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Curso de Tecnologia Assistiva para

Educandos com Deficiência Visual

Módulo 4 (Semana 3)
Acessibilidade Cultural para Pessoas com
Deficiência Visual: Uma Visão
Simplificada com Tecnologia

Professores Responsáveis:

José Antonio dos Santos Borges


e
Angélica Fonseca da Silva Dias

Rio de Janeiro
Novembro de 2021
Presidente da República Jade Soares do Nascimento
Jair Messias Bolsonaro
Equipe NCE/UFRJ
Ministro da Educação
Coordenadores do Projeto
Milton Ribeiro
José Antonio Borges
Diretoria de Educação Especial
Angélica Fonseca da Silva Dias
Nídia Regina Limeira de Sá
Professores Pesquisadores
Secretaria de Mobilidades
Dolores Tome
Especializadas (SEMESP)
Juliana França
Ilda Ribeiro Peliz
Maria Teresa Gouvea
Coordenação Técnica
Universidade Federal do Rio de
Júlio Tadeu Carvalho da Silveira
Janeiro | UFRJ
Coordenação de EaD
Reitora
Silvia Martins Mendonça
Denise Pires de Carvalho
Equipe Técnica
Vice-Reitor
Alcilene de Lima
Carlos Frederico Leão Rocha
Alexandre Bento
Ricardo Caiado
CCMN - Centro de Ciências
Programação Visual e
Matemáticas e da Natureza
Diagramação
Decana
Rodrigo dos Santos Oliveira
Cássia Curan Turci
Consultoria em Acessibilidade
Vice-Decano
Isadora Machado
Cabral Lima
Tradução em Libras
Superintendente
Raphael Lopes da Costa
Mônica Pereira de Almeida Oliveira
Produção de Vídeo
Leonardo Teixeira Santos
Instituto Tércio Pacitti Revisão de Texto
de Aplicações e Pesquisas Ana Lucia Rodrigues
Computacionais (NCE/UFRJ)
Direção
Henrique Serdeira
Vice-Direção
Equipe de Tutores
Adriana Mota Albuquerque Marcos Fialho de Carvalho
Adriana Conde Rocha Maria de Fátima da Silva Antunes
Adriano Barros da Silva Mirian Machado Perrota
Claudia Marques de Oliveira Marins Monica Ferreira
Claudia Simone Gonçalves Nunes Monica Marques de Oliveira
Cleber José de Oliveira Ribeiro Monica Machado Ribeiro
Ciléia Fioroti do Amaral Nubia Cerqueira do Espirito Santo
Denise Cristina Alvares Oliveira Patricia Paes de Albuquerque
Djalma Mandu de Brito Patrícia Santos de Oliveira Coelho
Elaine de Oliveira França de Almeida Raphael Freire
Elizabeth Maria Freire de Jesus Raquel de Melo Porto
Fabiana Zacchi Regina Helena Faustino
Gleilcelene Neri de Brito Renato de Sá Leite
Ida Beatriz Costa Velho Mazzillo Roselinda Passos Franco Campelo
Juliana Coutinho Oliveira Solange Meruzzi da Silva
Luciana Brito Hamanaka Sulamita Nicolau de Miranda
Luiz Carlos de Padua Salles Tania Maria da Silva Freire
Maiara da Silva Conceição Tatiana de Sousa Ribeiro
Marcia de Oliveira Cardoso Thiago de Melo Ferreira
Marcia Cristina de Andrade Soeiro Valquiria Félix Gonçalves

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Sumário

1. Noções de Acessibilidade Cultural 7


1.1. Acessibilidade em Museus e Outros Ambientes 8
2. Acessibilização do Acesso à Informação 11
2.1. OCR 11
2.2. Alguns Produtos de OCR 14
2.3. Tradução Automática 15
2.4. Pesquisa no Google ou Yahoo 17
3. Entretenimento 19
3.1. Closed Caption Não Serve para Cegos 19
3.2. Audiodescrição 19
4. Este Tema é Muito Vasto 23

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Prefácio
Fui convidado há alguns meses para o lançamento do CD de um
saxofonista e flautista cego muito conhecido, Glauco Cerejo.

