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TECNOLOGIA ASSISTIVA:

perspectiva de melhor qualidade de


vida para pessoas com deficiência

Lígia Maria Presumido Braccialli


bracci@marilia.unesp.br
Marília
2007
Conceito

• Deficiência: toda perda ou anormalidade


de uma estrutura ou função psicológica,
fisiológica ou anatômica que gere
incapacidade para o desempenho de
atividade, dentro do padrão considerado
normal para o ser humano (DECRETO No
3.298, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1999)
Incidência

Deficientes %
Países desenvolvidos 10%
Países em desenv 12 a 15%
Brasil 14,5%
São Paulo 11%
Paraíba 19%
< de 14 anos 4,3%
< de 65 anos 54%
4%
8%
DM DF
17%
DA DV 48%

Motora

23%
DV Motor DA DM DF Total

Homem 7.259.074 3.295.071 3.018.218 1.545.462 861.196 15.979.021

Mulher 9.385.768 4.644.713 2.716.881 1.299.474 554.864 18.601.700

Total 16.644.842 7.939.784 5.735.099 2.844.936 1.416.060 34.580.721


incidência de pessoas com deficiência

• maior nos municípios menores,


• nos estados mais pobres
• na população indígena e negra.
• pessoas, com qualquer tipo de comprometimento
sensorial, motor ou cognitivo, apresentam dificuldades
para a realização de atividades funcionais no seu dia-
a-dia ou precisam de auxilio de outros pessoas para
conseguir realizá-las adequadamente.

• Estas dificuldades podem estar relacionadas à


mobilidade, a aprendizagem e a comunicação, e
prejudicam o desempenho delas em atividades
realizadas cotidianamente em casa, na escola, no
lazer ou no trabalho.
Tecnologia assistiva: conceituação

• recursos e serviços que auxiliam pessoas com


deficiências. Recurso entende-se todo e
qualquer item, equipamento ou parte dele,
produto ou sistema fabricado em série ou sob-
medida utilizado para aumentar, manter ou
melhorar as capacidades funcionais de pessoas
com deficiência. O termo serviços significa
auxílios prestados, por profissionais habilitados,
diretamente à pessoa com deficiência para
selecionar, comprar ou usar os recursos acima
definidos (Public Law 100-407, 1988).
Conceituação - Brasil

• Tecnologia assistiva = ajudas técnicas

• os produtos, instrumentos, equipamentos ou tecnologia


adaptados ou especialmente projetados para melhorar a
funcionalidade da pessoa portadora de deficiência ou
com mobilidade reduzida, favorecendo a autonomia
pessoal, total ou assistida. (Lei nº 5296 de 2/12/2004)

• os elementos que permitem compensar uma ou mais


limitações funcionais motoras, sensoriais ou mentais da
pessoa portadora de deficiência, com o objetivo de
permitir-lhe superar as barreiras da comunicação e da
mobilidade e de possibilitar sua plena inclusão social.
(decreto Lei No 3.298, de 20 de dezembro de 1999 )
Tipos de tecnologia assistiva

I - próteses auditivas, visuais e físicas;


II - órteses que favoreçam a adequação funcional;
III - equipamentos e elementos necessários à terapia e reabilitação da
pessoa portadora de deficiência;
IV - equipamentos, maquinarias e utensílios de trabalho especialmente
desenhados ou adaptados para uso por pessoa portadora de
deficiência;
V - elementos de mobilidade, cuidado e higiene pessoal necessários
para facilitar a autonomia e a segurança da pessoa portadora de
deficiência;
VI - elementos especiais para facilitar a comunicação, a informação e a
sinalização para pessoa portadora de deficiência;
VII - equipamentos e material pedagógico especial para educação,
capacitação e recreação da pessoa portadora de deficiência;
VIII - adaptações ambientais e outras que garantam o acesso, a
melhoria funcional e a autonomia pessoal; e
IX - bolsas coletoras para os portadores de ostomia
Classificação

• alta tecnologia engloba equipamentos sofisticados que


necessitam de controle de computadores ou eletrônico,
tais como vocalizadores e sistemas de controle
ambiental. Estes dispositivos são produzidos em
indústrias, geralmente em série e exigem profissionais
especializados para sua confecção.
• Baixa tecnologia são aqueles equipamentos ou recursos
com pouca sofisticação e confeccionados com materiais
de baixo custo disponíveis no dia-a-dia. Estes
equipamentos são produzidos de maneira mais artesanal
e individualizados.
Predominância

• Os equipamentos de baixa tecnologia são


confeccionados pelos próprios familiares e
amigos do usuário ou por profissionais da
fonoaudiologia, fisioterapia, terapia
ocupacional, marceneiros.

