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1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 2
7. CONCLUSÃO .................................................................................................................. 15
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2. MOVIMENTOS DE LIBERTAÇÃO DA ÁFRICA ORIENTAL SOB DOMÍNIO
BRITÂNICO CASO TANZÂNIA
2.1. Rivalidades europeias na África Oriental
As lutas coloniais na África oriental envolviam três potências rivais: o sultanato de Zanzibar,
a Alemanha e a Inglaterra. Os primeiros em cena foram os árabes de Zanzibar, que tinham
interesses essencialmente comerciais na costa e no interior relacionado com o marfim e o
tráfico de escravos (Muriuki, 1974:301).
Antes da década de 1880 -1890, os negociantes árabes e swahilis contentavam -se com as
operações no litoral. Mas, no final do século, os interesses árabes no interior da África
oriental começaram a ser ameaçados pelos interesses dos alemães e dos britânicos, que
haviam penetrado pouco a pouco na região. Em vista dessa ameaça, os árabes tentaram
garantir para si o controle político de certas áreas, a fim de proteger suas concessões
comerciais. Instalaram então uma colônia em Ujiji, às margens do lago Tanganica, e em
Buganda prepararam um golpe contra os cristãos, depois de terem colaborado com eles para
afastar Mwanga do trono. Os europeus do interior, comerciantes e missionários, desejavam
que seu governo ocupasse a África oriental, para lhes garantir segurança e lhes permitir o
desenvolvimento de seus empreendimentos sem problemas. Os métodos de conquista
europeia não foram os mesmos em todo lugar (idem).
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totalidade, esses autores na dicotomia entre “resistentes”, tachados obviamente de heróis, e
“colaboradores”, tachados não menos evidentemente de traidores. Essa classificação é
resultado das lutas nacionalistas pela independência na África e no resto do mundo. Os
envolvidos nessas lutas tendiam a considerarem-se herdeiros de uma longa tradição de
combate, que remontava aos começos do século atual, se não a antes (OGOT, 1977:286).
Afirmava-se que a independência era uma coisa boa e que lutar por ela era natural. Em
consequência, todos quantos se haviam oposto à penetração europeia na África, em defesa de
sua independência, eram heróis a serem tomados como exemplo e aos quais se devia reservar
um lugar de honra na história do país que tivesse ganhado a independência através da
resistência à dominação colonial (idem).
No que diz respeito à África oriental da década de 1890, o exame de tais fatores permite
abordar corretamente os acontecimentos que sobrevieram. Mas, como declaram R. I. Rotberg
e Ali Mazrui: “Ninguém jamais pôs em dúvida que a introdução das normas e da dominação
ocidentais, assim como os controles que as acompanharam, foi questionada em toda parte
pelos africanos afetados”. Esse questionamento, entretanto, assumiu diferentes formas. “A
reação à invasão foi determinada pela estrutura de cada sociedade à época; embora
todas estivessem decididas a preservar sua soberania, a reação à invasão não foi uniforme”
(BENNETT e C. ROSBERG, 1961:21‑22).
A diversidade das reações ocorria segundo o grau de coesão social, ou outros aspectos de
cada sociedade. Na década de 1890 período que precedeu a ocupação europeia da África
oriental as sociedades da região haviam atingido diferentes etapas de organização social.
Algumas delas, como a dos Baganda e a dos Banyoro, em Uganda, a dos Banyambo, em
Tanganica (atual Tanzânia), e a dos Wanga, no Quênia, tinham elevado grau de centralização
política. Nessas sociedades, as reações à penetração estrangeira foram em geral decididas
pelo rei ou pelos dirigentes. O que na Europa vigorou em certa época, “a religião do rei é a
minha religião”, resume bem essa atitude. Outros grupos, como os Nyamwezi, na Tanzânia,
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ou os Nandi, no Quênia, estavam em vias de constituir governos centralizados (Muriuki,
1974:240).
Além disso, as diversas sociedades haviam tido diferentes níveis de contato com os europeus
ou com os árabes, duas forças externas que nessa época se defrontavam na África oriental. De
modo geral, as zonas costeiras tinham contato mais profundo com os europeus e os árabes do
que as do interior. Quanto aos povos interioranos, três ou quatro grupos tinham mais contato
com os árabes do que os outros. Os Akamba, no Quênia, e os Nyamwezi, na Tanzânia,
ocupavam-se com o comércio de caravanas, circulando entre o interior e a costa fenômeno
amiúde designado pelo nome de comércio de longa distância (Muriuki, 1974: 245).
