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O Uso da Tecnologia Assistiva para

Educadores com Ênfase no Aluno


Cego

Módulo 4 (Semana 1)

Vida Autônoma de Deficientes Visuais


Através da Tecnologia

Professores Responsáveis:

José Antonio dos Santos Borges


e
Angélica Fonseca da Silva Dias

Rio de Janeiro
novembro de 2023
Presidente da República Equipe NCE/UFRJ
Luiz Inácio Lula da Silva Coordenadores do Projeto
Ministro da Educação José Antonio Borges
Camilo Santana Angélica Fonseca da Silva Dias
Diretoria de Educação Especial Coordenação Técnica
Décio Nascimento Guimarães Júlio Tadeu Carvalho da Silveira
Secretaria de Mobilidades Maria de Fátima da Silva Antunes
Especializadas (SEMESP) Silvia Martins Mendonça
Ilda Ribeiro Peliz Programação Visual e
Diagramação
Universidade Federal do Rio de Rebecca Maia Brito
Janeiro | UFRJ Consultoria em Acessibilidade
Reitor Clarice Rebello da Motta
Roberto de Andrade Medronho Tradução em Libras
Vice-Reitora Raphael Lopes da Costa
Cássia Curan Turci Produção de Vídeo
Leonardo Teixeira Santos
CCMN - Centro de Ciências Revisão de Texto
Matemáticas e da Natureza Ana Lucia Rodrigues
Decano
Cabral Melo Lima
Superintendente
Mônica Pereira de Almeida Oliveira

Instituto Tércio Pacitti


de Aplicações e Pesquisas
Computacionais (NCE/UFRJ)
Direção
Angélica Fonseca da Silva Dias
Vice-Direção
José Antonio Borges
Equipe de Tutores
Adriana Conde Rocha Maiara da Silva Conceição
Adriana Mota Albuquerque Marcélia dos S Valentim Maciel
Adriano Barros da Silva Maria do Socorro M. de Oliveira
Beatriz de Barros Maria Eduarda Paulini M. de Oliveira
Bruna Ribeiro Guimarães da Silva Maria Luiza Santos Abdalla
Ciléia Fioroti do Amaral Michelle Brust Hackmayer
Claudia Marques de O. Marins Monica Ferreira
Claudia Simone G.N. da S. Ferreira Monica Machado Ribeiro
Claudia Tavares Sampaio Nubia Cerqueira do Espírito Santo
Claudio Barandin da Silva Patricia Paes de Albuquerque
Cleber José de Oliveira Ribeiro Raquel Bastos Gonçalves da Silva
Crislayne Prado de Assis Pereira Raquel de Melo Porto
Djalma Mandu de Brito Rogério José da Silva
Florinda M Zaniboni Duarte Roselinda Passos Franco Campelo
Gleilcelene Neri de Brito Roseméri Corrêa França
Isabele Carneiro Passos Sandra Ferreira
Juliana Coutinho Oliveira Tania Cristina Viana Oliveira
Leandro Fonseca Tania Maria da Silva Freire
Livia de Souza Costa Thiago de Melo Ferreira
Luiz Carlos de Padua Salles Valquiria Félix Gonçalves
Sumário

1- Todos Precisamos de Acessibilidade 7


2- Andar Sozinho com Segurança: Um Direito de Todos
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2.1. A Prática de O&M 9
2.2. Uso da Bengala 10
2.3. Cão Guia 14
3- Informação e Indicação de Percursos 15
3.1. Piso Tátil 15
3.2. Placas de Sinalização com Braile 18
3.3. Informações Sonoras 20
4- Dispositivos Eletrônicos para Localização 21
4.1. Bengala Eletrônica 21
4.2. Boné com Sensor 21
4.3. Cão Guia Robô 22
5- Aplicações para Localização Utilizando Celular 23
5.1. Localização Outdoor 23
5.1.1. Um Caso Especial de GPS: Ajudando o DV a
Tomar Transportes Públicos 24
5.2. Localização Indoor 25
5.3. Aplicações de Marketing Indoor 26

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Prefácio

Um sujeito desconhecido fala para um cego na rua:

- Amigo, desculpa, não posso te conduzir, estou atrasadíssimo.


