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A feiticeira ou bruxa de Évora é uma das personagens mais populares e misteriosas do folclore
e das lendas da magia, especialmente na esfera da cultura popular. Sua biografia é dispersa,
incerta, cheia de contradições. Até onde conduzem as
as pesquisas, não pode ser considerada
figura histórica; no entanto, sua fama é suficiente para considerá-la arquétipo mítico de um
certo tipo de bruxa, de feiticeira.
É difícil até mesmo determinar a época em que viveu. A maioria dos textos/livros sobre uma
Bruxa de Évora afirma que ela viveu no século... Outros, dizem que viveu em meados da Idade
Média. Todavia, um único de texto de referência permite supor que, na verdade, essa Bruxa é
mais antiga, e que poderia perfeitamente ter vivido em pleno século III d.C..
Mítica, é possível que a primeira bruxa de Évora tenha sido tão poderosa e influente que seu
nome tornou-se sinônimo para praticantes da bruxaria que vieram muito depois e também
fizeram fama desde o antigo oriente Médio, Ásia Menor. Uma idéia de bruxa que alcançou não
somente a Península Ibérica mas também toda a região costeira do Mar Mediterrâneo, os
Bálcãs, as ilhas do mar Mediterrâneo: ao longo de séculos, a expressão "Bruxa de Évora",
tornou-se algo como um título.
As pesquisas sobre esta feiticeira indicam que boa parte de sua fama nasce junto com a fama
de um outro mago negro controverso: CIPRIANO DE ANTIOQUIA que viveu no século III da
Era cristã (anos 200). Este, depois de uma vida dedicada à magia negra, converteu-se ao
Cristianismo e foi até canonizado passando fazer parte da história Cristã como São Cipriano.
Segundo as lendas, pois as biografias desses personagens não têm registros históricos
precisos, o nome "Bruxa de Évora" [ou Bruxa de Yeborath – Iebora, em
árabe significando Cruzado, cruzamento, encruzilhada] aparece pela primeira vez,
nocontexto do estudo da História da Bruxaria, ligado ao nome do Santo feiticeiro. Ela
teria sido uma das mestras do mago e ele, seu discípulo mais prestigiado, herdeiro de seus
feitiços.
BABILÔNIA:
FEITICEIRAS DE ENCRUZILHADAS
NOS PRIMÓRDIOS DA BRUXARIA
Porém, esse encontro NÃO ACONTECEU na península Ibérica, como sugere o termo
designativo, distintivo da Bruxa, Évora que é uma cidade histórica de Portugal.
Mais tarde, o juntamente com os Mouros sarracenos que invadiram e dominaram o território a
partir de 715 d.C., vieram as bruxas misteriosas do Oriente, quase ciganas, as bruxas
das Yeborath ou Iebora , das encruzilhadas, das agulhas.
E, se sobre a B r u x a não há registro históricos de espécie alguma, a não ser como arquétipo,
sobre Cipriano, o Santo Feiticeiro, existem, ao menos, um parcos documentos, como sua
Confissão depois da conversão ao Cristianismo.
Como foi dito, Cipriano – o Feiticeiro não somente encontrou uma certa Bruxa de Evora em
sua passagem pela Babilônia como dela teria herdado os livros, as poções, os segredos do
poderes de sua Mestra.
Considerando essa informação como fato p o s s ív el , uma Bruxa ou feiticeira na/ou daBabilônia
seria, naturalmente, versada naquele tipo magia característica da cultura Mesopotâmica,
aquela normalmente classificada como magia das trevas, da mão esquerda, magia negra:
Goecia, necromancia, vidência, evocações, parcerias com
demônios, envultamentos [encantamento à distância: os bonecos de cera e as agulhas],
oráculos.
Essas bruxas e bruxos foram aqueles que preservaram alguma coisa das tradições da magia
das tribos nômades e reino antigos de tempos ainda mais arcaicos entre os quais destacam-se
os Caldeus e os Assírios. Era uma Magia de sombras, freqüentemente desprovida de
escrúpulos, sem critérios éticos, que livremente associava-se com entidades não humanas e
pouco confiáveis: demônios, gênios, formas-pensamento, elementais, espíritos de pessoas
mortas.
