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“Entre a justiça e os direitos humanos, o encontro da situação de rua com a lei e com a mídia: o caso Rafael Braga Vieira em diferentes
gêneros discursivos” (FAP-DF, Edital 3/2016, 0193.001320/2016) View project
Entre a justiça e os direitos humanos, o encontro da situação de rua com a lei e com a mídia: o caso Rafael Braga Vieira em diferentes
gêneros discursivos View project
All content following this page was uploaded by Viviane De Melo Resende on 31 January 2018.
Um teórico poderia dizer: são os exemplos que atrapalham a teoria; um empirista poderia
retrucar: a teoria congela os dados. Precisamos do reconhecimento intermediário. Teorias
são necessárias, mas precisam ser confrontadas com a realidade situada. Devem ser
consideradas válidas em um dado contexto apenas as teorias que servem como potência
explanatória. Isso nem sempre é considerado quando se trata de importar modelos teóricos
ou metodológicos nos estudos do discurso.
Em que pese uma tradição já consolidada dos estudos discursivos na América
Latina, com posição destacada nos programas de pós-graduação da área de Letras e
Linguística e um pulsante calendário de eventos anuais da área, pode-se dizer que há
muita aplicação do saber importado e pouca criatividade teórica ou metodológica local.
Os estudos do discurso dividem-se basicamente em duas grandes linhas: a análise de
discurso francesa e a análise de discurso inglesa. Só os nomes pelos quais conhecemos
essas vertentes de estudos discursivos já nos dizem da colonialidade do campo. Essa
colonialidade de saberes do discurso, de forma mais imediata, significa um grande esforço
de aplicação de teorias tomadas como universalmente válidas e pouco modificadas no
contexto situado, mas também tem implicações sobre o ser analista de discurso nesse
local de subalternidade no campo acadêmico – esse espaço que ocupamos as
pesquisadoras de discurso latino-americanas em relação a nossos pares do Norte global –
e sobre o poder pensar alternativas teóricas.
O esforço decolonial desse campo, então, deveria dirigir-se a três caminhos
convergentes: decolonizar o saber, no sentido de lograr criticar teorias e métodos,
compreendendo, que não há conhecimento universal; decolonizar o poder da ação criativa
no esforço de superação desse conhecimento universalizante, isto é, assumir a potência
de criação teórica e metodológica local, especialmente por meio do constante questionar
da separação disciplinar e suas imposições; e decolonizar o ser, fazendo uso estratégico
desse espaço paradoxal, o que carrega as potencialidades da comunhão de saberes,
incluindo também o conhecimento comum. Tudo isso deve ter impacto sobre a educação
Conferência apresentada no XII Congresso Internacional da ALED.
Universidad Católica - Santiago do Chile, 18 de outubro de 2017
universidades estadunidenses ou europeias sempre foi uma fonte de prestígio, sendo suas
contrapartes locais geralmente classificadas como menos qualificadas”.
Não se trata apenas do local geográfico de produção de conhecimento, mas
também de línguas de produção acadêmica: nascer em inglês ou em francês para os
estudos do discurso é sair na frente, e publicar textos nos locais de prestígio do campo,
nessas línguas, é poder ecoar sua voz. Mas a publicação de nossas pesquisas nesses
contextos de prestígio traz suas imposições, como salienta Pedro Santander: “com
objetivo de ser capaz de publicar ‘daqui’ para ‘lá’, normalmente se torna necessário
trabalhar sobre assuntos que contemplem os interesses dessa comunidade acadêmica [do
Norte Global] e, portanto, dentro de quadros ideológicos, teóricos e metodológicos”
específicos.
Sabemos que todo conhecimento é localmente produzido e tem validade situada,
mas quando a produção localiza-se no contexto da modernidade europeia, se disfarça sob
um discurso de universalidade que por vezes compartilhamos sem muita reflexão ao
aplicar teorias e métodos. Sobre a falácia do universalismo, Luciana Ballestrin argumenta
que “[a] diferença colonial epistêmica é cúmplice do universalismo”, na suposição, eu
diria ao mesmo tempo ingênua e perniciosa, da existência de um “ponto zero”, “um ponto
de partida de observação, supostamente neutro”.
