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Anotações de Aula
Conforme visto na aula passada, apenas com a Revolução Industrial que se pode falar
da existência de um conjunto de normas específicas para a regulação do trabalho, uma
vez que antes o trabalho livre não era o mais comum. No Brasil, é interessante fazer a
mesma discussão: ao longo do século XIX, o país convive com a escravidão. Da mesma
forma como no resto do mundo, o Código Civil fazia referência a normas de
trabalhadores livres (contrato de prestação de serviço, empreitada, etc.), baseado na
autonomia da vontade, como qualquer contrato de natureza civil.
No entanto, tais trabalhadores que formam a classe operária no Brasil acabam por
encontrar condições extremamente diferentes das esperadas, logo que não havia
nenhuma regulamentação (como havia na Europa). Dado o contexto de evolução do
tema trabalhista na Europa, tais trabalhadores chegam no Brasil com uma certa
consciência de classe, e trazem para o país sentimentos de agregação coletiva, de
reivindicação por condições de trabalho. Começa, assim, a haver a criação de uma
solidariedade operária, um movimento operário, mesmo com as dificuldades pelo fato
de a economia ter base agrária. A prova da existência desses movimentos iniciais são
registros literários (panfletos, jornais) de trabalhadores reivindicando melhores
condições. Dentre as ideias, é bastante notável a disseminação de ideias anarquistas,
em especial por italianos. Assim, o Estado brasileiro começa a conviver com uma nova
questão, que entra na ordem do dia: a questão social. Começa, dessa forma, a ser
discutido politicamente a necessidade de o Estado dar uma resposta a tal questão, e
assim, aparecem a noção de o Estado dar condições aos trabalhadores.
A partir do fim da primeira guerra mundial, por o Brasil entrar na OIT, passam a entrar
na agenda brasileira aqueles temas discutidos no Direito Internacional. Ao mesmo
tempo, o movimento operário continua se organizando pelo país, como percebe-se pela
greve geral em São Paulo, no ano de 1917, que começou em uma fábrica na Mooca, mas
atingiu diversos setores, mostrando o sentimento de aglutinação dos trabalhadores.
Na próxima eleição, dessa forma, o candidato do Governo era Júlio Prestes (paulista,
como Washington Luis). A elite mineira, traída pelo presidente, passa a apoiar o
candidato da oposição, Getúlio Vargas, enfrentando o governo exatamente pela questão
social. De toda forma, Washington Luis coloca toda a força da chapa governista e,
assim, com muitas suspeitas de fraude, Júlio Prestes é eleito, e tudo estaria
encaminhado para ele assumir.
A base teórica que sustentava tal modelo corporativista (que defende que sobre o
paternalismo do Estado, na figura do mandatário, capital e trabalho caminhariam
juntos pacificamente em direção ao desenvolvimento econômico) já havia sido usado
em outros governos, como, por exemplo, na Itália de Mussolini e na Espanha de
Franco. No entanto, no Brasil há uma diferença bastante notável: Getúlio não possuía
uma base partidária consolidada, assim, ele busca seu apoio direto nas classes
trabalhadores. Assim, Getúlio utiliza a imagem criada para manter seu projeto político
de poder, e, com isso, dá o golpe do Estado Novo, em 1937.
Os sindicatos então, como por exemplo o de metalúrgicos do ABC, deixa de ser apenas
sobre as questões salariais ou trabalhistas. Os questionamentos ao governo como um
todo eram fortes nas reuniões de tais coletivos. A resposta do governo era sempre a
repressão, em especial com a intervenção direta, pelo ministro do trabalho, e
processando trabalhadores. Isso, no entanto, desgasta o regime, dado que evidencia
mais ainda as arbitrariedades. O movimento sindical, assim, tem grande influência nas
campanhas pelas Diretas Já, e em todo momento de efervescência política da década de
1980.
