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MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO

Fernanda Bernardes (coordenação e redação)


Ana Moraes (pesquisa e elaboração de exemplos)
Juliana Pereira (revisão)

Apresentação
“Para as pessoas sem deficiência, a tecnologia torna as
coisas mais fáceis; já para as pessoas com deficiência, a tecnologia
torna as coisas possíveis.” (Radabaugh)

Os cursos na modalidade à distância podem ser compreendidos como


sinônimo da democratização do acesso à educação, uma vez que
possibilitam a disseminação do ensino por todos os cantos do país. Contudo,
não são raras as vezes em que pessoas com deficiência encontram
obstáculos de acessibilidade nessa modalidade. Com esse horizonte, a
educação inclusiva se constitui como uma das esferas mais propícias para o
desenvolvimento de práticas de ensino-aprendizagem adaptadas, seja no
âmbito de ensino remoto ou presencial e, por isso, o corpo social e
institucional demanda uma reestruturação da produção e aquisição do
conhecimento.

Para além das discussões, a sociedade contemporânea se constitui


por agentes que buscam por ações adequadas para a resolução de
problemas relativos à existência digna de pessoas com deficiências físicas.
Esses agentes buscam garantir uma educação inclusiva pautada no respeito
à diferença, na tolerância e na igualdade, assim, o número de iniciativas que
visam a atender às mais diversas necessidades cresce gradativamente. Os
recursos utilizados para promover a acessibilidade no ensino incluem a
elaboração de conteúdos como a audiodescrição, cujo objetivo é tornar
imagens e outros elementos gráficos acessíveis para pessoas que possuem
cegueira total ou baixa visão.
Embora essa parcela da população com deficiências físicas pareça
invisível, o fato é que ela existe e necessita de atenção. De acordo com
levantamento realizado no ano de 2010 pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com a Organização Mundial da
Saúde, 6,2% da população brasileira apresenta algum tipo de deficiência, de
modo que a deficiência visual é a mais representativa, com 3,6% dos
brasileiros que possuem cegueira total ou baixa visão. De modo mais
preciso, esses 3,6% somam 528.624 pessoas com cegueira total e
6.056.654 pessoas com baixa visão ou visão subnormal (IBGE, 2010).

Com base nesses dados e sabendo que a acessibilidade é um dos


eixos essenciais da educação, elaboramos este breve manual sobre a
audiodescrição, pois, independentemente de ser uma pessoa com
deficiência ou não, todos devem ter a oportunidade de aprender, ensinar e
construir novos conhecimentos.

Antes de passar as recomendações e dicas acerca da audiodescrição,


é importante entender que é por meio dela que a acessibilidade se dá para
as pessoas com deficiência visual. Ou, como explicam Motta e Romeu (2010,
p. 11):
A audiodescrição funciona como um recurso de acessibilidade que
amplia o entendimento das pessoas com deficiência visual [...] que
transforma o visual em verbal, abrindo possibilidades maiores de
acesso à cultura e à informação, contribuindo para a inclusão social,
cultural e escolar.

Nesse sentido, destaca-se que, para ampliar a acessibilidade dos


recursos educacionais na modalidade EaD, contamos com todo o potencial
das tecnologias da informação e da educação inclusiva digital.
SUMÁRIO

Diretrizes gerais para desenvolvimento e aplicação da audiodescrição 4

11 Dicas para descrever imagens estáticas 5


Exemplos 6
Fotografia 6
Quadro 6
Esquema 7
Gráfico 7
Obra de arte 9
Mapas 9
Imagens microscópicas 11
Fórmulas matemáticas 12
Referências 13
Diretrizes gerais para desenvolvimento
e aplicação da audiodescrição
De acordo com Silva et al. (2011), um conjunto de diretrizes em prol da
acessibilidade no contexto educacional contribui para que os recursos desenvolvidos
atendam ao maior número de estudantes possível, ainda que com diferentes
potencialidades e limitações. Para colocar em prática as ações pautadas nessas
diretrizes, trabalhamos com a audiodescrição como elemento de acessibilidade
aplicado aos recursos educacionais respeitando dois princípios básicos que norteiam
a profissão de audiodescritor e que são apresentados na Revista Brasileira de
Tradução Visual (RBTV, 2009):

1. a audiodescrição deve ser desenvolvida de forma natural e, por isso,


considera-se que o planejamento de criação desse recurso deve ser integrado
logo no início do projeto, de modo que não haja a necessidade de adaptação
posteriormente, como novas edições ou padrões dos recursos educacionais
elaborados;
2. um bom trabalho de audiodescrição considera o perfil do público, por exemplo,
no caso de audiodescrição na educação inclusiva, deve-se identificar a faixa
etária, conhecimentos prévios entre outros.

