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HISTÓRIA DAS RELAÇÕES LABORAIS

PROGRAMA:
1. A Transição do Antigo Regime para o Liberalismo: Traços gerais das
mudanças estruturais do país (regime/ política/ economia/
sociedade)
2. A formação da grande indústria e o capitalismo financeiro
3. População industrial (séc. XIX)
4. Nível e condições de trabalho
5. O operariado e a intervenção do Estado
6. A sociedade civil e as alternativas á ação do Estado
7. Ação operária e formação do movimento operário
8. Os congressos operários
9. O movimento socialista
10. O movimento social católico
11. O movimento operário organizado nos inícios do século XX
12. Relações laborais no Estado Novo
13. Relações laborais após a revolução de 1974
14. O trabalho e o sindicalismo em tempo de globalização
Bibliografia:

• Barret, F. (s.d.). Histoire du travail. Paris: PUF.


• Barreto, António (2000). A situação social em Portugal (1960-1999).
Lisboa: ICS.
• Cabral, Manuel V. (1977). O operariado nas vésperas da República.
Lisboa: Presença.
• Correia, A. Damasceno (2008). As relações laborais em Portugal.
Lisboa: RH Editora.
• Fonseca, Carlos da (s.d.). História do movimento operário e das ideias
socialistas em Portugal. Lisboa: Europa-América.
• Santos, Boaventura Sousa, et al. (2004). Relações laborais e
sindicalismo em mudança. Coimbra: Quarteto.
• Silva, M. Carvalho da(2009). Trabalho e sindicalismo em tempo de
globalização. Lisboa: Temas e Debates.
1. Ana Daniela dos Santos Alves- 37590
Cinara Rafaela Ferreira- 36016
. Ana Sofia Azevedo da Silva- 36075
Mário Silva Simão- 36112

2. Sofia de Oliveira Marques- 36698


Inês Gomes Correia- 36685

3. Maria Inês Soares- 36106


Mariana Rita Dias- 34468
Mariana Silva- 37154
Nádia Marinho- 37177

4. Ana Sofia Azevedo da Silva- 36075


Filipa Martins Fonseca- 36074
Mário Silva Simão- 36112

5. Daniela Neto-36285
Daniela Carvalho- 33235
Matilde Bela- 36029
Guterre Santos- 20077
6. Carla Oliveira- 37580
Márcia Fonseca-37355
Sofia Dionísio- 37144
Susana Silva- 36280

7. Daniela Pinheiro-37277
Mariana Martins-37161
Monica Caseiro-37265
Virgínia Nunes- 37301

8. Ana Catarina Moreira-36903


Ana Catarina Viegas- 36310
Ana Sofia Moreira- 37305
Sofia Rodrigues- 37503

9. Barbara Ferreira-36727
Mariana Moreira Cabral -36088
Sofia Silva-36425
Filipa Martins Fonseca, A036074

10. Bruna Gouveia- 37155


Filipa Lata- 36501
Márcia Vieira- 36706
11. Daniela Costa- 36452
Sandro Garcia- 37634

12. André Amaral-36393


Carlos Mata- 35273
Daniela Rangel- 36198
Francisco Moreira - 37533

13. Ana Catarina Garcia- 37235


Andreia Sousa-33031
Francisca Castro- 37132
Matilde Coelho- 37267

14. António Pedro- 36268


Bruno Magalhães- 36050
Diogo Rocha- 37222
Hugo Marçal- 36109

15. Tiago Santos- 35863


Mariana Alves Ferreira- 37371
Catarina Mendes- 36717

16. Ana Catarina Carvalho- 36034


Isabel Ferreira- 36746
Manuel Lopes- 36044

17. Rodrigo Ferreira- 37385


Daniel Maia- 37324
João Pereira- 3719
ESTRUTURA DO TRABALHO

Tipo de letra: Times New Roman


Fonte: 12
Espaçamento: 1,5
Citação: APA

• Identificação do Trabalho
- Nome
-Título / subtítulo
-Enquadramento [Trabalho realizado no âmbito da UC de HRL/ Lic.
REC.HUM.]
-Afiliação institucional / data
índice)
-Títulos, subtítulos [capítulos ou secções], segundo a ordem que ocorre
no trabalho (à esquerda), com a respetiva indicação de páginas (à
direita).

-A Introdução, a Conclusão, a Bibliografia, os Apêndices e os Anexos


não devem ser numerados como capítulos.

-A Bibliografia, Apêndices e Anexos não são paginados, mas a


referência aos mesmos deverá surgir no Sumário.
INTRODUÇÃO

- Apresentação do tema
-Justificação da escolha do tema ou da sua relevância
-Apresentação dos objetivos
-Enquadramento teórico
-[Método]
-Descrição da estrutura do trabalho
Corpo do Trabalho

-Parte central e nuclear do trabalho, onde se desenvolvem os conceitos e ideias que


respondem à questão (ou questões) de partida, tendo como suporte o resultado da
pesquisa efetuada e as informações daí decorrentes;
-Obedece a um tipo de redação de texto corrido e não propriamente por tópicos
-Explana o tema, de forma clara e coerente, com afirmações fundamentadas em
autores e documentos com valor comprovado
-Pode ser dividido em diferentes partes (estruturação proposta para este trabalho)
-Pode (dependendo do tema em abordagem) incluir gravuras, fotografias e
esquemas que ilustrem as temáticas em análise
-Pode e deve incluir (quando relevante para a fundamentação de ideias e
argumentos) citações de autores consultados, as quais não devem ser muito longas,
mas sempre destacadas entre aspas. A citação implica no aparato final da
bibliografia a menção do autor e obra de onde foi retirada.
No texto basta: ……………. (Gonçalves, 2020: 20) …………….. (Almeida, 2019:34-35)
………
-Podem ser incluídas notas de rodapé.
Conclusão

-Deve ser breve, reportando sinteticamente os pontos fundamentais


do tema/assunto desenvolvido

-Deve estar em coerência com os objetivos anteriormente definidos


para a consecução/desenvolvimento da temática e assunto

-Pode elencar dúvidas, recomendações e sugestões.