Essa divisão geopolítica do trabalho acadêmico – teorizar, por um lado, e aplicar
teorias, por outro – mantém-se apesar da superação política do colonialismo. Isso
acontece por força do que Aníbal Quijano conceitua como colonialidade do poder – as
continuidades relacionais do colonialismo persistentes como colonialidade. E isso
impacta sobre as possibilidades do saber: é assim que “o conhecimento produzido a partir
das experiências sócio-históricas e concepções de mundo do Sul global é considerado
inferior”, nas palavras de Grosfoguel.
Assim, como discute Adriana Bolívar, em que pese a tradição de produção
acadêmica na área de análise de discurso na América Latina, “nós constantemente nos
deparamos com dependência cultural quanto à produção de conhecimento”, um aspecto
da colonialidade do saber.
Como já salientaram em nossa comunidade ALED pesquisadoras como Adriana
Bolívar (2010), Laura Pardo (2010) e Neyla Pardo Abril (2016), uma consequência da
colonialidade do saber nos estudos do discurso latino-americanos é que a competência no
domínio e na aplicação de teorias e métodos vem acompanhada de pouca confiança na
Conferência apresentada no XII Congresso Internacional da ALED.
Universidad Católica - Santiago do Chile, 18 de outubro de 2017
validade das ideias próprias, que precisam ser legitimadas pelo pensamento de autores
estrangeires.
Para Laura Pardo, o assunto da colonialidade do saber nas academias latino-
americanas “já foi abordado por várias disciplinas, [mas] a linguística vem sendo, no
geral, relutante ao lidar com ele e ao olhar de forma crítica as suas próprias práticas
coloniais”. Essas são práticas ensinadas e aprendidas. Quantas pesquisadoras em
formação, no esforço de escrita de suas dissertações e teses, ao buscarem citar e referir
pesquisadoras nacionais, ouviram de suas orientadoras ou orientadores o indefectível
“você precisa beber direto na fonte”? Aí a miragem ilusória do ponto zero. Há uma fonte
original de todo conhecimento válido, e é lá que se deve beber, aprendemos desde cedo
nas universidades. Obviamente que essa desconfiança da validade da produção local
resulta numa descrença na própria capacidade de teorizar.
A participação em eventos acadêmicos internacionais das áreas de análise de
discurso, em que pesquisadoras latino-americanas apresentem trabalhos ao lado de
membros da comunidade acadêmica internacional, deixa ver sem dificuldade a qualidade
das análises que fazemos. Não deixamos nada a dever a nossos pares do Norte no que se
refere à aplicação de teorias e métodos. Mas se buscamos desvelar as fontes teóricas
tomadas como base para esses estudos, muito rapidamente se nota a ausência de vozes
locais: os sustentáculos de nossas vozes falam outras línguas.
Daí a crítica formulada por Pedro Santander (2010, p. 229): “a produção científica
da América Latina mostra um grande acúmulo de dados empíricos, os quais, de qualquer
forma, são teorizados em categorias, conceitos e interesses que são próprios de uma
agenda investigativa que é mais relacionada aos interesses ‘de lá’ do que ao nosso próprio
contexto”.
Nos processos pedagógicos em que se ensinam as tecnologias e práticas de um
campo do saber, a colonialidade do poder-saber-ser muitas vezes encontra, assim, terreno
fértil para prosperar. Mas há aí um problema elementar. É que a criatividade cumpre papel
fundamental na produção de saberes, na criação teórica, e a baixa autoestima científica
nos amarra, já que frequentemente não nos reconhecemos capazes de contribuir
efetivamente para a produção das teorias com as quais lidamos. Não é demais dizer que
no campo dos estudos do discurso latino-americanos, como consequência da
colonialidade do saber-ser, há um bloqueio do poder-saber resultante do ciclo de
retroalimentação entre a legitimação exclusiva de teorias importadas e a deslegitimação
Conferência apresentada no XII Congresso Internacional da ALED.
