Você está na página 1de 23

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA

Portal Educação

CURSO DE
BRAILLE

Aluno:

EaD - Educação a Distância Portal Educação

AN02FREV001/REV 4.0

48
CURSO DE
BRAILLE

MÓDULO III

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição
do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.

AN02FREV001/REV 4.0

49
MÓDULO III

“Quando penso no que eu perdi, eu pergunto:


Quem se conhece melhor que o cego”.

Jorge Luiz Borges

Iniciamos este módulo com a frase do escritor argentino Jorge Luiz Borges,
que foi perdendo a visão ainda na infância e é conhecido mundialmente por suas
obras literárias, cujo tema principal é a cegueira. Jorge Luiz Borges foi escritor,
poeta, professor e crítico literário.
Abordaremos neste material, temas como orientação e mobilidade e sua
importância no cotidiano do deficiente visual em busca de qualidade de vida;
inclusão do deficiente respaldada pela legislação brasileira; a importância do
Instituto Benjamin Constant e suas contribuições a favor da cegueira; o Conselho
Mundial para cegos e acessibilidade.

6 ORIENTAÇÃO E MOBILIDADE (OM)

A cegueira é uma doença congênita ou adquirida. Entretanto, independente


de sua causa, a perda da visão é uma situação que não impossibilita o indivíduo de
se integrar socialmente. Estudar, trabalhar, locomover-se em coletivos, entre outras
situações podem ser realizadas pelos cegos. Para tanto, a OM (orientação e
mobilidade) auxilia quanto aos procedimentos a serem elaborados.

AN02FREV001/REV 4.0

50
FIGURA 16

FONTE: Disponível em: <http://www.sac.org.br/Orimob01.jpg>. Acesso em: 9 jul. 2012.

Para pessoas sem deficiência visual a orientação traz segurança. A


segurança leva a seguir para qualquer lado, permite caminhar, viajar, passear. Nas
dificuldades, as pessoas que têm a visão recorrem a mapas impressos e virtuais,
orientações por satélite, placas de sinalização e o mais moderno dos recursos o
GPS (Sistema de Posicionamento Global), orientando-se com facilidade sobre o
caminho que se precisa seguir. Uma pessoa que vê normalmente possui uma
liberdade nata para realizar suas escolhas. Mas para os acometidos de problemas
visuais, baixa visão e cegueira a rotina passa a ser limitada na realização de certas
atividades corriqueiras. O cego pode realizar muita coisa e para isso conta com os
sentidos remanescentes e pessoas que estão a sua volta.
A visão facilita a percepção e sem ela outros sentidos são estimulados para
superar a falta da visão e realizar a percepção. Sem a visão ficamos sem o recurso
ligado à liberdade nos movimentos, deixamos de perceber formas, cores, tamanhos
e direção. Mas não deixamos de participar de acontecimentos, não deixamos de

AN02FREV001/REV 4.0

51
realizar escolhas, pois temos limitações, mas somos ativos e proativos. Portanto,
ajuda especializada é essencial para abrir nosso caminho.
Os portadores de necessidades especiais visuais possuem uma área voltada
aos assuntos relacionados com sua aprendizagem e reabilitação. É a orientação e
mobilidade (OM) a área educacional responsável por sua integração ao meio
estimulando seus sentidos.
A orientação e mobilidade visam proporcionar ao cego segurança na sua
locomoção e com isso ter sua autoestima elevada, facilitando a integração ao seu
meio. Funciona como estímulo aos outros sentidos. Ele aprende a perceber o
ambiente em que está inserido, pequenas modificações em pisos, paredes,
localização de móveis é o suficiente para se localizar. É por meio de estudos
práticos que a OM atua na vida do deficiente.
Sentir a direção do vento ou o barulho do carro é o suficiente para o cego se
situar no espaço e perceber se pode seguir em frente e atravessar uma rua, por
exemplo. Aqui a audição ajuda a se mover.
Os cheiros são características para perceber a proximidade de lojas de
lanches, padarias, restaurantes. Enfim, os odores são para o cego um instrumento
de orientação. O olfato aguça e dá a orientação necessária para seguir seu caminho.

FIGURA 17

FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/-


6s6uoT42fNs/ToEhLPOsAUI/AAAAAAAAD8c/BeEeKg1oYEA/s1600/OLFATO.jpg>.
Acesso em: 9 jul. 2012.

