Você está na página 1de 17

Slide 1 - CONCEITO DE DEFICIÊNCIA SEGUNDO A d) deficiência mental: funcionamento intelectual

CONVENÇÃO DA ONU E OS CRITÉRIOS DA CIF significativamente inferior à média, com manifestação antes
Considerar a expansão da Educação Inclusiva como uma dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais
construção social requer, em primeiro lugar, trabalhar sobre áreas de habilidades adaptativas, tais como: 1. comunicação;
as diferentes interpretações elaboradas acerca da baixa 2. cuidado pessoal; 3. habilidades sociais; 4. utilização dos
matrícula de alunos com deficiência na escola regular. recursos da comunidade; 5. saúde e segurança; 6.
As políticas governamentais supõem sempre um cenário de habilidades acadêmicas; 7. lazer; e 8. trabalho; e) deficiência
tensão entre universalidade e particularidade; não só é múltipla - associação de duas ou mais deficiências; e
necessário construir consensos acerca dos princípios gerais –
como a igualdade e a qualidade da Educação Inclusiva-, mas CONVENÇÃO DA ONU SOBRE OS DIREITOS DAS
também acerca dos modos de concretizá-los – a Educação PESSOAS COM DEFICIÊNCIA - 2008 Artigo 1 Propósito
Inclusiva pode enfatizar a aprendizagem, a socialização, a O propósito da presente Convenção é promover, proteger e
assegurar o exercício pleno e equitativo de todos os direitos
formação para o exercício da cidadania e preparar para a
humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas
inserção no mundo do trabalho.
com deficiência e promover o respeito pela sua dignidade
DECRETO N• 3298/99 - REGULAMENTA A LEI inerente. Pessoas com deficiência são aquelas que têm
7853/89 I - deficiência – toda perda ou anormalidade de uma impedimentos de longo prazo de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas
estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica
barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na
que gere incapacidade para o desempenho de atividade,
sociedade em igualdade de condições com as demais
dentro do padrão considerado normal para o ser humano; II - pessoas.
deficiência permanente – aquela que ocorreu ou se A deficiência é conceituada como a repercussão imediata da
estabilizou durante um período de tempo suficiente para não doença sobre o corpo, impondo uma alteração estrutural ou
permitir recuperação ou ter probabilidade de que se altere, funcional ao nível tecidual ou orgânico.
apesar de novos tratamentos; e III - incapacidade – uma
redução efetiva e acentuada da capacidade de integração SEQUÊNCIA DE CONCEITOS CIDID 1980
social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios A incapacidade é a redução ou falta de capacidade de
ou recursos especiais para que a pessoa portadora de realizar uma atividade num padrão considerado normal para
deficiência possa receber ou transmitir informações o ser humano, em decorrência de uma deficiência.
necessárias ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho de Doença/distúrbio -> Deficiências -> Incapacidades ->
desvantagens
função ou atividade a ser exercida.
A desvantagem representa um impedimento resultante de
DECRETO N• 5296/04 - REGULAMENTA AS LEIS uma deficiência ou incapacidade, que lhe limita ou lhe
10.048 E 10.098/2000 l - Pessoa “portadora” de deficiência - impede o desempenho de uma atividade considerada normal,
Pessoa com mobilidade reduzida, aquela que, não se tendo em atenção a idade, o sexo e os fatores s ócios
enquadrando no conceito de pessoa portadora de deficiência, culturais para o indivíduo.
tenha, por qualquer motivo, dificuldade de movimentar-se, CONCEITOS IMPORTANTES (OMS-2001)
permanente ou temporariamente, gerando redução efetiva da “No contexto da saúde, Incapacidade é um termo abrangente
mobilidade, flexibilidade, coordenação motora e percepção. para deficiências, limitações em atividades e restrições à
§ 1o Considera-se, para os efeitos deste Decreto: I - pessoa participação. Este termo denota os aspectos negativos da
“portadora” de deficiência: que possui limitação ou interação entre um indivíduo (com um estado ou condição
incapacidade para o desempenho de atividade e se enquadra de saúde) e os fatores contextuais do indivíduo (fatores
nas seguintes categorias: ambientais e pessoais)."
a) deficiência física: alteração completa ou parcial de um ou
mais segmentos do corpo humano, acarretando o
comprometimento da função física, apresentando-se sob a
forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia,
tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia,
hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro,
paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade
congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e
as que não produzam dificuldades para o desempenho de
funções;
b) deficiência auditiva: perda bilateral, parcial ou total, de
quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por
audiograma nas freqüências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e
3.000Hz;
c) deficiência visual: cegueira, na qual a acuidade visual é
igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor
correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual MUDANÇAS NO BPC – LEI N• 12.470/31 DE AGOSTO
entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção DE 2011
óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo A lei define que pessoa com deficiência é aquela que tem
visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60o; ou a impedimentos de longo prazo (pelo menos 2 anos) de
ocorrência simultânea de quaisquer das condições natureza física, mental, intelectual ou sensorial. Os
anteriores; impedimentos podem obstruir sua participação plena e
efetiva na sociedade, em igualdade de condições com as - Envolver pais e membros da família. Pais e professores
demais pessoas. deveriam decidir em conjunto sobre as necessidades
Razões para desenvolver um sistema educacional mais educacionais de uma criança. Crianças se saem melhor
inclusivo. Educacional. Educar todas as crianças juntas quando as famílias se envolvem, e isso custa muito pouco.
significa que as escolas terão que desenvolver formas de •Envolver a comunidade em atividades relacionadas à
ensino que respondam às diferenças individuais, educação de crianças com deficiência. Isso tem mais
beneficiando todas as crianças. Social As escolas inclusivas chances de sucesso do que decisões de políticas que venham
podem mudar atitudes para com aqueles que de alguma de cima para baixo. •Desenvolver ligação entre serviços
forma são “diferentes”. Isso colaborará na criação de uma educacionais e serviços de reabilitação do sistema público –
sociedade justa sem discriminação. Econômica. Estabelecer e outros serviços de reabilitação, quando eles existirem.
e manter escolas que educam todas as crianças juntas será Dessa forma, recursos escassos podem ser usados de modo
mais barato do que criar um sistema complexo de diferentes mais eficiente e, educação, assistência médica e serviços
tipos de escolas especializadas em diferentes grupos de sociais podem ser integrados de forma apropriada.
crianças. •Encorajar adultos com deficiência e organizações de
pessoas com deficiência a se tornarem mais envolvidos na
RENDIMENTO ACADÊMICO promoção de acesso à educação de crianças com deficiência.
A análise dos dados obtidos para o Rendimento Acadêmico
permitiu a identificação de quatro níveis de ENSINO FUNDAMENTAL “ÚNICO” E AS BARREIRAS
desenvolvimento cognitivo: 1) Nível DI (5%): crianças com INVISÍVEIS
enorme dificuldade de aprendizagem; 2) Nível DA (19%): Transporte Escolar para alunos X Pessoas com Deficiência
crianças com dificuldade de aprendizagem; 3) Nível NO: Material Escolar para alunos X Pessoas com Deficiências
(56%) crianças com rendimento acadêmico dentro da faixa Professor para Ensino Regular X Pessoa com Deficiência
esperada; 4) Nível AV (11%): crianças com rendimento Sistema Geral de Educação X Apoio Escolar
acadêmico acima do esperado e 5) Nível AVV (9%):
crianças com rendimento acadêmico muito acima do MUDANÇA DE PARADIGMA
esperado. A Educação Inclusiva deveria constituir um eixo transversal
Resultados 24% das crianças apresentam dificuldades de do projeto político pedagógico em vez de um apêndice. A
aprendizado 5% das crianças apresentam dificuldades expectativa depositada na elaboração de um projeto integral,
severas 20% das crianças estão acima da média 9% das universal e transversal implica alcançar níveis importantes
crianças estão muito acima da média de cooperação interinstitucional, intersetorial e
O que é necessário fazer... Educação Inclusiva como uma interdisciplinar.
política sistêmica, que permite concretizar a igualdade de
oportunidades dos alunos com deficiência. Desenvolvimento MUDANÇAS NO BPC – LEI N• 12.470/31 DE AGOSTO
de propostas que avancem em direção ao que é preconizado DE 2011
pela Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com “(LOAS) Art. 21. ..... § 4º A cessação do benefício de
Deficiência, com diretrizes e metas claras, bem como do prestação continuada concedido à pessoa com deficiência
Atendimento Educacional Especializado, aprovado pela não impede nova concessão do benefício, desde que
CNE/CEB. A questão da acessibilidade arquitetônica é um atendidos os requisitos definidos em regulamento.” (NR)
tema bastante crítico, mas a acessibilidade pedagógica, de “Art. 21-A. O benefício de prestação continuada será
comunicação e informação não é menos importante. suspenso pelo órgão concedente quando a pessoa com
A articulação de uma rede dos professores da educação deficiência exercer atividade remunerada, inclusive na
especial com os da escola regular são fundamentais para o condição de microempreendedor individual.
compartilhamento e busca de soluções conjuntas, rompendo § 1o Extinta a relação trabalhista ou a atividade
o hiato entre “especial” e “comum”. empreendedora de que trata o caput deste artigo e, quando
for o caso, encerrado o prazo de pagamento do seguro-
SERVIÇOS ESPECIALIZADOS desemprego e não tendo o beneficiário adquirido direito a
•Aumentar o investimento na infraestrutura e nos qualquer benefício previdenciário, poderá ser requerida a
funcionários das escolas para que a as crianças com continuidade do pagamento do benefício suspenso, sem
deficiência, identificadas com necessidades especiais de necessidade de realização de perícia médica ou reavaliação
educação, obtenham o suporte necessário durante o processo da deficiência e do grau de incapacidade para esse fim,
de educação formal; •Disponibilizar terapias de fala e respeitado o período de revisão previsto no caput do art. 21.
linguagem, terapias ocupacionais e fisioterapias para § 2o A contratação de pessoa com deficiência como
estudantes com deficiência moderada ou severa. aprendiz não acarreta a suspensão do benefício de prestação
continuada, limitado a 2 (dois) anos o recebimento
Preferencialmente usar serviços de reabilitação ou de
concomitante da remuneração e do benefício.”
manutenção funcional existentes na comunidade, com a
- Altera os arts. 16, 72 e 77 da Lei no 8.213, de 24 de julho
necessária interlocução quanto a assuntos educacionais. Se de 1991, que dispõe sobre o Plano de Benefícios da
não houver esses recursos deve-se tentar desenvolver esses Previdência Social, para incluir o filho ou o irmão que tenha
serviços de forma gradual, no âmbito da saúde. •Considerar deficiência intelectual ou mental como dependente e
introduzir o auxiliar de professor ou o facilitador (cuidador), determinar o pagamento do salário-maternidade devido à
para prover um suporte especial para crianças com empregada do microempreendedor individual diretamente
deficiência, ao mesmo tempo, assegurando que isso não os pela Previdência Social;
isola dos outros alunos. - Altera os arts. 20 e 21 e acrescenta o art. 21-A à Lei no
8.742, de 7 de dezembro de 1993 - Lei Orgânica de
PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA E DA COMUNIDADE Assistência Social, para alterar regras do benefício de
prestação continuada da pessoa com deficiência.
BPC NA ESCOLA Para realização do diagnóstico é necessário distinguir os
Crianças com deficiência, beneficiárias do Benefício de sintomas do TDAH dos comportamentos esperados para a
Prestação Continuada da Assistência Social – ÂMBITO fase de desenvolvimento infantil, tais como crianças ativas,
FEDERAL: correrias e barulho excessivo.
- Frequência escolar: o índice de presença desses jovens Deve-se diferenciar o transtorno de comportamentos
passou de 21% para 53% entre 2007 e 2010. - Há quatro apresentados por crianças provenientes de ambientes
anos, dos 375,3 mil beneficiários, 78 mil estudavam. desorganizados.
- Em 2010, essa proporção saltou para 229 mil em 435,9 mil
beneficiários O tratamento do TDAH
- Brasil: em 2.622 municípios O tratamento do TDAH requer uma abordagem global e
- Parceria entre os ministérios do Desenvolvimento Social, interdisciplinar, que inclui intervenções farmacológicas e
da Educação, da Saúde e a Secretaria Especial de Direitos psicossociais.
Humanos da Presidência da República, o BPC na Escola
desenvolve ações que estimulam a matrícula, na rede de Sugestões práticas que viabilizam facilitar o manejo
ensino, de estudantes de até 18 anos. comportamental da criança ou adolescente em sala de aula
( Barkley 1998)
BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA - BPC 1- Adaptar a quantidade de tarefas em sala de aula à
BPC – Garantido pela Constituição, o Benefício de capacidade de atenção da criança.
