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O objetivo deste trabalho é desenvolver uma análise sobre um “forte de terra”, ou seja,
uma fortificação construída em taipa de pilão, no Brasil, durante o período de ocupação
holandesa, após o retorno de Maurício de Nassau para a Europa, quando se iniciou o
movimento de Restauração Pernambucana: o forte do Arraial Novo do Bom Jesus, cujos
vestígios ainda existem.
Não se conhece o seu “risco”, uma vez que não existem registros gráficos a seu
respeito. O que se sabe é que foi projetado por um oficial holandês, Dirck von Hoogstraten,
que se passou para o lado dos luso-brasileiros. Este fato encerra algumas perguntas: o forte
poderia ser enquadrado na chamada Escola Holandesa de Fortificações, considerada
avançada para a época, por ter sido projetado por um engenheiro militar holandês ou por
conta do seu afastamento do Brasil antes das obras concluídas, ele pode ser enquadrado como
um típico exemplar luso-brasileiro, por ter sido terminado por um mestre de obras português
e outro estrangeiro? A pesquisa arqueológica poderá elucidar algo a respeito.
Segundo observa ALBUQUERQUE et alii (s/data), o conceito dos locais que deveriam
ser fortificados se alterou ao longo do tempo no Brasil colonial. Muitas vezes, obras
construídas antes da invasão holandesa foram abandonadas em vez de serem recuperadas
para uso, por causa dos estragos existentes ( 1). Durante o período holandês, houve uma
substituição de estratégias das escolas de fortificações. A troca de bandeiras entre os fortes
foi comum, bem como a troca de denominações. Assim, na bibliografia, um único forte pode
ter vários nomes, o que às vezes confunde a sua identificação, inclusive no que se refere à
localização dos vestígios (2).
Após a saída dos holandeses do Brasil, o forte do Arraial Novo do Bom Jesus foi
abandonado. Só as fortificações que estavam situadas no litoral foram mantidas e
reconstruídas em pedra e cal, durante o período em que João Fernandes Vieira ocupou o
cargo de Superintendente das Fortificações Pernambucanas, até a sua morte, em 1681. No
entanto, é interessante notar que o sistema de defesa desenvolvido pelos holandeses para a
cidade do Recife foi mantido (3).
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- Redutos: são recintos providos de muralhas, construídos no interior de uma fortificação,
para aumentar a sua defesa (5).
- Risco: denominação antiga para o projeto de uma edificação.
2- LOCALIZAÇÃO:
O Forte do Arraial Novo do Bom Jesus está situado entre os bairros dos Torrões e do
Cordeiro, na zona oeste da cidade do Recife. Estava localizado no interior, tal como o forte
do Arraial Velho do Bom Jesus, também construído em taipa de pilão, cujos vestígios se
encontram no bairro de Casa Amarela, no Recife. O seu nome foi uma homenagem a este
antigo forte, destruído pelos holandeses em 1635, dez anos antes da sua construção. João
Fernandes Vieira havia trabalhado aí como ajudante de açougueiro, com a idade de 22 anos
(9). Não estava às margens de um rio e nem no litoral. Na época da sua construção, as terras
faziam parte da freguesia da Várzea.
Em relação à sua localização, alguns autores falam que estava situado sobre uma
pequena elevação, o que seria comum num edifício deste tipo, como é o caso do forte do
Arraial Velho. Distavam 8 km da cidade do Recife, na zona oeste ( 10). Outros, entretanto,
afirmam que as terras que pertenciam à Várzea são planas, baixas e alagadiças, não existindo
a possibilidade de colina ou até mesmo de um pequeno monte. O que se vê hoje como colina
seria o que sobrou da cortina e dos baluartes da fortificação. As curvas de nível encontradas
seriam da própria elevação das estruturas ou ainda resquícios de um terrapleno (11).
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Outra questão se impõe: se as terras são planas e não existe nenhuma elevação, por que
estaria o forte localizado aí, se as escolas de fortificação estabeleciam que fortes deveriam ser
construídos às margens de rios ou na beira-mar ou ainda em locais altos? Teria sido esta uma
estratégia do oficial Hoogstraten para confundir os compatriotas holandeses por ele traídos e
favorecer os luso-brasileiros, ou seria uma esperteza, no sentido de violar uma regra
estabelecida e assim, deixar o forte em situação desfavorável, fácil de ser atacado?
