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LABORATÓRIO FOTOVOLTAICA-UFSC
Centro de Pesquisa e Capacitação em Energia Solar da
Universidade Federal de Santa Catarina
www.fotovoltaica.ufsc.br

Coordenador
Prof. Ricardo Rüther

[CONTRIBUIÇÕES À AUDIÊNCIA PÚBLICA 001/2019 ANEEL]


Análise crítica do documento “Revisão das regras aplicáveis à micro e
minigeração distribuída - Resolução Normativa nº 482/2012 - Relatório de
Análise de Impacto Regulatório (AIR) nº 0004/2018-SRD/SCG/SMA/ANEEL”

RELATÓRIO FINAL

Abril, 2019
2

[EQUIPE:

Alexandre de Albuquerque Montenegro Eng. Mecânico, Mestre Eng. Civil


Aline Kirsten Vidal de Oliveira Eng.a Eletricista
André Luiz Prado Cechinel Acad. Eng. Elétrica
Andrigo Filippo Gonçalves Antoniolli Eng. Civil, Mestre Eng. Civil
Clarissa Debiazi Zomer Arquiteta, Dr.a Eng. Civil
Ernesto de Freitas Júnior Eng. Eletricista
Giuliano Luchetta Martins Acad. Eng. Mecânica
Gustavo Xavier de Andrade Pinto Eng. Eletricista, Mestre Eng. Civil
Prof.a Helena Flavia Naspolini Eng.a Eletricista, Dr.a Eng. Civil
Isadora Pauli Custodio Arquiteta
Prof. Ivo Barbi Eng. Eletricista, Dr. Eng. Elétrica
Kathlen Schneider Eng. a Civil
Lucas Nascimento Eng. Eletricista, Dr. Eng. Civil
Manfred Kratzenberg Eng. Eletricista, Mestre Metrologia Científica e Industrial
Marília Braga Eng.a Eletricista
Pedro Henrique Alves Veríssimo Eng. Eletricista, Mestre Eng. Civil
Rafael Antunes Campos Eng. Eletricista
Sylvio Luiz Mantelli Neto Eng. Eletrônico, Dr. Eng. do Conhecimento
Coordenador: Prof. Ricardo Rüther, Ph.D.]

[ELABORAÇÃO:
Alexandre de Albuquerque Montenegro Eng. Mecânico, Mestre Eng. Civil, Doutorando
Andrigo Filippo Gonçalves Antoniolli Eng. Civil, Mestre Eng. Civil, Doutorando
Prof. Ricardo Rüther, Ph.D. Electrical & Electronic Engineering

Centro de Pesquisa e Capacitação em Energia Solar da UFSC


Laboratório FOTOVOLTAICA-UFSC
Sapiens Parque - Av. Luiz Boiteux Piazza, 1302 - Lotes 114/115
Cachoeira do Bom Jesus - Florianópolis/SC - CEP:88056-000
www.fotovoltaica.ufsc.br
3

SUMÁRIO EXECUTIVO
O presente relatório apresenta contribuições à Audiência Pública 001/2019 da ANEEL, através da análise
crítica do documento “Revisão das regras aplicáveis à micro e minigeração distribuída - Resolução
Normativa nº 482/2012 - Relatório de Análise de Impacto Regulatório (AIR) nº 0004/2018-
SRD/SCG/SMA/ANEEL”, com foco em Geração Distribuída Fotovoltaica (GD-FV).
De maneira geral, a AIR passa a impressão de que o produtor-consumidor (prosumer ou prossumidor)
que adota GD-FV e se beneficia do mecanismo de compensação de energia nos moldes atuais da RN
482/2012 traz mais prejuízos do que benefícios aos demais consumidores e usuários das redes públicas
de distribuição de energia elétrica. A AIR deixa de levar em conta qualquer benefício que a entrada
deste prossumidor que adota GD-FV possa trazer para a rede de distribuição e para os demais
consumidores que não adotam a GD-FV.
É preocupante verificar a falta da análise dos impactos positivos e benefícios que a entrada da GD-FV e
dos prossumidores traz para a rede de distribuição. Como se pode avaliar o impacto da GD e dos
prossumidores, se os benefícios não estão sendo levados em consideração? As experiências
internacionais, e.g. na Alemanha, não mostram um aumento significativo do custo da operação e da
expansão da rede de distribuição causada pela penetração da GD-FV. No caso da Alemanha, são mais de
1 milhão de sistemas GD-FV ligados à rede de distribuição e a maioria no regime de feed-in, que, para
GD-FV, é mais vantajoso do que o net-metering praticado no Brasil.
O presente estudo chama a atenção para a necessidade de avaliar e considerar o caso extremo no qual
este prossumidor resolva adotar um sistema eletroquímico de armazenamento de energia elétrica (e.g.
baterias de íons de lítio), atingindo 100% (ou quase 100%) de autonomia e levando à deserção parcial ou
total da rede (grid defection). À medida que os sistemas de armazenamento experimentem reduções de
custo semelhantes ao ocorrido com a geração solar fotovoltaica e que os custos impostos pelas
distribuidoras para a manutenção da conexão na rede deste prossumidor continuem a crescer, a
viabilidade do sistema de distribuição tradicional estará ameaçada. A AIR tangencia o assunto, mas não
dá a ele maior atenção por avaliar como pouco provável a possibilidade de ocorrer. Lembrando que nem
as mais conceituadas consultorias internacionais da área (e.g. Bloomberg New Energy Finance – BNEF,
Pricewaterhouse Coopers – PwC entre outros) previram a impressionante redução de custos da
tecnologia solar fotovoltaica (os preços baixaram cerca de 10 vezes em 10 anos!). O mesmo parece ser
possível e provável com a tecnologia das baterias (impulsionadas pela mobilidade elétrica), abrindo
caminho para que o prossumidor possa prescindir da rede elétrica pública em um futuro mais ou menos
próximo. A deserção da rede já é um processo em marcha em alguns países (e.g. Austrália, EUA) que
menosprezaram a contribuição do prossumidor para a modicidade tarifária1.
Um estudo de 2014 do Rocky Mountain Institute resume a questão desta forma:
“Even before mass defection, a growing number of early adopters could trigger a spiral of
falling sales and rising electricity prices that make defection via solar-plus-battery systems
even more attractive and undermine utilities’ traditional business models”2.
Outro aspecto a ser avaliado é o conceito de deserção parcial ou “deserção de carga” (em tradução livre
do termo em inglês load defection) que pode ser definida como a utilização apenas mínima da
disponibilidade da rede elétrica pública de um sistema que utiliza GD-FV + baterias projetado e

