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FACULDADE PITÁGORAS DE SÃO LUIS

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

JOSÉ WILSON DE MARIA NETO

RECICLAGEM DE RESÍDUOS SÓLIDOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL:


Comparação entre o Maranhão e outros estados do Brasil

São Luís - MA
2017
JOSÉ WILSON DE MARIA NETO

RECICLAGEM DE RESÍDUOS SÓLIDOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL:


Comparação entre o Maranhão e outros estados do Brasil

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


coordenação do Curso de Engenharia Civil da
Faculdade Pitágoras, como requisito para
obtenção do grau de Bacharel em Engenharia
Civil.

Orientador:

São Luís - MA
2017
JOSÉ WILSON DE MARIA NETO

RECICLAGEM DE RESÍDUOS SÓLIDOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL:


Comparação entre o Maranhão e outros estados do Brasil

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


coordenação do Curso de Engenharia Civil da
Faculdade Pitágoras, como requisito para
obtenção do grau de Bacharel em Engenharia
Civil.

Aprovada em: _____/_____/2017


“Agrada-te do Senhor, e Ele satisfará os desejos do teu coração.”
(Salmos 37:4)
AGRADECIMENTOS

Ninguém me disse que seria fácil, pelo contrário, me disseram que o caminho seria
longo, muitas vezes, cansativo, mas, que eu teria forças para prosseguir. Me disseram que o
cansaço era comum, que eu deveria esquecer finais de semanas, esquecer amores e até mesmo
lazer. Cinco anos se passaram e cá estou eu: Vivo, feliz, animado com o futuro que a Deus
pertence.
A Deus, que me resgatou quando eu mais precisava e me deu a sabedoria necessária
para continuar lutando.
Aos meus pais, que foram os fomentadores de um sonho. Que disseram pra eu
sempre lutar e nunca desistir. Que corrigiram os seus filhos de forma perfeita, ensinando-os o
caminho da retidão. A família é a base de tudo, são aqueles que vão me apoiar
incondicionalmente, vão me repreender quando precisar e me aconselhar quando virem que
existe um caminho melhor. Dou graças a Deus por ter uma família e pais tão bons. Que, com
o suor do seu trabalho, me mostraram o valor do dinheiro suado, o valor da vida, da família.
Aos amigos que fiz nesta jornada. Vocês foram o melhor presente que a faculdade
poderia ter me dado.
Aos meus professores, que direta ou indiretamente ajudaram na minha formação
profissional e acadêmica. Quer seja com conselhos, quer seja com cobranças.

A todos vocês, meu muito obrigado.


RESUMO

Este trabalho realizou um estudo sobre a utilização de alguns resíduos na construção civil
(RCC) e a importância de reutilizar e reciclar esses materiais. Nossa sociedade esta passando
por muitas alterações, o consumismo, fruto do capitalismo, gera mais resíduos de forma geral
e as ansiedades do mercado faz com que se produzam mais e mais imóveis e outros tipos de
construção. Dessa forma, há de se quantificar, qualificar e destinar os resíduos sólidos
produzidos na construção civil para que não se tenha uma degradação ambiental em função
dos despejos em locais indevidos como vias públicas, terrenos baldios, rios e mares. A mazela
social também é algo que deve ser levada em consideração, pois, quando entulhos são
despejados em calçadas, por exemplo, impede o direito de ir e vir dos cidadãos, como ocorre
na cidade de São Luís. Desde 1991, foi sugerido um projeto que visava administrar os
resíduos sólidos, porém, somente em 2010 a Lei 12.305 foi aprovada e o Plano Nacional de
Resíduos Sólidos foi instituído. Assim, pode-se responsabilizar aqueles que descumprem as
leis ao deixar de destinar de forma correta e reciclar, quando possível. Na construção civil,
houve avanços, pois, geraram-se economias com o uso de materiais reciclados. Alguns
materiais chegam até fornecer melhores resultados em comparação com alguns outros
convencionais. Porto Alegre, Belo Horizonte, Guarulhos e Canoas são exemplos de cidades
que já tem vários incentivos de reciclagem de materiais da construção civil. O papel do estado
é essencial em intermediar parcerias entre o setor público e privado para criação de um centro
de reciclagem de materiais. Por isso, é sugerido que São Luís faça este centro, que já existe
em Porto Alegre, para o melhor manejo dos resíduos sólidos produzidos pela construção civil.

Palavras–chave: Construção civil. Reciclagem. Resíduos. Cidades. Plano Nacional de


Resíduos Sólidos.
ABSTRACT

This present work conducted a study about the uses of some construction waste and the
significance of reusing and recycling those materials. Our society is going through a lot of
changes, the consumerism, fruit of the capitalism, generate more wastes in a general way and
the yearnings of the market makes it produces more and more properties and other kind of
buildings. So, there is a need to quantify, qualify e allocate the wastes produced in
construction that does not have environmental degradation due to sewage in improper sites
such as public roads, unowed land, rivers and seas. The social illness is something that should
be taken into account, because when wastes are dumped in sidewalks, for example, preventing
the right to come and go of the citizens, as it happens in the city of São Luís. Since 1991, it
was suggested a project which aimed to manage the solid waste, however, only in 2010 the
law 12.305 was approved e o National Plan for Solid Waste was set. So, we can punish those
who violate the laws for not allocate in right way and recycle, when possible. In construction,
there has been progress because savings were generated by the use of recycled materials.
Some materials can even provide better results comparing to the formal ones. Porto Alegre,
Belo Horizonte, Guarulhos e Canoas are examples of cities that already have several
incentives of recycling waste in construction. The State’s role is essential in brokering
partnerships between the public and private to create a recycling center of solid waste.
Therefore, it is suggested that São Luís builds this center, which already exists in Porto
Alegre, for better management of waste produced in construction.

Keywords: Construction. Recycling. Waste. Cities. National Plan for Solid Wate.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Relacionamento entre os agentes do sistema de gerenciamento de 24


resíduos .......................................................................................................................
Figura 2 - O novo canteiro de obras.......................................................................... 29
Figura 3- Exemplo de carroceiro trabalhando no “Programa Carroceiro”................. 38

Figura 4 - URPVs no município de Belo Horizonte.................................................. 40

Figura 5- Estação de Recebimento de Entulho (ERE) em BH.................................... 40

Figura 6 - Usina de Reciclagem de Resíduos da Construção Civil localizada no 42


Município de Guarulhos – SP.....................................................................................
Figura 7 - Foto da Usina de Reciclagem de Resíduos da Construção Civil
localizada no Município de Guarulhos – SP – Resíduo na moega e agregado
reciclado na esteira...................................................................................................... 43
Figura 8 - Matriz do fluxo de resíduos da construção e demolição de Canoas........... 45
Figura 9 - Ecopontos para entrega de resíduos na cidade do Rio de Janeiro............ 46
Figura 10 - Modelo de MTR da Prefeitura de Curitiba............................................. 47
Figura 11 – Foto da disposição incorreta de RCDs em São Luís, no bairro da Ponta 49
D’areia
Figura 12 – Foto da disposição incorreta de RCDs em São Luís, no bairro da Ponta 49
D’areia
Figura 13 - Processo linear de descarte.................................................................... 51
Figura 14 - Processo circular de reciclagem e disposição final de resíduos de 52
construção e demolição............................................................................................
LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES

ABRECON - Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos de Construção Civil e


Demolição
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas
CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente
PNRS – Plano Nacional de Resíduos Sólidos
EPI – Equipamento de Proteção Individual
PGRCC – Projeto de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil
RGRCC – Relatório de Gerenciamento de Resíduos da Contrução Civil
RCD – Resíduos da Construção Civil e Demolição
SLU – Superintendência de Limpeza Urbana
ERRSCC – Estação de Reciclagem de Resíduos Sólidos da Construção Civil
URPVs – Unidade de Recebimento de Pequenos Volumes
BH – Belo Horizonte
ERE – Estação de Reciclagem de Entulho
CTRS – Central de Tratamento de Resíduos Sólidos
URP - Unidade de Recebimento de Pneus
UEA - Unidade de Educação Ambiental
UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 11
2 RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL E DEMOLIÇÃO.......... 14
2.1 Definição............................................................................................ 15
2.2 Classificação dos resíduos sólidos da construção civil e
demolição
(RCD................................................................................................... 16
2.2.1 Segundo Norma NBR 10004 de 2004................................................. 16
2.2.2 Segundo Resolução 307 do CONAMA............................................... 17
2.2.3 Segundo a origem................................................................................ 17
2.3 Legislação e normas brasileiras de resíduos sólidos de
construção e
demolição........................................................................................ 18
2.3.1 Linha do tempo................................................................................... 19
2.3.2 O que muda com a Lei 12.305/2010................................................... 20
2.3.3 Normas brasileiras de resíduos sólidos................................................ 21
2.4 O processo de gerenciamento e gestão de resíduos sólidos............ 22
2.4.1 Entes ligados ao gerenciamento........................................................... 23
2.4.2 Diretrizes do gerenciamento................................................................ 25
2.4.2.1 Diretriz segundo a resolução 307 do CONAMA................................. 25
2.4.2.2 Escolha dos processos construtivos..................................................... 26
2.4.2.3 Adoção de métodos de construção desmontáveis............................... 27
2.4.2.4 Utilização de materiais recicláveis..................................................... 27
2.4.2.5 Uso de pré-fabricados......................................................................... 27
2.4.2.6 Parcerias com cooperativas de reciclagem......................................... 28
2.4.2.7 Recolhimento de embalagens pelos fabricantes2.4.2.8 Layout do 28
canteiro de obras otimizado e prevendo o gerenciamento dos
resíduos...............................................................................................
2.4.2.9 Capacitação e treinamento de funcionários....................................... 29
2.4.2.10 A metodologia “5R............................................................................. 30
2.5 Conceito de perdas............................................................................ 31
2.5.1 Tipos de perdas.................................................................................... 32
2.5.2 Medidas para evitar a perda de matérias na obra................................ 33
2.6 Impactos ambientais associados aos RCDs..................................... 33
2.7 Uso teórico dos RCDs....................................................................... 35
2.7.1 Cinzas pesadas.................................................................................... 36
2.7.2. Areia reciclada.................................................................................... 36
2.7.3 Pedrisco reciclado............................................................................... 37
2.7.4 Brita reciclada..................................................................................... 37
2.7.5 Bica corrida.......................................................................................... 37
2.7.6 Rachão................................................................................................. 37
3 REALIDADE DA RECICLAGEM NOS ESTADOS E 38
CIDADES BRASILEIRAS...............................................................
3.1 Minas Gerais...................................................................................... 38
3.2. São Paulo............................................................................................ 41
3.3 Rio Grande do Sul............................................................................. 44
3.4 Rio de Janeiro.................................................................................... 45
3.5 Paraná................................................................................................. 46
3.6 Mato Grosso....................................................................................... 47
3.7 Maranhão.......................................................................................... 48
4 CONCLUSÃO.................................................................................... 50
REFERÊNCIAS.................................................................................. 53
11

1 INTRODUÇÃO

O homem primitivo tinha um comportamento peculiar quanto ao lixo que produzia.


Procuravam locais longes de fontes de água e alimentos para despejar seus dejetos. Quando
menos civilizada era a sociedade, menos lixo se produzia. Com as mudanças do homem com
o passar do tempo, diferentes formas de armazenamento e despejo de resíduos foram
surgindo. Atualmente, um dos maiores produtores de resíduos sólidos é a construção civil.
Não só no Brasil, mas no mundo.

O ser humano sempre se valeu de recursos naturais para atender a suas necessidades.
Inicialmente pelo uso de peles de animais para vestimentas e, na sequência, pelo
emprego de instrumentos para confecção de objetos, ferramentas e armas. Em
seguida, o domínio do processo de geração e controle do fogo o possibilitou
aprimorar seu sistema de proteção, e ele pôde entrar e permanecer nas cavernas.
Então, com as novas formas de organização social e familiar e o advento da
agricultura, o homem pôde deixar de ser nômade e se estabelecer em um único local.
(NAGALLI, 2014, p. 7).

