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694/2012
(JULGAMENTO COLEGIADO EM PRIMEIRO GRAU DE
CRIMES PRATICADOS POR ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS)
Márcio André Lopes Cavalcante*
Trata-se da Lei n. 12.694/2012 que, em linhas gerais, busca conferir mecanismos de segurança aos
magistrados que atuam processos criminais.
A Lei é fruto de anteprojeto de lei sugerido ao Congresso Nacional pela Associação dos Juízes Federais do
Brasil (AJUFE) com o intuito de garantir maior segurança aos magistrados, especialmente àqueles que
atuam em processos envolvendo organizações criminosas.
No processo de elaboração do anteprojeto original, destaca-se a participação dos excelentes juízes federais
Sergio Fernando Moro e Marcello Granado. Infelizmente, durante sua tramitação no Parlamento, o projeto
sofreu algumas alterações que desnaturaram vários pontos relevantes da proposta.
Vamos tecer algumas considerações sobre cada uma dessas oito relevantes alterações.
Exemplo de instauração antes da ação penal: colegiado para que seja decidido um pedido de interceptação
telefônica requerido no bojo do inquérito policial.
Exemplo de instauração após a ação penal: colegiado para decidir quanto à regressão de regime prisional.
O colegiado pode ser instaurado para atuar no processo principal (ação penal) ou em processo incidente
(ex: decidir incidente de falsidade).
O julgamento colegiado de que trata esta Lei poderá ser adotado no Tribunal do Júri?
Sim, com exceção do veredicto dos jurados.
Assim, a decisão sobre a matéria de fato e se o acusado deve ser absolvido no julgamento em Plenário,
deverá ser sempre tomada pelos jurados, por força constitucional (art. 5º, XXXVIII, c).
No entanto, o colegiado de juízes de que trata esta lei poderá atuar em todas as demais fases do Júri: no
inquérito, na fase de formação da culpa (1ª fase do Júri) e até mesmo no julgamento em Plenário,
elaborando, por exemplo, a sentença na qual será realizada a dosimetria da pena.
Ressalte-se que esse foi o entendimento do STF ao julgar a ADI 4414/AL, rel. Min. Luiz Fux, 30 e 31.5.2012,
proposta contra a Lei Estadual n. 6.806/2007, de Alagoas.
Quem instaura
O colegiado é instaurado pelo juiz natural da causa, em decisão fundamentada.
PONTO POLÊMICO:
Apesar da Lei exigir que a decisão de instauração seja fundamentada, não se pode impor ao magistrado
que apresente fatos cabais ou efetivas provas de que há risco à sua integridade física, considerando que
ainda não se está julgando os agentes envolvidos na suposta organização criminosa.
Ex: se o processo refere-se a um grupo de extermínio acusado da prática de vários homicídios, inclusive de
autoridades, ainda que não tenha havido uma ameaça real à integridade física do magistrado, este, diante
das circunstâncias que envolvem tais investigados/acusados, poderá concluir que há risco pessoal na
condução singular do processo e, então, decidir pela instauração do colegiado.
Seria irrazoável exigir que o juiz primeiro recebesse ameaças para que só então decidisse pela instauração
do colegiado, até mesmo porque, dependendo do grau de periculosidade do grupo criminoso, os ataques à
integridade do julgador poderiam ser perpetrados mesmo sem uma ameaça prévia.
Não se pode perder de vista, portanto, o caráter de “precaução” da lei (que possui um sentido mais amplo
que a mera “prevenção”), abarcando também riscos ainda não totalmente conhecidos e provados.
PONTO IMPORTANTE:
Outra questão relevante é que o juiz, na decisão que instaura o colegiado, deve ter cautela quanto às
expressões empregadas, não podendo cometer excesso de linguagem contra os investigados/acusados, sob
pena de tornar-se suspeito para julgar a causa (ex: quando o juiz afirma que está instaurando o colegiado
porque o processo “trata de um grupo criminoso perverso, de alta periculosidade, que já fez várias vítimas”.
Nessa hipótese, o juiz já teria prejulgado os envolvidos e não seria mais isento para conduzir a causa).
Deve, assim, o magistrado evitar a chamada “eloquência acusatória”, terminologia utilizada pelo ex-
Ministro do STF Sepúlveda Pertence para criticar o excesso verbal do julgador na sentença de pronúncia do
Júri.
