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Um Argumento Ruim Contra

o Inclusivismo
Um argumento bem ruim que ouvi faz um bom tempo sobre o
inclusivismo é que ele tira o ímpeto evangelístico. O argumento costuma
rodar nesta linha:

Considere uma pessoa que não ouviu o Evangelho, mas


respondeu positivamente à revelação divina. Pode ser que,
ao pregar o Evangelho a esta pessoa, ela recuse-o e acabe
por ser danada por causa disto. Então é melhor não pregar!

Penso que muitos dos que fazem tal apelo não compreendem muito bem
as implicações dele.

Primeiro, não temos muita ideia precisa de que pessoas receberão ou


não a Palavra. Aliás, este é um argumento comum dito por calvinistas
acerca de “por que pregar se tudo já está predestinado” (e, em minha
opinião, a partir do momento que o calvinista responde ou tenta
responder a esta pergunta, ela confessa que é um fatalista). Seria então
uma espécie de “hipocrisia teológica” perguntar sobre motivações para
pregação em um panorama que não se preocupa em responder esta
pergunta.

Segundo, dado o testemunho bíblico e, por que não incluir também?, o


empírico, normalmente quem responde bem a uma “revelação menor”
de Deus, também responderá bem à revelação cristã. Creio que o caso
mais óbvio seja a transição entre as alianças judaica e cristã. De fato, o
“argumento arminiano” acerca dos versos de João sobre os “dados pelo
Pai para Cristo” se refere a crentes do Antigo Testamento que se
tornaram crentes no Novo Testamento. Os apóstolos mesmo são bons
exemplos disso: todos eram judeus fiéis, e foram tutorados por Jesus.
Nada mais natural que Deus Pai revelasse a eles que o Messias
Prometido desde Moisés era Jesus Cristo. Pessoas que pertenciam ao Pai
e amavam-nO, e agora, passariam a ser guiadas e pastoreadas pelo
Filho. Um caso claro de inclusivismo!
Façamos um pequeno experimento: suponha que uma família de judeus
tenha fugido de Belém na mesma época que Herodes planejou matar os
varões, a fim de impedir que o Cristo sobrevivesse. Suponha que tal
família acabou por ficar morando em um lugar distante mas seguro, e
sem muitas comunicações com Jerusalém (o caso da família de Noemi é
um bom exemplo, dadas as devidas proporções). É natural que eles
prossigam com o seu culto judaico na medida do possível. Esta foi uma
religião revelada pelo próprio Deus de Israel, nada mais natural que
pensar que Deus ainda está com esta família. Sem sombra de dúvidas,
posso supor que qualquer um desta família que venha a falecer sem
conhecer o cristianismo também é um dos salvos por Deus mediante
Cristo. Eles estão na mesma situação de Israel antes de Cristo – quem
em sã consciência duvida que dentre eles não existam pessoas de Deus?

Assim sendo, se colocarmos aquele hipotético missionário no meio


destes hipotéticos judeus, é bem capaz que eles enxerguem na pregação
do missionário o mesmo Deus do Antigo Testamento, agora revelado em
Seu Esplendor em Jesus Cristo, Seu Filho Amado, o tão aguardado
Messias. Fantástico, não? Pois foi isto que aconteceu com Lídia,
vendedora de púrpura, judia exemplar e temente a Deus, e também a
Cornelius…

A mesma coisa pode ocorrer com um destes hipotéticos missionários: ao


se deparar com alguém que respondera positivamente à revelação
menor, este encontrará na Revelação Maior uma completude, um
cumprimento, daquela que ele já tinha consigo. Não é à toa que São
Paulo usou da razão quando discutia com os gregos acerca do Deus
Desconhecido, e quando interpelava os judeus citava a Torah.

Então, em vez de ser um empecilho, na realidade o inclusivismo é um


apoio poderoso ao evangelismo. Temos muito mais motivos para
compartilhar as boas novas: aqueles que respondem positivamente à
revelação geral, muito certamente responderão positivamente a Jesus
Cristo, e quanto aos que não respondem tão positivamente assim, pode
ser que uma revelação mais completa seja mais convincente.

(Infelizmente tive que abusar dos “pode ser” neste texto, mas a
pergunta inicial é altamente probabilística!)

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