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Apostila MEF e Geracao de Malhas PDF
Apostila MEF e Geracao de Malhas PDF
Geração de Malhas
Alfredo Gay Neto
SUMÁRIO
Introdução ................................................................................................................................................................... 4
Histórico do MEF ...................................................................................................................................................... 5
Análise Matricial de Estruturas ......................................................................................................................... 9
Nó ................................................................................................................................................................................ 9
Grau de liberdade ..............................................................................................................................................10
Rigidez ....................................................................................................................................................................10
Coeficiente de influência de rigidez .........................................................................................................11
Rigidez axial de uma barra de treliça ......................................................................................................11
Descrição unidimensional de uma barra de treliça ..........................................................................12
Matriz de rigidez global de uma estrutura ............................................................................................14
Descrição bidimensional de uma barra de treliça .............................................................................16
Sistemas de coordenadas global e locais ...............................................................................................17
Matriz de rotação ..............................................................................................................................................17
Elementos de viga .............................................................................................................................................19
Formulação do MEF ..............................................................................................................................................21
Método de Ritz ....................................................................................................................................................22
Método de Galerkin ..........................................................................................................................................28
Método dos Elementos Finitos (MEF) .....................................................................................................31
Convergência de Malha .......................................................................................................................................33
O problema de Kirsch ......................................................................................................................................33
Singularidade Numérica ................................................................................................................................38
Tipos de elementos para análise estrutural ..............................................................................................40
Elementos Sólidos .............................................................................................................................................40
Elementos Estruturais ....................................................................................................................................43
Graus de liberdade envolvidos nos elementos ...................................................................................45
Ordem do elemento..........................................................................................................................................46
Integração do elemento .................................................................................................................................47
Problemas Numéricos com elementos sólidos ...................................................................................48
Shear Locking .................................................................................................................................................48
Elementos de modos incompatíveis ...................................................................................................49
Hourglassing ...................................................................................................................................................50
Volumetric Locking .....................................................................................................................................51
Geração de Malhas .................................................................................................................................................52
Malhas livres........................................................................................................................................................52
Malhas estruturadas ........................................................................................................................................53
Medidas de qualidade de malha .................................................................................................................54
Aspect Ratio ....................................................................................................................................................54
Jacobian Ratio ................................................................................................................................................54
Warping Factor..............................................................................................................................................55
Parallel Deviation .........................................................................................................................................55
Maximum Corner Angle ............................................................................................................................56
Skewness ..........................................................................................................................................................56
Referências Bibliográficas..................................................................................................................................57
Introdução
Esse módulo do curso é o responsável pela introdução teórica do Método dos
Elementos Finitos (MEF) e, adicionalmente, por discutir algumas questões práticas sobre
geração de malhas. Ao final dessa etapa o aluno estará apto a entender as bases teóricas
do MEF, sendo capaz de interpretar, por exemplo, quais as equações que o ANSYS irá
resolver quando pressiona o botão “SOLVE” na interface gráfica do ANSYS Mechanical.
Os tópicos que serão vistos incluem, primeiramente, um histórico do MEF, desde
as primeiras idéias do método até sua utilização atual. Posteriormente serão
apresentados os Métodos de Ritz e Galerkin, como bases do MEF. Ainda será discutido o
que é uma malha no MEF e suas implicações na solução de um problema. Será discutido,
adicionalmente o assunto “convergência de malhas”. Para finalizar o capítulo, serão
discutidos algumas medidas de qualidade de elementos presentes em uma malha.
Histórico do MEF
O histórico do MEF pode ser conta
contado
o a partir do século XIX, quando nomes como
Cauchy, Navier, Coulomb, Saint
Saint-Venant,
Venant, dentre outros, desenvolveram teorias para
análise de tensões. A teoria de elasticidade, tal como é conhecida hoje, também possui
importantes contribuições nessa época. Equaç
Equações
ões diferenciais para análise de tensões em
diversos tipos de problemas possuem sua base conceitual noss trabalhos desenvolvidos
por diversos cientistas do século XIX.
Figura 1 – Exemplo de uma estrutura composta de barras que pode ser calculada utilizando-se
utilizando se Análise
Matricial de Estruturas
Ainda nas primeiras décadas do século XX, estudos dentro da indústria
aeronáutica começaram a ser desenvolvidos. Conceitos como flexibilidade, rigidez,
aeroelasticidade, bem como outras terminologias começaram a ser discutidas para
aeronaves. Esses já seriam os primeiros sinais do forte desenvolvimento do MEF dentro
da indústria aeronáutica, algo que se consolidou ao longo do século XX.
