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Índice

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 2

2. MOVIMENTOS DE LIBERTAÇÃO DA ÁFRICA ORIENTAL SOB DOMÍNIO


BRITÂNICO CASO TANZÂNIA ............................................................................................ 3

2.1. Rivalidades europeias na África Oriental.................................................................... 3

2.2. Movimentos de libertação da África oriental .............................................................. 3

3. MOVIMENTOS ANTICOLONIALISTAS NA ÁFRICA ORIENTAL ATÉ 1914 .......... 5

3.1. Os Mazru e os Nandi ................................................................................................... 5

3.2. Os Akamba .................................................................................................................. 6

3.3. Os Giriama .................................................................................................................. 6

3.4. O Maji Maji ................................................................................................................. 7

4. AS FORÇAS DA MUDANÇA NAS REGIÕES SOB DOMINAÇÃO BRITÂNICA ...... 9

5. O CASO DA TANZÂNIA ................................................................................................. 9

6. TIPO DE RESISTÊNCIA ................................................................................................ 12

7. CONCLUSÃO .................................................................................................................. 15

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 16


1. INTRODUÇÃO

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2. MOVIMENTOS DE LIBERTAÇÃO DA ÁFRICA ORIENTAL SOB DOMÍNIO
BRITÂNICO CASO TANZÂNIA
2.1. Rivalidades europeias na África Oriental
As lutas coloniais na África oriental envolviam três potências rivais: o sultanato de Zanzibar,
a Alemanha e a Inglaterra. Os primeiros em cena foram os árabes de Zanzibar, que tinham
interesses essencialmente comerciais na costa e no interior relacionado com o marfim e o
tráfico de escravos (Muriuki, 1974:301).

Antes da década de 1880 -1890, os negociantes árabes e swahilis contentavam -se com as
operações no litoral. Mas, no final do século, os interesses árabes no interior da África
oriental começaram a ser ameaçados pelos interesses dos alemães e dos britânicos, que
haviam penetrado pouco a pouco na região. Em vista dessa ameaça, os árabes tentaram
garantir para si o controle político de certas áreas, a fim de proteger suas concessões
comerciais. Instalaram então uma colônia em Ujiji, às margens do lago Tanganica, e em
Buganda prepararam um golpe contra os cristãos, depois de terem colaborado com eles para
afastar Mwanga do trono. Os europeus do interior, comerciantes e missionários, desejavam
que seu governo ocupasse a África oriental, para lhes garantir segurança e lhes permitir o
desenvolvimento de seus empreendimentos sem problemas. Os métodos de conquista
europeia não foram os mesmos em todo lugar (idem).

De maneira geral, caracterizaram-se pelo emprego da força, em combinação, quando


possível, com alianças diplomáticas com um grupo contra outro. O recurso à força tomou a
forma de invasões, que também eram espetáculos de pilhagem. Para facilitar o avanço terra
adentro, foram construídas estradas de ferro. A via férrea de Uganda, que ligava o interior do
Quênia e de Uganda ao litoral, chegou à bacia do lago Vitória em 1901 (idem).

Os alemães também construíram estradas e ferrovias. A primeira estrada de ferro partiu de


Tanga em 1891 e alcançou o sopé dos montes Usambara em 1905.

2.2. Movimentos de libertação da África oriental


Muitos são os autores que já falaram sobre as reações africanas à penetração e à dominação
coloniais no final do século XIX e começos do século XX. Na sua maioria, se não na

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totalidade, esses autores na dicotomia entre “resistentes”, tachados obviamente de heróis, e
“colaboradores”, tachados não menos evidentemente de traidores. Essa classificação é
resultado das lutas nacionalistas pela independência na África e no resto do mundo. Os
envolvidos nessas lutas tendiam a considerarem-se herdeiros de uma longa tradição de
combate, que remontava aos começos do século atual, se não a antes (OGOT, 1977:286).