AN02FREV001/REV 4.0

52
Sem a visão há outras perdas, inclusive a referente ao contato com o todo
que está a sua volta, pessoas, objetos e o próprio meio ambiente, causando uma
enorme dependência do outro se não houver incentivo para que o cego possa se
mover com liberdade.
As atividades rotineiras de um cego são preocupantes. O asseio corporal,
banho, o uso da escova dental, as toalhas para se enxugar. Nestas situações ele
pode ser picado por animais peçonhentos ou utilizar objetos sujos. A utilização de
roupas limpas que podem estar amassadas ou no avesso e até manchadas.
Causando desconforto ao cego e, às vezes, má impressão.
Podemos imaginar seu cotidiano, na realização de compras, alimentos e
medicamentos ao percorrer calçadas esburacadas e pisos disformes? Há outras
situações constrangedoras causadas pela dependência, que dizem respeito aos
próprios familiares quando tratam o cego com atitudes grosseiras e hostis ou quando
se mostram superprotetors. A superproteção limita o indivíduo, ignora suas
qualidades e subestima sua relação saudável com a vida.
Essas situações são causadoras de sensação de inutilidade, um sentimento
que deprime qualquer um. Muitas vezes, pelos videntes se percebe a expressão de
pena. Muitos amigos, vizinhos ou colegas videntes se dispõem a ajudar, tentando
demonstrar solidariedade, mas acabam causando desconforto ao cego.
Resumindo, é difícil perceber uma relação normal entre o cego e seus
familiares e entre o cego e seus colegas de trabalho. A melhor relação é aquela em
que o cego se sente protegido e capaz de desenvolver qualquer tarefa.
Como todos, os cegos buscam ser independentes, desejam ser livres, ir e vir
de qualquer direção. A orientação e mobilidade, sendo uma área da educação
voltada para o atendimento a deficientes visuais, possui um projeto de atividades
elaborado por nível de ensino que é aplicado por etapas, por níveis de ensino.
Respeitando seus limites e seus saberes. O trabalho de orientação e mobilidade é
desenvolvido a partir dos sentidos saudáveis e conta com os recursos externos
disponíveis como a bengala, o cão guia e o Braille.

AN02FREV001/REV 4.0

53
FIGURA 18

FONTE: Disponível em:


<http://t0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSno6KljWh7hAsFe1KewCQuAoRRPVdmIavMAAwDI9ze
z7-KaQgc>. Acesso em: 9 jul. 2012.

São considerados os níveis de conhecimento do cego, o que ele consegue


perceber, sua idade, seus reflexos e seu desenvolvimento. Como todo programa
educacional, o trabalho de orientação e mobilidade é desenvolvido com base de
estímulo aos aspectos cognitivo, afetivo e psicomotor de Jean Piaget.

 Cognitivos: ligados à formação dos conceitos, resolução de problemas,


retenção da informação recebida por estímulos exteriores.

 Afetivos: também denominado de emocionais estão relacionados à


autoestima, autoconfiança e motivação.

 Psicomotor: relacionado com a capacidade motora, física e de


movimentos.

A proposta de trabalho da OM procura estimular a associação dos sentidos


existentes como o tato, a audição e o olfato para facilitar a locomoção por meio de
atividades que se iniciam partindo do simples. Por exemplo:

AN02FREV001/REV 4.0

54
- Em localização de padarias ou restaurantes:

O cheiro dos alimentos informa ao cego que está próximo ou passando por
um restaurante; o cheiro do pão associa à padaria. Neste caso, ele associa o local
por meio do olfato.
Há outras vantagens de se aplicar a OM ao cotidiano do deficiente visual,
como:

 Facilidade ao caminhar;
 Adquire independência e segurança;
 Simples de transmitir;
 Eficaz se for transmitida corretamente;
 Exige prática e acompanhamento orientado;
 Melhora a confiança e autoestima;
 Passa a conhecer seu corpo e controlar o deslocamento.
 Utilização postural da bengala e cão guia.

Como toda aprendizagem requer dedicação e coragem para atingir seu


objetivo. Vamos conhecer as atividades que são desenvolvidas no programa.

 A Bengala

Instrumento de apoio que visa estabilidade corporal e de locomoção para


deficientes visuais.
É o mais comum dos instrumentos de apoio à locomoção que existe. Desde
a antiguidade encontram-se registros de utilização de varas ou bastões por cegos.
Mas somente no século XX foi reconhecido e padronizado o modelo de bengala.
Hoje podemos encontrar uma variedade de bengalas, desde as mais
simples, inclusive com preços acessíveis, até as sofisticadas de material em
alumínio, dobrável e outros.