Já em 1943, Courant utiliza o princípio do potencial estacionário para resolver um
problema de torção. Para a solução do problema, o autor utilizou-se funções em regiões
discretas de um domínio. Por isso, essa é considerada a primeira aplicação de MEF em um
trabalho.
Figura 2 – UNIVAC 1
Em 1969 John Swanson criou a Swanson Analysis Systems (ANSYS). Foi o início do
desenvolvimento de uma empresa que cresceu muito desde seu início, e hoje é uma das
maiores do mundo em termos de soluções CAE.
Ainda na década de 1960, o MEF começou a ser utilizado não somente na área
estrutural, mas também para resolver outra física: problema térmicos. O próprio MEF
seria utilizado, também para outros tipos de problemas, como aqueles envolvendo
eletromagnetismo, fluidos, dentre outros. Isso, pois a metodologia do MEF é geral o
bastante para resolve problemas de valor de contorno. Matematicamente é possível
escrever esse tipo de problema com equações diferenciais parciais que, não
necessariamente estão presas a análises de estruturas, térmicas, enfim, a qualquer tipo de
modelagem física. O MEF pode ser entendido como uma forma aproximada de resolver
equações diferenciais parciais, seja qual for a física que essas representam.
No final da década de 1970, as equações provenientes do MEF aplicado aos
problemas práticos da época eram resolvidas através de computadores do tipo Digital
Vax (super mini computadores). Já na década de 1980, surgem os PC’s, dando novo
ímpeto à informática.
Figura 4 – Interface gráfica do ANSYS Workbench, verão 12.1. Ilustra-se a integração entre diversas análises
através de simples organogramas e links entre as análises
Análise Matricial de Estruturas
A análise matricial de estruturas é um método com aplicação anterior ao MEF. Sua
importância no contexto desse capítulo está nos conceitos envolvidos, muito comuns
àqueles do MEF. Por exemplo, a divisão de uma estrutura em elementos (pequenas
regiões do espaço) está presente também na análise matricial de estruturas. Ainda, cada
um desses elementos apresenta uma formulação matemática, tanto no MEF quanto na
Análise Matricial. Ainda, discussões acerca de graus de liberdade em modelos de Análise
Matricial de Estruturas são absolutamente semelhantes às do MEF. Assim, iniciaremos
nosso estudo dessa interessante metodologia para análise de esforços e deslocamentos
em estruturas.
A idéia básica desse método é que boa parte das estruturas civis podem ser
representadas por elementos estruturais elementares, conectados entre si. Por exemplo,
a Figura 1 mostra uma estrutura com muitas colunas e vigas conectadas por suas
extremidades. Um prédio, por exemplo, pode ser também representado por colunas e
vigas, assim como outros tipos de estruturas, como grandes pontes de treliça, estaiadas,
etc.
A análise de uma estrutura será feita dividindo-se a mesma em pequenas regiões
que possam ser representadas por elementos estruturais, como vigas, treliças, etc. Cada
uma dessas regiões do espaço a partir de agora será denominada “elemento”. O
comportamento de toda a estrutura será ditado pela superposição dos comportamentos
individuais de cada elemento.
Nó
Um importante conceito é o de um “nó”. Um “nó” é um ponto representativo para o
cálculo do deslocamento. Assim, o deslocamento de toda a estrutura será calculado em
função dos deslocamentos nodais. A maneira de realizar o cálculo de tais grandezas é
através das equações matemáticas envolvidas na formulação de cada tipo de elemento. Os
nós podem estar presentes na conexão entre elementos vizinhos, ou no interior de certo
elemento, dependendo isso de sua formulação.
Em uma análise matricial de estruturas, alguns nós terão seu movimento imposto,
ou assumido como nulo. Isso ocorrerá nos nós que estão vinculados. Na figura acima o
problema discreto possui os dois nós das extremidades articulados. Portanto, seu
movimento será nulo. Os outros nós sofrerão influências das condições de contorno
colocada em alguns nós do modelo.
Grau de liberdade
Cabe uma discussão sobre outro conceito bastante utilizado dentro de MEF e
também em Análise Matricial de Estruturas: o grau de liberdade. Muitas vezes abreviado
pela sigla GL, ou em inglês DOF (degree of freedom), o grau de liberdade representa uma
coordenada para medir deslocamentos nodais em uma análise estrutural. O número de
graus de liberdade de um sistema será o número de coordenadas necessárias para medir
seu deslocamento com exatidão, ou seja, o número de informações necessárias para que
haja descrição unívoca da posição de um sistema. Por exemplo, a estrutura de treliça
representada na Figura 6, quando analisada somente no plano yz, possui 3 graus de
liberdade. Note que o nó da esquerda está articulado, e não introduz graus de liberdade
no sistema, pois seus deslocamentos já são conhecidos (são nulos). Existe também um
nós que possui movimento restrito somente à direção y, restringindo mais um grau de
liberdade do sistema. Assim, restam três coordenadas necessárias para a descrição exata
das treliças, através de seus nós. Por isso a estrutura possui 3 GL.
