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O juiz de 1ª instância e o Tribunal de Justiça concordaram com o pedido e concederam indenização aos
autores no valor de R$ 60 mil.
O jornal interpôs, então, recurso extraordinário.

O STF manteve a condenação?


NÃO.
O STF entendeu que o juiz assumiu o papel do jornalista e do jornal de escolher o conteúdo da reportagem
e ele próprio decidiu o que seria necessário ou não mostrar na matéria jornalística, realizando, assim,
restrição censória (censura) ao agir da imprensa.
O fato noticiado existiu (é verídico) e o juiz condenou o jornal unicamente por não ter feito o
“sombreamento” da imagem divulgada e que, na sua visão, seria necessária para não expor o cadáver.
Assim, para a Min. Cármen Lúcia, não houve exercício irregular ou abusivo da liberdade de imprensa, que
é assegurada pela Constituição Federal.
A decisão das instâncias inferiores condenando o jornal vai contra a jurisprudência do STF que garante a
liberdade de informação jornalística e proíbe a censura. Isso foi assentado pelo STF no julgamento que
declarou a não-recepção da Lei de Imprensa (ADPF 130).

Em suma:
Jornal divulgou a foto do cadáver de um indivíduo morto em tiroteio ocorrido em via pública.
Os familiares do morto ajuizaram ação de indenização por danos morais contra o jornal alegando que
houve violação aos direitos de imagem.
O STF julgou a ação improcedente argumentando que condenar o jornal seria uma forma de censura, o
que afronta a liberdade de informação jornalística.
STF. 2ª Turma. ARE 892127 AgR/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

AÇÃO RESCISÓRIA
Sentença proferida com base no entendimento vigente do STF e que, após o trânsito em julgado,
houve mudança de posição. Cabe rescisória?

Se a sentença foi proferida com base na jurisprudência do STF vigente à época e,


posteriormente, esse entendimento foi alterado, não se pode dizer que essa decisão
impugnada tenha violado literal disposição de lei para fins da ação rescisória prevista no art.
485, V, do CPC/1973.
Desse modo, não cabe ação rescisória em face de acórdão que, à época de sua prolação, estava
em conformidade com a jurisprudência predominante do STF.
STF. Plenário. AR 2422/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/10/2018 (Info 921).

Obs: o julgado envolvia um caso concreto ocorrido na vigência do CPC/1973. Não se sabe se o
entendimento seria o mesmo se o fato tivesse ocorrido na égide do CPC/2015. Isso por conta da nova
previsão de ação rescisória contida no § 15 do art. 525 do CPC/2015.

Imagine a seguinte situação hipotética:


João era servidor público e, quando foi para a inatividade, foram incorporadas, em sua aposentadoria, as
diferenças relativas à Unidade de Referência de Preços (URP), no valor de 26,05% dos seus vencimentos.
Informativo 921-STF (05/11/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21
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Em outras palavras, o valor da URP foi incorporado à aposentadoria de João.


Obs: não é necessário que você saiba o que é a URP.
Ocorre que o TCU não concordou com isso e determinou a retirada das diferenças da URP dos proventos
pagos ao servidor.
João impetrou, então, mandado de segurança contra o ato do TCU e o STF julgou a ação procedente,
determinando que o servidor tinha realmente direito à incorporação. O processo transitou em julgado.
Desse modo, ressalto mais uma vez que, quando o processo transitou em julgado, o entendimento do STF
era no sentido de ser devida a incorporação.
Posteriormente, contudo, o STF mudou de posição e passou a entender que o TCU pode analisar a questão
no momento do pedido de aposentadoria e pode glosar (retirar, estonar) a URP dos proventos do servidor.

Ação rescisória
Diante dessa alteração na jurisprudência do STF, a União ajuizou ação rescisória pedindo a desconstituição
do acórdão transitado em julgado e que havia sido favorável a João.
A autora pretendia rescindir o julgado ao fundamento de que, algum tempo depois do trânsito em julgado,
o STF mudou seu posicionamento e passou a permitir que o TCU retire a URP da aposentadoria dos
servidores.
Desse modo, a União argumentou que o acórdão transitado em julgado violou literal disposição de lei e
deveria ser rescindido, com base no art. 485, V, do CPC/1973:
Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
(...)
V - violar literal disposição de lei;

Obs: quando esta ação rescisória foi proposta ainda estava em vigor o CPC/1973.

O STF julgou procedente essa ação rescisória? O acórdão favorável a João deverá ser desconstituído?
NÃO. O STF negou seguimento à ação rescisória e determinou a manutenção do acordão atacado.

Súmula 343-STF
O STF entendeu que o presente caso se amolda perfeitamente à situação descrita na Súmula 343:
Súmula 343-STF: Não cabe ação rescisória por ofensa a literal dispositivo de lei, quando a decisão
rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação controvertida nos tribunais.

Afirmou o Min. Luiz Fux:


“Anoto, a propósito, que a causa de rescindibilidade em questão reclama efetiva violação à lei, de
modo que, a princípio, interpretar não se confunde com violar. (...)
Ademais, para que a ação rescisória fundada no art. 485, V, do CPC seja acolhida, é necessário que
a interpretação dada pelo decisum rescindendo seja de tal modo teratológica que viole o
dispositivo legal ou constitucional na sua literalidade. Ao revés, se a decisão rescindenda elege
uma dentre várias interpretações cabíveis, a ação rescisória não merece prosperar.
Ressalte-se, ainda, que, no recente julgamento do RE 590.809, Rel. Min. Marco Aurélio, Pleno, DJe
24/11/2014, o Plenário deste Tribunal se debruçou mais detidamente sobre a sua Súmula 343,
tendo reafirmado sua validade, inclusive quando a divergência jurisprudencial e a controvérsia de
entendimentos se basear na aplicação de norma constitucional.”