• No Brasil parece haver uma


predominância na indicação e confecção
de equipamentos de baixa tecnologia.
Tecnologia assistiva permite que as
pessoas com deficiência

1) tenham um maior controle sobre suas vidas;


2) possam participar e contribuir mais ativamente
nas atividades em casa, no lazer, na escola, e no
ambiente de trabalho, e em suas comunidades;
3) possam interagir mais intensamente com os
indivíduos não-deficientes;
4) tenham as mesmas oportunidades concedidas
às pessoas não-deficientes durante a realização
de exames.
Objetivo da tecnologia assistiva

• maximizar as potencialidades destes


indivíduos, melhorar a independência
funcional, aumentar a interação social e
evidentemente, melhor sua qualidade de
vida e a das pessoas que os cercam
áreas de aplicação da tecnologia assistiva

• Adaptações de equipamentos para auxiliar na


mobilidade
• Adaptações para vida diária e escolar
• Sistemas de comunicação alternativa ou aumentativa
• Acessórios para utilização em computadores
• Sistemas de controle ambiental
• Adaptações estruturais no ambiente doméstico, de
trabalho ou público
• Adaptação de mobiliário que favoreçam a postura
sentada
• Adaptações em veículos
Dispositivo eficiente quando
1) não encorajar ou exigir movimentos inapropriados
durante o seu uso;
2) não despender grande gasto energético durante a
utilização;
3) ser seguro e confortável para o usuário;
4) ter baixo custo e alta resolutividade das necessidades
do usuário;
5) ser de fácil manutenção e uso;
6) ser personalizado às necessidades do usuário;
7) ser durável;
8) ter boa aceitação social ou invisibilidade relativa.
Prescrição do dispositivo deve considerar

• A qualidade de vida do usuário;


• O desempenho do usuário com a
aquisição do equipamento;
• a eficiência do dispositivo em relação à
diminuição do tempo gasto para a
execução da atividade;
• o custo do mesmo.
Passos para confecção de um dispositivo

1) conhecer as necessidades do usuário;

2) elaborar um projeto;

3) construir o recurso;

4) avaliar o uso;

5) acompanhar o uso.
(MANZINI, 2003)
Atributos necessários a um recurso

• possibilitar a comunicação com os outros;


• melhorar a mobilidade;
• melhorar a segurança física;
• possibilitar a autonomia, confiança,
competência e independência pessoal;
• melhorar as habilidades para a inserção
no mercado de trabalho e na comunidade
Abandono da tecnologia assistiva

• mais de 30% de todos os dispositivos


adquiridos são abandonados pelo usuário
entre o primeiro ano e o quinto ano de
uso, e alguns não chegam nem mesmo a
ser utilizado (VERZA et al., 2006;
GOODMAN, TIENE, LUFT, 2002;
PHILLIPS, ZAO, 1993; SCHERER, 2002).
Motivos que levam ao usuário a abandonar o recurso

1. falta de participação do usuário durante a seleção


do dispositivo;

2. desempenho ineficaz do dispositivo;

3. mudanças nas necessidades do usuário;

4. falta do treinamento do usuário;

5. dispositivo inadequado às necessidades do usuário;


Motivos que levam ao usuário a abandonar o recurso

6. dispositivos de uso complicado;

7. aceitação social do dispositivo;

8. falta de motivação; para o uso do dispositivo;

9. falta de treinamento e conhecimento do dispositivo;

10. dispositivos com aparência, peso e tamanho não


estéticos.
Abandono do recurso

• conotação negativa pela sociedade ou se


forem estigmatizantes mesmo se o
desempenho funcional do usuário
melhorou.

• quanto maior a invisibilidade do recurso e


a aceitação deste pela comunidade
menor a probabilidade de ser abandonado
Abandono do dispositivo provoca impacto negativo

• qualidade de vida do usuário;


• econômico
• satisfação profissional da equipe
envolvida na prescrição.
Exemplos de recursos e equipamentos
de baixa tecnologia UNESP - Marília

Caderno de elástico - Eduardo José Manzini


Caderno de madeira - Eduardo José Manzini
Pasta de comunicação alternativa - Débora Deliberato
Mobiliário adaptado confeccionado em madeira - Franciane de Oliveira e
Lígia Maria Presumido Braccialli
Parapodium utilizado no Centro de Estudo da Educação e Saúde
Tala em PVC – Camilla Hallal, Lígia Presumido
• Tala em PVC –
Camilla Hallal,
Lígia Presumido
TANGRAM IMANTADO - Marilãine Bonaldo e Mônica Gerdullo
Pesquisas na UNESP - Marília

RECURSO E ESTRATÉGIA PARA O ENSINO DE


ALUNOS COM DEFICIÊNCIA: PERCEPÇÃO DE
PROFESSORES (REGANHAM; BRACCIALLI, 2006)
• Professores relataram a necessidade de modificação nos
procedimentos de ensino (recursos e estratégias) para o
aprendizado do aluno deficiente inserido em sua sala do
ensino regular, porém muitas não sabem realizar as
modificações;

• as modificações na aula deveriam ser diferentes


dependendo das características do aluno e das situações
de ensino,
Influência do uso de peso no desempenho de MMS
de alunos com pc (AUDI; BRACCIALLI, 2006)
Influência do uso de peso no desempenho de MMS de
alunos com pc (AUDI; BRACCIALLI, 2006)

