização Mundial de Saúde para o desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem e Obstetrícia. Ribeirão Preto
(SP), Brasil. Email: iamendes@eerp.usp.br

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INTRODUÇÃO MÉTODO

A antissepsia pode ser definida como um Estudo exploratório-descritivo de


conjunto de medidas empregadas com a abordagem quantitativa, realizado em duas
finalidade de destruir ou inibir o crescimento instituições públicas hospitalares, do interior
de microrganismos existentes nas camadas do estado de São Paulo em dezembro de 2011.
superficiais e profundas da pele e de mucosas, As instituições foram constituídas de um
pela aplicação de agentes germicidas, hospital de médio porte, hospital A, composto
classificados como antissépticos. O uso de por unidades de ambulatório, internação e
soluções antissépticas é significativo no centro cirúrgico ambulatorial e um hospital de
desempenho da prática clínica da enfermagem grande porte, hospital B, caracterizado como
e em todos os contextos de cuidado a saúde. hospital escola que presta atendimento de
Para que se possa estabelecer uma prática urgência e emergência clínico e cirúrgico de
ética, humana e segura é função do pediatria e a adulto.
enfermeiro acompanhar o processo de O instrumento de coleta de dados para
produção e utilização das soluções, pela observação foi aplicado a todas as clínicas do
utilização de protocolos institucionais que hospital que utilizavam soluções antissépticas.
assegurem sua qualidade, eficácia e A coleta de dados foi realizada pelos próprios
segurança. 1,2 pesquisadores, por meio de observação
As soluções antissépticas apresentam como estruturada e entrevista. Foram observadas
finalidade o preparo da pele, a higienização quatro clínicas no hospital A e treze no
das mãos ou ainda antecedem procedimentos hospital B. Na observação foram identificadas
invasivos como cirurgias, aplicações de as soluções antissépticas utilizadas e
injetáveis, cateterismos urinários, entre apreciados os dados referentes ao
outros. Para serem eficazes devem possuir a armazenamento, distribuição,
capacidade de destruir todo agente acondicionamento e descarte das soluções, de
patogênico encontrado na superfície da pele, acordo com as recomendações efetuadas pelo
terem bons resultados em temperatura Ministério da Saúde.7,8
ambiente, não serem corrosivas ou tóxicas Nas clínicas observadas, de forma
para os seres humanos, além de possuírem concomitante, foi realizada uma entrevista,
baixa causticidade e hipoalergênicidade.1,2 com auxílio de um questionário de perguntas
Necessitam ainda, terem amplo espectro abertas e fechadas, nos três períodos de
antimicrobiano, serem rápidas, possuírem jornada de trabalho (período manhã, tarde e
efeito residual e cumulativo, terem pouca noite). Foram incluídos todos os enfermeiros
absorção sistêmica, não causarem que concordaram em participar da pesquisa e
ressecamentos, irritações, serem inodoras ou estavam em período de trabalho na data
odor agradável, além de terem boa aceitação estipulada para a visita dos pesquisadores. No
pelo usuário, baixo custo e serem distribuídas hospital A, participaram do estudo 9
em embalagens funcionais e de fácil uso. enfermeiros e no Hospital B, participaram do
Devem também ter ação germicida em flora estudo 38 enfermeiros. Os dados da entrevista
cutâneo-mucosa na presença de sangue, soro foram coletados através de um questionário,
e secreções.3,4 que contemplava perguntas objetivas e
Os antissépticos, devem ser protegidos da discursivas, sobre o armazenamento,
luz solar direta ou de temperaturas elevadas − distribuição, acondicionamento, utilização e
o que leva a necessidade do uso de descarte das soluções antissépticas.
embalagens individuais para emprego em A apreciação dos dados da entrevista foi
menor tempo possível. Quando contaminados realizada com o auxílio do Microsoft Excel,
são fontes frequentes de microorganismos pela análise de frequência e porcentagem e
envolvidos em surtos de infecção, fato que de acordo com a legislação e literatura
remete a importância do estabelecimento de vigentes sobre o assunto. Os dados foram
rotinas relacionadas a aquisição, estocagem, apresentados na forma de tabela, fuguras e a
manipulação e distribuição interna desses discussão realizada na forma de relatório
produtos.2,5-7 discursivo.
Este estudo teve a aprovação do projeto de
OBJETIVO
pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
● Averiguar qual o conhecimento e como o Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto –
enfermeiro utiliza as soluções antissépticas. USP, conforme Resolução nº 196/96 do CONEP
(Processo 1005/2009).