Após tantas reivindicações e com o fim da Ditadura, José Sarney assume o poder (após
a morte de Tancredo Neves), com a questão de reestabelecer a democracia. Inicia-se,
assim, o processo de criação da nova Constituição, que acaba por ser promulgada em
1988. Tal Constituição representa um marco para os direitos trabalhistas, pois ocorre a
Constitucionalização do Direito do Trabalho. No processo de reconstrução democrática,
as mais diferentes demandas eram atendidas no texto constitucional. Dentre tais
demandas apareciam as dos sindicatos, movimentos sociais e trabalhadores. Assim, o
artigo 7° tem um rol daquilo que é concebido como proteções mínimas e fundamentais
nas relações de emprego, ou seja, o grau de civilidade mínimo que deve ser garantido
aos trabalhadores.
Esquema da Lousa:
O poder legislativo, dessa forma, cria normas trabalhistas dos mais diferentes níveis,
desde as normas elaboradas pelo Congresso Constituinte entre 1987 e 1988. A própria
Constituição, no entanto, abre espaço para que mais normas sejam criadas para a
proteção do trabalhador (vide caput do art. 7). Assim, encontra-se uma série de leis
elaboradas e aprovadas pelo Congresso que regulamentam questões específicas e
também genéricas em matérias trabalhistas. Aqui, ainda, é possível encontrar leis
específicas para diversas profissões; além de leis que valem para todas e todos
trabalhadores (por exemplo: participação de trabalhadores no lucro de uma
determinada empresa). Dado as inúmeras normas criadas pelo Legislativo, o Brasil tem
uma regulamentação extremamente extensa na matéria. É importante lembrar, aqui,
que dadas definições e exigências da Constituição, existem leis trabalhistas
complementares (exemplo: parágrafo 1° do art. 7, proteção contra a despedida) e leis
ordinárias.
Além do papel de regulador, é do Executivo que parte diversas normas que serão
discutidas no Congresso Nacional. Isso se dá pela iniciativa do chefe do Executivo, ou
por Medidas Provisórias (ambas necessitam de apreciação do Legislativo).
1
Diferentemente da lei, as sentenças normativas tem prazo certo de vigência, no geral, um ano (a
chamada data-base).
2
Súmulas são editadas pelo Pleno do TST; OJs pelas seções específicas.
As negociações coletivas, ainda, não podem retirar direitos já explícitos na Constituição
ou em legislação, salvo casos específicos já previstos em lei, como, por exemplo, a
irredutibilidade salarial pode ser flexibilizada, para a empresa em conjuntura adversa
não demitir trabalhadores se ainda der algum benefício, como redução da jornada de
trabalho.
O Regulamento de Empresa é uma norma que pode ser criada diretamente pela
empresa, por conta própria, para regular o seu funcionamento interno. Isso não
significa que toda empresa precisa ter, mas algumas podem impor, dado seu alto poder
de gestão, certas normas para empregados (proibir atrasos, por exemplos). A diferença,
aqui, é que não há discussão com o sindicato, é um ato unilateral da empresa. Ainda, as
empresas podem criar mecanismos que ampliam direitos aos trabalhadores, como a
criação de previdências privadas, que funcionam ao lado das públicas. Empresas
transnacionais costumam ter seus regulamentos, assim como empresas públicas, mas
isso fica a critério de cada empresário. Vale ressaltar, no entanto, que ele se vincula ao
seu regulamento; empresário não pode cortar benefício que havia sido oferecido.
Regulamento pode ser alterado, mas só vale para quem foi admitido depois da
alteração, aqueles que já estavam lá não podem perder o direito.
4. Normas Internacionais
A OIT (definida na aula anterios) em seus encontros pode editar normas por suas
convenções, sobre qualquer tema em matéria trabalhista. No Brasil, no entanto, ela só é
de observância obrigatória após ser ratificada pelo parlamento. Existem uma série de
normas importantes provenientes de convenções da OIT.
Por fim, é possível por meio de tratados estabelecer normas de Direito de Trabalho.
Aqui, valem tratados bilaterais ou plurilaterais. Do mesmo modo que ocorre com a OIT,
precisa ser ratificado pelo Congresso. Aqui, o importante é que a origem de tais normas
é o Direito Internacional, mesmo com a ratificação. Bom exemplo para essa questão é a
construção da usina de Itaipu, na qual o Brasil assinou um tratado com o Paraguai que
estabelecia condições de trabalho para os empregados em tais obras.
