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Resumo
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1.Estudante do quarto ano de Artes Visuais na Universidade Estadual de Londrina. E-mail:
daniel.castro2712@gmail.com
2. Possui graduação em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (1988), mestrado em
História Antiga e Medieval na Universidade Federal do Rio de Janeiro (1995), doutorado em História
Social pela Universidade de São Paulo (2004) e pós-doutorado pela Universidade Federal Fluminense
(2013). Professora no Departamento de História da Universidade Estadual de Londrina, na área de
História Antiga e Medieval, tem sua atuação de docência e pesquisa voltada para o estudo da Idade
Média, da cultura visual na Idade Média, da iconografia franciscana. E-mail:
visalli@sercomtel.com.br
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Introdução
O Retábulo
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1 Informações disponibilizadas por e-mail pelo Museo del Prado
2. Um estilo de arte gótica tardia, por voltado dos anos de 1380 e 1450, difundida pela Europa ocidental.
Uma arte da corte, que testemunha uma sociedade que expressa o gosto pelo luxuoso, pelo esplendor e
pelas cerimônias. Privilegia as curvas, a elegância das cores e das atitudes, com um uso mais racional
da perspectiva e do naturalismo
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Imagem Medieval
Jean-Claude Schmitt vai além do papel de catequização dos leigos. Para isso,
ele disserta sobre o papel das imagens no medievo e sua relação “dinâmica com a
sociedade que a produziu” (Schmitt, 2007, p.33), e para assimilá-la, utiliza o termo latino
para os estudos das imagens desse período: “imago”. Numa conotação diversificada do
que compreendemos hoje como imagem, ela aborda a origem na designação do homem
como imagem e semelhança de Deus, como diz no livro de Gênesis (1, 20). A imagem
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confere ao homem uma superioridade ante as demais criaturas de Deus, mas torna-se
deformada com a entrada do pecado na história da humanidade. Como defende Santo
Agostinho (1984) em “Confissões”, o pecado original se tornou uma mancha para todos,
afastando-os da imagem pura e santa de Deus. “Devido à falta, o homem encontra-se
decaído, vivendo um estado de dissemelhança” (SCHMITT, 2007, p.13)
Por isso é que, de minha parte, prefiro usar também o termo imagem a
propósito da Idade Média, não para opô-Ia ao termo "arte", mas pelo
contrário, para restituir-lhe todos os seus significados e ter em conta os
três domínios da imago medieval: o das imagens materiais (imagines);
o do imaginário (imagina-tio), feito de imagens mentais, oníricas e
poéticas; e enfim o da antropologia e da teologia cristãs, fundadas numa
concepção do homem criado ad imaginem Dei e prometido à salvação
pela Encarnação do Cristo imago Patris. Ao considerar isoladamente
apenas um desses domínios, não se poderá chegar senão a uma visão
mutilada da história das imagens medievais. A tarefa comum dos
historiadores e dos historiadores da arte deve ser uma história da "imago
als kultur” (cultura da imagem) (SCHMITT, 2007, p.45)
Jérôme Baschet observa que as imagens medievais são destinadas a uma
função cultural ou devocional, não existindo finalidade estética individual de cada artista,
e sim uma “atitude estética e uma noção do belo que são parte integrante das concepções
e das práticas das imagens (BASCHET, 2006, p.482). E a noção do artista não é diferente
da função do artesão no medievo. Ou seja, a imagem não é apenas uma mensagem, mas
também um objeto, que tem a sua função vinculada às práticas sociais. Baschet (2006,
p.496) também amplia a complexidade das imagens, afirmando que as obras medievais
não teriam apenas como finalidade a catequização dos leigos, pois elas apresentam um
caráter extremamente erudito, para as quais a plena compreensão requer uma cultura que
apenas os clérigos possuem. Uma das funções mais importantes, segundo o mesmo autor,
é agregar com a veneração dos santos. Portanto, mesmo que as imagens não possuam
apenas um sentido catequético, ela está ligada a outras finalidades da Igreja, servindo
como decoração para os templos, para a liturgia, sacramentos e expandir o culto aos
santos padroeiros. Por isso, o autor, utiliza a palavra imagem-objeto para nomear essas
produções imagéticas medievais, vinculadas aos objetos aos quais adere, os quais lhes
confere funcionalidades, segundo os interesses de seus comitentes.