AN02FREV001/REV 4.0

55
FIGURA 19

FONTE: Disponível em:


<http://t3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQZVatIc5j3iDJMCoLvCe9bxAxwyxp4YNNPKDV2nilHrq8
pIPDqUg>. Acesso em: 9 jul. 2012.

Variedades de opções estão disponíveis no mercado como bengalas com


regulagem na altura para crianças e adultos, ponteiras cromadas, cabos curvados.
O professor e doutor americano Richard Hoover, um especialista em estudos
para cegos criou uma bengala com características para locomoção e identificação
do cego: a bengala longa que foi padronizada e é universalmente utilizada. Hoover
criou modelos de comprimentos diferenciados e funções pelo toque na extremidade
para facilitar a locomoção.
A bengala é o mais seguro dos sistemas de locomoção, portanto deve ser
utilizada corretamente. Técnicas de utilização são importantes para garantir uma
mobilidade segura como postura, destreza, percepção e manipulação. E a sua
correta utilização em ambientes externos e internos.
Já existe um projeto denominado de bengala eletrônica, criada aqui no
Brasil. Ao contrário da bengala comum a eletrônica não possui cabo; possui apenas
um sensor central e outro secundário com a finalidade de localizar objetos a, pelo
menos, três metros de distância. Por meio de um sensor que pode estar localizado
na parte superior do corpo (pescoço) e acionada ao toque das mãos dá segurança
para a pessoa, pois emite um sinal sonoro ao detectar objetos próximos, na altura
superior do corpo e outro que pode estar na parte inferior do corpo como na cintura,

AN02FREV001/REV 4.0

56
emite som ao se aproximar de algo baixo. Os sensores possuem também botões em
Braille, facilitando seu manuseio.
A bengala eletrônica foi criada pelo médico oftalmologista Leonardo Gontijo,
que contou com o apoio e os conhecimentos de um amigo eletrotécnico para
desenvolver os sensores que denominou de bengala eletrônica. Este é apenas mais
um produto que ainda não está disponível no mercado, mas surpreende pela
inovação.

 Cão Guia

É um animal treinado para acompanhar e proteger deficientes visuais em


suas tarefas domésticas e em percursos longos. Protegendo dos perigos e sendo
companheiro fiel.
O cão precisa ser inteligente para realizar o trabalho de guiar, pois exige que
ele aprenda por meio do treino. As raças recomendadas são os pastores alemães,
labradores e golden retrievers, pois são considerados fiéis, inteligentes e dóceis.

FIGURA 20

FONTE: Disponível em:


<http://t2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQYrpc_KKUyZhIezW9JGuf4iLagLq3fcW4PG8u2ZOFYYs
BbkOZo>. Acesso em: 9 jul. 2012.

AN02FREV001/REV 4.0

57
Nos Estados Unidos é comum encontrar cegos com seu cão guia nas ruas,
em parques, isto porque lá há treinamentos específicos e o deficiente recebe o
companheiro sem nenhum custo.
Em 1931, surgiu a primeira escola para cão guia nos Estados Unidos,
chamada “The Seeing Eye”. No Brasil, há o Integra (Instituto de Integração Social e
de Promoção da Cidadania), em Brasília, que desenvolve o Projeto Cão Guia de
Cegos. Um projeto filantrópico que funciona com ajuda comunitária de treinamento e
adestramento para cão guia.
O cão guia é um cão como outro qualquer, porém treinado para exercer
funções de orientação a pessoas cegas; portanto evite distrair o cão guia em
atividade, para que ele não perca o sentido de orientação.
Cuidado ao se aproximar de um cego com o cão guia, use o lado oposto ao
do cão se um cego lhe solicitar algum tipo de ajuda; evitando inclusive tocá-lo.
O cão guia não é um animal doméstico comum, por isso o seu acesso a
restaurantes, lanchonetes, teatros e cinemas é garantido pela Lei 11.126/ 2005 e
pelo Decreto 5.904/2006.

