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1- INTRODUÇÃO.

O objetivo deste trabalho é desenvolver uma análise sobre um “forte de terra”, ou seja,
uma fortificação construída em taipa de pilão, no Brasil, durante o período de ocupação
holandesa, após o retorno de Maurício de Nassau para a Europa, quando se iniciou o
movimento de Restauração Pernambucana: o forte do Arraial Novo do Bom Jesus, cujos
vestígios ainda existem.

Não se conhece o seu “risco”, uma vez que não existem registros gráficos a seu
respeito. O que se sabe é que foi projetado por um oficial holandês, Dirck von Hoogstraten,
que se passou para o lado dos luso-brasileiros. Este fato encerra algumas perguntas: o forte
poderia ser enquadrado na chamada Escola Holandesa de Fortificações, considerada
avançada para a época, por ter sido projetado por um engenheiro militar holandês ou por
conta do seu afastamento do Brasil antes das obras concluídas, ele pode ser enquadrado como
um típico exemplar luso-brasileiro, por ter sido terminado por um mestre de obras português
e outro estrangeiro? A pesquisa arqueológica poderá elucidar algo a respeito.

Os fortes luso-brasileiros herdaram do período de domínio muçulmano na Península


Ibérica, que foi cerca de 800 anos, algumas características que serão analisadas no decorrer
deste trabalho. Os engenheiros militares portugueses também se guiavam pelos tratados das
chamadas Escolas de Fortificação, assim como os holandeses. Entretanto, estavam
ultrapassados em relação ao poderio bélico destes e à arquitetura militar.

Segundo observa ALBUQUERQUE et alii (s/data), o conceito dos locais que deveriam
ser fortificados se alterou ao longo do tempo no Brasil colonial. Muitas vezes, obras
construídas antes da invasão holandesa foram abandonadas em vez de serem recuperadas
para uso, por causa dos estragos existentes ( 1). Durante o período holandês, houve uma
substituição de estratégias das escolas de fortificações. A troca de bandeiras entre os fortes
foi comum, bem como a troca de denominações. Assim, na bibliografia, um único forte pode
ter vários nomes, o que às vezes confunde a sua identificação, inclusive no que se refere à
localização dos vestígios (2).

Após a saída dos holandeses do Brasil, o forte do Arraial Novo do Bom Jesus foi
abandonado. Só as fortificações que estavam situadas no litoral foram mantidas e
reconstruídas em pedra e cal, durante o período em que João Fernandes Vieira ocupou o
cargo de Superintendente das Fortificações Pernambucanas, até a sua morte, em 1681. No
entanto, é interessante notar que o sistema de defesa desenvolvido pelos holandeses para a
cidade do Recife foi mantido (3).

1.1- Definição dos termos:

1.1.1- Em relação às construções:


- Baterias são estruturas menores que Redutos, isoladas de uma fortaleza que lhes preste
auxílio (4).
- Fortes e fortins: são construções fechadas, geralmente erguidas às margens de rios ou no
litoral, situados em locais estratégicos.
- Fortificação: é qualquer obra de defesa militar, seja ela um forte, uma muralha, uma
trincheira ou um dique.

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- Redutos: são recintos providos de muralhas, construídos no interior de uma fortificação,
para aumentar a sua defesa (5).
- Risco: denominação antiga para o projeto de uma edificação.

1.1.2- Em relação aos métodos construtivos:


- Faxina: é um conjunto de troncos de arbustos ou galhos de árvores, trançados uns nos outros
de forma a fazer uma cerca. Foi empregada nas fortificações, solidificada com a terra (6).
- Pau-a-pique: é um sistema construtivo que usa uma espécie de grade feita com varas de
madeira, organizadas em sebe, preenchidas com terra ou barro. É o mesmo que taipa de mão
(7).
- Taipa de pilão: sistema construtivo que usa a terra e a madeira como materiais de
construção. A terra molhada ou úmida é apiloada, compactada dentro de formas de madeira,
os taipais.

1.1.3- Em relação à organização das tropas:


- Terços: possuíam de 300 a 1200 homens e eram comandados por um Mestre de Campo,
cargo equivalente ao de Coronel (8). Nesta época, havia o terço dos índios, o terço dos
negros, o terço dos estrangeiros e terços dos luso-brasileiros, cada um com um
comandante.

2- LOCALIZAÇÃO:

O Forte do Arraial Novo do Bom Jesus está situado entre os bairros dos Torrões e do
Cordeiro, na zona oeste da cidade do Recife. Estava localizado no interior, tal como o forte
do Arraial Velho do Bom Jesus, também construído em taipa de pilão, cujos vestígios se
encontram no bairro de Casa Amarela, no Recife. O seu nome foi uma homenagem a este
antigo forte, destruído pelos holandeses em 1635, dez anos antes da sua construção. João
Fernandes Vieira havia trabalhado aí como ajudante de açougueiro, com a idade de 22 anos
(9). Não estava às margens de um rio e nem no litoral. Na época da sua construção, as terras
faziam parte da freguesia da Várzea.

Em relação à sua localização, alguns autores falam que estava situado sobre uma
pequena elevação, o que seria comum num edifício deste tipo, como é o caso do forte do
Arraial Velho. Distavam 8 km da cidade do Recife, na zona oeste ( 10). Outros, entretanto,
afirmam que as terras que pertenciam à Várzea são planas, baixas e alagadiças, não existindo
a possibilidade de colina ou até mesmo de um pequeno monte. O que se vê hoje como colina
seria o que sobrou da cortina e dos baluartes da fortificação. As curvas de nível encontradas
seriam da própria elevação das estruturas ou ainda resquícios de um terrapleno (11).