Aqui, existem diversas teorias para enquadrar o Direito do Trabalho em uma das duas
categoriais, analisando os mais variados institutos. Uma primeira teoria defende que
Direito do Trabalho é um ramo do Direito Público, que utiliza o argumento
fundamental de que por meio do DT o Estado impõe aos particulares sua vontade; ele
impõe certas regras e condições que devem ser observadas por particulares para a
execução do trabalho, e o Estado, ai tem um interesse a zelar: o interesse de proteção
do trabalhador e seus direitos. Considerar o DT como Direito Público é chamar atenção
para essa força de intervenção do Estado (com notas irrevogáveis, independentemente
da vontade das partes). O ordenamento jurídico trabalhista impõe uma série de
condições para a empresa contratar o trabalho humano, condições essas que refletem o
interesse de evitar a exploração do homem pelo homem, e mais ainda, que refletem a
titularidade do Estado de impor as suas condições no DT. Seguindo essa linha, é
possível encontrar diversos dispositivos legais que regulam as relações entre Estado e
particulares, como por exemplo a obrigação de anotar na Carteira de Trabalho, ou seja,
o Estado obriga o particular a registrar a existência daquela relação jurídica seguindo as
normas que o próprio Estado impõe, e no caso de desrespeito, pode impor sanções. Em
suma, há um interesse do Estado e as normas por ele colocadas não podem ser afastada
pela vontade das partes, o que caracterizaria o DT como um ramo do Direito Público.
Aqui, ainda, há quem defenda que a dicotomia entre Direito Privado e Direito Público,
uma vez que o Direito Moderno trata de questões que envolve interesses do Estado e de
particulares, ao mesmo tempo; e que trata de questões que sujeitos e o Estado são
titulares de direitos tutelados. Nesse campo, nasce uma nova teoria, que coloca o
Direito do Trabalho como um Direito Social; pois é um ramo do Direito que visa
proteger particulares em um ramo privado, mas de modo coletivizado. Ou seja, seria
direito social exatamente por esse caráter coletivizador de proteção. Para efetivar tal
proteção, tem institutos ligados à vontade do Estado e à vontade dos particulares, assim
como questões que são de titularidade do estado e também dos trabalhadores. Tal
teoria, portanto, nega o caráter ou público ou privado, sendo um terceiro gênero, um
direito social, com características próprias que não permitem a adequação na velha
dicotomia. O principal defensor dessa tese foi Cesarino Júnior, mas o professor sofreu
diversas críticas, inclusive de Miguel Reale, que defendia a tese de que todo tipo de
Direito seria social, e não seria possível falar de um mais social que outro.
Após isso, surgiu uma quarta teoria, que considerava o Direito do Trabalho um Direito
Misto, que, portanto, não busca colocar em um terceiro gênero ou negar a existência da
clássica dicotomia. A teoria argumenta que existem, no DT, normas de Direito Público
que correm ao lado de normas de Direito Privado. O trabalhador, ao aceitar vender sua
força de trabalho para um empregador, institui uma relação jurídica entre particulares,
só que paralelamente à essa relação existem uma série de normas de Direito Público
que impõe condições para essa contratação. Assim, o DT oscila entre essas duas linhas
(Direito Público e Direito Privado), caracterizando a teoria mista, sendo uma
intersecção entre normas de Direito Público e Direito Privado.
Ainda, no entanto, há uma quinta teoria, que defende o Direito do Trabalho como um
Direito Unitário, pois implica a junção de normas que ao mesmo tempo são Públicas e
Privadas; ou seja, o DT buscou mecanismos para juntar em normas o contexto único: a
empresa pode contratar o trabalho humano, mas precisa respeitar normas que são
concebidas pelo Estado para a proteção do trabalhador. Aqui, deve-se perceber a
diferença entre as duas anteriores: quanto ao direito social, a diferença é que não fala-
se de um terceiro gênero (ou seja, não nega a existência de público e privado) mas sim
normas de Público e Privado que se fundem. Quanto à Teoria Mista, a principal
diferença é que a mista vê a existência de normas concorrentes, algumas públicas e
algumas privadas, enquanto a unitária diz que as normas são, ao mesmo tempo,
públicas e privadas.
