Você está na página 1de 17

CONSTRUMETAL 2010 – CONGRESSO LATINO-AMERICANO DA CONSTRUÇÃO METÁLICA

São Paulo – Brasil – 31 de agosto a 2 de setembro 2010

LIGAÇÕES DE APOIO DE PILARES EM PERFIL TUBULAR

Roberval José Pimenta Eduardo de Miranda Batista


Codeme Engenharia S.A. Universidade Federal do Rio de Janeiro
Afonso Henrique Mascarenhas de Araújo João Alberto Venegas Requena
Vallourec & Mannesmann do Brasil Universidade de Campinas
Arlene Maria Sarmanho Freitas Ricardo Hallal Fakury
Universidade Federal de Ouro Preto Universidade Federal de Minas Gerais

Resumo
O aumento do uso de seções tubulares em estruturas metálicas tem destacado a necessidade de
métodos que racionalizem as ligações de barras tubulares, inclusive a ligação de pilares de aço e
pilares mistos de aço e concreto à fundação de concreto armado, submetida a ações estáticas. De
maneira geral, essa ligação está sujeita a força axial, de compressão ou tração, a momento fletor e
força cortante que podem induzir os seguintes estados-limites últimos: formação de charneira plástica
na placa de base, ruptura por tração do chumbador, arrancamento do chumbador, esmagamento do
concreto ou da argamassa expansiva de assentamento na região de contato com a placa de base e
deslizamento da ligação, além da ruptura da solda de ligação do pilar à placa de base. Neste trabalho
foram desenvolvidos estudos relativos ao dimensionamento de ligações de placas de base circulares e
retangulares de pilares em perfil tubular circular e retangular. Esses estudos, baseados em avaliações
teóricas apresentadas em normas e literatura internacionais, conduziram ao comportamento e
distribuição simplificada de esforços solicitantes na ligação, conforme apresentado no texto-base,
considerando o equilíbrio nos casos de solicitação axial a compressão e tração, separadamente. O
caso C1 correspondente à situação em que não há momento fletor aplicado e a pressão de contato
distribui-se uniformemente sob a placa de base; o caso C2, à situação de pequena excentricidade,
onde o equilíbrio é possível sem a introdução de forças de tração nos chumbadores; o caso C3, à
situação de grande excentricidade, onde é necessário considerar forças de tração nos chumbadores,
para se manter o equilíbrio. Similarmente, para solicitação axial de tração tem-se: o caso T1
correspondente à situação em que não há momento fletor aplicado e a força axial de tração distribui-
se uniformemente entre os chumbadores; o caso T2, à situação de pequena excentricidade, onde o
equilíbrio é possível sem que haja pressão de contato do concreto sob a placa de base; o caso T3, à
situação de grande excentricidade, onde é necessário considerar a existência de pressão de contato,
para que o equilíbrio seja mantido. Para cada caso, são apresentadas expressões para a determinação
dos esforços resistentes de cálculo correspondentes a cada estado-limite último pertinente. São
apresentadas ainda as disposições construtivas relativas aos chumbadores e ao bloco de apoio de
concreto armado, necessárias para que sejam válidas as hipóteses e prescrições adotadas. Finalmente
são apresentados exemplos de utilização e uma comparação entre ensaios experimentais realizados na
Universidade Federal de Ouro Preto e os obtidos com a metodologia apresentada. Mostra-se que o
método adotado conduz a resultados suficientemente conservadores para serem utilizados em projeto.

