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Capítulo V

Formas de Estado

(Páginas 329 - 344)

Conceito de forma de Estado


Forma de Estado é um conceito que procura traduzir a estruturação interna do poder estadual
e do ordenamento jurídico-constitucional numa determinada coletividade.

Critérios de distinção das formas de Estado


Para distinguirmos as diferentes formas de Estado existem 3 critérios:

- Saber se existe um único poder político, ou seja, uma única instituição de governo ou se, pelo
contrário, existem vários.

- Saber se existe uma só Constituição ou vários ordenamentos jurídico-constitucionais.

- Saber se existe um só centro de decisão política ou vários centros.

Atendendo a estes três critérios, hoje, a doutrina distingue entre duas grandes formas de
Estado: o Estado simples ou unitário e o Estado composto.

Estado simples ou unitário


É aquele em que existe um único centro de decisão política, um só conjunto de instituições de
governo e um único ordenamento jurídico-constitucional.

No entanto, o Estado unitário pode exercer as suas funções de uma forma centralizada ou
descentralizada.

Centralizada quando os fins públicos são prosseguidos apenas pelo Estado e pelos seus
órgãos, que estendem assim o seu poder a todo o território.

Descentralizada quando para além do Estado existem outras entidades com


personalidade jurídica própria e que vão também prosseguir os fins públicos. Nesse caso diz-se
que há descentralização.

Atualmente, e face à própria evolução da sociedade, o Estado unitário centralizado é apenas


um modelo teórico. Seria um Estado em que todas as decisões provinham do vértice e seriam
transmitidas e aplicadas de forma hierarquizada até à base e todos os recursos ascenderiam da
base ao topo com controlo hierárquico dos órgãos superiores sobre os inferiores.

Hoje, todos os Estados praticam a descentralização administrativa ou devolução de poderes.


Essa descentralização pode ser meramente administrativa ou pode ser mais ambiciosa e ser
político-administrativa.

A descentralização administrativa pode ser de dois tipos:

- De carácter funcional ou institucional quando o Estado vai confiar funções


administrativas a outros sujeitos de direito com personalidade jurídica própria e que não
dependem directamente do Governo. É o caso por exemplo dos institutos políticos, das
associações (quando públicas), das fundações, ordens profissionais e o caso também das
universidades (públicas).

- De carácter territorial quando o Estado vai reconhecer autonomia administrativa a


entidades de base territorial e social, que é o caso das autarquias locais. São pessoas
colectivas, territoriais, dotadas de órgãos representativos próprios e que visam prosseguir os
interesses das respectivas populações.

Em alguns Estados, a descentralização é mais ambiciosa, uma vez que ele vai reconhecer
autonomia político-administrativa a determinadas entidades territoriais, que são as chamadas
Regiões Autónomas. Estas, não só exercem funções administrativas como também políticas,
tendo mesmo a faculdade de legislar. Dispõem ainda de órgãos de Governo próprios. Neste
caso, diz-se então que temos um Estado unitário regional, Estado regional ou Estado
autonómico.

O Estado unitário regional

É um estado unitário que reconhece autonomia político-administrativa a determinadas


comunidades territoriais que se designam Regiões Autónomas.

De acordo com a forma como se organizam as regiões dentro o Estado unitário, é possível
fazer-se algumas classificações. Assim, podemos ter:

a) Estado regional integral, quando todo o território se divide em regiões autónomas.


b) Estado regional parcial, quando o Estado é formado por regiões autónomas e não
autónomas, de regiões dotadas de autonomia político-administrativa e regiões
dotadas apenas de autonomia administrativa.
c) Estado regional periférico, quando existem uma ou mais regiões autónomas
periféricas, ou seja, separadas do restante território por condicionalismos ou
fenómenos geográficos (Ex: Dinamarca em relação às Ilhas Faroé, Finlândia em relação
à Alândia e Portugal em relação aos Açores e à Madeira).

A diferença entre os últimos dois tipos é que o Estado regional parcial normalmente tende
para a regionalização total e o periférico não.
Quanto à organização das Regiões Autónomas também podemos distinguir entre: Estado
homogéneo, em que a organização é uniforme para todas as Regiões Autónomas e Estado
heterogéneo, em que a organização das Regiões Autónomas é diferente, havendo estatutos
especiais.