Mas é fácil: caminha uns 20 passos, com um pouco de atenção
que a calçada está meio esburacada, que você vai encontrar um
piso tátil maravilhoso que vai até o ponto de ônibus depois da
esquina.

...

Algumas horas depois, este mesmo cego comenta com um


amigo:

- Eu encontrei o tal piso tátil, mas rapaz! Três passos depois eu


dei com a cara num galho de árvore tão forte que caí sentado.
Esses caras são umas antas! Plantar árvore do lado de piso tátil!
Vá ser burro na $*$%$...”

Figura 1: Piso tátil colocado por quem não tem a menor ideia de para
que serve

5
Este exemplo de acesso problemático acontece de verdade muito
mais frequentemente do que imaginamos. Alguns são frutos de
descaso, de tão óbvios, mas alguns são de desconhecimento ou
mesmo de maldade.

Em toda falta de acessibilidade pode existir:

● Ignorância sobre como fazer as coisas de forma certa;

● Falta de bom senso (ou estupidez, para ser mais cruel);

● Falta de responsabilidade;

● Preguiça de trabalhar para que a “coisa” fique mais bem-


feita;

● Preconceito: achar que um cego nunca deveria andar


sozinho na rua.

Neste caso, o que deveria ser feito para remediar? Cortar a


árvore? Mover de lugar o caminho para o outro lado da rua?
Fazer o cego usar um sensor ultrassônico para não bater a
cabeça, já que uma bengala não detectaria o galho da árvore?

Há muitas soluções possíveis: mas todas elas devem ser


baseadas na crença de que a acessibilidade é importante e que,
acima de tudo, deve prevalecer o bom senso.

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1- Todos Precisamos de Acessibilidade

Numa família de cobras, a mãe-cobra está usando o laptop teclando com o


rabo. De repente, fala para o pai-cobra: “esta porcaria travou de novo!”. O
pai-cobra chama dois de seus filhos-cobra e diz “Vamos lá, me ajudem a
teclar control-alt-del”.
Figura 2: Falta de Acessibilidade

Assista ao filme

Acessibilidade – siga esta ideia

https://youtu.be/ZHt7OlVX-fk

2- Andar Sozinho com Segurança: Um Direito


de Todos

É fundamental lutar para que todas as pessoas com deficiência


visual possam ter ampla independência em sua mobilidade.
Devem poder ir para onde desejar, sem ajuda, mas com total
segurança.

É também fundamental garantir seu acesso sem restrições às


manifestações de cultura, por exemplo, poder assistir a filmes, ir
a teatros, shows e museus, sempre entendendo o que se passa
sem precisar de ajuda.

7
Resumindo, é fundamental lutar:

● Pela remoção de barreiras arquitetônicas – ou seja, a


acessibilidade física;

● Pela adequação das estratégias de ensino para que deixem


de ser homogeneizadas, ao invés de adequadas para cada
indivíduo – ou seja a acessibilidade educacional;

● Pelo ajuste de cinemas, museus, teatros e bibliotecas para


que as pessoas com deficiência possam aproveitar sem
restrições o universo que ali se encontra;

● Pela adaptação de materiais de apoio às restrições


individuais;

● Pelo melhor acesso de todos ao universo de comunicações,


para que todos possam se comunicar em via dupla:
compreender o que os outros “falam” e “falar” sendo por
todos entendidos;

● Pela diminuição do preconceito, com a consciência de que


todos devem ser olhados com respeito por suas
características físicas, sociais e intelectuais;

● Pela medida do valor da pessoa com deficiência pelo que


ela pode fazer, e não pelo que ela não pode;

● Pela atitude de respeito às necessidades das pessoas com


deficiência, não invadindo os espaços que foram tão
duramente conquistados.

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Figura 3: Barreira atitudinal

2.1. A Prática de O&M

Para desenvolver sua autonomia, todas as pessoas cegas


deveriam ter um treinamento formal em Orientação e Mobilidade.
Esta área da educação especial desenvolve técnicas para se
utilizar sentidos remanescentes, tais como: tato, olfato, audição,
percepção vestibular, visão residual, pontos de referência, pistas
no decorrer do trajeto, bengala longa, cão guia, mapa braile etc.
Nas grandes cidades, é comum que este curso seja fornecido por
praticamente todas as instituições de suporte aos deficientes
visuais.