Glauco, um velho amigo, um dos primeiros usuários de Dosvox há


mais de 20 anos atrás, se tornara um adepto de tecnologia
eletrônica musical. Mesmo com sua sólida formação teórica
musical, obtida no Conservatório Brasileiro de Música no Rio de
Janeiro, optou pela carreira na música popular, em que seu talento
musical dependeria menos da necessidade de leitura de partituras,
que deveriam ser transcritas para braile ou estudadas com a ajuda
de terceiros.

Assim, desenvolveu um rico currículo, executando quase sempre


“por ouvido”, onde exibia parcerias de trabalho com artistas muito
importantes como Rosa Marya Colin, Ney Matogrosso e Pedro Luís
e A Parede, com os quais gravou o CD Vagabundo e dois DVDs,
registrando a turnê Vagabundo, que percorreu o Brasil e diversos
países da Europa.

Mas a novidade deste convite é que Glauco estava sozinho em um


pequeno palco num shopping da Barra da Tijuca e, à sua volta,
apenas equipamentos eletrônicos: um computador e diversos
aparelhos misteriosos (que depois soube se tratavam de
sintetizadores musicais, mixers, amplificadores, caixas de som e
muitos fios interligando toda a parafernália).

Glauco agradece a presença do público e toca por mais de uma hora


uma sequência de músicas espetaculares, que constituíam o corpo

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de seu CD, com mais alguns bônus, que foram pedidos pelos fãs ali
presentes, entre eles, eu.

Terminado o show, eu quis conhecer um pouco da sua orquestra


virtual e ele me explicou como havia se desenvolvido na tecnologia
MIDI, através da qual ele, com a ajuda de um computador, era
capaz de produzir arranjos para instrumentos musicais virtuais,
com uma qualidade muito semelhante à produzida com
instrumentos musicais reais.

Com essa orquestra virtual, ele agora podia apresentar-se com


custo infinitamente menor do que com um conjunto de músicos
reais e ter oportunidades de trabalho muito mais diversificadas.

Eu perguntei um pouco sobre como uma pessoa completamente


cega podia dominar tantos itens tecnológicos. Ele foi muito simples
em sua resposta: estudando muito e treinando muitas horas por
dia, como qualquer músico que deseje ser um dos melhores na sua
profissão. A cegueira, felizmente, já não era um entrave sério,
graças à tecnologia para acessibilidade que se tornara sua
companheira de trabalho constante.

Assista uma breve apresentação deste fabuloso músico


brasileiro acessando:

https://glaucocerejo.com/

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1. Noções de Acessibilidade Cultural
A Lei Brasileira de Inclusão de 2015 propõe uma nova definição para
o conceito: “Acessibilidade é o direito que garante à pessoa com
deficiência viver de forma independente e exercer seus direitos de
cidadania e de participação social” (LBI, 2015, artigo 53). A
acessibilidade, vista desta forma, extrapola a dimensão técnica e
passa a simbolizar um conjunto de direitos e de qualidade de vida
indispensáveis ao desenvolvimento da pessoa com deficiência.

Durante muitos séculos, as manifestações e ações culturais foram


destinadas quase exclusivamente para indivíduos adultos, com nível
intelectual alto, locomoção e percepção integral (sem limitações
visuais, auditivas, intelectuais e físicas). Mas, nas últimas décadas,
principalmente após a primeira metade do século XX, o surgimento
de um novo público de cultura, com perfis e faixas etárias
diferentes, deficiências e diferenças, trouxe novos desafios para
essa área. Leitura, por exemplo, passou a ser um direito
inalienável, portanto o acesso a ambientes que privilegiam a leitura,
também tem que ser objeto de interesse e importância. Novas
mídias apareceram e a eliminação das barreiras para acessá-las
tornou-se muito importante, parte de um pressuposto democrático.