1
Uma busca rápida na internet revela farta descrição de casos e mercados nos quais a deserção da rede por produtores-
consumidores (prosumers ou prossumidores) começa a ocorrer (e.g. Parkinson, G. (2018); “Angry and frustrated, more
customers are quitting the grid”; Renew Economy, 24/04/2018 [https://reneweconomy.com.au/angry-and-frustrated-more-
customers-are-quitting-the-grid-81552/] e Rocky Mountain Institute (2014); “The Economics of Grid Defection”
[https://rmi.org/insight/economics-grid-defection/]).
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Rocky Mountain Institute (2014); “The Economics of Grid Defection” [https://rmi.org/insight/economics-grid-defection/].
4

otimizado para que a rede seja utilizada apenas eventualmente. Apesar de a AIR mencionar a “espiral da
morte”, este relatório chama a atenção para a necessidade de avaliações mais apuradas acerca desta
possibilidade no médio prazo, de modo a evitar que o prossumidor resolva abandonar o uso da rede
elétrica pública, deixando os demais consumidores que não adotaram a GD-FV com o ônus de manter
aquela infraestrutura.
Além disso, há de se destacar que, conforme mostram as Tabelas 1 e 2 do Apêndice 1, no período de
menos de um mês (7/3/2019 a 3/4/2019) foram incluídos na tabela ANEEL os seguintes sistemas GD-FV:
• 1.637 sistemas GD-FV instalados de 2010 a 2018. Desse total, 1.395 se referem a sistemas GD-FV
instalados em 2018, que foram lançados, portanto, entre dois meses e 14 meses depois da
conexão (para sistemas instalados em dez/2018 e jan/2018, respectivamente).
• 2.893 sistemas GD-FV instalados em jan/2019 e fev/2019. Desse total: 502 sistemas instalados
em jan/2019 foram lançados entre 34 e 92 dias após a conexão, e 2.391 sistemas instalados em
fev/2019 foram lançados até 61 dias após a conexão.
Conforme os dados apresentados, não está ainda bem consolidado o sistema de comunicação entre
distribuidoras e ANEEL, para atualização de dados na planilha GD ANEEL, referentes a sistemas GD já
efetivamente conectados. Além disso, não há qualquer base de dados consolidada para avaliar quanto
de fato está sendo injetado pelos sistemas GD em cada área de concessão.
Adicionalmente, depoimentos apresentados tanto diretamente à ANEEL nas reuniões presenciais da AP
001/2019 (com destaque para os depoimentos apresentados na reunião presencial de 11/4/2019 em
Fortaleza), quanto em consultas da equipe do Laboratório Fotovoltaica-UFSC (www.fotovoltaica.ufsc.br)
diretamente a prossumidores e empresas integradoras GD-FV, a insatisfação tem sido grande com as
empresas distribuidoras. O nível de reclamações é bastante alto quanto ao desrespeito por parte das
distribuidoras com relação a:
• Procedimentos e prazos determinados pela REN 687/2015 e na seção 3.7 do Módulo 3 do
PRODIST, principalmente quanto à aprovação da conexão de sistemas GD-FV à rede,
• Lançamento de créditos GD-FV nas faturas com valores coerentes,
• Compensação de créditos GD-FV de forma correta e
• Não atendimento das exigências elencadas no inciso XIV do Art. 7º da REN 482/2012 (redação
dada pela REN 687/2015), quanto às informações que devem fazer parte da fatura dos
consumidores que possuem microgeração ou minigeração distribuída (prossumidores).
Como não há penalização alguma prevista para as distribuidoras por não cumprirem os quatro itens
acima, chega a haver descaso por parte de algumas distribuidoras com as reclamações de empresas
integradoras e de prossumidores.
O relato do proprietário de uma empresa integradora de Fortaleza - CE, como resposta à pesquisa feita
por esta consultoria, foi o seguinte: “O nosso maior problema são os prazos que não estão sendo
cumpridos. Algumas vezes ocorrem os lançamentos incorretos. E tem problemas técnicos no
alimentador que às vezes prejudicam o funcionamento correto do sistema.” Diversos relatos
semelhantes foram apresentados para a ANEEL na reunião presencial realizada em 11/04/2019 em
Fortaleza - CE e na mesma pesquisa citada, que embasou os comentários acima apresentados quanto
aos problemas pelos quais prossumidores e empresas integradoras GD-FV estão passando com as
distribuidoras.
Quanto às reclamações de empresas integradoras e prossumidores indicadas nos três parágrafos
anteriores, não serão apresentados dados nesse relatório, mas sugere-se que a ANEEL promova uma
pesquisa de satisfação com todos os prossumidores (e, se possível, também com empresas integradoras
GD), para avaliar o grau efetivo de satisfação dos mesmos quanto aos quatro itens listados nos bullets
acima.
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Antes de propor alterações que penalizem os prossumidores, recomenda-se que a ANEEL:


• Faça uma pesquisa de satisfação nacional com todos os prossumidores, e avalie quais
penalidades devem ser criadas para distribuidoras que não respeitam a regulamentação vigente
em relação à GD.
• Estabeleça um prazo para a consolidação de uma plataforma de BI (Business Intelligence) ANEEL
que informe, em tempo real (ou pelo menos com um prazo máximo de alguns dias ou mesmo
um mês), os dados dos sistemas GD conectados à rede (atualmente, alguns sistemas só são
lançados na planilha GD ANEEL meses ou até anos após a conexão à rede).
• Estabeleça um prazo para a consolidação de uma plataforma de BI ANEEL que informe quais
desses sistemas GD efetivamente já estão (ou ainda estão, para o caso dos sistemas já
cadastrados) injetando energia na rede.
• Estabeleça um prazo para a consolidação de uma plataforma de BI ANEEL que informe quanto
de energia os sistemas GD injetam de fato na rede (inicialmente na base mensal, mas com vistas
a uma plataforma de BI que futuramente informe também a geração na base horária, e,
posteriormente, forneça também dados instantâneos em potência injetada).
Para que a AIR apresente análises devidamente embasadas, é fundamental que as quatro iniciativas
acima sejam postas em prática.
Além disso, em um país com taxa de desemprego de 12,4% (13,1 milhões de trabalhadores nessa
condição) e taxa de subutilização da força de trabalho de 24,6% (27,9 milhões de pessoas)3, chama a
atenção o pouco caso feito quanto aos benefícios promovidos pela GD (principalmente GD-FV) em
relação à geração de empregos e de renda (além de impostos decorrentes desses empregos, renda e
das novas empresas do setor).
Caso o mercado GD-FV sofra contração – o que tem grandes chances de ocorrer se a mensagem que a
ANEEL passar aos potenciais futuros prossumidores e às empresas do setor for de insegurança quanto à
regulamentação de longo prazo – muitos desses trabalhadores serão demitidos.
Outras análises relevantes são também apresentadas neste relatório, mas as questões apresentadas
neste sumário executivo são as que merecem maior destaque, tendo em vista a situação atual à qual os
prossumidores e empresas integradoras estão sendo submetidos, e a perda de empregos e fechamento
de empresas que o mercado GD-FV sofrerá com a penalização proposta pela AIR aos prossumidores4. O
mercado GD-FV foi regulamentado há somente sete anos pela REN 482/2012, mas a regulamentação
mais ampla que realmente fez o mercado iniciar seu desenvolvimento no país (como se pode ver pelas
análises apresentadas no Apêndice 1) foi estabelecida somente há pouco mais de três anos pela REN
687/2015, que entrou em vigor em 1/3/2016. A revisão da REN 482/2012 prevista no Artigo 15 (redação
dada pela REN 687/2015) poderia prever mais incentivos à GD, e não penalização para os prossumidores
e para toda a cadeia produtiva nacional envolvida na área.