2. Atividade Normativa
Além das convenções, a OIT também aprova recomendações internacionais, que são
apenas diretrizes e, como o nome indica, recomendações sobre como lidar com um
determinado tema. O Estado não é obrigado a seguir a convenção, mas é conveniente
que o faça, pois tais diretrizes aparecem como um modelo internacional. Aqui,
portanto, não há obrigatoriedade de apreciação pelo Parlamento.
Atualmente, na sociedade existe uma ideia disseminada de Direitos Humanos que tem
origem em pensamentos no século XVII. Essa ideia tem influência do jusnaturalismo,
dado que marca a existência de Direitos inerentes à própria condição humana. O Pacto
dos Direitos Econômicos Sociais e Culturais, por exemplo, reconhece o Direito ao
Trabalho em seu artigo 6°: Direito de ganhar a vida por atividade escolhida pela pessoa
e aceita de forma livre. A ideia continua, no artigo 7°, que dispõe sobre essa atividade
(trabalho) ser realizado e forma justa e favorável. Apesar dos termos justo e favorável
serem extremamente abertos, o próprio pacto tenta estabelecer o que considera justo e
favorável, com dispositivos como: o Princípio da isonomia salarial (mesmo salário para
mesma tarefa, sem distinções), princípio da isonomia de tratamento por gênero,
garantia de condições de trabalho seguras e higiênicas, condições iguais para
promoções (sem outro critério a não ser tempo de serviço e aptidão para tarefas),
repouso (férias, feriados remunerados etc), liberdade de filiar-se a um sindicato,
liberdade dos sindicatos de formarem federações, confederações ou centrais sindicais,
ou seja, associações de grau superior em nível nacional; ainda, o Pacto garante o direito
de essas associações de se filiarem e formarem organizações internacionais; o direito do
Sindicato de exercer livremente sua atividade; e, por último, o Direito de Greve.
4. Trabalho Decente
A OIT, assim, parte da declaração política da ONU citada no item anterior para tentar
criar um corpo normativo por meio das convenções e das recomendações. Em 1998, a
OIT aprovou uma declaração relativa aos princípios e direitos fundamentais do
trabalho, que estabeleciam algumas certas condições de trabalho (disposta em oito
convenções) para que um país possa expressar que nele existe trabalho decente.
Pode-se dividir essas convenções em quatro grupos. O primeiro deles reúne as
convenções 29 e 105 e trata da eliminação de todo tipo de trabalho forçado. Nas duas
convenções, a OIT define o que é o trabalho forçado e que medidas podem e devem ser
tomadas para combater essa exploração. O segundo grupo trata da abolição do trabalho
infantil, e contém as convenções 138 e 182. A primeira delas define a idade mínima
para o trabalho (mínimo para terminar a escola compulsória, mas nunca antes dos 15
anos)3; além de definir uma idade maior ainda para trabalhos em condições insalubres
ou contra a moralidade4. A 182, especificamente, trata das denominadas piores formas
de trabalho infantil: escravidão ou práticas análogas à escravidão; utilização ou
recrutamento de crianças para prostituição, pornografia ou atividades ilegais como
tráfico de drogas; ainda, qualquer trabalho que ponha em risco a saúde, a segurança ou
a moral da criança.
A OIT, portanto, define que para um país ter condições decentes de trabalho ele precisa
ratificar e aplicar pelo menos essas oito convenções. O Brasil ratificou sete delas
(apenas não ratificou a 87), portanto, falta esse pequeno pedaço do quebra-cabeças
para a garantia, de acordo com a OIT, do trabalho decente.
1. Conceitos
2. Natureza Jurídica
3
No Brasil, foi positivada a idade mínima como 16 anos.
4
Conceito bastante discutível, e um juiz do trabalho que precisa dar o alvará para o trabalho da criança
em casos complexos.
contrato de mandato. No entanto, é da natureza do contrato de mandato a
representação; no contrato de trabalho, no entanto, não há essa representação
necessária. Ou seja, alguém faz um contrato de mandato por querer que o outro o
represente em algo, e essa ideia é fundamental; o trabalhador que está apertando o
parafuso em uma fase da produção, por exemplo, não está representando ninguém.
Existem casos no contrato de trabalho que pode haver a representação (como no caso
de um funcionário ir representar a empresa em uma reunião com investidores), mas
isso é essencial.