O treinamento em Orientação e Mobilidade deve ser feito por um


profissional habilitado e tem o objetivo de proporcionar ao
deficiente visual autonomia na locomoção, autoconfiança,
aumento da autoestima e independência, elementos estes,
facilitadores na sua integração social.

Neste processo, são aprendidas:

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a) Técnicas sobre como andar com um guia vidente (ou seja
como uma pessoa deve conduzir e ser conduzida com
segurança), com destaque à mudança de direção,
passagens estreitas, troca de lado, subir e descer escadas,
aceitar e recusar ajuda, sentar-se (cadeiras/bancos) e
passagens por portas;
b) Técnicas de autoproteção, para minorar a gravidade de
eventuais acidentes;
c) Desenvolvimento da orientação, como o treinamento de
reconhecimento de pontos de referência, pistas, sistemas
de numeração externa e interna e pontos cardeais, além de
técnicas de reconhecimento de um novo ambiente.

Para saber mais sobre este importante tema, sugerimos a


leitura do texto

Orientação e Mobilidade

http://www.sac.org.br/instituto/ori_mob.htm

2.2. Uso da Bengala

Dentre os recursos tecnológicos utilizados pelos deficientes


visuais para locomoção, a bengala longa apresenta-se como um
dos mais seguros, isto é, quando manipulado corretamente. A
forma mais correta é esticar o braço fazendo da bengala uma
extensão dele, e ao caminhar, mover a bengala de um lado para
o outro numa frequência aproximada de 1 segundo em cada
mudança de direção. A bengala fica levemente encostada no

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chão, visando detectar buracos e outros obstáculos, bem como
alguns pontos de referência (postes, árvores etc).

Figura 4: Bengala longa dobrada

Reportamos a seguir alguns detalhes, fornecidos pelo site


laramara.org:

Uma bengala tem algumas medidas padronizadas: a altura que


vai do chão até a extremidade inferior do osso esterno, mas podem
ocorrer variações dependendo da marcha.

Montar/desmontar: ao dobrar, mantenha-a próxima ao corpo e


na posição vertical. A desmontagem inicia-se pelo cabo e é feita
gomo por gomo. Evite ficar movimentando-a, isto poderá machucar
as pessoas ao redor;

Em pé: coloque a bengala na posição vertical, próxima ao corpo.


Deixá-la estendida pode causar acidentes ou danificar a bengala, no
caso de alguém tropeçar;

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Sentado: acomode a bengala apoiada no chão, entre as pernas e
encostada no ombro – desta forma ela não será um obstáculo entre
seu rosto e o rosto de outra pessoa, quando conversarem. Evite
colocar a bengala sobre a mesa – é anti-higiênico e pode contaminar
objetos e alimentos;

Ao guardar: se for desmontar a bengala, coloque-a dentro da bolsa


ou mochila, acondicionada em uma sacola plástica. Não coloque a
bengala no bolso das calças ou outras peças do vestuário – isto
sujará a roupa;

Dentro de uma sala: deixá-la montada em pé ao lado do batente


da porta, encostá-la em algum canto da parede ou acomodá-la (de
preferência dobrada) embaixo da sua cadeira;

Ao andar com outras pessoas: se você estiver seguro e


confortável com a ajuda de um guia, pode colocar a bengala na
posição diagonal, na frente do corpo, mas se não é esta a situação,
você pode fazer uma leve varredura no chão com a bengala
(somente à frente do seu corpo);

Identificação/customização: em ambientes ou situações onde


circulam muitas pessoas com deficiência visual (cegueira e baixa
visão), é recomendável identificar a bengala com algum adesivo,
chaveiro ou etiqueta com o nome;

Recusar ou adequar ajuda: caso receba a interferência de uma


pessoa a qual não solicitou ajuda, desvencilhe-se com educação e
bom humor. Se a ajuda é necessária e foi oferecida de maneira
inadequada (agarrando o braço da pessoa com deficiência visual ou
tentando conduzi-la pela bengala), oriente a maneira correta – a
pessoa com deficiência visual é quem deve segurar no braço do
guia.