3 IBGE (2019); “Desemprego sobe para 12,4% e população subutilizada é a maior desde 2012”, 29/03/2019
[https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/24110-desemprego-sobe-para-12-4-
e-populacao-subutilizada-e-a-maior-desde-2012]
4Nas palavras do consultor Hans Rauschmayer, especialista no mercado de GD-FV da Alemanha e atuante no mercado de GD-
FV do Brasil (através da empresa Solarize, do Rio de Janeiro - RJ): “a contabilização da energia injetada como custo é
equivocada e não vislumbra novos modelos de negócios que poderiam ser oferecidos pelas próprias distribuidoras ou empresas
do mesmo grupo”.
6

SUMÁRIO
1. Introdução ................................................................................................................................. 8

2. Avaliação crítica das premissas adotadas na AIR ......................................................................... 9

3. Análise do estudo “Geração Distribuída, Eficiência Energética e o Consumidor Final: Propostas


para a realidade brasileira” IEI Brasil (2017) ..................................................................................... 11

4. Ampliação da experiência internacional utilizada na comparação das premissas adotadas na AIR


13
4.1. O futuro das redes de empresas distribuidoras de energia à luz das redes de cidadãos distribuidores de
energia .................................................................................................................................................................... 14

5. Sugestão de metodologia para cálculo dos benefícios/prejuízos para o investidor em GD-FV e


para o consumidor que não adota a GD-FV ...................................................................................... 16

6. Sugestão de metodologia para estimação do custo evitado com bandeiras tarifárias disparadas
pela entrada em operação de usinas térmicas a gás e do benefício pela preservação dos níveis dos
reservatórios das UHEs .................................................................................................................... 16

7. Sugestão de metodologia e exemplificação da avaliação dos impactos na AIR da adoção do


payback descontado ao invés do payback simples utilizado.............................................................. 17
7.1. Preços de sistemas GD-FV no Brasil .............................................................................................................. 17
7.2. Tarifas residenciais de energia de dez/2012 a abr/2019 .............................................................................. 17
7.3. Método ......................................................................................................................................................... 18
7.4. Resultados ..................................................................................................................................................... 19
7.5. Referências utilizadas neste capítulo ............................................................................................................ 20

8. Avaliação crítica da quantificação do potencial de geração de empregos utilizado na AIR .......... 20

9. Revisão bibliográfica de publicações brasileiras e resumo dos estudos sobre o Fator Efetivo de
Capacidade de Carga (FECC) e potencial de redução de carga em alimentadores urbanos
proporcionado pela GD-FV .............................................................................................................. 22

10. Deserção da rede (grid defection) ............................................................................................. 24

11. Considerações finais................................................................................................................. 27

12. Referências utilizadas neste relatório ....................................................................................... 29

Apêndice 1. Análises de sistemas GD-FV atualmente instalados no Brasil.......................................... 32


i) Sistemas GD-FV instalados por ano ..................................................................................................................... 34
ii) Sistemas GD-FV instalados por ano, por modalidade ......................................................................................... 36
iii) Sistemas GD-FV instalados por UF ..................................................................................................................... 41
iv) Sistemas GD-FV instalados por mês................................................................................................................... 43
v) Sistemas GD-FV instalados por mês, por modalidade ........................................................................................ 44
7

vi) Comparação micro x mini GD-FV ....................................................................................................................... 49


vii) Sistemas GD-FV por faixa de potência instalada............................................................................................... 50
viii) Mini-GD-FV por faixa de potência instalada .................................................................................................... 52

Anexo 1. Evolução preços sistemas micro GD-FV no Brasil ................................................................ 54