Estado composto
É aquele em que se verifica a integração de vários ordenamentos jurídico-constitucionais,
vários conjuntos de autoridades e vários centros de decisão política. O principal exemplo de
Estado composto é o Estado federal.

Estado Federal

O federalismo remonta já dos inícios do século XIX, enquanto o regionalismo só surgiu no


século XX com a Constituição espanhola de 1931 e a italiana de 1947.

Exemplos de Estados Federais: EUA, Brasil, Alemanha, Suíça.

Na estruturação interna do Estado federal encontramos uma pluralidade de poderes políticos


e de ordenamentos constitucionais, entre os quais um é superior – o do Estado Federal – ao
qual se subordinam e em que se integram e participam os ordenamentos e órgãos dos Estados
Federados.

Conceito

O Estado Federal é a reunião permanente de vários Estados, que embora possuam todos os
atributos de um Estado não gozam de personalidade jurídica internacional (no plano
internacional, quem atua é o Estado Federal). É um Estado composto pois existem vários
poderes políticos: um soberano – o do Estado Federal – e vários dependentes – os dos Estados
Federados. O território do Estado Federal é o resultado da adição dos territórios dos Estados
Federados, assim como o povo do Estado Federal é o resultado da junção dos povos dos
Estados Federados, sendo que estão todos unidos pelo vínculo da nacionalidade.

Poderes e limites dos Estados Federados

Os Estados Federados têm o poder de autoconstituição. Porém, tem sempre de respeitar a


Constituição do Estado Federal. O que quer dizer que nos Estados Federados os habitantes
têm que respeitar não só as leis e a Constituição desse Estado como a Constituição e as leis
federais.

Num Estado Federal, o Parlamento desse tem sempre duas câmaras: uma que representa os
cidadãos de todo o Estado Federal e a outra representa especificamente cada um dos Estados
Federados.

Os Estados Federados têm o direito de participar através de representantes próprios na feitura


ou revisão da Constituição federal.
Os Estados Federados gozam de competência legislativa própria, mas apenas em matérias de
interesse específico do Estado Federado.

Os Estados Federados têm tribunais e forças de segurança próprias.

Limites:

Os Estados Federados não podem desvincular-se do Estado Federal por sua iniciativa.

São os tribunais do Estado Federal que controlam a conformidade entre as Constituições e leis
dos Estados Federados relativamente à Constituição e às leis do Estado Federal.

Compete exclusivamente ao Estado Federal manter as relações internacionais, bem como


definir a política de defesa de toda a federação.

A autonomia constitucional dos Estados Federados só existe dentro das condições


estabelecidas na Constituição Federal, porque é esta que define a repartição de competências
entre órgãos federais e órgãos federados.

Classificações dos Estados Federais

Estado Federal Perfeito – é aquele que resultou da aglutinação de povos diferenciados num
determinado momento histórico criando assim uma realidade político-constitucional superior.
Foi o que aconteceu com os EUA, que reuniram 13 Estados (hoje 51), levando á existência de
um Estado Federal. Também a Suíça se constituiu desta mesma forma.

Estado Federal Imperfeito – é aquele que originalmente era um Estado Unitário e


posteriormente, por conveniência de descentralização política, se transformou num Estado
Federal. Caso do Brasil.

Designações possíveis dos Estados Federados

Os Estados Federados têm, por sua vez, várias designações possíveis. Por exemplo nos EUA e
no Brasil são designados meramente por Estados, na Alemanha por Lander, na Suíça por
Cantões, na Argentina e no Canadá por Províncias, na ex-U.R.S.S. e na Jugoslávia por
Repúblicas.

Distinção entre Estado Regional e Estado Federal

Num Estado Federal, cada Estado Federado elabora a sua própria Constituição, enquanto que
num Estado Regional, cada Região Autónoma elabora o seu Estatuto, que tem de ser aprovado
pelos órgãos centrais.

