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O design e a representabilidade dos signos dentro da World Wide Web 3
contínua da produção e do consumo (...)”, cidade e pelo olhar como forma de consu-
este “mesmo ímpeto consumista que mantém mismo.
o sistema em funcionamento é responsável Muitos consideram a fragmentação visual
pelo agravamento dos problemas ambientais como um fenômeno típico da era eletrônica,
(...)”; cabendo, portanto, “ao designer (...) porém suas raízes remetem, no mínimo, ao
projetar soluções capazes de conciliar esses século retrasado. A evolução desse processo
dois pólos aparentemente inconciliáveis”.3 de fragmentação da informação pôde ser per-
A idéia de fragmentação que acompanha cebida no campo gráfico muito antes da in-
a estética da internet tem suas origens num trodução propriamente dita das tecnologias
passado recente. eletrônicas. Toda uma seqüência de técnicas
e processos para a manipulação do texto e
Na era eletrônica, o objeto já não pode ser da imagem – que inclui a litografia, a roto-
considerado uma unidade integral, nem do gravura, o fotolito, o offset e outros recursos
ponto de vista técnico e muito menos do gráficos tradicionais – já envolvia a possibi-
ponto de vista estético. (...) A incompatibi- lidade de “quebrar” e, depois, recompor nú-
lidade de qualquer coisa com qualquer outra
cleos de informação preexistente sem novas
coisa talvez esteja prestes a passar, conforme
combinações, da colagem à história em qua-
atesta um universo sempre em expansão de
filmes e videogames, em que todos os temas
drinhos.
e tratamentos se misturam sem nenhum com- Seja olhando para um outdoor, a partir de
promisso com (...) a realidade, mas apenas um trem em movimento, ou passando em
(...) (com) o realismo da experiência repre- revista os canais de televisão, a velocidade
sentada.4 do olhar moderno pressupõe um processo de
fragmentação e de sobreposição de imagens.
O mundo da era da informação é com- Enquanto um meio de comunicação, a web
posto por visões parcelares e por fragmentos lida, em função de sua conformação híbrida,
visuais cuja totalidade só pode ser reconsti- concomitantemente, com aspectos práticos e
tuída na mente de cada um e de modo passa- simbólicos, comunicando valores de repre-
geiro. O grande símbolo de nossa época tal- sentabilidade concreta através de meios ima-
vez seja mesmo a internet. Aquela fragmen- teriais (imagens, sons, redes sociais, etc.).
tação se manifesta, com clareza, na veloci- Se tivéssemos que associá-la à figura de um
dade com que a superabundância de informa- animal, o camaleão seria uma escolha ade-
ções disponíveis vai, continuamente, sendo quada, já que, a exemplo deste, ela pode ou
acrescida de outras informações condenadas não ser vista, conforme a situação e a ne-
à insignificância em razão do espaço propor- cessidade, como um objeto visual; enquanto
cionalmente ínfimo que conseguem ocupar. um ser vivo, se adapta a qualquer ambiente
Na verdade, o final do século XX definiu-se novo; enquanto um objeto simbólico repre-
pela saturação imagética, pela poluição vi- senta conceitos como a permeabilidade, a
sual, pelo bombardeio semiótico da publi- adaptabilidade e a evolução (mutação), que
3
parecem ser características cada vez mais ne-
R. Cardoso, op. cit.
4
Id. ibid.
cessárias num mundo globalizado e ultra-
competitivo.
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4 Jorge Campos, Wallace Silva
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revistas de histórias em quadrinhos. Hoje, das de suas antecessoras. Esse camaleão te-
quando se fala de “estética de internet”, se ria, portanto, como característica não ter um
fala, na verdade, de uma estética herdada dos rosto ou seu rosto seria uma colagem de ex-
jogos eletrônicos, da mídia impressa jorna- pressões várias? Peguemos, como exemplo
lística, da televisão e do CD-ROM. Esta, por a televisão, a sua antecessora mais recente
sua vez, ao reunir estes e outros elementos, ou direta. A TV surgiu da reunião de mídias
implementou uma linguagem própria, ao in- como o teatro, o rádio, o cinema e a publici-
corporar também a interatividade. O leitor- dade. Mesmo sendo híbrida, sua polivalência
espectador deixou de ser um receptor pas- criou uma nova linguagem, a televisiva, que
sivo, podendo agora, inclusive, interferir no subentende um naturalismo “editado”. Se-
conteúdo acessado, seja acrescentando co- ria então a web uma multimídia eletrônica?