Rigidez
Outro conceito a ser introduzido é o de rigidez. A rigidez de uma mola é uma
relação entre o deslocamento e a força necessária para causá-lo, sendo a força aplicada
em uma extremidade da mola, e a mesma estando fixada em sua outra extremidade. A
Figura 7 mostra uma mola nessa situação. Note que o deslocamento é monitorado através
da variável x. A rigidez da mola, sendo k1, ou k2, causará diferentes relações entre a força e
o deslocamento. Os valores de rigidez da mola são chamados constantes elásticas, e a
relação entre o deslocamento e a força é dada pela famosa Lei de Hooke, dada por:
F = kx ( 1)
Figura 7 –Mola com aplicação de um esforço em sua extremidade e fixada em outra extremidade
F ( 2)
σ=
A
L − L o ∆L
ε= =
Lo Lo
f = Kx ( 5)
Onde :
f1 x1 k k12
f = x= K = 11
f2 x2 k 21 k 22
EA 1 − 1 ( 6)
K=
L − 1 1
Matriz de rigidez global de uma estrutura
O item anterior mostrou a forma de calcular a matriz de rigidez de um elemento
de treliça. No entanto, em uma aplicação prática o interesse é o cálculo da matriz de
rigidez de uma estrutura com suas condições de contorno, e diversos elementos
estruturais conectados entre si. Nesse item veremos a forma de juntar as informações da
rigidez de cada elemento, através de uma superposição de efeitos, e construir uma matriz
de rigidez que descreva o comportamento de toda a estrutura.
Para explicar tal procedimento, será utilizado o seguinte exemplo:
Figura 11 – Superposição das matrizes de rigidez dos elementos, compondo a matriz de rigidez global da
estrutura
f = Kx ( 9)
f = Kx ( 10)
Onde :
f1 x1 k11 k12 k13 k14
k 24
f2 x2 k 21 k 22 k 23
f = x= K=
f3 x3 k31 k 32 k33 k34
f 4 x4
k 41 k 42 k 43 k 44
Matriz de rotação
Seja um vetor cujas componentes no sistema Oxy são dadas por Vx e Vy, quais
seriam as componentes de tal vetor em um sistema de coordenadas rotacionado de um
ângulo θ em relação ao original?
V y = −V x sin θ + V y cos θ
T −1 = T T ( 14)
T TT = I
f = Kx ( 15)
É possível aplicar a rotação T tanto para o vetor das forças, como para o dos
deslocamentos. Assim, temos:
Se : x = Tx ( 16)
f = Tf
Tf = KTx
( 17)
T T Tf = T T KTx
f = Kx
Assim, é possível relacionar forças com deslocamento, agora escritos na nova base,
rotacionada de um ângulo θ em relação à anterior. A matriz de rigidez, agora escrita
nessa nova base fica da forma:
K = T T KT ( 18)
Por isso, para realizar a rotação de uma matriz de rigidez, é necessário utilizar-se
de duas matrizes de rotação: T e TT.
Assim, para a formulação do elemento de treliça no plano, segundo a Figura 12,
tem-se um sistema de coordenadas orientando os deslocamentos segundo os graus de
liberdade 1 e 3 e, outro sisema de coordenadas (alinhado com o primeiro) orientando os
graus de liberdade 2 e 4. Assim a matriz de rotação do elemento deverá conter a rotação
para ambos os sistema, sendo uma composição da matriz de rotação mostrada
anteriormente. Logo, para a formulação plana, a matriz de rotação é dada por:
Devemos observar que a notação de barra em cima das letras, significa que a
grandeza está escrita no sistema de coordenadas local do elemento.
Elementos de viga
Além das treliças, a análise matricial de estruturas também pode lidar com
elementos de viga. A principal contribuição de um elemento de viga que a treliça não
possui, é a capacidade de lidar com rotações nodais. Essa inserção de grau de liberdade
adicional é capaz de permitir que a formulação lide com flexão, e em casos
tridimensionais, com torção. Assim, com elementos de viga é possível representar
fenômenos muito importantes para o estudo de estruturas, uma vez que os dois últimos
fenômenos comentados são essenciais para um projeto de construção civil ou de um
equipamento mecânico. As treliças só podem lidar com esforços de tração ou compressão,
possuindo um campo de aplicação bastante limitado.