No universo da cultura, criou-se o conceito de Acessibilidade


Cultural, que pressupõe que os espaços públicos e privados que
acolhem os diferentes tipos de produção cultural como exposições,
espetáculos, audiovisual, cursos, oficinas, eventos e todos os
demais tipos de ofertas, devem oferecer um conjunto de
adequações, medidas e atitudes que proporcionem bem-estar,

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acolhimento e acesso à fruição cultural para pessoas com
deficiência, beneficiando públicos diversos.

Este tema é imenso e riquíssimo em termos de conteúdo e não


temos aqui a pretensão de explorá-lo com profundidade, mas
pretendemos nos focar na problemática que envolve as pessoas
com deficiência visual e focar nas soluções tecnológicas que podem
ser invocadas para dar solução aos problemas envolvidos.

1.1. Acessibilidade em Museus e Outros


Ambientes
Até algum tempo atrás, era difícil pensar em como os deficientes
visuais poderiam visitar os museus, que são especialmente focados
na matéria visual. Com a acessibilidade em vista, foram então
criados recursos para que cegos pudessem entender as obras de
arte e “enxergá-las” através do toque.

A acessibilidade para museus é um tema para o qual ainda não


existe um modelo realmente efetivo que seja adotado amplamente
para deficientes visuais, mas para o qual diversos experimentos
vêm sendo realizados. São os seguintes os problemas associados:

a) Localizar-se e caminhar (navegar) no museu, sendo


orientado para onde seguir.
Neste caso, um sistema de beacons, como mostrado numa semana
anterior, é hoje uma solução padrão, visto que a navegação por
GPS não funciona em ambientes internos. Placas táteis com braile
ou com som podem funcionar, desde que haja uma indicação de
estar próximo a elas (por exemplo, através de piso tátil, que é uma
solução que vem sendo usada há muito tempo).

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b) Obter uma descrição sobre os objetos localizados num
certo local.
As soluções mais comuns aqui são:
 Uma placa em braile ou em relevo pode ser suficiente em
muitas situações;
 Sistema eletrônico (provavelmente implementado como um
aplicativo de celular ou rádio) que receba informações de sua
posição a partir de beacons ou outros tipos de localizadores e ative
uma gravação (este é o modelo usado há muitos anos nos parques
da Disney);
 Feedback sonoro, provavelmente ativado por um sensor de
proximidade, com a descrição por um alto-falante localizado
próximo ao objeto.

c) Poder tatear e sentir o objeto.

Alguns museus, recentemente, têm expandido o uso ou a criação


de um acervo em relevo que a pessoa com deficiência visual possa
tatear. Às vezes o objeto é grande, então o uso de maquetes táteis
em tamanho reduzido ajuda a compreender a estrutura do objeto.
O Museu do Prado, por exemplo, exibe réplicas de quadros,
maquetes e esculturas, que servem de apoio para o deficiente visual
entender do que se tratam as obras, tendo uma experiência mais
próxima do que está exposto. Assim se cria um diálogo entre objeto
e pessoa, trazendo uma maior compreensão do universo do artista
em questão.

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Figura 1: Réplica de um quadro com os contornos mostrados em relevo

Figura 2: Maquete tátil – Fundação Iberê - Foto: José Kalil

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2. Acessibilização do Acesso à Informação
Ao longo deste curso falamos sobre alguns sistemas de
acessibilidade que amplificaram de forma quase mágica, as
possibilidades de estudo e trabalho das pessoas cegas. Escrever e
ler, por exemplo, se tornaram muito fáceis, uma vez que a
informação estivesse digitalizada e presente no computador ou
celular da pessoa com deficiência visual, ou pudesse ser acessada
remotamente através da Internet.

Vamos agora falar de algumas tecnologias auxiliares muito


importantes que se somam ao uso de ferramentas como o Dosvox,
os leitores de tela e muitas outras alternativas computacionais de
acessibilidade.