O local onde foi construído o Forte do Arraial Novo do Bom Jesus era o antigo engenho
São Tomé, que havia pertencido a Antônio de Souza Moura. As terras foram vendidas para o
holandês Willem Bierboom, chamado “Bribão” por CALADO (15). O novo nome do engenho
era Rotterdam. Ficava na freguesia da Várzea, a 6 km do Recife, segundo MELLO (16). Nota-
se que há divergência dos autores consultados sobre a distância do forte à cidade do Recife.
SANTIAGO fala que o forte distava uma légua do Recife ( 17). A légua equivale a 6.600
metros.
Antes do período de Nassau, havia poucos mapas da cidade do Recife, feitos por
cartógrafos portugueses. Durante a ocupação holandesa, o forte aparece num mapa de 1648,
editado na Holanda e feito pelo cartógrafo Cornelius Golyjath. Depois foi realizada uma
gravura deste mapa, que se encontra hoje no acervo da Mapoteca do Itamaraty, Ministério
das Relações Exteriores, no Rio de Janeiro (18). O mesmo mapa está publicado nos livros
“Tempo dos Flamengos” (19) e “Imagens da Formação Territorial Brasileira” (20). Por que
este forte nunca foi atacado, como dizem os relatos, se a sua localização era conhecida pelos
holandeses?
O cartógrafo Golyjath estava desde 1635 no Brasil. A partir de 1640, prestou serviços a
Maurício de Nassau, tendo seus trabalhos publicados por Vingboons. Segundo REIS ( 21) o
mapa foi elaborado por volta de 1640, ano em que o forte ainda não estava construído, mas
no mapa impresso depois, foram depois acrescentadas diversas informações.
No mapa citado, que aparece reproduzido na próxima página, o ícone utilizado para
identificar o forte não representa o seu formato exato, embora os relatos e os vestígios
confirmem que tivesse 4 baluartes, mas apenas assinala que havia naquele lugar uma
fortificação. Esta era a forma de representação. O mapa não está representado com o norte
apontando para cima, como é a convenção dos dias atuais.
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Mapa 01- Mapa exato da situação de Olinda e Pernambuco. Cornelius Golyjath. Impresso
nos Países Baixos por Claez Jausz Vischer, ano 1648. reproduzido no livro Imagens da
Formação Territorial Brasileira, pág. 179.
O mesmo problema ocorre nos mapas da cidade do Recife feitos nesta época, onde não
se sabe se o que está registrado é o projeto ou algo que foi realmente construído. MELLO
chama a atenção para um mapa publicado por Vingboons, onde aparece em linhas tracejadas
o plano para a Cidade Maurícia, que foi reproduzido por Golyjath como se tivesse sido
realizado (22).
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Na época da construção do forte, outros fortes já haviam sido tomados dos holandeses
pelos luso-brasileiros, mas estavam em pontos distantes no litoral, como o Forte de Nazaré,
no Cabo de Santo Agostinho e o Forte de Porto Calvo, em Alagoas. Optou-se pela instalação
de forças- os chamados terços- em diferentes estâncias próximas do local escolhido, para não
confinar o grosso das tropas em um único lugar. A nova área fortificada serviria ao comando
da campanha.
Dom Antônio Felipe Camarão, governador dos índios do Brasil e chefe do terço dos
índios, instalou sua estância em Afogados, no sítio de Sebastião de Carvalho e Henrique
Dias, chefe do terço dos negros, ficou com a da Boa Vista, no sítio de João Velho Barreto.
Havia o forte das Salinas, no atual bairro de Santo Amaro, conhecido como Trincheira de
Luiz Barbalho e as trincheiras dos Afogados, a do Mendonça, na Madalena e a estância do
Aguiar, na atual Estrada dos Remédios. Estas estâncias no início, não possuíam obras de
defesa externa, eram abertas e geralmente construídas em taipa. Mas em 1646, estavam já
cercadas por paliçadas de pau-a-pique (23). Havia ainda o terço dos estrangeiros, que contava
inclusive com muitos soldados que haviam servido à Companhia das Índias Ocidentais ( 24).
No início de Outubro de 1645 já havia tropas acampadas na área, escondidas entre os
canaviais, próximo ao Engenho do Meio, que pertencia a João Fernandes Vieira (25).