Apesar da lei falar apenas em risco à integridade física do juiz (§ 1º do art. 1º), parece razoável (e até óbvio)
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entender que o colegiado poderá ser instaurado também quando as circunstâncias indicarem risco à
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Composição:
O colegiado é formado por 3 (três) magistrados:
o juiz natural do processo; e
mais 2 (dois) outros juízes escolhidos por sorteio eletrônico dentre aqueles de competência criminal em
exercício no primeiro grau de jurisdição.
Os juízes criminais que poderão ser escolhidos nesse sorteio eletrônico são apenas os que estiverem lotados
na mesma comarca (Justiça Estadual) ou seção judiciária (Justiça Federal) que o juiz do processo?
NÃO. Se isso fosse exigido, a lei estaria inviabilizada, considerando que existem inúmeras comarcas no
interior do Brasil nas quais não há três juízes atuando.
Justamente por essa razão, a Lei previu que, se o colegiado for formado por juízes domiciliados em cidades
diversas, a reunião entre eles para tomar alguma decisão poderá ser feita pela via eletrônica (§ 5º do art. 1º).
Repare que a Lei não exigiu que a reunião do colegiado fosse feita por videoconferência, mencionando
apenas a expressão “via eletrônica”.
Desse modo, as discussões e deliberações do colegiado poderão ser tomadas por variadas formas
eletrônicas, que vão desde o uso dos sistemas de processos virtuais até uma simples troca de e-mails,
devendo, em todos os casos, ser assegurada que a manifestação dos juízes é autêntica, o que pode ser feito
com o uso de certificação digital.
Vale ressaltar que os tribunais, no âmbito de suas competências, deverão expedir normas regulamentando a
composição do colegiado e os procedimentos a serem adotados para o seu funcionamento (§ 7º do art. 1º).
Comunicação à Corregedoria
A Lei determina que o juiz que instaurou o colegiado deverá dar conhecimento de sua decisão ao órgão
correicional.
juízes.
A Corregedoria tem competência para rever a instauração do colegiado?
Reputo que não. Em meu sentir, a decisão do magistrado que instaura o julgamento colegiado possui
natureza jurisdicional, sendo tomada com base em seu livre convencimento motivado, somente podendo
ser impugnada mediante habeas corpus em caso de decisão manifestamente ilegal.
Desse modo, entendo que é vedado à Corregedoria imiscuir-se no mérito da decisão tomada.
É possível, no entanto, como já dito, que o órgão correicional analise eventual e patente utilização
reiterada dessa medida por parte do magistrado, tendo em vista que nenhum direito pode ser utilizado de
forma abusiva.
Competência do colegiado
A Lei afirma que “a competência do colegiado limita-se ao ato para o qual foi convocado” (§ 3º do art. 1º).
Ex: o juiz do Processo n. XXX/2012 decide instaurar um colegiado de magistrados para decidir sobre os
pedidos da autoridade policial para busca e apreensão e prisão temporária dos membros de uma
organização criminosa que estaria praticando diversos delitos. Esse colegiado não terá competência para
sentenciar a ação penal que for proposta, salvo se a decisão de instauração do colegiado também
mencionar expressamente a prática desse ato.
Desse modo, na decisão do magistrado que determinar a instauração deverá ser mencionado
expressamente o(s) ato(s) para o(s) qual(is) o colegiado foi convocado.
Importante esclarecer que a lei não determina que o colegiado seja instaurado para a prática de apenas um
ato processual. Assim, é possível que o colegiado seja convocado para a prática de uma série de atos
referentes a um único processo. É o caso, por exemplo, da decisão do juiz da causa que instaura o
colegiado para a instrução e julgamento do Processo n. YYY/2012.
Conforme já sustentado, dependendo do nível de ameaça e da periculosidade real da organização
criminosa, o mais recomendado é que toda a condução do processo seja realizada pelo colegiado, devendo,
no entanto, o ato de convocação ser expresso nesse sentido.
Decisões do colegiado
Sempre que for necessário que o colegiado profira alguma decisão ele irá se reunir.
Se os juízes forem domiciliados em cidades diferentes, a reunião poderá ser feita pela via eletrônica.
Conforme já explicado, apesar do texto da lei não mencionar este aspecto, entendo que a reunião do
colegiado para discutir a decisão deverá ser sigilosa, dela participando apenas os magistrados e,
eventualmente, servidores da Justiça para auxiliá-los. Os advogados e os réus não podem estar presentes.