Universidad Católica - Santiago do Chile, 18 de outubro de 2017
sistemática da ousadia da crítica a essas mesmas teorias. Uma questão a enfrentar, então,
é a colonialidade do ser acadêmica latino-americana. Sobre isso, Grosfoguel sugere que
a outra face do privilégio epistêmico é a inferioridade epistêmica que se impõe sobre o
conhecimento produzido a partir das experiências do Sul.
Mas sabemos que as maiorias são frequentemente conservadoras, e que as
inovações vêm das minorias. Nós analistas de discurso latino-americanas somos uma
minoria epistêmica, e temos um papel de renovação epistêmica a cumprir em relação aos
estudos críticos do discurso. Creio que isso passa pela superação disciplinar,
empreendimento difícil, mas que pode valer a pena; e a universidade não pode abdicar do
fato de que a territorialidade nos faz sujeitos de nosso espaço, além de sujeitos de nosso
tempo. Precisamos assumir a tarefa de definição de nossa própria pauta nos estudos
críticos do discurso.
A direção da crítica nessa pauta, creio, deve ser motivada pela superação
necessária de todo tipo de opressão, e a REDLAD, ambiente criado e consolidado no
interior da ALED, é um exemplo disso. Aqui podemos retomar Julio Navarrete, para
quem vivemos uma cultura que reproduz desigualdade na forma do imaginário que
naturaliza o sofrimento de uma parcela importante da população mundial, condenando-a,
nos termos de Frantz Fanon (2015). Nós analistas de discurso sabemos que isso é em
grande medida efeito de discursos que naturalizam privilégios e, ao fazê-lo, justificam a
opressão. A questão é: como podemos tornar o conhecimento que produzimos mais útil
para a superação dos abusos de poder? Depois de tantos anos criticando e depositando os
produtos de nossas críticas nas prateleiras das bibliotecas, já devemos saber que os
caminhos construídos até aqui são insuficientes ou pouco efetivos. Como superá-los?
Essa questão deve estar no centro de nossa reflexão nos estudos críticos do discurso
latino-americanos.
II
Laura Pardo nos lembra de um problema epistemológico crucial decorrente da
colonialidade dos estudos discursivos: se “a maioria da literatura que lemos e dos modelos
e métodos que seguimos se originaram na Europa e nos EUA, portanto não podem nos
levar a uma compreensão real dos fenômenos discursivos latino-americanos”.
Isso porque nenhum conhecimento é válido em si mesmo, e por isso precisa ser
validado no mundo social. Isso não equivale a uma opção pelo relativismo, nem se trata
de recusar o conhecimento já produzido, mas de não o tomar, de forma ingênua, como
Conferência apresentada no XII Congresso Internacional da ALED.
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universalmente válido. Sobre isso, uma vez escrevi: “Entendo que não é o caso de
perdermos tempo negando o legado europeu ou questionando a validade de teorias pelo
simples fato de serem importadas – não, ao contrário: devemos nos aproveitar dos
recursos já existentes. O que importa é mantermos a vigilância crítica não só da validade
de teorias e discursos poderosos a nossos contextos locais, mas também da própria
coerência interna dessas teorias. E assumirmos a ousadia de propor novas e diferentes
reflexões”.
A questão, então, não é a ilusão de criar um novo ponto zero, mas reconhecer que
o ponto zero nunca existe, e manter-se vigilante a respeito da tentação de um
tranquilizante imaginário ponto zero. Realizar pesquisa na perspectiva decolonial, então,
não significa seguir um círculo de autores, ou abandonar teorias importadas, ou focalizar
temáticas restritas. Nesse sentido, para Luciana Ballestrin, “o processo de decolonização
não deve ser confundido com a rejeição da criação humana realizada pelo Norte global e
associado com aquilo que seria genuinamente criado no Sul”.