Palavras-chave: estruturas de aço e mistas de aço e concreto, estruturas tubulares, ligações, placa de
base
Introdução
O aumento do uso de perfis tubulares nas estruturas de aço no Brasil tem exigido a necessidade
de desenvolvimento de métodos que possibilitem o cálculo e o projeto das ligações desses perfis, em
especial, a ligação de pilares tubulares, mistos ou não, à fundação de concreto armado.
Tradicionalmente, a metodologia de cálculo das ligações é fornecida em literatura técnica e manuais de
projeto, sendo fornecidos, nas normas, somente princípios e diretrizes gerais a serem seguidos.
Percebe-se, porém, uma tendência de as normas modernas fornecerem indicações e métodos mais
específicos para serem usados no projeto das ligações. Seguindo essa tendência, o texto-base da futura
norma brasileira de projeto de estruturas de aço e mistas de aço e concreto com perfis tubulares (que
será, por facilidade, referenciado aqui como TB-NBT:2010) apresenta expressões para o cálculo dos
esforços resistentes da ligação de pilares tubulares à fundação de concreto armado, bem como as
disposições construtivas necessárias para que sejam válidas as hipóteses e prescrições adotadas.
Este trabalho tem como objetivo apresentar e detalhar as expressões desenvolvidas para o
dimensionamento de ligações de placas de base circulares e retangulares de pilares em perfil tubular
circular e retangular solicitados a força axial, momento fletor e força cortante, submetidos a ações
estáticas, conforme trata o TB-NBT:2010. Para ilustrar o procedimento, são apresentados alguns
exemplos de utilização para casos comuns encontrados na prática. No final, a título de ilustração e
validação do método, são mostradas comparações entre as expressões utilizadas e os resultados
experimentais de alguns ensaios realizados na Universidade Federal de Ouro Preto [Possato e Freitas
(2004)], demonstrando que o procedimento adotado conduz a resultados suficientemente conservadores
para serem utilizados em projeto.

Bases do dimensionamento
A ligação de pilares de aço e pilares mistos de aço e concreto à fundação de concreto armado é
constituída de uma placa de base retangular ou circular soldada ao perfil de aço e parafusada no bloco
de fundação por meio de barras redondas rosqueadas (chumbadores), conforme mostrado na Fig. 1. A
ligação tipo 1 refere-se ao caso de placas e perfis retangulares, ao passo que o tipo 2 refere-se ao caso
de placas retangulares e perfis circulares. Já para o tipo 3, tanto a placa quanto o perfil devem ser
circulares. No caso de pilares de aço, a maior dimensão da seção transversal não pode ser superior a
510 mm. Para facilitar a montagem e o nivelamento da estrutura, deve-se colocar argamassa expansiva
de assentamento entre a face inferior da placa de base e a superfície de concreto, conforme se pode ver
no corte esquemático, apresentado na Fig. 1.
De maneira geral, a ligação de pilares à fundação de concreto armado está sujeita a força axial,
de compressão ou tração, a momento fletor e força cortante, que podem induzir os seguintes estados-
limites últimos: formação de charneira plástica na placa de base, ruptura por tração do chumbador,
arrancamento do chumbador, esmagamento do concreto ou da argamassa expansiva de assentamento na
região de contato com a placa de base e deslizamento da ligação, assim como a ruptura da solda de
ligação do pilar com a placa de base. Os elementos componentes da ligação devem ser dimensionados
de forma que os esforços resistentes de cálculo a cada um desses estados-limites últimos seja igual ou
superior aos esforços solicitantes de cálculo, determinados pela análise da estrutura, sujeita às
combinações de cálculo das ações, conforme determina a norma brasileira ABNT NBR 8800:2008.
Considera-se, no texto-base, que a solda de ligação do pilar à placa de base tenha sido devidamente
dimensionada conforme os critérios do texto-base ou da ABNT NBR 8800:2008, onde aplicáveis.
Assim sendo, não será aqui considerado o estado-limite último relativo à ruptura dessa solda.
Figura 1 – Tipos de ligação

Simplificadamente, com base em avaliações teóricas apresentadas em normas e literatura


internacionais [SCI-207 (1995), EN 1993-1-8 (2005), Fisher e Kloiber (2006)], o comportamento e a
distribuição de esforços na ligação podem ser considerados conforme se apresenta na Fig.2, se a força
axial for de compressão, e na Fig.3, se for de tração. O caso C1 corresponde à situação em que não há
momento fletor aplicado e a pressão de contato distribui-se uniformemente sob a placa de base; o caso
C2, à situação de pequena excentricidade, onde o equilíbrio é possível sem a introdução de forças de
tração nos chumbadores; o caso C3, à situação de grande excentricidade, onde é necessário considerar
forças de tração nos chumbadores, para se manter o equilíbrio. Similarmente, o caso T1 corresponde à
situação em que não há momento fletor aplicado e a força axial de tração distribui-se uniformemente
entre os chumbadores; o caso T2, à situação de pequena excentricidade, onde o equilíbrio é possível
sem que haja pressão de contato do concreto sob a placa de base; o caso T3, à situação de grande
excentricidade, onde é necessário considerar a existência de pressão de contato, para se manter o
equilíbrio.
Caso C1 Caso C2 Caso C3