Nesse cenário, com o objetivo de transformar a educação, a Adapt busca criar


mecanismos e ferramentas que garantam a acessibilidade para pessoas com
deficiências. Com esse propósito, adotamos o uso da hashtag #PraCegoVer em
nossos materiais a fim de possibilitar a transformação de imagens em palavras, por
meio da ação de descrever fotografias, ilustrações, tabelas, pinturas, mapas, entre
outros. Isso garante às pessoas com deficiência visual a possibilidade de
aprendizagem.

Vejamos, agora, dicas para elaboração da audiodescrição.


11 Dicas para descrever imagens
estáticas
1. Escrever primeiro o título da imagem. Lembrando que o título deve ser objetivo,
curto e não leva ponto final.
2. Uma boa descrição sempre responderá quatro perguntas: O quê? Quem? Onde?
Como?
3. Colocar a hashtag #PraCegoVer.
4. Anunciar o tipo de imagem: fotografia, imagem, cartaz, ilustração, desenho,
folder, capa de livro etc.
5. A partir disto, defina o que é relevante e importante (uma pessoa e suas
características, a ação, a paisagem, o produto ou outro aspecto).
6. Começar a descrever da esquerda para a direita, de cima para baixo (a ordem
natural de escrita e leitura ocidental).
7. Informar as cores: fotografia em tons de cinza, em tons de sépia, em branco e
preto. Se a foto for colorida, não é necessário informar “fotografia colorida”,
porque as cores dos elementos da foto serão descritas e a indicação ficará
redundante. Se você já vai dizer que “a moça está de casaco vermelho, ao lado
de flores amarelas”, não precisa informar que a foto é colorida.
8. Descrever todos os elementos de um determinado ponto da foto e, depois,
passar para o próximo ponto, criando uma sequência lógica.
9. Descrever com períodos curtos (pode-se falar com três palavras).
10. É bom começar pelos elementos menos importantes, contextualizando a cena,
e ir afunilando até chegar no ponto chave da imagem.
11. Evitar adjetivos e impressões. Se algo é lindo, feio ou agradável, a pessoa com
deficiência é quem vai decidir a partir da descrição feita.

IMPORTANTE: O texto audiodescrito será narrado pela função de programas de


leitura, denominados “conversores de texto em fala”, por isso, é fundamental que o
texto esteja escrito corretamente, sem erros de digitação, gramaticais e de
pontuação.
Exemplos
Fotografia

#PraCegoVer: fotografia da Enseada de Botafogo com o complexo do Pão de Açúcar ao fundo vistos a
partir da estátua do Cristo Redentor. Na parte superior da fotografia, há o complexo de morros rodeado
pelo mar da Baía de Guanabara. Na parte inferior, destaque para a ocupação urbana com suas
edificações.

Quadro
#PraCegoVer: quadro nas cores: vermelha, branca e rosa, composto por duas colunas e quinze linhas. Na
primeira coluna, há os cabeçalhos: censo dois mil e dez e os tipos de deficiência. Nas linhas
subsequentes: cegueira, baixa visão, surdez, deficiência auditiva, deficiência física, surdo-cegueira,
deficiência múltipla e deficiência intelectual/mental; na segunda coluna, há os cabeçalhos: censo dois
mil e onze e os tipos de deficiência, transtorno global do desenvolvimento e altas habilidades ou
superdotação. Nas linhas subsequentes: cegueira, visão subnormal ou baixa visão, surdez, deficiência
auditiva, deficiência física, surdo-cegueira, deficiência múltipla, deficiência intelectual, autismo infantil,
síndrome de Asperger, síndrome de Rett, transtorno de integrativo da infância e altas habilidades ou
superdotação.

Esquema

#PraCegoVer: sobre um retângulo, há um diagrama com uma linha vertical e outra horizontal
sobrepostas a um círculo com a legenda: campo visual central. Há quatro retângulos menores. As
pontas destas linhas ficam próximas a cada retângulo com as legendas: campo visual lateral, campo
visual superior, campo visual lateral e campo visual inferior.

Gráfico
#PraCegoVer: gráfico em pizza, dividido em quatro pedaços nas cores: azul, vermelha, verde e lilás. Cada
pedaço corresponde ao nível máximo de formação acadêmica. Desse modo, com Especialização, quatro
professores; com Mestrado, sete; com Doutorado, seis, e com Pós-doutorado, três.