De acordo com Nagalli (2014), com o passar do tempo, o homem aumentou sua
apropriação dos recursos naturais. Logo, as poucas necessidades humanas tornaram-se uma
grande apropriação de diversos materiais presentes na natureza. A imposição da necessidade
de consumo pela sociedade fez com que a produção e uso dos recursos passassem a ser uma
problemática e consequente objetivo de estudo deste trabalho.
Com o processo de industrialização do Brasil, houve mudanças na saúde, economia,
educação e no mundo do trabalho. Assim, veio também, o consumo dos recursos naturais para
grandes e pequenas construções. Maiores vias, maiores edifícios, maiores instalações públicas
e maior o “lixo” produzido por essas construções. Rocha, considera o ‘lixo” como resíduo e
menciona:
Tudo que nos cerca um dia será resíduo: casas, automóveis, móveis, pontes, aviões.
A este total, devemos somar todos os resíduos no processo de extração de matérias
primas e de produção dos bens. Assim, em qualquer sociedade, a quantidade de
resíduos gerados supera a quantidade de bens consumidos. A sociedade industrial,
ao multiplicar a produção de bens agravou esse processo. (ROCHA, 2003. p.5).

Já faz um longo tempo que o lixo urbano representa um grande problema para as
gestões municipais, gerando gastos elevados aos cofres públicos e trazendo degradação ao
meio ambiente. Grande parte do lixo das grandes cidades vem da construção civil e tem sido
um enorme desafio se livrar desses resíduos. De acordo com a Associação Brasileira para
Reciclagem de Resíduos de Construção Civil e Demolição (ABRECON), o Brasil joga fora
oito bilhões de reais ao ano porque não recicla seus produtos. Os números indicam que 60%
do lixo sólido das cidades é oriundo da construção civil e 70% desse total poderia ser
12

reutilizado. Os custos desse desperdício são repassados para a sociedade como um todo, não
apenas pelo aumento do preço final das construções como, também, pelos custos de remoção
e tratamento do entulho.
Na cidade de São Luís do Maranhão, essa realidade é alarmante. Vias públicas são
obstruídas por entulhos, terrenos baldios e margens de rios recebem entulhos todos os dias,
calçadas são preenchidas por resíduos de diferentes tamanhos prejudicando o ir e vir dos
cidadãos. É uma realidade que precisa ser melhorada. Quer seja partindo da iniciativa privada
ou da esfera pública. A Resolução nº 307, de 5 de julho de 2002, do Conselho Nacional do
Meio Ambiente – CONAMA, trouxe uma nova perspectiva quanto à destinação dos resíduos
sólidos na construção civil, considerando uma política urbana de desenvolvimento da função
social da cidade, a disposição de resíduos da construção civil em locais inadequados,
viabilidade econômica e técnica para o uso de materiais reciclados. Proporcionando um bem
estar para a sociedade no sentido de que o espaço urbano será melhor aproveitado, os recursos
naturais não serão utilizados de forma desenfreada responsabilizando aqueles que não
cumprirem as ordenanças da resolução disposta.
É necessário garantir a sustentabilidade ambiental – algo já instalado em vários países
desenvolvidos. O Brasil ainda engatinha no sentido de reciclar materiais nas obras privadas e
públicas, pois ainda não tem rigor nas políticas públicas que regulamente esta ação. Nesse
sentido, há de se perceber que existem várias vantagens em reciclar: na pavimentação é a
forma que menos exige tecnologia implicando em menor custo; no concreto, podem ser
usados todos os componentes minerais do entulho; para argamassas, usa-se apenas o resíduo
no local gerador, eliminando custos e diminuindo o uso de cimento e cal.
Embora seja possível e prioritário reduzir a quantidade de resíduos durante a produção
e até o pós-consumo, eles sempre serão gerados. O desenvolvimento sustentável requer uma
redução do consumo de matérias-primas naturais não renováveis. O fechamento do ciclo
produtivo, gerando novos produtos a partir da reciclagem de resíduos, é uma alternativa
insubstituível. Assim, o desenvolvimento de tecnologias para reciclagem de resíduos
ambientalmente eficientes e seguros, que resultem em produtos com desempenho técnico
adequado e que sejam economicamente competitivas nos diferentes mercados é um desafio
técnico importante, inclusive, do ponto de vista metodológico. (ROCHA, 2003).
Reciclar resíduos sólidos e destiná-los de forma correta são de suma importância uma
vez que, devemos valorizar os recursos naturais do local em que vivemos. Ao retirarmos
matéria prima do meio ambiente, faz-se necessário o uso desse recurso ao máximo e que fique
útil de forma cíclica, sendo usado de diversas formas e voltando para o meio ambiente.
13

Este trabalho visa comparar o que está sendo feito em algumas cidades do Brasil,
como São Luís do Maranhão. Também observar os custos, técnicas de reciclagem,
manutenção dos resíduos e o retorno dos materiais em forma de um uso específico. Bem
como, evitar o uso descontrolado de recursos naturais e o prejuízo social e econômico da
ausência de políticas de reciclagem nas obras. Citar, ainda, práticas sustentáveis de gestão
urbana, minimizar o desperdício de recursos naturais e discorrer sobre como estão ocorrendo
mudanças na valorização dos resíduos sólidos e o compromisso no seu manejo. Bem como,
evitar o despejo de entulho em vias públicas, margem de rios e terrenos baldios.
O foco final é sugerir uma parceria público-privada para a implementação de um
sistema que aproveite todo resíduo sólido produzido nas obras privadas, com a consequência
de retornar esses materiais de forma proveitosa e produtiva.
14

2 RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL E DEMOLIÇÃO

Nos moldes como é hoje, a construção civil é uma grande geradora de resíduos
sólidos. No Brasil, grande parte dos processos construtivos é essencialmente manual e
ocorrem nos canteiros de obras. Os Resíduos da Construção e Demolição (RCD) além de
ocasionarem problemas de logísticas e prejuízos financeiros, degradam o meio ambiente.
(NAGALLI, 2014).
A construção civil é uma grande geradora de resíduos e necessita de uma atenção
especial para os dejetos gerados nessa atividade. Geri-los é garantir a correta gestão dos
resíduos durante as atividades construtivas e após a entrega de uma obra. Deve-se observar a
não geração, minimização, reutilização, descarte adequado e eventual reciclagem. Resíduos
estão intrinsecamente ligados à sociedade de consumo em vivemos, são sempre criados a
partir de algo que é utilizado e não se faz mais necessário o seu uso. Isso se faz presente na
engenharia civil, no nosso cotidiano de uso dos materiais para consumo básico como
alimentos, cosméticos, asseio pessoal, higiene, nos hospitais com resíduos tóxicos, nas
fábricas etc.
Classificar, definir, quantificar os RCD uma vez que é necessário ter controle para
realizar a reciclagem dos materiais. Saber qual é o tipo de resíduo, em que classe de
periculosidade ele se encaixa para o correto manejo do mesmo, de que forma ele pode ser
utilizado, quais os benefícios que ele traz ao ser reciclado. Essas são as questões levantadas ao
estudar os RCD.
É interessante verificar que, ao longo da história, algumas iniciativas pontuais se
tratavam de resíduos foram desenvolvidas. Na Europa, no início do século XIX, já
registros de processamento de entulho de construções em escória de alto-forno. Na
Holanda, por exemplo, em 1920, alguns rejeitos foram utilizados e aproveitados em
construções. Após a Segunda Guerra Mundial, os escombros das construções
europeias destruídas durante a guerra foram utilizados como agregados para
produzir concreto e asfalto. Já na Alemanha, foram utilizados, no fabrico de
concreto, 12 milhões de metros cúbicos de agregados oriundos da alvenaria. Em
função da escassez de petróleo nas décadas de 1950 a 1970, utilizou-se asfalto velho
para produção de novas camadas de pavimento. Em 1989, com a derrubada do muro
de Berlim, os restos do muro foram, e ainda são vendidos como souvenir.
(NAGALLI, 2014, p. 8).

Observa-se que um país dizimado pela guerra conseguiu se reerguer e usar materiais
que já estavam supostamente fadados a serem inutilizados. Porém, a lucidez de um povo fez
com que fossem utilizados os recursos já existentes para a reconstrução de algumas
edificações, principalmente em concreto. Nagalli (2014, p. 8) afirma que “[..] naquela época,
o aproveitamento de resíduos não possuía viés ambiental [...]”. Foi algo intuitivo daquele
15

povo e sem pensar no bem ambiental ou socioeconômico que estavam fazendo. Eles apenas
usaram dos recursos que tinham naquele momento.
Segundo Nagalli (2014), atualmente, temos uma sociedade mais consciente com
relação ao consumo, mas que continua a estimular o indivíduo a consumir de forma assídua
continuam a persuadir os consumidores para dar continuidade a suas atividades lucrativas. Por
outro lado, iniciativas que propõem diminuir a geração de resíduos, otimizar a sua utilização e
transporte, fornecer tratamento adequado, reciclar etc. Há um aumento na demanda por
construções “verdes” não só como de consumidores mas também legisladores e auditores de
processos de certificação ambiental, que começam a impor um processo adequado para as
construtoras e empreendedoras nesse sentido.

2.1 Definição

Segundo a Política Nacional de Resíduos Sólidos, artigo 3º, inciso XVI define-se por resíduos
sólidos: “material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em
sociedade, cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a
proceder, nos estados sólidos ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e
líquidos cujas particularidades tornem inviáveis o seu lançamento na rede pública de esgotos
ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnicas ou economicamente inviáveis em
face da melhor tecnologia disponível.” (BRASIL, Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010,
2010).
No tocante à definição conceitual, a literatura técnica se serve dos termos
resíduos sólidos para designar o produto de descarte gerado pela atividade
industrial, comercial e de serviços da sociedade em geral, seja urbana, rural,
privada ou pública (KRELING, 2006, p. 20).

Os resíduos sólidos urbanos (RSU) são aqueles resíduos produzidos em residências,


pelo setor público e nas ruas e que são de responsabilidades dos municípios. São
heterogêneos, compostos, principalmente, por plásticos, papeis, metais e vidros. O poder
aquisitivo, grau de urbanização, padrões de consumo, hábitos e costumes da população são
fatores que alteraram a composição desses resíduos. (NETO, 2013).
Existem também os resíduos agrossilvopastoris, Lei 12.305 em seu artigo 13 item I,
subitem i, define resíduos agrossilvopastoris como: os gerados nas atividades agropecuárias e
silvicultoras, incluídos os relacionados a insumos utilizados nessas atividades. Resíduos de
construção civil (RCC) que segundo a Lei 12.305 em seu artigo 13 item I, subitem h, define
resíduos da construção civil como: os gerados nas construções, reformas, reparos e
demolições de obras de construção civis incluídos os resultantes da preparação e escavação de
terrenos para obras civis.
16

2.2 Classificação dos resíduos sólidos da construção civil e demolição (RCD)

A classificação de resíduos sólidos envolve a identificação do processo ou atividade


que lhes deu origem, além de seus constituintes e características com listagens de resíduos e
substâncias cujo impacto à saúde e ao meio ambiente é conhecido. A identificação dos
constituintes a serem avaliados na caracterização do resíduo deve ser criteriosa e estabelecida
de acordo com as matérias-primas, os insumos e o processo que lhe deu origem.

