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UFG- Fac.

de Direito
Disciplina: Direito Previdenciário
Prof. MS Milton Inácio Heinen
TEXTO Nº 8

Previdência complementar
1. Fundamentação legal – Art. 40, parágrafos 14, 15 e 16 e art. 202 da CF; Lei Complementar nº 108/01 e
nº 109/01; Decreto 4.206/02 (regulamenta a LC 109). Lei 12.618/12 = Prev. Complementar do Servidor
Público Federal.

2. Aspectos históricos.
A previdência complementar (privada) tem como referência histórica primeira no Montepio Geral de
Economia dos Servidores do Estado (Mongeral), instituído em 1835. Visava proporcionar complementação de
recursos aos trabalhadores quando deixassem de trabalhar.

Posteriormente, o Código Comercial estabeleceu seguro privado para viagens marítimas.

Contudo, o sistema de previdência privada complementar, fechada ou aberta foi regulado pela Lei n.
6.435/77, para complementar o sistema de previdência social oficial, então paga pelo INPS.

A Constituição Federal de 1988, no art. 40, parág. 15 e art. 202, com redação dada pela E.C. nº
20/98, passou a determinar que a previdência complementar deveria ser regulada por lei complementar. Daí
que a previdência complementar privada foi regulada pela LC nº 109/01, ao passo que a LC 108/01 regula a
relação dos entes públicos com as respectivas entidades fechadas de previdência complementar (prev.
Complementar de servidores públicos), cujas regras se encontram em vigor.

3. O Sistema de previdência Complementar Privada.


Dispõe o art. 202 da CF que: “ O regime de previdência privada, de caráter complementar e
organizado de forma autônoma em relação ao regime geral de previdência social, será facultativo, baseado
na constituição de reservas que garantam o benefício contratado, e regulado por lei complementar.”

O sistema não visa substituir a previdência oficial, mas parte do princípio de que esta, até mesmo em
razão do teto de contribuição e de benefício, apenas é para a subsistência básica, não é suficiente,
resultando daí o seu caráter de complementaridade. Completar renda dada pelo sistema oficial.

Elementos essenciais:

a) complementaridade = é a suplementação do limite estabelecido para os benefícios do RGPS, buscando


garantir renda equivalente à do período laboral; mas não há dependência uma da outra.
b) facultatividade = livre adesão à previdência complementar;
c) caráter privado = no regime de previdência complementar privado as entidades são constituídas na forma
de fundação privada, sociedade civil ou sociedade anônima, sem dirigismo estatal;
d) natureza contratual = adesão com base na livre contratação do valor e com previsão quanto ao benefício
futuro;
e) autonomia = o órgão regulador e fiscalizador (o Estado) fixa apenas padrões mínimos de funcionamento do
regime, visando garantir a estabilidade do sistema, com liberdade para a fixação dos planos de benefícios e o
estabelecimento da forma de custeio deste, bem como a política de investimento dos seus recursos.

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f) constituição de reservas que garantam os benefícios = trata-se do caráter atuarial do sistema que se baseia
na acumulação de recursos suficientes para fazer face aos benefícios (aposentadorias e pensões) a serem
pagos no futuro.
g) Segurança = através do controle de riscos, avaliação de cenários, avaliações atuariais periódicas,
fiscalização pelo poder público, entre outros. Há a garantia de acesso pleno às informações relativas à gestão
do plano por parte do participante.

Trata-se, portanto de regime de livre adesão e livre opção de retirar-se do sistema, com autonomia da
vontade na contratação, sendo o regime de capitalização.

A relação jurídica na previdência privada complementar, que se estabelece entre segurado e empresa
é de natureza contratual, securitária, de trato sucessivo (perdura no tempo e não se esgota numa prestação),
onerosa, sinalagmática. O sistema propicia a formação de uma espécie de poupança durante o tempo de
contribuição, para devolução posterior, nas condições pactuadas. Portanto, não é regime de repartição
simples, como ocorre no RGPS.

O Estado é o órgão regulador (Cfe. Art. 74 da L.Complementar nº 109/01) da Prev. Complementar


Privada. A ele cabem, entre outras funções, a de formular a política de previdência complementar, fiscalizar as
entidades de previdência complementar e proteger os interesses dos participantes e assistidos dos planos de
benefícios.