2.1. OCR
Quando a informação a ser lida está digitalizada na forma de texto,
há muitas ferramentas para apresentá-la em forma acessível para
as pessoas com deficiência visual. Por exemplo, com Dosvox ou
com o uso de programas de editoração convencionais associados a
leitores de tela, há diversas opções de leitura, inclusive com alguma
especialização na leitura para dar conta das sutilezas técnicas dos
formatos de armazenamento como TXT, PDF, DOC, RTF, dentre
outros.

Mas, e quando a informação está em papel, e eventualmente, em


manuscrito, ou mesmo contida num arquivo gráfico ou parte de
uma imagem? Para isso é necessário um mecanismo de conversão,
que denominamos de Reconhecimento Ótico de Caracteres (ou
Optical Character Recognition – abreviado como OCR).

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As ferramentas de Reconhecimento Óptico de Caracteres (Optical
Character Recognition), popularmente conhecidas pela sigla OCR,
permitem converter tipos diferentes de documentos digitalizados
em dados pesquisáveis ou editáveis, ou seja, convertem imagens
de texto em texto real.

O processo de OCR começa tirando uma foto digital do material a


ler (por exemplo, usando um scanner de mesa, uma impressora
multifuncional, uma máquina fotográfica ou, mais
convenientemente, um scanner de mão). Cada foto de uma página,
tirada por estes equipamentos é armazenada na memória do
computador, geralmente nos formatos JPEG ou PDF.

Nota: os scanners de mão são especialmente úteis para digitalizar


livros, pois eles não danificam fisicamente a estrutura do livro, por
serem movimentados apenas sobre a área de leitura e não sobre a
costura do livro.

Em particular, quando não se tem um equipamento específico, é


possível tirar uma foto no celular da página a transcrever,
possivelmente auxiliada por programas específicos de eliminação
de distorções (com destaque ao utilitário CamScanner que, em sua
versão gratuita, é um dos mais usados nos dias de hoje).

Nota: há várias soluções completas de OCR para celular, que podem


ser facilmente encontradas nas lojas de aplicativos. Neste texto,
entretanto, nosso foco são as aplicações para computador
convencional.

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Figura 3: Scanner manual

Assista uma breve demonstração de um scanner de mão em


ação.

https://www.youtube.com/watch?v=Y_gfZct8JaE

Importante: este filme não deve ser considerado como uma


propaganda de um equipamento em particular, pois todos os
scanners manuais têm praticamente as mesmas funcionalidades.

O segundo passo é a realização do processo de OCR. Existem


diversos programas que promovem a transformação destas
imagens em texto plano, sendo que alguns deles são capazes de se
comunicar com um editor de textos específico (como o Microsoft
Word) e ali reproduzir com grande fidelidade os aspectos gráficos,
tais como a disposição do texto e as fontes e tamanhos utilizados.

Algumas impressoras ou scanners de mão também possuem,


embutidos nos programas de fotos, ou fornecidos na forma de

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softwares “bônus”, facilidades de OCR. A leitura do manual destes
equipamentos é necessária para aprender seu funcionamento.

Outra possibilidade é o OCR no Google Drive. Quando uma foto ou


documento PDF é colocado no Google Drive, deve-se clicar com o
botão direito do mouse sobre seu ícone criado ali. Será oferecida
uma opção para abrir o texto com o Google Documentos, e neste
caso o arquivo será automaticamente digitalizado com OCR, sem
intervenção humana.

Assista ao procedimento de OCR automático do Google Drive

Google Drive - Extrair Texto de Imagem e PDF

https://www.youtube.com/watch?v=Z0yzWW7uq-U

Por fim, é importante estar consciente de que essas ferramentas de


OCR nem sempre realizam o reconhecimento de forma correta.
Quando a foto ou o documento original não tiverem uma boa
resolução, forem apresentados com uma marca d’água ao fundo ou
apresentarem um tamanho de fonte muito pequeno ou um tipo de
fonte manuscrita, por exemplo, é provável que a ferramenta OCR
troque alguns caracteres.