8

1. Introdução
Este relatório foi desenvolvido no âmbito de uma consultoria do Laboratório Fotovoltaica-UFSC (Centro
de Pesquisa e Capacitação em Energia Solar da Universidade Federal de Santa Catarina,
www.fotovoltaica.ufsc.br) para a GIZ (Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit) GmbH
no âmbito do projeto ”sistemas energéticos do futuro” da cooperação técnica entre o Brasil e a
Alemanha, através da IESS (IDEAL Estudos e Soluções Solares) para apresentar contribuições à Audiência
Pública 001/2019 da ANEEL, através da análise crítica do documento “Revisão das regras aplicáveis à
micro e minigeração distribuída - Resolução Normativa nº 482/2012 - Relatório de Análise de Impacto
Regulatório (AIR) nº 0004/2018-SRD/SCG/SMA/ANEEL”.
A referida Audiência Pública tem por meta obter subsídios ao aprimoramento das regras aplicáveis à
micro e minigeração distribuída, estabelecidas pela resolução normativa nº 482/2012.
As análises aqui apresentadas são as seguintes:
a) Avaliação crítica das premissas adotadas na AIR.
b) Ampliação da experiência internacional utilizada na comparação das premissas adotadas na AIR,
que foram realizadas exclusivamente com base no mercado norte-americano, com a situação em
outro mercado semelhante em termos de extensão territorial e irradiação anual (e.g. Austrália).
c) Sugestão de metodologia adequada para cálculo dos benefícios/prejuízos para o investidor em
Geração Distribuída Fotovoltaica (GD-FV) e para o consumidor que não adota a GD-FV, utilizando o
impacto tarifário médio direto no consumidor individual (R$/kWh e R$/mês na conta média do
consumidor residencial brasileiro) ao invés do VPL total não-rateado que foi utilizado na AIR e que
não dá uma medida do impacto individual por Unidade Consumidora (UC).
d) Sugestão de metodologia adequada para a estimação do benefício decorrente do custo evitado
com bandeiras tarifárias disparadas pela entrada em operação de usinas térmicas a gás e do
benefício decorrente da preservação dos níveis dos reservatórios das UHEs.
e) Sugestão de metodologia e exemplificação da avaliação dos impactos na AIR da adoção do payback
descontado ao invés do payback simples utilizado, especialmente tendo em vista que os valores de
payback relatados na AIR, a despeito de mostrarem ser rentável o investimento na GD-FV, são
pouco atrativos para o potencial investidor na GD-FV.
f) Avaliação crítica da quantificação do potencial de geração de empregos utilizado na AIR.
g) Busca na literatura brasileira e resumo dos estudos realizados sobre o Fator Efetivo de Capacidade
de Carga (FECC ou ELCC – Effective Load Carrying Capability) e potencial de redução de carga em
alimentadores urbanos proporcionado pela GD-FV.
h) Deserção da rede (grid defection): comparação das Alternativas 1 a 5 levantadas na AIR para o
modelo do Sistema de Compensação de Energia Elétrica com um modelo de autoconsumo integral
da energia gerada pela GD-FV, admitindo a redução de custo e o uso intensivo de sistemas
eletroquímicos de armazenamento de energia elétrica (e.g. baterias de íons de lítio) para 100% de
autonomia e deserção da rede (grid defection).
No Apêndice 1 são apresentadas análises do mercado GD-FV no Brasil com base nos dados disponíveis
no site da ANEEL em 03/04/2019, e tais resultados são utilizados nas análises desenvolvidas ao longo
deste relatório. No Anexo 1 são apresentados dados atualizados quanto a preço de sistemas GD-FV no
Brasil, obtidos a partir de estudos de terceiros.
De maneira geral, a AIR passa a impressão de que o produtor-consumidor (prosumer ou prossumidor)
que adota a geração solar fotovoltaica e se beneficia do mecanismo de compensação de energia nos
moldes atuais da REN 482/2012 traz mais prejuízos do que benefícios aos demais consumidores e
9

usuários das redes públicas de distribuição de energia elétrica. A AIR deixa de levar em conta qualquer
benefício que a entrada deste prossumidor que adota GD-FV possa trazer para a rede de distribuição e
para os demais consumidores que não adotam a GD-FV.
O presente estudo chama a atenção para a necessidade de avaliar e considerar o caso extremo no qual
este prossumidor resolva adotar um sistema eletroquímico de armazenamento de energia elétrica (e.g.
baterias de íons de lítio), atingindo 100% (ou quase 100%) de autonomia e levando à deserção parcial ou
total da rede (grid defection). À medida que os sistemas de armazenamento experimentem reduções de
custo semelhantes ao ocorrido com a geração solar fotovoltaica e que os custos impostos pelas
distribuidoras para a manutenção da conexão na rede deste prossumidor continuem a crescer, a
viabilidade do sistema de distribuição tradicional estará ameaçada. A AIR tangencia o assunto, mas não
dá a ele maior atenção por avaliar como pouco provável a possibilidade. Lembrando que nem as mais
conceituadas consultorias internacionais da área (e.g. Bloomberg New Energy Finance – BNEF,
Pricewaterhouse Coopers – PwC entre outros) previram a impressionante redução de custos da
tecnologia solar fotovoltaica (os preços baixaram cerca de 10 vezes em 10 anos!). O mesmo parece ser
possível e provável com a tecnologia das baterias (impulsionadas pela mobilidade elétrica), abrindo
caminho para que o prossumidor possa prescindir da rede elétrica pública em um futuro mais ou menos
próximo. A deserção da rede já é um processo em marcha em alguns países (e.g. Austrália, EUA) que
menosprezaram a contribuição do prossumidor para a modicidade tarifária5.
Um estudo de 2014 do Rocky Mountain Institute resume a questão desta forma:
“Even before mass defection, a growing number of early adopters could trigger a spiral of falling
sales and rising electricity prices that make defection via solar-plus-battery systems even more
attractive and undermine utilities’ traditional business models”6.
Outro aspecto a ser avaliado é o conceito de deserção parcial ou “deserção de carga”, em tradução livre
do termo em inglês load defection, que pode ser definida como a utilização apenas mínima da
disponibilidade da rede elétrica pública de um sistema que utiliza GD-FV + baterias projetado e
otimizado para que a rede seja utilizada apenas eventualmente. Apesar de a AIR mencionar a “espiral da
morte”, este relatório chama a atenção para a necessidade de avaliações mais apuradas acerca desta
possibilidade no médio prazo, de modo a evitar que o prossumidor resolva abandonar o uso da rede
elétrica pública, deixando os demais consumidores que não adotaram a GD-FV com o ônus de manter
aquela infraestrutura.