2.2.1 Segundo Norma NBR 10004 de 2004

Segundo a norma, define-se por resíduos sólidos, os resíduos nos estados sólido e
semissólido que resultam de atividade da comunidade de origem: Industrial, doméstica,
hospitalar, comercial, agrícola, serviços e varrição.
Esta norma classifica os resíduos quanto a sua periculosidade, podendo apresentar
riscos à saúde pública ou ao meio ambiente; quanto à toxidade e quanto a agentes causadores
de doenças graves como câncer ou alterações genéticas em função de inalação, ingestão ou
absorção cutânea.
Também são classificados como:

a) Resíduos Classe I – perigosos


Aqueles que apresentam periculosidade como inflamabilidade, corrosividade,
reatividade, toxicidade e patogenicidade.

b) Resíduos classe II – Não perigosos


-Resíduos Classe II A– não inertes;
Aqueles que não se enquadram na classe I ou na classe II B. Podem ter propriedades
tais como biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água.
-Resíduos Classe II B– inertes
Resíduo que devido as suas características e composição físico-química não sofre
transformações físicas, químicas ou biológicas, mantendo-se inalterados por um longo
período de tempo.
2.2.2 Segundo Resolução 307 do CONAMA
17

Segundo a Resolução 307 do CONAMA, art 2º, inciso I, resíduos da construção civil
são os provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção
civil, e os resultantes da preparação e da escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos
cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e
compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos,
tubulações, fiação elétrica etc., comumente chamados de entulhos de obras, caliça ou
metralha.
Conforme a resolução, art 3º, inciso I ao IV, a classificação de resíduos sólidos da
construção civil segue as seguintes classes:

a) Classe A: são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como: de


construção, demolição, reformas, reparos de edificações. Exemplo: argamassa,
concreto e componente cerâmico como tijolos, blocos, telhas e placas de revestimento.
São também resíduos de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-
moldadas em concreto como blocos, tubos, meios-fios produzidos nos canteiros de
obras;
b) Classe B: são os resíduos recicláveis para outras destinações tais como: madeira,
papel, papelão, plástico, gesso e vidro;
c) Classe C: São os resíduos em que não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações
economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem, ou recuperação;
d) Classe D: são resíduos perigosos oriundos do processo de construção tais como: tintas,
solventes, óleos e outros ou aqueles contaminados ou prejudiciais à saúde oriundos de
demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e
outros, bem como, telhas e demais objetos e materiais que contenham amianto ou
outros produtos nocivos à saúde.

2.2.3 Segundo a origem

a) Domiciliar: originados na vida diária nas residências. Exemplo: restos de comida,


cascas de alimentos, produtos deteriorados, verduras, jornais e revistas, garrafas,
embalagens em geral, papel higiênico, fraldas descartáveis.
b) Comercial: provenientes de diversos estabelecimentos comerciais e de serviços como
supermercados, bancos e bares. Exemplos: papel, plásticos, embalagens diversas,
resíduos de asseio dos funcionários e usuários como papéis-toalha e papel higiênico.
18

c) Varrição e Feiras Livres: originados nos diversos serviços de limpeza pública urbana
como varrição de vias públicas, limpeza de praias, restos de podas de árvores, corpos
de animais etc; e os de limpeza de áreas de feiras livres. Exemplo: restos vegetais
diversos, embalagens, etc.
d) Serviços de saúde e hospitalares: resíduos produzidos em serviços de saúde tais como:
clínicas, hospitais, farmácias, laboratórios, etc. Exemplo: Resíduos sépticos que
podem conter germes como gazes, seringas, órgãos removidos, cobaias, remédios com
validade vencida, meios de cultura, filmes fotográficos de raios-X; resíduos não-
sépticos como papeis, pós de varrição, restos de comidas etc.
e) Portos, Aeroportos e Terminais Rodoviários: materiais de asseio pessoal que podem
conter doenças provenientes de outras nações.
f) Industriais: originados da atividade laboral das indústrias onde se inclui grande parte
do lixo considerado tóxico. Exemplo: borracha, metal, óleos, resíduos alcalinos ou
ácidos, fibras, madeira, escórias, vidro etc.
g) Agrícolas: resíduos de atividades agrícolas e da pecuária. Exemplo: defensivos
agrícolas, produtos veterinários, estrume, bagaço de cana, frutas e verduras.
h) Entulhos: resíduos originados da construção civil. Exemplo: demolições, restos de
obras, solos de escavações, cerâmicas, concreto etc.
i) Rejeitos de mineração: resultantes do processo de mineração em geral. Exemplo:
expurgo de minério, lavra e pré-processamento.

2.3 Legislação e normas brasileiras de resíduos sólidos de construção e demolição

Diante do aumento da urbanização e êxodo urbano que acontecia nos anos 70 a 90,
houve um consequente aumento nas construções de casas, prédios, vias urbanas e instalações
públicas. Ocorreu um inchaço urbano e muitas pessoas buscavam melhores condições de vida
ao sair do campo para a cidade. Era real a necessidade de regulamentar o que acontecia com
os resíduos produzidos nessas obras uma vez que o entulho proveniente é mal utilizado e
prejudicial no âmbito social e ambiental.
Nagalli (2014, p 17), afirma que “Diversos são os aspectos da Constituição Federal
brasileira que tangenciam o gerenciamento dos resíduos da construção. Pelo fato de o
gerenciamento desses resíduos ter como berço a crescente demanda por soluções técnicas
ambientalmente amigáveis.”
19

Neste item, será abordada uma linha do tempo de como foi criada normas e leis que
regem os resíduos sólidos da construção e demolição. Também será dissertado sobre o que
mudou com a principal lei que deu destino aos resíduos sólidos não só da construção e
demolição, mas, de um modo geral, com os resíduos urbanos e industriais.

2.3.1 Linha do tempo

Logo abaixo está um resumo sobre como surgiu a Lei nº 12.035 que institui a Política
Nacional de Resíduos Sólidos:
a) 1991: Proposto o projeto de lei 203 que estabelece a gestão de resíduos dos serviços de saúde;
b) 1999: Proposição do CONAMA 259 “Diretrizes Técnicas para a Gestão de Resíduos
Sólidos” que chegou a ser aprovada, mas não foi publicada;
c) 2001: Após dez anos sem aprovar algo sobre a destinação dos resíduos sólidos
urbanos, a Câmara dos Deputados implementam a Comissão Especial da Política
Nacional de Resíduos que visava analisar o Projeto de Lei 203/91 e confeccionar uma
proposta substitutiva global. Porém, a comissão foi subitamente extinta diante do
fechamento da legislatura;
d) 2003: Em Caxias do Sul foi realizado um congresso latino-americano que pretendia
acabar com os lixões e responsabilizar os geradores de resíduos. Nesse mesmo ano, foi
criado o Programa de Resíduos Sólidos Urbanos e realizado a I Conferência de Meio
Ambiente.
e) 2004: Desse ano em diante, a gestão de resíduos passou a ser mais discutida. O
Ministério do Meio Ambiente (MMA) criou grupos e secretarias para elaborar
propostas de regulamentação dos resíduos sólidos. CONAMA (Conselho Nacional do
Meio Ambiente) decide rediscutir e ouvir a sociedade em função da defasagem da
Proposição 259, anteriormente citada;
f) 2005: Com esforços do MMA e contribuições do CONAMA, foi encaminhado o
anteprojeto de lei de “Política Nacional de Resíduos Sólidos”. Realizada a II
Conferência Nacional do Meio Ambiente, com foco nos resíduos sólidos. Foram
realizados, também, debates em várias cidades promovidos pelo MMA, CONAMA e
Ministério das Cidades.
g) 2007: Executivo propõe o PL 1991/2007 que Institui a Política Nacional de Resíduos
Sólidos e dá outras providências. Mas por possuir várias interrelações com outros
instrumentos legais como Políticas Nacionais de Meio Ambiente, de Educação
20

Ambiental, de Recursos Hídricos, de Saúde, Urbana, Industrial, Tecnológica, o texto


foi arquivado e enviado à Casa Civil.
h) 2010: Aprovado, finalmente, pelo plenário da Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei
203/91 que, segundo a ementa, dispõe sobre o acondicionamento, a coleta, o
tratamento, o transporte e a destinação final dos resíduos de serviços de saúde. Dessa
forma, foi imposta obrigações aos empresários, aos governos e aos cidadãos no
gerenciamento dos resíduos. A Lei nº 12.035 que institui a Política Nacional de
Resíduos Sólidos e altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 e dá outras
providências, foi publicada no Diário Oficial da União no dia 03 de agosto de 2010.

2.3.2 O que muda com a Lei 12.305/2010

Logo abaixo, segue uma comparação de como era antes sem a lei e, hoje em dia,
depois da aprovação da Lei 12.305/2010:

DEPOIS
ANTES

• Municípios farão plano de metas sobre


• Falta de prioridade para o lixo urbano
resíduos com participação dos catadores

• Existência de lixões na maioria dos • Os lixões precisam ser erradicados em 4


municípios. anos.

• Resíduo orgânico sem aproveitamento • Prefeituras passam a fazer a compostagem

• É obrigatório controlar custos e medir a


• Coleta seletiva cara e ineficiente qualidade do serviço

• Exploração por atravessadores e riscos à • Catadores reduzem riscos à saúde e


saúde. aumentam renda em cooperativas

• Informalidade. • Cooperativas são contratadas pelos


municípios para coleta e reciclagem
• Problemas de qualidade e quantidade dos
materiais. • Aumenta a quantidade e melhora a
qualidade da matéria prima reciclada
• Falta de qualificação e visão de mercado.
• Trabalhadores são treinados e capacitados
para ampliar produção
21

• Inexistência de lei nacional para nortear os • Marco legal estimulará ações empresariais
investimentos das empresas
• Novos instrumentos financeiros
• Falta de incentivos financeiros impulsionarão a reciclagem

• Baixo retorno de produtos • Mais produtos retornarão à indústria após o


Eletroeletrônicos pós-consumo uso pelo consumidor

• Desperdício econômico sem a reciclagem • Reciclagem avançará e gerará mais


negócios com impacto na geração de renda

• Consumidor fará separação mais criteriosa


• Não separação do lixo reciclável nas nas residências
residências
• Campanhas educativas mobilizarão
• Falta de informação moradores

• Falhas no atendimento da coleta municipal • Coleta seletiva melhorará para recolher


mais resíduos
• Pouca reivindicação junto às autoridades
• Cidadão exercerá seus direitos junto aos
governantes

Fonte: (www.cempre.org.br).

2.3.3 Normas brasileiras de resíduos sólidos

ABNT NBR 15112: Resíduos da Construção Civil e Resíduos Volumosos – Áreas de


Transbordo e Triagem. Esta norma fixa os requisitos exigíveis para projeto, implantação e
operação de áreas de transbordo e triagem de resíduos da construção civil e resíduos
volumosos. Segundo a norma, área de transbordo e triagem é definida por “área destinada ao
recebimento de resíduos da construção civil e resíduos volumosos, para triagem,
armazenamento temporário dos materiais segregados, eventual transformação e posterior
remoção para destinação adequada, sem causar danos à saúde pública e ao meio ambiente”.
ABNT NBR 15113: Resíduos Sólidos da Construção Civil e Resíduos Inertes –
Aterros. Esta Norma fixa os requisitos mínimo exigíveis para projeto, implantação e operação
de aterros de resíduos sólidos da construção civil classe A e de resíduos inertes. Observa,
também, reservar os materiais de forma segregada, podendo ser usado futuramente.
ABNT NBR 15114: Resíduos Sólidos da Construção Civil – Áreas de Reciclagem.
Esta norma fixa os requisitos mínimo exigíveis para projeto, implantação e operação de áreas
de reciclagem de resíduos sólidos da construção civil classe A. Ela se aplica à reciclagem de
materiais já triados para a produção de agregados com características para a aplicação em
obras de infraestrutura e edificações, de forma segura, sem comprometimento das questões
22

ambientais, das condições de trabalho dos operadores dessas instalações e da qualidade de


vida das populações vizinhas.
ABNT NBR 15115: Agregados Reciclados de Resíduos Sólidos da Construção Civil-
Execução de camadas de pavimentação. Esta norma estabelece os critérios para execução de
camadas de reforço do subleito, sub-base e base de pavimentos, bem como, camada de
revestimento primário, com agregado reciclado de resíduo sólido da construção civil,
denominado agregado reciclado, em obras de pavimentação.
ABNT NBR 15116: Agregados Reciclados de Resíduos Sólidos da Construção Civil –
Utilização em Pavimentação e Preparo de Concreto sem Função Estrutural. Esta Norma
estabelece os requisitos para o emprego de agregados reciclados de resíduos sólidos da
construção civil.