Prestação Continuada equivale ao pagamento mensal de um 2- Modificar estilo de ensino ( incluir atividades que
salário-mínimo a idosos a partir de 65 anos e a pessoas com envolvem participação).
deficiência. Atualmente, mais de 3,7 milhões de pessoas 3- Utilizar regras externas ( ex. Posteres, auto-verbalização)
recebem o benefício, incluindo crianças e adolescentes. 4- Fornecer reforçamento frequente e utilizar custo de
resposta.
SLIDE 2 TDAH-TRANSTORNO DO DÉFICIT DE 5- Utilizar consequências imediatas para o comportamento.
ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE 6- Utilizar reforços de maior magnitude ( ex. sistema de
fichas)
INTRODUÇÃO 7- Estabelecer limite de tempo para conclusão de tarefas
O transtorno de déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) 8-Se as estratégias anteriores não forem efetivas, considerar
constitui um problema de saúde mental que tem três reunião com os pais e encaminhamento da criança
características básicas: a desatenção, a 9- Coordenar as estratégias utilizadas na escola com aquelas
hiperatividade/agitação e impulsividade, causando grande utilizadas pelos pais em casa.
impacto na vida da criança ou adolescente portador e das 10- Controlar o próprio estresse e frustração ao lidar com a
pessoas que fazem parte do seu convívio. criança.
Pode gerar dificuldades emocionais e de relacionamento
familiar e social, bem como dificuldade de aprendizagem e SLIDE 3 - T E A – Transtorno do Espectro Autista
baixo rendimento escolar. O que é AUTISMO?
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um
CARACTERÍSTICAS DO TDAH TRANSTORNO DO NEURODESENVOLVIMENTO que
Hiperatividade: É o aumento da atividade motora, a pessoa influencia no comportamento do indivíduo. Os sintomas
hiperativa é inquieta parecendo que é elétrica. Raramente variam entre cada pessoa autista, mas há alguns fatores em
consegue ficar sentada, mas quando é obrigada, se revira, comum que ajudam a identificá-lo.
bate com os pés, mexe com as mãos ou então acaba
adormecendo. As comunidades médica e científica definem que o TEA
Impulsividade: É a deficiência no controle dos impulsos, é apresenta três características fundamentais que podem se
“agir antes de pensar”. Podemos entender impulso como a manifestar isoladamente ou em conjunto. São elas:
resposta automática e imediata a um estímulo. - dificuldade de comunicação;
- dificuldade de socialização;
Prevalência - padrão de comportamento restritivo e repetitivo
A prevalência dos dados que a maioria dos diagnósticos são (estereotipias).
encontrado no sexo masculino. Relatos que 3 a 7 % de
crianças em idade escolar infantil apresentam TDAH. A estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) de
Cerca de 50% de crianças diagnosticadas com TDAH que 1% da população mundial tem Autismo, dessa forma,
podem ter outras comorbidades. podemos estimar que existam mais de 2 milhões de autistas
no país, ou melhor, mais de 2 milhões de famílias que são
O diagnóstico de TDAH impactadas pelo Autismo no Brasil.
O diagnóstico de TDAH é clínico, para que se elaborar um
diagnóstico correto desta condição são necessárias várias Outros distúrbios e a definição de T E A segundo o DSM-5
avaliações, muitas vezes como abordagem multidisciplinar. Desde 1952, a Associação Americana de Psiquiatria
A avaliação clínica com médico deve coletar informações (APA) faz a publicação do Manual Diagnóstico e Estatístico
não apenas da observação da criança durante a consulta, mas de Transtornos Mentais (DSM). Esse material tornou-se uma
também realizar entrevista com os pais, solicitar referência na classificação de diagnósticos de transtornos
informações da escola que a criança frequenta sobre seu mentais, um guia que passou a ser utilizado por médicos de
comportamento, sociabilidade e aprendizado, além da todo o mundo. Com o avanço dos estudos, à medida que
utilização de escalas de avaliação da presença e gradativa novas descobertas científicas foram surgindo, versões
dos sintomas, bem como solicitar a avaliação atualizadas do manual foram anunciadas.
neuropsicológica para a corroboração do diagnóstico.
A 5ª e última edição do Manual, o DSM-5, foi lançada em O autismo não é uma doença, mas uma condição
2013. Nessa versão, os transtornos do neurológica. Por isso, não tem cura!
neurodesenvolvimento foram combinados em um único Mas, independente disso e do nível de Autismo,a pessoa
diagnóstico, chamado de “Transtorno do Espectro Autista deve ser acompanhada por profissionais especializados. Os
(TEA)”. Portanto, por apresentarem características mais indicados são fonoaudiólogos, terapeutas
comportamentais parecidas, as condições que eram ocupacionais, psicoterapeutas e nutricionistas (em casos de
anteriormente vistas de forma independente passaram a seletividade alimentar).
fazer parte do mesmo espectro. Os tratamentos e medicamentos prescritos por esses
O DSM-5 estabeleceu três níveis de gravidade do TEA: profissionais podem ajudar a diminuir os prejuízos causados
nível 1, 2 e 3. Segundo Joice Andrade, neuropsicóloga e pelo transtorno, possibilitando uma melhor interação,
integrante da equipe do Jade Autism, “justamente por se comunicação e o desenvolvimento de habilidades para
tratar de um espectro, o transtorno passou a ter níveis de realizar as atividades do dia a dia, adquirindo a autonomia
classificação”. necessária para a vida adulta.

Níveis do Autismo: No dia a dia da criança é possível perceber ações que


apontam para esses desvios comportamentais. Alguns
NÍVEL 1 exemplos são:
- Antes da publicação do DSM-5, o nível 1 era conhecido Atraso no aparecimento da fala
popularmente como “AUTISMO LEVE”. Pessoas com o Dificuldade de estabelecer contato visual e físico
nível 1 apresentam menos prejuízos se comparados aos
outros níveis de Autismo e justamente por isso, Hipersensibilidade, medo ou irritabilidade a certos sons e texturas
normalmente demoram mais tempo para serem
diagnosticadas. Dificuldade ou desinteresse em brincar com outras crianças
- Os sintomas incluem desinteresse ou dificuldade de iniciar,
interações sociais, respostas atípicas, falência na Isolamento social
conversação e na tentativa de fazer amigos. Além disso, Comportamentos repetitivos ( estereotipias)
pode mostrar dificuldade para troca de atividades, problemas
Rotinas e rituais elaborados e inflexíveis
com organização e planejamento.
Fixações e fascinações direcionadas e intensas
NÍVEL 2 Poucas expressões faciais e gestos
Pessoas diagnosticadas com nível 2 têm prejuízos mais Ansiedade excessiva.
aparentes, podendo precisar de suporte substancial, muitos Observação: A criança não precisa ter todos os sinais para
ainda conseguem ter alguma independência. Seus desafios ser diagnosticada com Autismo (TEA). Devido à amplitude
podem incluir um maior déficit na comunicação; eles podem do espectro, nem todas as pessoas vão apresentar as mesmas
ser verbal ou não verbal, eles podem ter aflição para mudar características.
o foco ou ação, e também de ambientes.Tem
comportamentos estereotipados, alguns têm sensibilidades à Diagnóstico
luz e aos sons.
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma
NÍVEL 3 condição que exige diagnóstico precoce. Quanto antes o
Pessoas diagnosticadas com o Nível 3, o mais crítico do Autismo for detectado, mais fácil conter os efeitos, o que
espectro, apresentam graves prejuízos no funcionamento. garante um bem-estar maior para a pessoa.
Por isso, podem necessitar de muito suporte, até mesmo para Após observar desvios no comportamento da
realizar as tarefas de autocuidado do dia a dia, como a criança, devemos comunicar aos responsáveis para
higiene pessoal. encaminhá-la aos especialistas. Entre eles pediatras,
A interação social dessas pessoas é muito limitada, com neurologistas e psiquiatras infantis. Estes profissionais
respostas mínimas e pouquíssimas sensibilidade a atuarão para confirmar o diagnóstico e irão orientar os pais
determinados estímulos sensoriais. A dificuldade para lidar em relação aos próximos passos.
com mudanças fica ainda mais extrema, fazendo com que a O diagnóstico do Autismo é um processo singular de
alteração de ação, ambiente gere ainda mais aflição. cada paciente. Ainda que existam padrões de sintomas e
Além disso, apresentam comportamentos repetitivos ainda comportamentos, é importante lembrar que o profissional
mais significativos, grande prejuízo intelectual e de adequado e a documentação correta ajudam muito. Isso se
linguagem, podendo até mesmo não se comunicar dá justamente pela ampla gama de sinais do TEA e a
verbalmente. importância de identificar padrões.
Para o diagnóstico, muitos profissionais realizam uma
Identificando o AUTISMO entrevista com os pais para entender o comportamento da
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é identificado criança. Também é comum recorrerem a fotos, vídeos e
pelos pais, professores e atestado pelos médicos até o depoimentos dos professores. Devido à possibilidade de ser
terceiro ano de vida da criança, período em que os primeiros uma condição genética, alguns profissionais buscam
sinais do Autismo costumam aparecer. investigar outros casos de autismo na família da criança.
As principais características que indicam a possibilidade de Com a identificação desses sinais, seguidos por um
a criança ser autista são dificuldade de comunicação, diagnóstico clínico, é possível encaminhar a pessoa para os
dificuldade de socialização, comprometimento cognitivo, tratamentos adequados.
padrões de comportamento restritivos e repetitivos .
Tratamento
Tratamento
O autismo não é uma doença, mas uma condição lado de outra de caminhão. Mostrar uma figura igual à
neurológica. Por isso, não tem cura! que está sobre a mesa, com a mesma bola desenhada.
Mas, independente disso e do nível de Autismo,a pessoa Dar a ordem “me dê a bola igual”. Aguardar uns
deve ser acompanhada por profissionais especializados. Os instantes. Se a criança não executar a ordem, repetir e
mais indicados são fonoaudiólogos, terapeutas aguardar. Na terceira ordem, executar o movimento
ocupacionais, psicoterapeutas e nutricionistas (em casos de segurando a mão da criança, fazendo com que
seletividade alimentar). entregue a figura da bola. Reforçar e gradativamente,
Os tratamentos e medicamentos prescritos por esses reduzir a ajuda física.
profissionais podem ajudar a diminuir os prejuízos causados - - Repetir com as demais figuras que você trouxe para
pelo transtorno, possibilitando uma melhor interação, parear.
comunicação e o desenvolvimento de habilidades para - Sempre usar um reforçador.
realizar as atividades do dia a dia, adquirindo a autonomia Compartilhar o mesmo espaço com outras crianças tem por
necessária para a vida adulta. objetivo favorecer a integração social, através do contato
com outras crianças no mesmo ambiente.
Atividades para ajudar alunos com AUTISMO: procedimentos:
Fazer contato visual: Esta atividade tem por objetivo - levar a criança para uma sala de brinquedos ou
estimular o contato visual e favorecer a atenção da criança. atividades, entretê-la com algo do seu interesse.
Procedimentos: conduzir outras crianças para o mesmo ambiente.
- Sentar-se à frente da criança, dizer seu nome e aguardar - inicialmente o objetivo é apenas permanecer no mesmo
que ele olhe para o professor. Auxiliar se necessário, e ambiente, mesmo sem interagir. caso haja resistência,
imediatamente dar o reforço. incentivar, não permitir sair do ambiente pelo menos
- Enquanto a criança brinca, diz o seu nome e aguarda por 15 minutos.
que ele olhe para você. Auxiliar se necessário, e - quando o primeiro objetivo for atingido, o próximo será
imediatamente reforçar. aproximar as crianças, mantendo-as em brincadeiras,
- - Sentar-se à frente da criança, dizer “ Olhe para mim” e cada qual com seu brinquedo, não esquecer de sempre
aguardar que ele olhe para o professor. Auxiliar se elogiar
necessário, e imediatamente dar o reforço. - propor uma atividade a distância, mas compartilhada e
- Enquanto a criança brinca, diz “olhe para mim” e mediada pelo adulto.
aguarde que ele olhe para você. Auxiliar se necessário, - Gradativamente, realizar atividades variadas e propor a
e imediatamente reforçar. inclusão de pelo menos três crianças na brincadeira.
Os reforçadores podem ser o professor falar muito bem, - sempre usar um reforçador.
bater palmas.
