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AULA 5

TECNOLOGIAS ASSISTIVAS

Prof.ª Paula Mitsuyo Yamasaki Sakaguti


INTRODUÇÃO

Pessoas com deficiência visual, surdez, encontram diversas barreiras que


dificultam sua participação e acesso aos bens públicos. A falta de acessibilidade,
isto é, a falta de condição e possibilidade para usufruir, com segurança e
autonomia, espaços, mobiliários, serviços da comunidade, acabam por impedir a
inclusão por direito. Nesse contexto, a acessibilidade comunicacional
(interpessoal, escrita, leitura, virtual) é possível com o auxílio dos recursos da
Tecnologia Assistiva (TA).

TEMA 1 – RECURSOS DA TECNOLOGIA ASSISTIVA NA APRENDIZAGEM

A deficiência visual engloba a cegueira e a visão subnormal ou baixa visão.


Pessoas com baixa visão podem melhorar a funcionalidade de sua condição com
a utilização de auxílios ópticos e não ópticos. Os auxílios ópticos podem ser
simples, como óculos com lente de aumento prescritos por oftalmologistas,
binóculos e lupas manuais que servem para ampliar o tamanho de fontes,
imagens, mapas etc., ou complexos, como um telescópio monocular acoplável na
armação dos óculos (Cunha, 2022).
Já os chamados recursos não ópticos são os auxílios visuais que não
usam lentes para a melhoria da visão. Eles promovem melhor desempenho de
pessoas com baixa visão por meio de modificações nos materiais e no ambiente,
como ambiente bem iluminado, redução de brilho, contraste, ampliação.
Nesse caso, o professor deve escrever no quadro de giz com letra maior,
favorecer o acesso ao lápis 4B ou 6B, que têm o grafite mais escuro, caneta
hidrográfica preta, cadernos com pautas escurecidas e mais largas. Além disso,
recomenda-se material ampliado e uso de contraste, ou seja, ampliar o material
observando aspectos como fonte, recomendando-se que sejam fontes sem serifa.
As mais indicadas são Arial e Verdana, e o contraste mais comum é o preto no
branco. Quanto ao tamanho das letras, o tamanho 24 atende à grande maioria de
pessoas com baixa visão (Cunha, 2022).
Outro recurso de TA recomendado por Cunha (2022) para estudantes com
baixa visão é o tiposcópio, um guia de leitura confeccionado em E.V.A, papelão
ou plástico preto sem brilho, com uma fenda recortada para leitura. Ele possibilita
o aumento do contraste e evita o pular a linha, facilitando a continuidade e fluência
da leitura, além de diminuir o reflexo de luz no papel branco.

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Figura 1 – Tiposcópio

Fonte: Domingues et al., 2020, p. 16.

Bersch (2017) nos apresenta alguns exemplos de recursos de TA que


servem de auxílio para ampliação da função visual e possibilitam traduzir
conteúdos visuais por meio de informação tátil, como o material gráfico com
texturas e relevos, mapas e gráficos táteis (Figuras 2 e 3).

Figura 2 – Mapa tátil

Crédito: Elias Aleixo.

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Figura 3 – Representação tátil de uma obra de arte em museu

Crédito: Akimov Igor/Shutterstock.

Na Educação Infantil, para a formação de conceitos básicos de textura,


consistência, temperatura, forma, peso, tamanho, quantidade, espessura,
qualidade, entre outros atributos, devem ser desenvolvidas atividades
exploratórias que estimulem a curiosidade tátil e o reconhecimento dos
brinquedos e objetos, bem como a classificação de brinquedos, a identificação de
pares em um conjunto de objetos, a separação de materiais escolares,
construções/maquetes. Assim, crianças com deficiência visual podem traduzir as
informações visuais por meio de informação tátil e de outros sentidos.
No processo de ensino dos alunos com cegueira, Jeremias, Góes e
Haracemiv (2021) ressaltam o uso de tecnologias, tais como reglete e punção,
máquina perkins, impressora braille, linha braille, livro com leitura tátil ou audível,
soroban, calculadora sonora nas práticas docentes.
A escrita em braille pode ser realizada por meio de uma reglete (régua de
metal ou plástico com celas em braile dispostas em linhas horizontais) e punção
(instrumento anatômico em forma de pera com ponta metálica para a perfuração

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de pontos na cela braille) ou mesmo por uma máquina de datilografar Perkins
composta por seis teclas (Figura 4), que correspondem aos pontos da cela braille.