Poços ou cacimbas para o abastecimento de água geralmente se localizavam no centro
da praça de armas das fortificações. Existia uma cacimba de água potável, que ficava no
centro da quadra, citada em publicações até o terceiro quartel do século XIX ( 26). Quando foi
instituída a Zona de Preservação Rigorosa- ZPR- pela Lei 13.957 de 10 de Outubro de 1979,
do Plano de Preservação dos Sítios Históricos da Cidade do Recife- PPSH- o conjunto de
“casa, cacimba e monumento” foi classificado como “ruína” ( 27). A cacimba hoje não está
mais aparente. Poderá ser revelada na escavação arqueológica.
A questão econômica se impõe desde o princípio, visto que a capitania foi alvo de
ocupação por causa da produção do açúcar e que o levante que tomou o nome de Restauração
Pernambucana foi rural, iniciado pelos senhores de engenho que deviam dinheiro aos judeus
do Recife e à Companhia das Índias Ocidentais. Pernambuco na época da invasão holandesa
era o mais importante produtor de açúcar do Brasil. O forte ficava localizado na rota que
levava a Porto Calvo, em Alagoas, por onde os senhores de engenho escoavam a produção de
açúcar que não passava pela Companhia das Índias Ocidentais. Assim, escapavam dos
pesados impostos que incidiam sobre a exportação.
O caminho para Porto Calvo passava pela Muribeca e pelos Montes Guararapes, local
de duas batalhas importantes dentro do movimento da Restauração Pernambucana, ocorridas
em 1648 e 1649. O forte era o local de armazenagem dos víveres e de armas e munições, para
onde eram levados os mortos e os feridos sempre que possível. Os mortos eram sepultados na
Igreja da Várzea ou ainda na igreja que existia no Arraial Novo ou na desaparecida Igreja de
Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, também na Várzea ( 28). Os restos mortais de João
Fernandes Vieira e André Vidal de Negreiros estão hoje sepultados na Igreja de Nossa
Senhora dos Prazeres dos Montes Guararapes. Henrique Dias teria sido sepultado no
Convento de Santo Antônio, no Recife, mas já não há sinais de sua sepultura. Dom Antônio
Felipe Camarão foi inicialmente sepultado na igreja do Arraial Novo e depois transferido para
a Matriz da Várzea, mas hoje não se sabe o seu paradeiro (29).
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2.1- SITUAÇÃO ATUAL:
O forte fica dentro de uma praça pública, onde funciona uma Academia da Cidade,
assim como os vestígios do antigo Forte do Arraial Velho, que estão no Sítio da Trindade.
Seu principal acesso é a Avenida do Forte, perpendicular às Avenidas Caxangá e Engenheiro
Abdias de Carvalho. Apesar de ser área de preservação rigorosa, se encontra em estado
vestigial e sem nenhum cuidado. É usado pela população do local como pasto para animais.
Segundo levantamento efetuado por BRASILEIRO (30), a área total do terreno da praça é de
33.510, 25 m2, incluindo os vestígios.
Ainda é visível o formato de três dos baluartes e parte do fosso. Sobre um deles, o
Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico de Pernambuco colocou uma coluna, com uma
cruz encima, assinalando o monumento, em 1872, e depois uma placa foi colocada em 1917,
segundo a inscrição. Em outro, existem as ruínas de uma casa construída em finais do século
XIX, pelo proprietário das terras, o tenente-coronel Thomaz Cavalcanti da Silveira Lins, que
comprou a propriedade de Antônio de Hollanda Cavalcanti (31).
Apenas um dos baluartes está livre. O último deles foi inteiramente destruído e pode
ter sido alvo de terraplenagem (32). É tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional- IPHAN- sob o número 942- T- 76, Livro Histórico Vol. 1, Folha 80,
Inscrição 467 08/04/1980 (33). O fosso pode ter sido aterrado em parte, talvez pelo próprio
desmoronamento da estrutura, embora apresente água ao longo do ano, havendo informações
de moradores do local que é possível inclusive se pescar em determinados meses.
No caso, não há vestígios aparentes sobre a natureza das suas estruturas externas de
defesa, que podem ter sido muralhas em terra ou ainda paliçada em volta, como era comum
nas fortificações desta época. Alguns mapas e plantas tratam do perfil dos fortes, mas as
obras de defesa exterior nem sempre aparecem assinaladas. No “Castrioto Lusitano” ( 34),
Frei Raphael de Jesus descreve:
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A foto abaixo mostra que tipo de paliçada poderia existir, reconstruída no Reduto de
Tejucopapo, na cidade de Goiana, que era contemporâneo ao forte do Arraial Novo.