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A dificuldade psicológica de aceitar o uso da bengala

Muitos consideram a bengala como um instrumento de


identificação do indivíduo “cego”. Esta concepção é muito comum
no caso das pessoas com baixa visão e das pessoas que acabaram
de ficar cegas. Este rechaço surge na maioria das vezes
por preconceito consigo mesmo e, como consequência, muitos
recusam o uso da bengala.

A bengala branca, entretanto, deve ser vista como um símbolo


de independência para aqueles que a usam, na medida em que,
uma vez conhecidas as técnicas para sua utilização, aumenta a
segurança e a orientação, obstáculos podem ser percebidos com
maior antecedência e outros pontos de orientação (paredes,
postes, vasos de plantas etc) podem ser localizados.

Um movimento recente, chamado de “bengala verde” propõe


que as pessoas de baixa visão passem a utilizar uma bengala com
uma cor diferente. Desta forma, será possível saber que mesmo
com uma aparência de visão perfeita (pois muitas vezes os olhos
não se deformam nestes casos), têm muita dificuldade de
enxergar. Além disso, a bengala evitará que tropecem, caiam,
esbarrem etc. Ela vai detectar precocemente os obstáculos que
não seriam percebidos, por exemplo, por um declínio da visão
lateral ou pela imagem embaçada.

Infelizmente, verde ou branca, a bengala ainda é um elemento


psicologicamente difícil de aceitar. Em primeiro lugar, a própria
pessoa com deficiência visual (particularmente quando esta
ocorre numa situação progressiva ou quando a pessoa acaba de
ficar cega), sofre um processo de baixa autoestima, para a qual
a simbologia da bengala, como instrumento inequívoco de
13
deficiência visual, contribui para o aumento do desconforto
psicológico. Em alguns casos, é a família que não a incentiva a
adquirir sua independência, seja por preconceito relacionado ao
fato de ter um familiar com deficiência, seja pelo medo de que ao
sentir-se mais seguro, a pessoa passe a correr maiores riscos.

Se desde cedo a criança cega ou com visão reduzida for


conscientizada e estimulada pela família e pelos amigos a usar a
bengala, poderá lidar muito mais com as dificuldades próprias e
peculiares da deficiência visual, com menor sobrecarga de
problemas e tabus adicionada pelos receios, incertezas e
preconceitos alimentados por si mesma e pelos outros.

2.3. Cão Guia

Um cão guia pode ser pensado como um tipo de tecnologia


assistiva baseada num animal. O cão, geralmente da raça
Labrador ou Policial, é adestrado para guiar uma pessoa com
deficiência visual ou auxiliá-la nas tarefas caseiras. Durante a
condução dos deficientes visuais, o cão deve ter a capacidade de
discernir eventuais perigos devido a obstáculos ou outros, o que
requer cães de inteligência bastante elevada, que devem ser
submetidos a um treinamento rigoroso e adequado ao seu
trabalho de cão-guia. Há no Brasil, infelizmente, poucas escolas
para cães-guia e o custo do treinamento do animal é bastante
elevado (embora muitos deles sejam doados por patrocinadores).

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Figura 5: Ethel Rosenfeld com seu cão guia Gem

O cão utiliza uma coleira especial (harness), colocada no peitoral


do animal, com uma alça que fica à altura da mão, e atende a
palavras de comando (por exemplo: sente, caminhe, vire à direita
etc). Eles são treinados para observarem o fluxo da área a ser
percorrida e daí sim realizar a ação desejada com segurança.

Embora os cães possam ser treinados para seguir caminhos


específicos e se desviar de vários obstáculos, eles não são
capazes de distinguir as cores como verde e vermelho, não
podendo, portanto, interpretar um semáforo.

Importante: Nunca se deve tocar nem brincar com um cão-


guia quando a pessoa cega está segurando a coleira. Isso
distrairá o cão, que pode provocar um acidente com a
pessoa cega.

O cão-guia torna-se, ao longo do tempo, um companheiro


imprescindível para o seu dono, que sem o seu trabalho de guia

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não poderia ter a liberdade de sair de casa e de praticar as
atividades diárias comuns.

3- Informação e Indicação de Percursos

Mostraremos a seguir algumas formas de orientar a pessoa com


deficiência visual no seu trajeto.