• Uso de pulseira com peso em alunos com


encefalopatia não-progressiva que
apresenta movimentos involuntários,
melhora o desempenho do indivíduo
durante a realização de atividades
funcionais de apontar
Influência do assento no desempenho de alunos com pc
espástica (BRACCIALLI, L.M.P.; OLIVEIRA, F.; BRACCIALLI, A.C.; SANKAKO, A,
2007)

cadeira com assento madeira cadeira com assento de


lona
Influência do assento no desempenho de alunos com pc espástica
(BRACCIALLI, L.M.P.; OLIVEIRA, F.; BRACCIALLI, A.C.; SANKAKO, A, 2007)

• Atividades realizadas em assento de lona


aumentam o tempo de execução;
• Atividades realizadas em assento de lona
aumentam a distância percorrida;
• Assento de lona menor o pico de pressão e
maior a área de distribuição de pressão;
• Não existem diferenças estatísticas na atividade
eletromiográfica de músculos abdominais e
paravertebrais e na força de preensão palmar
Influência da textura do recurso pedagógico no desempenho
de MMSS em pc espástico (PAIVA; BRACCIALLI, 2007)
Influência da textura do recurso pedagógico no desempenho de MMSS
em pc espástico (PAIVA; BRACCIALLI, 2007)

• Diminuição da força de preensão palmar na


utilização de recursos com texturas ásperas;
• Recurso com textura lisa melhora a trajetória do
movimento executado.
• Recurso com textura lisa diminui o tempo
despendido para a realização da tarefa
mostrando maior eficiência
CONCLUSÃO

• O acesso à tecnologia assistiva diminui o


impacto que as limitações funcionais impõem à
vida de uma pessoa com deficiência, pois
proporciona uma participação mais efetiva nas
atividades de lazer, de trabalho, escolares e
domiciliares. Esta maior interação à sociedade e
a maior independência conquistada com o uso
de uma tecnologia interferem na auto-estima e
na qualidade de vida destas pessoas.
• Apesar do uso de uma tecnologia aumentar a
autonomia de uma pessoa com deficiência, ela
pode, também, ser identificada pelo usuário como
um símbolo de sua incapacidade e, assim, diminuir
sua auto-estima.

• a eficiência e o uso efetivo do equipamento pelo


usuário depende de como ele e a sociedade que o
cerca aceitam e compreendem a necessidade do
mesmo em suas atividades.
REFERÊNCIAS

AUDI, M. Estudo comparativo do comportamento motor de membro superior em


encefalopatas que fazem uso de pulseira estabilizadora. Dissertação (Mestrado em
Educação) - Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista,
2006

BRACCIALLI, L. M. P., MANZINI, J. E. Considerações teóricas sobre a posição


sentada do aluno com paralisia cerebral espástica: implicações orgânicas e
indicação de mobiliários. In: Marquezine, M.C. e colaboradores. Educação física,
atividades motoras e lúdicas, e acessibilidade de pessoas com necessidades
especiais. Londrina: Eduel, 2003. Coleção Perspectivas Multidisciplinares em
Educação Especial. p.73- 86.
BRASIL. Secretaria de Educação Especial. Portal de ajudas técnicas para
educação: equipamento e material pedagógico para educação, capacitação e
recreação da pessoa com deficiência física: recursos pedagógicos adaptados.
Secretaria de Educação Especial - Brasília: MEC: SEESP, 2002, fascículo 1. 56p.
DELIBERATO, D.; MANZINI, E. J. Recursos para comunicação alternativa. IN:
BRASIL. Secretaria de Educação Especial. Portal de ajudas técnicas para a
educação: equipamento e material pedagógico para a educação, capacitação e
recreação da pessoa com deficiência física: recursos para comunicação alternativa.
Secretaria de Educação Especial – Brasília: MEC: SEESP, 2004, fascículo 2. 52p.
DECRETO Nº 5296 de 2/12/2004. Regulamenta as Leis nos 10.048, de 8 de novembro de
2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e 10.098, de 19
de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a
promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade
reduzida, e dá outras providências. Diário Oficial da União de 3/12/2004. Disponível
em: <http://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/legis1/loc_legis.asp>.
DECRETO No 3298 de 20/12/1999.Regulamenta a Lei no 7.853, de 24 de outubro de
1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras providências. Diário Oficial
da União de 21/12/1999. Disponível em: <http://www.cedipod.org.br/dec3298.htm.
GOODMAN, G.; TIENE, D; LUFT, P. Adoption of Assistive Technology for computer
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LOUISE-BENDER PAPE, T.; KIM, J.; WEINER, B. The shaping of individual meanings
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Rehabilitation, 2002; v. 24, n.. 1/2/3, p. 5 - 20
LUPTON, D.; SEYMOUR, W. Technology, selfhood and physical disability. Social
Science & Medicine, 2000, v. 50, p. 1851-62.
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PHILLIPS B, ZHAO, H. Predictors of assistive technology
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SCHERER, M The change in emphasis from people to person:
introduction to the special issue on Assistive Technology. Disability
and Rehabilitation, 2002; v 24, n. 1/2/3, p. 1-4.
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