A formulação de uma viga no plano pode ser feita com os seguintes graus de
liberdade:
Note que nessa formulação cada nó possui 3 graus de liberdade, e não 2 como no
caso da treliça. A viga no plano possui um grau de liberdade de rotação em cada nó, a fim
de poder levar-se em conta a flexão no plano. Os valores dos coeficientes envolvidos na
matriz de rigidez da viga podem ser calculados utilizando-se métodos de energia em
mecânica dos sólidos, mas baseando-se para isso no conceito já apresentado e utilizado
para as treliças, de coeficiente de influência de rigidez. Após esse cálculo, a matriz resulta
em:
1 2 3 4 5 6 ( 21)
1 EA 0 0 −
EA
0 0
L L
12 EI 6 EI 12 EI 6 EI
2 0 0 −
L 3
L 2
L3 L2
6 EI 4 EI 6 EI 2 EI
3 0 0 −
Ke = L2 L L2 L
EA EA
4 − 0 0 0 0
L L
12 EI 6 EI 12 EI 6 EI
5 0 −
3
−
2
0 −
L L L3 L2
0 6 EI 2 EI
0 −
6 EI 4 EI
6 L2 L L2 L
( 22)
cos θ sin θ 0 0 0 0
− sin θ cos θ 0 0 0 0
T= 0 0 1 0 0 0
0 0 0 cos θ sin θ 0
0 0 0 − sin θ cos θ 0
0 0 0 0 0 1
Figura 15 – Diagrama de flechas que ilustra o domínio e o contra domínio de uma função Real de uma variável
f ( x) = sin( x) ℜ→ℜ
f ( x, y ) = x 2 + y 2 ℜ2 → ℜ
Note que existem funções de uma variável (primeiro exemplo) e de mais de uma
variável (segundo exemplo).
A idéia de função, que relaciona dois conjuntos, sendo um de partida e um de
chegada, através de uma lei, pode ser generalizada para outras formas de relação, entre
espaços de outras naturezas. Um funcional é uma aplicação que relaciona um espaço de
funções com um espaço de números Reais. O diagrama abaixo ilustra esse conceito:
Figura 16 – Diagrama de flechas que representa o conceito de um funcional, isto é, uma aplicação que relaciona
um espaço de funções com um espaço de números Reais
O leitor que nunca leu sobre o assunto nesse momento deve pensar: “Que idéia
matemática mais abstrata! Eu nunca imaginaria uma aplicação desse tipo!” No entanto,
toda pessoa que cursou Cálculo I já viu um funcional, mas sem ter sido apresentado com
esse nome. Uma integral definida é um funcional. Por exemplo:
2π ( 24)
ℑ = ∫ v( x)dx
0
Figura 17 – (a) Estrutura de uma barra com carregamentos axiais (b) Elemento infinitesimal da barra
− σA + (σ + dσ )A + fdx = 0 ( 25)
dσ ( 26)
A + f =0
dx
dσ ( 27)
A + f δu = 0
dx
Integrando-se a equação de ambos os lados da igualdade, no domínio da barra,
tem-se:
L L L ( 28)
dσ dσ
∫ A dx + f δudx = 0 ⇒ ∫ A dx δudx + ∫ fδudx =0
0 0 0
L
dσ L
dδu L L ( 29)
L
∫ A dx δudx = ( Aσδu ) 0 − ∫ dx Aσdx = σAδu x = L − ∫ σAδεdx = Rδu x = L − ∫ σAδεdx
0 0 0 0
L L ( 30)
∫ σAδεdx = ∫ fδudx + Rδu x= L
0 0
Por exemplo, para o problema em questão, da barra sob carregamento axial, esse
funcional será dado por:
L 2 L ( 34)
1 du
∏= ∫ 2 EA dx dx − ∫ fu ( x) − Ro u x= L
0 0
Ritz propõe a idéia de escrever a função u(x) que soluciona o problema através de
um somatório de funções simples, ponderadas por alguns coeficientes, e que satisfaçam
as condições de contorno essenciais do problema. Assim, a forma da aproximação para a
solução seria:
u = ∑in=1 ai f i ( 35)
A fim de procurar reduzir a ordem de derivada será feita a seguir uma integração
por partes do primeiro membro:
L ( 41)
d 2u
∫ EAW j
0
dx 2
dx =
L L
du dW j du
= EAW j − ∫ EA dx
dx 0 0 dx dx
u = ∑i =1 ai f i
n ( 44)
Em que:
L
df j df i ( 47)
K ji = EA∫ dx
0
dx dx
vi = a i
L
q j = R f j + ∫ f j f dx
L
0
No entanto, em toda a discussão que fizemos até então nada foi dito acerca de
como se devem escolher essas funções que compõem a solução aproximada. Pois então, é
justamente essa escolha que pode ser a responsável por um método ser “bom” ou “ruim”,
uma vez que se as funções forem bem escolhidas, a qualidade da solução aproximada será
boa. Se forem mal escolhidas, corre-se o risco de achar uma aproximação ruim.