Figura 4 – Escrita braille realizada por reglete e punção ou máquina de escrever


braile

Créditos: vvoe/Shuttertock; vvoe/Adobe Stock.

O soroban (Figura 5) é aparelho de cálculo japonês que atualmente faz


parte dos recursos que auxiliam pessoas com deficiência visual na aprendizagem
de cálculos, registro e leitura dos números (inteiros e decimais), frações,
potenciação, radiciação, entre outros conteúdos. Esse milenar instrumento, eficaz
para o desenvolvimento do raciocínio e estimulação de habilidades matemáticas
desde a Educação Infantil por meio de técnicas exploratórias e lúdicas, é utilizado
no mundo inteiro tanto por pessoas com deficiência visual quanto videntes (Brasil,
2012).

Figura 5 – Soroban

Crédito: Amelameli/Shutterstock.

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O livro audível, o soroban e a maquete tátil são concebidos nas
características do desenho universal, visto que o seu uso não se restringe apenas
ao uso exclusivo de estudantes cegos, entretanto, possibilita o acesso de todos
os estudantes aos conteúdos curriculares. Logo, não há necessidade do professor
mudar seus procedimentos de ensino quando tem um aluno com deficiência visual
na classe, basta apenas intensificar o uso de materiais concretos (Jeremias;
Góes; Haracemiv, 2021).

TEMA 2 – ORIENTAÇÃO E MOBILIDADE

As atividades de orientação e mobilidade, disponibilizadas desde a tenra


idade em serviços de estimulação precoce para crianças pequenas com
deficiência visual, são fundamentais para o desenvolvimento saudável do
processo de ensino e aprendizagem. Recomenda-se a utilização de diversidade
de texturas, alto relevo, guizos, entre outros, para atividades que visam ao
desenvolvimento motor e locomoção com independência.
Nesse sentido, a grande variedade de jogos e brinquedos adaptados para
crianças com deficiência visual são considerados recursos de TA por contribuírem
no aumento da capacidade cognitiva, na interação social, no aprendizado de
conceitos facilitados pela apresentação real do conteúdo, na expressão de
sentimentos, na aquisição de habilidades para orientação, mobilidade e marcha.
Conforme a NBR 9050 (ABNT, 2020), para o deslocamento seguro e
autônomo é indicada a instalação de rotas acessíveis, isto é, de rotas contínuas,
desobstruídas e sinalizadas para que todas as pessoas possam caminhar,
inclusive aquelas com deficiência visual e mobilidade reduzida.
O uso do piso tátil é um exemplo de tipo de sinalização caracterizado por
textura e cor contrastantes em relação ao piso adjacente que auxilia as pessoas
com deficiência visual na orientação. Há dois tipos de piso tátil: alerta e direcional.
O piso tátil de alerta (Figura 6) deve ser utilizado para sinalizar situações que
possam causar riscos à segurança do pedestre e indicar o início e o término de
degraus, rampas, escadas, porta de elevadores, equipamentos de
autoatendimento ou serviços e existência de desníveis (ABNT, 2020).

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Figura 6 – Piso tátil de alerta

Fonte: ABNT, 2020, p. 49.

No piso tátil de alerta, há pequenas esferas em sua superfície, que podem


ser percebidas pela pessoa com deficiência visual por meio da bengala. Esse piso
tátil de alerta deve ser instalado com o piso tátil direcional que, em seu conjunto
(Figura 7), forma uma rota de orientação do caminho a seguir. O piso tátil
direcional é composto por listras em relevo indicando o sentido pelo qual a pessoa
com deficiência visual seguirá caminhando.

Figura 7 – Piso tátil direcional e alerta

Crédito: Chumrit Tejasen/Shutterstock.

