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DIREITO À ACESSIBILIDADE: A EDUCAÇÃO DAS PESSOAS COM

DEFICIÊNCIA DURANTE A PANDEMIA

RIGHT TO ACCESSIBILITY: EDUCATION OF PERSONS WITH DISABILITIES


DURING THE PANDEMIC

Milena dos Santos Vieira


Autora. Pós-graduanda em Direito Penal e Processo Penal pela Escola Verbo Jurídico. Bacharel em Direito pela
Faculdade Cesuca Inedi. Integrante do Grupo de Pesquisa de Direitos Humanos da Faculdade Cesuca Inedi.
Advogada. Email: milenavieira93@gmail.com.

Cristiane Feldmann Dutra


Orientadora. Doutoranda em Educação na instituição Unilasalle. Mestre em Direito na UniRitter - Laureate
International Universities-RS. Especialista em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho e Especialista em
Direito Civil e Processo Civil no Instituto de Desenvolvimento - IDC-RS. Especialista em metodologia e ensino
a distância na Instituição Anhanguera Valinhos-SP. Coordenadora do Grupo de Pesquisa GPDH- Grupo de
pesquisa em Direitos Humanos na Faculdade CESUCA. Docente de Direito de Graduação e Pós-Graduação. E-
mail: cristiane.feldmann@hotmail.com

RESUMO
As pessoas com deficiência, são uma minoria social no mundo, porém estão em grande
número em nosso país, mas ainda passam por diversas violações de seus direitos ao longo da
vida. Apesar do direito a acessibilidade ser consagrado por diversas normas, muitas pessoas
não compreendem sua função, que é de suma importância para viabilizar todos os outros
direitos das pessoas com deficiência. O direito a educação é um dos que transpassa pelo
direito aa acessibilidade para se concretizar, pois sem a acessibilidade não existe educação de
qualidade e inclusiva. Exemplos da acessibilidade a educação é o atendimento educacional
especializado, o acompanhamento pedagógico de apoio e a flexibilização curricular, institutos
sem os quais não é possível incluir verdadeiramente uma pessoa com deficiência. Entender
esses direitos passa por superar o preconceito, os estereótipos e se apropriar da condição
diversa das pessoas com deficiência, e principalmente saber que ter uma deficiência não é
sinônimo de invalidez. Na situação de pandemia que estamos vivendo é ainda mais
importante exercer a proteção dos direitos das minorias, neste caso das pessoas com
deficiência, pois elas são as pessoas que mais podem sofrer violações nestes momentos de
calamidade pública. O direito a educação também está ligado ao direito a acessibilidade,
como já exposto, porém na condição de isolamento social a educação sofre readequações
violentas e muda complemente sua didática, pois deixa de ser presencial e se torna a distância,
o que causa impactos em todos os alunos. Aos alunos com deficiência esse impacto é ainda
maior e é preciso se readaptar a essa rotina, mantendo, primordialmente, os institutos de apoio
pedagógico e de flexibilização curricular, para que de fato a educação a distância também seja
acessível a eles. Nesse momento todos precisamos estar atentos para que nenhum aluno fique
sem receber atividades por falta de flexibilização curricular ou mesmo não consiga realizar as
atividades por falta de estrutura tecnológica.

Palavras-chave: Acessibilidade; pessoa com deficiência; direito social.