mentários, seja personalizando páginas que, É possível dizer que sim, à maneira da TV
amiúde, altera, gerando conteúdo inéditos, aberta, só que interativa. Sua estética, por
algo que as outras mídias apenas faziam - ou conseguinte, seria típica dos meios digitais
tentavam, indiretamente, fazer – com o uso atuais, ou “tranversal pós-massiva”, como já
de duas mídias em paralelo (televisão e tele- sugerira André Lemos.8 Nesse sentido, se-
fone, rádio e e-mail, etc). ria facil entender a busca da interatividade
Tal linguagem interativa é, pode-se dizer, nas demais mídias, assim como o surgimento
hoje em dia, a principal característica da de programas interativos na TV, ao mesmo
web, o fator que, com efeito, a distingue dos tempo que a explosão comercial da internet
demais meios de comunicação. Mas, ainda no nível mundial.
assim, o que se deseja comunicar com ela?
Provavelmente está ligada à mensagem que
3 Existe uma estética própria na
se busca passar. Num mundo cada vez mais
baseado em imagens (que não aboliu, porém, World Wide Web?
a palavra no seu sentido estrito), pode-se di- Se cada mídia contém elementos que a carac-
zer que a linguagem tem, sobretudo, o pa- terizam por si mesma, ao analisar as páginas
pel (ou o poder) de cativar ou de manipular da web se percebe que os ícones possuem
a audiência, mais até do que de informá-la. uma função análoga aos sinais de trânsito.
Nesse sentido, a web objetivaria ser “a mídia Assim como estes têm por finalidade orien-
das mídias”, ao sintetizar, nela mesma, o rá- tar o fluxo de automóveis e pedestres, aque-
dio, a televisão, o telefone, a revista, o jornal, les têm por função orientar a navegação dos
o livro e o clube. A lista se tornará interminá-
8
vel se acrescentarmos subcategorias como os Cf. palestra “A cultura além do digital”, profe-
rida em 9 de dezembro de 2006 no Senac/Cultcom,
DVDs, os cartazes, as publicidades, as músi- Copacabana, Rio de Janeiro. O termo remete à
cas. Uma linguagem que dê conta disso tudo idéia de que as mídias digitais têm um caráter de
tem que ser, por excelência, multimidial. cruzamento, de convergência, numa época onde os
Ora, se a internet consegue ser todas as meios de comunicação massa são, essencialmente,
mídias, sem ser nenhuma em especial, é, na pós-modernos (que subentende a recuperação de va-
lores antigos no contexto moderno).
verdade, uma “nova velha mídia”. Sua lin-
guagem pressuporia outras, ainda que herda-
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internautas. Mas a analogia poderia parar aí, 4 Dicotomia nos signos da World
pois, no meio “físico”, os sinais se relacio- Wide Web
nam com o espaço tridimensional, se articu-
lando como uma referência e um referente, A web é uma mídia essencialmente 2D. Com
diversamente do (atual) espaço bidimensio- a evolução da tecnologia, elementos bidi-
nal da web. Não há como relacionar elemen- mensionais começaram a ser apresentados
tos neste espaço como se costuma fazer no sugerindo, estática ou animadamente, um
mundo real. falso plano 3D. Cabe aqui discutir como os
A estética da web seria um espaço seme- signos visuais e linguísticos se articulam e
lhante a um tabuleiro de damas, onde se pode também sua interação no meio, digital ou
caminhar, linearmente, num mesmo plano, não, de comunicação. As coisas podem ter
e o conteúdo se sobrepõe em pilhas como uma relação de semelhança ou de similitude,
peças de dimensões idênticas. A ausência como explica, o pintor belga René Magritte
de planos é relativa, uma vez que as ima- numa carta endereçada, em maio de 1966, ao
gens (ou as janelas) se superpõem indefini- pensador francês Michel Foucault:
damente. Como não há profundidade real
As palavras Semelhança e Similitude permi-
no espaço da web, tudo ali acaba, de certo
tem sugerir com força a presença – abso-
modo, sendo “raso” (quanto ao significado) lutamente estranha – do mundo e de nós.