Afirmava-se que a independência era uma coisa boa e que lutar por ela era natural. Em
consequência, todos quantos se haviam oposto à penetração europeia na África, em defesa de
sua independência, eram heróis a serem tomados como exemplo e aos quais se devia reservar
um lugar de honra na história do país que tivesse ganhado a independência através da
resistência à dominação colonial (idem).

Este ponto de vista é uma tentativa de utilizar critérios do presente de utilizá-los


retroativamente na interpretação dos acontecimentos do passado. No período colonial, as
autoridades referiam-se aos que resistiam como pouco atilados, e aos que colaboravam, como
inteligentes. Os atuais historiadores nacionalistas da África oriental condenam os pretensos
colaboradores, especialmente os chefes, e louvam os resistentes (Muriuki, 1974:233).

No que diz respeito à África oriental da década de 1890, o exame de tais fatores permite
abordar corretamente os acontecimentos que sobrevieram. Mas, como declaram R. I. Rotberg
e Ali Mazrui: “Ninguém jamais pôs em dúvida que a introdução das normas e da dominação
ocidentais, assim como os controles que as acompanharam, foi questionada em toda parte
pelos africanos afetados”. Esse questionamento, entretanto, assumiu diferentes formas. “A
reação à invasão foi determinada pela estrutura de cada sociedade à época; embora
todas estivessem decididas a preservar sua soberania, a reação à invasão não foi uniforme”
(BENNETT e C. ROSBERG, 1961:21‑22).

A diversidade das reações ocorria segundo o grau de coesão social, ou outros aspectos de
cada sociedade. Na década de 1890 período que precedeu a ocupação europeia da África
oriental as sociedades da região haviam atingido diferentes etapas de organização social.

Algumas delas, como a dos Baganda e a dos Banyoro, em Uganda, a dos Banyambo, em
Tanganica (atual Tanzânia), e a dos Wanga, no Quênia, tinham elevado grau de centralização
política. Nessas sociedades, as reações à penetração estrangeira foram em geral decididas
pelo rei ou pelos dirigentes. O que na Europa vigorou em certa época, “a religião do rei é a
minha religião”, resume bem essa atitude. Outros grupos, como os Nyamwezi, na Tanzânia,

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ou os Nandi, no Quênia, estavam em vias de constituir governos centralizados (Muriuki,
1974:240).

Além disso, as diversas sociedades haviam tido diferentes níveis de contato com os europeus
ou com os árabes, duas forças externas que nessa época se defrontavam na África oriental. De
modo geral, as zonas costeiras tinham contato mais profundo com os europeus e os árabes do
que as do interior. Quanto aos povos interioranos, três ou quatro grupos tinham mais contato
com os árabes do que os outros. Os Akamba, no Quênia, e os Nyamwezi, na Tanzânia,
ocupavam-se com o comércio de caravanas, circulando entre o interior e a costa fenômeno
amiúde designado pelo nome de comércio de longa distância (Muriuki, 1974: 245).

3. MOVIMENTOS ANTICOLONIALISTAS NA ÁFRICA ORIENTAL ATÉ 1914


No decurso desse primeiro período colonial, cada localidade reagia de forma diferente, exceto
nos raros casos de ações coordenadas à escala de uma área maior.

3.1. Os Mazru e os Nandi


No Quênia, como em outras regiões da África oriental, as primeiras reações de povos como
os Mazrui e os Nandi tinham por finalidade proteger sua independência em face das ameaças
estrangeiras. As reações ulteriores, no interior do país, visavam livrar o povo da opressão e da
dominação coloniais. Embora não se tratasse de um período de lutas nacionalistas, na
moderna acepção da palavra, certos sinais indicavam o começo de tal combate (BENNETT &
ROSBERG, 1961:45).