Bibliografia

-Na realização de um trabalho escrito é muito importante


identificarmos as obras e autores em que nos baseamos e as frases, os
dados, as imagens, quando não são da nossa autoria. Deste modo,
tornamos o nosso trabalho mais rigoroso e credível.

-É pois fundamental que se refira os documentos consultados e dos


quais se retirou informação para o trabalho (livros, revistas, Websites,
etc.)

-Na elaboração da bibliografia deve ser utilizada a norma APA


Anexos

-Documentos de suporte aos enunciados produzidos no corpo do


trabalho
-Inquéritos ou dados de sondagem ou entrevista, eventualmente
aplicados

-Imagens, gravuras, fotos, gráficos.


1. A Transição do Antigo Regime para o Liberalismo:
Traços gerais das mudanças estruturais do país (regime/ política/ economia/
sociedade)

• O Antigo Regime:
Expressão que originalmente se aplicou para identificar o sistema social e
político aristocrático que foi estabelecido em França (séc. XVII-XVIII)
Reporta um regime centralizado e absolutista – poder centrado na figura do
rei.

A sociedade encontrava-se dividida em três ordens ou estados:


• O Primeiro Estado, representado pelo clero (bispos, abades, padres, frades e
monges), representava 1% da população;
• O Segundo Estado, representado pela nobreza e a família real, representava 2%
da população;
• O Terceiro Estado, que representava a burguesia, os camponeses, ou seja, o
restante da população e os trabalhadores urbanos, representava o resto da
população – O Povo.
Finais do século XVIII- inícios século XIX:

A ascensão da burguesia comercial e financeira, aliada a


fortes tensões sociais provocadas pela manutenção do
monopólio da nobreza no controlo dos cargos mais
importantes do Estado, a desigualdade de oportunidades
quanto à posse de propriedade, e as más condições de vida
das classes populares criaram o ambiente para que o Antigo
Regime começasse a desintegrar-se.
As tensões sociais corresponderam a graves desajustamentos
económicos que resultaram no aparecimento, no final do século XVIII,
de revoluções liberais lideradas pela burguesia (contexto
internacional), interessada em acabar com os regimes monárquicos
absolutistas de forma a intervir diretamente na condução dos destinos
das nações.
Os desejos do Terceiro Estado
Colapso do Antigo Regime em Portugal
A conjuntura
D. João VI - Um dos últimos representantes do absolutismo, viveu num período
tumultuado, e o seu reinado nunca conheceu paz duradoura.
Ora era a situação portuguesa ou europeia a degenerar, ora era a brasileira.
Não esperara vir a ser rei, só tendo ascendido à posição de herdeiro da Coroa pela
morte do seu irmão mais velho, D. José.
Assumiu a regência quando a sua mãe, a rainha D. Maria I de Portugal, foi
declarada mentalmente incapaz.
Teve de lidar com a constante ingerência nos assuntos do reino de nações mais
poderosas, notadamente a Espanha, França e Inglaterra.

D. João VI
Obrigado a fugir de Portugal quando as tropas napoleônicas invadiram
o país, no Brasil enfrentou revoltas liberais que refletiam
acontecimentos similares na Metrópole, sendo compelido a retornar à
Europa no meio de novos conflitos.
Perdeu o Brasil quando o seu filho D. Pedro proclamou a
independência desse território, e viu o seu outro filho, D. Miguel,
rebelar-se buscando depô-lo. Provou-se que morreu envenenado. O
seu casamento foi da mesma forma acidentado, e a esposa, Carlota
Joaquina de Bourbon, repetidas vezes conspirou contra o marido a
favor de interesses pessoais ou de Espanha, seu país natal.

• Em finais de Novembro de 1807 a família real portuguesa realiza


uma apressada saída de Lisboa para escapar aos invasores
franceses. A corte muda-se para o Brasil onde vai ficar até 1821.

https://ensina.rtp.pt/artigo/primeira-invasao-francesa/
Contexto da Revolução Liberal de 1820
> Libertado Portugal da ocupação das tropas francesas;
> Queda de Napoleão Bonaparte (1815);
Formação em Lisboa do "Supremo Conselho Regenerador de
Portugal e do Algarve", integrado por oficiais do Exército e Maçons,
com o objetivo de expulsar os britânicos do controlo militar de
Portugal;
Este movimento foi liderado pelo General Gomes Freire de Andrade,
durante o seu breve período de existência, esforçou-se no
planeamento da introdução do liberalismo em Portugal, embora não
tenha conseguido atingir os seus propósitos finais.
> Denunciado em Maio de 1817, a sua repressão conduziu à prisão de
muitos suspeitos, entre os quais o general Gomes Freire de Andrade,
Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano (1815-1817), acusado de
líder da conspiração contra a monarquia de João VI de Portugal, em
Portugal continental representada pela Regência (sob o governo militar
britânico de William Carr Beresford).
> Em outubro de 1817, o tribunal considerou culpados de traição à
pátria e sentenciou à morte, por enforcamento, doze acusados.
• SINÉDRIO (Porto) ….. Preparar a Revolução

Fernandes Tomás José Ferreira Borges José Silva Carvalho

(Desembargador) (Jurista) (Jurista)


Revolução Liberal em Espanha que restaurou a Constituição de Cádis
de 1812.
Revolução Liberal 1820 (24 agosto), Porto
• https://www.youtube.com/watch?v=MUCqgS5YueE

• (Instalação do Liberalismo - JHS)

• https://www.youtube.com/watch?v=z6k5HxJKpos
(Presidente Marcelo)
Absolutismo vs Liberalismo – 1820-1834
Carta Constitucional
NAÇÃO
REI
(Sede da soberania popular)
Poder Legislativo – Poder Executivo
Poder Judicial – Poder Moderador
Ensino: Reforma da Universidade; Academia
Politécnica; primeiras letras
PORTUGAL NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX

Crise Económica - Reformas


Transportes
Agricultura
Indústria
Ensino
Administração
A (re)organização do trabalho
• As primeiras associações operárias de socorros mútuos ou de ensino popular foram constituídas, em
Portugal, após a revolução liberal de 1820 e a abolição das corporações das artes e ofícios em 1834.