Figura 2 – Distribuição
istribuição de esforços para força axial de compr
compressão
essão

Caso T1 Caso T2 Caso T3

Figura 3 – Distribuição
istribuição de esforços para força axial de tração

Considera-se que os estados


estados-limites últimos, mencionados anteriormente, não tenham sido
violados se forem obedecidas as seguintes exigências:

a) t p ≥ t p , min , onde tp é a espessura da placa de base e tp,min deve ser obtido das expressões adiante;

b) nos casos onde ocorre tração nos chumbadores (casos C3 e T1 a T3), d b ≥ d b , min , onde db é o
diâmetro externo de um chumbador e db,min deve ser obtido das expressões adiante;

c) os chumbadores forem constituídos de barras redondas rosqueadas de aço ASTM A-36 A ou


equivalente com resistência ao escoamento fy igual a 250 MPa e, juntamente com a placa de base,
forem executados conforme as exigências
xigências e disposições construtivas dadas na Tab.1;

d) a resistência característica à compressão da argamassa expansiva de assentamento for pelo menos


50% superior à do concreto do bloco de fundação e, nos casos onde ocorre pressão de contato do
concreto sob a placa de base, σ c,Sd ≤ σ c, Rd , onde σc,Sd é a tensão solicitante de cálculo do concreto
e σc,Rd é a tensão resistente de cálculo do concreto e deve ser obtido da ABNT NBR 8800:2008;

e) VSd ≤ V Rd , onde VSd é a força cortante sol


solicitante de cálculo e VRd deve ser obtido das expressões
adiante.
Tabela 1 – Disposições Construtivas
Dimensões Armadura mínima
Arruelas
db db a1 a2 a3 h1 h2 r1 r2 df en fck,min. Nb,min. S φ
Espessura Dimensões
(polegadas.) mm mm mm mm mm mm mm mm mm mm MPa mm mm mm
mm mm x mm
3/4" 19 40 80 120 450 150 175 50 33 6,3 50 x 50 40 20 900 100 10
7/8" 22 45 90 140 465 200 225 50 40 6,3 65 x 65 50 20 900 100 10
1" 25 50 100 160 465 200 225 50 45 8 75 x 75 60 20 900 125 12,5
1 1/4" 32 65 130 190 525 225 250 60 50 9,5 75 x 75 60 20 1100 125 12,5
1 1/2" 38 80 160 230 610 250 275 70 60 9,5 90 x 90 70 25 1300 150 16
1 3/4" 44 90 180 270 700 300 325 70 70 12,5 100 x 100 80 25 1600 150 16
2" 50 100 200 300 850 350 375 100 80 16 125 x 125 90 30 1800 150 16

(1) As disposições construtivas são válidas somente para chumbadores em aço ASTM A-36, arruelas de aço com fy =
345 MPa e para um número mínimo de quatro e um número máximo de oito chumbadores;
(2) fck, min. é o menor valor de fck para não ocorrer esmagamento do concreto na região da porca de ancoragem dos
chumbadores.
(3) A resistência característica à compressão da argamassa de assentamento deve ser pelo menos 50% superior à
resistência característica do concreto do bloco.
(4) O diâmetro do furo das arruelas devem ser igual a db + 1,5 mm.
(5) As arruelas não precisam ser soldadas à placa de base, exceto quando necessário para transmitir a força cortante
aos chumbadores .
(6) O bloco deve ser devidamente dimensionado conforme os critérios da ABNT NBR 6118:2007, porém respeitando-
se as seguintes dimensões mínimas:
Nb = maior valor entre Nb,min., l x + 2en e l x + 2(a3 − a1 )
Bb = maior valor entre l y + 2en e l y + 2(a3 − a1 )
Ab = maior valor entre h1 + 100mm e Nb
Nas expressões acima, para ligação tipo 3, substituir l x e l y por l D
(7) A armadura do bloco deverá ser devidamente dimensionada conforme os critérios da ABNT NBR 6118:2007,
porém respeitando-se os valores mínimos apresentados nesta tabela.
(8) Para a ligação tipo 3, a dimensão a2 deve ser entendida como a distância mínima exigida entre dois chumbadores
consecutivos.
Ressalta-se que a primeira exigência apresentada refere-se ao estado-limite de formação de
charneira plástica na placa de base e a segunda, ao estado-limite de ruptura por tração dos
chumbadores. A terceira exigência tem por objetivo, entre outros, evitar o arrancamento do chumbador
do bloco de concreto armado. A quarta e a quinta referem-se, respectivamente, aos estados-limites de
esmagamento do concreto (ou da argamassa de assentamento) e o deslizamento (deslocamento
horizontal) da ligação.