Documentos de 1958 citam que havia ainda nesta data evidência de muralhas em volta
do forte, embora num dos poucos trechos em que fala da construção do forte do Arraial Novo
do Bom Jesus, SANTIAGO diz (35):
Foto 03- Vista aérea dos vestígios. Doris Walmsley, 1998. Fonte: ALBUQUERQUE,
Marcos et alii- Fortes de Pernambuco, Imagens do Passado e do Presente, Recife, Grafftorre,
s/data, pág. 181.
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Foto 04. Coluna sobre baluarte e restos do antigo fosso. Stela Barthel, 2006.
3- DELIMITAÇÃO DO ESTUDO:
O tempo em que o forte teve importância é relativamente curto, cerca de nove anos,
de 1645 a 1654, entre os 24 anos de dominação holandesa. Vai desde a sua construção até
o seu abandono. Este foi um período de intensificação da luta, que se iniciou logo após o
retorno de Maurício de Nassau para a Europa. Ao longo deste período, foi o quartel-
general de João Fernandes Vieira e do movimento da Restauração Pernambucana. Fez
parte de um sistema de defesa maior, estabelecido por João Fernandes Vieira para a
retomada da capitania e a expulsão dos holandeses. Ficou perdido por cerca de dois
séculos, até meados do século XIX, quando se tornou uma propriedade particular.
Quando o Imperador Pedro II esteve em visita a Pernambuco, em 1859, chegou a fazer
uma expedição em busca do forte, mas seus vestígios não foram localizados (36). Só anos
mais tarde, o Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico de Pernambuco assinalou o
monumento, depois de várias pesquisas e estudos.
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4- O “RISCO” DO FORTE:
Ao contrário das fortificações holandesas desta época, que são bem documentadas, as
fortificações luso-brasileiras têm pouco ou nenhum registro iconográfico. É o caso deste
forte, não existem registros a seu respeito, apenas três textos da época de sua construção, mas
pouco dizem do seu formato. “História da Guerra de Pernambuco” foi escrito por um
morador do Arraial Novo, Diogo Lopes Santiago. O outro texto, no qual este autor se baseou
e inclusive fez correções a datas, nomes e acontecimentos, foi escrito por Frei Raphael de
Jesus, sob encomenda de João Fernandes Vieira. É “O Castrioto Lusitano”. O terceiro deles é
“O Valeroso Lucideno”, de Frei Manoel Calado.
O oficial holandês Hoogstraten não chegou a ver o forte concluído, pois retornou à
Holanda antes de findar 1645, ano do início da construção, que foi no mês de setembro. Isto
foi feito por outros dois mestres de obra estrangeiros, sendo um deles português. Frei Manoel
Calado fala que o forte foi construído pelo Mestre de Campo Teodósio de Estrate e um
mestre de obras estrangeiro (38). Nesta época, havia 280 soldados estrangeiros servindo às
tropas luso-brasileiras, em um terço chefiado pelo francês Francisco de Latour e por Teodoro
Straten, que deve ser o mesmo Teodósio de Estrate, citado por CALADO. Havia soldados
franceses, flamengos, alemães e ingleses (39).
Foto 05- Restos do fosso ao lado dos vestígios do baluarte. Stela Barthel, 2006.
10
O uso de baluartes, característico da escola Italiana de Fortificações, permitia o
chamado “fogo cruzado”, onde um baluarte defenderia o outro, além de defender outros
pontos do forte.
As plantas das fortificações eram executadas de acordo com funções especificas para
cada edifício. Quando se localizavam às margens de rios ou à beira-mar, as formas eram
diferentes, conforme as muralhas estejam voltadas para o mar ou rio ou para a terra firme.
Isto é também “uma definição de técnica de guerra” ( 42). As fortificações possuem áreas
internas e externas. São comuns obras de defesa externa, para protegê-las.
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- Revelim: a função principal é proteger o acesso à fortificação. Forma saliência angular, com
planta triangular ou trapezoidal.
5- O SISTEMA CONSTRUTIVO:
5.1- O CONTEXTO:
Por parte dos holandeses, houve a construção em taipa do Forte do Brum, assim como
o Forte do Buraco. Havia baterias em várias direções. O povoado foi então cercado por uma
muralha de pedra ao leste, a chamada Porta da Terra e o baluarte ao oeste, que era de terra.