Atividades do dia- a- dia que chamam atenção das crianças
Lavar as mãos: tem como objetivo executar o movimento autistas:
de lavar as mãos com independência, desde abrir e a - Pescaria (pote com água, tampinha de garrafa pet e
torneira, incluindo o uso do sabonete, esfregar as mãos, pregadores);
lavar, fechar a torneira e secar as mãos. - Caixa tátil;
Procedimentos: - Quebra cabeça;
- Com as mãos sobre as mãos da criança, abrir a torneira. - Acerte o alvo;
Dizer “abra a torneira”. Aos poucos, tirar sua mão, para - Jogos diversos (boliche, jogo da velha, jenga, jogo da
que a criança execute o movimento sozinho. memória, dominó etc.);
- -Pegar o sabonete e colocar nas mãos da criança, - Livros sensoriais e sonoros;
enquanto diz: “esfregue”. Quando perceber que ela - Peças de montar diversos;
compreende a ordem, dizer “pegue o sabonete”, e - Atividade de circuitos.
depois “esfregue”. Gradativamente, tirar a ajuda física e - Pranchas de formas;
manter somente a ajuda verbal, enquanto for necessário. - Sequências lógicas;
- - E assim sucessivamente com “feche a torneira” e - Dados de cores;
“secar as mãos”. - -Pranchas de psicomotricidade;
- Sempre usar um reforçador. - Massinha de eva, massinha de modelar; massa de areia
colorida;
Alimentação: esta atividade tem por objetivo aumentar a - Brincadeiras com fantoches.
qualidade do processo alimentar. - Sempre usar um reforçador.
Procedimentos:
- Preparar o prato da criança, colocando pouca SLIDE 4 - Compreendendo a Classificação Internacional
quantidade de alimento, bem-disposto e visualmente de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde – CIF
atrativo. Chamar a criança pelo nome, dizendo “vamos (OMS/ONU, 2001) e suas interfaces com a Convenção
comer”. Sentar-se junto a criança, mantendo uma colher sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU,
em frente a criança, estimulando-a a comer sozinha. 2006).
- - Auxiliar a criança a pegar a própria colher, colocando Preâmbulo:
sua mão sobre a dela, e levando a colher à boca. Tirar e) Reconhecendo que a deficiência é um conceito em
sua mão e estimulando-a pegar a colher. evolução e que a deficiência resulta da interação entre
- Sempre usar um reforçador. pessoas com deficiência e as barreiras devidas às atitudes e
- Fazer pareamento de figuras: tem como objetivo ao ambiente que impedem a plena e efetiva participação
parear figuras com figuras. dessas pessoas na sociedade em igualdade de oportunidades
Procedimentos: com as demais pessoas, […]
- Colocar, sobre a mesa, UMA FIGURA DE BOLA ao
Art. 1º – Propósito Pessoas com deficiência são aquelas que ► Funções geniturinárias e reprodutivas – b6
têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, ► Funções neuromusculoesqueléticas e relacionadas ao
intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas movimento – b7
barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na ► Funções da pele e estruturas relacionadas – b8
sociedade em igualdade de condições com as demais Estruturas do Corpo
pessoas. ► Estruturas do sistema nervoso – s1
► Olho, ouvido e estruturas relacionadas – s2
IMPORTANTES DOCUMENTOS DEFINIRAM ► Estruturas relacionadas à voz e à fala – s3
CONCEITOS: CIDID (1980) - CIF (2001) - ► Estruturas dos sistemas cardiovascular, imunológico e
CONVENÇÃO DA ONU (2006) respiratório – s4
A Família das Classificações da OMS, da qual fazem parte a ► Estruturas relacionadas aos sistemas digestivo,
CIDID, a CIF e a CID-10, integra o grupo de metabólico e endócrino – s5
“Classificações Sociais ou de Saúde” da “Família das ► Estruturas relacionadas aos sistemas geniturinário e
Classificações das Nações Unidas” reprodutivo – s6
► Estruturas relacionadas ao movimento – s7
PARADIGMA INICIAL ► Pele e estruturas relacionadas – s8
1980 - Classificação Internacional das Deficiências, - Qualificam as alterações nas funções ou estruturas
Incapacidades e Desvantagens – CIDID corporais (Impairments)
- A tradução da CIF chamou isso de DEFICIÊNCIAS (no
Modelo Biomédico Linear corpo)  A tradução da Convenção da ONU passou a
Distúrbio ou Doença -> Deficiência (Impairment) -> chamar de IMPEDIMENTOS.
Incapacidade (Disability) -> Desvantagem (Handicap)
Fatores Ambientais
DEFICIÊNCIA é qualquer perda ou anormalidade de - Qualifica a intensidade das BARREIRAS e
estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica. FACILITADORES
► Produtos e Tecnologia – e1
INCAPACIDADE é qualquer restrição ou falta (resultante ► Condições de moradia e mudanças ambientais – e2
de uma deficiência) de capacidade para realizar uma ► Apoio e relacionamentos – e3
atividade na forma ou dentro da faixa considerada normal ► Atitudes – e4
para um ser humano. ► Serviços, sistemas e políticas – e5

DESVANTAGEM é resultante de uma deficiência ou uma Atividades e participação


incapacidade que limita ou impede o desempenho de um - Qualifica a intensidade das DIFICULDADES para fazer
papel que é normal (dependendo da idade, sexo e fatores algo ou participar de algo
sociais e culturais) para aquele indivíduo. DESEMPENHO e CAPACIDADE
► Aprendizagem e aplicação de conhecimento – d
O foco estava no indivíduo ► Tarefas e demandas gerais – d2
► Comunicação – d3
Constitui a base dos Decretos: ► Mobilidade e locomoção – d4
3.298/1999 – Trata da Política Nacional para a Integração da ► Cuidado pessoal – d5
Pessoa Portadora de Deficiência. Define: deficiência, ► Vida doméstica – d6
deficiência permanente e incapacidade. Classifica e define: ► Relação e interações interpessoais – d7
Deficiência física, auditiva, visual, mental e múltipla. ► Áreas principais da vida – d8
5.296/2004 – Trata da prioridade de atendimento às pessoas ► Vida comunitária, social e cívica – d9
portadoras de deficiência e promoção da acessibilidade.
Altera o artigo 4º do Decreto 3.298/99 (Inclui os QUALIFICADORES
ostomizados, nanismo, autismo (ao se referir à Lei 0 = NENHUMA) 1 = LEVE 2 = MODERADO(A) 3 =
10.690/2003) e redefine os parâmetros para as deficiências GRAVE 4 = COMPLETO(A) 8 = NÃO ESPECIFICADO
auditiva e visual. 9 = NÃO APLICÁVEL
2001 - Classificação Internacional de Funcionalidade,
Incapacidade e Saúde – CIF 2001 - Classificação Internacional de Funcionalidade,
Incapacidade e Saúde - CIF Modelo Biopsicossocial,
NOVO PARADIGMA Dinâmico e Interativo
2001 - Classificação Internacional de Funcionalidade,
Incapacidade e Saúde - CIF Interações entre os componentes da CIF
Modelo Biopsicossocial, Dinâmico e Interativo
- Função do corpo INCAPACIDADE Disability
- Estrutura do corpo Indica os ASPECTOS NEGATIVOS da interação entre um
Funções do Corpo indivíduo (com uma condição de saúde) e seus fatores
► Funções mentais - b1 contextuais (ambientais e pessoais)
► Funções sensoriais e dor - b2 (Limitações para a execução de atividades e restrições à
► Funções da voz e da fala – b3 participação social.)
► Funções do sistema cardiovascular, dos sistemas (A tradução da Convenção da ONU, em seu preâmbulo,
hematológico e imunológico e do sistema respiratório – b4 define isso como DEFICIÊNCIA.)
► Funções dos sistemas digestivo, metabólico e endócrino
– b5 FUNCIONALIDADE Functioning
Indica os ASPECTOS POSITIVOS da interação entre um SLIDE 5 A DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
indivíduo (com uma condição de saúde) e seus fatores O que é
contextuais (ambientais e pessoais) A Deficiência Intelectual, segundo a Associação Americana
sobre Deficiência Intelectual do Desenvolvimento AAIDD,
Áreas de aplicação caracteriza-se por um funcionamento intelectual inferior à
- Saúde, Previdência social, Assistência social, educação, média (QI), associado a limitações adaptativas em pelo
trabalho, economia e desenvolvimento, legislação e direito, menos duas áreas de habilidades que ocorrem antes dos 18
ciência e tecnologia anos de idade:
comunicação, autocuidado, vida no lar, adaptação social,
CIDID (OMS,1980) X CIF (OMS,2001) saúde e segurança, uso de recursos da comunidade,
MUDANÇA DE PARADIGMAS determinação, funções acadêmicas, lazer e trabalho

Modelo de minoria x modelo universal No dia a dia, isso significa que a pessoa com Deficiência
Unidimensional and multidimensional Intelectual tem dificuldade para aprender, entender e realizar
Biomédico e biopsicossocial atividades comuns para as outras pessoas.
Progressivo linear x dinâmico e interativo Muitas vezes, essa pessoa se comporta como se tivesse
Conceitos ocidentais ou conceitos universais menos idade do que realmente tem.
Dirigido apenas para adultos x coberto de todas as fases da A Deficiência Intelectual é resultado, quase sempre, de uma
vida alteração no desempenho cerebral, provocada por fatores
Ajustamento pessoal x ajustamento socioambiental genéticos, distúrbios na gestação, problemas no parto ou na
Política de cuidados x políticas de saúde vida após o nascimento.
Foco na desvantagem x foco na participação Um dos maiores desafios enfrentados pelos pesquisadores
da área é que em grande parte dos casos estudados essa
Diferenças na terminologia adotada nas traduções da CIF e alteração não tem uma causa conhecida ou identificada.
da Convenção da ONU para a língua portuguesa. Muitas vezes não se chega a estabelecer claramente a
Art. 1º – Propósito Pessoas com deficiência são aquelas que origem da deficiência.
têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, A Deficiência Intelectual não é uma doença, mas uma
intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas limitação. A pessoa com Deficiência Intelectual deve
barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na receber acompanhamento médico e estímulos, através de
sociedade em igualdade de condições com as demais trabalhos terapêuticos com psicólogos, fonoaudiólogos e
pessoas. terapeutas ocupacionais.

IMPORTANTE Inclusão social


- Não existe qualquer incompatibilidade entre os termos A inclusão social é um instrumento extremamente
usados pela CIF e pela Convenção da ONU, em seus textos importante na determinação da qualidade de vida dessa
originais em inglês. pessoa, pois permite o acesso a todos os recursos da
- A divergência existe na tradução para o português, porém comunidade, que favorecem o seu desenvolvimento global,
não compromete o entendimento, desde que se tenha clareza reforçarão a sua autonomia e ajudarão a construir a sua
da aplicação de cada termo nas diferentes situações. cidadania.
- INCAPACIDADE é um termo muito utilizado no campo
da Saúde do Trabalhador e dificilmente será substituído pelo Direitos
termo DEFICIÊNCIA (na concepção “guarda-chuva”), A pessoa com Deficiência Intelectual tem os mesmos
conforme o foi pelo movimento pelos direitos das pessoas direitos que todos os outros cidadãos, assegurados pela
com deficiência. No entanto, é plenamente possível que as Constituição Federal do nosso país: direito à vida, liberdade,
legislações trabalhista e previdenciária possam um dia igualdade, não discriminação, segurança, propriedade,
assumir, em substituição, o conceito de educação, saúde, trabalho, moradia, lazer, previdência e
FUNCIONALIDADE, que atende plenamente a todas as assistência social, entre outros.
áreas.
Benefícios
Atentar que o verbo “IMPEDIR”, conjugado no preâmbulo, Benefício de Prestação Continuada (BPC-LOAS) –
tem conotação diferente do termo “IMPEDIMENTOS” benefício assistencial em que a pessoa com deficiência tem
utilizado no artigo 1º direito ao recebimento de um salário-mínimo mensal, de
Atentar que o Preâmbulo é bem mais abrangente do que o forma continuada, de acordo com os termos da Lei Federal
artigo 1º, que define Pessoa com Deficiência. no 8.742, de 07/12/1993. 01/01/2016 valor R$ 880,00.
Gratuidade no sistema de transporte
Em essência, a Convenção da ONU objetiva garantir a municipal/intermunicipal – Bilhete Único Especial para
equiparação de direitos e oportunidades, a independência, a utilização nos ônibus que circulam na cidade de São Paulo,
autonomia e o protagonismo das PESSOAS COM metrô e nos trens da CPTM (concedido através do Convênio
DEFICIÊNCIA. de Integração Tarifária, firmado entre o governo do Estado e
A CIF, por sua vez, é uma Classificação Internacional e, a Prefeitura de São Paulo em 14/10/2006. Gratuidade no
como tal, contempla todos os indivíduos indistintamente, sistema de transporte intermunicipal – Cartão Bom Especial.
com diferentes estados de saúde, em interação com o Gratuidade no sistema de transporte interestadual –
ambiente em que vivem, numa dimensão biopsicossocial. concedido através da Lei Federal 8.899, de 29/06/1994.