2.4 O processo de gerenciamento e gestão de resíduos sólidos

Antes de tudo devemos diferenciar gestão de gerenciamento. Segundo Nagalli (2014),


gestão é um processo amplo composto por políticas públicas, leis e regulamentos que balizam
e direcionam a atuação dos agentes do setor. Já o gerenciamento se ocupa das atividades
operacionais cotidianas e do trato direto com os resíduos, com ações que antevem, controlam
e gerem a manipulação dos resíduos de suas obras.

No Brasil, as políticas públicas voltadas ao gerenciamento de Resíduos de


Construção Civil (RCC) buscam impulsionar as empresas geradoras de resíduos a
tomarem uma nova postura gerencial e implementar medidas que visem a redução
da quantidade de resíduos produzidos. Estas medidas, via de regra, ainda são
consideradas como não usuais ou mesmo como desconhecidas no setor.
(COMPETIR et al, 2012, p. 6).

Segundo Nagalli (2014) um modelo eficiente de gestão de resíduos sólidos se


fundamenta essencialmente nas seguintes estratégias:
a) Não geração: evitar gerar uns resíduos com ações tipo, escolher um processo
construtivo ou material que não requeira formas ou execução in loco;
b) Minimização: incluir tecnologias na otimização dos processos como capacitar
profissionalmente os funcionários ou uso de apanhadores de materiais que caem ou
espirram, como reboco e argamassa para assentamento de tijolos;
c) Reutilização: aproveitar os resíduos para o mesmo uso sem passar por transformação,
por exemplo, uso de formas, argamassa;
d) Reciclagem: levar os resíduos para beneficiamento (submeter uns resíduos a
transformação para reutilização, quer seja na obra ou fora dela);
23

e) Descarte adequado: destinar os resíduos ao tratamento adequado como aterros


licenciados, processamento etc.

Segundo Lopes (2007), os órgãos municipais brasileiros seguem os seguintes modelos:


um de gestão e outro de gerenciamento. O modelo de gestão é um arranjo político-
administrativo e o de gerenciamento é um manejo tecnológico.
Nesse sentido, os modelos de Gestão de Resíduos Sólidos estabelecem a forma pela
qual se conduz politicamente a questão arranjos institucionais, seus instrumentos
legais e seus mecanismos de controle), enquanto o Modelo de Gerenciamento
estabelece os critérios técnicos de tratamento e disposição final. (NETO, 2013, p.
18).

2.4.1 Entes ligados ao gerenciamento

De acordo com Nagalli (2014), há vários atores no processo de gerenciamento dos


resíduos sólidos da construção civil e demolição. Não são somente construtores que
participam da geração de resíduos como também outros agentes:

a) Geradores: pessoas físicas ou jurídicas, públicas ou privadas, são responsáveis por


atividades ou empreendimentos que gerem os resíduos definidos na Resolução
Conama nº 307 (CONAMA, 2002);
b) Transportadores: pessoas físicas ou jurídicas, encarregadas da coleta e do transporte
dos resíduos entre as fontes geradoras e as áreas de destinação;
c) Destinatários: áreas ou empreendimentos destinados ao beneficiamento ou à
disposição final de resíduos, inclusive, recicladoras e áreas de aterro;
d) Agentes licenciadores e de fiscalização: entidades que tem como responsabilidade
observar o cumprimento dos requisitos técnicos e legais para desenvolvimento das
atividades dos três agentes citados acima;
e) Fornecedores: fornecem produtos ou serviços aos geradores de resíduos;
f) Clientes: são pessoas interessadas em adquirir um bem ou serviço gerador de resíduos
de construção ou demolição. São importantes, pois, eles que escolhem os construtores
ou prestadores de serviços que podem ser corretos ou não quanto ao reuso ou
destinação final dos resíduos produzidos durante e após a construção do bem ou
serviço prestado;
g) Consultores: orientam os geradores, transportadores e destinatários quanto ao
cumprimento das obrigações legais, apontando irregularidades e acertos;
24

h) Auditores: agem de forma independente recebendo os pedidos de algumas das partes


para verificar o correto cumprimento dos requisitos técnicos e legais;
i) Pesquisadores: pessoas ligadas a instituições ou universidades que estudam as
melhores maneiras de reaproveitar, quantificar, investigar, desenvolver técnicas e
sugerir políticas de reciclagem de materiais. Fornecem ajudas teórico-práticas para que
todos os agentes possam agir de forma correta e sustentável.

Castro et al. (2012) propõem um fluxo de informações com a utilização ao máximo de


automatização de processos e registros, uso de informática e sistematização.
No esquema da figura 3.1 percebe-se que os agentes que estão no núcleo são os
principais, que agem de forma mais atuante no âmbito dos resíduos, produzindo e
manipulando. Os que estão em volta do núcleo, não menos importantes, dão suporte técnico,
financeiro e fiscalizam as ações dos que produzem os resíduos.

Figura 1 - Relacionamento entre os agentes do sistema de gerenciamento de resíduos

Fonte: Castro, 2012.

2.4.2 Diretrizes do gerenciamento

Como preleciona Nagalli (2014), partindo do pressuposto que uma política de “zero
resíduo” é irrealizável e é inevitável deixar de produzir resíduos de construção e demolição,
pesquisas e ações são tomadas para reduzir a quantidade de resíduos produzidos em obras e
serviços. Diretrizes são traçadas para atingir o objetivo de reduzir o entulho, reciclá-lo ou
reutilizar o mesmo. Há benefícios da redução de resíduos e de custos relativos ao
gerenciamento, transporte e destinação dos resíduos.
25

Há geração de resíduos tanto na fase inicial da construção como na fase de operação e


desconstrução do empreendimento. Algumas são as dificuldades encontradas diante de um
mau planejamento como: processos construtivos sem boa gestão de resíduos, más escolhas de
materiais. Ainda na concepção de projeto podem acontecer erros de planejamento
principalmente quanto à confecção do canteiro de obras – um layout mal projetado e disposto
erroneamente no espaço proposto influencia diretamente no fluxo de matéria e energia,
atrapalhando a organização do canteiro e a logística de materiais. Nagalli (2014, pg 38), diz
que essas dificuldades “acarretam problemas crônicos e de difícil solução na área dos
resíduos.”
Para Nagalli (2014), há duas estratégias de gerenciamento: prevenção qualitativa e
prevenção quantitativa. A primeira diz respeito à escolha de materiais duráveis e que podem
ser facilmente substituídos, possibilitando o reaproveitamento e reciclagem. A segunda adota
de forma mais “limpa”, processos industrializados ou pré-fabricados, que juntamente no
treinamento da mão de obra, podem enxugar a produção e reduzir os resíduos produzidos.

2.4.2.1 Diretriz segundo a resolução 307 do CONAMA

De acordo com COMPETIR et al. (2012), a Resolução nº 307 surgiu diante da


preocupação com o excedente da disposição de resíduos da construção em locais inadequados.
Publicada dia 05 de julho de 2002 e posta em vigor dia 02 de janeiro de 2003, estabelece
diretrizes, critérios e procedimentos para gestão de resíduos na construção civil, além de
disciplinar as ações necessárias para minimizar o impacto ambiental.
Como já citado anteriormente na seção 2.2.2 do presente trabalho, a natureza e
classificação dos resíduos de acordo com esta norma, segue abaixo uma exposição sobre a
destinação de cada resíduo:
a) Resíduos Classe A (Reutilizáveis ou recicláveis como agregados): Deverão ser reutilizados ou
reciclados na forma de agregados, ou encaminhados a áreas de aterro de resíduos da
construção civil, sendo dispostos de modo a permitir a sua utilização ou reciclagem
futura.
b) Resíduos Classe B (Recicláveis para outras destinações): Deverão ser reutilizados,
reciclados ou encaminhados a áreas de armazenamento temporário, sendo dispostos de
modo a permitir a sua utilização ou reciclagem futura.
26

c) Resíduos Classe C (Sem tecnologia economicamente viável para reciclagem): Deverão


ser armazenados, transportados e destinados em conformidade com as normas técnicas
específicas.
d) Resíduos Classe D (Perigosos oriundos do processo de construção): Deverão ser
armazenados, transportados, reutilizados e destinados em conformidade com as
normas técnicas específicas.

Uma exigência da Resolução 307 é a implantação e elaboração do Projeto de


Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (PGRCC) pelos geradores. Cada novo
empreendimento criado por grandes geradores deve conter esse projeto e ser analisado pelo
órgão municipal competente. O projeto contempla as seguintes etapas:
a) Caracterização: nesta etapa o gerador deverá identificar e quantificar os resíduos;
b) Triagem: deverá ser realizada, preferencialmente, pelo gerador na origem, ou ser
realizada nas áreas de destinação licenciadas para essa finalidade, respeitadas as
classes de resíduos;
c) Acondicionamento: o gerador deverá garantir o confinamento dos resíduos após a
geração até a etapa de transporte, assegurando em todos os casos, em que seja
possível, as condições de reutilização e de reciclagem;
d) Transporte: deverá ser realizado em conformidade com as etapas anteriores e de
acordo com as normas técnicas vigentes para o transporte de resíduos;
e) Destinação: deverá ser prevista de acordo com a classificação de cada resíduo.

2.4.2.2 Escolha dos processos construtivos

Segundo Nagalli (2014), nesta fase o projetista pode ajudar na escolha de processos
construtivos que acarretam em menor uso de recursos naturais (areia, água, petróleo etc.) ou
menor geração de impactos ambientais (menos emissão de carbono, uso de fontes de energia
mais limpa etc.). Assim, há uma consequente geração de resíduos mais recicláveis (maior
eficiência na reciclagem, aproveitamento do resíduo, menos chances de contaminação, menor
quantidade de energia etc.) e menor desperdício em função das melhores escolhas dos
processos construtivos ou até mesmo industrialização dos mesmos. De acordo com o
projetista, uma solução técnica pode ser melhor em um aspecto e pior em outro devido à
facilidade da execução e o custo da mesma.
27

2.4.2.3 Adoção de métodos de construção desmontáveis

Como diz Nagalli (2014), antigamente, projetistas nem pensavam em vínculos de


longo prazo com as construções. Hoje, há uma preocupação com a construção após a sua vida
útil ou até mesmo diante de uma catástrofe natural ou implosão em função de demolição. A
escolha de materiais e a composição da construção como um todo na sua manutenção e
desconstrução são essenciais para ter uma perspectiva de reciclagem e manejo dos recursos
naturais utilizados.

2.4.2.4 Utilização de materiais recicláveis

Para Nagalli (2014), quanto mais reciclável for um material, melhor. Dessa forma,
deve-se levar em conta os gastos energéticos, a possível perda de qualidade do novo produto e
os custos associados ao beneficiamento ou reuso desse produto. Projetistas, consumidores e a
sociedade devem definir qual é o melhor material ou prática diante de uma ótica sustentável.

2.4.2.5 Uso de pré-fabricados

Pela ótica de Nagalli (2014), elementos para uso na obra que são pré-fabricados
ajudam a minimizar a diversidade e a quantidade de resíduos a ser gerenciada no canteiro de
obras. Com uso de materiais padronizados, há uniformização de resíduos e consequente
redução de diversidade de resíduos. Assim, pode ser facilitado o controle e economia,
facilitando ,também, o gerenciamento e potencializando a entrada de resíduos em mercados
de reciclagem.