A Casa dos Vinte e Quatro era composta por dois representantes de cada uma das doze corporações
de ofícios da cidade, conhecidas por "bandeiras”, os quais coletivamente eram conhecidos pelos "Vinte
e Quatro”. Cada bandeira era designada pelo respetivo santo padroeiro e incluía um ofício de cabeça,
bem como outros ofícios anexos. As reuniões realizavam-se inicialmente na igreja de S. Domingos, os
quais elegiam um juiz do povo (que presidia à casa), juízes de paz, procuradores e outros magistrados.

Na sequência da implantação do regime liberal em Portugal, as casas dos vinte e quatro foram extintas
pelo Decreto de 7 de Maio de 1834.
• “Corporações de ofício, guildas ou mesteirais eram associações que
surgiram na Idade Média, a partir do século XII, para regulamentar as
profissões e o processo produtivo artesanal nas cidades. Essas
unidades de produção artesanal eram marcadas pela hierarquia
(mestres, oficiais e aprendizes) e pelo controle da técnica de
produção das mercadorias pelo produtor”.
• Sistema fabril: produção para um mercado cada vez maior e
oscilante, realizada fora de casa, nos edifícios do empregador e sob
rigorosa supervisão. Os trabalhadores perderam completamente sua
independência. Não possuíam a matéria prima, como ocorria no
sistema de corporações, nem os instrumentos, tal como no sistema
doméstico.

- A habilidade deixou de ser tão importante como antes, devido ao


maior uso da máquina.
- O capital tornou-se mais necessário do que nunca. Do século XIX
até hoje.
• A ideia que hoje temos de ‘Direito do Trabalho’, iniciou com a
Revolução Industrial.

• Juridicamente o Direito do Trabalho é tributário do Direito Civil


• A fragmentação das sociedades campesinas e atomizadas tradicionais,
que originou as grandes massas nas cidades, fez com que, nas palavras
de Hobsbawm:

[...] “nada se tornasse mais inevitável” do que o aparecimento dos


movimentos operários – pois aqueles trabalhadores não tinham
quaisquer recursos legais, somente alguns rudimentos de proteção
pública:
[...]
No século XIX, ‘os pobres’ não mais se defrontavam com ‘os ricos’. Uma
classe específica, a classe operária, enfrentava a dos patrões ou
capitalistas. A Revolução Francesa deu confiança a esta nova classe; a
revolução industrial provocou nela uma necessidade de mobilização
permanente”.
• As grandes reformas liberais em Portugal datam de 1832-1834, não
de 1820-1823.
• Foram elas que extinguiram instituições fundamentais do Antigo
Regime e estabeleceram as bases de um novo regime inspirado na
liberdade.
• Mas tais reformas só foram possíveis no contexto favorável criado na
Europa, desde 1830, com a revolução liberal na França, a passagem
de um governo tory para um governo whig na Grã-Bretanha e a
independência da Bélgica .
O LIBERALISMO

• Regime político – Monarquia constitucional;

• Sociedade de classes

• Teoria Económica: Fisiocratismo e Liberalismo (Livre-cambismo)

• Movimento cultural: Romantismo


A REGENERAÇÃO
Transportes e obras
públicas…
Agricultura: Fim dos morgadios; novas técnicas
agrícolas; novos instrumentos; novas áreas
agrícolas; aumento da produção
A vida nos campos
Do campo para a cidade
Novas sociabilidades
numa sociedade de classes
O teatro
Vida Burguesa na cidade
As praias
Termalismo
Caldas das Taipas
Café Guichard
O Brasileiro
Palácio Cristal Porto
Multiplicidade de profissões
Arquitetura do Ferro
Camilo Castelo Branco
Ramalho Ortigão e Eça de Queirós
Conferências do Casino Lisbonense
Cesarismo; protecionismo
Ultimatum
A REPÚBLICA

• https://www.youtube.com/watch?v=7lG-soYcsuk
3. APOPULAÇÃO INDUSTRIAL NA SEGUNDA METADE DO
SÉCULO XIX

• No final do século XIX a sociedade portuguesa atravessou uma série


de mutações, económicas, sociais e políticas, impulsionadas entre
outros fatores pelo desenvolvimento industrial.

• No entanto, as primeiras mudanças fizeram-se sentir essencialmente


na cidade de Lisboa onde, neste período, se concentrava mais de 7%
da população portuguesa.
• O forte crescimento demográfico das cidades de Lisboa e Porto neste
período fez-se largamente à custa do incremento da classe operária,
resultado de uma forte migração proveniente do país rural em
direção à capital.

• Consequentemente, a população que dependia do sector industrial


passou a ter uma relevância social e política nunca antes alcançada.
• A historiografia portuguesa produziu investigações essenciais sobre a evolução
económica de Portugal, dando particular ênfase à forma como na segunda
metade do século XIX a difusão tecnológica e dos novos métodos de produção
e de transporte impuseram diferenças regionais no desenvolvimento industrial.

• Lisboa e Porto ocuparam um lugar de destaque, não só porque eram os


maiores aglomerados urbanos, mas também porque, conjuntamente com a
Covilhã, foram das poucas concentrações industriais do país
• A ideia de que o surgimento de estabelecimentos industriais de grande
envergadura em número de trabalhadores e tecnologia moderna – a
grande indústria – no século XIX, no contexto português, representava
“uma ilha de modernidade incrustada num mar artesanal”.