O resultado da decisão será o que for deliberado pela unanimidade dos três juízes ou, em caso de
divergência, prevalecerá a posição dos dois juízes que comungarem do mesmo entendimento.
Caso os três juízes discordem entre si, deve ser buscado, internamente, o consenso ou que pelo menos dois
magistrados adiram à mesma conclusão.
Após chegar à decisão, esta deverá ser formalizada (escrita), devidamente fundamentada, conforme se
exige de toda decisão judicial.
As decisões do colegiado deverão ser sempre assinadas pelos três juízes, ainda que um deles, durante as
discussões internas, tenha discordado do que os outros dois decidiram.
Para uma primeira corrente, a resposta seria sim. Tão logo foi publicada, surgiram as primeiras alegações
de que a Lei seria inconstitucional.
Pierpaolo Cruz Bottini, em entrevista ao site CONJUR (www.conjur.com.br), ataca, principalmente, dois
aspectos do novel diploma:
a) O fato da decisão do colegiado não fazer referência a eventual voto divergente
(“O réu tem o direito de saber quais os argumentos expostos, seu teor, e os fundamentos das decisões,
em especial daquela que divergiu dos demais. Em tempos de transmissão ao vivo das sessões do STF, do
CNJ, e de aprovação da lei de transparência, parece um despropósito a criação de decisões ocultas, que
não são expostas ou juntadas aos autos”);
b) A violação da Lei à garantia da identidade física do juiz, já que dois magistrados que integrarão o
colegiado poderão sentenciar sem terem participado de fases anteriores do processo, como a produção
de provas, interrogatórios e audiências.
“Quisesse ser a lei coerente com a identidade física, estabeleceria um colegiado que participasse
também dos atos probatórios, da instrução do processo”.
O Vice-Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil também declarou, segundo reportagem do site
Migalhas (www.migalhas.com.br), que haveria aspectos de inconstitucionalidade em tal previsão.
O fato da decisão colegiada não fazer referência ao voto divergente não viola a garantia da ampla defesa, o
princípio da publicidade ou qualquer outro dispositivo constitucional.
A decisão do colegiado deverá ser sempre fundamentada, de modo que o investigado/acusado que for
prejudicado saberá exatamente os argumentos utilizados para chegar àquela conclusão. Tendo
conhecimento disso, poderá perfeitamente impugnar a decisão nas instâncias superiores, apontando os
eventuais erros da sentença.
Não é necessário que o réu saiba os argumentos de eventual voto vencido para que possa interpor o
recurso ou exercer a ampla defesa.
Inexiste também violação ao princípio da publicidade, tendo em vista que a decisão do colegiado será
regularmente publicada. Ademais, o interesse social na proteção da independência do Poder Judiciário e da
segurança dos magistrados recomenda o sigilo do voto divergente sendo, neste caso, mínimo o sacrifício à
publicidade em prol da segurança dos juízes.
Não há violação ao princípio do juiz natural, considerando que é ele quem convoca o colegiado, dele
fazendo parte. Ressalte-se, ainda, que a composição do colegiado é feita mediante sorteio eletrônico
(critério impessoal) que envolve apenas os magistrados com competência criminal, não havendo
designações casuísticas dos julgadores. Em verdade, a previsão legal reforça uma das facetas da garantia do
juízo natural, que é a da certeza de um julgamento imparcial, o que somente é possível quando o
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Por fim, não se pode falar em inconstitucionalidade por ofensa ao princípio da identidade física do juiz.
Em primeiro lugar, esse princípio não tem exigência constitucional e somente foi inserido, no processo
penal brasileiro, pela Lei n. 11.719/2008. Antes dessa alteração, inexistia esse princípio no processo penal
e nem por isso os feitos sentenciados por outro juiz que não o da instrução foram considerados nulos por
violação à ampla defesa.
O juiz da causa, que realizou a instrução, também participará do colegiado e poderá passar aos demais
magistrados suas impressões pessoais sobre a prova testemunhal.
Ademais, o princípio da identidade física do juiz não é absoluto, tendo sido reconhecido pela jurisprudência
que a ele se aplicam as exceções previstas no art. 132 do CPC (STJ. HC 219.482-SC, Rel. Min. Og Fernandes,
julgado em 27/3/2012).