Segundo levantamento efetuado pelo Laboratório de Arqueologia da Universidade


Federal de Pernambuco, as cotas máximas existentes no terreno são de 6,0 m, sendo que o
maior desnível é de 3,6 m e há desníveis entre 0,8 m e 1,7 m, com pequenas depressões
isoladas. O terreno faz parte da planície flúvio-marinha do Recife, limitada a leste pelo mar e
a oeste pelas barreiras componentes do Montes Guararapes ( 12). A área correspondente aos
vestígios tem cerca de 1366, 82 m2 (13). A dúvida a respeito da construção sobre uma colina
ou não poderá ser esclarecida através de pesquisa estratigráfica arqueológica.

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Outra questão se impõe: se as terras são planas e não existe nenhuma elevação, por que
estaria o forte localizado aí, se as escolas de fortificação estabeleciam que fortes deveriam ser
construídos às margens de rios ou na beira-mar ou ainda em locais altos? Teria sido esta uma
estratégia do oficial Hoogstraten para confundir os compatriotas holandeses por ele traídos e
favorecer os luso-brasileiros, ou seria uma esperteza, no sentido de violar uma regra
estabelecida e assim, deixar o forte em situação desfavorável, fácil de ser atacado?

O forte é citado duas vezes em documentos holandeses (14):


-“... tendo construído a cerca de meia milha distante
do forte de Afogados uma certa fortificação,
com 6 a 7 peças que trouxeram de Porto Calvo”.

- “Na Várzea da dita capitania, construiu o inimigo


(como em Pernambuco), uma pequena fortificação,
na qual se recolheu, sendo esta em um certo engenho,
chamado Santo André, pertencente a Jorge Homem
Pinto; mas esta fortificação não é de tanta
importância que possa resistir a quem for senhor da
força ou tenha alguma força no terreno” .

O local onde foi construído o Forte do Arraial Novo do Bom Jesus era o antigo engenho
São Tomé, que havia pertencido a Antônio de Souza Moura. As terras foram vendidas para o
holandês Willem Bierboom, chamado “Bribão” por CALADO (15). O novo nome do engenho
era Rotterdam. Ficava na freguesia da Várzea, a 6 km do Recife, segundo MELLO (16). Nota-
se que há divergência dos autores consultados sobre a distância do forte à cidade do Recife.
SANTIAGO fala que o forte distava uma légua do Recife ( 17). A légua equivale a 6.600
metros.

Antes do período de Nassau, havia poucos mapas da cidade do Recife, feitos por
cartógrafos portugueses. Durante a ocupação holandesa, o forte aparece num mapa de 1648,
editado na Holanda e feito pelo cartógrafo Cornelius Golyjath. Depois foi realizada uma
gravura deste mapa, que se encontra hoje no acervo da Mapoteca do Itamaraty, Ministério
das Relações Exteriores, no Rio de Janeiro (18). O mesmo mapa está publicado nos livros
“Tempo dos Flamengos” (19) e “Imagens da Formação Territorial Brasileira” (20). Por que
este forte nunca foi atacado, como dizem os relatos, se a sua localização era conhecida pelos
holandeses?

O cartógrafo Golyjath estava desde 1635 no Brasil. A partir de 1640, prestou serviços a
Maurício de Nassau, tendo seus trabalhos publicados por Vingboons. Segundo REIS ( 21) o
mapa foi elaborado por volta de 1640, ano em que o forte ainda não estava construído, mas
no mapa impresso depois, foram depois acrescentadas diversas informações.

No mapa citado, que aparece reproduzido na próxima página, o ícone utilizado para
identificar o forte não representa o seu formato exato, embora os relatos e os vestígios
confirmem que tivesse 4 baluartes, mas apenas assinala que havia naquele lugar uma
fortificação. Esta era a forma de representação. O mapa não está representado com o norte
apontando para cima, como é a convenção dos dias atuais.

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Mapa 01- Mapa exato da situação de Olinda e Pernambuco. Cornelius Golyjath. Impresso
nos Países Baixos por Claez Jausz Vischer, ano 1648. reproduzido no livro Imagens da
Formação Territorial Brasileira, pág. 179.

O mesmo problema ocorre nos mapas da cidade do Recife feitos nesta época, onde não
se sabe se o que está registrado é o projeto ou algo que foi realmente construído. MELLO
chama a atenção para um mapa publicado por Vingboons, onde aparece em linhas tracejadas
o plano para a Cidade Maurícia, que foi reproduzido por Golyjath como se tivesse sido
realizado (22).

Confrontando-se o mapa de 1648 com um mapa atual da cidade do Recife reproduzido


abaixo, verifica-se que a localização está mais ou menos correta. No mapa de Golyjath, o
forte parece estar um pouco mais acima de onde estão os seus vestígios.

Mapa 02- Cidade do Recife.


www.recifeguide.com/basics/maps.html

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Na época da construção do forte, outros fortes já haviam sido tomados dos holandeses
pelos luso-brasileiros, mas estavam em pontos distantes no litoral, como o Forte de Nazaré,
no Cabo de Santo Agostinho e o Forte de Porto Calvo, em Alagoas. Optou-se pela instalação
de forças- os chamados terços- em diferentes estâncias próximas do local escolhido, para não
confinar o grosso das tropas em um único lugar. A nova área fortificada serviria ao comando
da campanha.