Por exemplo, a noção de ação estruturada, desenvolvida nos estudos sociais e
apropriada pela análise de discurso crítica formulada no contexto britânico, nos ajuda a
pensar a linguagem na sociedade. Nessa teoria, os estudos críticos do discurso são capazes
de sustentar explanação de problemas sociais particulares com base no uso da linguagem
porque esta mantém um tipo especial de relação com outros elementos sociais.
Sendo a linguagem parte de toda estrutura, na forma de semiose; de toda prática
social, na forma de ordem do discurso, e de todo evento social, na forma de texto, as
relações de linguagem-sociedade são internas, a linguagem interiorizando e realizando
traços de outros elementos de estruturas, práticas e eventos, conforme Norman
Fairclough. O uso situado da linguagem, ao produzir textos, que são parte e resultado de
eventos sociais, tem efeitos causais, gerando mudanças em nosso conhecimento sobre o
mundo e, consequentemente, em nossas crenças e atitudes a respeito desse mundo.
A figura agora projetada apresenta uma síntese dos pensamentos de Bhaskar sobre
o funcionamento da sociedade e de Fairclough sobre o funcionamento social da
linguagem. Este último toma por base o pensamento linguístico de Halliday, a respeito da
multifuncionalidade da linguagem, e o pensamento discursivo de Foucault, a respeito dos
eixos do conhecimento, do poder e da ética, para a proposição das noções teóricas de
discursos, gêneros e estilos como ordenadores intermediários do potencial semiótico.
Conferência apresentada no XII Congresso Internacional da ALED.
Universidad Católica - Santiago do Chile, 18 de outubro de 2017
Nossa contribuição pode ser mais relevante se assumirmos uma postura decolonial
pela superação da colonialidade do poder, do saber e do ser. Nós trazemos nos estudos
críticos do discurso uma compreensão já teorizada sobre a constituição mútua desses três
domínios, nem sempre muito clara na bibliografia decolonial. Reconhecer a conexão
entre a colonialidade do poder e os gêneros discursivos de nossa ação, entre a
colonialidade do saber e os discursos que nos permitem compreender a práticas, e entre a
colonialidade do ser e os estilos com os quais nos identificamos é já uma contribuição
dos estudos discursivos críticos à discussão em torno da decolonialidade.
A colonialidade do saber está relacionada aos discursos por meio dos quais
compreendemos o mundo social, ligados ao classismo, ao racismo, ao sexismo e a sua
interseccionalidade. Esses discursos colonizam o ser, nos levando a padrões de
identificação que limitam nossa ação, ou seja, à colonialidade do poder – agimos
conforme padrões capitalistas, racistas e sexistas; e reproduzimos consciente ou
inconscientemente esses padrões de ação. Assim, para decolonizar o ser, é preciso
consciência emancipatória para denormalizar os quadros interpretativos que nos
conduzem a identidades subalternas. Nós analistas de discurso temos condições especiais
de realizar essa crítica, pela especialidade própria a nosso campo do saber. Mas para isso
é preciso deslocar-nos dos limites disciplinares da linguística, assumir francamente nossa
carência de outros saberes.
De toda forma, não se trata de propor outro ponto zero, como eu já disse. A
reflexão teórica e epistemológica nunca se encontra disponível, é sempre trabalho por
fazer. A construção teórica não deve tomar a priori conceitos, a menos que as análises
comprovem sua validade. É na prática que os conceitos são legitimados.
Na construção das reflexões que agora apresento de maneira abstrata, trata-se de
teorização atinente a análises situadas, coletivas, direcionadas à discussão da seletividade
racializada e classista do sistema penal no Brasil; da violência sistemática contra mulheres
no atendimento à saúde; da violência da representação pejorativa de populações
vulneráveis em veículos da comunicação social; da violência das políticas públicas de
gestão da pobreza no espaço urbano, e das potencialidades da resistência coletiva e
discursivamente construída. Cada um desses desafios situados demandou uma articulação
interdisciplinar compreensiva, impulsionando categorias e conceitos. Uma reflexão
necessária, então, é que a linguagem teórica, nossa metalinguagem, tanto liberta quanto
Conferência apresentada no XII Congresso Internacional da ALED.