Tanto o Método de Ritz como o de Galerkin nada falam sobre a natureza das
funções aproximadoras, a não ser que devem ser deriváveis até certa ordem, de acordo
com a equação diferencial a ser resolvida. As idéias que podem surgir para utilizar como
funções aproximadoras são inúmeras: funções trigonométricas, funções exponenciais,
logarítmicas, polinomiais, etc. Pela grande conveniência para realizar integrais e
derivadas as funções polinomiais parecem ser uma opção bastante interessante. Porém,
há de se imaginar que teríamos que definir polinômios de grau muito elevado para
montar a base do espaço de aproximação da solução em todo o domínio. Dada essa
dificuldade, surge uma idéia: e se ao invés de utilizarmos polinômios definidos em todo o
domínio, utilizarmos polinômios de grau muito baixo, tal como primeiro e segundo grau,
mas definidos somente em pequenas regiões do domínio, dentro de algumas zonas pré-
definidas, e em todo o resto do domínio o valor da função seria nula. Essa é a idéia do
MEF: a utilização de funções simples, definidas como não nulas somente em algumas
regiões, e nulas em todo o resto do domínio. A Figura 18 ilustra um exemplo com quatro
funções simples que podem ser utilizadas no MEF, substituindo-as na formulação de Ritz
ou Galerkin para a aproximação da solução da equação diferencial.
Figura 18 – Funções de forma utilizadas no MEF (nesse exemplo, funções de primeira ordem)
Através da introdução de funções fi que estejam definidas em somente algumas
regiões do domínio, a composição da solução aproximada fica mais simples, pois as
integrais envolvidas no Método de Galerkin envolveriam na realidade, não mais a integral
em todo o domínio do problema, mas somente em algumas regiões: aquelas onde o
polinômio é não nulo. Essas pequenas regiões são denominadas “elementos”. O conjunto
de todas as pequenas regiões do modelo que, totalizado irá compor todo o domínio, é
denominado malha. Portanto, a malha é caracterizada por divisões no domínio do
problema, definindo regiões do espaço em que se definem as funções de aproximação
como sendo não nulas.
O número de coeficientes que determinaremos para a solução do problema é
denominado o número de graus de liberdade do problema. Note a relação que existe
nessa forma de apresentar o MEF e a teoria vista anteriormente sobre Análise Matricial
de Estruturas. No fundo, muitas das idéias lá desenvolvidas agora, no MEF, também serão
utilizadas. A vantagem do MEF é a generalidade de sua formulação, uma vez que pode ser
utilizado para resolução de uma classe de problemas matemáticos, e não somente
problemas de mecânica das estruturas, como a Análise Matricial de Estruturas.
A Figura 19 mostra um exemplo de malha em um problema 3D, contendo uma
malha em superfícies no espaço. O MEF pode ser utilizado, definindo-se funções
simplificadas em cada uma dessas subdivisões do domínio e utilizando-se equações
diferenciais da mecânica das estruturas escritas na forma fraca, para resolver a solução
aproximada.
O problema de Kirsch
O problema de Kirsch é um clássico da mecânica dos sólidos. Trata-se de um
problema de concentração de tensão em um furo em uma chapa submetida a um esforço
de tração. A Figura 20 ilustra a geometria do problema de Kirsch, já subdividida em
thechos geometricamente simples para facilitar a geração de malha do MEF.
Figura 20 – Geometria do problema de Kirsch. A divisão da geometria em diversas figuras geometricamente
mais simples ajuda na geração de uma malha regular
( 48)
As expressões para o cálculo das tensões na parede do furo, ou seja, para r=a,
assumem a seguinte forma:
σ θ = S − 2 S cos(2θ ) ( 49)
σr = 0
τ rθ = 0
θ = 90 o ⇒ σ θ max = 3S (tração)
θ = 0 o ⇒ σ θ min = − S (compressão)
Se considerarmos o caso com tensão ao longe dada por S= 1,5 MPa, a tensão
máxima é dada por 4,5 MPa para θ = 90o, e a mínima possui valor de -1,5 MPa na posição
0 o.