e “infinito” (a quantidade de informação ar- Entretanto, creio que essas duas palavras
mazenada). não são muito diferenciadas, os dicionários
Por ser um apanhado de tudo que havia não são muito edificantes no que as distin-
antes, essa estética é uma colcha de reta- gue. Parece-me que, por exemplo, as ervilhas
lhos muito bem costurada. Portanto, não possuem relação de similitude entre si, ao
há como descrevê-la, linearmente, ou de uma mesmo tempo visível (sua cor, forma, dimen-
maneira uniforme. A melhor metáfora talvez são) e invisível (sua natureza, sabor, peso). O
seja a de um mosaico, de um quebra-cabeça mesmo se dá no que concerne ao falso e ao
ou de sistema não-linear qualquer - como o autêntico etc. As ‘coisas’ não possuem en-
próprio hipertexto pressupõe - mas que, ao tre si semelhanças, elas têm ou não têm si-
final, cria um tipo de unidade “em sí”. A militudes. Só ao pensamento é dado ser se-
reunião, numa mesma página, de fotografia melhante. Ele se assemelha sendo o que vê,
ouve ou conhece, ele torna-se o que o mundo
e de texto, suscita uma unidade (e uma inte-
lhe oferece. 10
ração) diferente da se reunir uma animação
com áudio, e assim por diante. Essa frag- A imagem e o texto podem ter similitu-
mentação acaba por definir uma estética que des (nos planos do conteúdo e da percepção)
surge “no momento” da interação com esse na medida em que a primeira pode ser lida
veículo e não antes.9 como um texto e vice-versa, conforme sua
9
Na maioria dos sites de notícias o conteúdo
tempo real. Isso permite, entre outras coisas, a per-
(texto, fotos, vídeo, animações) existe em separado,
sonalização rápida do layout das páginas, seja pelo
reunido pelo intermédio de bancos de dados. Ao esco-
lado do criador do site ou do lado do leitor (como no
lher determinada informação esse conteúdo é “mon-
caso dos Blogs).
tado” pelo banco de dados para o internauta, em 10
M. Foucault, Isto não é um cachimbo, p. 28.
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apresentação ou sua interpretação. A esse sentido textual para assumir o papel de li-
respeito, Jorge Lúcio de Campos11 coloca nhas estruturantes. Um leque hermenêutico,
que são oferecidos dois níveis de leitura e que estaria fechado num interior significante,
de interpretação: relação de dupla captura, é, enfim, ardilosamente, aberto e tornado
entre o texto e a imagem, sub-repticiamente freqüentável (...) é preciso que haja uma su-
configurada, em ambos os quadros, pelas bordinação: ou o texto será regrado pela ima-
possibilidades lógico-semiológicas de consi- gem (...) ou a imagem o será pelo texto (que
deração simultânea de uma “imagem escrita” o desenho vem completar, como se encur-
(regida pela verossimilhança lingüística) e tasse um caminho que as palavras estariam
de uma frase “pintada” (regida pela verossi- encarregadas de representar). O signo verbal
milhança plástica). O conceito de caligrama e a representação visual jamais seriam dados
- caligrafia e ideograma, texto e imagem - faz de uma só vez. Sempre uma ordem os hie-
sentido neste ponto de vista. rarquizaria, indo da forma ao discurso ou do
Campos acrescenta que a inevitável rela- discurso à forma (...) Tratar-se-ia (...) do cru-
ção entre o texto e o desenho faz lembrar zamento, num mesmo tecido, do sistema da
uma operação caligramática, em que pala- representação por semelhança e da referên-
vras e imagens se completam para dizer algo cia pelos signos – o que supõe que eles se en-
em conjunto, com as linhas composicionais contram num espaço completamente diverso
conformando-se a partir do que é descrito daquele.