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O tempo de função informado pelos


RESULTADOS
enfermeiros foi no hospital A 9 (100%) de 5
Foram entrevistados 47 (100,0%) meses a 6 anos. No hospital B 13 (34,2%) de 5
enfermeiros nas duas unidades, sendo 9 meses a 6 anos, 13 (34,2%) de 7 a 13 anos e 5
(19,2%) na unidade A e 38 (80,8%) na unidade (13,3%) de 14 a 20 anos e 7 (18,3%) de 21 a 32
B. anos.
Com relação ao tempo de formação no O profissional responsável pelas soluções
hospital A, 7 (77,8%) estão entre dois e seis antissépticas durante o armazenamento,
anos, 2(22,2%) de 12 a 16 anos. No hospital B, distribuição, acondicionamento, utilização e
9 (23,6%) têm de 2 a 6 anos, 10 (26,4%) de 7 a descarte segundo os entrevistados estão
11 anos, 10 (26,4%) de 12 a 16 anos, 3 (7,9%) descritos na Tabela 1.
de 17 a 21 anos, 4 (10,5%) de 22 a 26 anos e 2
(5,2%) 27 a 32 anos.
Tabela 1. Profissional responsável pelas soluções antissépticas nas
funções. Ribeirão Preto, 2011.
Profissional Armaz Distribuição Acondic Utilização Descarte
Unidades A B A B A B A B A B
n n n n n n n n n n
Escriturário 5 27 4 13 2 11 - - - -
Enfermagem 5 14 6 25 7 30 7 30 8 31
Almoxarifes - 4 - 5 - 1 - - - -
Médico - - - - - - 6 26 3 20
Limpeza - - - - - - 2 1 1 2
Visitante - - - - - - - 1 - -
*houve mais de uma resposta por sujeito; Armaz – Armazenamento;
Acondic - Acondicionamento
As soluções apontadas como utilizadas no sódio. Houve mais de uma resposta por
hospital A foram 13 (39,3%) a clorexidina sujeito.
aquosa, degermante e alcoólica, 9 (27,2%) o Quando questionados sobre a existência de
álcool a 70%, 9 (27,2%) o PVPI degermante e soluções antissépticas não autorizadas no
tópico, 1 (3,1%) a água oxigenada e 1 (3,1%) a setor, 1 (11,1%) entrevistado no hospital A
benzina. No hospital B 75 (51,3%) a clorexidina indicou a benzina. No hospital B 1 (2,6%) não
degermante e alcoólica, 38 (26,0%) o PVPI soube responder e 1 (2,6%) indicou a benzina,
degermante e tópico, 22 (15,0%) o álcool a o éter e a água oxigenada.
70%, 8 (5,5%) o álcool gel, 2 (1,3%) a água Os locais indicados pelos sujeitos para
oxigenada e 1 (0,7%) o hipoclorito de sódio. estocagem das soluções antissépticas no
Houve mais de uma resposta por sujeito. hospital A foram 6 (60,0%) o depósito do
Quanto ao conhecimento das soluções setor, 2 (20,0%) o almoxarifado e 2 (20,0%) o
antissépticas preconizadas pelo Ministério da posto de enfermagem. No hospital B26 (50,0%)
Saúde os entrevistados responderam no indicaram o almoxarifado, 22 (42,3%) o posto
hospital A, 5 (44,5%) não ter conhecimento e 4 de enfermagem, 3 (5,8%) a sala de
( 55,5%) informaram conhecerem as soluções procedimentos e 1 (1,9%) o banheiro. Houve
legalizadas. As soluções informadas como mais de uma resposta por sujeito.
legalizadas foram 7 (77,7%) clorexidina tópica, Todos os sujeitos das duas instituições, no
alcoólica e degermante, 1 (11,1%) álcool 70% hospital A 9 (100,0%) e no hospital B 38
e 1 (11,1%) o PVPI. Houve mais de uma (100,0%), informaram que as soluções são
resposta por sujeito. armazenadas em frascos originais.
No hospital B, 21 (55,2%) disseram não As respostas dos sujeitos com relação à
conhecer as soluções antissépticas iluminação, temperatura e umidade no local
preconizadas e 17 (44,8%) afirmaram conhecê- de armazenamento das soluções antissépticas
las. As soluções indicadas foram 19 (59,3%) estão descritas na Tabela 2.
clorexidina tópica, alcoólica e degermante, 7
(21,9%) PVPI, 4 (12,5%) álcool 70%, 1 (3,1%) o
sabonete líquido e 1 (1,1%) o hipoclorito de
Tabela 2. Respostas dos sujeitos com relação à iluminação, temperatura e umidade
no local de armazenamento das soluções antissépticas. Ribeirão Preto, 2011.
Respostas Iluminação Temperatura adequada Umidade
adequada
Unidades A B A B A B
n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%)
Sim 9 (100,0) 36 (94,7) 9 (100,0) 27 (71,0) 1 (11,1) 9 (23,8)
Não - 2 (5,3) - 9 (23,7) 8 (88,8) 29 (76,2)
Não sabe - - - 2 (5,0) - -
Total 9 (100,0) 38 (100,0) 9 (100,0) 38 (100,0) 9 (100,0) 38 (100,0)