Outra teoria apresentada foi a de que o contrato seria de prestação de serviço (ou, pela
denominação antiga, locação de serviço). Essa mudança de denominação ocorreu pois o
nome antigo tratava o trabalho como se fosse uma mercadoria. Apesar de essa parecer a
resposta para a questão doutrinária colocada, é princípio ressaltar que a prestação de
serviço não se confunde com a relação de trabalho. O contrato de prestação está
regulado no Código Civil, e trata de uma forma de execução da atividade que não
necessariamente vai ser executada por uma pessoa natural (ou seja, pode ser celebrada
entre duas pessoas jurídicas); o contrato de trabalho, por outro lado, é regulado pela
CLT e precisa que um dos elementos precisa ser pessoa natural. Além disso, existem
alguns elementos intrínsecos do contrato de trabalho que não aparecem no de
prestação, como a subordinação do trabalhador ao empregado. Essa teoria, portanto,
também é falha.
Nenhuma das figuras do Direito Civil, portanto, explica essa relação de trabalho.
Aqueles que defendem uma figura contratual para a relação, assim, atualmente,
buscam definições em contratos que nada tem a ver com o Direito Civil. Assim, o
contrato de trabalho, para essa teoria contratualista moderna, é regulado por legislação
trabalhista, com características específicas; as antigas teorias rechaçam qualquer
resposta com base no Direito Civil.
Portanto, para o contratualismo moderno, o contrato que faz nascer a relação jurídica
de trabalho, mas esse contrato é específico do Direito trabalhista e segue uma tendência
moderna de que o Estado estabelece parte do conteúdo desse contrato (como no Direito
do Consumidor); além disso, o trabalho sem a formalização do contrato houve um
acordo baseado na vontade de ambos. Atualmente, essa doutrina é majoritária, dado
que a liberdade de consentimento é o que faz ser possível pensar na relação jurídica de
trabalho.
1. Conceito
Como visto na aula anterior, a relação jurídica entre empregado e empregador trata-se
de um contrato específico, diferente de todos aqueles descritos no Código Civil. A CLT,
em seu artigo 442, deixa claro apenas que a relação de emprego nasce do contrato, mas
não define o conceito. O contrato de trabalho, assim, segundo Otávio Bueno Magano,
um negócio jurídico em virtude do qual uma pessoa natural se obriga
mediante uma remuneração a prestar serviços não eventuais a outra
pessoa ou entidade sob a direção e subordinação desta.
2. Características
2.1. Consensual: por ser um negócio jurídico, ele precisa do consenso; mais
ainda, ele se aperfeiçoa apenas pela vontade das partes, ou seja, não
necessita formalidades ou forma específica (logo, a forma é livre), podendo
ser verbal, tácito. No entanto, existem algumas exceções, como contrato de
atleta profissional e de aprendiz, que necessitam formas específicas escritas.
Aqui, não deve-se confundir a exigência de registro: o registro interno e na
Carteira de Trabalho do empregado não é constitutivo, em outras palavras,
não faz nascer a relação emprego, o que faz isso é o acordo.
3.2. Pessoa Natural: se o empregado vai exercer o trabalho com pessoalidade, ele
precisa ser uma pessoa natural. Quando uma pessoa jurídica trabalha para
outra, não há relação de emprego; em casos de pessoa jurídica formada por
um indivíduo só que realiza o trabalho de forma personalíssima, pode-se
estar de frente com uma fraude que busca descaracterizar a relação de
emprego. Dessa forma, se o juiz perceber que existem todas as
características da relação de emprego, com única exceção de ser exercido
por Pessoa Jurídica, ele pode utilizar-se do princípio da (áudio 57) e
considerar a relação como de emprego.
O exame desse tema precisa começar nos dois artigos da CLT que definem os conceitos
de empregado e empregador, os sujeitos do contrato de trabalho.
Logo no início do artigo 2°., aparece que o empregador deve ser uma empresa; mas, na
verdade, está fazendo uma referência à atividade do empresário, ou seja, a atividade
econômica organizada com vistas a produção de um bem ou prestação de um serviço. O
sujeito, portanto, estritamente, é o empresário. O nome empresa é utilizado com
objetivos de garantir direitos do trabalhador, dado que a empresa, ou seja, a atividade
como um todo, e todo o patrimônio do empresário devem garantir o pagamento do
trabalhador. Em outras palavras, o objetivo da CLT com essa definição é já fazer a
garantia de direitos usando o patrimônio do empregador.