Este monumento de pedra foi alvo de recentes escavações no Bairro do Recife, realizadas
primeiramente pela equipe do laboratório de Arqueologia da Universidade Federal de
Pernambuco, sob o comando do professor Marcos Albuquerque e posteriormente pela Pós-
Graduação em Arqueologia da mesma universidade.
Para a chamada taipa de pilão, a terra vermelha e argilosa, úmida ou molhada, chamada
de Massapê, era a mais apropriada. Com ela eram feitos blocos de argila compactada,
apiloada, aos quais podem ser adicionados outros materiais, como cal, areia, cascalho e
estrume, para aumentar sua resistência e plasticidade.
14
Foto 06- Castelo de Juromenha, em Portugal. Fonte: Arquitectura de Terra em Portugal,
Pág. 40.
A chamada taipa militar foi utilizada desde finais do império romano. Em Portugal,
assim como no Brasil, a taipa enquanto sistema construtivo foi utilizada tanto na arquitetura
vernácula quanto na erudita e desde o período de dominação muçulmana, eram comuns as
fortificações feitas com este material, muitas das quais ainda existem, como é o caso do
Castelo de Juromenha. Para diferenciar a taipa militar da taipa usada em construções civis,
adicionava-se a cal, para dar maior resistência à argamassa e também materiais cerâmicos
(50). Em Juromenha foram também aplicadas camadas horizontais de pedras entre os taipais.
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A técnica utilizada na fabricação era a seguinte: dentro dos chamados taipais, que são
as armações de madeira, era colocada uma sólida argamassa, composta geralmente de uma
parte de cal, duas de terra, cascalho e pedrisco, que era então compactada. A terra era
espalhada com os pés dentro da armação de madeira antes de ser apiloada. O taipal só
poderia ser retirado após a secagem do bloco, quando era assentado outro bloco por cima. Na
foto abaixo, a argamassa está sendo apiloada com um maço de madeira. Daí a técnica ser
chamada de taipa de pilão.
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A matéria-prima usada geralmente era retirada do local onde a construção iria ser feita.
O material que se encontrava na superfície era deixado de lado, por conter muita matéria
orgânica. Os torrões de terra eram desfeitos e esta era misturada com enxada e amassada com
pouca água, apenas para umedecer. Às vezes, era necessário um repouso dessa argamassa por
alguns dias antes de se poder usá-la.
A menor equipe necessária para este tipo de trabalho era composta por 4 homens: um
deles preparava a terra, outro transportava e os outros dois montavam o taipal. Em oito horas,
seriam feitos oito blocos de 0, 50 m de espessura. Cerca de 7 a 8 m2 de construção. Segundo
relatos da época, o forte do Arraial Novo do Bom Jesus foi construído no espaço de 3 meses,
entre setembro de 1645 e dezembro do mesmo ano e trabalharam na construção os moradores
da terra com os seus escravos e o próprio João Fernandes Vieira, com escravos dos seus cinco
engenhos (51).
A espessura da parede era dada pelo espaço entre os taipais, que eram fechados por
pranchas transversais menores de madeira, como mostrado na figura abaixo. Mas nunca
tinham menos que 0.50m. O comprimento poderia variar entre 1.5 m e 2,0 m.
Figura 03- esquema dos taipais. Fonte: ALBERNAZ & LIMA, pág. 589.
Os vãos necessários para portas e janelas podiam ser abertos depois de feitos os
blocos, demolindo-se os espaços ou ainda poderiam ser executados na hora da colocação
do taipal. Os pormenores eram executados conforme a função de casa edifício. Com os
blocos prontos, a taipa era revestida e rebocava-se o interior. Só quando passavam as
primeiras chuvas é que se executavam os revestimentos exteriores (52). As muralhas
exteriores eram rebocadas e pintadas na maioria dos casos.
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6- CONSIDERAÇÕES FINAIS:
As desvantagens são conhecidas: a taipa exige reparos constantes, por causa das
chuvas, da umidade e de ações do tempo e também das ações antrópicas. No caso, como o
forte perdeu sua função após a saída dos holandeses e foi abandonado, seu atual estado de
conservação reflete todas estas questões. Comparando-se este forte com fortes de taipa
restaurados em Portugal, nota-se que os problemas são praticamente os mesmos. A
vegetação existente no local permitiu que as muralhas ficassem estáveis, mas existem
árvores grandes, com raízes que se estendem ao longo dos vestígios e a presença de
animais. Por ficar dentro de uma área pública e praticamente sem vigilância, a deterioração
segue o seu curso.