3.1. Piso Tátil

Piso tátil, superfície tátil, pavimento tátil ou podotáteis são faixas


em alto-relevo fixadas no chão para auxiliar a caminhada das
pessoas, sejam elas deficientes visuais, crianças, idosos e até
mesmo turistas. Como revestimento de chão, os pisos táteis não
funcionam sozinhos e sim com uma composição de peças que
caracterizam uma caminhada segura e com autonomia.

Portanto, deve ser levado em consideração o desenho universal


deste produto, lembrando que o seu significado deve ser evidente
e de fácil reconhecimento, expressando uma linguagem simbólica
onde quer que se encontre. É fundamental que a implementação
do piso tátil seja realizada levando em conta a usabilidade de seu
usuário. Deve-se evitar de todas as maneiras guiar o deficiente
visual a áreas sem saída ou que possam oferecer perigo. Todo
obstáculo deve estar devidamente sinalizado com o piso tátil de
alerta. São áreas como portas de elevadores, escritórios e
banheiros, escadas, catracas, dentre outros.

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Figura 6: Escola com piso tátil

No Brasil, existem duas tipologias de pisos táteis, descritos pela


NBR 9050 como sinalização tátil do piso:

● Piso direcional conhecido como guia: têm como função guiar


a pessoa através de uma trilha.

● Piso alerta: têm como função alertar a pessoa de perigo e


obstáculos como mobiliário urbano, por exemplo.

Figura 7: Diferenciação dos pisos táteis

3.2. Placas de Sinalização com Braile

As placas de sinalização em braile são produzidas de acordo com


a norma brasileira NBR 9050, em alumínio, aço, inox, acrílico e

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PVC. Sua localização deve ser a mais óbvia possível para que a
pessoa cega consiga intuir onde procurá-la, sem enxergar.

Figura 8: Placa com indicação em braile

Outra possibilidade são os mapas táteis, que colocados à entrada


de um ambiente (por exemplo, um banco ou um museu) possam
indicar as possibilidades de trajeto. Alguns mapas táteis possuem
botões que quando apertados, produzem uma descrição sonora
do lugar.

Figura 9: Mapa tátil

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3.3 Informações Sonoras

Existem diversas possibilidades para o uso de informações


sonoras que podem ser úteis para as pessoas com deficiência
visual, mesmo que, a princípio, não tenham sido criadas para
elas. Por exemplo, as indicações sonoras no aeroporto indicando
a saída dos voos, ou de qual o destino do metrô que acabou de
parar na estação ou, num supermercado, as indicações de um
locutor sobre os produtos com desconto.

Um caso particular são os semáforos sonoros, que indicam para


uma pessoa cega a possibilidade de atravessar ou não. Quando
o pedestre quer atravessar uma rua, o equipamento de aviso
sonoro emitirá sons indicando que a via está apta para que ele o
faça em segurança. Quando o tempo para atravessar a via está
acabando, o sinal sonoro ficará mais rápido e o pedestre poderá
identificar que logo o semáforo irá abrir. Se o equipamento não
está emitindo nenhum som, significa que o fluxo de veículos está
liberado e que o pedestre não pode realizar a travessia.

Assista ao vídeo

Semáforo sonoro que funciona realmente

https://youtu.be/pH_lI8mv1Fk

que demonstra um tipo bastante sofisticado e seguro deste tipo


de equipamento na cidade de Washington, uma das cidades mais
acessíveis do mundo.

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4- Dispositivos Eletrônicos para Localização

4.1. Bengala Eletrônica

Existem hoje diversos modelos de bengalas eletrônicas, que


fornecem informações de localização a partir de sua conexão
à Internet, a partir de um pequeno alto-falante embutido ou
por meio de uma comunicação Bluetooth com o telefone
celular. A bengala também tem sensores que fazem o
equipamento vibrar quando o usuário se aproxima de
obstáculos baixos como galhos de árvores ou placas.
Infelizmente, são equipamentos caros, e portanto, não é
comum que sejam utilizados pela maior parte das pessoas
cegas ou com baixa visão.