Denominações – participante = a pessoa física que adere ao plano; assistido = participante ou seu
beneficiário em gozo de benefício; patrocinador = empregador que vai contribuir financeiramente para o
plano; instituidor – quando é organização profissional que patrocina (tipo OAB).

O custeio do sistema de previdência complementar privada é feito pela empresa patrocinadora, pelos
participantes e por investimentos que também trazem renda.

4. Modalidades de entidades de previdência privada complementar:


4.1. Entidades abertas:
São entidades constituídas sob a forma de sociedade anônima, atuando geralmente com fins
lucrativos e exercendo outras atividades além da previdência complementar. Têm por objetivo instituir e
operar planos de benefícios de caráter previdenciário concedidos em forma de renda continuada ou
pagamento único.

Os planos de benefícios instituídos por entidades abertas podem ser individuais (acessíveis a
quaisquer pessoas físicas) ou coletivos (garantem benefícios a pessoas físicas vinculadas a uma pessoa
jurídica contratante.

Os planos podem prever benefícios em forma de renda continuada ou de pagamento único.


Normalmente os planos são estabelecidos para pagamento em 10, 15, 20 ou 25 anos, levando em conta
idade de ingresso, idade de saída e renda mensal pretendida.

4.2. Entidades fechadas: (também chamadas de fundos de pensão).


Nestas o acesso somente é possível aos empregados de uma empresa ou de grupos de empresas e
aos servidores da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, entes estes que são chamados

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de patrocinadores. Também podem ser constituídas por membros de pessoas jurídicas de caráter profissional,
classista ou setorial, sendo esta denominadas de instituidoras. Ex. OAB.

As entidades fechadas são chamadas de fundos de pensão. São integradas por empregados de uma
empresa ou de um grupo de empresas, como a Petros (da Petrobras), Previ (do Banco do Brasil). A entidade
privada de previdência complementar é constituída na forma de sociedade civil ou fundação, estruturada na
forma do art. 35 da L. Complementar 109/01, sem fins lucrativos, que tenha por objeto operar plano de
benefício de caráter previdenciário, não podendo prestar outros serviços fora de seu objeto específico.

Levando em conta os patrocinadores ou instituidores, as entidades fechadas podem ser singulares


(vinculadas a apenas um patrocinador ou instituidor) ou multipatrocinadas (mais de um patrocinador ou
instituidor).

Os planos de benefícios deverão prever:

A - benefício proporcional diferido para o caso de cessação de vínculo empregatício com o patrocinador ou
associativo com o instituidor antes da aquisição do direito ao benefício pleno;
B - portabilidade do direito acumulado pelo participante para outro plano (transferência dos recursos, aporte
financeiro já pago, de um plano para outro plano), no caso de perda do emprego e a obtenção de novo
emprego em outra empresa. É o direito de transferência do valor pago a um fundo de previdência para outro
fundo. Não significa resgate. A portabilidade só é possível no caso da perda do emprego do participante com
o patrocinador.
Como a lei deixou em aberto, garantindo, no art. 14,II da lei complementar nº 109, a mudança de um
plano para outro, sem especificar para qual, entende-se que a mudança pode tanto ser para plano aberto ou
fechado.
C – Os plano devem, ainda, prever resgate da totalidade das contribuições vertidas ao plano pelo
participante, descontadas as parcelas de custeio administrativo;
D – a faculdade de o participante manter o valor de sua contribuição e a do patrocinador, no caso de perda
parcial ou total da remuneração recebida, para assegurar a percepção dos benefícios nos níveis
correspondentes àquela remuneração.
Os planos de benefícios devem ser oferecidos a todos os empregados dos patrocinadores ou
associados dos instituidores, incluindo gerentes, diretores, etc, sendo facultativa a adesão.

O regime financeiro de capitalização é obrigatório para os benefícios de pagamento em prestações


que sejam programadas e continuadas.

5. Natureza do contrato:
O contrato de complementação de aposentadoria (previdência complementar) tem natureza de pacto
de adesão (contratual), resultando em poupança diferida, de longo prazo.

As condições gerais pactuadas no plano não integram o contrato de trabalho dos participantes. A
contribuição para o sistema é de natureza privada, caracterizando-se como prêmio de seguro.