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possibilidades do futuro, como quis Angela Davis (2016), ou, nas palavras de Fanon
(2015, p. 187): com a firme “recusa em aceitar a atualidade como definitiva”.
O desafio do diálogo é um desafio de solidariedade e de linguagem. Esse desafio
nos exige outros sentidos de ser acadêmicos, outros conteúdos e outras práticas. Por isso
a decolonialidade do ser, do saber e do poder é um desafio só, integrado, e sua persecução
está na ação consciente, na vigilância constante. Como nos diz Nascimento (2017a), os
movimentos sociais nos oferecem novos modos de pensar, novas agendas e novos
desafios, inclusive o desafio da representação: já não há espaço para uma academia que
se arvore a pretender representar esse outro, e assim a autorrepresentação se impõe e nos
impõe limites que devemos aprender a compreender e respeitar. A universidade deve
deixar de ser “o fim do conhecimento produzido”, passando a assumir-se como “meio”.
Se por um lado o desafio decolonial impõe novos limites à nossa atuação como
intelectuais, por outro estende limites que têm sempre reduzido as nossas possibilidades
de ação no mundo. É verdade que isso põe em xeque nosso protagonismo, e o que poderia
mais bem sinalizar o sucesso de nossa crítica que nos pôr em movimento?
IV
Em resumo, então, uma virada decolonial nos estudos críticos do discurso pressupõe uma
postura que inclui:
1. Reconhecer nas teorias do Norte global o que elas são de fato: teorias
territorializadas como quaisquer outras, que não são universalmente válidas ou
intrinsecamente superiores.
2. Reconhecer que todo conhecimento é localizado e toda teoria deve ser
contextualizada para tornar-se útil.
3. Interessar-se pelo conhecimento produzido localmente e reconhecê-lo em sua
potência explicativa.
4. Reconhecer que ocupamos um espaço academicamente subalterno, e reagir a isso.
5. Desconfiar da soberba do conhecimento científico, mantendo-se alerta ao
conhecimento produzido em outros campos.
Os itens em 1, 2 e 3 referem-se ao esforço de decolonizar o saber, e essa parece ser uma
tomada de consciência necessária a toda a academia periférica. O item 4 decorre desse
reconhecimento, e pode servir de impulso para decolonizar o ser. O item 5, por fim,
carrega a potência de uma mudança nos modos de fazer ciência e de pôr-se em diálogo;
por isso, na seara da ação acadêmica, refere uma possibilidade de decolonizar o poder.
Conferência apresentada no XII Congresso Internacional da ALED.
Universidad Católica - Santiago do Chile, 18 de outubro de 2017
tempo nos tem ensinado a não criar e não inovar. Trata-se, então, da subversão de práticas
pedagógicas, o que nos põe nas mãos novos desafios.
Sabemos por premissa teórica nos estudos do discurso que o saber, o poder e o ser
estão em relação de constituição mútua. Os discursos sobre a prática, a partir dos quais
compreendemos a prática, relacionam-se aos poderes que ativamos em relação à mesma
prática e aos modos como com ela nos identificamos e somos. Daí a crença na cadeia
transformacional que se pode engendrar a partir do saber, a partir dos discursos sobre a
prática acadêmica e sobre o ser acadêmica: decolonizar as crenças que limitam as relações
horizontais entre saberes é um passo em direção à ecologia de saberes; decolonizar as
crenças que limitam a potência é um passo em direção à potência. Eu creio que a crítica
radical tem de guardar também ingenuidade, porque só o ingênuo é capaz de crer no
utópico a ponto de realizá-lo.
Referências
BALLESTRIN, L. América Latina e o giro decolonial. Rev. Bras. Ciênc. Polít.
[online],11, 2013, pp. 89-117.
BHASKAR, R. Societies. In: M. Archer et al. (orgs.) Critical Realism. Essential readings.
London; New York: Routledge. 1998, pp. 206-57.
PARDO, M. L. Latin-American discourse studies: state of the art and new perspectives.
Journal of Multicultural Discourses, 5(3), 2010. pp. 183-192.