 Guia vidente

Ao deficiente são passadas técnicas para realizar trajetos com ajuda de um


companheiro(a) vidente, dando dicas da melhor maneira de segurar ao braço; mudar
de trajeto; subir e descer escadas ou utilizar transportes coletivos; sentar em bancos
e cadeiras; caminhar em lugares estreitos ou becos.
Dicas para ser guia vidente:

 Ao caminhar, o guia deve oferecer o braço para conduzir o deficiente;


nunca o empurre; apenas conduza-o e pelo seu movimente o cego saberá
o que fazer.
 Ao perceber que o cego deseja atravessar a rua pergunte se ele
necessita de ajuda. Se ele permitir, ofereça o braço e conduza-o sempre
em linha reta, para facilitar a sua orientação.

AN02FREV001/REV 4.0

58
 Se desejar auxiliar um cego apresente-se primeiro, para não assustá-lo.
 Seja claro em suas perguntas referentes à direção, usando termos como
direita ou esquerda. Evite as expressões “prá cá” ou “prá lá”.
 A informação ao cego deve ser exata. Informações erradas atrapalham
mais que dizer “não sei”.
 Ao se afastar do deficiente visual avise a ele, assim evita que ele fique
falando sozinho, causando-lhe constrangimento.

 Autoproteção

São fornecidas informações de proteção tais como as superiores e


inferiores, direção, utilização correta das mãos, entre outros.

 Orientação

Para garantir a mobilidade segura é necessário conhecer técnicas como


utilização de referências, dicas de pistas e conhecimentos dos pontos cardeais, etc.
O trabalho de orientação e locomoção se inicia em ambientes internos, local de
convívio do deficiente. Posteriormente, segue-se o trabalho de orientação em
ambientes externos como percursos em ruas, calçadas, avenidas, travessias de
vias, utilização de coletivos como ônibus, trens e metrôs, etc.
As atividades desenvolvidas na orientação e mobilidade estimulam sentidos
remanescentes para facilitar e integrar a vida do deficiente. Para isso, estímulos
auditivos são necessários para que desenvolva a capacidade de se orientar por
meio dos sons, como:

 Distinguir diversidades de sons e ruídos, inclusive vozes, telefone,


campainha e até passos (ruídos baixos).

AN02FREV001/REV 4.0

59
 Atender aos obstáculos como escadas, pilares, árvores; seu caminhar
deve permitir-lhe segurança. O uso da bengala permite detectar
obstáculos em percursos.
 A repetição de uma atividade é importante para que se perceba detalhes
e desenvolva o senso de percepção por meio da audição.

Estímulos por meio do tato desenvolvem a percepção, como:

 Texturas variadas como papéis, papelão, plásticos, vidros, tecidos; áspero


ou liso;
 Sensação de umidade ou de calor;
 Formas variadas e geométricas;
 Estados da matéria: sólido, líquido ou vapor, cremoso ou oleoso.
 Temperatura do ambiente: sol, calor, vento, friagem;
 A repetição de uma atividade é importante para que detalhes sejam
percebidos e desenvolva o senso de percepção por meio do tato.

Estímulos pelo olfato permitem orientação espaçotemporal:

 Localização de restaurantes, churrascarias, padarias, pizzarias,


perfumarias são percebidos por meio dos odores;
 A percepção de odores diversos como gasolina, álcool, querosene, cera,
água sanitária, detergente, evita acidentes;
 Cheiros corriqueiros de café, leite fervendo, bolo, feijão, fazem com que
seja percebido se o alimento está pronto;
 Os perfumes, desodorantes, sabonetes e xampus, para sua higiene
pessoal;
 A repetição de uma atividade é importante para que detalhes sejam
percebidos, desenvolvendo o senso de orientação espaçotemporal pelo
olfato.

AN02FREV001/REV 4.0

60
Estímulos por meio da gustação permitem identificar alimentos com base no
paladar:

 Sensações de doces, salgados, azedo, amargo;


 Sensações de sólido ou líquido;
 Temperatura quente ou geladíssima;
 A repetição da atividade é importante para que se percebam detalhes
ligados ao paladar.

Outros estímulos são abordados no trabalho de orientação e mobilidade:

 Sons de vozes humanas;


 Sons característicos de animais: miados, latidos, grunhidos, rinchados,
berros, cocoricós;
 Sons presentes em ambientes diversos como de casa, escolas ou
escritórios, impressoras ou campainhas, geladeiras, máquinas de lavar e
ar-condicionado;
 Estímulos à lateralidade: frente, trás, direita, esquerda, acima, abaixo;
 Ligar ou desligar aparelhos como televisão, rádios, cafeteiras,
liquidificador, microcomputadores, atender telefone fixo ou celular e
realizar ligações telefônicas.