Esse exemplo será utilizado para discutir a convergência de malha no problema de
Kirsch. É possível fazer uma simulação do problema de Kirsch no ANSYS Workbench
Mechanical, e utilizando a seguinte malha para o primeiro cálculo:
Figura 22 – Malha inicial utilizada no cálculo utilizando-se o MEF para o problema de Kirsch
Singularidade Numérica
É bastante comum acontecer picos de tensões em análises de MEF. Regiões com
cantos vivos ou com aplicações de carregamentos concentrados podem apresentar
tensões muito elevadas. Quando se faz o refinamento de malha em torno de uma região
com essas características, o que pode se verificar é que as tensões, ao invés de
estabilizarem em um dado valor, continuam "explodindo" sem nunca convergir para um
valor finito. Essas regiões são denominadas singularidades numéricas. Qual deve ser a
interpretação acerca desse tipo de comportamento?
A resposta a essa pergunta necessita duas discussões:
• convergência de malha
• modelagem do problema
Quanto à convergência de malha, o que está ocorrendo no modelo com
singularidade numérica é que há convergência de resultados, sim, porém, a solução exata
do modelo é um campo de tensões que tende, de fato ao infinito nos pontos de
singularidade numérica. Isso, pois uma força concentrada ou um canto vivo são
idealizações de modelagem que simplificam o modelo e introduzem efeitos não realistas,
com uma tensão que tende ao infinito. Isso nos remete à discussão do segundo assunto,
ou seja, sobre a modelagem do problema. Quando realizamos a modelagem, fazemos uma
série dee simplificações, do tipo, forças concentradas, cantos, vivos, etc. No problema físico
não existem forças concentradas e cantos vivos. Por isso, fisicamente não ocorrem picos
infinitos de tensão, como muitas vezes previsto por modelos com esses tipos de
simplificações.
mplificações. Fisicamente sempre existe uma pequena área de distribuição de uma
força, ou um pequeno raio de arredondamento, tornando o campo de tensões nessas
regiões, não mais um pico infinito, mas finito.
Portanto, quando um modelo possui singularidades
singularidades numéricas, sempre devemos
nos fazer a seguinte pergunta:
Qual
ual é o interesse que temos no modelo?
Elementos Sólidos
Toda e qualquer estrutura existente no mundo pode ser correta e exatamente
descrita de forma tridimensional. Desde uma engrenagem, até uma folha de papel, ambas
são volumes no espaço. O que pode ocorrer é que as dimensões da folha de papel a
tornam muito mais esbelta do que uma engrenagem. Porém, ambos os corpos continuam
sendo tridimensionais.
Assim, ainda que não seja a forma mais eficiente de se atacar os problemas
práticos, a descrição de qualquer problema pode ser feita de forma tridimensional. Logo,
se conseguirmos escrever equações diferenciais de equilíbrio para um corpo no espaço,
poderemos, ao resolver essas equações para um dado volume, desenvolver a formulação
de MEF para um sólido. Por exemplo, as equações diferenciais de equilíbrio de um sólido
são dadas por:
∂σ x ∂τ yx ∂τ zx ( 50)
+ + + fx = 0
∂x ∂y ∂z
∂τ xy ∂σ y ∂τ zy
+ + + fy = 0
∂x ∂y ∂z
∂τ xz ∂τ yz ∂σ z
+ + + fz = 0
∂x ∂y ∂z
Note que é possível trabalharmos com elementos sem nós presentes no meio das
arestas (denominados midside nodes ). Esses possuem as funções de forma (funções do
nodes).
espaço de aproximação) lineares. Já se considerarmos os elementos que contêm tais nós
intermediários, suas funções de forma serão quadráticas. Assim, o grau de aproximação
dentro de certo elemento tem tudo a ver com o número de nós considerado em sua
formulação matemática.
A descrição 3D não é a única possível quando se trata de sólidos. Por exemplo,
algumas simplificações no estados de tensões de um sólido podem tornar o problema um
EPT, ou seja, um estado plano de tensões. Isso é uma situação típica em uma chapa muito
fina, submetida a carregamentos no plano da chapa. Por exemplo, o problema de Kirsch
pode ser considerado, quando aplicado a chapas de pequena espessura, como um
problema cujo estado de tensão é plano.
Figura 30 – Exemplo de um problema que se encontra em um estado plano de tensões (EPT)
Existe também uma outra forma de estado plano, na qual o campo de tensões não
é nulo, porém, não há deformações
mações relevantes na direção para fora do plano. Nessa
situação, ocorre o estado plano de deformação (EPD). Note que em ambos os problemas é
possível haver uma descrição geométrica retirando
retirando-se
se uma das dimensões do problema e
admitindo uma hipótese para a direção fora do plano.
