Você está na página 1de 3

O homem que ri [Resenha]

Victor Hugo

Sinopse:
Victor Hugo, um dos grandes da literatura, escreveu nove romances durante sua vida,
sendo o primeiro aos 16 anos e o último, aos 72. Entre seus textos mais famosos estão
Notre-Dame de Paris e Os Miseráveis, com seus personagens paradigmáticos:
Quasímodo e Jean Valjean. Em O homem que ri temos outro personagem marcante de
Victor Hugo: Gwynplaine, o homem cujo rosto carrega ao mesmo tempo as dimensões
trágica e cômica da existência.
Gwynplaine é submetido, ainda criança, a uma cirurgia que desfigura seu rosto, deixando
nele uma cicatriz que denota um sorriso constante. Abandonado, ele encontra em seu
caminho Dea, uma menina cega que acabara de perder a mãe, vítima do rigoroso
inverno. As duas crianças cruzam o caminho de Ursus, um artista saltimbanco de coração
generoso que decide abrigá-los. Juntos se tornam uma família e passam a apresentar-se
em espetáculos populares para ganhar a vida, fato que acaba desencadeando uma série
de conflitos e dramas.
Como todo romance monumental de Victor Hugo, O homem que ri é composto de vários
romances que o leitor pode descobrir, combinar como quiser e ler como bem entender.
Resenha:
O Homem que Ri foi publicado originalmente em 1869, sendo o penúltimo trabalho do
autor. Victor Hugo nos leva para a Inglaterra aristocrata do século XVIII e a história gira
em torno de Gwynplaine que em sua infância foi sequestrado por um grupo de criminosos
especializado em sequestro de crianças e posteriormente vendido para uma trupe
conhecida como "Comprachicos".
"Um teimoso vento norte soprou ininterruptamente no continente europeu e, mais rudemente
ainda, na Inglaterra, durante todo o mês de dezembro de 1689 e todo o mês de janeiro de
1690." p. 58.
Foi na trupe que os infortúnios em sua vida continuaram, pois o garoto Gwynplaine teve a
sua face mutilada e tamanho foi o estrago que o garoto ficou desfigurado, de modo que
ao olharem para o seu rosto ele parecia estar sempre sorrindo. Em uma noite de forte
nevasca na cidade de Portland, Gwynplaine encontrou uma garotinha cega, quase
morrendo de frio junto à sua falecida mãe. Diante desse triste cenário, Gwynplaine
resolveu ajudar a garotinha, que se chamava Dea.
"O menino quedou imóvel no rochedo, com o olhar fixo. Não chamou. Não reclamou. Contudo,
aquilo era inesperado; não disse uma palavra [...]." p. 70.
Gwynplaine e Dea vão se abrigar do frio na carroça de Ursus, um conhecedor de poções,
ervas e ao mesmo tempo filósofo. Com o passar do tempo Gwynplaine e Dea crescem e
passam a trabalhar em diversas apresentações com Ursus, algo que os torna famosos.
Porém a fama de Gwynplaine fará com que ele descubra a sua origem e os seus
antepassados.
"Gwynplaine, por sua vez, estava ébrio de Dea. Há o olho invisível, o espírito, e o olho visível,
a pupila. Ela a via com o olho visível. Dea tinha o deslumbramento ideal, Gwynplaine tinha o
deslumbramento real. Gwynplaine não era feio, era apavorante; tinha diante de si um
contraste." p. 353.
Em Londres, durante uma apresentação em um teatro, algumas coincidências e
calamidades acontecem e Gwynplaine outrora sem uma linhagem conhecida, torna-se
filho de um rico senhor e com isso, ele acredita que agora poderá lutar pelos pobres e
oprimidos. Contudo essa sua conexão com o passado poderá colocar em risco a sua vida,
bem como o seu amor por Dea. Caberá a Gwynplaine escolher entre fazer o que é certo
ou ficar com o seu amor.
Opinião:
O Homem Que Ri é um romance repleto de críticas sociais, com foco nos privilégios e na
cegueira da nobreza da aristocracia inglesa para com a miséria dos pobres, aliada à uma
caprichosa injustiça da lei britânica do final do século 17. Outra crítica que o autor elenca,
é a estética, a beleza, tendo em vista que o protagonista é desfigurado e, por isso, é visto
como um monstro, ainda que tenha um bom coração. Por outro lado, aqueles que são
normais, bonitos e possuem o padrão de beleza desejável, são louvados, independente
de lhes faltarem escrúpulos.
Victor Hugo insere em sua trama, uma tristeza e horror sem proporções, onde a desgraça
por meio do cansaço, da fome, frio e humilhações se faz presente. O sarcasmo e a ironia
são características que faz parte do livro. O autor tece críticas em relação ao sistema
monárquico e também a igreja. Entre os personagens destaco Ursus que se mostra
brilhante e divertido, utiliza as crianças para ganhar dinheiro, mas também se esforça
para dar uma vida melhor para ambos (Gwynplaine e Dea).
O autor nos apresenta uma trama romântica na figura de Dea e Gwynplaine, algo que é
possível perceber com o passar do tempo, pois eles ficam cada vez mais próximos. Existe
também o amor de Ursus por Gwynplaine, mas um amor fraternal. Os temas que Victor
apresenta são ricos, a história fascina e a leitura foi prazerosa. Eu recomendo o livro para
você leitor que ama clássicos e quer conhecer um pouco mais do autor francês além do
seus clássicos "Os Miseráveis" e "O Corcunda de Notre Dame".
O projeto gráfico ficou bem feito, a edição é em capa dura, a capa remete ao filme
clássico de 1928. A revisão ficou boa, não encontrei erros que atrapalhassem a leitura. Os
capítulos são relativamente curtos, algo que facilita a leitura e o livro foi impresso em
papel Chambril Avena (as folhas são levemente amareladas). Gostei da edição e
agradeço à editora Amarilys por ter me enviado esse grande clássico.
Yvens Castro – 6/jun/2017 | Fonte: https://www.sagaliteraria.com.br/2017/06/resenha-267-o-homem-
que-ri-victor-hugo.html

Você também pode gostar