Uma bruxa assim poderia, mesmo ter existido. E não somente uma, mas várias. As bruxas de-
ou-das Evoras seriam algo como uma categoria de feiticeiras. Voltando à etimologia da
palavra Évora, embora sejam encontradas raízes em solo europeu, não se pode desconsiderar
a Yeborath dos árabes que, como foi explicado tem como significado: Cruzado,
cruzamento, encruzilhada.
Uma etimologia que sugere a tradução do termo Br ux a de Évo ra para Bruxa de
ou, bruxa que faz seus trabalhos em encruzilhadas, lugar de Pactos.
Encruzilhada
[Lembrando uma característica que lembra a divindade grega Hécate, senhora dos
encantamentos e do mundo dos mortos.]
Com uma pequena mudança gráfica e fonética, se Yeborath é dito Iebora, então o significado
muda para Agulha, agulhas e assim resulta, Bruxa das Agulhas. Ou seja, uma bruxa que
trabalha com agulhas [supõe este pesquisador, agulhas e bonequinho de cera. Meditemos]...
Rastrear a trajetória geográfica da figura da "Bruxa de Évora" ao longo dos séculos passa,
necessariamente pelo conhecimento do histórico da localidade de Évora até porque, se o
folclore em torno desta personagem começa na Babilônia do século III d.C., a crença se
perpetua além Oriente-médio, alcança com toda força mítica a vasta região da península
Ibérica e, atravessando o Atlântico junto com os grandes navegadores portugueses e
espanhóis, encontrou seu lugar no imaginário dos povos latinos-nativos-afro-americanos.
Se, de fato, existiu um a bru xa de Évo ra cuja vida se cruza com a vida de São Cipriano, esta
personagem viveu [ou teria vivido] no século III, os anos 200 depois de Cristo. Nesta época,
Évora era uma cidade romana, a Libetalitas Julia , conquistada em 57 d.C..
Contudo, a palavra Évora, ao que tudo indica é a denominação popular da localidade, antes e
depois do domínio romano e, ainda, são várias as explicações para a origem deste
nome. Plínio, o Velho (23 –79 d.C.) – filósofo e naturalista, cronista romano, em
seu livro Naturalis Histori a , chama o lugar de Ebora Cerealis , por causa dos campos de trigo
que dominavam a paisagem.
OS CELTÍBEROS
Os povoamentos na região, cujo centro, hoje, é a cidade Évora, abriga sítios arqueológicos que
datam da Idade do Bronze [1.800 a.C.] e outros ainda mais antigos, do Paleolítico, Neolítico,
Calcolítico [Idade do Cobre, cerca de 3.000 a.C]; de muito antes da Era Cristã. Sobre o
passado remoto de Évora escreve J. Saramago:
Mitologia-folclore cristão-pagão e sarraceno [mouros] são apenas dois dos elementos que se
misturam na composição da lenda e das imagens relacionadas à B rux a de Évo ra . Uma
influência ainda mais recuada repousa na história dos fascínios e medos dos povos que
habitaram a Península antes de romanos ou mouros.
São os bárbaros celtiberos, dos quais fala Saramago no texto acima e outras nações várias
que se miscigenaram com os supostos autóctones [nativos do local] lusitanos oulusitani [em
latim] a maior das tribos ibéricas. Os lusitanos propriamente ditos são, geralmente,
considerados como proto-celtas, celtas primitivos, migrantes, provenientes do norte europeu,
mais especificamente os Célticos.
MAGIA DOS CELTÍBEROS
Nesse contexto, o papel das mulheres tinha grande relevância posto que exerciam o papel
de Xam ãs , curandeiras que se utilizavam do conhecimento das virtudes e das peçonhas
fornecidos pela Natureza, poções para o bem e para o mal extraídas de vegetais, animais e
minerais. No alvorecer da História, as bruxas eram como médicas: do corpo, da alma;
intermediárias entre os homens e as forças da Natureza.
Foi essa magia primitiva que, aos poucos, transformou-se na Bruxaria da península Ibérica,
resultado da interação com saberes de outras nações: romanos pagãos, romanos cristãos,
bárbaros outros, pagãos originais ou romanizados; bárbaros cristianizados, Mouros
(muçulmanos, Sarracenos).