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Atualmente, as tecnologias mais utilizadas para a orientação e mobilidade
de pessoas cegas ou com baixa visão são a bengala branca convencional e o uso
de técnica do guia vidente e cão-guia.
A técnica do guia vidente é a primeira técnica de deslocamento a ser
ensinada à pessoa com deficiência visual, para que ela se familiarize com os
espaços físicos e ambientes que frequentará. Para os deslocamentos, a pessoa
com deficiência visual localiza o cotovelo do guia, segura o seu braço, acompanha
o ritmo da marcha sincronizada permanecendo meio passo atrás do guia. O guia
vidente, por sua vez, deverá descrever os detalhes do trajeto para enriquecer a
construção do mapa mental daquele ambiente (Drezza, 2019).
A bengala é um dos dispositivos da TA que muito auxilia a pessoa com
deficiência visual na orientação da trajetória e localização de obstáculos,
possibilitando-lhe independência. Os estudos de Rodrigues et al. (2021) apontam
que 90% dos participantes da pesquisa fazem uso da bengala longa como TA
para a locomoção, o que indica ser um recurso respaldado pela comunidade com
deficiência visual.
Em decorrência da falta de acessibilidade dos centros urbanos, uma das
dificuldades enfrentadas por pessoas cegas diz respeito a alguns obstáculos
localizados na altura acima da cintura e que a bengala longa convencional não
consegue detectar, como placas, lixeiras, telefone público, que podem causar
acidentes graves ou mínimas lesões. Diante disso, universidades brasileiras
fazem, por meio de pesquisas, estudos de materiais de baixo custo e fácil
aquisição no desenvolvimento de protótipos de bengalas automatizadas que
utilizem arduíno (Costa et al., 2020), protótipo nacional de bengala eletrônica
chamado Smart Mobb (Rodrigues et al., 2021).

TEMA 3 – AUDIODESCRIÇÃO E CÃO GUIA

A audiodescrição é um recurso de TA que transforma imagens em palavras,


isto é, possibilita transformar o que é visual em sonoro e, assim, promover a
acessibilidade comunicacional e inclusão da pessoa com deficiência visual. É um
recurso de acessibilidade comunicacional que amplia a compreensão da pessoa
com deficiência visual.
Vale destacar que as vantagens da audiodescrição englobam também as
pessoas com deficiência intelectual, dislexia, transtorno do espectro autista, déficit
de atenção, idosas, de modo a ampliar a compreensão do que está sendo

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apresentado em forma de cenas, fotos, filmes ou mesmo objetos reais estáticos,
para que sejam traduzidos em forma de palavras, de modo claro, objetivo e
completo possível. Há cursos de formação continuada de audiodescrição a todas
as pessoas interessadas em acessibilidade para, assim, colaborarem com a
construção de uma sociedade inclusiva.
Enquanto importante TA e recurso de acessibilidade comunicacional, é
considerável que o professor faça uso da audiodescrição em sala de aula,
descrevendo o universo escolar, as imagens dos slides, ilustrações de livros,
mapas, cenários de vídeos e filmes, entre outras situações. Desse modo, é
possível proporcionar às pessoas com deficiência visual conhecerem o que os
olhos não podem enxergar, por exemplo, se emocionarem e aproveitarem
experiências de humor e dramas de um curta-metragem.
Michels e Silva (2016) nos chamam a atenção para a morosidade com que
vem ocorrendo a aplicação dessa TA na educação, nas redes de televisão, nos
espaços de lazer por parte do Poder Público, além da necessidade de inclusão da
audiodescrição na formação continuada de professores.
Essa prática de verbalizar aquilo que é visual contribui para a
aprendizagem de todos os alunos, inclusive para aqueles com deficiência visual
(Cunha, 2022). Intuitivamente muitos professores procuram descrever o cenário
do cotidiano escolar para estudantes com deficiência, tais como:

• Faça a descrição de maneira objetiva, buscando oferecer o máximo de


informação, respeitando o momento de desenvolvimento da criança e
seu potencial de compreensão;
• Use palavras do cotidiano da criança e, quando perceber que não está
conseguindo transmitir a informação, peça ajuda da própria criança;
• Não se intimide ao descrever cores para crianças cegas congênitas;
além do conceito visual, cor também é um conceito social;
• Faça da audiodescrição uma prática prazerosa. Descreva ao educando
com deficiência visual o espaço da escola, as características físicas de
seus coleguinhas etc.;
• Habilite outras crianças a ajudar nessa atividade. É muito
enriquecedora a experiência da criança sem deficiência conhecer e usar
esse recurso de forma espontânea com seu colega com deficiência
visual;
• Se for apresentar um vídeo de desenho animado ou outro material
audiovisual, faça um planejamento prévio das descrições para oferecer
as informações das imagens ao seu educando com deficiência visual;
• Ao realizar uma atividade externa ou um passeio com seus educandos,
procure levantar algumas informações prévias sobre o evento para que
você construa um roteiro de audiodescrição, incentivando a participação
das crianças (Cunha, 2022, p. 19)

