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Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de
vista/adiamento: ADI 1240/DF; RE 760931/DF; HC 122577 ED/RJ; AP 912/PB.
ÍNDICE
DIREITO ADMINISTRATIVO
APOSENTADORIA
Não se aplica a aposentadoria compulsória para titulares de serventias judiciais não estatizadas não ocupantes de
cargo público e que não recebam remuneração dos cofres públicos.
DIREITO ADMINISTRATIVO
APOSENTADORIA
Não se aplica a aposentadoria compulsória para titulares de serventias judiciais não estatizadas
não ocupantes de cargo público e que não recebam remuneração dos cofres públicos
Não se aplica a aposentadoria compulsória prevista no art. 40, § 1º, II, da CF aos titulares de
serventias judiciais não estatizadas, desde que não sejam ocupantes de cargo público efetivo e
não recebam remuneração proveniente dos cofres públicos.
STF. Plenário. RE 647827/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/2/2017 (repercussão geral)
(Info 854).
Serventias judiciais
A Justiça só consegue funcionar se, além do juiz, houver um grupo de pessoas trabalhando nas questões
administrativas e operacionais necessárias à prática dos atos processuais e ao cumprimento das decisões
judiciais.
O cenário acima existe porque antigamente todas as serventias judiciais eram “não estatizadas”
(“particulares”). Isso significa que o titular da serventia judicial era um particular (que não era servidor
nem ocupante de cargo) e que mantinha os custos do cartório com recursos próprios. Em contrapartida,
ele era remunerado com uma parte das custas e dos emolumentos que o Estado arrecadava. Apenas para
você entender melhor, era como se fossem os atuais titulares de cartórios extrajudiciais, porém atuando
no âmbito de cartórios judiciais.
Em 1977 foi editada uma emenda à Constituição Federal de 1967 obrigando que todas as serventias
judiciais passassem a ser estatizadas, respeitado o direito dos titulares de serventias “privadas”. Em outras
palavras, a EC 7/1977 determinou que os titulares de serventias não estatizadas poderiam continuar, mas
que, ocorrendo a vacância, tais serventias deveriam ser estatizadas, com a presença de servidores
públicos, remunerados pelos cofres públicos.
A Constituição Federal de 1988 também seguiu o mesmo caminho e previu no art. 31 do ADCT:
Art. 31. Serão estatizadas as serventias do foro judicial, assim definidas em lei, respeitados os direitos dos
atuais titulares.
Desse modo, a grande maioria das atuais serventias judiciais são oficializadas. No entanto, existem ainda
alguns titulares de serventias não estatizadas que permanecem trabalhando.
Os titulares dessas serventias não estatizadas podem ser remunerados de duas formas:
1) exclusivamente por custas e emolumentos;
2) em parte pelos cofres públicos e em parte por custas e emolumentos.
Vale ressaltar que a vontade do constituinte (desde a EC 7/1977) é a de que as serventias judiciais sejam
estatizadas. Somente se admitiu a permanência das serventias nas mãos da iniciativa privada por uma
questão transitória, a fim de não prejudicar os direitos dos então titulares. No entanto, trata-se de
situação anômala e que deverá acabar.
Serventias extrajudiciais
Não se pode confundir as serventias judiciais com as extrajudiciais.
Informativo 854-STF (24/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2
Como vimos acima, as serventias judiciais praticam atividades cartorárias necessárias para que o
magistrado possa julgar.
Os cartórios ou serventias extrajudiciais, por sua vez, praticam atividades extrajudiciais (fora do processo
judicial) e que são necessárias para garantir a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos
jurídicos. Ex: a propriedade do bem imóvel somente é transmitida, por ato entre vivos, com o registro no
cartório extrajudicial de Registro de Imóveis (art. 1.227 do Código Civil).
As serventias extrajudiciais são os cartórios de Tabelionato de Notas, de Protesto, de Registro de Imóveis,
de Registro de Pessoas Naturais etc.
Os titulares das serventias extrajudiciais são chamados de notários (tabeliães) e registradores. Apesar de
serem aprovados em concurso, eles não são servidores públicos nem ocupam cargos públicos. São
considerados particulares em colaboração com o Poder Público.