Os Estados Federados têm uma participação específica no Parlamento do Estado Federal e no


Estado Regional não existe qualquer câmara parlamentar.
Os Estados Federados participam através de representantes próprios na revisão da
Constituição Federal e nos Estados Regionais não existe uma participação específica das
Regiões Autónomas na revisão da Constituição do Estado.

Os Estados Federados têm tribunais e forças de segurança próprias e as Regiões Autónomas


não têm.

União Real

Todas as Constituições portuguesas consagraram um Estado Unitário com a exceção da


Constituição de 1822 que estabeleceu uma União Real entre Portugal e Brasil.

Esta União Real existe quando dois ou mais Estados, sem perderem a sua autonomia
constitucional, adotam uma Constituição comum que prevê a existência de órgãos comuns e
órgãos próprios de cada Estado. A União Real é que atua no plano internacional. Em regra, o
chefe de Estado é o órgão comum (na altura o Rei).

Atualmente, temos como exemplo de União Real o caso da Inglaterra e da Escócia.

Forma do Estado português


O Estado português é um Estado Unitário Regional, uma vez que, para além da autonomia das
autarquias locais, os Açores e a Madeira constituem Regiões Autónomas dotadas de estatutos
político-administrativos e órgãos de Governo próprios, de acordo com o artigo 6º.

Regime constitucional das Regiões Autónomas

O regime constitucional das nossas Regiões Autónomas é o seguinte: cada Região Autónoma
possui um estatuto político-administrativo que é aprovado pela Assembleia da República,
através de uma lei que se chamada Lei Estatutária. Esse estatuto é elaborado pelas
Assembleias Legislativas Regionais, que enviam o projecto de estatuto à Assembleia da
República para aprovação. Se a Assembleia da República decidir rejeitar o projeto ou alterá-lo,
tem que pedir primeiro um parecer à Assembleia Regional (que não é vinculativo) e depois
então decide definitivamente. Este processo de aprovação está previsto no artigo 226º e é
utilizado para criar novos estatutos ou alterar os já existentes. Este estatuto é uma lei
organizatória que define a composição e a competência dos órgãos regionais, bem como as
matérias que são de interesse das Regiões.

O Parlamento é a Assembleia da República, tem uma só câmara e por isso não há nenhuma
representação específica das Regiões Autónomas. Há uma só câmara que procura representar
todos os cidadãos portugueses. Artigo 147º CRP.

Existem deputados que são eleitos pelos círculos dos Açores e da Madeira mas, como diz o
artigo 152º, nº2, os deputados eleitos representam todo o país e não os círculos pelos quais
são eleitos.
A revisão da nossa Constituição é de competência da Assembleia da República e não
participam nessa revisão representantes específicos das Regiões Autónomas.

As Regiões Autónomas são pessoas colectivas de base territorial que podem exercer funções
políticas, como as previstas no artigo 227º, alíneas r) e t), funções legislativas, como está
previsto no artigo 227º, alíneas a), b) e c) e também funções administrativas, artigo 227º,
alíneas g) e h).

Órgãos de governo regional

Cada Região Autónoma tem órgãos de governo próprios (como previsto no artigo 231º, nº1 e
6º, nº2 da CRP): a Assembleia Legislativa e o Governo Regional.

Para além dos órgãos de governo, em cada Região Autónoma há um Representante da


República, que é nomeado pelo Presidente da República e por isso o seu mandato corresponde
ao mandato do Presidente da República (artigo 230º).

O Representante da República, segundo o artigo 233º, pode exercer também o direito de veto.

Os órgãos de governo das regiões podem ser também dissolvidos ou demitidos nos termos do
artigo 234º.

Nas Regiões Autónomas a competência legislativa cabe apenas à Assembleia Legislativa de


acordo com o artigo 232º conjugado com o 227º. O Governo Regional tem competência
política e administrativa.

A parte das Regiões Autónimas está contemplada na CRP dos artigos 225º a 234º.

A parte das autarquias locais está contemplada nos artigos 235º a 262º. Entre nós, as
autarquias são as freguesias, os municípios e as regiões administrativas. O artigo 291º diz que
na ausência de regiões administrativas, deve ser feita uma divisão em distritos.

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