2.4.2.6 Parcerias com cooperativas de reciclagem

As cooperativas de reciclagem, de acordo com Nagalli (2014), são formadas por ex-
catadores (trabalho informal mais conhecido por “carrinheiros” ou “carroceiros”). É uma
opção muito boa para reciclagem de materiais, são esses profissionais que podem firmar
parcerias com obras e, indo de “porta a porta”, pode, financiado por iniciativa particular ou
municipal, estocar os materiais conseguidos em barracões para triagem e seleção de materiais
28

para reciclagem. No município de Curitiba, que será abordado posteriormente neste presente
trabalho, foram fornecidos carrinhos elétricos e ergonômicos para circulação destes
profissionais em via públicas. Assim, não há somente um aumento dos volumes de resíduos
reciclados como também um fomento a benefícios sociais.

2.4.2.7 Recolhimento de embalagens pelos fabricantes

Firmar um acordo com fabricantes sobre o recolhimento de embalagens é algo que


ajuda na manutenção da reciclagem dos mesmos uma vez que, é grande a quantidade de sacos
plásticos ou de materiais mais pesados como é o cimento (embalagens de papel). Argamassas,
tintas também são elementos muito utilizados e suas embalagens poderiam ser recolhidas para
reutilização dos fabricantes ou destinação apropriada.

2.4.2.8 Layout do canteiro de obras otimizado e prevendo o gerenciamento dos resíduos

Como escreve Nagalli (2014), o canteiro é concebido ainda no anteprojeto,


observando o cotidiano e posicionamento de barracões para um bom fluxo de materiais e
pessoas, assim como a disposição de resíduos. Escritório, almoxarifado, áreas de corte, dobra
e montagem, carpintaria, central de gerenciamento de resíduos, todos devem ser bem alocados
para o bom funcionamento da obra, ajudando também na manutenção de materiais
indesejáveis que podem ser reciclados. Deve-se ter preocupações com rede de esgoto, rede
elétrica e de água, passagem de veículos e pedestres. “Um bom layout de canteiro não
somente melhora o desempenho dos serviços, como reduz os custos associados e minimiza
acidentes de trabalho e ambientais.” Nagalli (2014, p. 45).

Figura 2- O novo canteiro de obras: as principais inovações brasileiras


29

Fonte: Medice, 2013.

2.4.2.9 Capacitação e treinamento de funcionários

Prelecionando Nagalli (2014), capacitar é tornar o funcionário apto a desempenhar


uma atividade e entender as tarefas, treinar é preparar o colaborador via exercícios de
simulação sendo eles práticos ou teóricos. Na fase de projeto, deve ser feita capacitação ou
treinamento de equipes visando reutilização de materiais ou manejo correto dos resíduos que
sobram para separação. Fiscalização diária se faz necessária para confirmar se as técnicas
30

aprendidas e treinadas estão sendo executadas. Um dos treinamentos mais importantes é o


transporte de materiais perigosos que requerem cuidados especiais, equipamento e veículos
adequados. Por exemplo, materiais granulares como brita devem ser transportados por
caçambas estacionárias ou caminhões basculantes e precisam estar cobertos por lonas. Tudo
isso requer experiência e treinamento anterior. Até mesmo a imprudência de vender cargas de
terras que sobram em obras pode ocorrer diante de um funcionário com má condução de suas
responsabilidades. Punição e responder adequadamente se fazem necessárias para a boa
manutenção dos resíduos, pois, é de responsabilidade do gerador o que acontece com os
mesmos.

2.4.2.10 A metodologia “5R”

Esses 5 R desta metodologia significam, basicamente, reduzir, reutilizar, reciclar,


reeducar e replanejar. Reduzir é a melhor forma de evitar danos ambientais. Reutilizar,
desenvolver cultura de reutilização, quer seja em obras ou no dia a dia. Reciclar é transformar
aquilo que supostamente não tem mais uso, em algo útil; na construção pode ser chamada de
beneficiamento. Reeducar é manter-se informado sobre as questões ambientais mais atuais e
ensinar gerações futuras a preservar os recursos naturais. Replanejar é rever nossos hábitos e
gastos; dentro da obra é algo imprescindível falar de custos.
De acordo com Nagalli (2014), é uma política amplamente divulgada e conceituada no
Japão, onde foi empregado um senso de limpeza, utilidade, organização, saúde e
autodisciplina. De forma geral, o recomendado é:
a) Otimizar processos construtivos e aproveitar os insumos da melhor maneira para evitar
a geração de resíduos;
b) Sempre manter as áreas de serviços limpas com varrição, lavagem adequada e
retirando o lixo e material que não servem mais no momento de limpeza;
c) Treinar e capacitar funcionários;
d) Segregar adequadamente os resíduos – fiscalizando e controlando;
e) Sinalizar adequadamente locais de separação, triagem e armazenamento;
f) Remover detritos provenientes dos trabalhadores e da obra em si, assim como
proporcionar instalações sanitárias adequadas;
g) Desenvolver material de apoio para ser repassado a todos os funcionários envolvidos e
até mesmo colar placas, cartazes ao longo da obra, promovendo conscientização
ambiental;
31

h) Orientar ao não uso de bebidas alcoólicas durante, ou antes, do expediente de trabalho


para evitar acidentes e não comprometer a produtividade;
i) Remover, o mais rápido possível, resíduos que caem nas vias públicas;
j) Organizar entrada e saída de caminhões que carregam materiais ou detritos;
k) Preencher fixas de Controle de Resíduos, quando aplicável;
l) Guardar e arquivar registros de treinamentos em gerenciamento de RCDs;
m) Revisar o PGRCC (Projeto de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil),
sempre que necessário;
n) Elaborar RGRCCs (Relatório de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil).
Que é “um relatório periódico ou conclusivo que visa consolidar as informações do
gerenciamento e, eventualmente, subsidiar a atuação dos agentes fiscalizadores.”
Nagalli (2014, p. 40).

2.5 Conceito de perdas

Nas construções civis, quer seja em pavimentação, edifícios, túneis, obras de drenagem e
esgoto, há perda de materiais. É algo comum no setor e no dia a dia, porém, é algo que precisa
ser evitado e combatido.
Como cita Pinto (1999), antigamente, não era possível quantificar e qualificar as perdas na
construção civil. Só se deu conta do tamanho da perda de materiais com o acúmulo das
“montanhas” de entulho nas ruas e calçadas. Com as informações disponíveis hoje, é possível
estudar alternativas para a geração de resíduos, controle da produção e quantificação, bem
como, os usos para serem reutilizados ou reciclados.
Dessa forma “[...] as perdas geradas ao longo do processo de produção se tornam o centro
das atenções, pois cada vez mais as empresas são obrigadas a produzir apenas o necessário
com a mínima força de trabalho, ou seja, eliminando desperdícios.” (COMPETIR, et al.,
2012, p. 14).
Conceituando as perdas temos que:
Perda é qualquer ineficiência que se reflita no uso de equipamentos, materiais, mão
de obra e capital em quantidades superiores àquelas necessárias a produção da
edificação. Sendo assim, as perdas englobam tanto a ocorrência de desperdícios de
materiais quanto à execução de tarefas desnecessárias que geram custos adicionais e
não agregam valor. (FORMOSO, et al., 1996 apud COMPETIR, et al., p. 14).

Os materiais que normalmente são desperdiçados em maior quantidade nos canteiros de


obra são o cimento, a areia e a argamassa. E a ocorrência de perdas acontece com mais
intensidade no estoque e no transporte dos materiais do que durante o processamento em si
(FORMOSO et al, 1996).
32

2.5.1 Tipos de perdas

Há vários tipos de perdas: por superprodução, manutenção de estoques, movimento,


espera, fabricação de produtos defeituosos, processamento em si e outros tipos de perdas.
Perdas por superprodução são aquelas que utilizam materiais perecíveis em sua
produção ou processamento, em quantidades levemente exorbitantes às realmente necessárias,
o que possibilita a perda de materiais, equipamentos e até mesmo hora trabalhada pela mão de
obra. Dois exemplos comuns são a produção exacerbada de volume de concreto para
confecção de uma laje ou produção de argamassa em quantidade superior para um dia de
trabalho.
Perdas por estoques são aquelas produzidas por mau planejamento, processo de
estocagem inadequada ou falha de programação na entrega do material. Exemplos comuns são
estocagens muito antes do início de um serviço e também a estocagem incorreta de cimento
em local úmido.
As perdas por movimento “estão relacionadas a todos os esforços e movimentos
realizados pelos trabalhadores desnecessariamente durante a execução de operações,
interferindo negativamente na produtividade.” (COMPETIR, et al., 2012, p. 18). Blocos de
cimento carregados em carrinhos inadequados, sacos de cimentos rasgados por serem
carregados nos ombros dos trabalhadores e maior esforço de um trabalhador devido a
condições desfavoráveis são exemplos do cotidiano em obras.
Perdas por espera são aquelas em que, por algum motivo, equipamentos ou
trabalhadores ficam ociosos gerando custos adicionais e imprevisíveis. Betoneira parada por
falta de cimento é um exemplo comum.
Por fabricação de produtos defeituosos, segundo COMPETIR, et al. (2012), quando
são usados materiais que não estão previstos em projeto ou até mesmo devido a compra com
fornecedores que entregam qualidade duvidosa. Um exemplo comum é a desconstrução de um
serviço em função do uso de um material incorreto como piso de cerâmica em vez de
porcelanato.
Perdas por processamento em si são perdas por realização de atividades de forma
incorreta ou inadequada. Falta de detalhamento no projeto ocasiona esse tipo de erro ou até
mesmo a falta de treinamento aos funcionários designados a um serviço específico. Recortes
errados em porcelanatos ou azulejos, que são caros, é um exemplo.

2.5.2 Medidas para evitar a perda de matérias na obra


33

Determinar áreas de argamassa a serem aplicadas, calcular e quantificar exatamente


quanto que vai ser usada para um dia de trabalho; armazenar sacos de cimento de forma
adequada e como previsto e norma, verificando a quantidade de acordo com o tempo de uso,
evitando locais úmidos e com uso de um tablado de madeira a 30cm do chão e também a
30cm da parede para evitar o contato com o chão; transportar sacos de cimentos em carrinhos
adequados, bem como, blocos estruturais; projetar e controlar de forma correta as áreas a
serem aplicadas materiais como pisos e texturas de pinturas adequados ao projeto.
Essas são algumas medidas de muitas outras que existem para evitar perdas nas obras.
Como foi citado anteriormente, o layout do canteiro de obras, quando bem feito, inibirá a
perda de materiais, bem como, manter o canteiro limpo e organizado, reduzindo a incidência
de acidentes e estimulando o trabalhador a ser mais cauteloso no manejo dos equipamentos e
materiais.

2.6 Impactos ambientais associados aos RCDs

De acordo com Nagalli (2014), uso ou disposição final inadequado podem contaminar
mananciais, águas subterrâneas (lençol freático) ou superficiais (rios e mares), afetando a vida
humana. Isso ocorre diante da má gestão do uso e disposição final inadequada.
Por definição, A Resolução Conama nº 001 (CONAMA, 1986, p. 636), cita impacto
ambiental como:
Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio
ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das
atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: a saúde, a segurança e o
bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições
estéticas e sanitárias do meio ambiente; a qualidade dos recursos ambientais.