NÃO É UM INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO. Suspensão do rodízio de veículos em São Paulo. Isenção de
ELAS SE COMPLETAM IPI na aquisição de automóveis, diretamente ou por
intermédio de um representante legal.
em papiros a dificuldade de linguagem em pacientes com
SLIDE 6 - REABILITAÇÃO NEUROLÓGICA: traumatismos cranianos e outras patologias do encéfalo.
HISTÓRIA, ABORDAGENS METODOLÓGICAS E Nestes papiros Edwin Smith descreveu quarenta e oito
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO indivíduos com lesões traumáticas após a sua análise
NEUROPSICOLÓGICA detalhada e, deste modo, registam as primeiras tentativas de
procurar a localização cortical das funções mentais mediante
Resumo: Cada vez mais se dá mais importância à a descrição das lesões cerebrais (FEINBERG e FARAH,
reabilitação neuropsicológica e às possíveis intervenções 1997).
provenientes desta. Desta forma, com este trabalho Os povos da antiguidade defendiam que toda a expressão
proponho o enquadramento histórico do conceito de mental do indivíduo estava localizada no coração. Platão
reabilitação neuropsicológica e das suas diferentes (428-348 a. C.) descreveu com detalhe relações entre o
abordagens. Cosenza, Fuentes e Diniz (2008) escrevem que corpo (definindo-o como matéria mutável) e a alma humana
Alcmeão de Crotona, já em 500 a.C, defendia que havia uma (definindo-a como imaterial, eterna, inalterável). Aristóteles
relação importante entre o cérebro e os processos mentais. (384-322 a.C), aluno de Platão, dividiu a atividade mental e
Como em todas as ciências e disciplinas existem sempre defendeu que a sua localização era no coração. Esta hipótese
divergências teóricas e práticas que levam o indivíduo a enfrentou uma grande resistência dos defensores da hipótese
querer descobrir, através de investigação científica, sempre cerebral. O princípio da hipótese cerebral propôs que o
mais. cérebro seria a sede da mente e que este seria responsável
Palavras-chave: reabilitação neuropsicológica, pela localização de cada tipo de sensação. Um dos grandes
intervenções, enquadramento histórico, cérebro, processos defensores da hipótese cerebral foi Hipócrates (460-377
mentais, investigação a.C), este afirmava que o cérebro era o órgão responsável
pelo pensamento e pelas sensações. Galeno, através de
1. Introdução estudos, em animais e cadáveres abandonados, rigorosos,
A neuropsicologia é uma área relativamente recente e contribuiu para a construção da Teoria Ventricular. Esta
cheia de novidades a cada dia que passa. Desse modo, teoria tinha como princípio defender que a mente estava
surgiu o interesse por esta área e por consequência pela localizada nos ventrículos cerebrais. Lentamente a hipótese
reabilitação neuropsicológica. Estes avanços e descobertas cerebral predominou a hipótese cardíaca.
relativamente aos dois conceitos devem-se às mudanças No final do século XVII, René Descartes (1596-1650)
socioculturais e aos avanços tecnológicos, como, por construiu o ideal do dualismo cartesiano. O dualismo
exemplo, acidentes automobilísticos, acidentes derivados de cartesiano tinha como princípio estabelecer a separação
desportos radicais, vítimas de violência, entre outros, pois entre a mente e o cérebro. A sede da alma, para Descartes,
estes levaram a um aumento no número de vítimas com era a glândula pineal, este era o lugar de encontro entre a
lesões cerebrais (ABRISQUETA-GOMEZ, 2006). Deste mente e o corpo. No final deste período a hipótese cerebral
modo, a importância da reabilitação neuropsicológica é já não tinha opositores.
uma das possíveis intervenções após diagnóstico de 2.2 Localizacionismo versus holismo ou globalismo
déficits cognitivos que surgem de quadros neurológicos É no século XIX que uma grande quantidade de pesquisas e
e/ou psiquiátricos. Esta utiliza procedimentos e técnicas investigações tentaram estabelecer uma ligação entre
que tem como objetivo melhorar a qualidade funcional funções mentais superiores e estruturas cerebrais. Desta
do indivíduo lesado, no seu quotidiano. forma, geraram-se dois grupos: os localizacionistas e os
Assim, pretende-se fazer uma revisão geral e refletir acerca holistas ou globalistas. Os localizacionistas propunham que
de aspectos de enquadramento histórico, pressupostos diferentes funções intelectuais estavam associadas à
teóricos e abordagens metodológicas usadas no decorrer da atividade de estruturas neurais específicas. Um dos maiores
reabilitação neuropsicológica. defensores desta proposta foi Franz Gall (1758-1828), este
2. Enquadramento Histórico da Reabilitação deu origem ao movimento frenológico que desenvolveu
Neuropsicológica como método a cranioscopia. A frenologia tinha como
Não se pode abordar a história da reabilitação objetivo descobrir as correspondências existentes entre
neuropsicológica sem antes fazer uma breve referência à características psicológicas (traços de personalidade,
história da neuropsicologia. Desde a Antiguidade que o habilitações cognitivas) e as saliências específicas do crânio.
homem procurou compreender a relação existente entre o Como a pesquisa do movimento frenologico não provou
cérebro, cognição e comportamento. Desta forma, é possível qualquer tipo de ligação entre o crânio e as estruturas
simplificar a história da neuropsicologia dividindo-a em três cerebrais e como não foi construída uma definição
grandes períodos: hipótese cardíaca versus hipótese cerebral, sistemática das características mentais, a frenologia caiu em
localizacionismo versus holismo e funcionalismo versus total descrédito (GALL e SPURZHEIM, 1809).
cognitivismo. Esta divisão não se fundamenta nos períodos Os holistas ou globalistas propunham que o cérebro
históricos clássicos, mas configura-se em volta de temas participava como um todo no exercício das diferentes
predominantes. Cada período do desenvolvimento da funções mentais. Dois dos principais defensores da visão
história da neuropsicologia é marcado por determinadas anti localizacionista foram Jean Pierre Flourens (1794-1867)
controvérsias a respeito do entendimento da época sobre as e Friedrich Leopold Goltz (1834-1902). Ambos tinham
relações entre cérebro e comportamento (KRISTENSEN, como principal princípio que as funções mentais não
ALMEIDA, e GOMES, 2001). dependiam de partes singulares do cérebro, mas sim que o
2.1 Hipótese cardíaca versus hipótese cerebral cérebro funcionaria como um todo. As investigações
A descoberta de crânios pré-históricos do Antigo Egito efetuadas com animais demonstravam que não existia
(1.600 a. C.) revela que nesta altura já eram utilizados nenhuma evidência para a localização de estruturas
conhecimentos e procedimentos médicos que utilizavam até encefálicas associadas a funções mentais específicas
mesmo a trepanação. A trepanação eram cirurgias realizadas (FEINBERG e FARAH, 1997).
através de perfurações no crânio. Edwin Smith descreveu
Entretanto surgiram as investigações localizacionistas de podemos concluir que Luria adotou uma opinião
David Ferrier (1843-1928). Este realizou uma série de intermediária em relação ao debate estrutura versus função.
estudos com macacos utilizando a estimulação elétrica que 2.3 Funcionalismo versus cognitivismo
lhe demonstrou que determinadas áreas corticais eram O século XX é marcado pela consolidação da
capazes de ativar funções sensoriais e motoras localizadas Neuropsicologia como especialidade do conhecimento. A
no córtex cerebral (FEINBERG e FARAH, 1997). neuropsicologia cresceu muito a partir do final da
A dualidade entre localizacionistas e holistas ainda se primeira metade do século XX, conseguindo uma posição
acentuou mais com os trabalhos de Paul Broca (1824-1880), diferente da neurologia, da psicologia e da psiquiatria. O
através do método anatomoclínico este estabeleceu as seu desenvolvimento foi significativo durante os períodos da
primeiras correlações entre lesões cerebrais circunscritas e I e da II Guerra Mundial, precisamente devido à necessidade
patologias da linguagem em 1861. Assim a região localizada de reabilitar soldados com traumatismos cranioencefálicos.
na terceira circunvolução do giro frontal inferior esquerdo Neste período, foram elaborados programas de reabilitação
ficou eternamente designada como a área de Broca. Esta destinados pela primeira vez às sequelas cognitivas. Foi
área está estritamente relacionada com aspectos motores da também nesta altura que foram passados os primeiros testes
linguagem. Alguns autores defendem que esta descoberta neuropsicológicos. A era moderna da reabilitação de pessoas
marca o início da neuropsicologia. Mais tarde, em 1874, com lesão cerebral começou, provavelmente, na Alemanha,
Karl Wernicke realizou estudos relacionados com a durante a Primeira Guerra Mundial, como resultado da
compreensão da afasia. Este descreveu casos em que a lesão sobrevivência de militares com traumatismo craniano. A
de uma parte do cérebro, o terço posterior do giro temporal reabilitação cognitiva progrediu durante a Segunda Guerra
superior esquerdo, determinava a perda da capacidade de Mundial (WILSON, 2003).
compreensão da linguagem, sendo que a linguagem Luria teve também um papel importantíssimo neste período
expressiva motora permanecia intacta. Concluiu que essa de desenvolvimento da reabilitação neuropsicológica, pois
região cerebral era responsável pela compreensão da foi o responsável pela organização de um hospital para
linguagem. soldados com lesões cerebrais (NOMURA et al., 2000).
Em relação às visões localizacionista e holista, Lev A neuropsicologia atual estuda os temas clássicos da
Vygotsky (1896-1934) apresenta uma análise inovadora psicologia, atenção, aprendizagem, percepção e memória
que defende que as funções das partes e do todo se utilizando métodos da psicologia experimental e do
encontram organizadas em interpelações funcionais campo da psicometria para a construção dos testes. As
complexas que variam em conformidade com os técnicas avançadas de investigação cerebral
diferentes estágios de desenvolvimento humano (eletroencefalograma, tomografia informatizada, ressonância
(VYGOSTKY, 1999). O neuropsicólogo soviético magnética funcional) superaram a importância da avaliação
Alexander Luria (1902-1977) desenvolveu as ideias neuropsicológica na localização das funções mentais. A
originais de Vygostsky, a partir do estudo do controvérsia entre localizacionismo e holismo foi substituída
comportamento anormal dos pacientes com lesão pela discussão em torno de uma nova controvérsia:
cerebral (LURIA, 1981). Luria demonstrou a funcionalismo versus cognitivismo. Esta controvérsia é
importância dos símbolos para a linguagem. Afirmou essencial em relação à avaliação neuropsicológica e à
que o cérebro é um sistema altamente diferenciado, cujas construção dos testes psicológicos (HEBBEN e MILBERG,
partes são responsáveis por aspectos desse todo e a 2002).
linguagem é um elemento importante nesse processo. A As técnicas tradicionais de avaliação neuropsicológica
concepção neuropsicológica de Luria afirma que o advêm da tradição funcionalista que considera que a
funcionamento cerebral ocorre com a participação conjunta predição do desempenho do indivíduo é o objetivo primário
de três grupos funcionais do cérebro, estes são: da avaliação e o construto psicológico é secundário. A
O primeiro, grupo de ativação, é responsável pelo tônus bateria Halstead-Reitan é um bom exemplo desta abordagem
cortical ou estado de ativação do córtex cerebral. A (STRAUSS, SHERMAN e SPREEN, 2006). Por outro lado,
formação reticular, tanto a ascendente como a descendente, os testes construídos na tradição cognitivista enfatizam
é a estrutura mais importante, sobretudo em suas conexões principalmente o construto psicológico e a predição clínica
com o córtex frontal. como alvo secundário da avaliação. O California Verbal
O segundo grupo funcional, o do input, é responsável pela Learning Test foi criado, no início, com referência às teorias
recepção, monitorização e armazenamento da informação. da memória para investigar as alterações decorrentes de
Ocupa as regiões posteriores do córtex cerebral: lobos lesões cerebrais. (STRAUSS, SHERMAN e SPREEN
parietal, temporal e occipital, responsável pelas respectivas 2006). De forma mais simplificada, a controvérsia atual está
zonas táctil, cinestésica, auditiva e visual. relacionada a questões metodológicas e interpretativas
O terceiro grupo, chamado de grupo de programação e resultantes dos processos de avaliação neuropsicológica
controle da atividade, engloba os setores corticais situados (HEBBEN e MILBERG, 2002).