Infográfico

#PraCegoVer: Infográfico de Curiosidades sobre a Água, trazendo textos e imagens decorativas


relacionadas à água. 768 milhões de pessoas não têm acesso a nenhuma fonte de água potável no
mundo. O Brasil é um dos países que mais desperdiça água potável no mundo, sendo que 37% de toda a
água tratada no Brasil em 2013 foi desperdiçada. A quantidade de água recomendada pela OMS para
uma pessoa é de 110 litros por dia, mas cada brasileiro consome em média 200 litros de água por dia.
Um desumidificador retira 480 litros de água a cada 24 horas.
Obra de arte

#PraCegoVer: Pintura colorida. Sobre o chão de terra, caminham dois homens negros, um menino
negro e uma mulher negra descalços, um homem branco sentado em uma rede e um cachorro cinza.
Todos estão de perfil esquerdo. A frente do grupo um homem negro veste calças de cor clara, dobradas
até o joelho. Sobre o ombro esquerdo ele tem um cabo de madeira e sobre o direito uma ponta de vara
de bambu a outra ponta está sobre o ombro esquerdo do outro homem negro vestido com uma túnica
de cor clara, ele segura um cabo de madeira com a mão direita. A vara de bambu sustenta a rede com o
homem branco sentado. Ele usa chapéu de palha, paletó laranja e calças claras. O menino e o cachorro
estão próximos à rede. O menino usa turbante branco, túnica azul, carrega um guarda-chuva embaixo do
braço. Atrás do grupo, a mulher usa um tecido comprido marrom da cabeça à cintura, blusa branca e saia
longa azul. Ela carrega uma bandeja de frutas sobre a cabeça. Legenda: Jean-Baptiste Debret. Volta à
cidade de um proprietário de chácara, 1822. Aquarela sobre papel, 16,3 x 24,5 cm.

Mapas
#PraCegoVer: Mapa múndi com as indicações das estações de controle. De acordo com a legenda
(abaixo do mapa) existem as antenas terrestres, estação de controle principal, estação de
monitoramento Nima e Estação de monitoramento AAF. As Antenas Terrestres se encontram no
Oceano Atlântico, próximo à África; no Oceano Índico, próximo à Índia; e no oceano pacífico próximo ao
Japão. A estação de controle principal está nos EUA. As estações de monitoramento Nima
encontram-se na América do Sul e do Norte, Europa, Oriente Médio, China e Austrália. As Estações de
monitoramento AAF estão nos EUA; no oceano Atlântico, próximo à África; no oceano Índico, próximo à
Índia; e em duas áreas no oceano pacífico próximo ao Japão.

#PraCegoVer: Ilustração em cores do mapa brasileiro. O mapa está centralizado no lado esquerdo em
que está o Oceano Atlântico e, no lado direito, há uma pequena porção do Oceano Pacífico. A ilustração
mostra a divisão das cinco regiões brasileiras: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul, cada uma
tem uma cor para representar a delimitação regional.
Imagens microscópicas

#PraCegoVer: Imagem de um microscópio da Seção transversal da folha de Chlorophytum comosum


(Asparagaceae)-gravatinha. Na imagem, as faces adaxial e abaxial da epiderme e as células do mesofilo
foliar (região interna da folha) foram contornadas com a cor azul em diferentes espessuras. As fibras e
células condutoras do xilema que compõem o feixe vascular estão contornadas em vermelho.

#PraCegoVer: Fotografia microscópica de uma célula sendo atacada por um vírus. Na imagem produzida
por microscopia eletrônica de varredura e colorida para facilitar a visualização, as partículas virais estão
em azul. As células aparecem em verde e alguns filopódios são apontados por pontas de seta. A seta
vermelha indica um filopódio que alcança a célula vizinha.

Fórmulas matemáticas

#PraCegoVer: Representação da fórmula física para o cálculo da força. A fórmula está em um retângulo,
centralizada e possui as letras F, m e a. Força é representada pela letra F em maiúsculo, na sequência, há
o símbolo de igualdade; logo depois, há a letra m, que significa massa, sequencialmente um ponto,
representando a multiplicação; e a letra a, que significa aceleração.
Referências
IBGE. Censo demográfico 2010. Características gerais da população, religião e
pessoas com deficiência. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. Disponível em:
https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=794.
Acesso em: 18 jan. 2023.

MOTTA, L. M. M. V.; ROMEU FILHO, P. Audiodescrição: Transformando imagens em


palavras. São Paulo: Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de
São Paulo, 2010. Disponível em:
https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/planejamento/prodam/arq
uivos/Livro_Audiodescricao.pdf. Acesso em: 18 jan. 2023.

RADABAUGH, M. P. Study on the Financing of Assistive Technology Devices of


Services for Individuals with Disabilities - A report to the president and the congress
of the United State, National Council on Disability, Março 1993. Disponível em:
https://ncd.gov/publications/1993/mar41993. Acesso em: 18 jan. 2023.

RBTV. Diretrizes para Áudio-descrição e Código de Conduta Profissional para


áudio-descritores. Audiodescription: coalition.org, 2009. Disponível em:
https://www.associadosdainclusao.com.br/enades2016/sites/all/themes/berry/docum
entos/12-uniao-em-prol-da-audio-descricao.pdf. Acesso em: 18 jan. 2023.

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