As críticas à Lei são fruto do misoneísmo e de uma cultura jurídica predominante no direito brasileiro de
que toda e qualquer iniciativa que vise a tornar mais eficiente à persecução penal é logo etiquetada de
inconstitucional, como se a ampla defesa impedisse a implementação de novos instrumentos estatais de
combate à criminalidade.
Na Itália, o combate ao crime organizado somente foi possível com a proteção da magistratura, o que
ocorreu por meio de uma medida ainda mais drástica: a adoção do instituto do “juiz sem rosto” em que a
decisão é publicada sem a identificação de sua autoria, ou seja, não é divulgado o nome do juiz que
sentenciou o processo. Também pode ser encontrado o juez sin rostro nas legislações da Colômbia (art. 158
do Decreto 2.700, de 30 de novembro de 1991) e do Peru (art. 13 do Decreto-Lei 25.475, de 5 de agosto
de 1992).
O “juiz sem rosto” seria inconstitucional no direito brasileiro, mas a figura do julgamento colegiado em
primeira instância, na forma como disciplinada pela Lei n. 12.694/2012, não padece de qualquer vício.
Vale ressaltar que, no direito comparado, segundo informa o juiz Marcus Abreu, o instituto mais próximo
do “julgamento colegiado”, adotado pela Lei n. 12.694/2012, seria a Cour d’Assises, prevista em países
como a França, Suíça e Bélgica (http://anamages.org.br/web/artigos/a-lei-12-6942012-nao-cria-a-figura-
dos-juizes-sem-rosto-nem-nada-assemelhado-a-figura-mais-proxima-seria-a-cour-dassises/).
É constitucional a previsão de que, na 17ª Vara Criminal da Capital de Alagoas, os processos sejam
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A decisão foi tomada pelo Plenário da Corte na ADI 4414/AL, rel. Min. Luiz Fux, julgado em 30 e 31.5.2012.
Desse modo, imagina-se, com base nesse importante precedente, que o STF não considerará
inconstitucional a previsão do julgamento colegiado trazido pela Lei n. 12.694/2012.
PONTO IMPORTANTE:
Trata-se do primeiro diploma legal interno que traz uma definição de organização criminosa.
CRÍTICA:
De forma completamente desnecessária e infeliz, o art. 2º inicia sua redação afirmando que a definição de
organização criminosa por ele dada é “para os efeitos desta Lei”, sugerindo, portanto, que este conceito
não poderia ser aplicado a outros diplomas legais.
O problema prático está na Lei n. 9.034/95. Essa Lei prevê meios de prova e procedimentos investigatórios
para ilícitos praticados por quadrilhas, organizações criminosas e associações criminosas. Ocorre que a Lei
n. 9.034/95 não conceituou o que seja organização criminosa.
PONTO POLÊMICO:
O ponto polêmico, portanto, é o seguinte: a definição de organização criminosa trazida pelo art. 2º da Lei
n. 12.694/2012 pode ser utilizada para a Lei n. 9.034/95?
Sim. A Lei n. 12.694/2012 traz legítima definição do que seja organização criminosa, podendo este
conceito ser aplicado para os demais diplomas que versam sobre direito penal e processual penal. Quando
o art. 2º utiliza a expressão “para os efeitos desta Lei” não está querendo afirmar que tal definição somente
é aplicável à Lei n. 12.694/2012. Trata-se apenas de uma expressão tradicional utilizada pela técnica
legislativa sempre que a lei conceitua algum instituto.
Desse modo, a definição do art. 2º da Lei n. 12.694/2012 pode ser aplicada para os fins da Lei n. 9.034/95.
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PONTO IMPORTANTE:
Quais são as características essenciais da organização criminosa segundo o seu conceito legal?
CARACTERÍSTICAS REFERÊNCIAS PRESENTES NA REDAÇÃO DO ART. 2º DA LEI
a) Pluralidade de agentes “3 (três) ou mais pessoas”
b) Estabilidade ou permanência “associação” / “mediante a prática de crimes”
c) Organização “estruturalmente ordenada”
d) Divisão de tarefas “caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que
informalmente”
e) Finalidade de lucro ou de outras “com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem
vantagens não econômicas de qualquer natureza, mediante a prática de crimes”
f) Restrito a crimes abstratamente mais “crimes cuja pena máxima seja igual ou superior a 4
graves ou de caráter transnacional (quatro) anos ou que sejam de caráter transnacional”
PONTO IMPORTANTE:
Tradicionalmente, afirma-se que a organização criminosa possui como uma de suas características a
finalidade lucrativa. A Lei n. 12.694/2012 foi além e afirmou que a organização criminosa pode ser
caracterizada mesmo que a prática dos crimes não tenha por finalidade o lucro. Assim, pela definição legal,
a organização criminosa pode ter outras finalidades que não apenas econômicas, como por exemplo,
sexuais, segregacionistas, religiosas, políticas, entre outras.