no lobo frontal. Este conjunto cumpre as suas funções 3. Abordagens Metodológicas e Técnicas de Reabilitação
mediante relações bilaterais, tanto com as regiões Neuropsicológica
posteriores (grupo do input) como com a formação reticular Wilson (2003) define reabilitação neuropsicológica como
(grupo da ativação). É o grupo responsável pelo o conjunto de intervenções que tem como objetivo
planejamento, programação, regulação e verificação do proporcionar ao indivíduo, vítima de lesão encefálica ou
comportamento intencional (LURIA, 1981) com alguma perturbação psiquiátrica, a melhoria dos
Luria estabeleceu dois objetivos para a neuropsicologia: seus processos cognitivos, emocionais e sociais para que
localizar as lesões cerebrais responsáveis pelas perturbações este possa alcançar uma maior independência e
do comportamento para um diagnóstico preciso e explicar o qualidade de vida. Deste modo torna-se cada vez mais
funcionamento das atividades psicológicas superiores importante investigar acerca da reabilitação
relacionadas com as partes do cérebro. Deste modo, neuropsicológica. Segundo a Organização Mundial de Saúde
(WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2000) a maior
causa de deficiência no mundo está ligada a doenças do foro b) Princípio da transferência
do funcionamento cerebral. Quando falamos em reabilitação Segundo Dahlin et al (2009) o efeito de transferência ou
psicológica temos que evidenciar dois conceitos que são princípio da transferência é um dos principais objetivos nas
fundamentais: plasticidade cerebral e princípio da intervenções cognitivas. Por princípio da transparência
transferência. entende-se que quando um domínio cognitivo, tarefa ou
a) Plasticidade cerebral habilitação não treinada durante a reabilitação com o
A plasticidade cerebral é a capacidade que o cérebro tem em paciente melhora como o resultado da reabilitação noutro
se remodelar em função das experiências do sujeito, domínio, tarefa ou habilidade. Dois dos principais
reformulando as suas conexões em função das necessidades fenómenos de transferência que são mencionados por estes
e dos fatores do meio ambiente. A reabilitação psicológica é autores são:
possível devido ao fenômeno da plasticidade cerebral. Na No domínio cognitivo: com desempenho calculado por
década de 1970 com o aumento de estudos de neuroimagem tarefas ou testes, em que a transferência é caracterizada pela
começou-se a compreender melhor o conceito de melhora secundária, não prevista, no desempenho em provas
plasticidade cerebral, quer em encéfalos com construtivas após a realização de treino da memória de
desenvolvimento dito normal quer em encéfalos com trabalho, por exemplo.
quadros neuropatológicos. Admitia-se que o tecido cerebral De comportamentos funcionais: em que em medidas de
não tinha capacidade regenerativa e que o cérebro era cognição funcional, por escalas, inventários e questionários
definido geneticamente, ou seja, possuía um programa sobre comportamentos bem-sucedidos, como, por exemplo,
genético fixo. No entanto, não era possível explicar o facto o voltar ao trabalho e a reintegração social, treinos formais
de pacientes com lesões severas obterem, com técnicas de geram efeitos onde se nota a melhoria substancial de tarefas
terapia, a recuperação de diversas funções. do quotidiano que não foram treinadas de forma específica
Porém, o aumento do conhecimento, através de (SOHLBERG e MATEE, 2001).
neuroimagens, sobre o cérebro mostrou que este é muito 4. Proposta de Classificação Multidimensional em
mais maleável do que até então se imaginava, modificando- Reabilitação Neuropsicológica
se sob o efeito da experiência, das percepções, das ações e Nesta fase deste trabalho pretende-se apresentar as
dos comportamentos. Deste modo, podemos referir que a diferentes perspectivas existentes nas abordagens e técnicas
relação que o ser humano estabelece com o meio produz utilizadas na reabilitação neuropsicológica:
grandes modificações no seu cérebro, permitindo uma Tipos de reabilitação quanto à abordagem teórica
constante adaptação e aprendizagem ao longo de toda a vida. neurológica de base;
Assim, o processo da plasticidade cerebral torna o ser Número de indivíduos tratados;
humano mais eficaz (MEINZER et al, 2008). Origem;
A plasticidade cerebral explica o facto de certas regiões do Objetivo;
cérebro poderem substituir as funções afetadas por lesões Ponto de partida da reabilitação.
cerebrais. Como tal, uma função perdida devido a uma lesão 4.1 Tipos de reabilitação quanto à abordagem teórica
cerebral pode ser recuperada por uma área vizinha da zona neurológica
lesionada. Contudo, a recuperação de certas funções Grafman (2000) defende a existência de quatro formas de
depende de alguns fatores, como a idade do indivíduo, a área reorganização funcional: a adaptação da área homóloga, a
da lesão, o tempo de exposição aos danos, a natureza da redesignação entre funções, expansão do mapa cortical e
lesão, a quantidade de tecidos afetados, os mecanismos de compensação disfarçada.
reorganização cerebral envolvidos, assim como, outros A adaptação da área homóloga diz respeito ao procedimento
fatores ambientais e psicossociais. em que determinada região do cérebro é lesionada, a mesma
Porém, a plasticidade cerebral não é apenas relevante em região do hemisfério oposto adapta-se para assumir a função
caso de lesões cerebrais, uma vez que ela está prejudicada. Por vezes, a região lesionada pode impedir que
continuamente ativa, modificando o cérebro a cada o outro hemisfério assuma as funções prejudicadas. A
momento. Os mecanismos através dos quais ocorrem os redesignação entre funções acontece quando o indivíduo é
fenómenos de plasticidade cerebral podem incluir privado de input sensorial e outras habilidades do mesmo
modificações neuroquímicas, sinápticas, do receptor indivíduo acabam por se desenvolver. A expansão do mapa
neuronal, da membrana e ainda modificações de outras cortical refere-se ao facto do tamanho do mapa cortical (área
estruturas neuronais (MATEER e KEMS, 2000). responsável por determinada função) pode variar de acordo
Segundo Vance et al existe a neuroplasticidade positiva e a com a estimulação a que é submetido. A compensação
negativa. A neuroplasticidade positiva ocorre quando as disfarçada ocorre quando uma nova estratégia de
mudanças morfológicas e funcionais cerebrais aumentam a reabilitação é utilizada para desempenhar uma função que
reserva cognitiva. Ao contrário, a neuroplasticidade negativa está prejudicada sem a compensar. Esta apenas pode ser
dá-se quando tais mudanças cerebrais adaptativas causam confirmada por meio de avaliação cognitiva detalhada.
diminuição da reserva cognitiva. A abordagem teórica neurológica fala-nos também de outros
Por reserva cognitiva entende-se o conjunto de recursos de três conceitos: compensação, adaptação e aprendizagem.
processos cognitivos e redes neurais subjacentes ao Segundo a Organização Mundial de Saúde, em 1980, a
desempenho em tarefas que possibilitem ao indivíduo, após abordagem compensatória procura tratar ou diminuir as
uma lesão cerebral, melhor se adaptar às consequências e sequelas provocadas pela lesão cerebral. Assim o esforço do
possíveis limitações decorrentes do trauma neurológico paciente diante do prejuízo cognitivo causado pelos sistemas
(STERN, 2009). Inúmeros fatores contribuem para a reserva neuronais lesionados irá diminuir. (WILSON, 2009).
cognitiva, tais como alta e qualificada escolaridade, alta O uso de estratégias compensatórias torna-se uma técnica
frequência de hábitos de leitura e escrita, sistemática e muito utilizada na reabilitação neuropsicológica,
prolongada realização de atividades físicas, entre outros. Em principalmente quando o foco são déficits mnemônicos, de
relação aos conceitos de neuroplasticidade e reserva atenção e de execução, pois esta abordagem tem a vantagem
cognitiva, encontra-se o fenômeno de transferência. de ser adaptável às necessidades de cada paciente. Por vezes
esta perspectiva nem sempre é fácil de executar devido a sua patologia; os sintomas do indivíduo activo na
modificações ambientais e, além disso, o auxílio por parte reabilitação são uma mistura de características cognitivas e
de familiares e amigos é indispensável para a melhor adesão personalidade pré-mórbidas; a reabilitação deve permitir ao
e adaptação do paciente. sujeito atenuar as dificuldades cognitivas em situações
A perspectiva da adaptação tem como objetivo a reinserção interpessoais; o terapeuta deve educar o paciente acerca da
social e quando possível a normalização do dia-a-dia do sua patologia; a participação do indivíduo com lesão produz
indivíduo com lesão. Desta forma, é promovida a adaptação reações emocionais dos familiares e na equipe de terapeutas
do indivíduo simplificando aspectos e tarefas do seu intervenientes na reabilitação e, por fim, cada programa de
cotidiano. A abordagem da aprendizagem dá a possibilidade reabilitação deve ser dinâmico. A principal desvantagem
de reaprender novas informações ou consolidar informações desta abordagem é ser um tratamento mais dispendioso que
antigas. as intervenções não holísticas.
4.2 Tipos de reabilitação quanto ao número de indivíduos A intervenção não holística está direcionada para a
O processo de reabilitação pode ser conduzido com um recuperação das aptidões cognitivas em déficits deixando de
único paciente, em grupos com poucos indivíduos ou com parte aspectos emocionais. Esta abordagem utiliza o treino
muitos pacientes. A reabilitação individual tem como de aspectos cognitivos específicos e está direcionada para a
característica principal ser personalizada, pois é focada nos psicoeducação. Ambas podem ser utilizadas ao mesmo
objetivos estabelecidos entre o paciente e a sua família com tempo, pois a psicoeducação permite diminuir a ansiedade
o terapeuta. Existem metas claras de resultados o que tanto do paciente como dos familiares. Um dos principais
favorece a adesão e a percepção do efeito do tratamento. Na aspectos negativos da abordagem não holística é não abordar
reabilitação individual o plano terapêutico é mais diretamente os aspectos emocionais do paciente passado o
flexibilizado de acordo com as preferências do paciente. quadro neurológico.
Este tipo de reabilitação tem como aspectos negativos o Na abordagem uni ou multimodal o tratamento pode ser
isolamento social e a falta de atividades, o que pode direcionado para focar apenas um aspecto cognitivo (por
contribuir para a dificuldade de percepção dos défices pelo exemplo a atenção) ou pode procurar intervir em diversos
paciente e para a origem de quadros depressivos. aspectos cognitivos no mesmo programa de treino.
Na reabilitação neurológica em pequenos e grandes grupos, Por fim, a abordagem top-down dá mais importância à
a literatura atual defende a existência de três grupos. O regularização do desempenho deficitário que afeta o
primeiro grupo é o grupo de psicoeducação. Neste grupo os cotidiano do paciente, enquanto a abordagem bottom-up está
pacientes participantes recebem informações relacionadas direcionada para atenuar os déficits do paciente.
com as patologias, dificuldades cognitivas, emocionais e 4.5 Reabilitação quanto ao objetivo da intervenção
comportamentais relacionadas com o quadro patológico em Independentemente do tipo de abordagem, qualquer uma
tratamento. O segundo grupo é o de treino cognitivo, ou delas tem metas a curto, médio e longo prazo, deste modo é
seja, este está focado nas tarefas de estimulação cognitiva necessário estabelecer objetivos para uma melhor orientação
estabelecidas pelo plano terapêutico. Por fim, o terceiro do tratamento.
grupo tem como objetivo a resolução de problemas em que McMillan e Sparkes (1999) propõem quatro princípios para
há a elaboração de um plano de estratégias que tem como o alcance dos objetivos do plano de reabilitação. O primeiro
base a troca de experiências entre pacientes. Ambos os tipos refere-se ao paciente, pois este deve ser a referência na
de grupos podem ocorrer ao mesmo tempo, desde que exista definição dos seus objetivos. Em segundo, as metas
organização, tempo e estrutura para tal. propostas devem ser razoáveis e centradas nas
Para o decorrer positivo dos grupos, sejam eles quais forem, características do paciente. Em terceiro, sempre que um
têm de existir regras básicas. Num grupo em que os indivíduo alcançar um objetivo e este lhe for comunicado
pacientes são selecionados para comunicar aspectos deve analisar-se o comportamento do indivíduo face a esse
emocionais, cognitivos, comportamentais e físicos é acontecimento. Por fim deve existir coerência no método a
necessária uma observação de cada paciente durante o ser utilizado para alcançar os objetivos as metas devem ser
processo de escolha. É necessário analisar, igualmente, o específicas e ter um prazo definido.