Dom Antônio Felipe Camarão, governador dos índios do Brasil e chefe do terço dos
índios, instalou sua estância em Afogados, no sítio de Sebastião de Carvalho e Henrique
Dias, chefe do terço dos negros, ficou com a da Boa Vista, no sítio de João Velho Barreto.
Havia o forte das Salinas, no atual bairro de Santo Amaro, conhecido como Trincheira de
Luiz Barbalho e as trincheiras dos Afogados, a do Mendonça, na Madalena e a estância do
Aguiar, na atual Estrada dos Remédios. Estas estâncias no início, não possuíam obras de
defesa externa, eram abertas e geralmente construídas em taipa. Mas em 1646, estavam já
cercadas por paliçadas de pau-a-pique (23). Havia ainda o terço dos estrangeiros, que contava
inclusive com muitos soldados que haviam servido à Companhia das Índias Ocidentais ( 24).
No início de Outubro de 1645 já havia tropas acampadas na área, escondidas entre os
canaviais, próximo ao Engenho do Meio, que pertencia a João Fernandes Vieira (25).
Poços ou cacimbas para o abastecimento de água geralmente se localizavam no centro
da praça de armas das fortificações. Existia uma cacimba de água potável, que ficava no
centro da quadra, citada em publicações até o terceiro quartel do século XIX ( 26). Quando foi
instituída a Zona de Preservação Rigorosa- ZPR- pela Lei 13.957 de 10 de Outubro de 1979,
do Plano de Preservação dos Sítios Históricos da Cidade do Recife- PPSH- o conjunto de
“casa, cacimba e monumento” foi classificado como “ruína” ( 27). A cacimba hoje não está
mais aparente. Poderá ser revelada na escavação arqueológica.

A questão econômica se impõe desde o princípio, visto que a capitania foi alvo de
ocupação por causa da produção do açúcar e que o levante que tomou o nome de Restauração
Pernambucana foi rural, iniciado pelos senhores de engenho que deviam dinheiro aos judeus
do Recife e à Companhia das Índias Ocidentais. Pernambuco na época da invasão holandesa
era o mais importante produtor de açúcar do Brasil. O forte ficava localizado na rota que
levava a Porto Calvo, em Alagoas, por onde os senhores de engenho escoavam a produção de
açúcar que não passava pela Companhia das Índias Ocidentais. Assim, escapavam dos
pesados impostos que incidiam sobre a exportação.

O caminho para Porto Calvo passava pela Muribeca e pelos Montes Guararapes, local
de duas batalhas importantes dentro do movimento da Restauração Pernambucana, ocorridas
em 1648 e 1649. O forte era o local de armazenagem dos víveres e de armas e munições, para
onde eram levados os mortos e os feridos sempre que possível. Os mortos eram sepultados na
Igreja da Várzea ou ainda na igreja que existia no Arraial Novo ou na desaparecida Igreja de
Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, também na Várzea ( 28). Os restos mortais de João
Fernandes Vieira e André Vidal de Negreiros estão hoje sepultados na Igreja de Nossa
Senhora dos Prazeres dos Montes Guararapes. Henrique Dias teria sido sepultado no
Convento de Santo Antônio, no Recife, mas já não há sinais de sua sepultura. Dom Antônio
Felipe Camarão foi inicialmente sepultado na igreja do Arraial Novo e depois transferido para
a Matriz da Várzea, mas hoje não se sabe o seu paradeiro (29).

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2.1- SITUAÇÃO ATUAL:

O forte fica dentro de uma praça pública, onde funciona uma Academia da Cidade,
assim como os vestígios do antigo Forte do Arraial Velho, que estão no Sítio da Trindade.
Seu principal acesso é a Avenida do Forte, perpendicular às Avenidas Caxangá e Engenheiro
Abdias de Carvalho. Apesar de ser área de preservação rigorosa, se encontra em estado
vestigial e sem nenhum cuidado. É usado pela população do local como pasto para animais.
Segundo levantamento efetuado por BRASILEIRO (30), a área total do terreno da praça é de
33.510, 25 m2, incluindo os vestígios.

Foto 01- Academia da Cidade. Stela Barthel, 2006.

Ainda é visível o formato de três dos baluartes e parte do fosso. Sobre um deles, o
Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico de Pernambuco colocou uma coluna, com uma
cruz encima, assinalando o monumento, em 1872, e depois uma placa foi colocada em 1917,
segundo a inscrição. Em outro, existem as ruínas de uma casa construída em finais do século
XIX, pelo proprietário das terras, o tenente-coronel Thomaz Cavalcanti da Silveira Lins, que
comprou a propriedade de Antônio de Hollanda Cavalcanti (31).

Apenas um dos baluartes está livre. O último deles foi inteiramente destruído e pode
ter sido alvo de terraplenagem (32). É tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional- IPHAN- sob o número 942- T- 76, Livro Histórico Vol. 1, Folha 80,
Inscrição 467 08/04/1980 (33). O fosso pode ter sido aterrado em parte, talvez pelo próprio
desmoronamento da estrutura, embora apresente água ao longo do ano, havendo informações
de moradores do local que é possível inclusive se pescar em determinados meses.

No caso, não há vestígios aparentes sobre a natureza das suas estruturas externas de
defesa, que podem ter sido muralhas em terra ou ainda paliçada em volta, como era comum
nas fortificações desta época. Alguns mapas e plantas tratam do perfil dos fortes, mas as
obras de defesa exterior nem sempre aparecem assinaladas. No “Castrioto Lusitano” ( 34),
Frei Raphael de Jesus descreve:

“deram princípio se aperfeiçoou, com reparos, plataformas,


esplanadas, contra-escarpas, pontes, cavas, trincheiras,
paliçadas e tudo o mais concernente e proporcionado
com majestade da praça: e não tão bem acabada, que a
olhava a arte com admiração e o ódio com receio”.