2. Avaliação crítica das premissas adotadas na AIR


Quanto às premissas adotadas na AIR, sugere-se que a AIR:
• Inclua melhores esclarecimentos sobre os custos e benefícios dos três agentes envolvidos na
micro e minigeração: (i) prossumidor de energia; (ii) consumidor sem produção de energia e
com créditos de energia remota; (iii) consumidor sem produção de energia e sem créditos de
energia remota.
• Inclua em destaque os benefícios obtidos via GD (principalmente observada no mercado GD-FV)
quanto à geração de emprego, de renda, e de novas empresas.

5
Uma busca rápida na internet revela farta descrição de casos e mercados nos quais a deserção da rede por produtores-
consumidores (prosumers ou prossumidores) começa a ocorrer (e.g. Parkinson, G. (2018); “Angry and frustrated, more
customers are quitting the grid”; Renew Economy, 24/04/2018 [https://reneweconomy.com.au/angry-and-frustrated-more-
customers-are-quitting-the-grid-81552/] e Rocky Mountain Institute (2014); “The Economics of Grid Defection”
[https://rmi.org/insight/economics-grid-defection/]).
6
Rocky Mountain Institute (2014); “The Economics of Grid Defection” [https://rmi.org/insight/economics-grid-defection/]
10

• Atualize os dados informados na Figura 1 da Fl. 9, pois as informações de potência total


acumulada (“realizado”) estão defasadas.
• Inclua análises sobre a distribuição do mercado GD-FV por modalidade. No Apêndice 1 são
apresentadas algumas dessas análises, na base anual (item “ii”) e na base mensal (item “v”).
• Esclareça melhor a análise apresentada na Figura 2 do parágrafo 22 da AIR, que está
comparando estados dos EUA com país (Brasil). Seria mais apropriado comparar unidades
federativas (UFs) dos EUA com UFs do Brasil. Nem no texto nem no eixo vertical do gráfico fica
claro o que significa o percentual apresentado. Falta também incluir legenda no eixo vertical.
• Inclua mais informações sobre tecnologia dos medidores das UCs com sistemas GD e das UCs
que recebem créditos de sistemas GD, informando se todos usam sistema eletrônico.
• Proponha formas de quantificar o consumo local simultâneo à geração de energia pelos
sistemas GD. Esse consumo simultâneo à geração poderia ser qualificado como eficiência
energética da edificação na qual o sistema GD está instalado. A AIR pode também já prever a
qualificação dos sistemas de armazenamento eletroquímico como iniciativa de eficiência
energética de edificações, tendo em vista que eles serão extensivamente adotados em virtude
da aplicação de qualquer das Alternativas 1 a 5 apresentadas na AIR e da acentuada redução de
custos esperada para as tecnologias de baterias associadas à mobilidade elétrica.
• Revise/atualize os valores indicados na terceira coluna da Tabela 6, pág. 28 da AIR, pois nenhum
deles está coerente com os valores atuais.
• Aprofunde a análise crítica das alternativas 0 e 1, quanto aos benefícios/prejuízo da manutenção
dessas alternativas, sob a ótica dos consumidores, dos prossumidores e da rede.
• Inclua análises quanto ao custo do risco do investimento em GD-FV, que nem sequer foi citado
na AIR.
• Inclua resultados de uma pesquisa nacional de satisfação feita com os prossumidores (mesmo
que por amostragem), em relação ao atendimento das distribuidoras, para avaliar o
atendimento da regulamentação por parte das distribuidoras, tanto em relação aos prazos,
quanto ao lançamento de créditos e de compensação de créditos.
• Inclua propostas de penalidades para distribuidoras que não respeitam a regulamentação
vigente em relação à GD.
• Informe um prazo para a consolidação de uma plataforma de BI (business intelligence) ANEEL
que informe, em tempo real (ou pelo menos com um prazo máximo de alguns dias ou mesmo
um mês), os dados dos sistemas GD conectados à rede (atualmente, alguns sistemas só são
lançados na planilha GD ANEEL meses ou até anos após a conexão à rede, conforme dados
apresentados no Apêndice 1).
• Informe um prazo para a consolidação de uma plataforma de BI ANEEL que informe quais desses
sistemas GD efetivamente já estão (ou ainda estão, para o caso dos sistemas já cadastrados)
injetando energia na rede.
• Informe um prazo para a consolidação de uma plataforma de BI ANEEL que informe quanto de
energia os sistemas GD injetam de fato na rede (inicialmente na base mensal, mas com vistas a
uma plataforma de BI que futuramente informe também a geração na base horária, e,
posteriormente, forneça também dados instantâneos em potência injetada).
• Inclua análises baseadas no estudo “Geração Distribuída, Eficiência Energética e o Consumidor
Final: Propostas para a realidade brasileira”7, publicado pela IEI Brasil em 2017, no qual são
apresentadas diferentes óticas sobre o setor frente ao consumidor final (esse estudo é
abordado no tópico 3 deste relatório).