textualmente. Os caligramas, por sua na- Segundo Mihaly Csikszentmihalyi e Eu-
tureza híbrida, garantiriam uma dupla cap- gene Rochberg-Halton, a ambigüidade das
tura da qual não são capazes os discursos relações do homem consiste no fato de que
por si sós e os desenhos em sua pureza vi- este “não é apenas um homo sapiens ou um
sual. Comportar-se-iam antes como uma es- homo ludens, mas também um homo faber,
crita que lança no espaço a visibilidade pro- simultaneamente, “fazedor” e usuário de ob-
vável de uma referência, invocando os sig- jetos. Sua subjetividade é, de certa forma,
nos, do âmago da imagem que configuram um reflexo das coisas com as quais inte-
– por um recorte de sua massa na página – rage”.12 Sendo assim, os objetos também fa-
aquilo de que falam. riam e usariam seus criadores e usuários na
Do passado caligráfico, as palavras con- manutenção do sistema do status e do sis-
servariam sua derivação linear e seu estado tema (de diferenciação social) em si.
de coisa desenhada. Contudo, sob tal ótica, Para Luiz Antonio Coelho,13 os objetos te-
não passariam de palavras que “desenham” riam o poder de induzir e refletir as qualida-
outras palavras, de um texto em forma de des que, simbolicamente, representam, pois
imagem. Ao lermos o texto, não perce- 12
M. Csikszentmihalyi e E. Rochberg-Halton, The
beremos o (seu) desenho e, ao olharmos o meaning of things. Domestic symbols and the self, p.
desenho, as palavras parecerão perder seu 1.
13
11
L. A. Coelho, “Objeto com afeto”. In: G. C.
J. L de Campos, “Eis dois cachimbos: Roteiro Lima. (org.). Textos selecionados de design 1, pp.
para uma leitura foucaultiana de Magritte”, pp. 21- 154-77.
39.
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nos representam em dois níveis, enquanto re- de paciência” em relação ao texto teve vez,
flexo e indutor, para nós mesmos e para o so- assim como uma tendência a lê-lo mais dis-
cial. Isso por que transferimos sonhos e ex- plicentemente, (pois) o scrolling (rolagem)
pectativas para o objeto. Tanto em sua fabri- facilitou o acaso da leitura.
cação quanto em seu uso, refletimos nossas Mas qual seria o limite desse processo,
tendências e apreço pessoal e social. O ele- que visa a diferenciação extrema dos objetos
mento que propicia esta postura é a tecnolo- (já reduzidos a imagens) e a individualização
gia, a mesma que fez prevalecer a estandardi- absoluta em sua produção? A solução talvez
zação, trazendo a automação para o processo fosse a busca de uma negociação homeostá-
(produtivo) agora aponta para o seu reverso. tica entre os dois extremos desintegradores:
Coelho lembra que deixamos rastros na o da massificação robotizante e do atomisno
passagem pela vida. Rastros do que fazemos, exacerbado. Nesse sentido o equilíbrio esta-
no que fazemos e de como fazemos. Os ves- ria nas mãos da tecnologia adotada pela in-
tígios que deixamos impregnados nos obje- dústria (...), no designer, que medeia esses
tos podem ser, portanto, marcas semânticas, processos, e no objeto, que atua no centro
verdadeiros signos de época. Quando o ar- deste palco.
tesão estava próximo do usuário no período
pré-industrial, os aspectos simbólicos – além
5 Caráter simbólico e literal
do uso – fundiam-se no próprio uso. Com
a industrialização, houve uma ruptura nessa A apresentação da web em monitores CRT
relação de proximidade e, com ela, uma se- (convencional) e agora em LCD (tela fina, de
paração na semiose. Um determinado pro- cristal líquido) confere às imagens uma be-
duto ou classe enquanto signo passou a ser leza ou realismo antes exclusivos da fotogra-
um signo-gênero, superestrutural. fia, do cinema ou da TV. Esse caráter hiper-
Ele também lembra que, em uma fase pos- realista conferido pelas imagens da internet
terior do processo industrial (a partir dos é apenas um dos aspectos que explicariam o
anos 80), passou-se a contemplar a interven- fascínio da web em relação às mídias ante-
ção direta do usuário no processo de fabri- cessoras (a impressa, como o jornal).