ABSTRACT
As people with disabilities, they are a social minority in the world, but they are in large
numbers in the country, but they still experience various violations of their rights throughout
their lives. Although the right of accessibility is enshrined in several rules, many people do
not understand its function, which is important to enable all other rights of people with
disabilities. The right to education is one of those that pass through the right of accessibility to
materialize, because without access there is no quality and inclusive education. Examples of
accessibility in education and specialized educational assistance, pedagogical support and
curriculum flexibility, institutes without which it is not possible to include a person with a
disability. The recipient of these rights goes through overcoming or prejudice, stereotypes and
appropriating different conditions for people with disabilities, and especially knowing that an
alteration is not synonymous with disability. In the pandemic situation, which we are
experiencing, it is even more important to protect the rights of minorities, in this case of
people with disabilities, as they are the people who are most likely to suffer violations in these
moments of public calamity. The right to education is also linked to the right of accessibility,
as already explained, however, in the condition of social isolation, education undergoes
violent readjustments and completely changes its didactics, as it leaves the presence and the
possibility of becoming at a distance, which causes damage to all students. This impact is
even greater for students with disabilities and it is necessary to read this routine, maintain,
primarily, the educational support and curricular flexibility institutes, so that facts about
distance education are also accessible to them. At that time, all items that need activities for
the lack of curriculum flexibility or even fail to carry out activities due to lack of
technological structure.

Keywords: Accessibility; disabled person; social law.

1 INTRODUÇÃO

Diante da pandemia de corona vírus que assola o mundo, tivemos a nossa rotina
totalmente transformada, evitando aglomerações, ficando em isolamento social e
desenvolvendo as nossas atividades de forma remota.
Dentre essas atividades a educação foi uma das mais atingidas, pois agora ocorre a
distância, dependendo de acesso a internet e auxílio dos pais para os alunos da educação
básica. São muitas transformações e readequações que todo o método de ensino precisa
realizar, bem como os alunos precisam acompanhar junto com suas famílias.
Em meio a tudo isso estão os alunos com deficiência, que possuem o direito a
acessibilidade que é o que possibilidade o exercício de todos os outros direitos, como por
exemplo, o direito a educação.
O direito a educação para as pessoas com deficiência ocorre por meio da educação
inclusiva, acompanhamento educacional especializado, acompanhamento pedagógico de
apoio e flexibilização curricular.
É preciso também readequar esses institutos para a educação a distância, pois em eles
é inviável o acesso da pessoa com deficiência.
É importante ressaltar que nesses momentos de calamidade pública precisamos estar
todos atentos aos direitos das minorias, pois podem ser facilmente violados, ainda mais
estando em isolamento social.
Por isso, ressalta-se que nenhum aluno com deficiência, seja da educação infantil,
ensino fundamental, ensino médio ou educação superior, pode ficar sem receber aulas ou
atividades por falta de acessibilidade, seja ao material disponibilizado sem a flexibilização
curricular ou mesmo por falta de estrutura tecnológica necessária para conseguir utilizar este
material, tendo em vista as deficiências visuais e auditivas.
A seguir observaremos o conceito de acessibilidade, o preconceito relacionado as
pessoas com deficiência e os estereótipos que contribuem para este preconceito, bem como
todas as conquistas social dos direitos das pessoas com deficiência e como isso influi e
assegura o direito a educação em tempos de pandemia.

2 ACESSIBILIDADE E PRECONCEITO

O preconceito com as pessoas com deficiência é histórico em nossa sociedade. Essas


pessoas sempre foram vistas como alguém digno de pena, com limitações impeditivas de se
tornar um adulto independente, estudar, trabalhar e constituir uma família, como todas as
outras pessoas.
Atualmente, ainda podemos observar muita discriminação relacionada as pessoas com
deficiência; entretanto, com o advento do Estatuto da Pessoa com Deficiência, diversos
direitos foram consagrados, bem como os crimes relacionados as violações em face à PcD
(pessoa com deficiência).
Primeiramente, é importante observar o conceito de pessoa com deficiência trazido
pela lei:

Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo
prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com
uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade
em igualdade de condições com as demais pessoas. (BRASIL, 2015)

Com o conhecimento de a quem se destinam esses direitos, passamos a observar no


que concerne o direito à acessibilidade, também positivado pela Lei 13.146/2015.