Entre os Lua, no Quênia ocidental, a oposição ao domínio das missões levou à criação de
uma igreja independente, em 1910, sob a direção de John Owalo. Católico romano de início,
Owalo aderiu à missão escocesa de Kikuyu e depois passou para a Sociedade Missionária da
Igreja Anglicana, em Maseno.

Foi durante sua permanência em Maseno que ele afirma ter sido chamado por Deus a criar
sua própria religião. Conforme diz B. A. Ogot: Após muitas controvérsias, o distrito de
Nianza o autorizou a criar sua própria missão, desde que sua pregação não fosse subversiva
da boa ordem e da moralidade. Assim, em 1910, Owalo fundou sua missão, Nomia Luo,
proclamou-se profeta e negou a divindade de Cristo. Alguns anos depois, tinha mais de 10

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mil adeptos no distrito, havendo construído suas próprias escolas primárias e exigido uma
escola secundária livre de toda a influência ilegítima dos missionários (ibid. 65).

Em 1913 apareceu então o culto Mumbo, movimento contra o domínio branco, mas que
utilizava a religião como ideologia. Do país Lua, expandiu-se para os Gusii, mostrando assim
que era capaz de conquistar outras regiões do Quênia. O conteúdo político do movimento não
era dissimulado. Conforme explicava seu fundador, Onyango Dande, a religião cristã está
podre e é por isso que ela pede aos crentes que vistam roupa. Meus adeptos devem deixar
crescer o cabelo. Todos os europeus são vossos inimigos, mas está próximo o tempo em que
desaparecerão do vosso país. As autoridades coloniais reagiram interditando o movimento,
como faziam com todos quantos ameaçavam sua dominação (GIFFORD, 1982:243).

3.2. Os Akamba
Movimento semelhante apareceu entre os Akamba, no Quênia oriental. Também aí a religião
serviu como instrumento. O movimento teve início em 1911, impulsionado por uma mulher,
chamada Sistume, que se dizia possuída pelo Espírito. Mas logo assumiu sua direção um
jovem, Kiamba, que o transformou em oposição política ao colonialismo no Quênia.
Constituiu uma espécie de política para ajudá-la a concretizar suas ameaças, mas foi preso e
banido (GIFFORD, 1982:543).

Era uma forma de protesto contra o modo como os colonos de Ukambani tratavam a mão de
obra africana. De modo geral, os primeiros movimentos anticolonialistas do Quênia, no
período anterior à Primeira Guerra Mundial, surgiram nas regiões ocidentais e orientais do
país.

3.3. Os Giriama
Os Giriama da região costeira aproveitaram o conflito para se revoltarem contra a
administração colonial (1914), recusando-se a abandonar suas terras para permitir o
assentamento de colonos europeus. Eles várias vezes já haviam entrado em conflito com os
ingleses. Por ocasião da resistência dos Mazrui contra os britânicos, estes procuraram aliados
no meio dos Giriama seus antigos parceiros comerciais, que lhes forneceram alimentos. No
final do século XIX, os Giriama entraram em conflito com eles, por lhes terem proibido o
tráfico de marfim. Em 1913, opuseram-se à requisição de seus jovens para trabalhar em

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fazendas europeias e também à substituição de seu tradicional conselho de anciãos por chefes
coloniais (SMITH, 1976:211).

Tratava-se de uma reação ao recrutamento de mão de obra e às tentativas de desarmá-los.


Uma das grandes preocupações dos colonialistas era garantir que os povos sob seu domínio
não tivessem condições de resistência à cruel exploração a eles imposta. Por isso era
importante que não possuíssem armas de fogo, o que, aliás, explica a campanha desencadeada
para recuperar as armas e para desarmar a população local. Os Acholi recusaram-se a
entregar voluntariamente seus fuzis, mas foram vencidos no conflito que se seguiu.