7 IEI Brasil (2017); “Geração Distribuída, Eficiência Energética e o Consumidor Final: Propostas para a realidade brasileira”
[https://iei-brasil.org/2017/06/19/geracao-distribuida-eficiencia-energetica-e-o-consumidor-final-propostas-para-a-realidade-
brasileira/]
11

• Inclua análises do mercado GD em outros países, como a Austrália. A Austrália é um país com
mais semelhanças com o Brasil no tema da GD-FV do que qualquer outro país no mundo e conta
atualmente com mais de 2 milhões de instalações de GD-FV (11,1 GWp FV instalados)8 em um
país que conta com cerca de 9 milhões de UCs9 (em 2010 eram cerca de 8 milhões de UCs10),
principalmente para se avaliar a questão do “grid defection” (esses assuntos são abordados nos
tópicos 4 e 10 deste relatório).

3. Análise do estudo “Geração Distribuída, Eficiência Energética e o


Consumidor Final: Propostas para a realidade brasileira” IEI Brasil (2017)
O foco do estudo “Geração Distribuída, Eficiência Energética e o Consumidor Final: Propostas para a
realidade brasileira” publicado pelo IEI Brasil (2017) não se restringe apenas à análise do impacto de
mudanças do setor elétrico nos consumidores, sejam eles autoprodutores (prossumidores) ou não, e
nas concessionárias de distribuição. Essas mudanças são oriundas do avanço das inovações para o setor,
que buscam trazer benefícios importantes aos consumidores e à sociedade.
Pelo ponto de vista da concessionária, a GD é vista como uma ameaça para o tradicional modelo de
negócio praticado atualmente dentro do contexto legal e regulatório. Já é tempo de a distribuidora ver a
GD-FV mais como uma nova oportunidade de novos negócios do que como um risco ao seu velho
negócio, desenvolvendo novos modelos de negócio de modo a compartilhar dos benefícios que a GD-FV
pode trazer para o sistema de distribuição.
Na ótica do consumidor, a GD representa uma economia relativa à compra de energia da rede. Ou seja,
quanto mais energia o consumidor gerar, menos ele precisará adquirir da distribuidora. Há também a
figura de um novo agente sendo criado com a GD: os prossumidores, motivados a investir em auto
geração.
No âmbito comercial, os desafios afetam as concessionárias. Atualmente, grande parte das
distribuidoras não tem incentivos para desenvolver esse mercado, tampouco oferecer serviços de
gerenciamento e conexão. Portanto, novos modelos comerciais precisam ser implementados para que
gerem benefícios. Na ausência de políticas e instrumentos regulatórios claros associados à GD, é
provável que esse tipo de geração não prospere a longo prazo. Isso devido ao modo pelo qual as redes
de distribuição foram desenvolvidas e operadas, como redes passivas. Logo, políticas apropriadas
devem ser desenhadas considerando as questões de integração, planejamento e operação tanto da rede
quanto do sistema, de modo que todos os consumidores, mesmo os que não adotam a GD-FV
diretamente, possam auferir os benefícios desta tecnologia benigna.
No início da década de 1980, técnicos do setor elétrico brasileiro aprenderam a calcular os custos
marginais de distribuição de energia elétrica, utilizando metodologias francesas, desenvolvidas pela
Electricité de France11. Esta metodologia agrega até hoje os custos incrementais dos componentes da
rede em baixa tensão e tem sido utilizada para calcular custos marginais médios para toda a área de

8 Australian PV Institute (2019); “Australian PV market since April 2001”, acessado em 12/04/2019 [http://pv-
map.apvi.org.au/analyses]
9AEMO (2019); “National Electricity Market”, acessado em 12/04/2019 [www.aemo.com.au/Electricity/National-Electricity-
Market-NEM]
10 AEMO (2010); “An Introduction to Australia’s National Electricity Market, July 2010”
[https://web.archive.org/web/20110311060546/http://www.aemo.com.au/corporate/0000-0262.pdf]
11 MME; DNAEE (1985); “Nova Tarifa de Energia Elétrica: metodologia e aplicação”.
12

concessão das empresas distribuidoras. A metodologia dispensa o uso de modelos de simulação de