Os notários e registradores não são remunerados por recursos públicos. São remunerados unicamente
pelos emolumentos cobrados dos usuários dos serviços. A Constituição Federal determinou que esses
serviços extrajudiciais seriam exercidos em caráter privado:
Art. 236. Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder
Público.
Aposentadoria
No serviço público (regime próprio de previdência) existem três espécies de aposentadoria:
Aposentadoria por invalidez Aposentadoria voluntária Aposentadoria compulsória
(art. 40, § 1º, I) (art. 40, § 1º, III) (art. 40, § 1º, II)
Ocorre quando o servidor Ocorre quando o próprio A CF previu que, atingida
público for acometido por uma servidor público, mesmo tendo determinada idade, o servidor
situação de invalidez condições físicas e jurídicas de público, independentemente de
permanente, atestada por laudo continuar ocupando o cargo, ainda possuir condições físicas e
médico, que demonstre que ele decide se aposentar. mentais de continuar exercendo
está incapacitado de continuar Para que o servidor tenha o cargo, deveria ser
trabalhando. direito à aposentadoria obrigatoriamente aposentado.
voluntária, ele deverá cumprir Atualmente, a idade da
os requisitos que estão aposentadoria compulsória é de
elencados na Constituição. 75 anos.
O STF apreciou este tema sob a sistemática de repercussão geral e fixou a seguinte tese:
Não se aplica a aposentadoria compulsória prevista no art. 40, § 1º, II, da CF aos titulares de serventias
judiciais não estatizadas, desde que não sejam ocupantes de cargo público efetivo e não recebam
remuneração proveniente dos cofres públicos.
STF. Plenário. RE 647827/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/2/2017 (repercussão geral) (Info 854).
Para o STF, deve se estender aos titulares de serventias judiciais não estatizadas, remuneradas
exclusivamente por custas e emolumentos, o mesmo tratamento conferido aos titulares das serventias
extrajudiciais, tendo em vista que ambas são atividades privadas em colaboração com o Poder Público.
Importante!!!
Considerando que é dever do Estado, imposto pelo sistema normativo, manter em seus
presídios os padrões mínimos de humanidade previstos no ordenamento jurídico, é de sua
responsabilidade, nos termos do art. 37, § 6º, da Constituição, a obrigação de ressarcir os
danos, inclusive morais, comprovadamente causados aos detentos em decorrência da falta ou
insuficiência das condições legais de encarceramento.
STF. Plenário. RE 580252/MS, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 16/2/2017 (repercussão geral) (Info 854).
Defesa do Estado
A Procuradoria Geral do Estado contestou a demanda afirmando, dentre outros argumentos, que não há
recursos suficientes para indenizar os presos, devendo ser aplicado o princípio da reserva do possível.
O Estado possui o dever de manter em seus presídios os padrões mínimos de humanidade previstos no
ordenamento jurídico. Se esse dever é descumprido, surge para o Poder Público a responsabilidade de
ressarcir os danos, inclusive morais, comprovadamente causados aos detentos em decorrência da falta ou
insuficiência das condições legais de encarceramento.
Assim, ocorrido o dano e estabelecido o seu nexo causal com a atuação da Administração ou dos seus
agentes, nasce a responsabilidade civil do Estado.
Pela proposta do Ministro, os danos morais causados a presos por superlotação ou condições degradantes
deveriam ser reparados, preferencialmente, pela remição de parte do tempo da pena – à razão de um dia
de remição para cada 3 a 7 dias cumpridos sob essas condições adversas, a critério do juiz da Vara de
Execuções Penais competente. Barroso argumentou que, com a solução, ganha o preso, que reduz o
tempo de prisão, e ganha o Estado, que se desobriga de despender recursos com indenizações, dinheiro
que pode ser, inclusive, usado na melhoria do sistema.
O voto do Min. Barroso foi acompanhado por Luiz Fux e Celso de Mello, sendo, portanto, minoritário (vencido).
Assim, a maioria do STF decidiu que a indenização deve ser mesmo em pecúnia.
Valor da condenação
A título de curiosidade, no caso concreto, o Estado do Mato Grosso do Sul foi condenado a indenizar o
preso em R$ 2 mil.
Importante!!!