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A foto abaixo mostra que tipo de paliçada poderia existir, reconstruída no Reduto de
Tejucopapo, na cidade de Goiana, que era contemporâneo ao forte do Arraial Novo.

Foto 02- Reconstrução da paliçada de Tejucopapo, Goiana. Doris Walmsley, 1998.


Fonte: ALBUQUERQUE, Marcos et alii- Fortes de Pernambuco- Imagens do passado e do
presente, pág. 115.

Documentos de 1958 citam que havia ainda nesta data evidência de muralhas em volta
do forte, embora num dos poucos trechos em que fala da construção do forte do Arraial Novo
do Bom Jesus, SANTIAGO diz (35):

“com suas plataformas e esplanadas, que lhes descortinavam


bem todas as partes, e com paliçadas de pau-a-pique, com
suas trincheiras, e outras obras necessárias para ficar boa
e bem segura à força” .

Foto 03- Vista aérea dos vestígios. Doris Walmsley, 1998. Fonte: ALBUQUERQUE,
Marcos et alii- Fortes de Pernambuco, Imagens do Passado e do Presente, Recife, Grafftorre,
s/data, pág. 181.

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Foto 04. Coluna sobre baluarte e restos do antigo fosso. Stela Barthel, 2006.

3- DELIMITAÇÃO DO ESTUDO:

3.1- Tempo abordado:

O tempo em que o forte teve importância é relativamente curto, cerca de nove anos,
de 1645 a 1654, entre os 24 anos de dominação holandesa. Vai desde a sua construção até
o seu abandono. Este foi um período de intensificação da luta, que se iniciou logo após o
retorno de Maurício de Nassau para a Europa. Ao longo deste período, foi o quartel-
general de João Fernandes Vieira e do movimento da Restauração Pernambucana. Fez
parte de um sistema de defesa maior, estabelecido por João Fernandes Vieira para a
retomada da capitania e a expulsão dos holandeses. Ficou perdido por cerca de dois
séculos, até meados do século XIX, quando se tornou uma propriedade particular.
Quando o Imperador Pedro II esteve em visita a Pernambuco, em 1859, chegou a fazer
uma expedição em busca do forte, mas seus vestígios não foram localizados (36). Só anos
mais tarde, o Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico de Pernambuco assinalou o
monumento, depois de várias pesquisas e estudos.

3.2- Espaço abordado:


A Lei Municipal nº. 16.176/96, Lei do Uso e Ocupação do Solo da cidade do
Recife- LUOS- define o local como Zona Especial de Preservação Rigorosa- ZEPR nº.
31. São dois setores: um é área de preservação ambiental, onde se localizam os
equipamentos da Academia da Cidade e ainda brinquedos e bancos. O outro é a área de
preservação rigorosa, onde estão os vestígios do forte. O perímetro deste último setor é
formado pelo Ponto 1, localizado no cruzamento da Avenida do Forte com a antiga Rua
Jardim do Forte, que já não existe, pois está dentro da praça, mas seu contorno foi
aproveitado para se fazer um calçamento. O ponto 2 é no cruzamento da Avenida do
Forte com o prolongamento da rua Laura F. da Costa. O ponto 3 é ainda neste
prolongamento, beirando o muro das construções existentes. O ponto 4 é no cruzamento
8
da antiga rua Jardim do Forte com o prolongamento dos muros das construções
existentes. Esta é a área abordada. O mapa abaixo mostra o entorno da praça onde se
localiza o forte.

Mapa 03- UNIBASE- Bairros do Cordeiro e Torrões. Fonte: FIDEM, 2000.

Segundo medidas de escala sobre levantamento efetuado por BRASILEIRO ( 37), no


mapa abaixo, a cota mais longa dos vestígios está no sentido leste-oeste e tem cerca de 56,0
m. A cota menor tem cerca de 39, 0 m. No sentido norte-sul, a cota maior tem cerca de 40,0
m e a menor tem cerca de 37,0 m.

Mapa 04- Levantamento dos vestígios. BRASILEIRO, 2001,


plantas do projeto.

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4- O “RISCO” DO FORTE:

Ao contrário das fortificações holandesas desta época, que são bem documentadas, as
fortificações luso-brasileiras têm pouco ou nenhum registro iconográfico. É o caso deste
forte, não existem registros a seu respeito, apenas três textos da época de sua construção, mas
pouco dizem do seu formato. “História da Guerra de Pernambuco” foi escrito por um
morador do Arraial Novo, Diogo Lopes Santiago. O outro texto, no qual este autor se baseou
e inclusive fez correções a datas, nomes e acontecimentos, foi escrito por Frei Raphael de
Jesus, sob encomenda de João Fernandes Vieira. É “O Castrioto Lusitano”. O terceiro deles é
“O Valeroso Lucideno”, de Frei Manoel Calado.

O oficial holandês Hoogstraten não chegou a ver o forte concluído, pois retornou à
Holanda antes de findar 1645, ano do início da construção, que foi no mês de setembro. Isto
foi feito por outros dois mestres de obra estrangeiros, sendo um deles português. Frei Manoel
Calado fala que o forte foi construído pelo Mestre de Campo Teodósio de Estrate e um
mestre de obras estrangeiro (38). Nesta época, havia 280 soldados estrangeiros servindo às
tropas luso-brasileiras, em um terço chefiado pelo francês Francisco de Latour e por Teodoro
Straten, que deve ser o mesmo Teodósio de Estrate, citado por CALADO. Havia soldados
franceses, flamengos, alemães e ingleses (39).