2.2. Alguns Produtos de OCR


Falaremos agora de dois produtos que são especialmente
importantes e muito usados para gerar materiais para pessoas com
deficiência visual.

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a) Abbyy Fine Reader

Este é um programa comercial, porém, diversos scanners e


impressoras multifuncionais o trazem gratuitamente para usar com
suas máquinas.

Veja uma breve demonstração deste programa em ação:

https://www.youtube.com/watch?v=FF8G0arttJk

b) Tesseract

Este é um OCR gratuito que roda em praticamente todos os


sistemas operacionais. Ele foi tornado gratuito há muitos anos pela
empresa HP e continua a ser mantido pelo Google.

Ele é um programa de linha de comando (ou seja, não é um


programa gráfico nem com ícones). Apesar disso, é especialmente
fácil de ser usado pelos cegos, que conseguem operá-lo
diretamente a partir do Dosvox.

Maiores detalhes sobre o uso deste programa, de leitura opcional,


estão num texto separado deste curso.

2.3. Tradução Automática


Quando a informação está em uma língua que não seja o português,
é hoje possível usar um tradutor automatizado para convertê-lo.

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Dentre os tradutores mais usados hoje em dia está o Google
Tradutor, que pode ser usado interativamente a partir de

https://translate.google.com

Figura 4: Google Tradutor

Este site possui a habilidade de processar textos digitados


interativamente ou documentos pré-existentes. Tem também a
possibilidade de ler o texto na língua original ou em português.

Como este site é muito conhecido, não daremos mais


detalhes aqui.

Uso no Dosvox

O Google Tradutor tem um uso facilitado no sistema Dosvox,


usando a função U Y.

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Figura 5: Uso do Traduvox

São oferecidas apenas 6 línguas, mas o sistema é muito intuitivo e


prático de usar. As entradas para a tradução podem ser um texto
em formato TXT ou texto a ser digitado na hora. O resultado da
tradução pode ser jogado num arquivo ou lido online.

2.4. Pesquisa no Google ou Yahoo


A facilidade mais utilizada para fazer pesquisas na Internet são os
buscadores Google (www.google.com.br) ou Yahoo
(www.yahoo.com.br), cujo uso é trivial para quem tem visão
normal e relativamente simples para deficientes visuais em
conjunto com um leitor de telas.

Outra possibilidade, através do Dosvox, é usar a função U G, que


fornece um acesso simplificado ao Google (Googlevox)

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Figura 6: Googlevox

Figura 7: Resultado de pesquisa no Googlevox

A partir dos resultados mostradas na figura acima, o usuário


escolhe através das setas e então

 Aperta enter para leitura no webvox do site buscado;

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 Ou control-enter para iniciar um navegador convencional com
esta busca, apoiado por um leitor de telas.

3. Entretenimento
Para que uma pessoa com deficiência visual possa assistir a um
espetáculo, exibido ao vivo, numa mídia visual (cinema ou TV), sem
ajuda de terceiros, algumas adições ao ambiente serão necessárias.
A lista abaixo não é completa, mas contém alguns itens que têm
sido usados com frequência.

3.1 Closed Caption Não Serve para Cegos


Muitas pessoas fazem uma certa confusão, imaginando que Closed
Caption seja útil para pessoas com deficiência visual. Na verdade,
não: Closed Caption, também conhecido pela sigla CC, é um
sistema de transmissão de legenda via sinal de televisão que tem
como objetivo permitir que os deficientes auditivos possam
acompanhar os programas transmitidos. As pessoas com deficiência
visual não são beneficiadas por esta facilidade.

3.2 Audiodescrição
A audiodescrição é um recurso que traduz imagens em palavras,
permitindo que pessoas cegas ou com baixa visão consigam
compreender conteúdos audiovisuais ou imagens estáticas, como
filmes, fotografias, peças de teatro, dentre outros.