A simples menção ao nome de autoridades detentoras de prerrogativa de foro, seja em
depoimentos prestados por testemunhas ou investigados, seja em diálogos telefônicos
interceptados, assim como a existência de informações, até então, fluidas e dispersas a seu
respeito, são insuficientes para o deslocamento da competência para o Tribunal
hierarquicamente superior.
STF. 2ª Turma. Rcl 25497 AgR/RN, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 14/2/2017 (Info 854).
Diante de uma conversa captada em que houver a simples menção ao nome de Deputado Federal, o Juiz que
conduz o feito deverá remeter imediatamente os autos ao STF para que apure a conduta do parlamentar?
Assim, por exemplo, não é porque um dos investigados mencionou o nome de uma autoridade com foro
privativo, que deverá haver o deslocamento da competência.
Somente deverá haver a remessa da investigação para o foro por prerrogativa de função se ficar constatada a
existência de indícios da participação ativa e concreta do titular da prerrogativa em ilícitos penais.
No caso concreto, o Deputado Federal não foi alvo de nenhuma medida cautelar autorizada pelo juiz de 1ª
instância. Além disso, os fatos verificados sobre o parlamentar não tinham relação direta com o objeto da
investigação que estava sendo conduzida pela Polícia.
Vimos acima que o magistrado agiu corretamente. No entanto, vamos supor que houvesse provas de
envolvimento do Deputado Federal e, mesmo assim, o juiz não remeteu os autos ao STF. Imaginemos,
então, que, diante disso, o STF anulou todas as provas que foram produzidas contra o Parlamentar. Esta
decisão de anulação poderá favorecer também os demais investigados que não tinham foro privativo?
NÃO. A eventual declaração de imprestabilidade dos elementos de prova angariados em suposta
usurpação de competência criminal do STF não beneficia aqueles investigados que não possuem foro por
prerrogativa de função. Em outras palavras, se houvesse anulação, esta beneficiaria apenas a autoridade e
não os demais investigados porque eles não sofreram nenhum prejuízo no fato de o juiz ter continuado
com o processo em 1ª instância.
Em maio de 2016, o PGR ingressou com novo pedido no STF (AC 4.175) desta vez pedindo a prisão
preventiva de Eduardo Cunha.
Reclamação
A defesa de Cunha impugnou a decisão por meio de dois instrumentos:
a) habeas corpus impetrado no TRF4;
b) reclamação no STF.
Quanto ao habeas corpus, o TRF4 negou o pedido e a defesa impetrou novo HC, agora no STJ.
Na reclamação, a defesa trouxe duas interessantes teses:
1) os fatos que estão sendo apurados no processo em 1ª instância são os mesmos que estavam tramitando
no STF. Quando apreciou o pedido do PGR, o Supremo concedeu uma medida cautelar diversa da prisão
(afastamento do cargo). Isso significa dizer que o STF, em outras palavras, afirmou que não seria
necessária a prisão preventiva de Cunha. Logo, o Juiz Sérgio Moro, ao determinar a custódia cautelar do
réu, teria afrontado o que decidiu o STF na AC 4.070/DF;
2) subsidiariamente, a defesa pediu que, se o STF entender que não cabe reclamação neste caso, então,
que o Tribunal conceda habeas corpus de ofício porque a prisão seria flagrantemente ilegal, devendo ser
aplicado o art. 654, § 2º do CPP:
Desse modo, a defesa alegou o seguinte: Ministros do STF, ainda que entendam que não cabe reclamação,
como Vossas Excelência já estarão analisando a situação do réu, não podem "fechar os olhos" para a
ilegalidade da prisão preventiva do réu. Logo, diante desta ilegalidade patente que é levada ao
conhecimento do STF, o Tribunal deverá, de ofício, decretar a ilicitude da prisão e a liberdade do
requerente.
Nas decisões apontadas como violadas, o STF não analisou se estavam presentes os requisitos da preventiva
Segundo afirmou o STF, quando o Tribunal julgou a AC 4.070/DF e a AC 4.175/DF, ele não se manifestou
sobre os requisitos da prisão preventiva.
Na AC 4.070/DF, o STF decidiu apenas que cabia o seu afastamento do cargo, sem analisar a possibilidade
de prisão.
