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Teoria feminista
As (des)construções dos conceitos pelas mulheres
I n v e n t o n s vite n o s phrases39
Luce Irigaray
E n c o n t r e m a m u s a d e n t r o d e vocês. D e s e n t e r r e m a voz q u e
e s t á s o t e r r a d a e m v o c ê s , ISlã 0 a f a l s i f i q u e m , n ã o tentem
vendê-la p o r alguns a p l ^ j ^ p s o u p a r a t e r e m seus n o m e s
impressos.
Gloria Anzaldúa
M e u c a m i n h o n ã o p o d i a ser fácil. P r a m u l h e r p o b r e j a m a i s
foi fácil. E u s o u f e m i n i s t a d e s d e a a d o l e s c ê n c i a . D e s d e o d i a
cm que meu pai disse: "Quando você casai; vai obedecer ao
seu m a r i d o " , e eu respondi: " N ã o vou casar de jeito n e n h u m " .
Orides Fontela
Mas acredito que esse "literário" de que fala Scott esteja pre=
sente em toda arte. N a verdade, a arte é feita desses momentos de
epifania, de "tornar visível", como diz Paul Klee.
O belíssimo ensaio de Haquira Osakabe, "Esse pudor exceg*
sivo...", no número especial de Cadernos Pagu, "corporificando gê-
nero", organizado por Adriana Piscitelli e Maria Filomena Grego-
ri, indica a necessidade de abrirmos mão da busca de resolução,
especialmente quando estamos tratando da experiência de gênero.
Através da leitura dos poemas de seu amigo Álvaro Pinto Sobrinho,
numa tentativa de "imprimir com mais força as tênues pegadas que
involuntariamente ele deixou apenas delineadas com seus versos",
Osakabe, ainda que "constrangido", procura quebrar o silêncio que
se fez em torno do amigo depois de sua morte. Não há espaço aqui
para seguirmos as pegadas, mas a própria forma de escrita de
Osakabe se faz nessa linha de historicizar a experiência, mostrando
que a "superposição particular dos gêneros" nos comoventes poemas
constitui o "jeito particularmente indireto de ser" do amigo. E m
nenhum momento Osakabe tenta resolver a questão do masculino
e feminino nos poemas, fazendo, assim, uma análise da experiência
nos termos propostos por Scott. É uma análise eemo essa — b&»
seada na amizade — que estou pretendendo fazer em minha pes-
quisa com o Grupo de Mulheres na Delegacia.
Os exemplos de inspiração para essa análise são incontáveis e
considero dois filmes —Fale com ela, de Pedro Almodóvar, e tüllBUÁ
I e II, de Quentin Tarantino — especialmente importantes. Sfio
ambos filmes polêmicos justamente porque os diretores tfim a co=
ragem de se arriscar no assentamento e visualização de fronteiras,
tratando a mulher como o lugar da diferença e da singularidade.
94 SANDRA AZERÊDO
A r a ú j o n ã o n e g a q u e as m u l h e r e s a t u e m n a s r e l a ç õ e s d e vio-
lência n e m que a d i c o t o m i a v í t i m a / a l g o z seja " e x t r e m a m e n t e p e -
PRECONCEITO CONTRA A "MULHER": Diferença, Poemas e Corpos 99
"É assim que ele fala p r a mim. É só ele que pode falar". Q u a n d o
estávamos terminando o cartaz, pedimos a essa mulher que fizesse
u m a m a r c a de beijo de batom na parte do cartaz em que dávamos
as boas vinclas às mulheres, mas ela se recusou a fazer isso, alegan-
do que achava seus lábios grossos demais, E logo se dispôs a em-
prestar seu batom p a r a que alguma de nós — da equipe da Uni-
versidade — deixássemos a nossa marca, com nossos lábios de
pessoas que não e r a m negras como ela. As fronteiras que aparecem
no grupo, portanto, n ã o dizem respeito apenas à diferença de gê-
nero, mas de raça e classe, j á que a grande maioria das mulheres
que p r o c u r a m a Delegacia são mulheres de classe baixa.