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Oito passos para ter ideias

criativas
Ser criativo não é uma questão de sorte, mas de método,
segundo o psicólogo Keith Sawyer, autor de um livro sobre o
tema. Seu método exige dedicação, mas não genialidade

POR ARIANE ABDALLAH

DISCIPLINA PARA TER IDEIAS FORA DA CAIXA (FOTO: SHUTTERSTOCK)


Nem todo mundo costuma ser acometido por ideias geniais no meio da
noite. Mas muitos precisam – ou querem – soluções criativas para
trabalhar. Se esse é seu caso, fique tranqüilo. Criatividade é questão de
treino, segundo o psicólogo, Ph.D e pesquisador Keith Sawyer, autor do
livro Zig Zag: The Surprising Path to Greater Creativity (Zig Zag: O
Surpreendente Caminho para uma Maior Criatividade).

Em seu livro, Sawyer aponta um caminho que só exige dedicação e


disciplina para ter boas sacadas. Com base em suas ideias – e em um
texto publicado na revista Inc. –, a seguir, um roteiro de oito passos
para aumentar a capacidade encontrar soluções inusitadas para os
problemas e até a criar produtos inéditos no mercado.

1. Faça a pergunta certa.

a) Antes que você pergunte “mas qual é a pergunta certa”, aqui vão
algumas técnicas para descobrir sozinho: sem pensar muito, faça uma
lista de dez questões diferentes que podem ser usadas para solucionar
uma mesma questão. Experimente diferentes pontos de vista.
Exemplo: se você quer uma ratoeira mais eficiente, em vez de se
perguntar apenas: “Como faço para criar uma ratoeira mais eficiente?”,
pode questionar: “Como tornar meu jardim mais atrativo para os ratos
do que minha casa?” ou “O que os ratos gostariam de comer?”, entre
outras.

b) Desvende os incômodos do cotidiano. Isto é, seja crítico em relação


aos produtos ou situações com os quais se depara no dia a dia. Faça
uma lista do que não o agrada e por quê. Quais seriam formas possíveis
de solucionar esses incômodos?

c) Faça algo novo e teste outras finalidades. Só depois de colocar em


prática uma ação é que você realmente saberá como ela pode ser usada.
Antes disso, são apenas suposições. Então, depois de ter uma ideia,
pense em formas alternativas de aplicá-la, além da primeira finalidade
que o levou a desenvolvê-la.

2. Torne-se um especialista.

Pesquisas mostram que para se tornar um expert em alguma coisa, é


preciso praticá-la por dez mil horas – só uma vez ou outra, não
funciona. Segundo Sawyer, apenas o conhecimento exaustivo de um
assunto pode gerar algo novo em torno dele. Para isso, alguns métodos
possíveis.

a) Assista a inspiradoras palestras do TED para se inspirar.

b) Conheça um assunto de várias formas diferentes. Por exemplo, se


quer aprender sobre uma profissão, pesquise sobre o país em que se
originou, leia a biografia de alguém da área com uma carreira
consagrada, veja filmes sobre o período histórico, descubra a média de
remuneração do setor em relação ao mercado e o que mais sua
criatividade permitir.
c) Adote um mentor. Alguém que sabe mais que você sobre o tema e
tenha a disponibilidade para lhe ensinar.

3. Fique sempre aberto e atento.

Prestar a atenção ao que acontece ao redor e fazer conexões com outros


temas e possibilidades é fundamental para treinar a criatividade. Não
se atenha apenas àquilo que apresenta uma finalidade clara naquele
momento, mas mantenha-se disponível para encontros, leituras e
experiências despretensiosamente. O conselho é dizer “sim” a quase
todos os convites – explícitos ou não.

Por exemplo, um amigo quer lhe apresentar outro amigo. Aceite.


Alguém que você conheceu lhe indicou uma leitura que nada têm a ver
com sua área de interesse ou atuação. Compre o livro e dê pelo menos
uma olhada. Ouviu alguém de que gosta falar sobre um filme que conta
uma história real sobre a qual você nunca ouviu falar, vá ao cinema
conferir.

Esse exercício o mantém fora do piloto automático, ajuda a manter o


olhar sem preconceitos.
Outra dica é não parar em definições estereotipadas sobre pessoas,
produtos ou histórias. Em vez de acreditar no que lhe disseram, busque
informações até formar sua própria impressão sobre o tema.

Mesmo que não use esses conhecimentos adquiridos imediatamente,


eles ficam guardados em seus arquivos mentais e, de repente, são
lembrados e o ajudam na criação de algo novo, no futuro.

O livro sugere alguns caminhos para ajudá-lo a se manter aberto e


alerta.

a) Crie sua própria sorte.


As pesquisas apresentadas no livro mostram que pessoas que se
descrevem como sortudas tendem a perceber mais o que acontece ao
seu redor do que as pessoas infelizes e pessimistas. Elas também
tendem a ser mais curiosas, enquanto as que não acreditam na própria
sorte são mais tensas e tão focadas em resultados imediatos que
perdem oportunidades que fogem do script.

b) Não desanime se as coisas derem errado.