3.4. O Maji Maji


O mais grave desafio ao colonialismo na África oriental, nesse período, o levante dos Maji
Maji, veio do Tanganica, com o emprego da religião e da magia como meios de revolta. O dr.
Townsend resumiu com muita exatidão a situação que caracterizava a história colonial alemã:
Durante os primeiros 20 anos da história colonial alemã os autóctones foram tratados com
muita crueldade e injustamente explorados desapossados de suas terras, de seus lares, de sua
liberdade e de sua vontade, desapossados brutalmente da vida por aventureiros, funcionários
coloniais ou companhias de comércio, suas corajosas e incessantes revoltas não foram senão
o testemunho trágico de sua impotência e de seu infortúnio. Essa situação não era exclusiva
das colônias alemãs, mas típica do colonialismo em todo o período de sua dominação na
África (MADELEY, 1982:319).

Para unir os povos do Tanganica contra os alemães, o chefe do movimento, Kinjikitile


Ngwale, que vivia em Ngarambe, apelou para suas crenças religiosas. Falou-lhes que a
unidade e a liberdade de todos os africanos era um princípio fundamental, portanto deviam
unir-se e combater pela liberdade contra os alemães. Disse-lhes que a guerra era ordenada por
Deus e que seus ancestrais retomariam à vida para ajudá-los.

Para sublinhar e dar expressão concreta à unidade do povo africano, Kinjikitile Ngwale
edificou enorme altar, a que deu o nome de “Casa de Deus”, e preparou água medicinal
(mafi), a qual, dizia, tornaria invulneráveis às balas europeias os adeptos que a bebessem. O
movimento, que durou de julho de 1905 a agosto de 1907, alastrou-se por uma área de quase
26 mil quilômetros quadrados, no sul do Tanganica. Segundo G. C. K. Gwassa (ibid. 323).

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O Maji Maji englobava mais de 20 grupos étnicos diferentes. Na sua variedade étnica e nível
de organização, o Maji Maji era um movimento ao mesmo tempo (LIFFE, 1969:3.188).

África sob dominação colonial, 1880-1935 diferente e mais complexo do que as reações
anteriores e as formas de resistência opostas à dominação colonial. Estas últimas de modo
geral ficaram restritas às fronteiras étnicas. Por comparação com o passado, o Maji Maji foi
um movimento revolucionário que operou transformações fundamentais à escala da
organização tradicional. A guerra estalou na última semana de julho de 1905, e as primeiras
vítimas foram o fundador do movimento e seu assistente, enforcados no dia 4 de agosto do
mesmo ano. O pai de Kinjikitile reergueu sua bandeira, assumindo o título de Nyamguni,
uma das três divindades da região, e continuou a ministrar o maji, mas em vão. Os ancestrais
não retomaram conforme a promessa, e o movimento foram brutalmente suprimidos pelas
autoridades coloniais alemãs.

O levante Maji Maji foi o primeiro movimento de grande escala da África oriental. Nas
palavras de John Iliffe, foi “a derradeira tentativa das antigas sociedades do Tanganica de
destruir a ordem colonial pela força”. Tratava-se efetivamente de um movimento camponês
de massa contra a exploração colonial (ARRIGHI, 1970:517).

O regime alemão no Tanganica ficou abalado, e sua reação não se limitou a esmagar o
movimento: a política comunitária de cultura do algodão foi abandonada. Houve igualmente
algumas reformas na estrutura colonial especialmente no que concerne ao recrutamento e à
utilização de mão de obra, destinadas a tornar o colonialismo mais atraente. Mas a revolta
malogrou, e o malogro tornou inevitável “a extinção das sociedades tradicionais”. Entre 1890
e 1914 mutações dramáticas verificaram-se na África oriental (ARRIGHI, 1970:521).