Sobre a relação entre Évora e os celtíberos, estudos indicam que, a palavra e o lugar podem
estar ligados a uma antiga divindade celta cultuada na região: Eburianus cujo símbolo é a
árvore do Teixo. Houve tempo em que os lusitanos chamavam a atual localidade de Évora
de Eburobrittium (SÍMON, 2005).
Segundo o livro de São Cipriano [o feiticeiro, século III d.C. anos 200], capa de Aço, no tempo
em que os mouros viviam na região portuguesa de Évora, o rei mouro Praxadopel ali construiu
um castelo, em Montemur.
* Os mouros, povos do oriente médio, somente poderiam ter ocupado a região depois
período de expansão dos domínios árabes em suas incursões em território europeu, em
uma época, portanto, pós-fundação do Islamismo. Porém as referências à uma bruxa de
Évora remontam aos primeiros séculos do Cristianismo, por volta do século III,
coincidindo com o período de vida de do bruxo Cipriano. Eis uma prova da dificuldade
de identificar a historicidade dessa feiticeira tão famosa.
FOLCLORE DA FEITICEIRA EM PORTUGAL
Nesse castelo, hoje chamado Castelo de Giraldo, transformado em ruínas pelo passar dos séculos,
em meio às pedras, louvado nas noites escuras pelo uivo de lobos e chacais, que, no fundo da propriedade,
enterrada entre montes de pedras, está o Túmulo de Montemur.
Nele foram encontrados os restos mortais de sete pessoas e pergaminhos [supostamente] escritos por
LAGARRONA, a feiticeira de Évora.
Frei Antão de Sis, estudioso dos fenômenos mágicos e da feitiçaria, através dos pergaminhos,
encontrou a casa da bruxa, ainda em pé, apesar do tempo. Descreveu-a como uma casa diabólica ...
No meio dela havia uma cova da altura de um homem.
As paredes internas estavam repletas de desenhos representando lagartos, cobras,
lagartixas caracóis, rãs, escaravelhos, símbolos egípcios, vespas, baratas e outros bichos peçonhentos.
Do lado de fora, havia quatro sapos e várias figuras de meninos tendo nas mãos molhos de varinhas
de ervas com os quais ameaçavam os sapos.
Ainda dentro da casa, em dos cantos dessa casa mal-assombrada havia
a escultura de pedra de um cavalo-homem, como um centauro.
Noutro lugar, outra estátua, esta, a de uma mulher-serpente.
Em certo ponto do chão ladrilhado com cerâmica negra, uma inscrição:
O primeiro a abrir esta cov a
Veráco isas jamai s v istas
Cava por diante para que resistas [enfrentes]
ao grande temor q ue seu peito prova
Verás s or til é
gi os m ági co s q ue p ren dem os ho m ens ,
o filtro do amor que amarra as mulheres.
Não tem as, não tem as. N ão m os tres tem or :
achar ás su ces so s, magi a e amo r
e, por cert o, em tu do s erávenc edo r.
Gran libro de San Cipriano o los tesoros del hechicero, 1985
Em Portugal A B rux a de Évo ra é o modelo de bruxa. Mas não somente em Portugal:
este modelo de bruxa está na fantasia de toda a Península Ibérica e nos territórios que foram descobertos
e conquistados pelos grandes navegadores ibéricos da Idade Moderna.
Escreve Santander: No temp o em que o s m ouro s v iviam n a região po rtugu esa de Évora...
E ao longo do capítulo descreve o que seriam os últimos anos de vida da Bruxa,
claramente qualificada como Moura , muçulmana. No relato, a feiticeira tem um filho adulto e mau.
Chamado Candabul, desejou possuir uma jovem donzela cristã.
A bruxa ajuda no rapto da moça, providencia a morte por enfeitiçamento todos os pretendentes dela. Mas o mal -fei
a bruxa interfere e se empenha em produzir mágicos meios de fuga para Candabul.
Caçada pelos agentes da Lei, depois de várias peripécias, ela acaba morrendo durante um acidente na realização
tentativa desesperada de escapar da Justiça. Quando chegaram os soldados, encontraram-na morta. Não foi sepul
pendurada na porta da própria casa e ali ficou apodrecendo e sendo devorada pelos abutres e vermes. O cadáver,
das ventanias, era uma visão macabra que parecia vigiar o lugar e a bruxa morta passou a ser chamada de La Gu
corruptelas, Lagarrona e Lagardona ], algo como A Guardiã... da casa, de suas ruínas e arredores. O local, natura
como assombrado [Gran Libro de San Cipriano o los tesoros del hechicero, 1985].