• No final do século XIX existiam já inúmeros estabelecimentos


industriais e as oficinas de produção manufatureira em Lisboa,
concentrando-se sobretudo ao longo do Tejo. No Beato e Xabregas,
concentravam-se essencialmente os armazéns do vinho, fábricas de
tabaco, algodoeiras e moagens, na Boavista as fundições e fábricas de
pregaria, na zona de Alcântara, Santo Amaro e Calvário, as fábricas
têxteis, de curtumes, de faiança, serralharias e fundições
• No caso do Porto, um dos aspetos mais marcantes da sua indústria
na segunda metade do século xix traduziu-se na sua grande difusão
pelas freguesias centrais da cidade.
• De facto, para além de não se incluírem nessa situação algumas das
freguesias periféricas (como Nevogilde, Foz e, em menor grau,
Lordelo e Ramalde), regista-se um lento processo de periferização da
indústria, com o abandono de algumas das freguesias centrais (como
Miragaia e, em menor escala, São Nicolau).
• Tratou-se também de um crescimento quantitativo, em expansão, da
pequena indústria de feição oficinal, não se registando grandes
alterações qualitativas na estrutura industrial da cidade.

• A persistência desta fraca concentração constituiu, precisamente,


outro dos aspetos marcantes da indústria portuense na segunda
metade do século xix.
• A grande maioria das fábricas existentes na cidade do Porto aquando
da realização dos inquéritos industriais de 1845 e de 1852
constituíam pequenas unidades, apresentando uma feição
marcadamente manufactureira, quase sem a utilização de
maquinaria moderna e energia a vapor.
• Na cidade do Porto, o peso do sector da indústria ao domicílio é
extremamente importante, ocupando ainda em 1890 o
impressionante número de 36 103 indivíduos9, enquanto, segundo o
inquérito industrial realizado nesse ano, a população fabril da cidade
era apenas de 22 771 indivíduos
A industria portuguesa a partir dos “Inquérios
Industriais” (1881 e 1891)
• https://ensina.rtp.pt/artigo/o-norte-como-farol-da-industria-do-secul
o-xix
/
4. Nível e condições de trabalho
• https://ensina.rtp.pt/artigo/a-industria-no-fim-da-monarquia/

https://
www.rtp.pt/play/p5656/e429030/visita-guiada
6- O Estado Liberal e a sociedade civil

> A nova ordem inaugurada pelo Estado Liberal tem como aspeto
central um mercado natural no qual a pauta de atuação de todos os
participantes é a realização de seus interesses individuais,
em substituição a um mercado artificial, pleno de restrições sobre a
produção (corporações de ofício) e calcado pela insegurança gerada
pelo poder incontrastável do soberano.

>O Direito foi posto à disposição da liberalização económica por


intermédio da criação de institutos como o negócio jurídico e o
contrato e da consequente elevação da liberdade contratual a axioma
central do ordenamento;
• A igualdade estritamente formal das partes asseguraria o equilíbrio
entre os contratantes; o contrato de trabalho era regido
exclusivamente pela vontade das partes, sem as limitações das
corporações de ofício ou os laços feudais de mútuo auxílio e
subserviência.

• Por meio da conceção de lei “geral e abstrata” portadora de uma


igualdade estritamente formal e do abstencionismo económico, o
Estado Liberal atribuiu segurança jurídica às trocas mercantis, criou
um mercado de trabalho repleto de mão de obra barata e assegurou
à iniciativa privada a realização de qualquer atividade
tendencialmente lucrativa.
• Dada essa característica abstencionista, qualquer ação do Estado Liberal se
baseava na seguinte premissa: só é legítima a ação estatal absolutamente
necessária e esse critério somente se perfaz quando a ação estatal vise a
preservar a segurança individual dos cidadãos.

O Estado Liberal coincidiria com o triunfo da burguesia. Daí o realce da:


> liberdade contratual,
a absolutização da propriedade,
a recusa, durante muito tempo, do direito de associação (dizendo-se que ela
diminuiria a liberdade individual),
 a restrição do direito de voto aos possuidores de certo montante de bens ou
de rendimentos, únicos que, tendo responsabilidades sociais, deveriam
assumir responsabilidades políticas (sufrágio censitário)
• Seria menos em resultado das críticas doutrinais ao liberalismo, nas
suas vertentes filosófica e económica – críticas de vários quadrantes
desde as socialistas, de diferentes matrizes, à da Doutrina Social da
Igreja – do que, por efeito da progressiva organização dos
trabalhadores em sindicatos e em partidos, que, no exercício da
liberdade, seriam reivindicados direitos sociais ou direitos
económicos, sociais e culturais –
direitos económicos para garantia da dignidade do trabalho,
direitos sociais para segurança na necessidade
e direitos culturais como exigência do acesso à educação e à cultura
e, em último termo, de transformação da condição operária.
• Os governos da monarquia constitucional, durante a segunda metade
do século XIX, quando deliberam sobre o direito de associação,
colocam-lhe limitações, sabendo das inconvenientes implicações
políticas que deste movimento poderiam advir.

• Procuram circunscrevê-lo tanto quanto possível ao campo social,


onde o próprio Estado poderia garantir proveitosas contrapartidas.