Durante todo o período de ocupação holandesa, foram organizados sistemas de


fortificações de ambos os lados do conflito. Estes incluíam fortes, fortins, redutos e baterias,
construídos em locais estratégicos, segundo normas específicas dos tratados de arquitetura e
engenharia militares então vigentes, dos séculos XVI e XVII. Estes tratados seguiam duas
escolas, a Escola Italiana de Fortificações e desta teria se derivado a Escola Holandesa de
Fortificações, que ampliou os conhecimentos dos mestres italianos. Uma das características
desta última era o uso do fosso, onde a fortificação era cercada por áreas planas que
pudessem ser inundadas pela água do mar ou de algum rio.

Foto 05- Restos do fosso ao lado dos vestígios do baluarte. Stela Barthel, 2006.

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O uso de baluartes, característico da escola Italiana de Fortificações, permitia o
chamado “fogo cruzado”, onde um baluarte defenderia o outro, além de defender outros
pontos do forte.

Figura 01: esquema de baluartes.Fonte: ALBERNAZ & LIMA-


Dicionário Ilustrado de Arquitetura, pág. 80.

Um dos fatores que determinava o formato das fortificações era o conhecimento a


respeito das armas do inimigo, ou seja, qual a tecnologia utilizada por eles. O formato
poderia variar: estrelado, regular, como é o caso do forte do Arraial Novo ou irregular, como
o forte do Arraial Velho, poligonal ou circular, estes últimos mais usados em fortes no mar
(40). Mas segundo MELLO, o que caracterizava as fortificações holandesas não era o seu
“risco” e sim a sua localização, a escolha do terreno onde iria ser implantada e o que se
queria defender (41). A geografia entra como um dos fatores mais importantes, pois aliada aos
obstáculos naturais, a fortificação potencializa o seu poder de defesa frente a um conjunto de
embarcações ou de tropas. Quando se esperava um ataque vindo de fora, os fortes eram
localizados à beira-mar ou em rios. No caso, o inimigo já estava dentro do local. O papel
desempenhado por um forte e sua relação com outros fortes também entrava como fator
determinante de sua localização. No caso deste forte, um dos fatores mais importantes para a
sua localização era a proximidade com a cidade do Recife, onde estavam concentrados os
holandeses.

As plantas das fortificações eram executadas de acordo com funções especificas para
cada edifício. Quando se localizavam às margens de rios ou à beira-mar, as formas eram
diferentes, conforme as muralhas estejam voltadas para o mar ou rio ou para a terra firme.
Isto é também “uma definição de técnica de guerra” ( 42). As fortificações possuem áreas
internas e externas. São comuns obras de defesa externa, para protegê-las.

Um elemento que deveria estar sempre presente era o sistema de drenagem e de


escoamento das águas da chuva e/ou de esgotos. Para tanto, eram feitas aberturas nas
muralhas. Por vezes, como no Castelo de Paderne, em Portugal, existia ainda um sistema de
canalização que corria sob os pavimentos dos edifícios e para o qual convergiam as
canalizações secundárias que saem dos pátios ou das latrinas (43).

Do corpo de uma fortificação é comum a maior parte dos itens abaixo:


- Armazéns: para mantimentos.
- Baluartes: formam ângulos com a função de defesa do fosso e da cortina.
- Baterias baixas.
- Bermas: são caminhos que circundam as muralhas que dão para o fosso.
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- Canhoneiras: são os espaços entre os merlões.
- Capela, geralmente dedicada a um santo.
- Casa do cirurgião.
- Casa do capelão.
- Casa do comandante.
- Casa dos oficiais: espaço utilizado para alojamento.
- Casa de pólvora ou paiol: para estocar a pólvora, deve ficar em local abrigado e ventilado e
deve ser cercada, por causa das explosões.
- Casamatas: são alojamentos para abrigar a guarda, semelhantes a celas. Algumas possuem
fogões e latrinas.
- Contra-escarpa: é uma espécie de talude ou parede inclinada, voltada para a praça de armas,
que circunda o fosso.
- Cordão: demarca o fim da muralha e o início do parapeito.
- Cortina: é a muralha que fecha dois baluartes.
- Enfermaria: para atender aos feridos.
- Flanco: cada uma das faces laterais do baluarte, junto à cortina.
- Fontes de abastecimento de água: são geralmente colocadas no centro da praça de armas.
Podem ser poços ou cacimbas.
- Merlões: não são parapeitos convencionais. São dentes que delimitam vãos na parte
superior da muralha. São preenchidos de terra, para a defesa. Geralmente existem banquetas
entre eles.
- Muralhas internas: são geralmente altas e de grande espessura. Podem ser de tijolos, pedra
ou taipa.
- Praça de armas: área descoberta no interior da fortificação, onde se reúne a tropa. É também
chamada de praça forte.
- Poterna: entrada de serviço, mas serve também como saída de emergência em caso de fuga.
Geralmente dá para o fosso.
- Rampas de acesso aos merlões e aos baluartes.
- Reparos: onde assenta o parapeito.
- Terrapleno: é uma elevação artificial do terreno, que é contido por duas muralhas, uma
externa e outra interna, é um elemento constante em quase todas as fortificações e é coberto
de terra, para suportar o peso dos canhões.
- Trânsito: geralmente tem seteiras, pequenas aberturas que permitem tiros e que resguardam
quem está atirando, e é feito em curva, para evitar a trajetória das balas em linha reta.