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a) Descrição de imagens e fotografias

É usada para indicar o conteúdo de fotos, gráficos, mapas, gifs,


figurinhas, ilustrações. A descrição pode ser implementada
como:

 Um texto visível anexado ou próximo à imagem;

 Um texto alternativo (ALT), muito usado em sites, aplicativos


e redes sociais, que, em geral, não aparece visualmente e é
lido por um leitor de telas.

Dicas para descrição:

 Use a fórmula simplificada:


formato + sujeito + paisagem/contexto + ação.
 Identifique os elementos relevantes na imagem;
 Mencione as cores;
 Use verbos no presente e evite gerúndio;
 Elimine pleonasmos;
 Não use adjetivos;
 Descreva apenas o que tiver certeza; coloque o nome da
pessoa ou substantivo primeiro, depois use pronome pessoal.

b) Descrição de mídias em movimento

Quando se trata de mídias não estáticas, a audiodescrição pode ser


feita em tempo real, quando um ser humano acompanha uma cena,
provavelmente situado numa cabine onde pode falar num microfone
e ter sua voz captada pelas pessoas com deficiência visual no

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ambiente, através de um pequeno rádio com fone de ouvido.
Quando o evento que está sendo assistido não é realizado ao vivo,
com temporização variável, a audiodescrição pode também ser
gravada. A disponibilidade do recurso pode ser feita mixada ao
áudio original em filmes, distribuída em fones receptores em
teatros, acessada através de texto pelos softwares leitores de tela
em livros digitais, disponibilizada em audioguias, dentre outros.

Tecnicamente falando, a audiodescrição faz uso de um áudio


diferente do som original. São feitas inserções de falas entre os
diálogos.

A audiodescrição tem que respeitar pausas, efeitos, ruídos e trilhas.


A inflexão e velocidade das narrações descritivas são elementos
importantes para que a audiodescrição acompanhe e transmita o
clima das cenas.

A narração deve ser neutra, sem monotonia, mas também não deve
ser interpretada a ponto de que o narrador seja confundido com
personagens da obra.

Esta descrição é feita sempre em regiões do vídeo em que não haja


falas de outras pessoas, para não causar confusão auditiva.
Audiodescrição é uma técnica complexa e exige também talento:
assista agora um desenho animado com audiodescrição.

VÍDEO PORCO ESPINHO COM AUDIODESCRIÇÃO

https://www.youtube.com/watch?v=yYZOJ-Rn9hU

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Embora este recurso seja direcionado ao público com deficiência
visual, pode também beneficiar outros públicos com outras
deficiências e idosos. Ele é normalmente utilizado em produtos e
serviços culturais, educacionais e de entretenimento, através da
disponibilidade das descrições de diversas maneiras, permitindo
acesso mais amplo de todos a esses produtos e serviços.

A audiodescrição ao vivo é uma técnica muito complexa que envolve


grande treinamento e equipamento específico. Normalmente, a
pessoa que fará a audiodescrição fica numa cabine com vidro, de
onde pode ver o local onde se desenrola a ação (por exemplo, um
palco de teatro). O audiodescritor utiliza os momentos do
espetáculo onde não existam pessoas falando, e descreve o que
está ocorrendo e os detalhes do ambiente. O tempo disponível para
isso é mínimo e a audiodescrição não pode interferir no espetáculo.

Assista a uma reportagem que dá uma ideia de como se processa a


audiodescrição de uma peça de teatro.

A MAGIA DA AUDIODESCRIÇÃO, QUE FAZ DEFICIENTES


VISUAIS "ENXERGAREM"

https://www.youtube.com/watch?v=6gqtjKm1lzs

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4. Este Tema é Muito Vasto
A acessibilidade cultural é um tema praticamente infinito,
especialmente se pensarmos que quase todas as atividades, ao
serem executadas por pessoas cegas precisarão de algum tipo de
adaptação ou acessibilização.