Dimensionamento da ligação
Obedecidas as disposições construtivas, conforme se apresentam na Tab.1., calculam-se,
inicialmente, as seguintes grandezas:

M Sd
e=
N Sd

Para ligação com placa de base retangular,

h + 4a1 para tubo retangular


lx = 
d + 4a1 para tubo circular

l y = (0,5nb − 1)a 2 + 2a1

 l x − 0,95h
 para tubo retangular
m= 2
 l x − 0,80d para tubo circular
 2

l y − 0,95b
 para tubo retangular
2
n=
l y − 0,80d
 para tubo circular
2

p = l c (2m − l c )

l y , eq = nb (d b + m − a1 ) ≤ l y

m eq = m

n b , eq = n b

Para ligação com placa de base circular,

l d = d + 4a1
l x = l y = 0,90l d

0,90l d − 0,80d
m=n=
2
p = l c (2m − l c )

l y , eq = nb (d b + m − a1 ) ≤ 0,90 l d

l d − 0,80d
meq =
2

[
nb , eq = 2 1 + 2(1 − k )2 ]
α 2π 
k= 1 − cos( ) 
2 nb 

1,0 para l c ≤ 2a1



α = d + 2a1
 d + 3a − 0,5l para l c > 2a1
 1 c

onde l c é o comprimento do trecho da placa sujeito à pressão de contato do concreto, calculado pelas
expressões adiante, nb é o número de chumbadores da ligação (4 ≤ nb ≤ 8), a é a distância da linha de
chumbadores (ou do círculo formado pelos chumbadores, no caso de placa circular) à linha de centro
da placa (ou seja, é o raio do círculo formado pelos chumbadores, no caso de placa circular, igual a d/2
+ a1) e as demais grandezas estão definidas nas Figuras 1 a 3 e na Tabela 1. Ressalta-se que, para os
casos T1 e T2, l c = 0
A partir dessas grandezas, os valores de tp,min, db,min e VRd devem ser calculados por meio das
seguintes expressões:

a) Para o caso C1, ou seja, e = 0:


2σ c , Sd
t p , min = l max
(
f y / γ a1 )
V Rd = µσ c, Sd l x l y ≤ 0,2 f ck l x l y

onde
l max deve ser tomado como o maior valor entre m e n ;

N Sd
σ c, Sd =
l xl y

µ é o coeficiente de atrito entre a placa de base e a fundação, podendo ser tomado igual a 0,55.
1  N Sd 
:
b) Para o caso C2, ou seja, 0 < e ≤ lx −
2  σ c , Rd l y 

2σ c , Sd
t p , min = l max
( f y / γ a1 )
VRd = µσ c, Sd l c l y ≤ 0,2 f ck l x l y

onde
se l c ≥ m , o maior valor entre m e n
l max deve ser tomado igual a: 
se l c < m , o maior valor entre p e n
l c = l x − 2e
N Sd
σ c, Sd =
l cl y

1  N Sd 
:
c) Para o caso C3, ou seja, e > lx −
2  σ c , Rd l y 

tp,min deve ser tomado como o maior valor entre tp,min1 e tp,min2 ;

4 Ft , Sd
d b, min =
π ( f ub / γ a 2 )

V Rd = µσ c, Rd l c l y ≤ 0,2 f ck l x l y

onde

2σ c , Rd
t p , min 1 = l max
( f y / γ a1 )
(
2nb, eq Ft , Sd m eq − a1 )
t p , min 2 =
(
l y , eq f y / γ a1 )
se l c ≥ m , o maior valor entre m e n
l max deve ser tomado igual a: 
se l c < m , o maior valor entre p e n
2 2
l  l  2 N Sd (e + a ) l  2 N Sd (e + a )
l c =  x + a −  x + a − , se  x + a  ≥ ; caso contrário, deve-se
 2   2  σ c , Rd l y  2  σ c , Rd l y

alterar a ligação;
(
2 σ c , Rd l c l y − N Sd )
Ft , Sd =
nb, eq

d) Para o caso T1, ou seja, e = 0:

(
2nb Ft , Sd m eq − a1 )
t p , min =
(
l y , eq f y / γ a1 )
4 Ft , Sd
d b, min =
π ( f ub / γ a 2 )
onde
N Sd
Ft , Sd =
nb
Para a determinação de VRd, ver as expressões adiante.

e) Para o caso T2, ou seja, 0 < e ≤ a :


tp,min e db,min devem ser calculados conforme a alínea d), porém com:
N Sd M Sd
Ft , Sd = Fte, Sd = +
nb a nb, eq

Para a determinação de VRd, ver as expressões adiante.

f) Para o caso T3, ou seja, e > a :


tp,min deve ser tomado como o maior valor entre tp,min1 e tp,min2

4 Ft , Sd
d b, min =
π ( f ub / γ a 2 )

V Rd = µσ c, Rd l c l y ≤ 0,2 f ck l x l y

onde

2σ c , Rd
t p , min 1 = l max
( f y / γ a1 )
(
2nb, eq Ft , Sd meq − a1 )
t p , min 2 =
(
l y , eq f y / γ a1 )
se l c ≥ m , o maior valor entre m e n
l max deve ser tomado igual a: 
se l c < m , o maior valor entre p e n
2 2
l  l  2 N Sd (e − a ) l  2 N Sd (e − a )
l c =  x + a −  x + a − , se  x + a  ≥ ; caso contrário, deve-se
 2   2  σ c , Rd l y  2  σ c , Rd l y

alterar a ligação;
(
2 σ c , Rd l c l y + N Sd )
Ft , Sd =
nb, eq

Para os casos T1 e T2 e nas demais situações em que VSd supera VRd, calculado pelas expressões
acima, torna-se necessária a adoção de dispositivos especiais para a transmissão da força cortante
solicitante de cálculo à fundação. Neste trabalho, são apresentados dois dispositivos: placa de
cisalhamento [Fisher e Kloiber (2006)] e arruelas especiais com furos-padrão soldadas à placa de base.
As expressões para o cálculo da força cortante resistente são dadas a seguir.
A determinação da força cortante resistente de cálculo, VRd, referente a placa de cisalhamento
(Figura 4), deve ser feita de acordo com a seguinte expressão:

V Rd = σ c, Rd (bv − en )bh

onde bv e bh estão definidas na Figura 4 e σc,Rd deve ser obtido da ABNT NBR 8800:2008,
considerando-se A2/A1 igual a 4.
A espessura da placa de cisalhamento, t pv , deve ser maior ou igual a t pv ,min dada por:

2V Sd (bv + e n )
t pv , min =
(
bh f y / γ a1 )
Entretanto, a espessura da placa de cisalhamento não pode ser superior à da placa de base. Caso isso
seja necessário pela expressão acima, deve-se aumentar a espessura da placa de base. A menos que seja
utilizada solda de penetração total, a solda da placa de cisalhamento com a placa de base deve ser capaz
de resistir à ação conjunta da força cortante resistente de cálculo, VRd, com o momento fletor solicitante
de cálculo dado por:

1
M Sd = σ c, Rd bh bv2 − en2
2
( )
Para o caso de arruelas soldadas à placa de base, a força cortante resistente de cálculo, VRd, deve
ser determinada de acordo com a seguinte expressão:

nb 1
V Rd = ∑ V Rd
2
[
,i − (0,4 Ft ,i , Sd )
2
] 2
≤ 5nb d b2σ c , Rd
i =1
onde Ft,i,Sd é a força de tração solicitante de cálculo em um chumbador, VRd,,i é a força cortante
resistente de cálculo de um chumbador, dada por:

d b2 f u
V Rd ,i = 0,4π
4 γ a2

σc,Rd deve ser obtido da ABNT NBR 8800:2008, considerando-se A2/A1 igual a 4. A solda da arruela
com a placa de base deve ser capaz de resistir à força VRd,,i.