Todavia, mais adiante, quando fala do encontro da feiticeira com o ex-mago negro, o autor [Santander] ignora com
dizem também sobre a vida do bruxo Cipriano, ao menos bem determinam a data de sua morte, martirizado por se
antes, portanto, da Bruxa de Santander ter protagonizado aquelas aventuras. No episódio do feitiço da cobra grávi
aposentada com o ouro do último bruxedo que fez por contrato e empregada como Aia [criada pessoal] de uma co
Torna-se claro que os relatos sobre a bruxa de Évora são de fato, um conjunto de lendas e seus supostos escritos
Grimórios mais antigos de autoria igualmente duvidosa. Alguns são atribuídos a este ou aquele mestre mais conhe
como Alberto, o Grande, Papa Honório, bruxo Atanásio e o próprio Cipriano, o feiticeiro.
Muitas das receitas dos Grimórios são fórmulas de remédios caseiros, acervo de um saber muito útil em uma époc
recursos e médicos com estudo eram poucos e para ricos. Muitos dos Segredos da Brux a revelados no livro de A
popular dos curandeiros e curandeiras de linhagem imemorial, uma herança que durante muito tempo foi preserva
A própria Bruxa apresentada por A. de Santander em sua pretensa-original tradução-reprodução do Únic o e au t
da Galícia ext raído d o Flo r Sanc tor um , datado d os tem po s d os m ou ros de Évo ra , a feiticeira comenta revelan
muitasBruxas de Évora: que seus conhecimentos foram-lhe ensinados pela mãe, segredos passados de geração e
consiste o seu [dela] feitiço da Cob ra Grávid a Para Pren der Marido ela revela algo de recorrente na biografia des
É pele de cob ra com flor d e suage [ou sage , Artemisia vulgaris ou, ainda, flor-de-são-joão, erva-de-são-jo
absinto.L.C.] e raiz de urze [Erica Lus itanica ou torga e/ou Calluna vulgaris ] que estou queimando em nom
duque [o Grão Duque de Terrara] e ver se o d esligo daquela mulher [uma amante]. Esta m ágic a foi sem pr
debaixo dessas abóbodas em q ue as mãos dos hom ens não to maram parte. Minha m ãe deslig ou com e
extraconjugais] de nobr es e mo narcas...
(SANTANDER, p 13)
Compilados em manuscritos medievais, organizados em volumes raros, artesanais, ornados com finas iluminuras,
pagãos, curiosamente, começou a ser organizada, não raro, pelo monges escribas das grandes escolas e bibliote
Provavelmente foi da pena dos monges que surgiram os primeiros Grimórios e/ou Engrimanços. Com o advento e
Johannes Gutenberg [Johannes Gensfleisch zur Laden zum Gutenberg, 1398-1468 – alemão, considerado invento
conhecimentos documentados em registros escritos tornaram-se disponíveis em numerosas cópias que ganharam
variadas, de folhetos baratos, almanaques de curiosidades até custosas e exclusivas edições.
O ENCANTAMENTO DA BRUXA
Em A B rux a de Évo ra , Maria Helena Farelli (2006) apresenta a personagem como arquétipo folclórico luso-hispan
da lenda, já devidamente hibridizadas entre: 1. o d r u i d i s m o celtíbero doméstico; 2. o culto romano à deusa Dian
ruínas do templo ainda podem ser visitadas em Évora; 3. a figura mítica da mou ra feiticeira , freqüentemente apre
como aMoura Torta , um modelo de bruxa, tudo isso misturado ao – 4. ritualismo cristão das orações e adoração
Em Farelli (2006), a narrativa passa, como é necessário, pela história da nação lusitana, detendo-se em período e
absorvido elementos que ficaram como herança do tempo da dominação islâmica-sarracena em toda a península I
universo misterioso na magia semita, caldaica, mesopotâmica: dos magos-alquimistas, astrólogos, videntes, quiro
espíritos dos mortos, magia-negra, também, sim, da mais antiga tradição árabe, pré-Islã. Segundo Farelli a Bruxa
dos feitiços d o Oriente, a que voava em c amelos al ados ... (FARELLI, 2006 – p 15).