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Dentre os sujeitos 5 (55,5%) no hospital A e Quanto ao tempo de validade da solução


18 (47,4%) no hospital B, relatam que as antisséptica, no hospital A 5 (50,0%) que não
soluções antissépticas são manipuladas no existe vencimento, 3 (30,0%) não souberam
setor. Os profissionais indicados no hospital A responder, 1 (10,0%) uma semana e 1 (10,0%)
como responsáveis pela manipulação foram 4 30 dias. No hospital B, 38 (66,6%) que não
(66,7%) equipe de enfermagem e 2 (33,3%) os existe vencimento, 11 (19,2%) uma semana e 8
médicos. No hospital B18 (75,0%) indicam a (14,0%) não souberam responder. Houve mais
equipe de enfermagem, 5 (20,8%) os médicos de uma resposta por sujeito.
e 1 (4,2%) a limpeza. Indicam ainda que no Os profissionais indicados como
hospital A, as soluções são manipuladas 2 responsáveis pela reposição das soluções nos
(50,0%) com o uso de luva, 1 (25,0%) do frasco locais de uso no hospital A 8 (88,8%) equipe de
para a cuba, 1 (25,0%) de frasco original para enfermagem e 1 (11,1%), no hospital B 36
almotolia. No hospital B 9 (50,0%) de frascos (87,6%) equipe de enfermagem, e 5 (12,4%) o
originais para almotolias, 6 (33,3%) referem escriturário. Houve mais de uma resposta por
uso de luvas de procedimento, 3 (6,7%) sujeito.
evitando a contaminação. Houve mais de uma Os locais de descarte apontados foram no
resposta por sujeito. hospital A 4 (30,7%) embalagem ocorre no lixo
Os locais indicados para manipulação das comum, 3 (23,1%) expurgo, 3 (23,1%) referem
soluções foram no hospital A 2 (25,0%) posto que não há descarte, 2 (15,4%) rede de esgoto
de enfermagem, 1 (12,5%) sala cirúrgica, 1 e 1 (7,7%) devolução ao almoxarifado de
(12,5%) consultórios, 1 (12,5%) sala de pré e materiais vencidos. No hospital B 20 (47,6%)
pós consulta, 1 (12,5%) sala de observação, 1 lixo branco, 8 (19,0%) não há descarte, 7
(12,5%) sala de procedimentos e 1 (12,5%) (16,7%), rede de esgoto, 5 (11,9%) expurgo e 2
não soube responder. No hospital B, 8 (40,0%) (4,8%) caixas de papelão.
posto de enfermagem, 6 (30,0%) carrinho de A observação no hospital A ocorreu em 4
curativo, 3 (15,0%) o leito do paciente, 2 setores sendo eles, duas clínicas médicas, um
(10,0%) sala de procedimentos e 1 (5,0%) sala centro cirúrgico e um ambulatório de
de medicação.Houve mais de uma resposta atendimento adulto e pediátrico. No hospital
por sujeito. B foi feita observação em 13 setores, sala de
O local de armazenamento das soluções em urgência/trauma, unidade de internação
uso foram indicadas pelos sujeitos no hospital ambulatorial para urgências, sala de
A, 4 (44,4%) relataram que não há local fixo, 1 estabilização clínica, psiquiatria, atendimento
(11,1%) consultórios, 1 (11,1%) sala de de cabeça e pescoço, enfermaria pediátrica,
curativos, 1 (11,1%) sala de serviço, 1 (11,1%) ambulatório de moléstias infecciosas,
sala de observação e 1 (11,1%) não soube enfermaria clínica médica, unidade
responder. No hospital B, 10 (26,3%) coronariana, enfermaria clínica cirúrgica,
indicaram o posto de enfermagem, 9 (23,7%) isolamento, enfermaria de neurologia e CTI.
não há local fixo, 7 (18,4%) sala de Os dados relacionados à observação das
medicação, 6 (15,8%) carrinho de medicação e soluções antissépticas no hospital A e no
6 (15,8%) não souberam responder. hospital B segundo autorização do Ministério
Todos os entrevistados do hospital A 9 da Saúde estão representados na Figura 1.
(100,0%) e do hospital B 38 (100,0%) referiram
que o frasco onde a solução em uso é
armazenada é o frasco original. Referem no
Hospital B 38 (100,0%) e no hospital A 7
(77,7%) que o material do frasco é de plástico.
No hospital A 2 (22,2%) não souberam informar
a origem do material do frasco de soluções.