O colonialismo foi imposto ao povo, de modo violento na maior parte dos casos, ainda que
às vezes a violência afivelasse a máscara da lei e do direito. As reações africanas ao primeiro
impacto foram uma mescla de confronto militar e tentativas diplomáticas, no vão esforço de
preservar a independência. Onde os africanos não reagiram de uma ou outra dessas maneiras,
aceitaram a invasão ou permaneceram indiferentes, salvo quando lhes impunham exigências
diretas. O estabelecimento do colonialismo significou a reorganização da vida política e
econômica das populações. Tributos foram impostos (idem).

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4. AS FORÇAS DA MUDANÇA NAS REGIÕES SOB DOMINAÇÃO BRITÂNICA
Logo após a Segunda Guerra Mundial, o governo trabalhista no poder na Grã‑Bretanha,
estava disposto a consumar reformas radicais no país e a acelerar a evolução das colônias. À
imagem dos seus homólogos socialistas e comunistas franceses da época, o Partido
Trabalhista Britânico não via nenhuma contradição entre estes dois objetivos.

Retrospectivamente, a constatação mostra‑se totalmente distinta. Percebe‑se nos dias atuais


que, em razão da sua própria envergadura, os projetos socioeconômicos de desenvolvimento
na África Oriental e Central, no imediato pós‑guerra, constituíam, na realidade e para retomar
os termos de dois historiadores britânicos, uma “segunda ocupação colonial” da região, com
efeitos muito mais desestabilizadores para a dominação colonial exercida pela Grã‑Bretanha,
comparativamente à presença simbólica de um ou dois representantes africanos nas
assembleias legislativas locais, presença a qual os dirigentes britânicos conferiram tamanha
importância na época (BLUNDELL, 1964:211).

Os britânicos, não encontrando na África Oriental e Central os problemas que a derrota e a


perda de prestígio impuseram aos franceses em Madagáscar, deveriam também eles, enfrentar
os graves problemas econômicos que a Segunda Guerra Mundial provocara na metrópole.

5. O CASO DA TANZÂNIA
Embora a inflação e a baixa artificial nas cotações dos produtos durante a guerra tenham
contribuído para despertar o nacionalismo popular em Uganda, após 1945, e mesmo que a
ineficaz repressão dos intelectuais ganda, pelos britânicos, tenha permitido posteriormente ao
nacionalismo cristalizar o descontentamento popular, em lugar de fragmentá­‑lo, em função
de critérios étnicos, no Tanganyika, por sua vez, foi a ingerência maciça dos britânicos na
política agrícola africana que desencadeou a primeira grande onda de protestos locais contra a
potência colonial.

Estas manifestações tiveram como efeito primário encorajar o que John Iliffe nomeou, desde
logo, “a agregação tribal” (Maguire, 1970:643).

As políticas coloniais haviam provocado mudanças socioeconômicas que “haviam acentuado


a diferenciação regional e as rivalidades” entre os grupos instruídos, temerosos em acelerar o
desenvolvimento em sua zona étnica. Em razão disto, muitas associações com bases étnicas
nasceram e serviram posteriormente como vetores da oposição a políticas impopulares

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(idem). Em algumas regiões, este processo permitiu convencer tradicionais chefes a
reforçarem a unidade étnica. Este foi, notadamente, o caso junto aos chaggas, no nordeste do
país. Mas, este movimento de agregação étnica teve como consequência o enfraquecimento
da Tanganyika African Association (TAA), organização territorial reivindicativa de
funcionários, criada em 1929.

A TAA encorajara, durante os anos 30, a constituição de seções provinciais, cuja vitalidade
viria reforçar a organização central. Contudo, após a guerra, os protestos organizados sobre
bases étnicas, em escala nacional, tenderam a enfraquecê­‑la antes que, paradoxalmente, o
novo questionamento das políticas coloniais se tornasse um dos eixos em torno dos quais esta
organização territorial readquiriria vitalidade e transformar­‑se­‑ia em um potente partido
político. O novo elã proveio da província dos Lagos, região do Tanganyika cujas dimensões
equivalem aproximadamente àquelas do Nyasaland (atual Malaui) e cuja produção agrícola
representava, em valor, por volta da metade das exportações agrícolas do Tanganyika
(Maguire, 1970:644).