PONTO IMPORTANTE:
A transnacionalidade é uma característica essencial do crime organizado no Brasil?
NÃO. Nem toda organização criminosa se dedica a crimes transnacionais, sendo esta uma característica
acidental.
PONTO IMPORTANTE:
Qual é a diferença entre organização criminosa e quadrilha?
ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA QUADRILHA
Prevista no art. 2º da Lei n. 12.694/2012. Prevista no art. 288 do Código Penal.
Não constitui um tipo penal (crime), mas sim uma Constitui um tipo penal autônomo, ou seja, um
figura penal que revela um modo organizacional crime próprio.
para a prática de delitos.
Exige a associação de, no mínimo, 3 pessoas. Exige a associação de, no mínimo, 4 pessoas.
Exige estabilidade ou permanência. Também exige estabilidade ou permanência.
Exige organização. Não exige organização.
Exige divisão de tarefas. Não exige divisão de tarefas.
Exige que as pessoas tenham o objetivo de obter, Não se exige esse objetivo para configurar a
direta ou indiretamente, vantagem de qualquer quadrilha, bastando que os quadrilheiros tenham
natureza. “o fim de cometer crimes”.
Somente se configura se a associação for para a Configura-se a quadrilha se a associação for para a
prática de crimes cuja pena máxima seja igual ou prática de quaisquer crimes, não importando a
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PONTO POLÊMICO:
Antes da Lei n. 12.694/2012, havia conceituação legal no Brasil de organização criminosa?
1ª corrente: SIM 2ª corrente: NÃO
O conceito de organização criminosa já podia ser Utilizar a Convenção de Palermo para definir
encontrado na Convenção das Nações Unidas organização criminosa violaria o princípio da
contra o Crime Organizado Transnacional – legalidade, segundo o qual não pode haver crime
Convenção de Palermo, ratificada pelo Brasil por sem lei anterior que o defina, nem pena sem
meio do Decreto 5.015/2004: prévia cominação legal (CF, art. 5º, XXXIX).
Artigo 2. Para efeitos da presente Convenção,
entende-se por: a) ‘Grupo criminoso organizado’ - Assim, seria necessária a edição de uma lei em
grupo estruturado de três ou mais pessoas, sentido formal e material definindo o que seja
existente há algum tempo e atuando organização criminosa.
concertadamente com o propósito de cometer
uma ou mais infrações graves ou enunciadas na
presente Convenção, com a intenção de obter,
direta ou indiretamente, um benefício econômico
ou outro benefício material.
É a corrente adotada por José Paulo Baltazar É a posição de Raul Cervini, Luiz Flávio Gomes,
Júnior. Alberto Silva Franco.
O STJ também trilhava no mesmo sentido: HC Na jurisprudência, assim já decidiu a 1ª Turma do
171.912/SP, Rel. Ministro Gilson Dipp, Quinta STF (HC 96007/SP, rel. Min. Marco Aurélio, julgado
Turma, julgado em 13/09/2011. em 12.6.2012).
III – ALIENAÇÃO ANTECIPADA DOS BENS QUE TIVEREM SIDO OBJETO DE MEDIDAS ASSECURATÓRIAS
Alienação antecipada
O combate a determinados tipos de criminalidade, como o tráfico de drogas, o crime organizado, os crimes
contra a ordem tributária, os crimes contra o sistema financeiro, os crimes contra a administração pública e
outros delitos que geram para seus autores lucros financeiros, somente pode ser feito de forma eficaz se
houver medidas estatais que persigam o produto e os proveitos decorrentes desses crimes.
O objetivo, portanto, é o de privar as pessoas dedicadas a certos crimes do produto de suas atividades
criminosas e, assim, eliminar o principal incentivo a essa atividade.