Da defesa externa, fazem parte os seguintes itens:


- Barbacã ou muralha externa. É geralmente mais baixa. Circunda toda a fortificação e o
fosso.
- Corpo da guarda: destinado ao descanso da guarnição.
- Entrada principal: colocada onde não se esperava a chegada do inimigo. Se ele vinha pelo
mar, a entrada não estava posicionada aí e sim em outro lado.
- Escarpa: é o talude das muralhas voltado para o fosso externo ou muro em talude no fosso
ao lado da muralha.
- Esplanada: em frente aos fortes, não podia ter nada que propiciasse ao inimigo um
esconderijo, como arbustos.
- Fosso: tinha a dupla função de fornecer aterro para o terrapleno e os baluartes além da
função militar de criar um obstáculo para o inimigo. Feito em torno da muralha para
dificultar o acesso. Podia ser seco ou ter água.
- Hornaveque: em ângulo, protegia a entrada faz fortificações.
- Pontes: permitem o acesso sobre o fosso seco e se o fosso tiver água, pode ser levadiça.
- Redente: é um pequeno revelim. Forma ângulos agudos e salientes.

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- Revelim: a função principal é proteger o acesso à fortificação. Forma saliência angular, com
planta triangular ou trapezoidal.

5- O SISTEMA CONSTRUTIVO:

5.1- O CONTEXTO:

As fortificações de pedra, mais comuns na época medieval, quando não se usavam


ainda armas à base de pólvora, foram substituídas no século XVII pela taipa, que amortecia o
impacto das balas de canhão. Esse sistema era recomendado pelos engenheiros militares de
ambos os lados do conflito. Mas não podia ser aplicado em todos os casos. Nesta época,
ainda existiam fortes de pedra no Recife, de feições medievais, com paredes altas e retas, que
não resistiram aos ataques dos holandeses ( 44), como é o caso dos fortes de São Francisco e
de São Jorge, este último usado pelos holandeses como hospital. Estavam ultrapassados em
relação ao poderio bélico dos invasores. Os luso-brasileiros conseguiram resistir durante anos
às custas de emboscadas, de ataques de surpresa ( 45) e da utilização de técnicas de guerrilha
(46), porque as fortificações não podiam resistir à artilharia dos holandeses.

ANDRADE (47) divide os 24 anos de dominação holandesa em três períodos distintos:


1- Entre 1630 a 1635- este é justamente o período em que o forte do Arraial velho do
Bom Jesus foi construído e destruído. Foi um período de guerra lenta e resistência por
parte dos luso-brasileiros.
2- Entre 1637 e 1644- este período corresponde aos anos do governo de Maurício de
Nassau e foram menos turbulentos, com algumas tréguas entre as duas partes, mas
não significou que os conflitos tivessem parado.
3- Entre 1645 e 1654- este é o período que vai da construção até o abandono do forte do
Arraial Novo, quando a guerra se intensificou.

Do lado dos holandeses, havia também um sistema de fortes, tomados quando da


ocupação e outros que foram sendo construídos, a maioria em taipa. A matéria-prima
utilizada por eles era local, mas foram usadas também pranchas de madeira, que eram
trazidas por seus navios (48). Os holandeses desenvolveram então dois sistemas defensivos. O
primeiro ficou pronto em 1637, feito pelos engenheiros Andréas Drewish e Pieter van Bueren
(49). Uma paliçada de madeira envolvia o povoado do Recife desde 1638 e havia uma base de
artilharia na entrada, além de baterias no Istmo e na chamada Barreta dos Afogados.

Por parte dos holandeses, houve a construção em taipa do Forte do Brum, assim como
o Forte do Buraco. Havia baterias em várias direções. O povoado foi então cercado por uma
muralha de pedra ao leste, a chamada Porta da Terra e o baluarte ao oeste, que era de terra.
Este monumento de pedra foi alvo de recentes escavações no Bairro do Recife, realizadas
primeiramente pela equipe do laboratório de Arqueologia da Universidade Federal de
Pernambuco, sob o comando do professor Marcos Albuquerque e posteriormente pela Pós-
Graduação em Arqueologia da mesma universidade.

O segundo sistema defensivo holandês ficou pronto em 1639. Os holandeses


construíram mais alguns redutos na direção Oeste, na Ilha de Antônio Vaz. Havia ainda o
Forte das 5 Pontas, o Forte Ernesto e o Waerdenburch. Quando os holandeses foram embora,
este sistema foi desativado e os luso-brasileiros construíram o Forte do Matos em pedra e cal
13
para reforçar a proteção da barra, em 1685. Este forte é objeto de estudo por um mestrando
do Programa de Pós-Graduação em Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco,
Luiz Severino da Silva Júnior.

5.2- A TAIPA DE PILÃO:

Para a chamada taipa de pilão, a terra vermelha e argilosa, úmida ou molhada, chamada
de Massapê, era a mais apropriada. Com ela eram feitos blocos de argila compactada,
apiloada, aos quais podem ser adicionados outros materiais, como cal, areia, cascalho e
estrume, para aumentar sua resistência e plasticidade.

Para as construções dos fortes de taipa, havia material em abundância em Pernambuco.


Precisava-se de argila de boa qualidade e a madeira vinha das matas próximas. Construções
feitas em taipa exigem revestimento de argamassa com muitas demãos e reparos constantes
por causa da chuva e da umidade. São fáceis de fazer e como obras ligeiras, permitem a
rapidez da execução, mas exigem mestres taipeiros. Eram comuns paredes feitas com taipa
apiloada e nas muralhas externas, o pau-a-pique. A terra retirada para se abrir o fosso era a
mesma terra usada para as muralhas. Às vezes, era necessário se revestir as muralhas com
faxina e uma mistura de terra e lodo.