A inclusão social da pessoa com deficiência visual passa pelo direito à


cultura, lazer, arte, recreação e a audiodescrição é um recurso da TA possibilita

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esse acesso, pois, parafraseando Titãs, “a gente quer saúde, educação, diversão
e arte”.
Já, no que diz respeito ao cão-guia, como o próprio termo afirma, é
responsável por guiar a pessoa com deficiência visual para conduzi-lo com
segurança e tranquilidade aos locais que deseja ir. Por isso, o cão-guia faz parte
dos recursos utilizados para a melhoria da orientação e mobilidade pessoal, e
assim como o guia vidente, são categorias que fazem parte da Tecnologia
Assistiva. Ele é adestrado para guiar e orientar a pessoa cega ou com baixa visão
(Souza; Ferreira; Silva, 2019).
A pessoa com deficiência visual tem o direito de ingressar e permanecer
acompanhado de seu cão-guia em qualquer espaço público e privado, inclusive
nos meios de transporte, conforme a Lei Federal n. 11.126/2005 (Brasil, 2005),
regulamentada pelo Decreto n. 5.904/2006 (Brasil, 2006). De acordo com o site
da Fundação Dorina Nowill, entre as curiosidades sobre o cão-guia publicadas por
Freitas (2018), destacamos:

[…] não devemos brincar com o cão-guia e muito menos oferecer


qualquer petisco. Lembre-se de que ele está a trabalho e não deve se
distrair. Na dúvida, pergunte à pessoa com deficiência visual se aquele
é um momento adequado para interagir. […] o tempo de trabalho do cão-
guia e de cerca de 8 anos. Depois disso ele se aposenta e pode ficar
com seu tutor ou ser adotado por uma família com a qual ele já tenha
afinidade.

Além de contribuir para a segurança na orientação e mobilidade de forma


mais rápida e independente, para Badalo (2014), o vínculo afetivo da dupla (tutor
com deficiência visual e o cão-guia) e a confiança depositada no cão pode
intensificar o número de saídas de casa, ampliando as interações sociais. A
mesma autora salienta que essa parceria com o cão-guia amplia o sentimento de
inclusão social por parte da pessoa cega, sendo notório o bem-estar físico e
emocional que esses cães oferecem.
É importante também cuidar da saúde emocional do cão-guia que, mesmo
sendo um cão de serviço e de ser treinado para cumprir as suas
responsabilidades, ele pode ser afetado pelo estresse. Por isso, o cão-guia
também precisa de descanso, momentos de lazer e de brincadeiras com seu tutor.

TEMA 4 – PRODUTOS DE ALTA TECNOLOGIA & DEFICIÊNCIA VISUAL

Os produtos de TA se classificam em níveis de acordo com a sofisticação,


o custo e o uso de peças ou materiais eletrônicos (Bersch, 2017). Produtos como
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ampliadores de tela e sintetizadores de voz fazem parte da categoria de alta
tecnologia.
Nesse sentido, na área dos produtos de alta tecnologia, destacamos o
Dosvox, um programa leitor de tela usado para facilitar o acesso às informações
textuais por meio de sintetizador de voz.
O Dosvox é um sistema gratuito e disponibilizado na internet para
download. Foi desenvolvido pelo Núcleo de Computação Eletrônica da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desde 1993, com o ingresso de
um universitário cego no curso de Informática. Desde então, professores e
universitários de Informática gradualmente elaboraram e construíram um sistema
operacional de computador para pessoas com deficiência visual visto que, na
época, inexistiam programas similares em língua portuguesa (Cardoso;
D’Ascenzi; Monserrat Neto, 2009). Os mesmos autores destacam a importância
do computador na vida da pessoa com deficiência visual, que é muito maior para
estes que para as pessoas que enxergam, pois, quando se trata de navegação na
internet, um mundo inteiro se abre.
No mercado, há também outros importantes softwares leitores de tela
gratuitos, por exemplo, o Non Visual Desktop Acess (NVDA), que oferece
tecnologia de voz sintetizada e promove autonomia para usuários com deficiência
visual, de modo a possibilitar que esse público tenha acesso ao computador, à
internet e, assim, à melhor qualidade de vida.
Além dos leitores de tela, temos também outros recursos de TA no contexto
educacional, tais como os softwares ampliadores de tela, que aumentam o
tamanho da fonte e das representações gráficas na tela do computador; a
impressora em braile, que identifica e imprime textos em braille; o escaneamento
de documentos com programas que usam voz sintetizada para leitura dos textos
digitalizados e fornece informações ao usuário sobre o layout, e que possibilitam
ainda mudança de tipo de fontes, contraste do texto escaneado para favorecer a
leitura do texto para usuários com baixa visão (Bersch, 2017).
Os conteúdos no formato digital fazem toda a diferença, como pontuam
Gruenwald e Cerchairi (2014). Eles podem ser lidos no computador fazendo o uso
dos softwares ampliadores de tela ou poderão usar sintetizadores de voz que
sincronizam a fala com a localização do cursor na tela. As mesmas autoras
ressaltam que o formato digital pode ser uma ótima alternativa para que
estudantes com deficiência visual tenham acesso aos livros, uma vez que não