A experiência mostra que, mesmo a prisão cautelar, sem a indisponibilidade dos bens, é de pouca utilidade
nesse tipo de criminalidade porque a organização criminosa continua atuando. Os líderes, mesmo presos,
comandam as atividades de dentro das unidades prisionais ou então a organização escolhe substitutos que
continuam a praticar os mesmos delitos, considerando que ainda detêm os recursos financeiros para a
prática criminosa.
Desse modo, é indispensável que sejam tomadas medidas para garantir a indisponibilidade dos bens e
valores pertences ao criminoso ou à organização criminosa, ainda que estejam em nome de interpostas
pessoas, vulgarmente conhecidas como “laranjas”.
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Ocorre que, após tornar indisponíveis os bens dos investigados, acusados ou interpostas pessoas, surge um
problema prático para o Poder Público: o que fazer com tais bens enquanto não ocorre o trânsito em julgado
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de uma sentença condenatória, quando então haveria o perdimento desses bens em favor da União?
A solução que tem sido defendida pelos estudiosos para esses casos, sendo, inclusive, recomendada pelo
Conselho Nacional de Justiça (Recomendação n. 30/2010), é a alienação antecipada dos bens.
Previsão legal:
Art. 144-A. O juiz determinará a alienação antecipada para preservação do valor dos bens sempre que
estiverem sujeitos a qualquer grau de deterioração ou depreciação, ou quando houver dificuldade para sua
manutenção.
Desse modo, na primeira tentativa de alienação, os bens são vendidos pelo preço mínimo da avaliação
judicial.
Se não conseguir nenhuma proposta nesse valor na primeira vez, deverá ser realizado um segundo leilão.
Nesse segundo leilão, os bens podem ser vendidos pelo preço mínimo de 80% da avaliação judicial.
Se os bens apreendidos forem dinheiro (inclusive moeda estrangeira), títulos, valores mobiliários ou cheques:
O juízo determinará a conversão do numerário apreendido em moeda nacional corrente e o depósito das
correspondentes quantias em conta judicial.
O valor dos títulos da dívida pública, das ações das sociedades e dos títulos de crédito negociáveis em bolsa
será o da cotação oficial do dia, provada por certidão ou publicação no órgão oficial.
A alienação antecipada é inconstitucional por violar o princípio do devido processo legal, o princípio da
presunção de inocência e o direito de propriedade?
NÃO. O devido processo legal não é afrontado, considerando que a constrição sobre os bens da pessoa não
é feita de forma arbitrária, sendo, ao contrário, prevista na lei que traz os balizamentos para que ela possa
ocorrer.
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Não há violação ao princípio da presunção de inocência, considerando que este não é absoluto e não
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impede a decretação de medidas cautelares contra o réu desde que se revelem necessárias e proporcionais
Produto do crime: é a vantagem direta conseguida pelo condenado com a prática do delito.
Ex: no roubo de um celular, o produto do crime é o aparelho.
Proveito do crime: é a vantagem indireta conseguida pelo condenado com a prática do delito.
Ex: no roubo do celular, o proveito do crime é o valor que o agente recebeu com a venda do aparelho roubado.
A Lei n. 12.694/2012 alterou o Código Penal acrescentando os §§ 1º e 2º a esse art. 91.
Os novos dispositivos afirmam que, se o produto ou proveito do crime não for encontrado ou se estiver
fora do país (o que dificultaria seu confisco), poderão ser confiscados bens ou valores equivalentes.
Exemplo: Gregório, servidor público, com o dinheiro decorrente de propinas (corrução passiva) adquire um
belo apartamento em Miami Beach, avaliado em 1 milhão de reais. Ao final do processo, como um dos
efeitos da condenação, o juiz determinará que Gregório perca 1 milhão de reais em favor da União, valor
este equivalente ao proveito do crime, que se encontra no exterior.
§ 1º Poderá ser decretada a perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do crime
quando estes não forem encontrados ou quando se localizarem no exterior.
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Art. 3º Os tribunais, no âmbito de suas competências, são autorizados a tomar medidas para reforçar a
segurança dos prédios da Justiça, especialmente:
I - controle de acesso, com identificação, aos seus prédios, especialmente aqueles com varas criminais, ou
às áreas dos prédios com varas criminais;
II - instalação de câmeras de vigilância nos seus prédios, especialmente nas varas criminais e áreas
adjacentes;
III - instalação de aparelhos detectores de metais, aos quais se devem submeter todos que queiram ter
acesso aos seus prédios, especialmente às varas criminais ou às respectivas salas de audiência, ainda que
exerçam qualquer cargo ou função pública, ressalvados os integrantes de missão policial, a escolta de
presos e os agentes ou inspetores de segurança próprios.