Para retomar os termos de um especialista, as reformas na administração local, introduzidas


após a guerra, pelos britânicos, tiveram como efeito, nesta província tanto quanto em muitas
outras regiões, “mais facilmente impor políticas agrícolas decididas em alto escalão,
preferencialmente a aumentar a participação das bases nas instituições democráticas”
(Maguire, 1970:646).

Numerosas manifestações populares de descontentamento eclodiram na província e a seção


local da TAA incorporou as demandas expressas, estabelecendo assim um elo entre a ação
reivindicativa nas cidades e as reivindicações dos camponeses. Foi dessa forma que ela
começou a transformar­‑se em movimento político. Esta seção executou três notáveis ações:
ela se implantou nos campos, organizou a ofensiva contra o regime colonial e, enfim, exigiu o
fortalecimento da organização central e a convocação de uma conferência nacional (Iliffe,
1979:509).

Os mais marcantes e conhecidos artífices deste renascimento foram M. Bomani, B. Munanka


e S. Kandoro. No escritório central de Dar es­‑Salaam, as atividades desenvolvidas
imediatamente após o conflito mundial haviam sido lançadas conjuntamente por funcionários
e habitantes instruídos das cidades, os quais haviam combatido na Birmânia durante a guerra.

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Mas, ao final de 1952, o impulso se havia quebrado, os melhores dirigentes haviam sido
transferidos para fora de Dar es­‑Salaam e a Associação vegetaria, a tal ponto que os
animadores da seção da província dos Lagos chegariam a projetar a mudança da sua sede
para Mwanza. Foi então que um novo dirigente entrou em cena e coordenou as ações de
retomada. Em dois anos, a TAA transformou­‑se em um fortíssimo partido político
autointitulado Tanganyika African Union (TANU), em 7 de julho de 1954 (Maguire,
1970:651).

A TANU tomou o poder em 1961. O seu verdadeiro fundador−se não levarmos em conta a
seção dos Lagos era um professor oriundo de um dos menores grupos étnicos do território:
Julius Nyerere. Em 1952, por ocasião do seu retorno da Grã­‑Bretanha, onde acabara de
concluir os seus estudos, Nyerere fora descrito como um homem “sensibilizado pelos
problemas raciais”: ele “odiava a dominação estrangeira”, revela­‑nos John Iliffe, “temia a
cumplicidade dos conservadores diante das ambições dos colonos e sabia que a África
rumava em direção a conflitos e à sua libertação” ( Iliffe, 1979:511).

Nyerere soube explorar ao máximo o estatuto internacional do Tanganyika, território sob


tutela das Nações Unidas, objetivando acelerar a sua descolonização.

Em 1946, a Grã­‑Bretanha não apreciara em nada as condições mediante as quais o antigo


mandato do Tanganyika, a ela conferido pela Sociedade das Nações, fora transformado em
acordo sob tutela das Nações Unidas. O anticolonialismo já se transformara em um potente
sentimento, junto às Nações Unidas, o Tanganyika encontraria, muito brevemente, grandes
ecos quando lá expunha os seus pleitos. O imbróglio das terras meru cerca de 3.000 merus
haviam sido expulsos de Engare Nanyuki para ceder lugar a colonos europeus demonstrou,
em 1952, a veracidade desta boa receptividade; três anos mais tarde, um ano após a
transformação da TAA em TANU, o prestígio de Nyerere aumentara consideravelmente após
uma viagem a Nova Iorque e o número de membros da TANU progredira exponencialmente.

Em 1956, Edward Twining, o governador bem pouco socialista do Tanganyika, persuadiu a


maioria dos membros não governamentais do Conselho Legislativo (os quais, evidentemente,
eram todos à época nomeados não eleitos) a criarem um partido político rival, o United
Tanganyika Party (UTP). Contudo, o UTP cairia muito rapidamente no ostracismo utupu em
swahili (idem).