• Assim, o direito de associação surge como relacionado


maioritariamente com as classes trabalhadoras, necessitadas de uma
assistência que o Estado ou outros organismos não garantem.
• São as associações de socorros mútuos que procuram proporcionar
assistência aos seus associados, tanto na doença, como na
incapacidade para o trabalho, no desemprego, ou outras situações
• Apesar do Estado, desde meados do século XIX, reconhecer os
benefícios destas associações, e considerando a insistência de alguns
governantes para que se aprove um regulamento específico a fim de
fomentar estes organismos, tal tarda a acontecer.
• Apenas em 1891, pelo decreto de 28 de Fevereiro, se concretiza a sua
aprovação. Ainda assim, as classes trabalhadoras não deixaram de se
organizar e aderir a associações de socorros mútuos
• Na obra de Costa Goodolphim, publicada em 1876, que tem como
objeto principal as associações de carácter assistencial, entre 1838 e
1876, é notório um significativo movimento por parte das
associações de socorros mútuos, principalmente em Lisboa e no
Porto onde, sobretudo, desde a Regeneração, se registou um maior
desenvolvimento industrial.
• Diz Goodolphim, “No continente podemos contar 300 associações de
socorros mútuos, havendo 70 000 mil indivíduos associados.”
9. O movimento social católico
• Os círculos católicos de operários constituem um marco nas
tentativas organizativas do operariado católico português nos finais
de oitocentos, sendo comummente aceites como um primeiro
esboço de «criação em Portugal de um movimento sindical católico»

• . Juntamente com as organizações católicas da juventude, os CCO dão


início ao movimento social católico em Portugal, cujo teor
redimensiona as primeiras organizações católicas que no nosso país
se ocuparam da designada «questão social e operária»,
• já os congressos católicos realizados em Braga e Lisboa,
respetivamente em 1891 e 1895, tinham plasmado o sentido do
movimento católico em Portugal, destacando-se o primeiro
congresso por constituir o lastro que permitirá a prossecução da
política de aceitação dos regimes liberais preconizada pelo ralliement
do papa Leão XIII, e o segundo por apresentar entre nós as grandes
linhas de ação do catolicismo social.

• De forma inequívoca, este momento marca ainda a viragem do


movimento católico do anti-liberalismo para o anti-socialismo
• O catolicismo português assume, pois, novo vigor após a realização do
Congresso Católico Internacional de Lisboa, por altura das comemorações
do 7º centenário de Santo António, em 18955, reunião concorrida por
destacados militantes do catolicismo português da época, bem como por
algumas outras conceituadas personalidades do catolicismo internacional,
os casos de Giuseppe Toniolo, conhecido professor da Universidade de
Pisa e grande impulsionador do movimento social católico italiano, e do
padre Pascal, autor de referência na sociologia cristã oitocentista.

• Durante os trabalhos do congresso, além de largamente questionado o


modelo de desenvolvimento preconizado pelo capitalismo liberal, são
apontadas algumas das principais linhas de acção com que se pretendia
«travar o avanço revolucionário» nos meios urbanos «através de uma
política de reformas sociais»
• Em simultâneo decorria, também em Lisboa, um congresso socialista
e anticlerical, sinal de inequívocas clivagens do movimento católico
face às ideias e ao próprio movimento operário de feição socialista
que acaba por suplantar progressivamente as preocupações da Igreja
para com o Liberalismo, processo que a leva «de uma maneira cada
vez mais dominante»8 a preocupar-se com as massas operárias.
• Acresce a tudo isto o incomensurável impacto da encíclica Rerum
Novarum em todo o mundo católico. Alertando para os designados
«deveres do Estado», estava já eivada de uma nova noção de justiça, da
responsabilização dos proprietários, da promessa de relações renovadas
entre trabalhadores e patrões através do associativismo operário.

• Esta primeira encíclica social reflete largamente o sindicalismo e a


participação dos católicos na organização sindical, apresentando os
sindicatos como «instrumentos de solução da questão social e de […]
correção de situações injustas e desumanas
• enquanto a encíclica Rerum Novarum deixa caminho aberto à opção
livre entre o sindicato misto e o sindicato separado, os CCO em
Portugal vão seguir, na sua essência, a primeira via, não envolvendo
qualquer ideia de separação ou confronto, pelo contrário, como
defendia na época o padre Roberto Maciel, os Círculos «eram um
meio prático de reforma social».

• A recepção da Rerum Novarum em Portugal – amplamente divulgada


no templo e fora dele, mormente na imprensa – contribuiu para uma
certa «unidade prática» da militância católica, cuja tónica era agora
posta na «questão social e operária».
• , se o movimento dos CCO esboça timidamente uma «primeira
expressão em Portugal do sindicalismo católico», ele reflete
igualmente um pendor marcadamente antisocialista, de resto, a
exemplo de outros países europeus de forte implantação católica,
onde o catolicismo social nasce de uma tradição contra-
revolucionária.
Tal é o caso da experiência francesa e das soluções corporativas
paternalistas de uma dita «geração nova» de católicos sociais como
Albert de Mun, René La Tour du Pin e Léon Harmel, experiências
dissonantes dos movimentos caracteristicamente «mais abertos»
dos «Abbés Democrates» e do movimento do «Sillon» que
exerceram pouca influência entre nós.
Albert de Mun
La Tour du Pin |
• Tendo em conta uma série de iniciativas que perpassam por um
leque variado de obras sociais e outrossim pelos sindicatos mistos de
inspiração católica e pelos centros de estudos e congressos católicos,
os CCO em Portugal correspondem mais a uma estratégia de grupos
aristocráticos tradicionais e não tanto a um plano reivindicativo
ligado às classes trabalhadoras, pese embora se verifique a
integração do movimento por um número assinalável de operários.
• Neste final de século XIX assiste-se à fundação de cerca de 25 CCO,
distribuídos esmagadoramente pelos principais centros industriais do
país, com especial incidência nos do Norte.
• A sua repartição geográfica dá primazia aos distritos do Porto, Braga
e Viana do Castelo. Neste contexto destaca-se o Círculo Católico de
Operários do Porto, fundado em 9 de Junho de 1898, como primeiro
e mais pujante CCO português.
Aquela teia de Círculos Católicos releva-se a notável ação itinerante dos
padres João Roberto Maciel e Benevenuto de Sousa, ambos redatores de A
Palavra e O Grito do Povo, constituindo este último o órgão do CCOP.
Assim, em 1898 vão surgir os Círculos Católicos de Operários de Vila Nova de
Gaia e Braga, seguidos pelos de Arcos de Valdevez e Viana do Castelo. Até à
organização, em Lisboa, do 1º Congresso das Agremiações Populares
Católicas, em 1906, vai nascer a grande maioria dos CCO.
• Quanto ao universo médio dos associados dos vários CCO, segundo a
intervenção de Fr. Frutuoso Fonseca Preto Pacheco ao 4º Congresso
das Agremiações Populares Católicas realizado em Braga, em 1909,
deveriam rondar os 10 000 membros; já para o conhecido jornalista
católico Manuel Frutuoso da Fonseca, na sua participação no 2º
congresso da democracia cristã realizado no Porto, em 1907, esses
quantitativos deveriam aproximar-se dos 12 000 associados.
• M. Fructuoso da Fonseca
• Embora estes números sejam de dimensão assinalável, não fazem
com que o catolicismo social deixe de ter uma representatividade
minoritária na globalidade do operariado. Com efeito, em 1910, o
quadro da população agremiada em associações de «classe operária
ou mista», que respondeu ao questionário da Repartição do
Trabalho, apresenta 8 212 operários concernentes às 43 associações
do Porto e Vila Nova de Gaia, enquanto o conjunto das associações
inquiridas a nível nacional regista 26 381 associados
• Apesar de um certo pendor mutualista dos CCO, o advento do seu
movimento em finais do século XIX é considerado uma primeira
tentativa de «presença católica organizada no movimento operário
português». É, pois, com o patrocínio do bispo do Porto, D. Américo
Ferreira do Santos Silva, em 1898, que vemos surgir a primeira
associação de católicos não só para operários mas, sobretudo,
constituída por número significativo de operários: o Círculo Católico de
Operários do Porto (CCOP).
• A cerimónia inaugural do CCOP, presidida por Manuel Frutuoso da
Fonseca, contou com a presença das mais altas figuras dos meios civil e
eclesiástico portuenses. A funcionar, desde 28 de Julho de 1898, no nº
192 da Rua dos Mártires da Liberdade, o CCOP vê os seus estatutos
formalmente aprovados pelo Governo Civil em 27 de Agosto de 1898. A
aprovação do prelado da Diocese é obtida por Alvará de 5 de Setembro
daquele ano.
• O programa:

• Publicado pela primeira vez em O Grito do Povo, o programa deveria ser


executado sob a divisa «Por Deus e Pela Pátria», tendo como lastro da
reforma sugerida a família.

• Na ordem de prioridades, o programa contempla primeiramente o


religioso, e só depois o social, o político e o económico.

• No plano reivindicativo saliente-se a questão do descanso dominical que


vai dar lugar a vasta campanha de apoio, não só da imprensa católica, mas
ainda de um leque alargado de associações católicas.

• Por outro lado, são também relevadas questões ligadas ao horário de


trabalho, ao trabalho de menores, à obrigatoriedade das caixas de auxílio
à doença, velhice, acidentes, morte, contemplando mesmo uma possível
cobertura dos custos de imobilização devido a doença ou acidente laboral
por parte do patronato.
• Atividade:

• Prosseguindo um alargado programa de atividades, o CCOP criou


desde o seu início uma estrutura organizativa distribuída, como foi
referido, por vários grupos anexos que se foram multiplicando até à
República.

• Desde logo, essas atividades têm um sentido essencialmente


formativo e recreativo, e não tento reivindicativo. É também
necessário distinguir as atividades promovidas pela Direcção do CCOP
das atividades inerentes aos grupos anexos com a sua relativa
autonomia.
• O Círculo possuía aula de instrução primária, aula de ginástica, aula
de música, ensino de catequese, biblioteca, e um grupo dramático.
Concebido como local de «educação e distração sãs», o CCOP
promovia ainda conferências periódicas em torno de argumentos de
doutrina religiosa e de doutrina social da Igreja, penetrando por
vezes em áreas em que o político se entrecruza com o religioso. O
prelo e a imprensa era outra forma de acção do CCOP, destacando-se
aqui o semanário.

• O Grito do Povo, órgão do próprio movimento do operariado católico


português. Além das referidas atividades de recreio salientam-se as
de socorro material a sócios mais desfavorecidos, cuja
responsabilidade cabia às Conferências de S. Vicente de Paulo anexas
ao CCOP.

• As atividades de carácter recreativo e de formação cristã vão,


amiúde, subalternizar-se às funções assistenciais um eventual
desempenho reivindicativo.
Reformismo interclassista e contra-revolucionário na matriz social

• Tendo na sua génese uma tentativa de resposta moral à questão social,


os CCO acabam por desempenhar uma função de matriz política e
ideológica, postergando o carácter «económico-reivindicativo» com
vista a potenciar uma verdadeira «promoção social». Demais, sendo o
modelo de CCO implementado entre nós o de uma agremiação cuja
intervenção se caracteriza essencialmente por um reformismo
interclassista, o movimento dos CCO vai orientar a sua acção, face ao
movimento operário de então, em dois segmentos claros:
o reformismo social alternativo à luta de classes, por um lado,
e a luta anti-socialista, antianarquista e anti-sindicalista na disputa do
controlo do operariado
Relações laborais no Estado Novo

• O Estado Novo A Ditadura Militar e o Estado Novo têm como pano de


fundo e surgem como resposta à crise do sistema liberal do Ocidente
(ROSAS, 2012, p. 25).

• Portugal era então um país “atrasado, dependente e vulnerável”


(Idem, p. 26).