Entre os Lua, no Quênia ocidental, a oposição ao domínio das missões levou à criação de
uma igreja independente, em 1910, sob a direção de John Owalo. Católico romano de início,
Owalo aderiu à missão escocesa de Kikuyu e depois passou para a Sociedade Missionária da
Igreja Anglicana, em Maseno.
Foi durante sua permanência em Maseno que ele afirma ter sido chamado por Deus a criar
sua própria religião. Conforme diz B. A. Ogot: Após muitas controvérsias, o distrito de
Nianza o autorizou a criar sua própria missão, desde que sua pregação não fosse subversiva
da boa ordem e da moralidade. Assim, em 1910, Owalo fundou sua missão, Nomia Luo,
proclamou-se profeta e negou a divindade de Cristo. Alguns anos depois, tinha mais de 10
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mil adeptos no distrito, havendo construído suas próprias escolas primárias e exigido uma
escola secundária livre de toda a influência ilegítima dos missionários (ibid. 65).
Em 1913 apareceu então o culto Mumbo, movimento contra o domínio branco, mas que
utilizava a religião como ideologia. Do país Lua, expandiu-se para os Gusii, mostrando assim
que era capaz de conquistar outras regiões do Quênia. O conteúdo político do movimento não
era dissimulado. Conforme explicava seu fundador, Onyango Dande, a religião cristã está
podre e é por isso que ela pede aos crentes que vistam roupa. Meus adeptos devem deixar
crescer o cabelo. Todos os europeus são vossos inimigos, mas está próximo o tempo em que
desaparecerão do vosso país. As autoridades coloniais reagiram interditando o movimento,
como faziam com todos quantos ameaçavam sua dominação (GIFFORD, 1982:243).
3.2. Os Akamba
Movimento semelhante apareceu entre os Akamba, no Quênia oriental. Também aí a religião
serviu como instrumento. O movimento teve início em 1911, impulsionado por uma mulher,
chamada Sistume, que se dizia possuída pelo Espírito. Mas logo assumiu sua direção um
jovem, Kiamba, que o transformou em oposição política ao colonialismo no Quênia.
Constituiu uma espécie de política para ajudá-la a concretizar suas ameaças, mas foi preso e
banido (GIFFORD, 1982:543).
Era uma forma de protesto contra o modo como os colonos de Ukambani tratavam a mão de
obra africana. De modo geral, os primeiros movimentos anticolonialistas do Quênia, no
período anterior à Primeira Guerra Mundial, surgiram nas regiões ocidentais e orientais do
país.
3.3. Os Giriama
Os Giriama da região costeira aproveitaram o conflito para se revoltarem contra a
administração colonial (1914), recusando-se a abandonar suas terras para permitir o
assentamento de colonos europeus. Eles várias vezes já haviam entrado em conflito com os
ingleses. Por ocasião da resistência dos Mazrui contra os britânicos, estes procuraram aliados
no meio dos Giriama seus antigos parceiros comerciais, que lhes forneceram alimentos. No
final do século XIX, os Giriama entraram em conflito com eles, por lhes terem proibido o
tráfico de marfim. Em 1913, opuseram-se à requisição de seus jovens para trabalhar em
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fazendas europeias e também à substituição de seu tradicional conselho de anciãos por chefes
coloniais (SMITH, 1976:211).
Para sublinhar e dar expressão concreta à unidade do povo africano, Kinjikitile Ngwale
edificou enorme altar, a que deu o nome de “Casa de Deus”, e preparou água medicinal
(mafi), a qual, dizia, tornaria invulneráveis às balas europeias os adeptos que a bebessem. O
movimento, que durou de julho de 1905 a agosto de 1907, alastrou-se por uma área de quase
26 mil quilômetros quadrados, no sul do Tanganica. Segundo G. C. K. Gwassa (ibid. 323).
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O Maji Maji englobava mais de 20 grupos étnicos diferentes. Na sua variedade étnica e nível
de organização, o Maji Maji era um movimento ao mesmo tempo (LIFFE, 1969:3.188).
África sob dominação colonial, 1880-1935 diferente e mais complexo do que as reações
anteriores e as formas de resistência opostas à dominação colonial. Estas últimas de modo
geral ficaram restritas às fronteiras étnicas. Por comparação com o passado, o Maji Maji foi
um movimento revolucionário que operou transformações fundamentais à escala da
organização tradicional. A guerra estalou na última semana de julho de 1905, e as primeiras
vítimas foram o fundador do movimento e seu assistente, enforcados no dia 4 de agosto do
mesmo ano. O pai de Kinjikitile reergueu sua bandeira, assumindo o título de Nyamguni,
uma das três divindades da região, e continuou a ministrar o maji, mas em vão. Os ancestrais
não retomaram conforme a promessa, e o movimento foram brutalmente suprimidos pelas
autoridades coloniais alemãs.