As atividades de orientação e mobilidade têm seu grau de dificuldade


aumentado a cada nível.

AN02FREV001/REV 4.0

61
FIGURA 21

FONTE: Disponível em: <http://www.fcat.com.br/arquivos/image/braile1.JPG>.


Acesso em: 11 jul. 2012.

 Lupa, Óculos e Lente

Não podemos deixar de citar um instrumento utilizado para aumentar letras e


imagens, facilitando a leitura e que pode ser considerado como milenar: a lupa.
Durante muito tempo a lupa foi o único instrumento utilizado para facilitar a leitura e
após a invenção dos óculos passou a ser popular e acessível. É composta de uma
única lente convergente.

FIGURA 22

FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/-


_WyAh3X1lHw/TksorBKf4kI/AAAAAAAAALY/kI1l3m-3BSk/s1600/lupa.jpg>. Acesso em: 11 jul. 2012.

AN02FREV001/REV 4.0

62
Os óculos têm grande importância na história. Desde o ano de 1200 d.C.
passou a ser utilizado para identificar doentes mentais, suas lentes eram planas e
não possuíam hastes até as orelhas.
Aos poucos foi mudando seu design e passou a ser apoiado no nariz, ter
apenas uma haste e até ser modernizado como é hoje. Óculos podem ser
encontrados de diversos tamanhos, cores e modelos.
Para correções ópticas há variados tipos de lentes: acrílicas, com proteção
UV, lente de cristal ou mineral, de policarbonato, orgânicas, multifocal e bifocal,
antirreflexo, antiabrasivo, polarizadas e as solares.

7 O DEFICIENTE E A LEI

A Lei 7.853 de 24 de outubro de 1989 ampara a acessibilidade aos


portadores de deficiências visuais, integração ao mercado de trabalho e educação
adequada e adaptada.
A Coordenadoria para a integração da Pessoa Portadora de Deficiência,
conhecida como “CORDE” é o órgão federal responsável em coordenar e fiscalizar o
cumprimento da lei em nível federal, estadual e municipal.
A Lei nº. 7853/89 trata dos direitos e deveres dos portadores de deficiências,
garantindo que em todo o território brasileiro ações sejam desenvolvidas para
melhorias em sua vida, saúde, educação, trabalho e lazer. Em seu artigo 1º
estabelece: “Ficam estabelecidas normas gerais que asseguram o pleno exercício
dos direitos individuais e sociais das pessoas portadoras de deficiências, e sua
efetiva integração social, nos termos desta Lei”.
Em dezembro de 1996, a Lei nº. 9394/96, a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, garantiu escolaridade gratuita a todos em seu Capítulo V, nos
artigos 58, 59 e 60.
Esta Lei garante o acesso à escolaridade em todos os níveis de ensino e
currículos adaptados e voltados a atender as deficiências.

AN02FREV001/REV 4.0

63
Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos
com necessidades especiais:
I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e
organização específicos para atender às suas necessidades;
II - terminalidade específica para aqueles que não puderem
atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em
virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor
tempo o programa escolar para os superdotados;
III - professores com especialização adequada em nível médio
ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do
ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas
classes comuns;
IV - educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva
integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para
os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo,
mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para
aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística,
intelectual ou psicomotora;
V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais
suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular.

FONTE: Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>.


Acesso em: 10 jul. 2012.

Em 1999, o Decreto Federal nº. 3298/99, que regulamentou a Lei nº. 7853,
garantiu direitos legais a todos os cidadãos brasileiros portadores de deficiência em
solo brasileiro referentes à educação, à saúde, ao lazer, ao trabalho, ao desporto, ao
turismo, aos transportes, às construções públicas, à habitação, à cultura e outros.

AN02FREV001/REV 4.0

64
Este decreto classifica as deficiências amparadas no artigo 4º e especifica a
cegueira no Parágrafo III:

Cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor


olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade
visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os
casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os
olhos for igual ou menor que 60o; ou a ocorrência simultânea de quaisquer
das condições anteriores.