Figura 4 – Placa de cisalhamento

Exemplos de aplicação
Exemplo 1 – Considere-se uma ligação do tipo 1, para um pilar tubular de seção retangular (h = 400
mm e b = 200 mm) sujeita aos seguintes esforços solicitantes de cálculo:
NSd = 300 kN (compressão)
MSd = 19500 kNcm
VSd = 180 kN
Dimensionar a ligação de acordo com o procedimento apresentado; considerar fy = 350 MPa para o aço
das placas.
Solução:
Considere-se inicialmente fck = 20 MPa, A2/A1 = 1 e 6 chumbadores de 1 ¼” (db = 32 mm, fy = 250
MPa). Verifica-se que 400 mm < 510 mm ok!
l x = 400 + 4 × 65 = 660 mm
l y = (0,5 × 6 − 1)130 + 2 × 65 = 390 mm

660 − 0,95 × 400


m= = 140 mm
2
390 − 0,95 × 200
n= = 100 mm
2
l y , eq = 6(32 + 140 − 65) = 642 mm > 390 mm ∴ l y , eq = 390 mm

meq = m

n b , eq = n b

20 × 1
σ c , Rd = = 10,2
1,4 × 1,4
‫ܯ‬ௌௗ 19500 1 ܰௌௗ 1 300000
݁= = = 65 ܿ݉ = 650 ݉݉ > ቆℓ௫ − ቇ = ൬660 − ൰ = 292,3 ݉݉
ܰௌௗ 300 2 ߪ௖,ோௗ ℓ௬ 2 10,2 × 390
Trata-se, portanto, de um caso C3, onde:
2
 660   660  2 × 300000(650 + 265)
lc =  + 265  −  + 265  − = 130,2 mm < 140 mm
 2   2  10,2 × 390

p = 130,2(2 × 140 − 130,2) = 139,7 mm ∴ l max = 139,7 mm

2.10,2
t p , min 1 = 139,7 = 35,4 mm
(350 / 1,1)
2(10,2 × 130,2 × 390 − 300000)
Ft ,Sd = = 72645 N = 72,65 kN
6

2 × 6 × 72645(140 − 65)
t p , min 2 = = 23,0 mm
390(350 / 1,1)

∴ t p , min = 35,4 mm

Adotar chapa de 37,5 mm.

4 × 72645
d b , min = = 17,7 mm < 32 mm ok!
π (400 / 1,35)

V Rd = 0,55 × 10,2 × 130,2 × 390 = 2848651N ≤ 0,2 × 20 × 660 × 390 = 1029600 N

V Rd = 284865 N > VSd ok!


Exemplo 2 – Considere-se uma ligação do tipo 3, para um pilar tubular de seção circular (d = 350 mm)
sujeita aos seguintes esforços solicitantes de cálculo:
NSd = 200 kN (compressão)
MSd = 16000 kNcm
VSd = 300 kN
Dimensionar a ligação de acordo com o procedimento apresentado; considerar fy = 350 MPa para o aço
das placas.
Solução:
Considere-se inicialmente fck = 20 MPa, A2/A1 = 1 e 8 chumbadores de 1” (db = 25 mm, fy = 250 MPa).
l d = 350 + 4 × 50 = 550 mm

l x = l y = 0,9 × 550 = 495 mm

0,9 × 550 − 0,80 × 350


m=n= = 107,5 mm
2
l y , eq = 8(25 + 107,5 − 50 ) = 660 mm > 0,9.550 mm ∴ l y , eq = 495 mm

550 − 0,8 × 350


meq = = 135 mm
2
‫ܯ‬ௌௗ 16000 1 ܰௌௗ 1 200000
݁= = = 80 ܿ݉ = 800 ݉݉ > ቆℓ௫ − ቇ = ൬495 − ൰ = 227,7 ݉݉
ܰௌௗ 200 2 ߪ௖,ோௗ ℓ௬ 2 10,2 × 495
Trata-se, portanto, de um caso C3, onde:
2
 495   495  2 × 200000(800 + 225)
lc =  + 225  −  + 225  − = 95,6 mm < 107,5 mm
 2   2  10,2 × 495

p = 95,6(2 × 107,5 − 95,6) = 106,9 mm ∴ l max = 107,5 mm

l c = 95,6 mm < 2a1 = 100 mm ∴ α = 1,0

1 2π 
k= 1 − cos( )  = 0,1464
2 8 

[ ]
nb , eq = 2 1 + 2(1 − 0,1464 )2 = 4,91

2 × 10,2
t p , min 1 = 107,5 = 27,2 mm
(350 / 1,1)
2(10,2 × 95,6 × 495 − 200000)
Ft , Sd = = 115146 N = 115,15 kN
4,91
2 × 4,91 × 115146(135 − 50 )
t p , min 2 = = 24,7 mm
495(350 / 1,1)

∴ t p , min = 27,2 mm

Adotar placa de 31,5 mm.