Essa providência somente pode ser adotada em casos excepcionais e após autorização específica e
fundamentada da Corregedoria.
O órgão de trânsito deverá ser comunicado sobre a utilização dessa placa especial.
A Lei estabelece que o CNJ, o CNMP e o Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) deverão expedir
regulamento conjunto disciplinando esse tema.
A previsão é de pouca ou nenhuma eficácia considerando que o crime organizado não identifica o veículo
do juiz ou do membro do Ministério Público pela placa, havendo inúmeras outras formas de se descobrir o
veículo por ele utilizado. Ademais, se for realmente crime organizado, os criminosos sabem onde o
magistrado ou membro do Ministério Público reside, onde seus filhos estudam, onde sua esposa trabalha.
VII – PORTE DE ARMA DE FOGO PARA USO DOS AGENTES DE SEGURANÇA DO JUDICIÁRIO E DO MP
Porte de arma de fogo para servidores do Poder Judiciário e do MP que exerçam funções de segurança
Ainda com o objetivo de aumentar a segurança de magistrados e membros do Ministério Público, a Lei n.
12.694/2012 alterou o Estatuto do Desarmamento (Lei n. 10.826/2003) para permitir que os servidores do
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Poder Judiciário e do MP que estejam no efetivo exercício de funções de segurança possam portar arma de
fogo quando estiverem em serviço.
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Vale ressaltar que de todos os servidores do Judiciário ou do MP que exerçam funções de segurança apenas
metade (50%) poderão usar arma de fogo.
O presidente do Tribunal ou o chefe do Ministério Público designará, a cada seis meses, quais os servidores,
no exercício de funções de segurança, que poderão portar arma de fogo.
Se houver perda, furto, roubo ou extravio de arma, acessório ou munição, a Instituição deverá, em até 24
horas, registrar uma ocorrência policial e comunicar o fato à Polícia Federal.
VIII – PROTEÇÃO PESSOAL PRESTADA PELA POLÍCIA JUDICIÁRIA AOS MAGISTRADOS, MEMBROS DO MP E
SEUS FAMILIARES EM CASO DE SITUAÇÕES DE RISCO
Art. 9º Diante de situação de risco, decorrente do exercício da função, das autoridades judiciais ou
membros do Ministério Público e de seus familiares, o fato será comunicado à polícia judiciária, que
avaliará a necessidade, o alcance e os parâmetros da proteção pessoal.
CRÍTICA:
Trata-se de um retrocesso no sistema de proteção aos magistrados e membros do Ministério Público.
Antes da Lei, quando havia uma situação de risco envolvendo um juiz ou membro do MP, o Presidente do
Tribunal ou o chefe do Ministério Público requisitava proteção policial para o membro ameaçado. Em
atendimento a essa requisição, a autoridade policial reunia-se com a direção da Instituição e com o
membro em situação de risco e, em conjunto, era definida a melhor estratégia de segurança. A decisão
quanto à necessidade da proteção, contudo, não ficava a cargo da polícia, mas sim da Instituição.
Com a nova Lei, em caso de situação de risco, a polícia judiciária agora é comunicada sobre o fato e ela irá
avaliar se será necessária ou não a proteção pessoal do magistrado ou membro do MP. A Lei retirou do
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Se determinado servidor público (um técnico, um analista, um professor, um médico, um enfermeiro etc.)
sofre uma ameaça, no exercício de suas funções, qual é a providência que deverá ser tomada pelo órgão
público ao qual pertença?
Comunicar tal fato à polícia judiciária (polícia civil ou polícia federal), que avaliará a necessidade, o alcance
e os parâmetros da proteção que deverá ser dada a essa pessoa.
Assim, não era preciso acrescentar esse art. 9º ao ordenamento jurídico brasileiro, a não ser que fosse para
deixar claro que quem avalia a necessidade de proteção policial, em todos os casos, envolvendo todos os
agentes públicos, é a polícia judiciária.
Vacatio legis
A Lei n. 12.694/2012 previu vacatio legis de 90 dias, de modo que somente entrará em vigor no dia
23/09/2012.
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