O levante Maji Maji foi o primeiro movimento de grande escala da África oriental. Nas
palavras de John Iliffe, foi “a derradeira tentativa das antigas sociedades do Tanganica de
destruir a ordem colonial pela força”. Tratava-se efetivamente de um movimento camponês
de massa contra a exploração colonial (ARRIGHI, 1970:517).
O regime alemão no Tanganica ficou abalado, e sua reação não se limitou a esmagar o
movimento: a política comunitária de cultura do algodão foi abandonada. Houve igualmente
algumas reformas na estrutura colonial especialmente no que concerne ao recrutamento e à
utilização de mão de obra, destinadas a tornar o colonialismo mais atraente. Mas a revolta
malogrou, e o malogro tornou inevitável “a extinção das sociedades tradicionais”. Entre 1890
e 1914 mutações dramáticas verificaram-se na África oriental (ARRIGHI, 1970:521).
O colonialismo foi imposto ao povo, de modo violento na maior parte dos casos, ainda que
às vezes a violência afivelasse a máscara da lei e do direito. As reações africanas ao primeiro
impacto foram uma mescla de confronto militar e tentativas diplomáticas, no vão esforço de
preservar a independência. Onde os africanos não reagiram de uma ou outra dessas maneiras,
aceitaram a invasão ou permaneceram indiferentes, salvo quando lhes impunham exigências
diretas. O estabelecimento do colonialismo significou a reorganização da vida política e
econômica das populações. Tributos foram impostos (idem).
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4. AS FORÇAS DA MUDANÇA NAS REGIÕES SOB DOMINAÇÃO BRITÂNICA
Logo após a Segunda Guerra Mundial, o governo trabalhista no poder na Grã‑Bretanha,
estava disposto a consumar reformas radicais no país e a acelerar a evolução das colônias. À
imagem dos seus homólogos socialistas e comunistas franceses da época, o Partido
Trabalhista Britânico não via nenhuma contradição entre estes dois objetivos.
5. O CASO DA TANZÂNIA
Embora a inflação e a baixa artificial nas cotações dos produtos durante a guerra tenham
contribuído para despertar o nacionalismo popular em Uganda, após 1945, e mesmo que a
ineficaz repressão dos intelectuais ganda, pelos britânicos, tenha permitido posteriormente ao
nacionalismo cristalizar o descontentamento popular, em lugar de fragmentá‑lo, em função
de critérios étnicos, no Tanganyika, por sua vez, foi a ingerência maciça dos britânicos na
política agrícola africana que desencadeou a primeira grande onda de protestos locais contra a
potência colonial.
Estas manifestações tiveram como efeito primário encorajar o que John Iliffe nomeou, desde
logo, “a agregação tribal” (Maguire, 1970:643).
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(idem). Em algumas regiões, este processo permitiu convencer tradicionais chefes a
reforçarem a unidade étnica. Este foi, notadamente, o caso junto aos chaggas, no nordeste do
país. Mas, este movimento de agregação étnica teve como consequência o enfraquecimento
da Tanganyika African Association (TAA), organização territorial reivindicativa de
funcionários, criada em 1929.
A TAA encorajara, durante os anos 30, a constituição de seções provinciais, cuja vitalidade
viria reforçar a organização central. Contudo, após a guerra, os protestos organizados sobre
bases étnicas, em escala nacional, tenderam a enfraquecê‑la antes que, paradoxalmente, o
novo questionamento das políticas coloniais se tornasse um dos eixos em torno dos quais esta
organização territorial readquiriria vitalidade e transformar‑se‑ia em um potente partido
político. O novo elã proveio da província dos Lagos, região do Tanganyika cujas dimensões
equivalem aproximadamente àquelas do Nyasaland (atual Malaui) e cuja produção agrícola
representava, em valor, por volta da metade das exportações agrícolas do Tanganyika
(Maguire, 1970:644).
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Mas, ao final de 1952, o impulso se havia quebrado, os melhores dirigentes haviam sido
transferidos para fora de Dar es‑Salaam e a Associação vegetaria, a tal ponto que os
animadores da seção da província dos Lagos chegariam a projetar a mudança da sua sede
para Mwanza. Foi então que um novo dirigente entrou em cena e coordenou as ações de
retomada. Em dois anos, a TAA transformou‑se em um fortíssimo partido político
autointitulado Tanganyika African Union (TANU), em 7 de julho de 1954 (Maguire,
1970:651).