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Em setembro de 1960, a TANU conquistou 70 cadeiras em um total de 71, por ocasião das
primeiras eleições para o Conselho Legislativo, no qual o modo de representação permitia aos
africanos obter uma maioria (JAPHET & JAPHET, 1967:500).

O seu estatuto de território sob tutela das Nações Unidas; enfim, a espetacular modificação da
importância estratégica conferida ao Tanganyika, tanto quanto ao Quênia, pelos britânicos
após 1956, consequência da radical revisão dos seus engajamentos militares ao leste do canal,
decorrente da affaire de Suez. Em outras palavras, invoca‑se geralmente, para explicar a
descolonização do Tanganyika, a combinação de dois fatores: a força das reivindicações
nacionalistas locais, por um lado, e o desengajamento político voluntário dos britânicos, por
outro (JAPHET & JAPHET, 1967:500).

6. TIPO DE RESISTÊNCIA
Na Tanzânia, o tipo de reação foi semelhante ao do Quênia: emprego da força e alianças
diplomáticas. Mbunga entrou em choque com as forças alemãs em 1891 e em 1893, enquanto
o interior adiante de Kilwa lutava de armas na mão sob o comando de Hasan Bin Omari. Os
Maconde combateram a invasão alemã até 1899. Os Hehe, sob o comando de Mkwawa,
bateram os alemães em 1891, matando cerca de 290. Os alemães trataram então de se vingar
da derrota. Em 1894 atacaram a região dos Hehe, tomando sua capital. Mkwawa, porém,
conseguiu escapar. Perseguido durante quatro anos por seus inimigos, suicidou-se para não
ser capturado (Muriuki, 1974:312).

Os povos do litoral de Tanzânia organizaram sua resistência em torno da pessoa de Abushiri.


Do ponto de vista social, a costa de Tanzânia, assim como a do Quênia, foi dominada durante
séculos pelas culturas árabes e swahili.

A população, mestiça de africanos e árabes (os casamentos inter-raciais eram comuns),


ocupava-se do comércio local. As populações locais, em especial os árabes, trataram então de
organizar a resistência. Abushiri, o chefe da resistência, nascera em 1845, de pai árabe e mãe
oromo (Muriuki, 1974:317).

O exemplo de muitos outros, opunha-se à influência do sultanato de Zanzibar na costa e até


defendia a independência. Na juventude, organizara expedições ao interior do país, em busca
de marfim. Com os lucros obtidos, comprou uma fazenda e cultivava cana-de-açúcar.

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Lançou-se também numa campanha contra os Nyamwezi, o que lhe permitiu arregimentar
guerreiros, mais tarde empregados contra os alemães.

Depois, atacaram Kilwa, matando os dois alemães que ali se encontravam; em 22 de


setembro, assaltaram Bagamoyo com 8 mil homens. Mas os alemães, que deram à guerra o
nome de “revolta árabe”, despacharam Hermann von Wissmann, que chegou a Zanzibar em
abril de 1889 e atacou Abushiri na sua fortaleza, próximo de Bagamoyo, obrigando -o a
retirar -se (LONSDALE, 1982:6). Abushiri refugiou-se no norte, em Uzigua, onde, traído,
foi entregue ao inimigo e enforcado em Pangani, no dia 15 de dezembro de 1889.

Não faltou quem pegasse em armas, no Tanzânia, para defender a independência. Mas os
alemães, tal como os ingleses no Quênia, tinham se tornado mestres na arte de dividir para
reinar, aliando-se a um grupo contra outro. E encontraram bastantes aliados. Os Marealle e os
Kibanga, que viviam perto do Kilimandjaro e dos montes de Usambara para citar apenas dois
exemplos, estavam entre aqueles que viam nos alemães um meio de fazer amigos para vencer
os inimigos. Esses povos, como os Wanga do Quênia, achavam que podiam manipular os
alemães, quando, afinal, o contrário se dava.