As representações do Retábulo
Na imagem 1 (figura 3), está presente a Virgem com anjos ao seu lado. Esses
são representados com asas de pássaros e instrumentos musicais, sugerindo venerarem ao
Cristo no colo de Maria. Dois anjos tocam uma harpa e um instrumento de corda no plano
superior, e outros dois anjos no plano inferior tocam outros instrumentos. Jesus no colo
da Virgem olha diretamente para o anjo superior à direita. Enquanto o olhar da Virgem
está diretamente voltado a Jesus.
Abaixo, a imagem 5 (Figura 8) está com uma parte da cena apagada por conta
do tempo. Ela aparenta ser a coroação da Santíssima Virgem, ao redor de anjos
cantarolando louvores. São oito anjos, quatro de cada lado, portando diversos
instrumentos.
Por último, Nicolás Francês pinta a cena da visita de São Francisco ao sultão
e companheiros, conforme a imagem 9 (figura13). Chiara Frugoni (2012), afirma sobre
como essa cena da vida do santo foi narrada ao longo dos anos. Tomás de Celano, o
primeiro hagiógrafo, insere uma atmosfera das cruzadas, e o modo rude e agressivo com
que o sultão o tratou e ao Frei Elias, chicoteando e torturando-os.
Analogia
cristã em atribuir essa narrativa em uma alegoria ao Sacrifício de Jesus na Cruz, Jesus,
como Isaac, era filho único, ambos carregaram morro acima a madeira para seu sacrifício
em uma colina de Jerusalém, que pertence a um dos morros da cadeia de Moriá. Outros
exemplos são as analogias de atribuição e de proporção, que são exemplificadas com
diversos Salmos. Um modelo para o primeiro retrata o homem justo que “é como uma
árvore plantada junto aos riachos: dá seu fruto no tempo devido e suas folhas nunca
murcham” (Sl 1,3). A segunda, ao demonstrar um fiel que “Como a corça bramindo por
águas correntes, assim minha alma brame por ti, ó meu Deus! (Sl 42, 2)
Boaventura, “o exemplo da mais alta perfeição evangélica” (Legenda Maior – XV, 1), e
desejava se encontrar e configurar a Cristo. Portanto, podemos relacionar neste contexto,
Simeão e São Francisco, onde os dois se encontraram com Jesus. De modo especial, o
Santo de Assis, o viu crucificado com asas de Serafim, e cinco cravos transpassando suas
mãos e pés e peito; no pensamento cristão, o povo santo de Israel se estendeu a todos os
fiéis batizados, e o arquétipo de salvação se estabelece na Cruz de Cristo. Por isso, pode-
se sugerir que há uma analogia entre as cenas, pois os dois viram em seus olhos a “tua
salvação”.
Conclusão
O retábulo tem uma função litúrgica que auxilia no espírito evangelizador das
fiéis. Na baixa Idade Média, além da função religiosa, ela adquiriu um caráter luxuoso e
mais sofisticado. De acordo com Jean-Claude Schmitt as imagens medievais possuem
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uma compreensão distintas como compreendemos hoje. A imagem confere ao fiel uma
conexão com o divino, se aproximando ao espiritual do homem que liga a Deus. Jérôme
Baschet, amplia os estudos, definindo o termo imagem-objeto, para qual, essa imagem
possui uma funcionalidade, além da divinização das imagem e catequização dos homens.
A imagem-objeto está vinculado ao comitente, ao contexto social, político e religioso.
Referências Bibliográficas
AGOSTINHO, Santo. Confissões. Tradução: Maria Luiza Jardim Amarante. São Paulo:
Paulus, 1984.
BASCHET, Jérôme. A civilização feudal: do ano mil à colonização da América.
Bauru: Edusc, 2006.
BIBLIA de Jerusálem. São Paulo: Paulus, 2002
BOAVENTURA. Legenda Maior. Disponível em: <
http://www.documentacatholicaomnia.eu/03d/1221-
1274,_Bonaventura,_Legenda_Major_Sancti_Francisci,_PT.pdf>. Acesso em: 11 de abr.
de 2019.
BOAVENTURA. Legenda Menor. Disponível em: < https://frajuvoc.pt/wp-
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CASTELNUOVO, Enrico. O Artista. In: GOFF, Jacques Le. O homem medieval.
Lisboa: Presença, 1989.
CELANO, Tomás de. Primeira Vida de São Francisco. Disponível em:
<http://www.clarissas.net.br/pdf/Obras%20completas%20de%20S%C3%A3o%20Franc
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