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Figura 1. Observação das soluções antissépticas nos hospitais. Ribeirão Preto, 2011.
Observa-se que no hospital A o O Ministério da Saúde preconiza como
armazenamento das embalagens se dá em soluções antissépticas o álcool isopropílico, o
prateleiras abertas sem nenhum tipo de álcool gel, as soluções iodadas, as soluções
proteção nos 4 setores (100,0%) e no hospital iodóforas e as soluções a base de
B em 7 (46,6%) setores são armazenadas em clorexidina.8,9 O álcool isopropílico é uma das
prateleiras abertas sem nenhum tipo de soluções antissépticas mais utilizadas. Tem
proteção, 4 (26,6%) no armário embaixo da efeito virucida quando encontrado na
pia, 1 (6,6%) em armário fechado, 1 (6,6%) em concentração de 70% (p/v) e bactericida a 92%
caixas de papelão, 1 (6,6%) no carrinho de (p/v). É inflamável e exige estocagem em
curativos e 1 (6,6%) em prateleiras abertas temperaturas adequadas.10
junto aos produtos de limpeza. Foi observado As soluções iodadas têm ação efetiva e
mais de um local de armazenamento por imediata. As diluídas em álcool são utilizadas
setor. em áreas cirúrgicas, na degermação de mãos e
DISCUSSÃO antebraços e na antissepsia local antes de
procedimentos invasivos.3 Já a
As soluções antissépticas estão presentes polivinilpirrolidona (PVPI) pode ser
no dia a dia do enfermeiro, tornando caracterizada como um iodóforo de baixa
necessário garantir os processos de sua toxicidade e destacada ação antisséptica,
utilização, com protocolos institucionais que sendo encontrado na forma degermante
assegurem sua qualidade, eficácia e (utilizado para lavagem do sítio operatório,
segurança, no entanto, nos dois hospitais mãos e antebraços da equipe cirúrgica),
investigados, cerca da metade dos alcoólica (para o preparo da pele antes de
profissionais entrevistados informou não procedimentos invasivos) e aquosa (aplicação
conhecer as soluções preconizadas pelo sobre mucosas).6,11
Ministério da Saúde, indicando ainda o uso de A clorexidina pode ser encontrada em meio
soluções não legalmente autorizadas nos aquoso, com álcool e degermante. É de baixa
serviços. Os enfermeiros pesquisados também toxicidade, alto nível de ação bactericida e
não atribuíram importância as normas de interação antimicrobiana. Deve estar sempre
transporte, armazenamento e manuseio, o protegida da luminosidade e da exposição a
que não garante a eficácia do produto e leva a altas temperaturas, não devendo ser
riscos de contaminação.2,14 estocadas por mais de um ano.3,12,13
Em 1983 foi implantado e regulamentado Entre as soluções não autorizadas pelo
pela Portaria MS nº 196/83junto ao Programa Ministério da Saúde e que não devem ser
de Controle de Infecção Hospitalar o uso utilizadas como antissépticos, estão as
eficiente das soluções antissépticas. Essa formulações preparadas com líquido de Dakin
portaria foi revogada e posteriormente (solução de hipoclorito de sódio a 0,5%),
substituída pela Portaria MS nº 930/92.8,9 acetona e peróxido de hidrogênio (água
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oxigenada), que podem ser classificadas como em embalagens reutilizadas, de uso