cansaço dos participantes e se estes têm lesões com O acrónimo SMART (do inglês specific, measurable,
gravidade ao nível da fala para que estes não se sintam achievable, realistic e timely) sintetiza a proposta de que os
deslocados do grupo. Num grupo em que existem muitos objetivos sejam específicos, mensuráveis, realizáveis,
participantes sugere-se sempre a existência de mais um realistas e exequíveis dentro de um tempo estimado para
terapeuta para atuar como facilitador de algumas situações, cada paciente. Sugere-se realizar reavaliações periódicas
como por exemplo a dificuldade em realizar alguma tarefa dessas metas (WILSON, 2009).
proposta para o grupo efetuar. Outro cuidado fundamental a 4.6 Tipos de reabilitação quanto ao ponto de partida
ter com os participantes no grupo é não causar desconforto Existem duas abordagens principais referentes ao ponto de
nem afetar a auto-estima dos intervenientes. partida funcional na relação entre os elementos cognitivos
4.3 Tipos de reabilitação quanto à origem da intervenção preservados e deficitários após o quadro neurológico ou
Quando se fala na origem da intervenção existem, pelo psiquiátrico. A abordagem baseada no ponto de partida de
menos, quatro abordagens: a abordagem holística, a competências não afetadas pela lesão cerebral tem como
abordagem não holística, a abordagem uni ou multimodal e pressuposto que a intervenção pode partir das aptidões
a abordagem top-down. A abordagem holística procura cognitivas remanescentes em estado funcional semelhante
trabalhar os aspectos cognitivos prejudicados pela lesão ao período pré-mórbido, estimulando e procurando expandir
cerebral e os aspectos emocionais e psicossociais que advêm aquelas funções cognitivas mais prejudicadas, partindo de
da ocorrência do quadro neurológico. possibilidades que o paciente já tem para desenvolver
Prigatano (1999) é um dos principais defensores desta aquelas que são alvo da reabilitação.
abordagem e propôs fundamentos que orientam a Por outro lado, há a abordagem baseada no tratamento direto
reabilitação neuropsicológica, são eles: o terapeuta precisa das funções prejudicadas ou deficitárias por causa do quadro
conhecer a experiência subjetiva do paciente em relação à de base. Estas são representadas principalmente pelos
treinos cognitivos diretos uni ou multimodais, tais como de pessoas com deficiências e instituições relacionadas. A falta
atenção e funções executivas, memória e linguagem de definição clara de “deficiência” ou “incapacidade” tem
(ROHLING et al, 2009). Assim, o processo terapêutico pode sido apontada como um impedimento para a promoção da
ser iniciado pelas dificuldades neuropsicológicas que o saúde de pessoas com deficiência. É importante que essas
paciente apresenta, desafiando-o, diretamente, nas aptidões definições, especialmente no âmbito legislativo e
que estão prejudicadas. Na medida em que estas duas regulamentar, sejam consistentes e se fundamentam num
abordagens não são excludentes, são frequentemente modelo coerente sobre o processo que origina as situações
associadas. É no começo do tratamento que se utiliza a de incapacidade. Este artigo tem como objetivo apresentar
primeira abordagem, para estimular a motivação do paciente elementos da CID-10 e da CIF, e o papel que desempenham
e gerar menos frustração. Na segunda fase, parte-se para para definir deficiência e incapacidade. Os componentes da
técnicas da segunda abordagem, estimulando os CIF podem contribuir para diferentes campos de
componentes mais afetados a partir do nível de aplicabilidade no que diz respeito ao entendimento das
complexidade imediatamente inferior àquele em que o definições de deficiência ou incapacidade a partir do
paciente apresentou prejuízo (erros e/ou lentidão conceito de funcionalidade e dos fatores contextuais.
processual).
5. Conclusão Introdução
Por todos os aspectos que foram referidos neste trabalho, A definição e a mensuração da incapacidade
pode-se verificar que o processo de reabilitação tornaram-se tema de crescente interesse, em especial a partir
neuropsicológica é muito complexo, ainda um pouco do momento em que as pessoas começaram a viver mais
subjetivo e ainda está dependente de muitos fatores do tempo, quando aumentaram as doenças crônicas e suas
indivíduo, da equipe multidisciplinar e das condições consequências . A falta de uma definição clara de
ambientais e psicossociais. Segundo Wilson (1997) é “deficiência ou incapacidade” tem sido apresentada como
praticamente impossível reabilitar completamente um um impedimento para a promoção da saúde de pessoas com
indivíduo com déficits cognitivos. As limitações físicas, deficiência. A vigilância e a intervenção dependeria da
cognitivas e emocionais causadas pela lesão cerebral podem capacidade para identificar as pessoas que deveriam ser
não facilitar a volta do paciente ao seu cotidiano. Deste incluídas nesta definição 2 .
modo é necessário investir, cada vez mais, em métodos de Os termos “queixas médicas, moléstia,
reabilitação das funções executivas e de comunicação além enfermidade, doença crônica, distúrbio, limitações
das estratégias já utilizadas pelos terapeutas. funcionais, deficiência e incapacidade para o trabalho”
Quando o terapeuta escolhe a técnica de intervenção que representam fenômenos complexos e mal definidos. A
melhor se adequa ao paciente este deve ter como principal deficiência muitas vezes não pode ser observada
meta o restabelecimento máximo da independência do diretamente, mas pode ser inferida a partir de causas
indivíduo no seu quotidiano. Esse trabalho visou identificar presumidas (prejuízos, danos) com suas distintas
técnicas de intervenção consoante e determinadas consequências, isto é, uma restrição ou incapacidade para
características que abrangem a componente cognitiva e os desempenhar normalmente vários papéis, principalmente de
diversos prejuízos funcionais do paciente. Estas técnicas trabalho. Danos à saúde que causam deficiência precisam
podem ser combinadas com o apoio familiar, com um plano ser avaliados medicamente, mas a certificação clínica de
de sessões organizado e que entre si vão aumentando os seus dano, embora seja necessária, pode não ser suficiente para
benefícios na recuperação do paciente. atestar a incapacidade para o trabalho ou elegibilidade para
Aliada às pesquisas de plasticidade cerebral e neuroimagem, benefícios 3 . O processo de certificação de deficiência ou
a reabilitação neuropsicológica tem demonstrado resultados incapacidade pode às vezes ser bastante litigioso devido a
significativos para a melhora de componentes cognitivos diferenças entre suas definições legais, administrativas,
deficitários, contribuindo para a melhor qualidade de vida sociais e culturais. Diferentes sistemas definem deficiência
dos pacientes e dos seus familiares. As pesquisas sobre ou incapacidade de acordo com suas próprias necessidades e
reabilitação de déficits cognitivos rumam a uma fase de regulações, mas as definições em geral carecem de critérios
maturidade metodológica, procurando mais consistência nas específicos, possibilitando determinações mais precisas 4 .
investigações comportamentais, em associação, também, Para quem certifica a condição, para fins de acesso a vários
com a descoberta de técnicas avançadas de neuroimagem. tipos de benefícios, a questão das definições de deficiência
Resta, ainda, como grande desafio, encontrar formas de apresenta-se de modo constante. Quem é e quem não é
controlar as inúmeras variáveis individuais e ambientais na elegível? Ao utilizar habitualmente os códigos da CID-10
condução de estudos de reabilitação neuropsicológica em para cobrir exigências legais, os médicos e outros
grupos, destacando-se o fator desistência ao longo do profissionais podem questionar quais são os limites, dentro
processo. de um conjunto de 326 Rev Bras Epidemiol 2008; 11(2):
324-35 O papel das Classificações da OMS - CID e CIF nas
O papel das Classificações da OMS - CID e CIF nas definições de deficiência e incapacidade Di Nubila, H.B.V
definições de deficiência e incapacidade & Buchalla, C.M. situações muito vasto e heterogêneo.
Estes profissionais podem ainda questionar o uso de
Resumo definições legais vagas como parâmetro, estas fortemente
A Organização Mundial de Saúde tem hoje duas ancoradas em diagnósticos médicos, com pouquíssima
classificações de referência para a descrição dos estados de orientação quanto a aspectos funcionais.
saúde: a Classificação Estatística Internacional de Doenças e As definições de incapacidade de âmbito legislativo
Problemas Relacionados à Saúde, que corresponde à décima e regulamentar têm de ser consistentes e se fundamentar em
revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10) um modelo coerente sobre o processo que origina a
e a Classificação Internacional de Funcionalidade, incapacidade, para que o desenvolvimento das políticas seja
Incapacidade e Saúde (CIF). A utilização da CIF vem sendo baseado em dados válidos e fiáveis sobre o estado funcional
aguardada com grande expectativa pelas organizações de da população 5 . A publicação da CIF neste caminho, como
classificação complementar à CID, com seu foco na das revisões sucessivas da CIDID/ICIDH até a versão final
funcionalidade, trouxe o interesse em explorar as da CIF9 . 327 Rev Bras Epidemiol 2008; 11(2): 324-35 O
sobreposições e interfaces das duas classificações, no que papel das Classificações da OMS - CID e CIF nas definições
tange aos próprios limites a serem desenhados para as de deficiência e incapacidade Di Nubila, H.B.V & Buchalla,
definições de deficiência. Associar as categorias de C.M. Foi um processo com ampla participação
diagnósticos de estados de saúde da CID-10 com os internacional, envolvendo mais de 50 países e 1.800 peritos
elementos da recém-apresentada CIF, oferecendo uma com todos os centros colaboradores, grupos de trabalho
discussão sobre a prática possível a partir das duas específicos para algumas partes, instituições internacionais
classificações, pode contribuir para um melhor representativas e redes internacionais.
entendimento de possíveis definições de deficiência ou A versão final da Classificação Internacional de
incapacidade. Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, foi disponibilizada
Os autores, através de documentação assinada e nos seis idiomas oficiais na página da família de
enviada a RBE, declaram não existir nenhum tipo de classificações da OMS e publicada na língua portuguesa
conflito de interesses. para todos os países lusófonos em novembro de 2003

Breve histórico das duas classificações CID-10 e CIF


A Classificação Internacional de Doenças (CID) A OMS agora tem duas classificações de referência
veio sendo estruturada, por mais de um século, primeiro para a descrição dos estados de saúde: a CID-10 e a CIF12.
como forma de responder à necessidade de conhecer as Na família de classificações internacionais da OMS, as
causas de morte. Passou a ser alvo de crescente interesse e condições ou estados de saúde propriamente ditos (doenças,
seu uso foi ampliado para codificar situações de pacientes distúrbios, lesões, etc.) são classificados principalmente na
hospitalizados, depois consultas de ambulatório e atenção CID-10, que fornece um modelo basicamente etiológico,
primária, sendo seu uso sedimentado também para embora tenha uma estrutura com diferentes eixos ou grandes
morbidade. A sua Décima Revisão, denominada linhas de construção, entre estes o etiológico, o anátomo-
“Classificação Estatística Internacional de Doenças e funcional, o anátomo-patológico, o clínico e o
Problemas Relacionados à Saúde”, ou de forma abreviada epidemiológico. A funcionalidade e incapacidade associadas
“CID-10”, é a mais recente revisão da “Classificação de aos estados de saúde são classificadas na CIF.
Bertillon” de 18936 , que era inicialmente uma classificação Uma classificação de doenças é definida como um
de causas de morte, e apenas a partir da Sexta Revisão sistema de categorias atribuídas a entidades mórbidas
passou a ser uma classificação que inclui todas as doenças e segundo algum critério estabelecido, com vários eixos
motivos de consultas, possibilitando seu uso em morbidade possíveis de classificação. Um determinado eixo pode ser
7. selecionado, dependendo do uso das estatísticas elaboradas.