O objetivo era dirigir as economias da África oriental para a exportação, tornando a região
dependente dos arranjos econômicos feitos na Europa. O território deveria transformar-se em
fonte de matérias-primas e não em área de industrialização (Muriuki, 1974:254).

Após a obtenção da independência em 1961, Nyerere se tornou Primeiro-Ministro, mas no


início de 1962, renunciou ao cargo, transferindo-o para Rashidi Kawawa. Durante este ano,
Nyerere se retirou para o interior, buscando estruturar a ideologia que conduziria o TANU, de
modo a viabilizar os processos de transformação social que Nyerere tinha como objetivo. No
mesmo ano, o Parlamento se proclamou Assembleia Constituinte e promoveu mudanças
radicais na Constituição original, guiado por Nyerere. Proclamou-se a república e criou-se o
cargo de Presidente, que passava a ser o próprio Julius Nyerere.

O presidente embarcou gradualmente em um processo socializante inovador que visava a


adaptar princípios socialistas às realidades tradicionais africanas (MICHEL, 2005; KI-
ZERBO, 1972; RIBEIRO, 1998).

Deve ser mencionado também que Julius Nyerere era um ardente defensor do pan-
africanismo, tendo concebido inclusive atrasar o processo de independência de Tanganica
para que toda África Oriental se tornasse independente ao mesmo tempo e constituísse um

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Estado federal de alguma espécie, mas não teve apoio político interno para isto. Contudo,
manteve-se um defensor da integração com seus vizinhos (KI-ZERBO, 1972).

Em 1963, o sultanato de Zanzibar, no litoral de Tanganica, atingiu sua independência plena,


deixando de ser um protetorado britânico. Alguns anos antes, o sultanato se convertera em
monarquia constitucional, politicamente dominada por dois partidos, o Partido Nacionalista
de Zanzibar (PNZ), majoritariamente árabe, e o Partido Afro-Shiraz (PAS).

Dado que a economia zanzibarita era dominada pela monocultura de cravo-da-índia, e as


plantações de cravo pertenciam a árabes, o PNZ era o partido das elites, alinhado ao sultão.
De fato, o PAS obteve maior votação nas eleições, mas os distritos eleitorais eram
desenhados com o objetivo de assegurar maioria parlamentar ao PNZ (ASEKA, 2005).

As tensões políticas na ilha fizeram com que o sultão proibisse partidos supostamente
radicais; expulsasse políticos de oposição considerados perigosos, como o presidente do PAS,
Abeid Karume, que passou a residir em Tanganica, ou o marxista Abdulrahman Babu, líder
do partido árabe dissidente Umma; e politizasse a polícia, expulsando policiais negros
(ASEKA, 2005).

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7. CONCLUSÃO

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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Brevie, J. 1930, Discurso de abertura no Conselho de Governo da AOF.

Castro, A. de 1978, O sistema colonial português em África, Lisboa, Editorial Caminho.

Iliffe, J. 1979, A modern history of Tanganyika, Cambridge, CUP. - Obra traduzida

Ki-Zerbo, J. 1972, Histoire de l’Afrique noire, Paris, Hatier - Obra Traduzida.

Nyerere, J. K. 1967b, Socialism and rural development, Dar es-Salaam, Imprensa Nacional -
Obra Traduzida.
Nyerere, J. K. 1967c, Education for self-reliance, Dar es-Salaam, Ministério da Informação e
do Turismo - Obra Traduzida.

História geral da África, VIII: África desde 1935 / editado por Ali A. Mazrui e Christophe
Wondji. Brasília : UNESCO, 2010.

História geral da África, IV: África do século XII ao XVI / editado por Djibril Tamsir Niane.
2.ed. rev. Brasília : UNESCO, 2010.

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