Sobre o sincretismo no qual foi forjada a Bruxa de Évora, a autora escreve: ...o port ug uês sem pre acend eu um a
Igreja ele fazia miron gas... Atéos p adres eram acu sados desses feitos . Mas os con siderados grandes b rux
29). E mais: ...segu nd o a lend a, a Br ux a de Évo ra era mo ur a... árabe ou mo uri sc a... mor ena... (Ibid., p 29).
BRUXA ERUDITA
Em relação à aparência, A B rux a de Évo ra (FARELLI, 2006) apresenta o arquétipo folclórico da personagem em
velhas e esquivas dos contos infantis. Mas, ao contrário do modelo da curandeira intuitiva, analfabeta, camponesa
de experiência pessoal e herança de tradições orais, em Farelli (Idem) a bruxa de Évora é praticamente uma erudit
em português [o gentílico da época], árabe e latim.
Sem citar sua fonte de informação, a autora enfatiza: Sabia m atemátic a... recon hec ia as es trelas,... sabi a ler a s
seus anc estrais mu çulm ano s* mas , viven do no sé cu lo XIII [anos 1200], ta m b é m s ab ia [da magia] dos c eltas..
pagã era, ao mesmo tempo, devota cristã: ...a velh a br ux a játin ha fei to a p ereg rin ação a Sant iag o d e Co m po s
Braga, muitas vezes, pagar prom essas... (Idem) ...E, ainda: ...a b ru xa de Évo ra n ão era um a h eré ti c a. Er a u m
* Um equívoco comum do olhar superficial do Ocidente sobre o Oriente. Há muito tem-se confundido cultur
magia não poderia ser praticada por uma muçulmana. O Islã proibiu, sujeitando a severas penas, a prática
verdade, a famosa riqueza da cultura árabe precede o Islã; uma riqueza que o Islamismo cuidou de mutilar
mais e mais, com a expansão e recrudescimento fundamentalista da fé no Alcorão e sua teocracia – repre
leis supostamente religiosas suplementares – as Sharias , diferentes para as diferentes seitas muçulmanas,
estabelecidos no confuso livro sagrado desses crentes.
Além disso, essa Bruxa de Évora era uma senhora em situação social e de comportamento atípicos para sua époc
financeiras, materiais]. Tinha dinheiro proveniente da prestação de seus serviços mágicos e/ou técnicos-científicos.
medievais, não ostentava riqueza ou poder. Era discreta, sabiamente. Andava pobremente vestida, Era seu jeito d
autoridades religiosas.
Como todo ocultista, seja leigo ou erudito, considerando uma figura histórica da Bruxa como precursora ou símbolo
que era possuía ou devia possuir seu próprio Livro [ou livros] de estudos e anotações contendo fórmulas de elixire
saberes. Nos meios exotéricos, o livro de registros pessoais de uma bruxa é chamado Livro das Sombras.
Um possível Livro da Bruxa de Évora seria – ou foi e é, um objeto que, se autêntico, atraiu e atrai curiosidade e c
suposta autora. Um objeto digno de um Museu de história da cultura ocidental. De fato, este Livro é um dos eleme
Bruxa; explorado, inclusive, no mercado editorial.
Porém, o texto que tem atravessado séculos e que Amadeo Santander reproduz em seu Livro da Bruxa (s/data),
desconhecida o suficiente para ser considerado de domínio público. Na folha de rosto de uma edição recente Sant
declara que a obra reproduz o únic o e aut ênti co man us crit o... [cópia] do origin al extraído dos Flos Sanc torum
Esta informação é uma encruzilhada na pesquisa: ocorre que o Flos Sanctorum [ou Florilégio dos Santos, Flor
que reúne biografias de santos [?!]. E a situação se complica posto que o Flos Sanctorum , segundo estudos é, po
Lenda Áurea ou A Legend a Áurea que também é, essencialmente, coletânea de vidas de santos, escrito-compila
italiano, religioso dominicano, arcebispo de Gênova], datado em em torno do ano de 1260.