Nagalli (2014, p. 58) afirma que “Assim, os resíduos da construção civil seriam
potenciais agentes de degradação da qualidade ambiental na medida em que interagem com
diversos aspectos ambientais [...].”
Claramente, a falta de reciclagem e cuidados adequados aos RCDs podem gerar
grandes estragos não só para o ambiente, mas, como também, para a sociedade. Medidas que
seguem uma linha de sustentabilidade se fazem necessárias uma vez que os recursos que
temos são limitados e devem ser usados de forma prudente. Igualmente, deve ser preservado o
nosso cenário natural e o urbano para o bom convívio do homem na sociedade.
Segundo a Secretaria Nacional de Saneamento do Ministério das Cidades:
34

Os resíduos da construção civil e demolições representam 61% dos resíduos sólidos


gerados nas cidades brasileiras, segundo dados da Secretaria Nacional de
Saneamento do Ministério das Cidades. De acordo com a pesquisa, este percentual
corresponde a 90 milhões de toneladas de lixo/ano, que geram, inevitavelmente,
sérios impactos ambientais. Somente na Cidade de São Paulo, são geradas cerca de
20 mil toneladas por dia de resíduos da construção civil e demolição (RCD). Os
principais efeitos provocados no meio ambiente pelas demolições são os resíduos
gerados, principalmente fragmentos de grande porte, que representam o maior
problema devido exclusivamente à falta de locais apropriados para o seu descarte,
sem a geração de passivos ambientais. (DESMONTEC ..., 2014)

É fato que houve uma consciência ambiental adquirida ao longo dos anos pela
sociedade, bem como o crescimento da construção civil no Brasil. Isso faz com que se possa
pensar na construção civil como um agente que também contribui para a sustentabilidade.
Como preleciona Nagalli (2014), há alguns impactos que podem ser citados: impactos
na obra (diretos e indiretos) e impactos no entorno (diretos e indiretos).
Os impactos na obra podem ser:
a) Desperdício: como diz Nagalli (2014, p. 60) “geralmente associado ao mau
aproveitamento de materiais, ausência de planejamento ou aceleração de cronograma
além do desejável”;
b) Consumo de novos recursos naturais: compra e uso de novos materiais em vez do uso
de materiais reaproveitados ou reciclados;
c) Acidentes de trabalho: falta de organização no canteiro de obras e o não uso de EPIs;
d) Falta de espaço, fluxo de pessoas e materiais: também por falta de aproveitamento de
espaço e organização no canteiro de obras;
e) Obstrução de drenagens: obstruções de sistemas de drenagem podem ocorrer em
função da ausência de mecanismos de controle de carregamento sólidos, podendo
causar consequências operacionais;
f) Contaminação de solo e águas subterrâneas: falta de estudo aprofundado sobre a área e
prática incorreta de resíduos perigosos, geralmente os líquidos;
g) Supressão vegetal: destruição de áreas verdes, principalmente em obras de aterro e
corte na área da pavimentação, afetando, diante da falta de um estudo, fauna e flora de
uma região e bem como a impermeabilização do solo;
Os impactos no entorno, que são aqueles com consequências fora da obra, são estes:
a) Vibrações e ruídos: sons oriundos de demolições, motores a combustão, queda de
materiais durante atividades desconstrutivas, é algo que afeta na qualidade de vida das
pessoas no entorno da obra;
35

b) Assoreamento de cursos de água: transporte de sólidos aos sistemas de drenagem


assoream o curso de água, bem como, resíduos de obras que podem fechar bocas de
lobo, causando um transtorno geral para a população;
c) Não geração de renda e fomento ao mercado da reciclagem: há prejuízos diretos e
indiretos no mercado de reciclagem em função da abdicação dos construtores pelos
processos de segregação e controle de resíduos; consequente prejuízo na cadeia
recicladora e benefícios a sociedade;
d) Não educação ambiental dos trabalhadores e prejuízos associados: os construtores em
si tem a capacidade e devem disseminar a conscientização da população quanto à
reciclagem de material; levantar uma bandeira sustentável não é só bom para a
imagem da empresa como também traz benefícios sociais e até mesmo fiscais quando
o governo esta disposto a ajudar;
e) Saúde pública afetada: má gestão de RCDs, principalmente os contaminantes, induz a
doenças, afeta e onera os sistemas públicos de saúde e as pessoas em volta das obras.

2.7 Uso teórico dos RCDs

Segundo a Rocha e John (2003), os aspectos qualitativos (textura, forma,


granulometria, cor, capacidade de aglutinar) são os que mais baseiam para o aproveitamento
de resíduos. Porém, sem qualquer tipo de investigação sobre esses materiais, há um risco de
causar danos ao meio ambiente por não saber sobre seu comportamento em longo prazo. Os
resíduos originados da Construção Civil devem ser minimizados em sua geração e, quando
possível, ser utilizados no próprio processo ou unidade de serviço onde ele foi gerado. Deve
ser escolhido visando atingir o aproveitamento ambiental adequado, ser pouco oneroso e
respeitando as características socioeconômicas e culturais da região ou município.
Nesse sentindo, é importante destacar que:

De todos os segmentos da Construção Civil, apesar ainda dos baixos níveis de


desempenho, o que mais se desenvolveu e que teve mais abrangência quanto à
aplicação foi o de materiais e componentes da construção. A explicação para esse
fato é simples: a pressão exercida pelos órgãos de controle ambiental quanto ao
manuseio e destinação adequada dos resíduos gerados, os altos custos envolvendo a
destinação final em aterros controlados e a pressão da população quanto à operação
das atividades industriais em perímetros urbanos. Essa pressão, entretanto, é
diferenciada, já que a regulamentação, o controle e a fiscalização da população
industrial competem aos estados. (ROCHA; JOHN, 2003, p. 78).
2.7.1 Cinzas pesadas
36

De acordo com a Rocha e John (2003, p. 81), as cinzas pesadas são “materiais” que
apresentam heterogeneidade em função do processo de produção cuja composição dependerá
do grau de beneficiamento e moagem do carvão, do projeto e tipo de operação da caldeira
[...]”. Como diz a Rocha e John (2003), com cinzas pesadas podem ser feitos blocos ou escada
pré-moldados, concreto usinado e argamassas.
No caso dos blocos, não há necessidade de beneficiamento prévio, incorporação como
agregado em elementos pré-moldados, aplicação após 48h da moldagem e possibilidade de
incorporação de pigmentos. Também há inconvenientes como a necessidade de assegurar uso
de cimento sem adições ativas, controlar a umidade da cinza pesada no processo de produção
para compensar a água usada e uso de câmara para cura térmica em caso de lugares frios. Nas
questões sociais, há um potencial para geração na fabricação ou na aplicação dos blocos pré-
moldados, bem como a redução de perdas na construção, uma vez que, a diversidade de
elementos permite paginação. Os inconvenientes sociais são que esses processos necessitam
de mão de obra especializada e de formação prévia para assentadores de blocos.
Já com o concreto usinado a partir das cinzas pesadas, não necessita, também, de
beneficiamento, podendo ser usado em estado natural; não necessita de aditivos, reduz o peso
específico do concreto, melhora a coesão e plasticidade do mesmo. O problema é que
necessita de um controle de material de carbono nas cinzas. Nas questões sociais e
ambientais, é um meio efetivo para reduzir déficit habitacional através da redução nos custos
das habitações sociais nas áreas abrangentes aos processos de cinza pesadas. Porém, o
transporte do concreto usinado feito por cinzas pesadas precisa de licença ambiental.
Na produção de argamassa a partir de cinzas pesadas, elas podem ser embaladas e
rapidamente ficarem pronta para o consumo; há certa melhoria nos serviços de revestimento,
tem possibilidade de incorporação de pigmentos. Porém, há necessidade de formação prévia
para mão de obra no serviço de revestimento e também há necessidade de secagem das cinzas
no processo. Fora o fato de que o transporte, assim como o concreto usinado, precisa de
licença ambiental.

2.7.2 Areia reciclada

Material com diâmetro inferior a 4,8mm, livre de impurezas, advindo da reciclagem de


blocos de concreto e blocos de concreto. Seu uso recomendado é em argamassa de
assentamento de alvenaria de vedação, tijolos de vedação, solo-cimento e contrapiso.
(ABRECON , 2015).
37

2.7.3 Pedrisco reciclado

Material com diâmetro máximo de 6,3mm, também livre de impurezas e proveniente


de blocos de concreto e do concreto em si. Usado na fabricação de blocos de vedação em
concreto, pisos intertravados, e manilhas de esgoto. (ABRECON , 2015).

2.7.4 Brita reciclada

Tem como característica um diâmetro máximo de 39 mm, também proveniente de


blocos de concreto e livre de impurezas. Utilizado na fabricação de concretos não estruturais e
obras de drenagens. (ABRECON, 2015).

2.7.5 Bica corrida

Oriundo da reciclagem de resíduos da construção civil, livre de impurezas e com


dimensão máxima característica de 63 mm ou conforme o cliente desejar. Reutilizado em
obras de pavimentação, para base, sub-base, reforço e subleito. Também usado para aterros e
regularização de vias não pavimentadas. (ABRECON, 2015).

2.7.6 Rachão

Livre de impurezas, com diâmetro menor que 150 mm, advindo da reciclagem de
concreto. Usado em obras de pavimentação, terraplenagem e drenagem. (ABRECON, 2015).

3 REALIDADE DA RECICLAGEM NOS ESTADOS E CIDADES BRASILEIRAS


38

Desde a aprovação da Lei 12.305/2010, o cenário brasileiro sobre resíduos sólidos sofreu uma
mudança. A ótica sobre a reciclagem de resíduos não só da construção civil, mas, também industriais,
urbanos e rurais sofreram uma reformulação no sentido de que, nos dias de hoje, há maior fiscalização,
punição, regulamentação e ações obrigatórias para aqueles que produzem ou manuseio de resíduos.
Para que tivesse um planejamento consistente sobre reciclagem de resíduos, foi necessário um estudo
técnico, socioambiental e diferente em cada região do país. A lei citada acima rege o país inteiro,
porém, cada região do país tem suas peculiaridades quanto a, como e com que intensidade se recicla,
fiscaliza, produz os resíduos sólidos, especificamente os RCDs.(FERNANDEZ; MOURA; ROMA,
2011).
Neste tópico serão citadas as leis que regem alguns estados brasileiros, bem como
algumas ações das cidades pioneiras na reciclagem de RDCs.

3.1 Minas Gerais

Na cidade de Belo Horizonte, temos a Deliberação Normativa COPAM n. 155/2010 que


dispõe sobre atividade para manejo e destinação de resíduos da construção civil e volumosos, e dá
outras providências.
Belo Horizonte foi a primeira cidade brasileira em que se implantou um sistema de
gestão de resíduos com seu aproveitamento. Foi contratada uma empresa
especializada em gestão de resíduos pela prefeitura da cidade em 1995 e, desde
então, instalou quatro unidades descentralizadas de reciclagem de entulho. Os
carroceiros são peça principal no esquema, pois participam da coleta e ganham com
isso. Eles trabalham junto aos centros de recepção, reduzindo a deposição de entulho
em lixões e aterros. O material reciclado chega a um volume de 200 toneladas
diárias e é aproveitado na pavimentação de ruas, na confecção de blocos de
alvenaria e briquetes usados em jardins públicos. (ALVES; QUELHAS, 2004, p. 6)

Figura 3: Exemplo de carroceiro trabalhando no “Programa Carroceiro”


Fonte: (http://portalpbh.pbh.gov.br)

Foi necessário um certo pioneirismo para ser exemplo para as outras cidades. Foi o caso de
Belo Horizonte, que tomou iniciativa em prol do meio ambiente, da cidade, das pessoas e até mesmo
39

da economia. Afinal, era comum flagrar pessoas transportando e despejando lixo, móveis velhos,
entulho, podas de árvores em áreas públicas, córregos, terrenos baldios etc.
Dessa forma, podemos citar que:
Numa ação pioneira, a Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da SLU, implementou
este programa. Desde o inicio dos anos 90, o trabalho inclui alternativas para o
recolhimento e disposição adequadas do entulho com a opção de reaproveitamento.
(PROGRAMA...,2015)

E também:
A cidade de Belo Horizonte é uma referência em se tratando de reciclagem de RCD
no Brasil. Implantado desde 1993, o plano de gestão diferenciada, na época
denominado Programa de Correção Ambiental e Reciclagem dos Resíduos de
Construção, definiu ações específicas para captação, reciclagem, informação
ambiental e recuperação de áreas degradadas. (COMPETIR et al , 2012, p. 64).