Art. 3º Para fins de aplicação desta Lei, consideram-se:


I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização, com
segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações,
transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem
como de outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privados
de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou
com mobilidade reduzida; (BRASIL, 2015)

Como podemos observar, a acessibilidade se dá por qualquer meio necessário para que
a pessoa com deficiência possa exercer seus direitos de forma plena e igualitária. Qualquer
direito dessa pessoa precisa, necessariamente, ser acessível, pois caso não o seja, será
discriminatório, tendo em vista que inviabiliza a PcD de acessa-lo.

Cabe ressaltar que a proteção dos direitos da pessoa com deficiência cabe ao Estado, a
sociedade e a família, conforme o Estatuto próprio.

Art. 8º É dever do Estado, da sociedade e da família assegurar à pessoa com


deficiência, com prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à
sexualidade, à paternidade e à maternidade, à alimentação, à habitação, à educação,
à profissionalização, ao trabalho, à previdência social, à habilitação e à reabilitação,
ao transporte, à acessibilidade, à cultura, ao desporto, ao turismo, ao lazer, à
informação, à comunicação, aos avanços científicos e tecnológicos, à dignidade, ao
respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária, entre outros decorrentes
da Constituição Federal, da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência e seu Protocolo Facultativo e das leis e de outras normas que garantam
seu bem-estar pessoal, social e econômico.

Diante desses conceitos podemos começar a perceber o quão importante a


acessibilidade é para uma pessoa com deficiência. Essas pessoas ocupam cada vez mais
espaços e precisam ter seus direitos respeitados.

É grande o contingente populacional que apresenta algum tipo de deficiência. Os


programas de proteção social devem cuidar para que, também nessa seara, haja
linhas de inclusão social dessas pessoas, seja no mercado de trabalho; seja na vida
escolar; seja em qualquer expressão da tão necessária vivencia comunitária.
(BALERA, 2012, p. 120)

Especificamente sobre o direito à educação, se torna primordial que as pessoas com


deficiência tenham acesso a uma educação de qualidade, inclusiva e adaptada conforme suas
necessidades observadas individualmente.

Art. 27. A educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurados sistema
educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de
forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades
físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e
necessidades de aprendizagem.
Notadamente, para que as pessoas com deficiência possam exercer seu direito a
educação, é preciso que as barreiras do preconceito sejam quebradas e que a acessibilidade
seja observada por todo grupo escolar, família e sociedade como um todo.
Na situação de pandemia em que vivemos, a necessidade da proteção dos direitos das
minorias, no caso em tela, das pessoas com deficiência é de total importância, pois em
momentos como este, essas pessoas se tornam ainda mais vulneráveis a possíveis
negligências.

3 DEFICIÊNCIAS E ESTERIÓTIPOS

Atrelado ao preconceito, advindo da ignorância das pessoas sobre o tema, existem


muitos estereótipos criados sobre as pessoas com deficiência.
Algumas pessoas acreditam que as deficiências se restringem as físicas, ou seja,
questões que sejam visualmente perceptíveis, porém sabemos que existe uma imensidão de
deficiências conhecidas hoje em dia e a grande maioria não traz características físicas.
Conforme dados obtidos pelo IBGE em 2013, a população brasileira que apresenta
algum tipo de deficiência seria quase 10% da população total, ademais, em 2010, o Censo
havia registrado quase 24% da população com alguma deficiência, demonstrando que os
números reais podem passar disso, tendo em vista a falta de diagnósticos nas populações mais
vulneráveis. (BRASIL, 2019)
Desta forma, muitas deficiências não possuem uma condição física, como, por
exemplo, a deficiência intelectual que atinge um grande número de pessoas, pois pode-se ter
essa comorbidade de forma exclusiva ou atrelada a outros tipos de deficiência, como a
Síndrome de Down. (BATISTA, 2008, p.126)
Não reconhecer a deficiência intelectual gera a falta de acessibilidade que esse aluno
precisa para se desenvolver e, consequentemente, gera a discriminação.
Ainda sob a ótica do preconceito pelo estereotipo, é necessário compreender que uma
pessoa que possui qualquer deficiência, física ou não, tem suas necessidades, assim como tem
suas habilidades.
Muitas pessoas pensam que a pessoa que se encontra em uma cadeira de rodas, ou
possui uma deficiência motora que a impede de falar ou tem alguma paralisia é incapaz. No
entanto, essas pessoas são capazes de realizar grandes feitos, como qualquer outra, desde que
tenham os impulsos corretos para tanto.
Subjugar uma pessoa com deficiência também é uma forma de discriminação, pois não
permite que a mesma desenvolva todas as suas potencialidades. (OLIVEIRA, 2007)
Por isso, é de suma importância que os educadores saibam de todas essas situações e
desenvolvam uma adaptação curricular individualizada para cada aluno de inclusão,
respeitando o direito a educação dos mesmos, conforme os diplomas legais.