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podem ler as versões impressas e as versões em braille nem sempre estão
disponíveis. Os benefícios se estendem também para os estudantes com dislexia,
com dificuldades de leitura ou de aprendizagem, pois, além de facilitarem a
aprendizagem, se esses livros digitais contiverem multimídia embutida (arquivos
de áudio e vídeo) tornará o aprendizado mais dinâmico e lúdico.
Para a promoção da acessibilidade para pessoas com deficiência visual,
observamos que muitas Instituições de Ensino Superior estão desenvolvendo e
disponibilizando recursos de TA capazes de possibilitar inclusão no ambiente
acadêmico desses estudantes, por meio de atividades de ensino e de extensão.
Podemos citar o desenvolvimento de audiolivros e a produção de livros ilustrados
táteis com materiais de texturas diferenciadas.
Atualmente, observamos que tem aumentado consideravelmente o uso de
celulares e tablets para acesso à internet. No caso de estudantes com deficiência
visual, Borges e Mendes (2021) destacam que é possível acessar e ler os
conteúdos nesses dispositivos móveis, uma vez que podem ser disponibilizados
livros que se tornam acessíveis com o uso de leitores e ampliadores de telas,
inversão e contraste de cores, aumento do tamanho de fontes, chegando a
dispensar os volumosos livros ampliados e em braille. Smartphones e tablets
oferecem muitos recursos de acessibilidade, sejam eles de TA ou não:

[...] os ampliadores de tela, quando usados como TA, permitem que


pessoas com baixa visão vejam mais facilmente a tela do computador
(tablets ou smartphones). Já, quando usadas como tecnologias
tradicionais por pessoas sem deficiência, objetivam tornar certas partes
da tela mais evidentes durante apresentações aos públicos. Outro
exemplo refere-se ao reconhecimento de voz, que, como TA, transforma
sinais sonoros em registros escritos para aqueles que são incapazes de
usar as mãos para digitar ou visualizar o teclado. Como tecnologias
tradicionais, atendem aos interesses de pessoas que queiram inserir
texto mais rápido do que podem digitar. Essa “migração” de recursos de
TA para o mundo da tecnologia tradicional tem fortalecido a tendência
do desenho universal (Borges; Mendes, 2021, p. 823)

Quais ferramentas e/ou dispositivos facilitam a vida diária e a educação de


surdos? Ou qual recurso pode ser utilizado para que uma pessoa surda possa
participar de uma palestra com seus colegas ouvintes? Na sequência, trataremos
sobre esse assunto.