O conceito de uma “Família” de Classificações foi Em uma classificação estatística de doenças, todas as
surgindo na medida da percepção dos usuários de que uma entidades mórbidas devem estar incluídas dentro de um
classificação de doenças não seria suficiente para todas as número administrável de categorias
questões relacionadas à saúde. Segundo esse conceito, a CID Como a CID-10 é uma publicação oficial da OMS,
atenderia as necessidades de informação diagnóstica para os países membros devem adotá-la para finalidade de
finalidades gerais, enquanto outras classificações seriam apresentações estatísticas das causas de morte (mortalidade)
usadas em conjunto com ela, tratando com diferentes ou das doenças que levam a internações hospitalares ou
enfoques informações sobre procedimentos médicos e atendimentos ambulatoriais (morbidade). Hoje é a
cirúrgicos e as incapacidades, entre outros. Assim, a partir classificação diagnóstica padrão internacional para
da Décima Revisão foi aprovada a ideia de desenvolver uma propósitos epidemiológicos gerais e administrativos da
“família” de classificações para os mais diversos usos em saúde, incluindo análise de situação geral de saúde de
administração de serviços de saúde e epidemiologia. grupos populacionais e o monitoramento da incidência e
A ideia de desenvolvimento da CIF partiu da prevalência de doenças e outros problemas de saúde.
necessidade de cobrir as questões que não eram alcançadas Embora a CID seja adequada para estas aplicações, ela nem
pela CID, a princípio as consequências das doenças. Isto foi sempre permite a inclusão de detalhes suficientes para
amplamente publicado, avaliado e revisado. Assim, a CIF algumas especialidades, e às vezes pode ser necessária a
pertence à “família”8 apresentada acima, e foi desenvolvida informação acerca de diferentes atributos das afecções
a partir da “Classificação Internacional das Deficiências, classificadas 6 . A CID registra uma condição anormal de
Incapacidades e Desvantagens” publicada em 1980 (nesta saúde e suas causas, sem registrar o impacto destas
versão, Classificação Internacional de Deficiências, condições na vida da pessoa ou paciente, e é hoje uma
Incapacidades e Desvantagens ou International exigência legal para todos os benefícios e atestados
Classification of Impairments, Disabilities and Handicaps, relacionados ao paciente 15. A maioria das leis no Brasil,
conhecidas pelas siglas CIDID em português ou ICIDH do que concede benefícios a pessoas com deficiência, tem
nome em inglês), em caráter experimental para propósitos como exigência a apresentação de laudo médico, algumas
de teste, que incorporava categorias que correspondiam às vezes acompanhado da avaliação e assinatura de outros
conseqüências duradouras das doenças 9,10. profissionais de equipes multiprofissionais, com o
A CIF foi desenvolvida após estudos de campo preenchimento de campos específicos para códigos da CID
sistemáticos e consulta internacional que começaram no ou a simples informação destes códigos em atestados
início dos anos 90, sendo então aprovada em maio de 2001 médicos em receituário comum assinado por médico
para uso internacional 8,11. Foi endossada como segunda A CIF, como uma classificação que se propõe a
edição da ICIDH 11, refletindo o conhecimento e o retratar os aspectos de funcionalidade, incapacidade e saúde
pensamento de uma década diferente 12,13. Organizações das pessoas, o que pode ser entendido como um objetivo
como a Rehabilitation International (RI) tiveram geral, adquire um caráter multidisciplinar, com possibilidade
participação importante em questões conceituais ao longo de aplicação em todas as culturas e trazendo pela primeira
vez a incorporação dos aspectos de contexto. Isto a torna um interferem (ou não) na execução de atividades, os
instrumento bem mais complexo que a CID, o que faz com qualificadores permitem mensurar, tanto a interferência
que exija um maior detalhamento. Entre seus objetivos negativa, gerando uma limitação, como a positiva,
específicos, está o de oferecer um modelo para a melhorando a execução destas atividades. Essa avaliação
compreensão dos estados de saúde e de condições pode ainda considerar o que é possível fazer em um
relacionadas, bem como de seus determinantes e efeitos, ambiente padrão, de teste, e na vida real.
além de estabelecer uma linguagem comum para a descrição Os domínios de Atividade e Participação são
completa da experiência de saúde de um indivíduo, qualificados por dois qualificadores: desempenho e
melhorando a comunicação entre as pessoas interessadas e capacidade. O qualificador de desempenho descreve “o que
os profissionais da área. Como instrumento estatístico, a CIF um indivíduo faz no seu ambiente real”. Este “ambiente
pode servir para a apresentação e comparação de dados entre real” representa o contexto social e físico em que o
países, disciplinas de cuidados de saúde, entre diferentes indivíduo vive no seu dia-a-dia. Assim, o qualificador
tipos de serviços e longitudinalmente no tempo “desempenho” pode também ser entendido como
Estes objetivos estão inter relacionados e envolvem “envolvimento em uma situação de vida” ou “a experiência
a necessidade de traduzir um modelo teórico em um sistema vivida” da pessoa no contexto real em que vive. O
prático e útil para aplicação em diferentes usos, qualificador de capacidade descreve “a capacidade de um
especialmente como base para estatística. indivíduo para executar uma tarefa ou ação em um ambiente
A CIF é uma classificação de saúde e de domínios uniforme” e seria o nível provável mais elevado que uma
relacionados à saúde e estes são agrupados de acordo com pessoa poderia alcançar na execução de uma determinada
suas características comuns (tais como origem, tipo ou tarefa ou ação em um dado momento. Este “ambiente
similaridade) e ordenados de um modo significativo 8 . Com uniforme” (ou neutro) representa 329 Rev Bras Epidemiol
uma estrutura que obedece a um modelo, sua informação 2008; 11(2): 324-35 O papel das Classificações da OMS -
está organizada em três componentes: CID e CIF nas definições de deficiência e incapacidade Di
- O “Corpo”, compreendendo duas classificações, Nubila, H.B.V & Buchalla, C.M. ambientes relevantes para
uma para funções do corpo e uma para estruturas do corpo. a tarefa ou ação especificada, e não deve ter barreiras ou
Os códigos usados para funções corporais são precedidos da obstáculos, de modo a permitir a avaliação da total
letra “b” (de body functions) e as estruturas corporais pela capacidade do indivíduo.
letra “s” (de structure); Os fatores ambientais, que são externos ao
- “Atividade” e “Participação”, que é o que o indivíduo, podem ter influência positiva ou negativa sobre a
“corpo” realiza. Representam aspectos da funcionalidade a sua participação como um membro da sociedade, no
partir da perspectiva individual e social, incluídas em uma desempenho de atividades ou mesmo sobre alguma função
lista única que engloba todas as áreas vitais, das quais fazem ou estrutura corporal.
parte desde a aprendizagem básica até interações Os fatores pessoais, que ainda não são detalhados
interpessoais ou de trabalho 8,9. Os códigos para “atividades na CIF, são as características individuais de cada pessoa que
e participação são precedidos pela letra “d” (de domain). não são parte de uma condição de saúde ou estado de saúde,
- O “contexto”, que é a circunstância em que o mas influem na maneira como o indivíduo lida com a
“corpo” realiza suas “atividades e participação”. Entre os doença e suas consequências. Incluem raça, gênero, idade,
fatores contextuais estão incluídos os “fatores ambientais”, nível educacional, experiências, estilo de vida, aptidões,
que representam o ambiente físico, social e de atitudes nos outras condições de saúde, preparo físico, hábitos, modos de
quais as pessoas vivem e conduzem suas vidas e que têm um enfrentamento, condição ou nível social, profissão e mesmo
impacto sobre todos os três componentes. Estes são a experiência passada e atual.
organizados em uma lista partindo do ambiente mais A informação sobre a doença e as habilidades
próximo do indivíduo para o ambiente mais geral e são funcionais afetadas está incluída nas descrições de estados
representados pelos códigos que se iniciam com a letra “e” de saúde. A CIF oferece um perfil ou resumo destas
As definições operacionais da CIF descrevem os habilidades funcionais, que são definidas de um modo
atributos essenciais de cada componente e contêm pontos de padronizado para permitir de alguma maneira observação e
ancoramento para avaliação, de modo que estas podem ser mensuração. As descrições de saúde, partindo do modelo da
traduzidas em questionários ou, ao contrário, os resultados CIF, podem oferecer uma ferramenta útil para chegar a
obtidos com o uso de instrumentos de avaliação podem ser exercícios de avaliação conceitualmente compreensíveis e
codificados usando-se os termos da CIF. Por exemplo, entre significativos. Usando o modelo da CIF, pode-se estudar a
as funções do corpo, a “visão” é definida como a mudança (adaptação, enfrentamento, ajustamento e
possibilidade de uma pessoa ver objetos com nitidez a acomodação) após um evento que produz uma determinada
distâncias variadas, além do campo visual e da qualidade da condição de saúde, uma vez que a CIF permite a codificação
visão, enquanto a gravidade da dificuldade de visão pode ser e o uso de qualificadores para medidas de capacidade,
codificada como de nível leve, moderado, grave ou fatores ambientais e fatores pessoais
completo. Em suma, a CID-10 e a CIF são consideradas
. O uso de qualquer código da CIF deve ser classificações complementares e os usuários são estimulados
acompanhado por pelo menos um qualificador, que dá a a utilizá-las em conjunto. A CID-10 fornece um
medida da gravidade do problema em questão, como diagnóstico” de doenças, distúrbios ou outras condições de
apontado acima (leve, moderado, grave ou total). O saúde e essas informações são complementadas pelas
qualificador é apresentado como mais um dígito adicionado informações adicionais fornecidas pela CIF sobre
ao código e completa a informação fornecida. Sem os funcionalidade. Em conjunto, as informações sobre o
qualificadores, os códigos não têm significado quando diagnóstico e sobre a funcionalidade fornecem uma imagem
usados para avaliar a situação de saúde de indivíduos ou em mais ampla e mais significativa para descrever a saúde das
estudos de casos 8,11. Assim, ao avaliar as condições das pessoas ou de populações, que pode ser utilizada, entre
pessoas com problemas, deficiências, doenças, quando estas outros, para propósitos de tomada de decisão 8,11. Enquanto
a CID-10 fornece os códigos para mortalidade e morbidade,
a CIF fornece os códigos para descrever a variação completa Na CIF, o termo deficiência corresponde, como descrito
de estados funcionais que capturam a experiência completa acima, a alterações apenas no nível do corpo, enquanto o
de saúde 16. O modelo mais amplo de funcionalidade, termo incapacidade seria bem mais abrangente, indicando os
incapacidade e saúde oferecido pela CID-10 e pela CIF, aspectos negativos da interação entre um indivíduo (com
quando aplicado para a construção de instrumentos para uma determinada condição de saúde) e seus fatores
levantamentos de saúde e incapacidade, poderia reforçar o contextuais (fatores ambientais ou pessoais)11, ou seja, algo
campo da pesquisa em saúde e incapacidade, na infância 17 , que envolva uma relação dinâmica. Um indivíduo pode
mas também nas outras etapas do ciclo de vida. apresentar uma deficiência (no nível do corpo) e não
necessariamente viver qualquer tipo de incapacidade. De
Definições de deficiência ou incapacidade da CIF modo oposto, uma pessoa pode viver a incapacidade sem ter
O desenvolvimento de uma terminologia formal nenhuma deficiência, apenas em razão de estigma ou
relacionada à funcionalidade e à incapacidade constitui um preconceito (barreira de atitude).
desafio, especialmente devido à ambigüidade conceitual A CIF faz um deslocamento paradigmático do eixo da
dentro deste campo. A CIF é uma grande fonte de termos doença para o eixo da saúde, trazendo uma visão diferente
relevantes, conceitos e relações necessárias para o da saúde, que permite entender a condição ou estado de
desenvolvimento de terminologias formais, e assim oferece saúde dentro de contextos específicos. Como classificação
um importante ponto de partida neste desafio. de saúde, a CIF introduz um novo modo de compreender a
Durante décadas foram disponibilizadas situação de saúde de indivíduos ou populações, mais
ferramentas úteis para coletar dados sobre causas de morte e dinâmico e mais complexo, compatível com o quadro
modos de estimar a mortalidade da população. Embora as multidimensional que envolve a experiência completa de
disciplinas da reabilitação tenham produzido inúmeros saúde.
instrumentos de avaliação e medidas de qualidade de vida, O modelo dinâmico da CIF é mostrado abaixo, na
faltava uma completa classificação que pudesse assegurar Figura 1, incluindo os fatores contextuais.
coleta de dados confiáveis e comparabilidade internacional. Uma importante característica da abordagem que foi
Esta foi a primeira motivação que levou ao desenvolvimento adotada na CIF é a “universalização” do entendimento de
da CIF, que agora serve como modelo da OMS para saúde e deficiência ou incapacidade, pois reconhece a população
incapacidade, como base conceitual para a definição, inteira como sendo passível de apresentar uma doença
medidas e formulações de política para todos os aspectos da crônica, deficiência ou incapacidade, como uma condição
deficiência ou incapacidade. humana compartilhada.