Figura 10: Pessoa cega usando a bengala “WeWalk”

4.2. Boné com Sensor

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Figura 11: Boné com sensor ultrassônico para cegos

No Brasil foi desenvolvido um boné, chamado de Tupã, que


permite à pessoa cega obter feedbacks sonoros para indicar a
presença ou proximidade à frente, esquerda ou direita. Este
produto já está disponível para aquisição ou aluguel.

Nota: É desejável que este equipamento seja usado em conjunto


com uma bengala (eletrônica ou não), para que as
irregularidades no solo sejam detectadas, junto com as
informações do boné.

Assista ao vídeo

Estudantes criam boné detector de obstáculos para deficientes


visuais

https://www.youtube.com/watch?v=0s7VAaQATsE

4.3. Cão guia Robô

O cão guia robô é um dispositivo com rodas e motor que caminha


à frente da pessoa com deficiência visual, seguindo um trajeto
determinado e detectando possíveis obstáculos.

Assista ao vídeo demonstrativo do produto Lysa, um cão-guia


robô brasileiro.

https://youtu.be/BsiBKga49HY

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5- Aplicações para Localização Utilizando
Celular

5.1. Localização Outdoor

Hoje em dia é muito comum o uso de GPS para definir o trajeto


de um automóvel. É uma tecnologia muito sofisticada, que faz
uso de uma rede de 31 satélites que possuem um relógio interno
sincronizado entre eles, que marca a hora certa com precisão de
nanossegundos. A hora é transmitida através de um sinal de rádio
enviado pelo satélite à Terra na velocidade da luz (300.000 km/s
no vácuo). Em terra, o receptor calcula o tempo que o sinal levou
para sair do satélite até chegar ao aparelho, a diferença em
nanossegundos determina a posição do satélite em órbita e,
consequentemente, a posição dele próprio. Neste processo
chamado de triangulação, são necessários 3 ou 4 satélites visíveis
para calcular a posição com precisão de cerca de 20 metros. A
posição e a hora são acoplados a um sofisticado sistema de
mapas que calcula rotas e localiza pontos de interesse.

Importante: O GPS só funciona quando o satélite está visível,


portanto não funciona em ambientes internos ou em túneis.

Utilizando esta mesma tecnologia, foram desenvolvidos


programas especiais, com foco na navegação por pedestres e,
mais especificamente, para orientação de pessoas cegas, em que
a base de dados contempla informações típicas e pontos de
interesse para as pessoas com deficiência visual.

Há vários aplicativos de GPS que podem ser utilizados por


pessoas com deficiência visual, por exemplo, o Google Maps, que

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possui uma interface acessível ao leitor de telas TalkBack, no
ambiente Android, e o Ariadne GPS, aplicativo sintonizado às
necessidades de deficientes visuais para celulares da Apple.
Destacamos, entretanto uma outra aplicação, o CittaMoby
mostrado a seguir.

5.1.1. Um Caso Especial de GPS: Ajudando


o DV a Tomar Transportes Públicos

Uma das principais dificuldades para os deficientes visuais é


chamar um ônibus e verificar se o ônibus que parou é
realmente aquele que ele deseja tomar e até para saber se
está na hora de saltar. Quase sempre é preciso pedir ajuda a
terceiros, que nem sempre estão presentes.

Há várias ideias em desenvolvimento para resolver este problema


e escolhemos um aplicativo brasileiro chamado CittaMobi
Acessibilidade que se propõe a ajudar as pessoas cegas nesta
situação.

Assista ao vídeo

Tecnologia aplicativo CittaMobi Acessibilidade auxilia cegos a


pegar ônibus

https://www.youtube.com/watch?v=NRyexZqkmV0

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5.2. Localização Indoor

As soluções mostradas anteriormente funcionam bem quando o


ambiente é externo, mas, no caso de ambientes internos,
temos que utilizar outras tecnologias. Há muitas pesquisas
sobre esta temática e uns poucos produtos disponíveis fora do
Brasil, mas aqui se destaca uma tecnologia específica de
localização indoor: a dos chamados “iBeacons”, que são
sensores baseados na tecnologia Bluetooth Low Energy
(portanto compatíveis com telefones celulares), de custo
relativamente baixo, e que consomem pouca energia, sendo
alimentados por pequenas pilhas que podem durar vários
meses sem troca.