Belo Horizonte criou um programa chamado “Programa de Reciclagem dos Resíduos


da Construção Civil” por meio da SLU (Superintendência de Limpeza Urbana, criada em
1973 para prestar serviços de coleta de lixo domiciliar, varrição, capina, coleta seletiva entre
outros), com objetivo de promover o manejo diferenciado de RCDs e corrigir problemas
ambientais causados pelo despejo imprudente de resíduos na malha urbana. Com o processo
de reciclagem, houve uma consequente valorização econômica desses resíduos.
Segundo a Prefeitura de Belo Horizonte (BH), no início, a rede de reciclagem era
formada por três unidades instaladas estrategicamente pela cidade: região Oeste, Noroeste e
Pampulha. A unidade Estoril foi criada em 1995 e a Pampulha em 1996. Em 2006, foi criada
uma nova unidade com uma planta moderna e que esta localizada dentro da Central de
Tratamento de Resíduos Sólidos (CTRS) da BR-040. Essas estações tem como finalidade
receber e reciclar os RCDs. Os resíduos advindos de grandes geradores, que utilizam
caminhões ou caçambas para transporte, são recebidos pelas Estações de Reciclagem de
Resíduos Sólidos de Construção Civil (ERRSCC) ou, de forma mais simples, Estações de
Reciclagem de Entulho (ERE). Já os resíduos provenientes de pequenos geradores são
recebidos nas Unidades de Recebimento de Pequenos Volumes (URPVs).
Nas URPVs, como consta no site da prefeitura de BH, os itens recebidos são: entulho
(tijolo, telha, concreto, azulejo etc), terra limpa, podas, pneu (dois por gerados), madeiras,
metais e objetos volumosos (móveis, por exemplo). Os itens que são não recebidos: restos de
alimentos, lixo doméstico, animais mortos, resíduos líquidos e pastoso (óleo, lama, ácidos,
graxas, etc), resíduos de estabelecimentos de saúde e farmácias, resíduos de pequenas
fábricas, carcaças e partes de veículos e eletrodomésticos.
40

Figura 4 - URPVs no município de Belo Horizonte


Fonte : http://portalpbh.pbh.gov.br

A Central de Tratamento de Resíduos Sólidos (CTRS) abriga várias estações de


compostagem e triagem: a Central de Tratamento de Resíduos Sólidos (CTRS) abriga a
Estação de Aproveitamento do Biogás, a Estação de Reciclagem de Entulho, a Estação de
Transbordo, a Unidade de Recebimento de Pneus (URP), a Unidade de Educação Ambiental
(UEA) e a Compostagem. A mais importantes no que concerne RCDs é a Estação de
Reciclagem de Entulho (ERE).
A ERE, tem como objetivo transformar os resíduos da construção civil em agregados
reciclados, podendo ser utilizados de diversas formas como substituir brita, areia e elementos
não estruturais.
Essas unidades recebem os resíduos transportados por caminhões e empresas de
caçambas desde que apresentem, no máximo, 10% de outros materiais (papel,
plástico, metal etc.) e ausência de terra, matéria orgânica, gesso e amianto.
(PROGRAMA..., 2011).

Figura 5- Estação de Recebimento de Entulho (ERE) em BH


Fonte: http://portalpbh.pbh.gov.br

Segundo o site da prefeitura de BH, são informados alguns dados sobre a reciclagem
de RCDs. Cerca de 50 mil toneladas de entulho, por ano, são destinadas para reciclagem, 5%
41

do total de resíduos. O entulho corresponde a 80% da coleta de materiais recicláveis e em


2014 foram produzidas 125t por dia de material britado nas usinas de reciclagem da
Prefeitura. Fonte: Seção de Estatística da SLU (Dados de 2015).
Ressaltando a boa estrutura apresentada por Belo Horizonte:
Hoje existem em Belo Horizonte 28 Unidades de Recebimento de Pequenos
Volumes (URPV) e 3 unidades de reciclagem dos Resíduos Classe A. Uma delas,
inaugurada em 2006, permite separar os agregados reciclados de acordo com a
granulometria, ampliando as possibilidades de uso deste agregado. O RCD captado
nas Unidades de Recebimento é encaminhado para as estações de reciclagem, onde
são selecionados, descontaminados, triturados e expedidos. O agregado reciclado é
utilizado principalmente como base e sub-base de pavimentação. (COMPETIR et al,
2012, p. 64).

Uma grande contribuição, ainda segundo o site da prefeitura de BH, foi que essa
experiência pioneira na cidade foi utilizada como referência na confecção da Resolução
CONAMA nº 307, de 05 de julho de 2002. Além de suprir as matérias-primas convencionais,
o programa de reciclagem de entulho da SLU corrige os problemas ambientais gerados pela
deposição clandestina, melhora a qualidade do meio ambiente, amplia a vida útil do aterro
sanitário e preserva as jazidas minerais.

3.2 São Paulo

No estado de São Paulo temos a Resolução SMA 056/2010 que revoga a Resolução
SMA 41/2002 e altera procedimentos para o licenciamento das atividades que especifica e dá
outras providências.
Segundo dados do Sindicado da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo
(SINDUSCON-SP), a maior parcela de resíduos sólidos urbanos são gerados nas cidades
paulistas. No ano de 2003, a cidade de São Paulo teve como média diária 17.240t de resíduos
sólidos urbanos, 55% dessa quantidade é fruto da construção civil. Em Campinas, produz-se
por dia 1.800, 64% desse total vem da construção civil. Piracicaba e São José dos Campos,
620t e 733t respectivamente por dia, com 67% da construção civil. Ribeirão Preto produz por
dia 1.043, sendo 70% são RCDs. (SINDUSCON-SP, 2005).
Ao perceber a problemática dos RCDs, Alves e Quelhas citam:

Convencer as prefeituras da importância da gestão de resíduos da construção civil


não é tarefa fácil. As prefeituras gastam uma significativa verba com a deposição de
entulho em aterros. Em São Paulo, por exemplo, o custo chega a R$ 4,5 milhões por
mês. (ALVES; QUELHAS, 2004, p. 6)

Segundo COMPETIR, et al. (2012), na cidade de Ribeirão Preto, em 1995, quatorze


pontos de atração de resíduos em pequenos volumes, a incorporação de duas centrais de
42

reciclagem ações para recuperação e informação ambiental foram medidas criadas com o
desenvolvimento do Programa para Correção Ambiental e Reciclagem dos Resíduos de
Construção. Já em 1996, 218.000 m² de pavimentação, que é equivalente a 31km de vias,
foram executados graças ativação da primeira central de reciclagem com 32 meses de
funcionamento. Esta central contribuiu para estudos desenvolvidos na UNICAMP e na Escola
de Engenharia de São Carlos. Isso ajudou a consolidar a tecnologia e disseminação das
potencialidades da reciclagem de RCDs.
Desde 2008, a prefeitura de Ribeirão Preto, tem um “contrato de emergência” com
uma empresa chamada Estre Ambiental, que fica 40km distante de Ribeirão Preto, para
manutenção, recebimento e coleta de resíduos sólidos e o transporte é feito pela empresa
privada chamada Leão & Leão LTDA. Isso expõe uma falha grave nas políticas públicas de
reciclagem de resíduos apesar de ter iniciado bem na década de 90. Assim, a cidade tem uma
geração estimada de 1.500t por dia em RCDs, em que 30% desse total tem destino duvidoso e
provavelmente são despejados de forma inadequada. (GRAVIMETRIA ..., 2014). No
município de Guarulhos, foi implantada uma Usina de Reciclagem de Resíduos da
Construção Civil e é parte da Política de Gestão de Resíduos do município, responsável por
100% de toda parcela entregue nos Pontos de Entrega Voluntária (PEVs). Foi implantada no
ano de 2003 numa área de 10.000 m², operando com licença da CETESB sob nº 150223/03,
processo nº 15/00543/03. A PROGUARU é a prestadora de serviços da Prefeitura de
Guarulhos, especializada em serviços de limpeza urbana, reciclagem, obras de edificações e
infraestrutura viária. A PROGUARU triplicou a capacidade da usina, que recebe RCDs dos
setores privado e público. Em: http://www.proguaru.com.br/site/recicladora. Acesso em 11
de julho de 2015.

Figura 6 - Usina de Reciclagem de Resíduos da Construção Civil localizada no


Município de Guarulhos – SP.
Fonte: (http://www.proguaru.com.br/site/node/213)

A usina localizada em Guarulhos, sob administração da PROGUARU, caracteriza os


RCDs basicamente por concreto ou misto. O concreto possui areia, brita e cimento
43

consolidados ,ou não, em diversas granulometrias. O RCD misto de concreto, cerâmicas e/ou
argilas. Os agregados reciclados pela usina segue a norma ABNT/NBR 9935/2011 –
Agregados – Terminologia. Essa norma define diâmetros para os materiais frutos da
reciclagem e os compara com os materiais já existentes a nível de conhecimento. (USINA...,
2015).

Figura 7 - Foto da Usina de Reciclagem de Resíduos da Construção Civil localizada no


Município de Guarulhos – SP – Resíduo na moega e agregado reciclado na esteira.
Fonte: (http://www.proguaru.com.br/site/galeria-recicladora-01)

Em Guarulhos, também tem a empresa Eco-X, que possui um processamento de


britagem dentro da própria obra ou demolição. Esse processo gera areia, brita e brita 4
reciclados, bem como, pedrisco reciclado e bica corrida. Servem para várias funções, entre
elas produzir argamassa, tijolos de vedação e solo cimento (usado para melhoramento da
resistência do solo). (COLETA..., 2014).
Em Suzano, na região do Alto Tietê, uma cooperativa recebe detritos de obras. O local
tem parceria com a Prefeitura, existente há quatro anos e emprega dezenove funcionários.
Construtoras locais enviam seus detritos para a cooperativa pois é cômodo para as empresas
“terceirizar” o serviço de manejo dos RCDs produzidos em obra. Em Mogi das Cruzes, na
mesma região, há eco pontos que recebem resíduos da construção civil e foi firmada uma
parceria entre a prefeitura da cidade e uma empreiteira local para receber e dar destinação
correta para os detritos gerados nas construções. Estima-se que, em 2013, os eco pontos
receberam 3.770t de RCDs. Em 2014, foram 4.790t, um aumento de 27%. (DETRITOS...,
2014).
44

Em São Paulo – SP, há um documento chamado Controle de Transporte de Resíduos


(CTR), que serve para o controle de transporte dos mesmos. São quatro vias: uma para a
Prefeitura, outra para o gerador, uma para o transportador e uma para a área de destinação.
(Nagalli, 2014).
Na cidade de São Paulo-SP, há uma empresa chamada Estação Resgate que, após
triagem e armazenamento correto dos resíduos dentro da obra, é feita a retirada dos resíduos a
partir de uma parceria firmada com caçambeiros. O serviço tem como nome Gestão
Operacional de Resíduo.