Antes de uma grande invenção, em geral, há dezenas ou centenas de


tentativas frustradas. Não saiu como o esperado? Estude o caso,
aprenda com o que não funcionou e bola para frente.

c) Brinque com brinquedos.

Segundo o autor, esses objetos infantis são ótimos para estimular


conexões inusitadas. Ela afirma que as empresas que incentivam a
criatividade de seus funcionários costumam ter brinquedos espalhados
pelos ambientes.

4. Relaxe a mente e imagine...

Quando você se permite pensar em coisas que não existem, sua mente
pode vagar e seu subconsciente tem tempo para trabalhar. Por isso é
tão importante o tempo fora do trabalho para potencializar sua
criatividade.

a) Imagine o futuro.

Faça o exercício de imaginar como você estará daqui a cinco anos e o


que terá que fazer para estar isso. Em seguida, faça uma relação dos
obstáculos que poderá encontrar no caminho e crie soluções para eles.

b) Deixe algo inacabado ao fim do dia.


Sawyer afirma que não terminar uma tarefa pode ajudá-lo a recomeçar
no dia seguinte. Depois de um tempo distante do assunto, quando
olhar novamente para os mesmos tópicos, a tendência é que o novo
olhar ajude a gerar ideias criativas.

c) Comece alguma a praticar algo novo.

Arrisque-se a aprender alguma tarefa que não sabia fazer antes. Pode
ser um esporte, uma arte, um exercício lógico, o importante é se
aventurar em um ambiente novo.

5. Gere ideias.

Esta é a parte em que você começa a efetivamente a formular ideias.

a) Imagine diferentes aplicações para um objeto. Uma caneta pode ser


também um prendedor de cabelo (semelhante àqueles palitos que
seguram coques). Também pode fazer as vezes de régua, como suporte
ao desenho de uma linha reta. Uma garrafa de vidro pode não só
comportar líquidos, mas também assumir a função de vaso de flor.

Gaste alguns minutos nessa brincadeira de imaginar diferentes funções


para um produto. Não importa o quanto sua ideia pareça estúpida.

b) Faça associações livres entre palavras. Sem pensar muito, deixe uma
palavra puxar a outra, por diferentes conexões. Por exemplo, se pensar
em um alimento, em seguida pode pensar em outro. Depois, associar a
sonoridade da palavra a outra. Em seguida, lembrar o verso de uma
música com aquela última. E por aí vai. Sem censura.

c) Estabeleça um horário para exercitar a criatividade. Reserve alguns


minutos em sua agenda diária, de preferência sempre à mesma hora,
para escrever no papel as ideias que lhe forem à mente, sem se
preocupar com a natureza delas. Nesse momento, evite pensar em
pendências ou compromissos. Deixe a mente o mais desocupada e livre
que puder para as ideias brotarem.

6. Relacione ideias.

Junte palavras ou temas de origens diversas em histórias improvisadas.

a) Crie histórias. Um método é escolher três palavras aleatórias – ou


pedir que alguém as escolha para você – e criar uma narrativa curta,
que envolva as todas elas. Outra possibilidade é pegar um mesmo
número de página e procurá-la em três livros. Selecione uma frase de
cada um e forme um parágrafo que faça algum sentido.

b) Use analogias. Descreva objetos não pelas características evidentes


deles, mas pela aplicação que eles oferecem. Procure formas inusitadas
de explicar o que é um caderno, por exemplo. Em vez de dizer que é um
monte de folhas presa por uma espiral, você pode dizer que é um lugar
onde as pessoas fazem os registros que quiserem, como um livro
improvisado e único. Repita a operação várias vezes, sobre o mesmo
produto.

c) Aproxime-se de pessoas diferentes de você. Gente com profissões


que você não conhece bem, comas quais não se identifica. Ou
provenientes de outras cidades e países. Junte-se a quem tem uma
religião com a qual não concorda. Em todos os casos, procure entender
como aquela pessoa vê o mundo. Que elementos essa perspectiva pode
agregar aos seus pontos de vista?

7. Escolha as melhores ideias.

a) Pegue a lista de ideias que produziu até esta etapa e faça-as a


competir entre si. Uma é boa, mas a outra é melhor. Então, a boa é
eliminada.
b) Banque o advogado do diabo e pense em todas as críticas que essa
ideia pode sofrer. O que pode fazê-la dar errado? Antecipe os
problemas para já solucioná-los.

c) Faça isso o quanto puder. Não existe o momento em que a ideia


estará pronta. O que determina que o aperfeiçoamento da ideia seja
interrompido, em geral, é o prazo. Enquanto tiver tempo, trabalhe nela.
Sempre pode melhorar.

8. Faça algo concreto com sua ideia.

Pode ser um desenho , uma colagem ou um objeto tridimensional. Não


importa se você não tem sua veia artística desenvolvida. O que vale é o
exercício de transformar problemas e questões em imagens.

Mesmo que sua questão seja abstrata, como o relacionamento com


outra pessoa, traduza as sensações e os questionamentos em rabiscos,
formas ou mesmo uma charge. Esse exercício, literalmente, ajuda a dar
forma às ideias.

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