tóxicas, sem atividade microbicida, inativadas compartilhado, além da não observância às
na presença de matéria orgânica e que ainda normas de estocagem, iluminação,
podem danificar os tecidos de granulação.8,9 temperatura e descarte preconizadas.2,8,9,14
De acordo com os entrevistados, o uso das Enfermeiros habilitados propiciam
soluções antissépticas não se restringe ao racionalização de rotinas, além de
binômio enfermeiro-paciente, mas a equipe padronização e segurança na realização dos
de saúde, administrativa e de apoio, da qual o procedimentos que envolvam o uso das
enfermeiro tem assumido a posição de soluções antissépticas. Para que assumam essa
gerente do cuidado. O enfermeiro como líder, função é necessário que estejam envolvidos
deve buscar a qualidade da assistência, no planejamento de seu uso, acompanhando
procurar novos conhecimentos e objetivos, novas tendências, tecnologias, atualizando-se
traçando normas e rotinas, mobilizando, constantemente e participando e opinando na
debatendo, transmitindo informações à sua construção de alternativas que respondam aos
equipe, visando sempre à segurança de seus desafios de uma oferta de serviços de
pacientes.14 qualidade.17
A qualidade da assistência de enfermagem CONCLUSÃO
é algo ambicionado tanto nos momentos
procedimentais como em qualquer outro tipo Embora importante e grande aliado para o
de atividade que vise o paciente. Para tanto, controle dos processos de infecção hospitalar,
é necessário que o enfermeiro repense sobre o conhecimento dos enfermeiros em relação
suas práticas, posturas, conhecimentos às soluções antissépticas ainda é deficiente
buscados e adotados no serviço, reavaliando em todo o seu processo, o que foi passível de
seu comportamento diante das inúmeras ser diagnosticado em instituições de porte
responsabilidades que lhes são designadas.15 diferentes.
Com relação às soluções antissépticas, na O uso das soluções antissépticas é rotineiro
amostra estudada, não há consenso na no cuidado ao paciente, envolvendo diversos
indicação do profissional responsável por essa profissionais em todo o seu método. É de
função, sendo evidente a grande atuação do responsabilidade de o enfermeiro garantir a
escriturário e almoxarifes no processo de qualidade desse procedimento, através de
armazenamento, distribuição e uma postura proativa em protocolos e
acondicionamento das soluções; e da equipe processos educacionais e institucionais a todos
de enfermagem, saúde, médico e limpeza na os envolvidos, condenando práticas não
sua utilização e descarte. fundamentadas e descartando processos
Pelos dados obtidos, a maneira como vem ilegais.
sendo conduzido o emprego das soluções No uso das soluções antissépticas, para
antissépticas, deixa dúvidas quanto ao garantir a qualidade da assistência ao
conhecimento científico e legal dos paciente, cabe ainda as instituições de ensino
profissionais sobre o assunto, colocando em de enfermagem, incluir nos seus currículos
risco pacientes e os próprios aspectos legais, científicos que levem a ética
2,15,16
profissionais. no atendimento.
Segundo o Ministério da Saúde e manuais FINANCIAMENTO
de boas normas sobre o assunto, para garantir
o bom uso de soluções antissépticas é Estudo realizado com apoio financeiro da
necessário que os produtos sejam adquiridos Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de
de fornecedores confiáveis, sejam São Paulo (FAPESP). Ribeirão Preto (SP),
transportados, com proteção de calor Brasil.
excessivo e em quantidades previstas de REFERÊNCIAS
utilização. Sejam estocados protegidas da luz
direta do sol, em estrados e/ou prateleiras 1. Santos AAM, Verotti MP, Sanmartin JA,
fechadas com boa visibilidade de identificação Mesiano ERAB. Importância do álcool no
e prazo de validade e que nas unidades de controle de infecção em serviços de saúde.
atendimento ao paciente sejam utilizados de Rev adm saúde [Internet]. 2002 July-Sept
maneira individual, trocados semanalmente, [cited 2009 July 20];4(16):7-14. Available
permaneçam com proteção da borda quando from:
abertos e tenham clara identificação, com http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/contr
nome do produto, data e profissional ole/controle_alcool.pdf.
responsável pela abertura. A observação 2. Silva AAT, Mazzo A, Pereira BJC, Girão FB,
realizada demonstra que existem nos dois Fumincelli L, Mendes IAC. O uso das soluções
serviços estudados soluções não autorizadas, antissépticas na prática clínica da

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Silva AAT da, Mazzo A, Fumincelli L et al. O uso das soluções antissépticas...

enfermagem. Rev enferm UERJ [Internet]. 12. Martins K, Costa K, Costa T, Rezende L,
2010 July-Sept [2011 Sept 10];18(3):473-7. Oliveira D, Brito S. Aspects related to
Available from: therapeutic communication between the
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