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TEMA 5 – TECNOLOGIA ASSISTIVA NA ÁREA DA SURDEZ

A comunicação é fundamental para que as pessoas permaneçam


conectadas, possam expressar o que pensam, sentem e, sobretudo, participar das
atividades comuns a todas as pessoas. A Língua Brasileira de Sinais (Libras) é
uma linguagem para comunicação e, em 2002, pela Lei 10.436, passou a ser
reconhecida como o meio legal de comunicação da comunidade surda (Brasil,
2002).
No contexto dos ambientes digitais, temos os recursos de TA para
proporcionar o acesso e a interação com o conteúdo disponível na tela do
computador e, dessa forma, reduzir a barreira comunicacional.
Nessa direção, Silva, Mendes e Santos (2020) destacam os softwares de
tradução automática para a Língua Brasileira de Sinais (Libras), ferramentas de
TA que auxiliam na comunicação entre pessoas surdas e ouvintes.
Santos (2016) indica três categorias de TA específicas para as pessoas
surdas, disponíveis no meio web, a saber: tradutores, comunicação e dicionários.
A seguir, no Quadro 1, apresentaremos alguns desses recursos de TA.

Quadro 1 – Recursos de TA disponíveis na web

Tradutores Rybená Tecnologia nacional, traduz textos da língua


mais portuguesa para Libras em gestos, por meio
conhecidos de avatar. Possibilita tornar os sites
acessíveis para os surdos. O Rybená Voz
transforma textos HTML em voz humana
sintetizada.

SignSim Possibilita a tradução de Libras para língua


portuguesa e vice-versa. É uma ferramenta
para auxiliar o aprendizado de Libras. O
sistema de escrita é chamado de SignWriting.

Hand-Talk Foi considerado pela ONU, em 2013, o melhor


aplicativo com responsabilidade social no
mundo. A tradução de imagens se baseia na
leitura e na identificação de caracteres em uma
imagem recortada pelo usuário e depois a sua
tradução para Libras. Há pacotes pagos e
gratuitos.

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Exemplo de Vlabe É um videofone que pode ser usado em
tecnologia qualquer lugar com WiFi. Na tela, aparece uma
para telefonista fluente em Libras que intermedeia a
comunicaçã comunicação com ouvintes e surdos.
o

Exemplos Dicionário de Libras Site com um dicionário de Libras, que relaciona


de as imagens interativas que auxiliam no
dicionários entendimento da Libras. Oferece também
galeria de imagens de tradução e informações
gerais sobre leis, curiosidades etc.
Acessibilidade Libras O site disponibiliza a tradução de palavras da
língua portuguesa para Libras, que é feita em
vídeo por um intérprete. Oferece também
informes sobre classe gramatical, origem e
exemplo de aplicação da palavra em uma frase.

Fonte: Elaborado com base em Santos, 2016, p. 46-55.

Em cursos de Educação a Distância (EaD), congressos e eventos afins


transmitidos por redes sociais e de comunicação, a janela de Libras é fundamental
para a inclusão do surdo fluente em língua de sinais. Considerado um recurso de
TA, a janela de Libras é o “espaço delimitado no vídeo onde as informações
veiculadas na língua portuguesa são interpretadas através de Libras” (ABNT,
2005, p. 3).
Outra TA disponível é a Legendagem para Surdos e Ensurdecidos (LSE).
Além de contemplar as falas dos personagens de um filme ou de uma videoaula,
esse tipo de legenda contempla “identificação dos falantes (explicação do nome
do personagem que detém o turno de fala em tela) e tradução dos efeitos sonoros
(música e ruídos) e das características prosódicas da fala” (Franco; Santos.
Chaves, 2020, p. 17).
Por auxiliarem na autonomia e facilitarem as atividades de vida diária,
acadêmicas e laborais, também são considerados recursos e dispositivos da TA
para as pessoas surdas ou com deficiência auditiva os aparelhos auditivos, celular
com chamadas por vibração e mensagens, softwares que traduzem mensagens
de texto em Libras, entre outros (Silva; Cardoso, 2021).
Em teatros, auditórios e similares, as normas da NBR 9050 (ABNT, 2020,
p. 121) determinam que “devem ser garantidos disposições especiais para a
presença física de intérprete de Libras e de guias-intérpretes, com projeção em
tela da imagem do intérprete sempre que a distância não permitir a sua
visualização direta”.

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O uso dos atuais smartphones tem contribuído para a comunicação entre
surdos e ouvintes. Aplicativos de redes sociais para fazer videochamadas ou para
envio de imagens e gravação de vídeos, as legendas em filmes, alarmes e
notificações com sinais luminosos, além de outras adaptações e de serviços de
aplicativos para pedir delivery de alimentos e compras pela internet, muito tem
contribuído para dar qualidade à vida de todos e, para as pessoas surdas, é uma
tecnologia que possibilita o acesso comunicacional e a inclusão social.
No Atendimento Educacional Especializado (AEE) para estudantes com
deficiência auditiva, Silva (2018) enfatiza a relevância da formação continuada dos
professores a respeito da inserção dos vários recursos de Tecnologia Assistiva.
Entre os produtos de TA, a mesma autora apresenta, a saber, aparelho de
ampliação sonora, implante coclear, entre outros.