Lei nº. 10.172 de 9 de janeiro de 2001 institui o Dia Nacional da Educação


que será comemorado em 12 de dezembro. Estabelece avaliações nacionais
periódicas e aprova o Plano Nacional da Educação e os Planos Decenais a serem
elaborados em todos os segmentos municipais, estaduais e federais.
A partir deste período houve respeito às deficiências. Todos passaram a
frequentar escolas regulares e conviver em conjunto com pessoas sem deficiências.
Este trabalho de cidadania permitiu entender que é normal ser diferente. Houve uma
abertura em relação a esta situação com campanhas publicitárias e discussões
sobre as deficiências em novelas como “Coração de estudante”, em 2002,
“América”, em 2005, e “Páginas da Vida”, em 2006.
A Resolução CNE nº. 02, de 11 de setembro de 2001, aborda as Diretrizes
para Educação Especial na Educação Básica, assegurando acessibilidade aos
alunos em todos os níveis de escolaridade.
A resolução Garantiu acesso a escolas, aumentou autoestima dos
deficientes e seus familiares, oportunizando a convivência entre todos. Esta
resolução deu início a programas de reconhecimento a participação de todos no
ambiente escolar. Foi importante, pois a presença de diversidades múltiplas nas
escolas passou a ser considerada comum.
Em 2003, a Portaria nº 3.284, de 7 de novembro de 2003, traçou diretrizes
de acessibilidade ao ensino superior para portadores de deficiências. Esta portaria
instituiu requisitos de acessibilidade como vagas em estacionamentos, rampas,
adaptações em estabelecimentos, mudanças estruturais permitindo melhorias de
acessos aos deficientes.

AN02FREV001/REV 4.0

65
PORTARIA N.º 319, de 26 de fevereiro de 1999 trata da
inclusão do sistema Braille na escolarização nacional:

“O MINISTRO DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, no uso de suas


atribuições e considerando o interesse do Governo Federal em adotar
para todo o País, uma política de diretrizes e normas para o uso, o
ensino, a produção e a difusão do Sistema Braille, em todas as
modalidades de aplicação, compreendendo especialmente a Língua
Portuguesa, a Matemática e outras Ciências, a Música e a Informática;
considerando a permanente evolução técnico-científica que passa a
exigir sistemática avaliação, alteração e modificação dos códigos e
simbologia Braille, adotados nos Países de língua portuguesa e
espanhola; e, finalmente, considerando a necessidade do
estabelecimento de permanente intercâmbio com comissões de Braille
de outros países, de acordo com a política de unificação do Sistema
Braille, a nível internacional.

FONTE: Disponível em: <http://ibcserver0c.ibc.gov.br/index.php?blogid=1&query=ubc>.


Acesso em: 24 jun. 2012.

8 INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT E SUA IMPORTÂNCIA

O Instituto Benjamin Constant (IBC) marca o início do trabalho de


atendimento aos cegos no Brasil. Durante o império, em 1854, o imperador D. Pedro
II criou o Imperial Instituto de Meninos Cegos e uma série de trabalhos voltados para
a integração de deficientes visuais na sociedade brasileira.

AN02FREV001/REV 4.0

66
Localizado no Rio de Janeiro, sede do governo, foi inaugurado em 17 de
setembro de 1854. Esta é considerada a primeira ação brasileira, prática voltada a
atender aos deficientes visuais. Vemos como o primeiro trabalho de cidadania desde
os séculos anteriores.
A cegueira sempre existiu e foi causa de preocupação dos governantes. O
jovem cego José Álvares de Azevedo recém-chegado da Europa e tendo estudado
no Instituto Real de Jovens Cegos em Paris, na França, visitou o imperador e contou
seu interesse em abrir uma escola que ensinasse cegos a ler e escrever.
Inicialmente com ações tímidas o Imperial Instituto de Meninos Cegos foi recebendo
e escolarizando crianças e jovens por meio da lupa e do sistema Braille.
Após a grande demanda de alunos, o prédio recebeu ampliações e reformas
e, em 1891, o Instituto Real passou a chamar Instituto Benjamim Constant.
Alfabetizava os cegos e oferecia a conclusão do curso primário. Somente a
partir de 1945 ofereceu o curso ginasial e ofereceu a essa população o ingresso ao
curso secundário e às universidades.
O Instituto Benjamin Constant realiza trabalhos de estimulação precoce e
escolarização, atividades artísticas, físicas e musicais. Também ministra cursos de
capacitação profissional formando profissionais para atuarem com a deficiência
visual.