3.3 Rio Grande do Sul

No estado do Rio Grande do Sul (RS) temos a resolução CONSEMA nº 017/01 que dá
diretrizes para elaboração e apresentação de plano de gerenciamento integrado de resíduos
sólidos.
Na cidade de Canoas-RS, a empresa Sabella investe em reciclagem de gesso. Ela
recebe cerca de 1.000t de gesso por mês e o reutiliza, por exemplo, como fertilizante na
agricultura. Sua disposição inadequada pode torna-lo inflamável através da dissolução de
componentes. Além de contribuir para o meio ambiente, a reciclagem do gesso é menos
onerosa: custa sete vezes menos do que se gastaria com o descarte em aterros privados. Para
ser reciclado, o gesso deve ser armazenado separadamente, o que possibilita recicla-lo até
mesmo 100% do material. Pode ser aplicado no controle e correção de solos na agricultura,
aditivo para compostagem, absorvente de óleos, controle de odores e secagem de lodos em
estações de tratamento de esgoto. (RECICLAGEM..., 2014).
A cidade de Canoas possui 4 ecopontos em pleno funcionamento e planeja construir
mais 4. Essa realidade de um bom número de recebimento de resíduos pela cidade e o
planejamento da construção já ajuda muito na diminuição da disposição irregular e
possibilitando o município evoluir na questão de resíduos sólidos. Também possui uma
Central de Triagem e Seleção de Resíduos Sólido da Construção Civil e Demolição – CTRCD
Niterói.
Em Canoas, a destinação final dos resíduos pode ocorrer em diversos locais, são eles:
ecopontos, CTRCD Niterói, aterros de inertes particulares, áreas de transbordo e triagem,
empresas recicladoras ou áreas irregulares (apesar de não ser uma forma adequada, ocorre
comumente). Os resíduos são gerados por pequenos geradores (municípios) ou grandes
geradores (construtoras ou obras públicas).
45

Figura 8 - Matriz do fluxo de resíduos da construção e demolição de Canoas

Fonte: (http://www.canoas.rs.gov.br)

Na cidade de Porto Alegre, em 2013, foi criada a Central de Reciclagem de Resíduos


da Construção Civil de Porto Alegre. A empresa Pedraccon Mineração Ltda que recebeu a
Licença de Operação. Segundo a secretaria de Meio Ambiente, Porto Alegre gera,
anualmente, cerca de 75.000 toneladas de RCDs. A cidade já conta com um aterro licenciado
para receber os RCDs e três Unidades de Destino Certo, que são ecopontos para o correto
descarte de resíduos da construção civil. A prefeitura tem expectativa de trabalhar na
capacidade máxima de 150 caçambas por dia. O foco é no recebimento de concreto, alvenaria
e solos (saibro e argila) de médias e grandes construtoras.

3.4 Rio de Janeiro

No estado do Rio de Janeiro (RJ) temos a Lei 4.191/2003 que institui a Política
Estadual de Resíduos Sólidos.
A Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Pública), na cidade do Rio de Janeiro,
criada em 1996 pela Prefeitura do Rio de Janeiro, oferece serviços como retirada de entulho
de pequenas obras residenciais. Cada cidadão tem uma quantidade determinada que pode ser
solicitada para a companhia. O entulho de pequenas obras residenciais deve ser organizado
em sacos de 20L e são removidos no máximo 150 sacos por residência. Os pedidos são
46

atendidos pela companhia de 10 em 10 dias e chegam a 20 mil pedidos por mês. Depois de
coletado o entulho, o material é encaminhado para estações de transferência da Comlurb e
para o Aterro Sanitário de Gericinó, município do estado do Rio de Janeiro.

Figura 9 - Ecopontos para entrega de resíduos na cidade do Rio de Janeiro.


Fonte: COMLURB, 2010.

O estado do Rio de Janeiro possui uma associação chamada ASSAERJ (Associação


dos Aterros de Resíduos de Construção Civil) que foi criada para tratar assuntos técnicos,
administrativos e jurídicos prestando apoio aos associados. Essa associação é um intermédio
entre o poder público e o privado para tratar de assuntos como centro de triagem de resíduos,
reciclagem ou reaproveitamento e destinação final dos RCDs.

3.5 Paraná

No estado do Paraná temos a Lei 13.557/2005 que dispõe sobre a Política Estadual de
Resíduos Sólidos e adota outras providências.
Na cidade de Curitiba, uma das maiores cidades do Brasil, temos a Lei Nº 11.682/2006
que dispõe sobre as normas do Programa Municipal de Gerenciamento de Resíduos da
Construção Civil em Curitiba que classifica os materiais em grupos e dá as diretrizes para a
destinação deles. Em Curitiba, há um controle quanto ao transporte de resíduos que deve ser
previamente autorizado pelo órgão ambiental. Esse controle é dado por uma ficha chamada
MTR (Manifesto de transporte de resíduos), ver figura 10.
47

Figura 10 - Modelo de MTR da Prefeitura de Curitiba


Fonte: Nagalli (2014, p. 132)

3.6 Mato Grosso

Em Mato Grosso, temos a Lei 7.862/2002 que dispõe sobre a Política Estadual de
Resíduos Sólidos e dá outras providências.
No Município de Cuiabá, temos a Lei Nº 3241/1993 que dispões sobre a colocação de
caixas coletoras de lixos, entulhos e resíduos de construções e dá outras providências. Cuiabá
firmou uma parceria do Poder Executivo com a iniciativa privada. A empresa Eco Ambiental
recebeu uma concessão de 15 anos para executar o programa feito pela prefeitura em 2009,
seguindo a Resolução CONAMA 307/2002. O programa em Cuiabá institui ecopontos, o
Disque Cidade Limpa e associações. Os ecopontos servem para receber os resíduos e a meta
da prefeitura é de instalar 24 deles em toda a cidade. O Disque Cidade Limpa é uma linha
48

telefônica criada pelo Poder Executivo para denunciar ações ilegais de depósitos de resíduos.
As associações são incentivadas pela prefeitura para que a população se organize para gerar
renda, qualidade de vida e emprego advindo da coleta, triagem e transporte de RCDs.

3.7 Maranhão

Em São Luís, existe uma unidade de recebimento de pequenos volumes (URPV) e os


resíduos chegam em pequenas quantidades, menores que 2m³, que são separados de forma
adequada. Os resíduos classificados como entulho são levados para uma usina de reciclagem e
os orgânicos para o aterro da Ribeira. Na prática, todos os resíduos são levados para o aterro.
Afinal, essa usina que é citada no PGRCC da cidade que entrou em funcionamento há pouco
tempo e os geradores da cidade não tem conhecimento. Por enquanto, essa usina recebe
apenas resíduos de empresas próximas a sua localização. A intenção é receber resíduos de
todas as empresas da cidade e da Prefeitura Municipal de São Luís.
São Luís, de um ponto de vista econômico, é um mercado promissor na área de RCDs.
Na cidade existem poucas empresas de reciclagem, como a Acomar Recicladora, Reciclagem
São Luís, Ripel Reciclagem e Sucatas Brasil e São Lázaro. A maioria dela não faz o uso de
beneficiamento ou revende o material reciclado produzido para o setor público ou privado.
Também existe uma cooperativa no bairro do Anjo da Guarda chamada COOPRESL
(Cooperativa de Reciclagem de São Luis).
Uma pesquisa feita pelo Prof. Dr. Lucio Antonio Alves de Macedo, publicado durante
a 64º edição do SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), que aconteceu no
ano de 2012, em São Luís, a construção civil é responsável por 40% dos resíduos sólidos
urbanos na cidade e cada habitante produz cerca de 0,51 t/ano de RCDs. A cidade produz
cerca de 12.000 t/mês e tem o maior custo unitário de construção do país: R$ 850,00/m³.
(MACEDO , 2012).
Ainda sobre o estudo acima, o professor Lucio Macedo encontrou 300 pontos
inadequados de disposição de RCDs. Detectou-se, junto a Usina de Reciclagem, que o maior
volume de materiais provenientes dos canteiros de obras é de restos de argamassas e de tijolos
e blocos, 60% e 30%, respectivamente. O resto corresponde a cimento, areia, pedra e
materiais metálicos. O estudo informa ,ainda, que caçambas estacionárias, posicionadas de
forma estratégica nos bairros, e URPVs devem ser usadas no controle do despejo de RCDs.
(MACEDO , 2012).
Assim como as parcerias firmadas entre municípios e o poder público das cidades já
citadas, São Luís deve fazer o mesmo. Quer seja com parcerias, com cooperativas de
49

carroceiros ou com empresas que possuem instalações adequadas para o recebimento, triagem
e reciclagem dos RCDs. Outro fator importante é conscientizar a população para despejar os
RCDs de forma correta, bem como, separar em obras, todos os tipos de materiais recicláveis.
Isso tudo depende do incentivo do poder público para campanhas, fiscalização e normatização
dessas atitudes.

Figura 11 - Disposição incorreta de RCDs em São Luís, no bairro da Ponta D’areia


Fonte: Do autor

Figura 12 - Disposição incorreta de RCDs em São Luís, no bairro da Ponta D’areia


Fonte: Do autor
50

4 CONCLUSÃO

Observando o estudo feito pelo Prof. Dr. Lucio Macedo, percebe-se falhas técnicas na
coleta de RCDs e também uma falta de estruturação por parte do poder público. Neste tópico
serão apresentadas propostas de ações a serem realizadas visando não só a melhoria dos
serviços já existentes, como, também, o atendimento de premissas da Política Nacional de
Resíduos Sólidos e da Resolução CONAMA nº 307/2002.
Há uma proposta de serviço chamada “Cidade Limpa Online”. Consiste num software
para informatização de todos os dados relacionados ao fluxo de RCDs no município, desde
sua geração até sua disposição final, com participação de todos os agentes envolvidos no
fluxo. Ao informatizar, elimina-se os métodos tradicionais e permite facilidades quanto a
gestão e decisão por parte dos usuários do sistema. Um cadastro é feito online por todos os
envolvidos no fluxo dos RCDs e possui informações como atividades desenvolvidas,
topologia dos resíduos e a destinação dos mesmos. Dessa forma, há uma melhor fiscalização
por parte do poder público, conhecimento dos dados dos geradores, transportadores e
receptores; melhoria dos equipamentos públicos a partir de análises da demanda apresentada
pelos dados.
Deve ser feita uma reestruturação quanto ao recebimento do RCDs no Aterro da
Ribeira. Esse tipo de RCD deve ser recebido em usina de reciclagem ou por associações.
Neste caso, deve haver uma implantação de aterro de inertes, destinação adequada dos dejetos
da construção civil, valoração dos resíduos e mecanização e otimização da triagem para o
perfeito funcionamento da Usina que é citada no Plano Estadual de Resíduos Sólidos.
Devem ser instalados ecopontos na cidade, visando a facilitação do descarte dos
RCDs, uma vez que, eles disponibilizam locais adequados para a realização deste
procedimento pela população. Isso evita que os transportadores percorram grandes distâncias
para o local de disposição, facilitando o despejo correto. Claro, esses ecopontos devem ser
posicionados estrategicamente por toda a cidade, tendo conhecimento do mapa da cidade.
Fiscalização constante também é um ponto muito importante para acontecer melhorias
na disposição incorreta de RCDs. Deve haver treinamento de órgãos e representantes da
administração pública, com objetivo de orientar para fiscalizar e controlar os locais onde a
disposição inadequada é recorrente. Deve-se fiscalizar, também, as atividades produtoras de
RCDs e, também, a disciplina dos transportadores. Assim, devem ser feitas algumas práticas
para a perfeita fiscalização: notificação dos depositores, seguido de multa; controle das
empresas de transporte via GPS; instalação de câmeras de seguração nos focos
51

reconhecidamente mais críticos; capacitação de fiscais e planejamento das ações de


fiscalização.
O processo linear de descarte, citado por BAPTISTA Jr. (2011), é uma boa forma de
dar o tratamento conferido aos resíduos de grandes obras com canteiros instalados (Figura
13).

Figura 13 - Processo linear de descarte

Fonte: Baptista Jr., 2011.

Porém, uma implantação de uma rede de logística reversa para o processamento dos
resíduos da construção civil, atendendo também os pequenos geradores, deve ser criada para
que os resíduos gerados, segregados por classe, possam ser incorporados de volta à cadeira
produtiva. (Figura 14):
52

Figura 14 - Processo circular de reciclagem e disposição final de resíduos de construção e demolição

Fonte: Baptista Jr, 2011.

Essas ações citadas poderão nos colocar num patamar de cidade que recicla, cuida dos
seus recursos naturais, fiscaliza e pune aqueles que prejudicam não só o meio ambiente, mas
também a população. São Luís precisa de um centro de reciclagem como tem em Porto
Alegre, de uma parceria entre o poder público e empresário, com tem em Guarulhos e,
também, de um sistema eficiente de associações de reciclagem e de carroceiros credenciados,
como em Belo Horizonte.
Com a junção de várias atitudes tomadas por estados e cidades diferentes, teremos
uma São Luís mais limpa, que presa pelo direito de ir e vir do cidadão e que cuida do meio
ambiente.
53

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