Relevante também destacar as palavras do Min. Alexandre de Moraes:


“Em que pese a alteração posterior de jurisprudência da Corte, o caso foi julgado com base na
jurisprudência da época, com trânsito em julgado, e isso já foi incorporado no patrimônio das pessoas.

Informativo 921-STF (05/11/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22


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(...)
“Se a cada vez que houver uma alteração jurisprudencial for possível ajuizar novas rescisórias, a
todo momento em que houver uma mudança será necessário julgar todos os processos
novamente.”

Alteração posterior de jurisprudência pelo STF não legitima o pedido rescisório


Em consonância com o instituto da prospective overruling, a mudança jurisprudencial deve ter eficácia ex
nunc, porque, do contrário, surpreende quem obedecia à jurisprudência daquele momento.
Ao lado do prestígio do precedente, há o prestígio da segurança jurídica, princípio segundo o qual a
jurisprudência não pode causar uma surpresa ao jurisdicionado a partir de modificação do panorama jurídico.

Prospective overruling
Prospective overruling é uma técnica segundo a qual “os tribunais, ao mudarem suas regras
jurisprudenciais, podem, por razões de segurança jurídica (boa-fé e confiança legítima), aplicar a nova
orientação apenas para os casos futuros” (OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende de. Curso de Direito
Administrativo. 2ª ed., São Paulo: Método, 2014, p. 103).
O CPC/2015 trouxe previsão expressa da possibilidade da modulação dos efeitos da superação
(prospective overruling):
Art. 927 (...)
§ 3º Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal e dos
tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento de casos repetitivos, pode haver
modulação dos efeitos da alteração no interesse social e no da segurança jurídica.

Veja como o tema já foi cobrado em prova:


(Juiz Federal TRF4 2016) A distinção (distinguishing), a superação (overruling) e a superação para a frente,
mediante modulação dos efeitos (prospective overruling), são técnicas de adequação do sistema de
precedentes às alterações interpretativas da norma e às circunstâncias factuais postas sob exame dos
juízes e dos tribunais. (CERTO)

Em suma:
Se a sentença foi proferida com base na jurisprudência do STF vigente à época e, posteriormente, esse
entendimento foi alterado, não se pode dizer que essa decisão impugnada tenha violado literal
disposição de lei.
Desse modo, não cabe ação rescisória em face de acórdão que, à época de sua prolação, estava em
conformidade com a jurisprudência predominante do STF.
STF. Plenário. RE 590809/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 22/10/2014 (Info 764).
STF. Plenário. AR 2422/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/10/2018 (Info 921).

Como dito, o julgado envolvia um caso concreto ocorrido na vigência do CPC/1973. Diante disso, indaga-
se: o entendimento acima explicado permanece válido com o CPC/2015? A Súmula 343 do STF
permanece aplicável?
Há divergência. Isso por conta da nova previsão de ação rescisória contida no § 15 do art. 525 do CPC/2015:
Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento voluntário, inicia-se o prazo
de 15 (quinze) dias para que o executado, independentemente de penhora ou nova intimação,
apresente, nos próprios autos, sua impugnação.
§ 1º Na impugnação, o executado poderá alegar:
III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;
(...)

Informativo 921-STF (05/11/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23


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§ 12. Para efeito do disposto no inciso III do § 1º deste artigo, considera-se também inexigível a
obrigação reconhecida em título executivo judicial fundado em lei ou ato normativo considerado
inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei
ou do ato normativo tido pelo Supremo Tribunal Federal como incompatível com a Constituição
Federal, em controle de constitucionalidade concentrado ou difuso.
(...)
§ 15. Se a decisão referida no § 12 for proferida após o trânsito em julgado da decisão exequenda,
caberá ação rescisória, cujo prazo será contado do trânsito em julgado da decisão proferida pelo
Supremo Tribunal Federal.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA


O Ministério Público pode ajuizar ACP para anular aposentadoria que lesão ao erário

O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública que vise anular ato
administrativo de aposentadoria que importe em lesão ao patrimônio público.
STF. Plenário. RE 409356/RO, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

Imagine a seguinte situação hipotética:


O Promotor de Justiça foi informado de que determinado servidor público se aposentou mesmo sem ter
completado todo o tempo de contribuição necessário.
Além disso, no cálculo de sua aposentadoria, foram incluídas vantagens e gratificações indevidas, cujo
valor superou, inclusive, o teto constitucional.
Diante disso, ajuizou ação civil pública contra o Estado-membro e contra o referido servidor requerendo
a anulação do ato de concessão da aposentadoria.

O Ministério Público possui legitimidade para propor esta ação?


Claro.

Previsão constitucional
O Ministério Público possui legitimidade para a tutela coletiva destinada à proteção do patrimônio público.
Essa legitimidade encontra amparo em diversos dispositivos da Constituição Federal, valendo destacar os
seguintes:
Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e
individuais indisponíveis.

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:


(...)
II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos
assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia;
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social,
do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;
(...)
IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade,
sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas.

Informativo 921-STF (05/11/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24

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