4 × 117409
d b , min = = 22,5 mm < 25 mm ok!
π (400 / 1,35)

V Rd = 0,55 × 10,2 × 95,6 × 495 = 2654761 N ≤ 0,2 × 20 × 495 × 495 = 980100 N

V Rd = 265476 N < VSd não ok!

Adotar placa de cisalhamento, dimensionada como se segue.

Considere-se bv = 150 mm e bh = 300 mm (en = 60 mm)

2 × 300000(150 + 60 )
t pv ,min = = 36,3 mm
300(350 / 1,1)

Adotar placa de 37,5 mm. Como tpv > tp, aumentar a espessura da placa de base para 37,5 mm.
20 × 4
σ c, Rd = = 20,4 ∴ σ c , Rd = 20 MPa
1,4 × 1,4
V Rd = 20(150 − 60)300 = 540000 N > VSd ok!

1
M Sd =
2
( )
20 × 300 150 2 − 60 2 = 56700000 Nmm = 5670kNcm

Adotar solda de penetração total entre a placa de cisalhamento e a placa de base.

Comparação com resultados experimentais


Foram realizados quatro ensaios experimentais na Escola de Minas da Universidade Federal de
Ouro Preto [Possato e Freitas (2004), ver Figura 5], cujos resultados podem ser resumidos na Tabela 2.
Foi utilizado apenas um tipo de tubo, de seção circular e diâmetro de 168,3 mm. Utilizaram-se duas
espessuras da placa de base, 12,5 mm e 16,0 mm (nominais), e apenas um tipo de chumbador, de
diâmetro igual a ¾” (19 mm). A resistência ao escoamento medida das placas e a resistência
característica do concreto do bloco são mostrados também na Tabela 2. São mostrados ainda dois
valores de carga, a carga última atingida nos ensaios (Pu) e a carga que provocou o início do
escoamento da placa de base (Pe). Ressalta-se que a excentricidade da carga foi sempre a mesma, igual
ao diâmetro externo do tubo, 168,3 mm. Para maiores informações, veja-se Possato e Freitas (2004).
Com base no método apresentado no TB-NTB:2010, utilizando os valores medidos, calcularam-
se as cargas máximas que poderiam ser aplicadas nos modelos (Pt), apresentadas na Tabela 3,
juntamente com as cargas última e de início de escoamento de cada modelo. Vale mencionar que todos
os ensaios correspondem ao caso C3. Como se pode perceber, os valores das cargas calculadas são
bastante inferiores aos das cargas experimentais, em torno de 30% para os ensaios 1 e 2 e de 43% para
os ensaios 3 e 4, relativamente à carga de início de escoamento. Com relação à carga última, as
relações são ainda menores, respectivamente, 16% e 33%.

Figura 5 – Foto de um dos ensaios experimentais [Possato e Freitas (2004)]

Tabela 2 – Resumo dos resultados experimentais


Ensaio d (mm) tp (mm) fy (MPa) fck (MPa) Pu (kN) Pe (kN)
1 168,3 12,3 308,3 34,2 301,3 158,7
2 168,3 12,3 308,3 34,2 306,0 163,3
3 168,3 16,5 435,6 34,2 378,5 287,9
4 168,3 16,5 435,6 34,2 414,7 310,5
Tabela 3 – Comparação entre os resultados experimentais e teóricos
Ensaio Pt (kN) Pmax (kN) Pu (kN) tpu (mm) Pe (kN) tpe (mm)
1 48,1 197,9 301,3 28,1 158,7 21,6
2 48,1 197,9 306,0 28,3 163,3 21,9
3 128,5 327,2 378,5 25,6 287,9 23,3
4 128,5 327,2 414,7 26,3 310,5 23,9