A TANU tomou o poder em 1961. O seu verdadeiro fundador−se não levarmos em conta a
seção dos Lagos era um professor oriundo de um dos menores grupos étnicos do território:
Julius Nyerere. Em 1952, por ocasião do seu retorno da Grã‑Bretanha, onde acabara de
concluir os seus estudos, Nyerere fora descrito como um homem “sensibilizado pelos
problemas raciais”: ele “odiava a dominação estrangeira”, revela‑nos John Iliffe, “temia a
cumplicidade dos conservadores diante das ambições dos colonos e sabia que a África
rumava em direção a conflitos e à sua libertação” ( Iliffe, 1979:511).
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Em setembro de 1960, a TANU conquistou 70 cadeiras em um total de 71, por ocasião das
primeiras eleições para o Conselho Legislativo, no qual o modo de representação permitia aos
africanos obter uma maioria (JAPHET & JAPHET, 1967:500).
O seu estatuto de território sob tutela das Nações Unidas; enfim, a espetacular modificação da
importância estratégica conferida ao Tanganyika, tanto quanto ao Quênia, pelos britânicos
após 1956, consequência da radical revisão dos seus engajamentos militares ao leste do canal,
decorrente da affaire de Suez. Em outras palavras, invoca‑se geralmente, para explicar a
descolonização do Tanganyika, a combinação de dois fatores: a força das reivindicações
nacionalistas locais, por um lado, e o desengajamento político voluntário dos britânicos, por
outro (JAPHET & JAPHET, 1967:500).
6. TIPO DE RESISTÊNCIA
Na Tanzânia, o tipo de reação foi semelhante ao do Quênia: emprego da força e alianças
diplomáticas. Mbunga entrou em choque com as forças alemãs em 1891 e em 1893, enquanto
o interior adiante de Kilwa lutava de armas na mão sob o comando de Hasan Bin Omari. Os
Maconde combateram a invasão alemã até 1899. Os Hehe, sob o comando de Mkwawa,
bateram os alemães em 1891, matando cerca de 290. Os alemães trataram então de se vingar
da derrota. Em 1894 atacaram a região dos Hehe, tomando sua capital. Mkwawa, porém,
conseguiu escapar. Perseguido durante quatro anos por seus inimigos, suicidou-se para não
ser capturado (Muriuki, 1974:312).
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Lançou-se também numa campanha contra os Nyamwezi, o que lhe permitiu arregimentar
guerreiros, mais tarde empregados contra os alemães.
Não faltou quem pegasse em armas, no Tanzânia, para defender a independência. Mas os
alemães, tal como os ingleses no Quênia, tinham se tornado mestres na arte de dividir para
reinar, aliando-se a um grupo contra outro. E encontraram bastantes aliados. Os Marealle e os
Kibanga, que viviam perto do Kilimandjaro e dos montes de Usambara para citar apenas dois
exemplos, estavam entre aqueles que viam nos alemães um meio de fazer amigos para vencer
os inimigos. Esses povos, como os Wanga do Quênia, achavam que podiam manipular os
alemães, quando, afinal, o contrário se dava.
O objetivo era dirigir as economias da África oriental para a exportação, tornando a região
dependente dos arranjos econômicos feitos na Europa. O território deveria transformar-se em
fonte de matérias-primas e não em área de industrialização (Muriuki, 1974:254).
Deve ser mencionado também que Julius Nyerere era um ardente defensor do pan-
africanismo, tendo concebido inclusive atrasar o processo de independência de Tanganica
para que toda África Oriental se tornasse independente ao mesmo tempo e constituísse um
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Estado federal de alguma espécie, mas não teve apoio político interno para isto. Contudo,
manteve-se um defensor da integração com seus vizinhos (KI-ZERBO, 1972).
As tensões políticas na ilha fizeram com que o sultão proibisse partidos supostamente
radicais; expulsasse políticos de oposição considerados perigosos, como o presidente do PAS,
Abeid Karume, que passou a residir em Tanganica, ou o marxista Abdulrahman Babu, líder
do partido árabe dissidente Umma; e politizasse a polícia, expulsando policiais negros
(ASEKA, 2005).
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7. CONCLUSÃO
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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Nyerere, J. K. 1967b, Socialism and rural development, Dar es-Salaam, Imprensa Nacional -
Obra Traduzida.
Nyerere, J. K. 1967c, Education for self-reliance, Dar es-Salaam, Ministério da Informação e
do Turismo - Obra Traduzida.
História geral da África, VIII: África desde 1935 / editado por Ali A. Mazrui e Christophe
Wondji. Brasília : UNESCO, 2010.
História geral da África, IV: África do século XII ao XVI / editado por Djibril Tamsir Niane.
2.ed. rev. Brasília : UNESCO, 2010.
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