A questão é: como pode, o Livro da Bruxa apresentado por A. Santander ser extrato, derivação de um Flos Sanct
Livro da Bruxa não é, de modo algum derivado de manuscritos de uma Bruxa de Évora. O nome da Bruxa, nesse c
Cipriano é usado como atrativo de mercado. Caso simples de propaganda enganosa. Em ambos os casos, os Livr
coletâneas de simpatias e receitas populares, tradicionais, resgatadas do acervo da cultura oral, misturadas com re
os problemas do corpo e da alma do Homem medieval.
MAGIA PRÁTICA, MUITO PRÁTICA
comentário ao conteúdo de O Livro da Bruxa de A. Santander
No livro de A. Santander as receitas mágicas, feitiços, oráculos, começam no CAPÍTULO III com uma técnica m
qualquer época, para as mulheres se livrarem d os h omens q uando estiverem aborrecidas de os aturar . A
não t erem fil ho s , tão útil quanto anterior ou mais, método bastante tradicional, utilizando esponjas do mar introd
no Egito Antigo, por exemplo. Há magias para sedução, rejeição e fidelidade, para prosperar no trabalho honesto
oráculos para saber do presente e do futuro, feitiços e contra-feitiços.
O CAPÍTULO IV resgata a figura do mago egípcio Janes [que, juntamente com seu parceiro, Jambres], que con
disputa de poderes mágicos. Este personagem, o mago egípcio Janes, pouco lembrado nos dias correntes, tamb
fortalecendo as alusões a uma ligação, mestra-discípulo entre o Santo Bruxo e a Bruxa de Évora. Em uma das v
ao cristianismo por Cipriano e termina sua vida como devota católica e ai a [camareira pessoal] de uma aristocrat
Neste capitulo,continuam sendo listadas magias relacionadas com questões mundanas,cotidianas,incluem ainda
para afinar, limpar e clarear a pele, tingir os cabelos. Em uma das formulas o mago Jambres promete: ... Fazer s
manc has e o utras ex crescências da pele .
O CAPITULO V é dedicado à Pastoromancia, denominação imprópria, refere-se à chamada, por ocultistas como
1875] e Papus [Gérard Anaclet Vincent Encausse, 1865-1916], magia dos campos, da tradição dos pastores da
São receitas, mais especificamente, medicinais, parte do arsenal curativo popular dos precários tempos medieva
combater, solitária [Taenia solium, verme platelminto], hemorróidas, lesões musculares, surdez, dor de dentes, f
de insetos e animais peçonhentos e, é claro, receita contra calos e verrugas.
O CAPITULO VI promete revelar o segredo alquímico da arte de fazer ouro. Porém, como sempre acontece nes
aproveitável sobre o tema. Aliás, passa longe de qualquer fórmula de produzir ouro.
São mencionadas umas poucas substâncias muito usadas em outras operações mágicas registradas em outros
ingredientes-chave da transmutação de materiais ordinários no precioso metal. Escreve Santander: Não f al ta m
co m pr ov em ess a op eração . E ainda: Est a arte éde g rand e facili dad e [!] mas exposta a graves perigos p or
demônio (SANTANDER, p 59).
É o demônio quem prepara e fornece certos pós empregados na transmutação. Dois metais e uma outra substân
essenciais: argenteo v ivo [possivelmente interpretável como Alumínio (Al) mas muito mais provável que seja red
elemento Mercúrio cujo símbolo é Hg provém da designação latina – hydrargyrum que significa prata líqu
De fato, o Mercúrio assemelha-se a uma prata buliçosa e vívida [por sua consistência entre o fluido e o gel]; daí t
mercúrio], aludindo a algo buliçoso, que não para quieto. Finalmente, entre os ingredientes da transmutação co
misterioso pó de Resh [Veja box ao lado].
Muito danificado, o pergaminho tem partes carcomidas e em alguns casos não se entende bem (SANTANDER, p 63] .
Tesouros da Galiza não se entende nada bem, por exigüidade de informações e/ou por arcaísmos nas denomina
valores.
Os termos usados nos textos dos 173 (cento e setenta três) segredos estão repletos de termos muito antigos. Ex
32 homens ... depositamo s 500 cunho s, na pon te do Pod eroso, àprof und eza de dois hom ens... [na]... res id
rama... entre dois tron cos de pinheiro, etc.