6. Concessão dos benefícios:

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Cumpridas as condições previamente pactuadas, os benefícios são considerados direito adquirido do
participante, e não dependem de concessão de benefício pelo RGPS, por conta da autonomia que existe
entre os dois regimes, apesar do benefício ser chamado de previdência complementar (Súmula 92 do STJ).

Quanto à prescrição do direito aos benefícios, dispõe o art. 75 das Lei Complementar 109, que “sem
prejuízo do benefício, prescreve em 5 anos o direito às prestações não pagas nem reclamadas na época
própria, resguardados os direitos de menores dependentes, dos incapazes ou dos ausentes, na forma do
Código Civil.

7. Fiscalização do sistema.
Nos termos do art. 21, VII e art. 74, da Constituição Federal, compete à União (Min. Da Previdência e
Min.Fazenda) fiscalizar as operações de previdência privada, dispondo o art. 66 da L.Complementar 109/01
que as infrações serão apuradas mediante processo administrativo, na forma do regulamento (decreto nº
4.942/03), com aplicação subsidiária da Lei nº 9.784/99, que trata do processo administrativo no âmbito da
administração pública federal.

Isto significa dizer que, entre outros princípios, o processo administrativo deve se pautar pela
legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório,
segurança jurídica, interesse público, eficiência, levando em conta ainda a impessoalidade e a publicidade.
8. Previdência fechada de entes públicos.
O art. 40, parágrafo 14 da Constituição Federal determina que a União, os Estados, o DF e os
Municípios, desde que instituam regime de previdência complementar para seus respectivos servidores
titulares de cargo efetivo, poderão fixar, para o valor das aposentadorias e pensões a serem concedidas pelo
regime próprio, o limite máximo estabelecido para os benefícios do RGPS.

O regime previdenciário complementar dos servidores públicos será instituído por lei de iniciativa do
respectivo poder executivo, observado o disposto no art. 202 da CF, no que couber, por intermédio de
entidades fechadas de previdência complementar, de natureza pública, que oferecerão aos respectivos
participantes planos de benefícios somente na modalidade de contribuição definida.

A administração do plano é necessariamente por pessoa jurídica de direito Público – sendo


autorizada, pela Lei 12.618/12, a criação das fundações públicas – Funpresp Exe, Leg. E Judic.

Nestas condições é prévia fixação do valor a pagar, mas o segurado não sabe quanto vai receber.
Sendo fechado, apenas participam pessoas do respectivo ente público federado.

A adesão ao regime complementar por parte do servidor que ingressou no serviço público antes da
instituição do plano complementar somente ocorre por prévia e expressa opção deste.

A L. Complementar nº 108/01 é a lei disciplinadora da previdência complementar fechada da União,


dos Estados, do Distrito Federal, e dos Municípios, inclusive as suas autarquias, fundações sociedades de
economia mista e empresas controladas direta ou indiretamente, enquanto patrocinadoras de entidades
fechadas de previdência complementar. Referida lei trata da relação destes entes públicos com as
respectivas entidades fechadas de previdência complementar. Estas entidades de previdência fechada serão
organizadas sob a forma de fundação ou sociedade civil, sem fins lucrativos.

Quanto aos planos de benefícios, as regras gerais são as seguintes:

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- carência mínima de 60 contribuições mensais a plano de benefícios e cessação do vínculo com o
patrocinador, para se tornar elegível a um benefício de prestação que seja programada e continuada;
- concessão de benefício pelo regime de previdência ao qual o participante esteja filiado por intermédio de
seu patrocinador, quando se tratar de plano na modalidade benefício definido, instituído depois da publicação
da Lei Complementar 108/01
A União, Estados, DF e municípios somente poderão contribuir com recursos financeiros para
entidades de previdência privada de caráter complementar na condição de patrocinadoras do respectivo
plano.
Na condição de patrocinador, o ente público contribuirá, como limite máximo, para o sistema, no valor
da contribuição normal do segurado ou participante.
Como dito inicialmente, na medida em que União e Estados (e também os municípios) criam a
previdência complementar pública, como autorizado pela CF (art. 40), passam a limitar as contribuições e
benefícios do seu RPPs ao mesmo teto (de benefícios) do RGPS.
.x.x.

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