Elementos Estruturais
Além da abordagem de elementos sólidos, é possível trabal
trabalharmos
harmos com elementos
estruturais. Isso significa que são feitas simplificações sobre o campo de deslocamentos
envolvido no problema. Adota-se,se, para tal, uma teoria estrutural. O exemplo mais simples
de elemento que leve em conta uma série de hipóteses restritivas
restritivas quanto ao campo de
deslocamentos,
ntos, é um elemento de treliça.
A Figura 33 ilustra uma barra de treliça. Note que, uma vez assumida uma
orientação para a barra de treliça, é possível descrever a posição de cada uma das seções
transversais através de uma única coordenada que está na direção da própria barra. Para
descrever o elemento
ento de treliça, é necessário adotarmos uma área de seção transversal, e
escolhermos as propriedades do material da barra. Com isso, é possível descrever seu
comportamento em uma análise de MEF.
Figura 33 – Elemento de treliça. Descrição através de uma única coordenada (unidimensional) para um único
elemento,, considerando apenas esforços de tração ou compressão
Ordem do elemento
Conforme visto nos Métodos de Ritz e Galerkin, a aproximação por MEF necessita
de uma hipótese acerca da forma de solução, isto é, é necessário assumir que o espaço de
aproximação é formado por algumas funções (de forma) que, superpostas formarão a
solução do modelo como um todo.
Aos elementos que trabalham com funções de forma lineares, dá-se o nome de
elementos de primeira ordem, ou lineares. Àqueles que consideram funções deforma de
segunda ordem, dá-se o nome de elementos de segunda ordem, ou quadráticos. Portanto,
a ordem do elemento diz respeito às funções de forma assumidas em sua formulação.
Quanto a função de forma é linear, são necessário apenas dois nós por aresta do
elemento para determinar de forma unívoca seu campo de deslocamentos em função dos
deslocamentos nodais. Assim, elementos lineares apresentam apenas nós nos vértices
dos elementos. Por exemplo, um hexaedro linear apresenta 8 nós, um tetraedro linear, 4
nós, e uma viga linear, 2 nós. Já elementos quadráticos precisam de um nó adicional em
cada aresta para conseguir representar corretamente o campo de deslocamentos no
interior do domínio, em função dos deslocamentos nodais. Esse nós é denominado
midside node. Hexaedros quadráticos possuem, portanto, 20 nós. Tetraedros de segunda
ordem contém 8 nós, e vigas de segunda ordem possuem 3 nós.
Figura 37 – Elemento de viga BEAM 188 (primeira ou segunda ordem). Extraído do ANSYS help[2]
Figura 38 – Elemento de casca SHELL 181 (primeira ordem). Extraído do ANSYS help[2]
Figura 39 – Elemento de casca SOLID 186 (segunda ordem). Extraído do ANSYS help[2]
Integração do elemento
Como vimos no Método de Galerkin, a obtenção da equação proveniente da
discretização do MEF aparece na forma integral. Assim, é necessário que se realize a
integração no domínio do elemento de uma função, calculada a partir da funções de
forma assumidas no elemento.
Figura 40 – Posição dos pontos de Gausss para elementos quadriláteros sólidos 2D (de primeira e de segunda
ordem)
Shear Locking
Trata-se de um problema que pode ocorrer principalmente com elementos sólidos
(2D ou 3D),, lineares, com integração completa sujeitos à flexão.
flexão. A dificuldade que surge
su é
que o campo de deslocamentos do elemento não consegue representar a cinemática
associada à flexão. A Figura 41 ilustra o fenômeno de shear locking. Note que a
característica
aracterística fundamental do fenômeno é a distorção que surge no elemento. ao aplicar
um momento nas extremidades do elemento, constrói
constrói-se
se um sistema de forças formado
por dois binários. Após a deformação do elemento, note que a cinemática da flexão não é
capturada, mas surge uma distorção pura no elemento, tornando suas tensões de
cisalhamento extremamente elevadas.
elevadas Na realidade se esperariam tensões normais
devidas à flexão,, e não o cisalhamento.
Note que a posição dos pontos de integração consegue capturar bem o fenômeno.
Para lidar bem com esse tipo de erro numérico pode-se
pode se trabalhar com os denominados
elementos de modos incompatíveis.
Figura 42 – Distorção de um elemento não sendo identificada devido à integração reduzida. Essa situação pode
introduzir modos de movimento de energia nula no resultado.