NOTAS DO TEXTO:
1- ALBUQUERQUE, Marcos et alii, s/data, pág. 15.
2- Idem, pág. 16.
3- GOMES, 2002, pág. 73.
4- MIRANDA, 2003, pág. 100.
5- ALBERNAZ; LIMA, 2003, pág. 538.
6- Idem, pág. 250.
7- Ibidem, pág. 444.
8- BENTO, 1971, pág. 50.
9- MELLO, 1967, pág. 09.
18
10- MENEZES; RODRIGUES, 1986, pág. 112. Também ALBUQUERQUE;
LUCENA, 1997, apud BARRETO, Aníbal, nota nº. 52, pág. 194.
11- ALBUQUERQUE; LUCENA, 1997, pág. 164.
12- Idem, pág. 162.
13- BRASILEIRO, 2001, plantas do projeto.
14- MELLO, 1985, págs. 258 e 262. O texto da página 262 parece fazer uma referência
ao forte do Arraial Novo do Bom Jesus, embora a localização esteja errada, bem
como o nome do dono das terras, que no caso era João Fernandes Vieira.
15- CALADO, 2004, pág. 137.
16- MELLO, 1967, pág. 186.
17- SANTIAGO, 1984, pág. 329.
18- REIS, 2001, pág. 88.
19- MELLO, 1987, pág. 84. O referido mapa também está reproduzido no livro de José
Antônio Gonsalves de Mello, “Cartografia do Brasil Holandês”, segundo informações
do Professor José Luis Mota Menezes. No livro Atlas Histórico Cartográfico do
Recife, de sua autoria, aparece um trecho deste mapa, que não contempla a
localização do forte do Arraial Novo do Bom Jesus, pág. 25.
20- M297- Mapa, 1993, pág. 179.
21- REIS, 2001, pág. 334.
22- MELLO, 1987, pág. 90.
23- MELLO, 1967, pág. 09.
24- SANTIAGO, 1984, pág. 333.
25- ALBUQUERQUE; LUCENA, 1997, pág. 177.
26- ALBUQUERQUE; LUCENA, 1997, pág. 169 apud GAMA, Fernandes- “Memórias
Históricas de Pernambuco”. Também citado na Revista do Instituto Arqueológico
1866, n.13, pág. 99, material que não foi ainda consultado para este trabalho.
27- Preservação de Sítios Históricos, pág. 135.
28- MELLO, 1997, pág. 48.
29- SANTIAGO, 1984, pág. 528.
30- BRASILEIRO, 2001, plantas do projeto.
31- ALBUQUERQUE; LUCENA, 1997, págs. 158 e 159.
32- Idem, pág. 159.
33- ALBUQUERQUE; LUCENA, 1997, apud JESUS, Frei Raphael de, pág. 173.
34- Idem, pág. 164.
35- SANTIAGO, 1984, pág. 329.
36- GOUVÊA, 1978, pág. 74. O autor cita que D. Pedro II estudava a obra de Frei
Raphael de Jesus, O Castrioto Lusitano, para encontrar locais relativos à Restauração
Pernambucana.
37- BRASILEIRO, 2001, plantas do projeto.
38- CALADO, 2004, pág. 137.
39- SANTIAGO, 1994, pág. 333.
40- GOMES, 2002, pág. 73.
41- MENEZES; RODRIGUES, 1986, pág.18, apud MELLO, Ulisses Pernambucano- O
Forte das Cinco Pontas.
42- GOMES, 2002, pág. 73.
43- Arquitectura de Terra em Portugal, 2005, pág. 142, texto de Helena Catarino.
44- ALBUQUERQUE, s/data, mimeo.
45- MELLO, 1975, pág. 229.
46- MELLO, 1967, pág. 09.
47- ANDRADE, 1998, pág. 02.
48- ALBUQUERQUE; LUCENA, 1997, pág. 177.
49-MIRANDA, 2003, pág. 100.
19
50- Arquitectura de Terra em Portugal, 2005, pág. 39.
51- SANTIAGO, 1984, pág. 329.
52- Arquitectura de Terra em Portugal, 2005, pág. 25.
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- ALBUQUERQUE, Marcos- Arqueologia Histórica, Arquitetura e Restauração in
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- BENTO, Cláudio Moreira- As Batalhas dos Guararapes- descrição e análise militar,
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