FIGURA 23

FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/-


53lLyK9SY4M/TacGOme2WzI/AAAAAAAAANQ/xuZxaKShNJ0/s1600/Fachada_IBC+2+c%25C3%25
B3pia.jpg>. Acesso em: 12 jul. 2012.

AN02FREV001/REV 4.0

67
O Instituto Benjamin Constant assessora instituições de ensino em todo o
país. Realiza publicações em Braille e disponibiliza material. Promove palestras e
ministra cursos. Disponibiliza gratuitamente orientação jurídica.
Assista ao vídeo abaixo e conheça a história da professora cega Luiza
Muniz, que foi também aluna do IBC.

Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=dxLk7Y5pYzk>.

9 CONSELHO MUNDIAL PARA BEM-ESTAR DOS CEGOS

Em 1952, foi criado o Conselho Mundial para Bem-Estar dos Cegos com o
objetivo de unificar a simbologia Braille nas áreas de matemática e das ciências e
assim estabelecer um código único de comunicação mundial. O tempo passou e
ainda não se conseguiu a unificação plena.
No Brasil, especialistas realizam estudos e desenvolvem projetos e
estratégias para a unificação do código matemático em todo o território brasileiro.
Para as operações matemáticas, o deficiente visual utiliza instrumentos simples,
porém eficientes como Soroban ou Ábaco Japonês na realização de cálculos. Esse
instrumento chegou ao Brasil no início do século XIX pelos imigrantes japoneses que
o utilizavam para as operações próprias.
Em 1956, Fukutaro Kato divulgou a utilização do Soroban quando publicou
um livro denominado “Soroban pelo Método Moderno”. Kato fundou a Associação
Cultural de Shuzan do Brasil (ACSB) em São Paulo. A ACSB ainda hoje promove
anualmente a realização de campeonatos de Soroban.
Desde as décadas de 1940 e 1950 o Soroban é utilizado por deficientes
visuais para efetuar cálculos. O Soroban utilizado pelos deficientes visuais é
adaptado; suas contas são ajustadas para correrem somente quando manuseadas.

AN02FREV001/REV 4.0

68
FIGURA 24

FONTE: Disponível em:


<http://www.fev.edu.br/noticias/images/upload/soroban_www_unifev_edu_br.jpg>.
Acesso em: 11 jul. 2012.

O Soroban é importante, pois desenvolve raciocínio lógico, estimula a


memória e permite que as operações sejam realizadas com rapidez. A utilização
pelos deficientes visuais em ábacos de cálculos adaptados em Braille contribui para
que eles realizem cálculos e consiste num instrumento único no mundo todo.

10 ACESSIBILIDADE NO BRASIL

Acessibilidade significa facilidade de acesso, de obtenção. Na prática, cada


um tem seu conceito próprio para definir acessibilidade. Para muitos, a
acessibilidade trata da locomoção, do ir e vir do deficiente de qualquer natureza.
Isso para uma independência física e para que o deficiente cada vez mais possa ser
livre para decidir seu caminho, ou seja, libertar-se dos outros em situações
corriqueiras.
Para isso, a Lei da Acessibilidade (Lei 5296/2004) em suas normas
estabelece critérios para garantir a acessibilidade aos deficientes físicos, motores,
visuais e auditivos.

AN02FREV001/REV 4.0

69
A Lei traz informações obrigatórias que devem estar presentes em
construções civis urbanas e em obras públicas para a comunidade, seguindo as
normas de acessibilidade, disponibilizadas pela Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT).
A Lei garante o acesso aos deficientes para utilizar o transporte coletivo,
tratando de normas para que os coletivos como ônibus, avião, trem e metrô
permitam o acesso e o transporte seguro.
Estabelecem prioridade ao atendimento em instituições públicas, privadas,
bancárias, comerciais. Também obriga tratamento diferenciado como assento e
mobiliário, área especial com identificação, terminais de autoatendimento, telefones
públicos sem cabines e tamanhos permitindo acessos aos cadeirantes, por exemplo.
Conheça a Lei da Acessibilidade Brasil, acessando:

Disponível em:
<http://www.acessobrasil.org.br/index.php?itemid=43>.

Assista ao vídeo proposto neste módulo. Ele apresenta uma reportagem


intitulada “A vida de um deficiente visual”, apresentado no programa Mais Você em
12/03/2009.

Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=cnYdZ6J46fU&feature=related>.

FIM DO MÓDULO III

AN02FREV001/REV 4.0

70

Você também pode gostar