No prefácio deste capítulo falamos sobre um músico cego que faz


uso de tecnologia para executar música profissionalmente. Há aqui
uma miríade de informações subjacentes sobre equipamentos,
treinamento, recursos etc, para que uma pessoa se torne tão
eficiente quanto ele.

Escolhemos alguns temas importantíssimos, mas há outros temas


igualmente interessantes. Alguns destes campos não se referem a
trabalho, mas a lazer: os jogos, em particular os videogames e os
audiogames. São centenas de produtos, cada qual usando uma
técnica diferente e muita tecnologia aplicada.

Outro campo interessante é o consumo e produção de música, seja


na forma de streams de Internet (rádios virtuais), quanto na leitura
e escrita de partituras, o que inclui a música, o processamento
digital midi e a musicografia braile. É muito grande este tema, e
mereceria até um curso específico.

Mas este universo de possibilidades não é viável aqui. Nosso


interesse não foi esgotar o assunto acessibilidade cultural, mas
provocar o interesse para um futuro detalhamento mais direcionado
a pontos específicos (que são inúmeros). Neste curso, as
informações que apresentamos são muito básicas, mas é
importante frisar que há muito a ser estudado, para que a

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acessibilidade cultural se transforme numa alavanca de promoção
cultural e social de muitos milhares de pessoas com deficiência
visual.

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Resumo do Que Foi Apresentado Nesta Semana
O objetivo nesta semana foi mostrar algumas das soluções
tecnológicas que estão relacionados ao acesso à informação, cultura
e lazer.

Começamos por mostrar os mecanismos que viabilizam o acesso ao


texto escrito em papel através do uso de tecnologias de
Reconhecimento Ótico de Caracteres (OCR), inclusive em outras
línguas, a busca de informações pela internet e o caso particular da
descrição de objetos em museus e exposições.

Falamos em seguida sobre maneiras mais conhecidas de dar


acessibilidade a várias formas de entretenimento, incluindo TV e
cinema, apresentando noções de audiodescrição.

Por último falamos em acesso e produção de música, com destaque


às rádios online e plataformas de stream. Destacamos a
possibilidade profissional de atuação como músico e arranjador,
ilustrando o tema com as tecnologias midi e musicografia braile.

25
Referências Bibliográficas:
1. Acessibilidade cultural para pessoas com deficiência –
benefícios para todos

Viviane Panelli Sarraf


Revista do Centro de Pesquisa e Formação - nº 6, junho 2018
https://www.sescsp.org.br/files/artigo/d1209a56/acb3/4bc1/92cc/183d6c085449.pdf

2. MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO para produtos


jornalísticos laboratoriais impressos
Daiana Stockey Carpes; Demétrio de Azeredo Soster
https://editoracatarse.com.br/site/wp-
content/uploads/2016/11/Manual_de_audiodescri%C3%A7%C3%A3o_para
_produtos_jornal%C3%ADsticos_laboratoriais_impressos-1.pdf

3. Os 5 melhores apps para escanear documentos com o


celular

https://olhardigital.com.br/2020/09/08/dicas-e-tutoriais/os-5-melhores-
apps-para-escanear-documentos-com-o-celular/

4. A audiodescrição e o uso dos seus princípios nas


descrições informais

https://www.ifpb.edu.br/assuntos/fique-por-dentro/a-audiodescricao-e-o-uso-
dos-seus-principios-nas-descricoes-informais

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Curso de Tecnologia Assistiva para Educandos
com Deficiência Visual

1. Conceitos e Características da Cegueira e Baixa Visão que Impactam


no Uso da Tecnologia Assistiva;
2. Braile e Sorobã em uma Perspectiva Tecnológica;
3. Acesso à Informação e Comunicação para Deficientes Visuais
Através da Tecnologia Assistiva;
4. Vida Autônoma de Deficientes Visuais Através da Tecnologia;
5. Conhecendo Deficiência Visual, Tendências do Desenvolvimento
Tecnológico, Inteligência Artificial e Ética.

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