Os baixos valores encontrados podem ser explicados pelo modelo de cálculo utilizado, que
pressupõe placa de base de grande rigidez, para que a distribuição da pressão do concreto possa ser
considerada aproximadamente uniforme, a partir da face externa da placa (vejam-se as Figuras 2 e 3).
Esse modelo conduz a uma solução com grande espessura de placa, especialmente quando a
excentricidade é elevada, como é o caso dos modelos (caso C3). Em termos de projeto, essa situação é
desejável, haja vista que bases desse tipo são consideradas rígidas na análise estrutural. A título de
ilustração, na Tabela 3, são apresentados os valores de espessura calculados para as cargas Pu (tpu) e Pe
(tpe).
Entretanto, todos os modelos ensaiados foram produzidos com placa de pequena espessura,
quando se compara com as dimensões em planta, o que levou a cargas menores que as esperadas, em
especial os modelos com espessura nominal de 12,5 mm, menos rígida. Isso fica evidente pela
comparação dos valores calculados teoricamente com os experimentais, onde as relações para os
protótipos com espessura nominal de placa de base de 12,5 mm (30% e 16%) são inferiores às dos
protótipos com espessura nominal de 16,0 mm (43% e 33%). Segundo Murray e Shoemaker (2002), os
modelos de ligações com chapa de topo (a ligação de placa de base é essencialmente uma ligação com
chapa de topo) podem ser classificados como rígido, flexível e intermediário, dependendo da espessura
da placa em relação às dimensões em planta, ao diâmetro e espaçamento dos parafusos e do nível do
carregamento. Por observação, conclui-se que as bases dos modelos ensaiados não podem ser
classificadas como rígidas. Considerando a placa como flexível e, conseqüentemente, a distribuição da
pressão a partir do eixo da parede do tubo (~0,95d) [EN 1993-1-8 (2005), Steenhuis e Bijlaard (1999)],
podem-se calcular os valores de carga para essa situação, apresentados na Tabela 3 como Pmax. Como
se pode perceber, esses valores situam-se entre Pe e Pu, isto é, correspondem a valores intermediários
entre a carga de início do escoamento e a carga última, que pressupõe redistribuição de tensão na placa.
Pelo exposto, pode-se concluir, a partir dos resultados obtidos e das análises efetuadas, que o
modelo de cálculo apresentado é adequado e conduz a placas de base rígidas e a resultados
suficientemente conservadores para serem utilizados em projeto.

Agradecimentos
Os autores agradecem à VMB (Vallourec & Mannesmann do Brasil) e ao CNPq (Conselho Nacional de
Pesquisa), que tornaram possível a elaboração e a apresentação deste trabalho.

Bibliografia
ABNT NBR 6118 (2007) – “Projeto de Estruturas de Concreto-Procedimento” – Associação Brasileira
de Normas Técnicas (ABNT), 2007, Rio de Janeiro, Brasil.
ABNT NBR 8800 (2008) – “Projeto de Estruturas de Aço e de Estruturas Mistas de Aço e Concreto de
Edifícios” – Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), 2008, Rio de Janeiro, Brasil.
EN 1993-1-8 (2005) – “Eurocode 3: Design of Steel Structures – Part 1-8: Design of Joints” –
European Committee for Standardization, 2005, Bruxelas, Bélgica.
Fisher e Kloiber (2006) – Fisher, J.M., Kloiber, L.A., “Base Plate and Anchor Rod Design” – AISC
Design Guide 1, 2ª Ed., 2006, Chicago, Illinois, Estados Unidos da América.
Murray e Shoemaker (2002) – Murray, T.M., Shoemaker, W.L., “Flush and Extended Multiple-Row
Moment End-Plate Connections” – AISC Design Guide 16, 1ª Ed., 2002, Chicago, Illinois,
Estados Unidos da América.
Possato e Freitas (2004) – Possato, G.S.N., Freitas,A.M.S., “ Placas de Base de Coluna Métálicas
Tubulares” – Dissertação de Mestrado de Gisele da Silva Novo Possato, 2004, PPGEC,
Departamento de Engenharia Civil, UFOP, Ouro Preto, Brasil.
SCI 207 (1997) – The Steel Construction Institute, “Joints in Steel Construction: Moment Connections”
– P-207, 1997, Ascot, Reino Unido.
TB-NBT:2010 – Texto-Base da Futura Norma Brasileira de Projeto de Estruturas de Aço e Mistas de
Aço e Concreto com Perfis Tubulares – em preparação.
Steenhuis e Bijlaard (1999) – Steenhuis,M., Bijlaard, F., “Tests on Column Bases in Compression” –
Commemorative Publication for Prof. Dr. F. Tschemmernegg, ed. by G. Huber, (1999), Institute
for Steel, Timber and Mixed Building Technology, Innsbruck, Áustria.

Você também pode gostar