Artigo 7 - Crianças com deficiência

1. Os Estados Partes adotarão todas as medidas necessárias para garantir o pleno


gozo de crianças com deficiência de todos os direitos humanos e liberdades
fundamentais em igualdade de condições com as outras crianças.
2. Em todas as ações relativas a crianças com deficiência, o melhor interesse da
criança deve ser uma consideração primária.

Artigo 24 – Educação

1. Os Estados Partes reconhecem o direito das pessoas com deficiência à educação.


Com o objetivo de realizar esse direito sem discriminação e com base na igualdade
de oportunidades, os Estados Partes garantirão um sistema educacional inclusivo em
todos os níveis e a aprendizagem ao longo da vida direcionada a:
a. O pleno desenvolvimento do potencial humano, senso de dignidade e valor
próprio e o fortalecimento do respeito pelos direitos humanos, liberdades
fundamentais e diversidade humana;
b. O desenvolvimento, por pessoas com deficiência, de sua personalidade, talentos e
criatividade, bem como de suas habilidades mentais e físicas, em todo o seu
potencial;
c. Permitir que as pessoas com deficiência participem efetivamente de uma
sociedade livre. (ONU, 1975)

Todos esses ensinamentos são válidos em todos os momentos da nossa vida, porém em
um momento de calamidade pública, como a que estamos vivendo, é imprescindível
reconhecer e proteger ainda mais os direitos das pessoas com deficiência, pois necessitam de
adaptações e acessibilidade diferenciadas para acompanhar o ensino a distancia que nos foi
imposto pela atual conjuntura mundial, tanto para os alunos da educação básica, como para os
alunos do ensino superior.