cação. Aqui a idéia central reside no deslo- A importância de alguns objetos muda ao
camento da atenção do autor para o receptor, longo da vida, visto que a necessidade e o de-
do texto para a recepção, do fabricante para sejo de representar papéis também se modi-
o usuário e do produto para o uso. Por fim, ficam. É praticamente impossível consumir
do objeto de uso individual para o de uso co- produtos sem significados e, em consequên-
letivo havendo três funções (ou graus de im- cia, não comunicar ou exercer qualquer pa-
portância): a prática, a estética e a simbólica. pel ao adquiri-los e utilizá-los. Nada tem va-
O computador e seu texto virtual subver- lor por si mesmo. Este é outorgado por hu-
teram os aspectos simbólicos que afetam a manos, dependendo o valor de um produto
maneira como o objeto é visto pelo usuário. de seu lugar e tempo na sociedade de con-
Com o seu advento, a idéia do texto escrito sumo.
enquanto um corpo, uma realidade física, Para Coelho, o lado “prático” dessa sedu-
simplesmente, deixou de existir e uma “falta ção da imagem pode ser medida pelo con-
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sumo por ela gerado. O consumo é um fenô- manizadas. Isso leva ao conceito de “masstí-
meno simbólico e cultural que predomina so- gio”, combinação de (consumo de) “massa”
bre a necessidade, sendo o mais poderoso e “prestígio”, ou seja, “prestígio para as mas-
sistema de classificação social. É o sistema sas” um alto prestígio diferenciado para con-
que classifica as coisas e as pessoas. Desta sumo de massa, a preços mais altos, mas não
forma, gera representações coletivas, emo- impossíveis de serem pagos.16
ções codificadas, sentimentos obrigatórios e A autora assevera que o consumo de ima-
pensamentos. Tornou-se a forma como a so- gens é um degrau para o consumo de produ-
ciedade se comunica. Mais do que uma men- tos. Este se transforma num ritual de busca
sagem, converteu-se no sistema em si. de um novo estilo de vida (que nos diferen-
Katia Faggiani sustenta que os significa- ciaria, finalmente, dos outros animais). O
dos imputados aos produtos se multiplica- importante não é tanto ter quanto parecer.
ram, superando suas características funcio- Os objetos se confundem com as pessoas a
nais. O mundo do consumo é um conjunto de ponto delas passarem, de certo modo, a ser
signos e de significados interligados e inter- o que “usam”. Em qualquer sociedade, de
dependentes que oferece uma maneira de so- qualquer época, os aspectos materiais não
cialização aos indivíduos.14 Para ela, os pro- se separam dos sociais, unificados pela di-
dutos preenchem nossas necessidades emo- mensão simbólica que, por ser constituída (e
cionais porque vão além das necessidades constituinte), é, portanto, in essentia, flexí-
mecânicas, utilitárias e funcionais, proporci- vel.
onando uma sensação de glória ou de satisfa- Os significados são transmitidos pelas
ção. Em nossa sociedade, o grau de sucesso imagens (ou pelos produtos, pois não há
é medido pela quantidade de riquezas e de muitas diferenças entre ambos), sendo parte
consumo. Consumidores modernos se iden- integrante do propósito de controlar a infor-
tificam pela fórmula: “eu sou igual ao que mação. Contudo, só podem revelar seus re-
tenho e ao que consumo”. Consumir, agora, ais significados se examinados em conjunto.
é igual a possuir, pois o ser humano não res- Faggiani lembra que, como a imagem é in-
ponde às qualidades físicas das coisas e, sim, formação e se articula atraés da cultura, esta
ao que elas significam para ele. Em outras última constitui o mundo suprindo-o com
palavras, não consumimos produtos, mas a sentidos que se apoiam em categorias e prin-
imagem que temos deles.15 cípios culturais.
Assim, para Faggiani, conceitos como Porém seria preconceituoso e limitado
luxo, consumo e imagem agora se entrela- atribuir ao design os méritos e os deméritos
çam. O consumo (mediado pela imagem) por tal estado de coisas. Seria, mais ou me-
nos humaniza, demonstrando que somos re- nos, como responsabilizar a violência pela
gidos por outras necessidades, além de co- existência dos criminosos (os efeitos múlti-
mer e beber. O consumo nos diz que somos plos por uma causa única). O design, a pu-
superiores, que nossas necessidades são hu- blicidade e os meios de comunicação, lembra
14
ainda Faggiani, “são mecanismos muito po-
K. Faggiani, 2006, p.10.
15
Faggiani, op. cit., p. 10. 16
Id. ibid.
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