No entanto, será que o empregador é sempre alguém que assume os riscos de uma
atividade econômica? Aqui existe uma dificuldade na escolha tomada pelo legislador,
pois pode sim existir empregador que é pessoa natural (profissional liberal que contrata
uma pessoa para exercer função de secretário), ou uma pessoa jurídica que não
desempenha atividade econômica (como uma associação sem fins lucrativos). Dado
essa dificuldade, o legislador incluiu o parágrafo 1°. Vale ressaltar, no entanto, que seria
mais fácil se o legislador tivesse definido apenas empregado e, em sequência, definir
empregador como todo que admite empregado.
A segunda forma é o poder de controle: a fiscalização da maneira pela qual cada um dos
trabalhadores está realizando seu serviço. A fiscalização ocorre das mais diversas
maneiras, como pela jornada de trabalho, prestação de contas da tarefa atribuída, entre
outras. Aqui, é preciso levar em conta que esse poder não é absoluto, ou seja, algumas
limitações são postas ao empregador, existem restrições à fiscalização do exercício da
função do empregado. O maior exemplo desse limite são os direitos de personalidade:
imagine que uma empresa queira fiscalizar se o empregado não está subtraindo o
patrimônio da empresa, pode-se realizar uma revista na saída da fábrica? É evidente
que o empregador pode fiscalizar o exercício do trabalho para a proteção de seu
patrimônio, mas o empregador pode submeter o empregado a um contato corporal
para essa revista? Isso é muito discutido por doutrina e jurisprudência, e, assim,
existem decisões que definem a possibilidade de revista, desde que não seja íntima ou
afete a intimidade da pessoa, pois esse âmbito é protegido pela Constituição Federal.
Outro exemplo muito discutido é o monitoramento de equipamentos eletrônicos; sabe-
se que com computadores em rede, é possível ver o conteúdo acessado por cada
empregado, mas o empregador pode ver os sites que ele acessou? E o conteúdo dos e-
mails que mandou? Na jurisprudência, existem decisões conflitantes, permitindo e
negando o monitoramento; no geral, há uma tendência a estabelecer alguns critérios,
como a possibilidade de o empregador estabelecer previamente uma política quanto ao
uso dos equipamentos.
A figura do empregado está definida no artigo 3°; que traz os requisitos fundamentais
tratados anteriormente (X.X supra).
Art. 3.º Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não
eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.
Surge, então, uma quarta teoria, definindo a dependência como dependência jurídica. A
ideia aqui é que o empregado é juridicamente dependente do empregador por estar
submetido ao poder de comando, por ter aceitado o contrato de trabalho. Ou seja, ao
aceitar a relação de emprego, o trabalhador se sujeita às três faces do poder de direção.
Ambas as partes, assim, se colocam em uma condição jurídica positivada pelo direito.
Atualmente, essa quarta teoria é mais aceita pela doutrina.
1. Trabalho autônomo:
2. Trabalho Eventual:
3. Trabalho Avulso
O trabalhador avulso é alguém que mantém uma relação de serviço entre o tomador e
uma entidade que o aproxima do tomador (vide áudio 33:00), sendo essa entidade o
sindicato. Para pensar nesse trabalho avulso, podemos utilizar o exemplo de um porto,
no qual um navio de carga acabou de chegar da China, e vai voltar para lá em uma
semana; para realizar as funções, o navio precisa de mão-de-obra, que não é
empregado, nem eventual. Uma entidade que aproximará o trabalhador desses
tomadores e, essa entidade, no geral, é o sindicato, que é quem recebe e quem rateia o
dinheiro arrecadado aos trabalhadores. A Constituição de 1988 tratou, no inciso
XXXIV, especificamente do trabalhador avulso, para garantir igualdade entre avulsos e
empregados. O próprio sindicato que deve pagar todos os direitos trabalhistas,
portanto. Apesar de surgir historicamente nos portos, atualmente, expandiu-se para
outras áreas, como no CEAGESP. Na década de 1990, a lei de modernização dos portos
estabeleceu que, além do sindicato, o chamado OGMO (vide áudio) poderia estabelecer
essa mediação.