Ao construir as definições das categorias da CIF, O esquema da CIF não fornece limites para definir
foram consideradas características ideais das definições quem é deficiente e quem não é; em vez disso, ela reconhece
operacionais. São 330 Rev Bras Epidemiol 2008; 11(2): aspectos e graus de deficiência ou incapacidade ao longo de
324-35 O papel das Classificações da OMS - CID e CIF nas toda a população. Muitos usos estatísticos de dados de
definições de deficiência e incapacidade Di Nubila, H.B.V deficiência ou incapacidade não requerem o estabelecimento
& Buchalla, C.M. consideradas características ideais das de limites, não existindo necessidade, nestas abordagens, de
definições elas terem um significado e consistência do ponto uma definição de quem se conta como deficiente e quem
de vista lógico, identificando unicamente o conceito não. Assim, a comparação internacional de estatísticas de
mencionado pela categoria; e serem exclusivas e precisas, deficiência não requer necessariamente pontos de limite para
apresentando as características ou qualidades essenciais do serem resolvidos 21. A CID-10 e a CIF são classificações
conceito e obedecendo às regras de taxonomia. Os termos amplas, que podem descrever qualquer estado de saúde ou
utilizados devem ser neutros, sem conotações negativas. de funcionalidade, sem definir limites. Na realidade, a CID-
Cada definição contém, como também se observa na CID, 10 faz parte do modelo da CIF, estando colocada no
notas de inclusão com sinônimos e exemplos, bem como primeiro módulo da Figura 1, que representa o seu modelo
notas de exclusão para alertar sobre possíveis confusões com dinâmico, no lugar reservado às condições ou estados de
termos relacionados. saúde, que incluem os distúrbios ou doenças. É este modelo
A seguir são listadas as definições dos que se mostra como o mais aproximado da descrição da
componentes da CIF experiência de incapacidade vivida pelos indivíduos em
qualquer condição de saúde, e, portanto, útil para apreender
● Funções Corporais: são as funções fisiológicas ou
as variáveis envolvidas nesta situação dinâmica de interação
psicológicas dos sistemas do corpo. do indivíduo com um determinado contexto.
● Estruturas Corporais: são as partes anatômicas do corpo Seus componentes descrevendo as experiências
relacionadas à saúde substituem os termos “deficiência”,
tais como órgãos, membros e outros componentes.
“incapacidade” e “desvantagem”, usados anteriormente,
● Deficiências: são problemas na função ou estrutura permitindo estender seus significados para incluir também, e
corporal, tais como um desvio ou perda significativos. principalmente, as experiências positivas. Os novos termos
são definidos e detalhados dentro da classificação. É
● Funcionalidade: refere-se a todas as funções do corpo e importante lembrar que estes são usados com significados
desempenho de tarefas ou ações como um termo específicos e podem diferir do seu uso corriqueiro 8 . Assim,
genérico. é possível observar o uso intercambiável das palavras
deficiência e incapacidade, tanto na língua portuguesa, como
● Incapacidade: serve como um termo genérico para na inglesa e em outras.
deficiências, limitações de atividades e restrições à Na descrição de desfechos de saúde não fatais, a CIF
participação, com os qualificadores de capacidade ou pode funcionar como uma “Pedra de Rosetta”, assim como
desempenho. A CIF também alista fatores ambientais aponta Üstun (2002), ou seja, como uma matriz de tradução
que interagem com todos estes construtos. para permitir a interlocução entre vários instrumentos
usados para descrever ou avaliar diferentes estados de saúde. Referindo-se ao processo de revisão que veio a resultar na
Segundo esta ideia, quase todos estes instrumentos poderiam CIF, o processo de medida para avaliar a situação de
ser mapeados dentro da CIF, que representaria um modelo incapacidade é multidimensional: envolve funções e
comum. estruturas corporais, bem como as atividades de uma pessoa
Tanto no setor da saúde como em outros setores que e o contexto ambiental ou social da pessoa cuja
necessitam avaliar o estado funcional das pessoas, como é o funcionalidade está sendo avaliada. Não existe consenso
caso da previdência social, do emprego, da educação e dos sobre que componentes deveriam ser empregados no
transportes, entre outros, a CIF pode desempenhar um papel desenvolvimento de medidas para situações de
importante. incapacidade. A maioria dos instrumentos mede uma
Segundo Frank Mulcahy (2005), secretário da mistura de experiências que incluem sintomatologia, apoio
“Disabled Peoples International” (DPI), “por muitos anos, social, carga sobre a família, satisfação, bem-estar subjetivo
esta organização e muitas de outras organizações não e qualidade de vida. O modelo da CIF deverá servir como
governamentais (ONGs) internacionais não adotaram uma base para futuras definições de referência para o fenômeno
definição de deficiência ou incapacidade. Isto se deveu a da incapacidade e deve constituir o padrão para medidas que
muitas circunstâncias, incluindo as seguintes, mas não possam melhor informar a política pública, a alocação de
restritas a estas: muitas definições diferentes usadas na recursos, o gerenciamento de cuidados de saúde e muitos
legislação em diferentes países; a maioria das definições em outros aspectos de uma necessária resposta social à situação
uso eram definições médicas; havia problemas com de incapacidade.
traduções de diferentes definições; aceitação em alguns Quando a definição de deficiência precisa ser aplicada
países de termos rejeitados em outros; a CIDID/ICIDH. para a infância, a questão adquire uma complexidade
A CIDID/ICIDH, como um dos motivos, defendidos própria. A experiência de uma condição de saúde crônica e a
por Mulcahy, para não adotar uma definição de deficiência incapacidade para crianças e jovens não é a mesma dos
ou incapacidade, possivelmente se deve ao modelo médico adultos, em especial devido à natureza variável do
no qual se baseava. Neste sentido, a falta de mudança ao desenvolvimento. Isto torna particularmente difícil medir ou
longo do tempo e o fluxo unidirecional da deficiência para mesmo diagnosticar a incapacidade em crianças muito
incapacidade e para desvantagem foi alvo de muitas críticas pequenas. Neste ciclo da vida, tradicionalmente, a
11. A adoção de representações gráficas alternativas resultou incapacidade tem sido igualada à morbidade, e esta
no modelo dinâmico multidirecional e interativo da CIF11, ambiguidade de definições faz com que os dois conceitos, de
apresentado na Figura 1. condição de saúde crônica e de deficiência ou incapacidade
Para Mulcahy, pode-se ter qualquer número de sejam, com frequência, medidos e identificados de modo
definições usadas para diferentes legislações, e isto cabe, incorreto. Levantamentos incluindo instrumentos baseados
particularmente, para definições de deficiência ou na CID-10 e na CIF, que possam medir de modo distinto
incapacidade usadas para Pagamentos de Benefícios em condições de saúde crônicas, os domínios de incapacidade e
comparação com as Definições Educacionais, de fatores ambientais que têm impacto sobre a incapacidade,
Treinamento e Emprego. poderiam facilitar o entendimento da incapacidade e saúde
A DPI foi representada no processo de revisão da nas crianças, no contexto do modelo de saúde internacional
CIDID/ICIDH para chegar ao documento final, a CIF, que oferecido pela OMS.
adota também o modelo social de deficiência ou O uso combinado da CID-10 e da CIF oferece o
incapacidade, em comparação com o modelo médico compromisso de uma linguagem comum para documentar a
previamente usado. Mulcahy 22 afirma que a DPI se viu natureza e distribuição da incapacidade em crianças em
requisitada a declarar, em várias ocasiões, qual definição de sistemas de serviços de intervenção precoce ou outros
deficiência ou incapacidade gostaria de ver utilizada e que a serviços mais gerais para crianças.
definição apresentada pelo modelo da CIF poderia ser Na CIF é sugerida uma lista mínima para sistemas ou
utilizada para os seus propósitos, ou seja. “o resultado da pesquisas de informações de saúde ideais e mínimos, que
interação entre uma pessoa com uma deficiência e as podem ser 333 Rev Bras Epidemiol 2008; 11(2): 324-35 O
barreiras ambientais e de atitudes que possa enfrentar”. papel das Classificações da OMS - CID e CIF nas definições
Assim, Mulcahy propõe que esta poderia ser utilizada para o de deficiência e incapacidade Di Nubila, H.B.V & Buchalla,
momento como definição preferida esperando que se possa C.M. pontos de partida para a exploração de categorias da
ter uma definição melhorada quando o Conselho Mundial da CIF para definições de deficiência ou incapacidade.
DPI permitir um debate sobre esta questão.
Esta opção pela definição da CIF, com os argumentos Comentários finais
apresentados, possivelmente se deve ao importante apoio e A CIF foi desenvolvida ao longo de duas décadas
participação das ONG de pessoas com deficiência na que compõem o pano de fundo de importantes mudanças de
mudança do modelo da CIDID/ICIDH até o modelo atual da concepções e no modelo da classificação, com a aprovação e
CIF, descrito como um modelo bio-psico-social, mais publicação de documentos de extrema relevância para o
adequado para o entendimento das situações de movimento de direitos das pessoas com deficiência no
incapacidade vividas em diferentes contextos. mundo.
Para Chaterji e col. (1999), definições de “deficiência A utilização da CIF pode contribuir de forma
ou incapacidade” não deveriam ser determinadas pelo modo positiva para o estabelecimento de políticas públicas
como os dados serão usados. Elas deveriam ser voltadas para as pessoas com deficiência ou incapacidade. O
determinadas por um modelo conceitual claro e coerente que novo modelo trazido pela CIF, ao ser utilizado, pode
se prestasse à testagem empírica. As definições poderiam ser fornecer informações que ajudem a estabelecer políticas de
baseadas em pontos de ancoramento e limites, não saúde, a promover a igualdade de oportunidades para todos e
meramente aqueles que se referem a dificuldades e a apoiar a luta contra a discriminação das pessoas com
assistência, mas aqueles que capturam o impacto na vida do deficiência ou incapacidade. A CIF foi incluída, mesmo
indivíduo e incorporam medidas individuais e sociais. antes da sua edição, como padrão para caracterização da
deficiência na proposta do Estatuto da Pessoa com
Deficiência, apresentada em consulta pública ao Senado
Federal, embora esta menção tenha desaparecido e
reaparecido em minutas subsequentes. Este pode ser o
reflexo da grande expectativa com a qual é aguardada, no
Brasil, a utilização da CIF em português, em especial pelas
organizações de pessoas com deficiências e instituições
relacionadas. Outro exemplo de uso em nosso meio, mesmo
reconhecendo a complexidade própria da classificação, é a
aplicação da CIF em um instrumento de avaliação para a
concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC). O
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
criou um Grupo de Trabalho Interministerial, para propor
novos parâmetros e procedimentos de avaliação das pessoas
com deficiência para acesso ao BPC, que optou por elaborar
novos instrumentos de avaliação com base no modelo da
CIF, tendo já realizado estudo piloto com grupos de médicos
peritos do INSS, com boa aceitação.
A CIF, ao ser usada de uma forma mais ampla ou
mais consistente, permitirá que se adote uma nova
terminologia, que se padronizar conceitos e que se reflita
sobre o tema, podendo contribuir para tornar mais claro o
uso das palavras, para conseguir um entendimento e uma
comunicação mais uniforme entre as pessoas interessadas
nesta área, buscando alcançar as vantagens de sua
terminologia padronizada. No Brasil, algumas leis já contêm
elementos de definição da CIDID/ICIDH, mas ainda pouco
se avançou para a incorporação da CIF. Algumas discussões
ainda são pautadas nas definições da CIDID/ICIDH, com o
uso do seu modelo linear negativo e da ideia de “handicap”
ou “desvantagem”. Isto possivelmente se deve ao fato de o
modelo experimental da CIDID/ICIDH ter vigorado por
muitos anos antes de ser revisado resultando na CIF, sendo o
modelo desta ainda pouco conhecido e entendido. Isto
aponta para a necessidade de que seja apresentado aos
profissionais da área, grupos de pessoas com deficiência,
ativistas de direitos, enfim a quantos grupos mais possam se
tornar interlocutores e agentes multiplicadores com especial
senso crítico, para elaborar políticas mais justas e mais
claras para pessoas com deficiência ou incapacidade.
Para o futuro, espera-se o desenvolvimento de
algoritmos que determinem direitos para benefícios e
pensões, utilizando um melhor entendimento das definições
de deficiência ou incapacidade da CIF para as questões de
elegibilidade. Definições e limites desenhados a partir da
classificação devem conter elementos de deficiência (no
nível do corpo) associados com incapacidade (aspecto
negativo de interação entre a condição de saúde e fatores
contextuais), com qualificadores de gravidade.
É importante que o poder público e os formuladores
de políticas participem da discussão para a obtenção de
definições e avaliações mais claras e mais justas da
deficiência ou incapacidade.
A CIF é de propriedade de todos os seus usuários.
A sociedade interessada, em especial as pessoas com
deficiência, as organiza- 334 Rev Bras Epidemiol 2008;
11(2): 324-35 O papel das Classificações da OMS - CID e
CIF nas definições de deficiência e incapacidade Di Nubila,
H.B.V & Buchalla, C.M. ções sociais e os formuladores de
políticas, devem se apropriar do conhecimento sobre os usos
potenciais da CID-10 e da CIF. O uso destas classificações
como instrumentos pode contribuir para que as reais
condições de vida das pessoas com deficiência venham a
fazer parte das estatísticas, permitindo guiar ações e
decisões, delinear políticas, definir intervenções e destinar
orçamentos, entre outras.

Você também pode gostar