Deste modo, as dezenas de segredos que deveriam revelar ou fornecer chaves de localização de tesouros, pare
caçadores das arcas e das botijas perdidas.
Todavia, se um crédulo ou teimoso arriscar apostar em algumas das 173 dicas vai precisar estudar exaustivame
localidades, que mudaram muitas vezes, identificar personagens históricos, descobrir e converter para termos at
riquezas.
São 108 estes segredos que o autor (Santander) classifica como maravilhosos. Porém o capítulo, na realidade a
a superstição e o curandeirismo mais popular.
Pretender fornece fórmulas para uma miríade de problemas da condição humana: desde a prática de proezas so
domésticas mais ou menos ordinárias ou, ainda artifícios para alcançar desejos pouco louváveis e, certamente, n
Em termos gerais trata da saúde e higiene básicas, das virtudes de certas substâncias e de outras coisas, dos tr
operações consideradas sobrenaturais, como a levitação. São outros exemplos desses segredos textos que trata
Em saúde e higiene – Cura de dores de cabeça, evitar pulgas, carrapatos, percevejos, piolhos, formigas, mosca
diarréia, desinteira; para evitar a sarna, para conhecer enfermidades pelo exame da urina, para manter a castida
castidade...
Sobre virtudes de substâncias e de certas coisas – Do vinagre, da urina, do ovo, da Genebra, da Artemísia, d
muda das cobras. Para conhecer as enfermidades pelo exame da urina. Sobre as virtudes do sono.
Prodígios – Tirar o sal da água do mar. Separar água e vinho. Para que um cavalo pareça manco não sendo. P
jornada. Para o fogo não queimar. Descobrir infidelidades. Fabricar uma lâmpada invisível.
CAPÍTULO IX – FRENOLOGIA, ANTROPOMETRIA & FISIOGNOMIA
Trata-se de conhecer os indivíduos pelo estudo ou leitura do Crânio [fenologia], das Proporções e aspectos das
rosto [fisiognomia]. Capítulo bastante curioso que, muito provavelmente, mistura sabedoria popular com idéias ci
Além disso, esse tipo de conhecimento é matéria essencial para qualquer magista e/ou ocultista, uma tema esp
Ciências Humanas [no ocultismo].
Embora estas ciências tenham origens muito antigas, o texto de Santander em O Livro da Bruxa é fundamentad
Gall (1758-1828, que mapeou crânio e cérebro segundo suas supostas funções):
Gall, o notável médico e fisionomista... é o autor deste engenhoso sistema, que ensina a descobrir, por cl
paixões e virtudes de todas as pessoas pelo simples exame e configuração do crânio. ...Não se pode por
homens mais notáveis, tanto por seus talentos como por seus crimes, raras vezes apresentam cabeças r
Santander fornece a lista das faculdades cerebrais, que são trinta associadas a trinta regiões crânio-cérebro, ma
A seguir passa a tratar da fisiognomia, estudo dos traços e formas do rosto fornecendo algumas dicas sobre a lei
dos olhos, nariz, testa, boca, dentes, queixo, orelhas, mãos, pés.
Também fala dos tipos físicos como um todo, considerando altura, compleição, postura. Porém, o estudo aprese
comparado a outros publicados por ocultistas mais eruditos, como Papus [Gerard Anaclet Vincent Encausse, 186
CAPÍTULO X – CARTOMANCIA
Neste penúltimo capítulo, mais uma vez, misterioso manuscrito revelaria a técnica da suposta Bruxa de Évora no
cartas de um baralho comum.
Na mi sérrim a ch oça qu e abri gav a a bru xa, su a últim a mo rada an tes d a con denação e n um falso co m parti
um manusc rito esta nova arte de deitar as cartas, a que demos o no me de c artomancia cruzada e, ao q ue
fazer uso depoi s de ter-se ind ispo sto com Satanás [supostamente, a Bruxa converteu-se ao Cristianismo po
139].
Finalizando o Livro, Santander apresenta uma pequena coleção de casos de assombrações, sem faltar a célebre
personagens do folclore histórico, especialmente da península Ibérica, como: o Frade da Mão Furada e a Velha
ao Brasil colônia como atestam pesquisas de estudiosos do assunto.
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