Já no segundo pedido do PGR (AC 4.175/DF), antes que o STF pudesse examinar o seu mérito, Cunha
perdeu o foro privativo, fazendo com que o pedido fosse julgado prejudicado.
Assim, ao analisar as duas cautelares, o STF não se manifestou sobre os requisitos da prisão preventiva.
Para o Min. Fachin, a defesa confundiu ausência de análise com ausência de motivos para a prisão
preventiva. O STF não analisou se havia ou não motivos para a preventiva. Logo, não se pode dizer que o
decreto de prisão expedido pelo Juiz Sérgio Moro tenha afrontado a decisão do STF.
Cunha, na época que era Deputado Federal, só poderia ter sua prisão decretada pelo STF em caso de
flagrante de crime inafiançável (art. 53, § 2º, da CF). Logo, em tese, haveria até mesmo um óbice para a
decretação da prisão preventiva. A partir do momento em que ele deixou a condição de parlamentar, esta
vedação acabou e o Juiz Federal de 1º grau não estava mais restringido por esta limitação.
Portanto, é necessário que o tema tenha sido submetido às instâncias antecedentes e que se possa
concluir que o ato coator foi praticado por Tribunal Superior. Vale ressaltar que este ato coator pode ser
simplesmente a manutenção da prisão decretada (ex: STJ mantém a decisão do TRF4 que manteve a prisão
decretada pelo Juiz). Neste caso, haveria, em tese, um ato coator praticado pelo STJ que, mesmo diante de
uma prisão ilegal, a manteve. Nesta situação, o STF poderia conceder “habeas corpus” de ofício. A
Suprema Corte pode conceder a ordem de ofício se verificar que um Tribunal Superior teve a
oportunidade de sanar uma coação ilegal e não o fez.
Ocorre que, no momento em que o STF apreciou a reclamação, ele ainda não era competente para julgar o
habeas corpus, considerando que a decisão do Juiz Federal foi mantida pelo TRF4. Logo, a autoridade coatora
passou a ser o TRF4 e o Tribunal competente para julgar HC contra ato do TRF é o STJ (art. 105, I, "c").
Se houve coação ilegal contra o réu, essa não seria mais imputável ao juiz de primeiro grau, autoridade
reclamada. O reclamante impetrou “habeas corpus” perante tribunal regional, que denegou a ordem. Essa
situação que faz da corte regional, caso seja mesmo ilegal a prisão, a autoridade coatora. Há, portanto,
alteração do título, o que torna sem objeto o pedido de concessão de ordem de ofício.
Observação final
A interpretação dada pelo Plenário do STF para o art. 654, § 2º do CPP acima explicada vai de encontro a
uma decisão monocrática recente proferida pelo Min. Dias Toffoli.
O ex-Ministro de Estado Paulo Bernardo foi preso por ordem do Juiz da 6ª Vara Federal de São Paulo. A
defesa do preso ingressou com reclamação no STF afirmando que a decretação da prisão teria violado a
competência do STF para apreciar a causa, considerando que Paulo Bernardo estaria sendo investigado em
conjunto com a sua esposa (Senadora Gleisi Hoffman), de forma que todo o procedimento deveria
tramitar na Corte Suprema.
O Min. Dias Toffoli negou o pedido da defesa na reclamação afirmando que houve desmembramento dos
processos e que a Senadora continua sendo investigada no STF ao passo que a apuração penal quanto a
Paulo Bernardo e os demais investigados sem foro privativo está sendo conduzida em 1ª instância.
Informativo 854-STF (24/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11
Assim, não houve violação à competência do STF na decisão do Juiz que determinou a prisão.
No entanto, o Min. Dias Toffoli afirmou que, apesar disso, ele, analisando os autos, concluiu que a prisão
foi decretada de forma ilegal, considerando que não estão presentes os pressupostos da custódia
preventiva. Dessa forma, de ofício, ele revogou a prisão preventiva de Paulo Bernardo (STF. Decisão
Monocrática. Rcl 24506 MC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 29/06/2016).
Se fôssemos adotar o entendimento acima explicado (Rcl 25509 AgR/PR, Rel. Min. Edson Fachin), o Min.