4 ACOMPANHAMENTO PEDAGÓGICO E FLEXIBILIZAÇÃO CURRICULAR

O direito à educação é extremamente relevante, em especial as pessoas com


deficiência, pois, em regra, precisam de mais estímulos para um desenvolvimento pleno.
Portanto, se essas pessoas não recebem uma educação de qualidade, inclusiva e acessível
conforme sua deficiência, tende a se tornar um cidadão invisível. (OLIVEIRA, 2007)
Como pode-se imaginar, muitas vezes, a adaptação da criança com deficiência no
ambiente escolar não é fácil, bem como do adulto que chega a graduação, com novos desafios
para enfrentar.
Essa adaptação pode ser difícil por diversos motivos, como: falta de conhecimento
sobre a deficiência, vulnerabilidade social, falta de capacitação dos educadores, falta de
estrutura acessível e desenho universal, etc. Segundo a ONU, das pessoas com deficiência,
apenas 45% (meninos) e 32% (meninas) completam o ensino primário nos países em
desenvolvimento, que é o caso do Brasil. (ONU, 2011)
Esses dados são muito expressivos a fim de descrever o tamanho da dificuldade das
pessoas com deficiência efetivarem seu direito à educação, com acessibilidade de fato.
Apesar disso, muito vem sendo feito para combater a falta de inclusão e de
acessibilidade da educação. O Conselho Nacional de Educação, em 2009, fixou diretrizes
curriculares nacionais para a educação infantil na Resolução 05/2009, onde prevê o
atendimento das especificidades educacionais das crianças com deficiência em seus projetos
político-pedagógicos (PPPs), que são justamente os documentos que norteiam os educadores
no seu trabalho. (BRASIL, 2009)
Esse documento orienta a elaboração dos PPPs com o planejamento e
desenvolvimento das atividades próprias da educação infantil de forma a favorecer a interação
entre as crianças com deficiência e seus pares, incentivando o reconhecimento do espaço
escolar, proporcionando a plena participação de todos em todas as atividades disponíveis.
(BRASIL, 2009)
Os documentos apresentam grande progresso no tema, principalmente em relação ao
direito preferencial de educação inclusiva, ou seja, em escola regular, mas respeitando as
necessidades da pessoa com deficiência.
Entretanto, é preciso um engajamento total de todos os educadores para que as normas
sejam colocadas em prática. Os direitos a acompanhamento pedagógico e flexibilização
curricular são a base para esse desenvolvimento prático.
Consagrados no Estatuto da Pessoa com Deficiência e também na resolução citada
acima, é direito desses alunos que possuem alguma deficiência ou Transtorno do Espectro
Autista (TEA). A Resolução 05/2009 traz a obrigatoriedade do setor de Atendimento
Educacional Especializado (AEE) em todos os níveis de ensino.

Art. 2º O AEE tem como função complementar ou suplementar a formação do aluno


por meio da disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias
que eliminem as barreiras para sua plena participação na sociedade e
desenvolvimento de sua aprendizagem. (BRASIL, 2009)

O AEE fornece diversos recursos pedagógicos para a educação inclusive, por isso tem
papel fundamental na educação e acessibilidade das pessoas com deficiência.
Art. 10. O projeto pedagógico da escola de ensino regular deve
institucionalizar a oferta do AEE prevendo na sua organização:
I – sala de recursos multifuncionais: espaço físico, mobiliário, materiais
didáticos, recursos pedagógicos e de acessibilidade e equipamentos
específicos;
II – matrícula no AEE de alunos matriculados no ensino regular da própria
escola ou de outra escola;
III – cronograma de atendimento aos alunos;
IV – plano do AEE: identificação das necessidades educacionais específicas
dos alunos, definição dos recursos necessários e das atividades a serem
desenvolvidas;
V – professores para o exercício da docência do AEE;
VI – outros profissionais da educação: tradutor e intérprete de Língua
Brasileira de Sinais, guia-intérprete e outros que atuem no apoio,
principalmente às atividades de alimentação, higiene e locomoção;
VII – redes de apoio no âmbito da atuação profissional, da formação, do
desenvolvimento da pesquisa, do acesso a recursos, serviços e equipamentos,
entre outros que maximizem o AEE. (BRASIL, 2009)

Entretanto, esse atendimento é específico e individualizado ao alunos e não é feito


junto com seus pares, por isso é de suma relevância que também haja o acompanhamento
pedagógico e de apoio em sala de aula, quando necessário, conforme o inciso 6º; e o
engajamento dos professores de sala de aula para a realização da flexibilização curricular
conforme as necessidades de cada aluno.
Na Declaração de Salamanca (1994) ocorreram as primeiras referências ao conceito de
flexibilidade curricular, que a época era chamado de “adaptação curricular”, contudo, vale
trazer o conceito da doutrina: “percebe-se uma defesa de que o currículo seja adaptado às
crianças e não o contrário” (GARCIA, 2007, p.16).
O termo flexibilização curricular passou a ser citado a partir de 2005 pela Secretaria de
Educação Especial associando-se ao termo adequação curricular conforme pesquisado por
Garcia (2007, p.16):
1.considerada fundamental para o processo de inclusão educativa e devendo ser
pensada a partir do grupo de alunos e a diversidade que o compõe e não para alguns
alunos isoladamente (Brasil, 2005, p.10); e
2. Importante para viabilizar o processo de inclusão, a partir de “adequações
curriculares (...) pensadas a partir do contexto grupal em que se insere determinado
aluno (...).
As adaptações curriculares devem ser pensadas a partir de cada situação particular e
não como propostas universais, válidas para qualquer contexto escolar (p.29)”.