• A massificação política, com novos partidos dirigidos ao operariado,


os sindicatos, as cooperativas e os conflitos sociais que daí emergiam
e que se cruzavam com as crises financeiras e com conflitos no seio
das classes dominantes, vão operar, nos anos finais da I República,
aquilo que alguns autores denominam de «crise de hegemonia»
• A necessidade de disciplinar o operariado e “repor expeditamente as
taxas de lucros e acumulação” e a urgência de “operar uma regulação
autoritária e super partes na vida económica e financeira” (ROSAS,
2012, p. 26), exigia, para os sectores da classe dominante, uma nova
solução política, que nenhuma das partes conseguira até então
executar
• https://www.youtube.com/watch?v=EYzsZUEo8g0
Na génese do Estado Novo português e
influências externas: Nacionalismo e
portugalidade; controlo ideológico e resistência cultural.
• O nacionalismo português, entre os inícios dos anos 90 do século XIX e
os finais dos anos 30 do século XX, configurou um amplo território
político, ideológico e cultural, muito polarizado em torno:

- da natureza do regime (monarquia, república),


- da organização do sistema político (tradicionalismo,
parlamentarismo, presidencialismo),
- das relações entre o Estado e a Igreja católica (regalismo,
ultramontanismo, jacobinismo, concordatismo)
- ou ainda da leitura interpretativa da história com incidência na
identidade nacional (providencialismo divino, cientismo laico,
historicismo crítico).
• Sendo Portugal, na referida época, um Estado-nação consolidado,
sem problemas de unidade territorial, étnica, linguística ou religiosa,
não admira que a polarização desses nacionalismos se fizesse,
fundamentalmente, em torno da forma de organização do
• espaço político (Estado);
• e das representações do espaço simbólico-cultural (identidade
nacional).
• Valorizou-se um imaginário histórico («nação etno-cultural»),
• - um imaginário social (corporativismo) e um
• imaginário político (Estado forte) muito crítico da
• mundividência liberal de «nação cívico-política», de
• individualismo e de Estado arbitrai.
Firmam-se os tópicos essenciais da matriz sincrética nacionalista:
-governo de técnicos, moral cristã, corporativismo, patriotismo,
império colonial;
- o problema assim colocado questionava os costumes políticos da I
República em quatro aspetos fundamentais:

1. o mito do «poder das leis»,


2. o critério de seleção da elite governativa,
3.o aconfessionalismo do Estado e o predomínio do elemento de
sufrágio eletivo
• https://www.youtube.com/watch?v=aCL6ssq8NLU
Portugal a caminho de uma sociedade e cultura de
massas.
Da destradicionalização ao hibridismo cultural
• Ao longo dos anos de 1960-70 a sociedade portuguesa foi
perpassada por profundas mudanças estruturais, aceleradas pelo:
• i) Êxodo rural;
• ii) Processo de industrialização;
• iii) Abertura económica à Europa.

• Portugal vive um intenso dinamismo de crescimento económico, de


resto, a exemplo do que sucedeu, então, noutros países da Europa
Meridional (LOPES,2004: 113).
• Alguns capitalistas passaram a defender o crescimento industrial
deveria ser o motor de todo o sistema económico;
• O governo passou a definir novos planos de fomento para valorizar
a industrialização;
• Surgiram novas indústrias (químicas e metalúrgicas);
• O estado apostou no lançamento de um ambicioso plano
hidroeléctrico nacional;
• O período entre 1968 e 1973 em que se aplicou o III plano de
Fomento, caracterizou-se pela “concretização de grandes projetos”,
nomeadamente a siderurgia nacional. Deste modo em 1973 o PIB
(produto interno bruto) alcançou a taxa de crescimento record;
O Corporativismo e o trabalho

Os sindicatos nacionais, enquanto estruturas corporativas


primárias, que gozavam da exclusividade de representação dos
trabalhadores portugueses (princípio da unicidade sindical), foram
sempre organismos subalternizados e extremamente controlados pelo
poder político.

Isso derivava dos princípios doutrinários que enformaram o


corporativismo português e dos princípios a que deveria obedecer a
ação dos sindicatos nacionais e respetivos corpos dirigentes e dos
mecanismos de controlo com que o Estado Novo se muniu
relativamente a eles.
Os princípios corporativistas, tal como foram consagrados no Estatuto do Trabalho
Nacional (ETN) e nos cinco decretos-lei (do Decreto-Lei 23 049 ao Decreto-Lei 23
053), publicados em Setembro de 1933, basicamente, que os poderíamos resumir a
quatro:

1) o carácter unitário e corporativo da República portuguesa;

2) a subordinação dos interesses individuais ao interesse nacional,


cabendo ao Estado «o direito e a obrigação de coordenar e regular
superiormente a vida económica e social»;

3) a colaboração de classes a que estavam obrigados o capital e o


trabalho e para cuja exequibilidade se entendeu que «a mediação
autoritária do Estado era indispensável, no geral e no particular»;

4) a complementaridade e cooperação económica e social entre os


proprietários, os detentores de capital e os trabalhadores
É, precisamente, esta a hierarquia de importância entre aqueles três
termos, ou seja, a ordem corporativa reconhecia «na iniciativa privada
o mais fecundo instrumento do progresso e da economia da Nação»,
não reconhecendo, por isso, «direito propriamente dito contra um
lucro, se este é justo».

Isto significou, em termos práticos, que «o trabalho teve que ser


sacrificado à acumulação», embora a Constituição de 1933 condenasse
o lucro excessivo «não permitindo que este se desvi[asse] da sua
finalidade humana e cristã»
Na sua ação sindical do Estado Novo, os sindicatos nacionais deveriam obedecer a três
Princípios:

1. O princípio hierárquico, de acordo com o qual todo sindicato nacional deveria


subordinar os seus interesses particulares aos superiores interesses da economia
nacional.

2. O princípio do nacionalismo corporativo, segundo o qual o âmbito de ação da


atividade dos sindicatos nacionais seria, antes de mais, a Nação. Derivava deste
princípio que qualquer filiação ou participação em organismos internacionais estava
impedida sem a prévia autorização do Governo. A desobediência a este princípio seria
sancionada com a imediata dissolução do sindicato e a suspensão dos direitos políticos
dos seus dirigentes pelo período de dois anos.