(a) (b)
Figura 43 – Surgimento de hourglassing em um campo de deslocamentos (a) malha indeformada (b) malha
deformada Imagem extraída de [2]
deformada.
Portanto, a parte hidrostática do tensor das tensões não pode ser computada a
partir dos deslocamentos nos nós. Assim, a formulação de MEF através dos
deslocamentos é inadequada para um elemento com comportamento de material
incompressível. Como alternativa, à solução do problema, é possível introduzir a pressão
hidrostática do elemento como um grau de liberdade adicional. Assim, surgem os
elementos híbridos de deslocamento e pressão, denominados mixed u-p.
Malhas livres
Malhas livres não possuem restrições geométricas, não seguem qualquer padrão
de geração de elemento. É bastante adequada para áreas e volumes de geometrias
complexas. A principal vantagem desse tipo de malha é sua fácil geração, e a não
necessidade de dividir o domínio inicialmente complexo, em formas regulares. A
desvantagem é que os volumes discretizados podem conter apenas tetraedros, ou muitos
tetraedros, resultando de modo geral em um número grande de elementos e nós.
Em malhas livres deve-se evitar a utilização de elementos de primeira ordem,
priorizando os de segunda ordem.
Figura 44 – Exemplo de uma malha livre. Note que não existe nenhum tipo de regra para formação de
elementos
Malhas estruturadas
Malhas estruturadas possuem regras para sua formação, ou seja, estruturas de
criação de elementos com uma ordenação bem definida. De modo geral, as formas dos
elementos são restritas a quadriláteros para áreas e hexaedros (bricks) para volumes.
Possuem um padrão regular de distribuição de elementos. O cálculo pode ser feito de
maneira bastante simplificada, sem necessidade de uma matriz de conexão, pois a
conectividade entre os elementos já é conhecida a priori, na geração da malha. No
entanto, para um solver que já faça a matriz de conexão para qualquer malha, essa
facilidade acaba sendo secundária.
Malhas estruturadas são adequadas para áreas e volumes regulares tais como
retângulos ou hexaedros. Geometrias complexas podem ser manipuladas para gerar
geometrias regulares, a fim de possibilitar a geração de uma malha estruturada.
A principal vantagem da malha estruturada é que geralmente possui um número
menor de elementos e nós. Elementos de baixa ordem podem ser aceitáveis, tal que o
número de DOF é mais baixo. No entanto, essa técnica possui limitações pois, na prática, é
muito difícil de ser realizada em geometrias complexas.
Figura 45 – Exemplo de uma malha estruturada. Note que existem padrões para formação de elementos
Medidas de qualidade de malha
Sejam malhas livres, ou estruturadas, toda e qualquer discretização de MEF deve
obedecer alguns critérios de qualidade de malha. A qualidade da malha basicamente se
refere à forma do elemento. Dimensões relativas entre base, altura e largura, ângulos
entre faces ou arestas, dentre outras caracterizações possuem diretrizes para uma boa
qualidade de resultado. A seguir veremos algumas dessa diretrizes para discutir a
qualidade de uma malha.
Aspect Ratio
A razão de aspecto é uma medida da relação entre a medida da base e da altura de
um triângulo, ou de um retângulo. Quanto mais regular for a figura geométrica, mais
próxima de unitária será a razão de aspecto. Quanto menos regular, maior será o valor.
Jacobian Ratio
Os pontos nos quais são feitos os cálculos dos jacobianos podem ser os pontos de
Gauss, os nós, ou outros pontos no interior do elemento.
Figura 48 – Razões de determinantes de jacobianos (jacobian ratios) para um quadrilátero. Extraído de [2].
Warping Factor
É uma medida de grau de empenamento existente na face de um elemento. Quanto
mais próxima de plana a face for, menor será seu empenamento. é desejável que não haja
grandes empenamentos, pois nessas condições a formulação do elemento pode não dar
bons resultados.
Parallel Deviation
É uma quantificação do não paralelismo entre as arestas opostas em um
quadrilátero. O melhor valor possível é 0, pois nessa condições há o perfeito paralelismo,
exatamente como na formulação do elemento.
Skewness
É o grau de assimetria, distorção do elemento. Quanto maior for sua distorção,
pior será seu resultado, pois mais longe ele se encontra da forma que é considerada na
formulação do elemento original (regular e simétrico).
A Figura 52 mostra a forma regular, e ao lado a mesma distorcida. a distorção
excessiva causa problemas de qualidade dos resultados.
[1] Timoshenko S.P.; Goodier J.N. Theory of Elasticity. McGraw-Hill Classic Textbook
Reissue Series.
[2] Ansys, Inc. Ansys help. Release 12.1