Figura 02- Faxina. Fonte: ALBERNAZ & LIMA, pág. 250.

Geralmente, usam-se fundações de pedra para fortificações em taipa. Elas elevam-se


do nível do solo o suficiente para que as muralhas ou paredes fiquem assim protegidas da
umidade. Na foto abaixo, as fundações em pedra do Castelo de Juromenha, em Évora,
Portugal, estão visíveis. Sobre elas, foram feitas as paredes de taipa de pilão. Este castelo é
na verdade uma fortificação, da época do domínio muçulmano e data do século IX. Foi
restaurado recentemente.

14
Foto 06- Castelo de Juromenha, em Portugal. Fonte: Arquitectura de Terra em Portugal,
Pág. 40.

A chamada taipa militar foi utilizada desde finais do império romano. Em Portugal,
assim como no Brasil, a taipa enquanto sistema construtivo foi utilizada tanto na arquitetura
vernácula quanto na erudita e desde o período de dominação muçulmana, eram comuns as
fortificações feitas com este material, muitas das quais ainda existem, como é o caso do
Castelo de Juromenha. Para diferenciar a taipa militar da taipa usada em construções civis,
adicionava-se a cal, para dar maior resistência à argamassa e também materiais cerâmicos
(50). Em Juromenha foram também aplicadas camadas horizontais de pedras entre os taipais.

Foto 07- Preparo da cal para a taipa.


Fonte: Arquitectura de Terra em Portugal, pág. 77.

15
A técnica utilizada na fabricação era a seguinte: dentro dos chamados taipais, que são
as armações de madeira, era colocada uma sólida argamassa, composta geralmente de uma
parte de cal, duas de terra, cascalho e pedrisco, que era então compactada. A terra era
espalhada com os pés dentro da armação de madeira antes de ser apiloada. O taipal só
poderia ser retirado após a secagem do bloco, quando era assentado outro bloco por cima. Na
foto abaixo, a argamassa está sendo apiloada com um maço de madeira. Daí a técnica ser
chamada de taipa de pilão.

Foto 08- Taipal sendo assentado sobre bloco feito.


Fonte: Arquitectura de Terra em Portugal, pág.24.

Foto 09- Retirada do taipal. Fonte: Arquitectura de Terra em Portugal,


pág.271.

16
A matéria-prima usada geralmente era retirada do local onde a construção iria ser feita.
O material que se encontrava na superfície era deixado de lado, por conter muita matéria
orgânica. Os torrões de terra eram desfeitos e esta era misturada com enxada e amassada com
pouca água, apenas para umedecer. Às vezes, era necessário um repouso dessa argamassa por
alguns dias antes de se poder usá-la.

Os blocos eram montados desencontrados, como na alvenaria. Concluída a primeira


fiada e já dura, montava-se outra por cima. Antes da nova fiada, aplicava-se uma cinta de cal
e areia para contornar as arestas, vedando as juntas. Neste caso, a cal poderia ser substituída
por pedra e reforçando-se os cunhais com tijoleiras. Cunhal é uma faixa saliente nos cantos
das paredes ou de muros externos, indo da base ao coroamento da construção.

A menor equipe necessária para este tipo de trabalho era composta por 4 homens: um
deles preparava a terra, outro transportava e os outros dois montavam o taipal. Em oito horas,
seriam feitos oito blocos de 0, 50 m de espessura. Cerca de 7 a 8 m2 de construção. Segundo
relatos da época, o forte do Arraial Novo do Bom Jesus foi construído no espaço de 3 meses,
entre setembro de 1645 e dezembro do mesmo ano e trabalharam na construção os moradores
da terra com os seus escravos e o próprio João Fernandes Vieira, com escravos dos seus cinco
engenhos (51).

A espessura da parede era dada pelo espaço entre os taipais, que eram fechados por
pranchas transversais menores de madeira, como mostrado na figura abaixo. Mas nunca
tinham menos que 0.50m. O comprimento poderia variar entre 1.5 m e 2,0 m.

Figura 03- esquema dos taipais. Fonte: ALBERNAZ & LIMA, pág. 589.

Os vãos necessários para portas e janelas podiam ser abertos depois de feitos os
blocos, demolindo-se os espaços ou ainda poderiam ser executados na hora da colocação
do taipal. Os pormenores eram executados conforme a função de casa edifício. Com os
blocos prontos, a taipa era revestida e rebocava-se o interior. Só quando passavam as
primeiras chuvas é que se executavam os revestimentos exteriores (52). As muralhas
exteriores eram rebocadas e pintadas na maioria dos casos.

17
6- CONSIDERAÇÕES FINAIS:

O sistema construtivo escolhido pelos luso-brasileiros para esta fortificação tinha


algumas vantagens: em primeiro lugar, a taipa permitia a execução rápida da obra, o que no
caso, era o desejado, pela urgência da guerra. Também em relação à economia, o sistema é
relativamente barato. Com relação à mão-de-obra, a situação de conflito fez com que todos
os envolvidos participassem dos trabalhos e isto pode ter sido um dos fatores de coesão do
grupo. A taipa exige trabalho coletivo. Em relação à estabilidade da construção, o sistema é
autoportante e também responde bem à questão do isolamento térmico e acústico, sendo
indicado para fortificações por absorver melhor o impacto das balas de canhão, não
havendo o perigo de estilhaços do projétil e nem do desmoronamento das muralhas. O
impacto de uma construção de terra na paisagem, mesmo tendo um porte avantajado, é
mínimo.