Os iBeacons são pequenas caixas que são geralmente grudadas


na parede e que emitem um sinal intermitente de ondas de
rádio que consegue atingir o smartphone em um determinado
raio. Como as ondas emitidas são de rádio, o alcance e a
penetração nas estruturas, como concreto, é bem maior.

Assim o iBeacon funciona como um emissor de sinais e o


smartphone como um receptor. O receptor, por sua vez, pode
apenas guardar a informação que a conexão ocorreu ou pode
iniciar alguma ação no dispositivo do usuário.

24
Figura 12: Celular apresentando informações baseado na
posição do iBeacon mais próximo.

Há muitas possibilidades do uso de iBeacons, sendo a localização


uma das mais úteis. Por exemplo, imagine um aeroporto em que
há uma centena de iBeacons espalhados e a pessoa possa baixar
no celular um aplicativo que trabalha sobre o mapa do aeroporto
e a localização de cada iBeacon. Este aplicativo pode, a partir da
informação que chega do dispositivo mais próximo, localizar a
pessoa no aeroporto e até indicar rotas para pontos específicos
do aeroporto.

Esta aplicação é claramente útil para as pessoas cegas.


Utilizando-se de iBeacons estrategicamente espalhados é possível
orientar uma pessoa a se locomover indicando a direção correta,
por exemplo, dentro de shopping centers ou estações de
transporte. Diversas são as soluções indoor que podem ser
proporcionadas com a utilização de uma rede de iBeacons
estrategicamente posicionados.

5.3- Aplicações de Marketing Indoor


Há inúmeras possibilidades para o uso de iBeacons e seu uso está
apenas em sua infância.

Um exemplo característico: Você entra em um restaurante e


senta-se em uma das mesas. O iBeacon consegue identificar o
local que você está e lhe envia um cardápio através de um
aplicativo. Assim você consegue fazer seu pedido diretamente
pelo seu smartphone, sem precisar chamar o garçom. E não

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para por aí: também é possível efetuar o pagamento da sua
conta diretamente pelo aplicativo com o intermédio do
iBeacon. Ao sair do restaurante, você passa na frente de uma
loja em que existe um iBeacon e o celular é capaz de informar
quais produtos estão em promoção. Sabendo onde você está,
fica fácil para o celular indicar a rota até o banheiro ou a saída
mais próxima.

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Resumo do que Foi Apresentado Nesta Semana
Nesta semana os seguintes temas principais foram
apresentados:

● Andando sozinho: onde focamos na importância do


desenvolvimento de práticas de orientação e mobilidade, do
uso da bengala;

● Informação e indicação, onde falamos sobre detalhes do


piso tátil, placas de sinalização com braile e do uso de
informações sonoras;

● Dispositivos eletrônicos para localização, onde mostramos


um boné com sensor, bengala eletrônica e cão guia robô;

● Sistemas para localização usando celular, onde falamos de


localização outdoor com GPS e indoor, com destaque a
sensores Bluetooth LE (em particular os iBeacons), com
aplicações de marketing.

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Referências Bibliográficas:

Recomendamos para leitura complementar:

1) Autonomia pessoal e social de pessoas com deficiência


visual após reabilitação
https://www.scielo.br/j/rbof/a/J6tkQNZbyZLq39LBZ4TqdZk/?lang=pt

2) Guiados pela tecnologia: acessibilidade do deficiente visual


utilizando a tecnologia - Trabalho de fim de curso de
Tecnólogo de Doglas Fabero Fontoura

https://www.ufsm.br/app/uploads/sites/495/2019/05/2015-Doglas-Fontoura.pdf

3) iBeacons

https://www.hospedagem-anual.com.br/cliente/knowledgebase/157/Beacons.html

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O Uso da Tecnologia Assistiva para Educadores
com Ênfase no Aluno Cego

1. Conceitos e Características do Uso da Tecnologia Assistiva;


2. Braile e Sorobã em uma Perspectiva Tecnológica;
3. Acesso à Informação e Comunicação para Deficientes Visuais
Através da Tecnologia Assistiva;
4. Vida Autônoma de Deficientes Visuais Através da Tecnologia;
5. Conhecendo Deficiência Visual, Tendências do Desenvolvimento
Tecnológico, Inteligência Artificial e Ética.

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