4. Trabalho Temporário
5. Estágio
A lei do Estágio exige que o Estagiário e a Instituição de Ensino estejam de acordo com
o contrato; precisa, assim, haver um documento vinculante (convênio) entre o tomador
do estágio e a unidade de ensino.
Essa lei de 2008 revogou a lei anterior que tratava do assunto. Tal dispositivo inovou
pois além de definir o que é estágio, trouxe um detalhamento do conteúdo do contrato.
O dispositivo, dessa forma, em primeiro lugar define estágio (vide texto legal). Segundo
essa lei, assim, estágio pode ser realizado até por alunos de fundamental; isso gerou
muita controvérsia, dado que é bastante difícil definir o que um aluno de fundamental
pode trabalhar, na prática, que complemente aquilo que está sendo aprendido em aula.
As companhias que realizam o convênio de estágio (ex: CIEE) defendem a existência
desse estágio como uma inserção no mercado de trabalho, independente do fato de não
complementar o estudo. Atualmente, há certa resistência de aceitar esse tipo de estágio,
exatamente pelo argumento de que o trabalho não complementaria nada. Muitas vezes,
o MP questiona convênios de estágio nesses anos finais do Ensino Fundamental.
O dispositivo legal segue definindo especificidades (art 2°), como, por exemplo, a
possibilidade de previsão (no PPP do curso) de estágio obrigatório pela instituição de
ensino para a obtenção do diploma. O estágio opcional seria aquele apenas
complementar, que o estudante faz se quiser, sem obrigatoriedade para obtenção do
diploma.
O artigo 3° expressamente diz que estágio não é emprego. Apesar de a relação ter todos
os requisitos daquela de emprego, o legislador optou claramente pelo caminho de uma
modalidade de trabalho que não é empregado, ou seja, não tem os mesmos direitos
previstos na CLT. É importante ressaltar que o vínculo empregatício não é criado
apenas se a relação seguir os requisitos formais e materiais, dispostos no artigo 3°. Um
dos requisitos é a compatibilidade, ou seja, o trabalho deve ter relação com a área
trabalhada; ainda, a lei diz que um professor e um supervisor precisam acompanhar
(na maior parte das faculdades, isso não acontece, o que ocorre é o envio de um
relatório pelo tomador do trabalho para a Comissão de Estágio da instituição de
ensino).
Ainda, outro dispositivo traz o período máximo da relação de estágio, 2 anos, o que,
apesar de ter uma fundamentação interessante (possibilitar diferentes aprendizagens),
há o problema de que se o estagiário e o tomador querem manter a relação, a lei
impede; e isso pode tirar uma boa oportunidade de um aluno que já criou um vínculo
com a instituição e poderia ser efetivado. Ainda, a bolsa (remuneração) não é
obrigatória, ou seja,
No fim das contas, estamos diante de uma política legislativa que permite às empresas
contratarem mão-de-obra mais barata, pois o estagiário tem muito menos direitos que
o empregado. Por outro lado, isso gera a possibilidade de inserção do estudante no
mercado de trabalho. Dessa forma, na visão do professor, justifica-se a existência da lei.
O maior problema é a impossibilidade de as instituições cumprirem o que é
determinado pela lei.
6. Trabalho Voluntário
A lei que dispõe sobre isso é a 9608/98, um texto curto, de apenas 5 artigos. A lei
define o que é o trabalho voluntário, que deve ser prestado para instituição pública ou
instituição privada sem fins lucrativos. O trabalho é realizado por uma convicção
pessoal do trabalhador naquela causa, para dar essa colaboração. Dessa forma, não há
remuneração, nem relação de emprego, dado que não há a característica da
onerosidade.
7. Trabalho Cooperado
Essa forma de trabalho traz muitas questões na doutrina atual. Isso ocorre pois o
Legislativo inclui o parágrafo único do artigo 442 da CLT.
Portanto, as cooperativas, por si só, não são um problema e podem até ser benéficas.
No entanto, o modo de utilização pode ser problemática, se é realizada por patrões com
objetivo de fraudar o regime da CLT.