Observando o dever de realizar a flexibilização curricular, e também o seu caráter


individual e contextualizado, começamos a pensar na flexibilização curricular em tempos de
pandemia. Com o isolamento social, passamos a viver uma nova realidade na qual todos os
alunos estão tendo aulas domiciliares, desde a educação infantil até o ensino superior.
Isso muda completamente a contextualização do ensino, para os alunos com
deficiência e os demais. Assim, é imprescindível que os educadores revejam o ensino para
não apenas transportá-lo da educação presencial para a distância, pois são métodos
completamente diferentes e que requerem uma readequação.
Para os alunos com deficiência é importante que se pense na acessibilidade para
realizar as atividades em casa e com os pais, que nem sempre concluíram o ensino básico.
(LITTO, 2020)
Portanto, deve-se pensar além da necessidade educacional do aluno, de suas condições
atuais acadêmicas, buscando a não infantilização dos mesmos, porém considerando que eles
também precisam se adaptar aos novos métodos de ensino, mas que em nenhuma hipótese
devem ficar sem aulas ou atividades, assim como seus pares. (LUNARDI, 2020)
É notório que as minorias socias sempre serão as mais prejudicadas em tempos de
calamidade pública, justamente porque são as primeiras a terem seus direitos violados e
pouquíssimos meios para reclama-los com eficiência, por isso é tão importante observar o
direito a educação das pessoas com deficiência para que, nesse momento de pandemia, não
seja completamente inviabilizado por falta de flexibilização curricular e estrutura pedagógica.

CONCLUSÃO

A pandemia do COVID-19 nos obrigou a ficar em isolamento social e mudar a nossa


rotina sob diversos aspectos. Um desses aspectos foi o do direito à educação, que sofreu fortes
alterações, tendo em vista que todos os alunos passaram a ter aulas domiciliares.
As aulas ou atividades são enviadas de forma física ou digital para os alunos
realizarem em casa, o que não é tarefa fácil, pois precisam de um auxílio continuo dos pais
que nem sempre tem condições de ajudar.
Em meio a toda essa transformação educacional, temos os alunos com deficiência,
desde a educação infantil até o ensino superior. Os direitos de acessibilidade desses alunos já
foram consagrados por diversas normas, como: Estatuto da Pessoa com Deficiência, a
Declaração sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, Resoluções, etc. Entretanto,
sabemos que essas pessoas que até décadas atrás eram tratadas como invisíveis ainda sofrem
diversos preconceitos na nossa sociedade, e por vezes, tem seus direitos violados.
Em função disso, é tão importante estarmos vigilantes em relação aos direitos das
minorias, neste caso, das pessoas com deficiência, principalmente em momentos de muita
insegurança como o que estamos vivendo.
É preciso compreender que as pessoas com deficiência têm direito a uma educação
inclusiva, e que independente das transformações sociais e pedagógicas que estamos
passando, elas têm direito ao acesso a uma educação de qualidade, acompanhamento
pedagógico especializado e flexibilização curricular.
Esses institutos são de suma importância para uma educação realmente inclusiva e que
observa de forma individual cada aluno com deficiência, respeitando suas necessidades.
Para que isso ocorra, todos os profissionais da educação precisam trabalhar de forma
conjunta para elaborar o melhor plano de aprendizagem a distância para esses alunos.
Pensando tanto na flexibilização curricular, quando na estrutura tecnológica necessária para
os alunos com deficiência.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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