3. Em terceiro lugar, o dever da colaboração de classes, como um princípio central do


ETN, obrigava o sindicato a declarar estatutariamente o seu reconhecimento enquanto
colaborador ativo com todos os outros atores da economia nacional (que incluíam o
Estado e o patronato). Deveriam, por isso, recusar a luta de classes. E como o
entendimento interclassista deveria ser intrínseco ao funcionamento dos organismos
corporativos, o regime mantém a proibição da greve, que vinha desde 1927. Todos os
restantes deveres dos sindicatos nacionais decorreriam destes princípios gerais.
Por fim, o Decreto-Lei 23 050 previa ainda um conjunto de mecanismos de
intervenção «superior» na vida sindical a que o Governo poderia recorrer, uma
vez que a ordem corporativa «não consent[ia] nenhuma significativa
espontaneidade, por inferior que seja o nível a que se manifeste».

Além das várias formas de controlar a realização das reuniões de direção e das
assembleias sindicais e daquilo que aí se poderia discutir, de controlar as eleições
e os dirigentes sindicais eleitos e de censurar tudo o que se passasse na vida
sindical que o Governo entendesse ser subversivo, os mecanismos essenciais que
o poder dispõe para controlar os sindicatos nacionais são a homologação e o
direito de dissolução administrativa dos sindicatos.

A primeira era a condição necessária para que qualquer resultado eleitoral


pudesse ser considerado válido, mas era também necessária para a aprovação
dos estatutos, sem os quais nenhum sindicato nacional tinha existência legal. Este
poder de homologação dos estatutos, que era da competência do Subsecretário
de Estado das Corporações, era usado, obviamente, para configurar os sindicatos
nacionais aos moldes ideológicos do Estado Novo (o que passava pela recusa
formal de determinadas ideologias, como o comunismo).
Mais tarde, o poder político munir-se-ia de mais poderes de controlo
sobre os sindicatos:
O Decreto-Lei 26 418, de Março de 1936, atribui ao ministro do
Comércio e Indústria poderes para nomear comissões administrativas
para os sindicatos sempre que tal fosse indicado por inquéritos e
inspeções; a Lei 1936, de Março de 1936, dá ao Governo poderes para
dissolver total ou parcialmente as direcções dos organismos
corporativos;
O governo salazarista foi-se munindo, por isso, de mecanismos que lhe
garantiam um forte controlo sobre os sindicatos.

E não é por acaso que muitas vezes o faz em momentos


particularmente críticos da vida do regime. Por exemplo, estes dois
últimos decretos referidos são promulgados durante o período de
agitação operária que se verificou entre 1942 e 194412.

O controlo e subalternização dos sindicatos à ordem política vigente


fez-se também através da sua instrumentalização para fazer chegar à
base da pirâmide corporativa «os ventos do espírito corpor”
De acordo com dados do INE (Estatísticas da Organização Corporativa e Previdência Social,
1963), 325 sindicatos «assinala um total de 736 274 sócios e 420 250 contribuintes», o que
dava um total de 1 156 524 quotizantes.

As médias de associados por sindicato rondavam, assim, os 2265 sócios inscritos27, o que
significava uma notável subida relativamente aos anos de 1942 e 1959, quando essas médias
rondavam, respetivamente, os menos de 1000 e os quase 2000 inscritos por sindicato28.

O número total de sindicatos nacionais desceria para 325, em 1968, para voltar a subir para
os 327, em 1972, enquanto que o número de sócios, que foi sempre subindo, aumenta para
os 884 861 e 895 470, e o número de contribuintes aumenta para 541 082 e 562 755,
respetivamente.

Em vésperas do 25 de Abril de 1974, «contavam-se mais de um milhão e meio de cotizantes,


dos quais 900 000 sócios e 600 000 “contribuintes” (obrigatórios)»29. Por conseguinte, as
médias subiram, nos últimos anos do regime, para os cerca de 2738 sócios por sindicato.
No tocante à sua distribuição geográfica, «mais de 49% dos sindicatos
localizam-se no distrito de Lisboa (87) e no distrito do Porto (55)»,
seguindo-se «os distritos de Aveiro (23), Braga (19), Setúbal (18),
Coimbra (17), Funchal (17) e Leiria (13). Menos de 1/4 dos sindicatos,
exatamente 81, distribui-se pelos restantes 14 distritos, com valores
que oscilam entre o máximo de 9 e o mínimo de 4».

O sindicalismo durante o Estado Novo era, por isso, um fenómeno


essencialmente urbano, parecendo ser o grau de concentração
geográfica dos sindicatos diretamente proporcional ao grau de
industrialização e de urbanização dos diferentes distritos. Daí as
«assimetrias entre os distritos de Lisboa-Porto e os restantes distritos,
mas também entre boa parte do litoral e de todo o interior do país.
Uma das formas com que o Estado Novo, desde cedo, ainda na década de
30, procurou ultrapassar as deficiências das estruturas sindicais surge com
a criação de mecanismos (semi)obrigatórios de sindicalização.

A inscrição nos sindicatos nacionais era livre. No entanto, rapidamente os


novos dirigentes sindicais corporativos se começaram a queixar do número
reduzido de associados e das dificuldades financeiras que daí decorriam,
visto que uma fatia importante das finanças dos sindicatos provinha das
quotizações que os seus associados pagavam.

A estas dificuldades juntava-se a recusa do patronato em cumprir o dever


de colaboração de classes, continuando muitas entidades patronais a fazer
esforços para enfraquecer as organizações de trabalhadores e perante as
quais o regime usou de muito maior condescendência.
• Depois do impulso legislativo inicial, na década de 30, o
corporativismo português só voltaria a ter alterações de monta em
1969, com a designada «liberalização» marcelista, surgidas num
contexto de fortíssimo crescimento económico, que exigia uma maior
dinamização e autonomização dos sindicatos nacionais – e nesse
sentido apontavam os pareceres dos organismos corporativos
superiores, assim como os círculos reformistas dentro do regime -, ao
mesmo tempo que se registava um decréscimo da oferta de mão-de-
obra, devido à hemorragia emigratória e à mobilização para o conflito
colonial.

Estas reformas restringiram-se a alguns aspetos formais da organização


corporativa dos trabalhadores, que manteria, no entanto, a sua
essência.

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