Dias Toffoli, em tese, não poderia ter aplicado o art. 654, § 2º do CPP e concedido o habeas corpus de
ofício. Isso porque o STF não era competente para apreciar o habeas corpus "a pedido". A defesa
primeiramente deveria impetrar HC no TRF3, depois no STJ e só então no STF caso as demais instâncias
negassem a liberdade.
Destaquei esta decisão monocrática recente para que vocês não ficassem com dúvidas, mas, para fins de
concurso, penso que é mais provável que seja cobrado o entendimento do Plenário que foi divulgado no
Informativo 854 do STF, ou seja, o de que o art. 654, § 2º do CPP não dispensa o respeito às regras de
competência.
EXERCÍCIOS
Gabarito
1. E 2. C 3. E 4. E 5. E 6. E
7. C 8. E 9. C 10. E 11. C 12. C
OUTRAS INFORMAÇÕES
CLIPPING DO D JE
13 a 17 de fevereiro de 2017
HC N. 134.670-SP
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PENAL. HABEAS CORPUS. PACIENTE DENUNCIADO PELO CRIME DE FURTO CONTRA SUA GENITORA. ATO DE VIOLÊNCIA DE GÊNERO
CONTRA MULHER. COMPETÊNCIA DO JUIZADO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER. ORDEM CONCEDIDA.
1. A Lei Maria da Penha cria mecanismos adequados para coibir a violência de natureza física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral
dirigida conscientemente contra a mulher, conferindo proteção específica ao gênero feminino quando a agressão é praticada nas específicas
situações descritas no art. 5º: âmbito da unidade doméstica, âmbito da família ou qualquer relação íntima de afeto.
2. No caso, o paciente foi acusado da prática de roubo contra sua genitora, ocorrido em seu ambiente doméstico, mediante a facilidade
dos laços familiares que uniam autor e vítima, portadora de necessidades especiais. Nessas circunstâncias, portanto, há de incidir o regramento
protetivo específico.
3. Ordem concedida para reconhecer a incompetência do Juízo da 9ª Vara do Foro Central de Barra Funda/SP para processar e julgar ação
penal instaurada contra o paciente.
AG. REG. NO HC N. 136.935-MG
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Agravo regimental em habeas corpus. Crime de homicídio doloso na direção de veículo automotor supostamente causado por
embriaguez. Pretendida desclassificação para o delito culposo. Impossibilidade. Indispensável reexame de fatos e provas intimamente ligados ao
mérito da ação penal, o qual o habeas corpus não comporta. Precedentes. Prisão preventiva. Necessidade de se resguardar a ordem pública em
face do risco concreto de reiteração delitiva. Precedentes. Excesso de linguagem do acórdão confirmatório da pronúncia. Não caracterizado.
Regimental não provido.
1. Para se acolher a pretensa desclassificação das condutas imputadas ao paciente na pronúncia, indispensável seria o reexame de fatos e
provas intimamente ligados ao mérito da ação penal, o qual o habeas corpus não comporta.
2. Segundo o pacífico entendimento da Corte, “o pleito de desclassificação de crime não tem lugar na estreita via do habeas corpus por
demandar aprofundado exame do conjunto fático-probatório da causa” (HC nº 115.352/DF, Segunda Turma, Relator o Ministro Ricardo
Lewandowski, DJe de 30/4/13).
3. A custódia cautelar do agravante se justifica, entre outros aspectos, para a garantia da ordem pública, em razão do risco concreto de
reiteração delitiva, já que é incontroversa a notícia constante dos autos de que ele responde a outros inquéritos pela prática do crime de
embriaguez ao volante, registrando, inclusive, condenação nesse sentido.
4. Não há que se falar em excesso de linguagem do acórdão confirmatório da pronúncia. Não obstante o Tribunal de Justiça de Minas
Gerais, ao considerar a folha de antecedentes do paciente (que indica existência de diversos inquéritos e uma condenação por crime de embriaguez
ao volante), tenha afirmado não ser “desarrazoada a tese pela qual [o agravante] assumira o risco de produzir o evento, prevendo o resultado como
possível, anuindo à sua superveniência de forma tácita (dolo eventual)”, o fez do ponto de vista eminentemente indiciário, respeitando os
parâmetros legais para tanto.
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.