O implante coclear é um equipamento eletrônico, parcialmente inserido,


utilizado nas pessoas com surdez profunda, e pode ser utilizado
juntamente com o aparelho auditivo em pessoas com perda auditiva
mais moderada. […] Os aparelhos auditivos são pequenos dispositivos
eletrônicos que podem ser utilizados dentro ou fora (atrás) da orelha.
Auxiliam a pessoa com deficiência auditiva a escutar com maior
facilidade (Silva, 2018, p. 53)

Dessa forma, o implante coclear e os aparelhos auditivos são dispositivos


projetados para melhorar a audição.
Diferentemente dos aparelhos auditivos (denominados Aparelhos de
Amplificação Sonora Individual – AASI), que servem para aumentar o “volume” do
som, o implante coclear é um dispositivo eletrônico que visa à estimulação elétrica
do nervo auditivo, indicado para a pessoa com perda auditiva severa ou profunda.
Mesmo que ela use o aparelho auditivo, não se consegue escutar ou identificar o
tipo de som que ouve porque a sua cóclea (nervo auditivo) encontra-se bastante
danificado (UEM, 2023).
Vale lembrar que, no processo de seleção e adaptação do Aparelho de
Amplificação Sonora Individual (AASI) ou após a cirurgia de implante coclear, é
indispensável a acompanhamento terapêutico com fonoaudiólogos de acordo com
as necessidades do usuário.

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REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 15290:


acessibilidade em comunicação na televisão. Rio de Janeiro, ABNT, 2005.

_____. NBR 9050: acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e


equipamentos urbanos. Rio de Janeiro, 2020.

BADALO, C. A. O. O papel do cão-guia como facilitador da inclusão da pessoa


cega na sociedade: mobilidade, segurança, interação social e qualidade de vida.
184 f. Dissertação (Mestrado em Reabilitação) – Faculdade de Motricidade
Humana. Universidade de Lisboa, 2014. Disponível em: <https://www.repository.utl.
pt/bitstream/10400.5/7312/1/Carla_Tese_Final%C3%ADssima.pdf>. Acesso em:
24 mar. 2023.

BERSCH, R. Introdução à Tecnologia Assistiva. Porto Alegre, 2017. Disponível


em: <https://www.assistiva.com.br/Introducao_Tecnologia_Assistiva.pdf>. Acesso
em: 24 mar. 2023.

BORGES, W. F.; MENDES, E. G. Recursos de acessibilidade e o uso dos


dispositivos móveis como tecnologia assistiva por pessoas com baixa visão.
Revista Brasileira de Educação Especial, Bauru, v. 27, p. 813-828, 2021.
Disponível em: <https://www.scielo.br/j/rbee/a/C4GxYprjw5KMcTYB3nfcXSs/>.
Acesso em: 24 mar. 2023.

BRASIL. Decreto n. 5.904, de 21 de setembro de 2006. Regulamenta a Lei n.


11.126, de 27 de junho de 2005. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, 22 set. 2006.

_____. Lei n. 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de


sinais – Libras e dá outras providências. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, 25 abr. 2002.

_____. Lei n. 11.126, de 27 de junho de 2005. Dispõe sobre o direito do portador


de deficiência visual de ingressar e permanecer em ambientes de uso coletivo
acompanhado de cão-guia. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília,
DF, Brasília, 27 jun. 2005.

_____. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Soroban:


manual de técnicas operatórias para pessoas com deficiência visual. Brasília, 2012.

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CARDOSO, D. R. M.; D’ASCENZI, I, F.; MONSERRAT NETO, J. Dosvox: a história
de uma revolução entre os cegos. Horizontes SBC, v. 2, n. 2, ago. 2009. Disponível
em: <https://horizontes.sbc.org.br/old/edicoes/v02n02/v02n02-24.pdf>. Acesso em:
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COSTA, R. C. et al. Desenvolvimento de uma bengala automatizada utilizando


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