As desvantagens são conhecidas: a taipa exige reparos constantes, por causa das
chuvas, da umidade e de ações do tempo e também das ações antrópicas. No caso, como o
forte perdeu sua função após a saída dos holandeses e foi abandonado, seu atual estado de
conservação reflete todas estas questões. Comparando-se este forte com fortes de taipa
restaurados em Portugal, nota-se que os problemas são praticamente os mesmos. A
vegetação existente no local permitiu que as muralhas ficassem estáveis, mas existem
árvores grandes, com raízes que se estendem ao longo dos vestígios e a presença de
animais. Por ficar dentro de uma área pública e praticamente sem vigilância, a deterioração
segue o seu curso.

O trabalho de escavação arqueológica poderá elucidar as questões levantadas no


início deste trabalho. Existe tecnologia para a consolidação dos vestígios existentes e
certamente o trabalho arqueológico poderá colocar em evidência sua estrutura, além de
recuperar material importante para a reconstrução da vida cotidiana do forte, que é
considerado pelo Exército brasileiro o seu primeiro quartel. Pelo papel que desempenhou
na história da Restauração Pernambucana, merece ser resgatado e devolvido à comunidade
para ser apreciado, também como um exemplar de arquitetura militar do século XVII em
terra, o que é um fato raro. Aqui em Pernambuco, existem os vestígios do Arraial Velho do
Bom Jesus e de um forte holandês na Ilha de Itamaracá, próximo ao Forte Orange. O
Arraial Velho foi escavado e documentado, embora hoje os seus vestígios estejam
encobertos pela vegetação do Sítio da Trindade. Quanto ao forte holandês, ainda não foi
estudado.

NOTAS DO TEXTO:
1- ALBUQUERQUE, Marcos et alii, s/data, pág. 15.
2- Idem, pág. 16.
3- GOMES, 2002, pág. 73.
4- MIRANDA, 2003, pág. 100.
5- ALBERNAZ; LIMA, 2003, pág. 538.
6- Idem, pág. 250.
7- Ibidem, pág. 444.
8- BENTO, 1971, pág. 50.
9- MELLO, 1967, pág. 09.

18
10- MENEZES; RODRIGUES, 1986, pág. 112. Também ALBUQUERQUE;
LUCENA, 1997, apud BARRETO, Aníbal, nota nº. 52, pág. 194.
11- ALBUQUERQUE; LUCENA, 1997, pág. 164.
12- Idem, pág. 162.
13- BRASILEIRO, 2001, plantas do projeto.
14- MELLO, 1985, págs. 258 e 262. O texto da página 262 parece fazer uma referência
ao forte do Arraial Novo do Bom Jesus, embora a localização esteja errada, bem
como o nome do dono das terras, que no caso era João Fernandes Vieira.
15- CALADO, 2004, pág. 137.
16- MELLO, 1967, pág. 186.
17- SANTIAGO, 1984, pág. 329.
18- REIS, 2001, pág. 88.
19- MELLO, 1987, pág. 84. O referido mapa também está reproduzido no livro de José
Antônio Gonsalves de Mello, “Cartografia do Brasil Holandês”, segundo informações
do Professor José Luis Mota Menezes. No livro Atlas Histórico Cartográfico do
Recife, de sua autoria, aparece um trecho deste mapa, que não contempla a
localização do forte do Arraial Novo do Bom Jesus, pág. 25.
20- M297- Mapa, 1993, pág. 179.
21- REIS, 2001, pág. 334.
22- MELLO, 1987, pág. 90.
23- MELLO, 1967, pág. 09.
24- SANTIAGO, 1984, pág. 333.
25- ALBUQUERQUE; LUCENA, 1997, pág. 177.
26- ALBUQUERQUE; LUCENA, 1997, pág. 169 apud GAMA, Fernandes- “Memórias
Históricas de Pernambuco”. Também citado na Revista do Instituto Arqueológico
1866, n.13, pág. 99, material que não foi ainda consultado para este trabalho.
27- Preservação de Sítios Históricos, pág. 135.
28- MELLO, 1997, pág. 48.
29- SANTIAGO, 1984, pág. 528.
30- BRASILEIRO, 2001, plantas do projeto.
31- ALBUQUERQUE; LUCENA, 1997, págs. 158 e 159.
32- Idem, pág. 159.
33- ALBUQUERQUE; LUCENA, 1997, apud JESUS, Frei Raphael de, pág. 173.
34- Idem, pág. 164.
35- SANTIAGO, 1984, pág. 329.
36- GOUVÊA, 1978, pág. 74. O autor cita que D. Pedro II estudava a obra de Frei
Raphael de Jesus, O Castrioto Lusitano, para encontrar locais relativos à Restauração
Pernambucana.
37- BRASILEIRO, 2001, plantas do projeto.
38- CALADO, 2004, pág. 137.
39- SANTIAGO, 1994, pág. 333.
40- GOMES, 2002, pág. 73.
41- MENEZES; RODRIGUES, 1986, pág.18, apud MELLO, Ulisses Pernambucano- O
Forte das Cinco Pontas.
42- GOMES, 2002, pág. 73.
43- Arquitectura de Terra em Portugal, 2005, pág. 142, texto de Helena Catarino.
44- ALBUQUERQUE, s/data, mimeo.
45- MELLO, 1975, pág. 229.
46- MELLO, 1967, pág. 09.
47- ANDRADE, 1998, pág. 02.
48- ALBUQUERQUE; LUCENA, 1997, pág. 177.
49-MIRANDA, 2003, pág. 100.
19
50- Arquitectura de Terra em Portugal, 2005, pág. 39.
51- SANTIAGO, 1984, pág. 329.
52- Arquitectura de Terra em Portugal, 2005, pág. 25.

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