fluxos de carga que representem de uma forma detalhada as redes de distribuição.
Atualmente, existem modelos que representam a operação e a expansão de redes de distribuição sem a
necessidade de agregar linhas e transformadores. Os modelos desenvolvidos pelo MIT Energy Initiative12
estabelecem um bom exemplo, no qual se permite o cálculo dos custos marginais de distribuição de
uma forma bastante desagregada, possibilitando, assim, estimar o valor adicionado da GD e de medidas
visando ganhos de eficiência energética em qualquer ponto da rede, bem como suas variações ao longo
do tempo.
Em um longo prazo, estima-se que o despacho e o planejamento da operação das redes de distribuição
deverão ser semelhantes ao realizado hoje para as redes de transmissão12.
A crescente digitalização das redes elétricas e das instalações dos consumidores permite a realização de
novos modelos de negócios, novos tipos de contratos, mais flexibilidade entre geradores, transmissores,
distribuidores, consumidores e prossumidores; além de novos tipos de tarifas, mais elaboradas, que
refletem melhor os custos marginais do setor elétrico.
No médio ou longo prazo, é previsto que todos os consumidores de energia elétrica no Brasil deverão se
tornar livres, ou seja, poderão escolher de quem comprar a energia. Dessa forma, todos os
consumidores, inclusive os pequenos, pagarão duas tarifas de energia elétrica: (i) para o fornecedor de
energia e (ii) para a distribuidora pelo uso do sistema de distribuição (TUSD)13. Essa separação de
faturas deverá ocorrer mesmo para os consumidores que optarem por continuar tendo o seu
fornecimento através de empresa distribuidora local.
No futuro, quando as redes de distribuição inteligentes e medidores digitais com memórias de massa
estiverem instalados na maioria dos consumidores, não haverá motivos para não se aplicar tarifas
binômias horo-sazonais nodais, ou zonais, para todos estes consumidores, grandes e pequenos. A
separação entre classes de consumidores se tornará irrelevante12.
Para que ocorra uma competição saudável entre fontes renováveis de energia distribuída e centralizada,
será essencial que as tarifas de energia elétrica praticadas para os prossumidores reflitam da melhor
maneira possível os custos marginais de seu consumo e de sua produção nas redes de distribuição aos
quais estão conectados.

12MIT (2016); “Utility of the future”, Cambridge, MA, USA [https://energy.mit.edu/wp-content/uploads/2016/12/Utility-of-the-


Future-Full-Report.pdf]
13Isso já acontece atualmente no país com os consumidores com demandas superiores a 3 MW e os consumidores com
demandas entre 0,5 MW e 3 MW que contratam o seu fornecimento junto a fontes de energia incentivadas.
13

4. Ampliação da experiência internacional utilizada na comparação das


premissas adotadas na AIR
As premissas adotadas na AIR se basearam exclusivamente no mercado dos EUA. A Austrália é um país
com mais semelhanças com o Brasil no tema da GD-FV do que qualquer outro país no mundo e conta
atualmente com mais de 2 milhões de instalações de GD-FV (11,1 GWp FV instalados)14 em um país que
conta com cerca de 9 milhões de UCs15 (em 2010 eram cerca de 8 milhões de UCs16).
Recomendam-se as seguintes fontes, para a avaliação da realidade atual da GD-FV na Austrália:
• Artigo “Citizen utilities: The emerging power paradigm” (Green & Newman, 2017), publicado na
revista internacional Energy Policy (https://doi.org/10.1016/j.enpol.2017.02.004);
• Mapping Australian Photovoltaic installations (http://pv-map.apvi.org.au/historical#4/-
26.67/134.12);
• Artigo “Estimating the net societal value of distributed household PV systems” (Oliva H., MacGill
e Passey, 2014), publicado na revista internacional Solar Energy
(https://doi.org/10.1016/j.solener.2013.11.027);
• Apresentação “High PV penetration in Australia, Challenges and Opportunities” (Haghdadi,
Macgill e Bruce, 2018), que fez parte do Workshop “Integrating Large Scale Distributed Solar PV
Systems to the Grid”, apresentado em 10/04/2018, na International Sustainable Energy Summit,
(https://www.researchgate.net/publication/325310950_High_PV_penetration_in_Australia_Ch
allenges_and_Opportunities);
• Relatório “Energy Storage: Opportunities and Challenges of Deployment in Australia”, capítulo
“Distributed energy storage and system integration”, publicado pelo Australian Council of
Learned Academies (ACOLA) (2018) (https://acola.org.au/wp/wp-
content/uploads/WP2_ATSE.pdf);
• Relatório “Solar Report – January 2019”, publicado pelo Australian Energy Council
(https://www.energycouncil.com.au/media/15358/australian-energy-council-solar-report_-
january-2019.pdf)

No tópico a seguir serão feitas considerações baseadas no tópico “The future of network utilities in the
light of citizen utilities” do primeiro artigo citado acima “Citizen utilities: The emerging power
paradigma” (Green & Newman, 2017), publicado na conceituada revista internacional Energy Policy.

14Australian PV Institute (2019); “Australian PV market since April 2001”, acessado em 12/04/2019 [http://pv-
map.apvi.org.au/analyses]
15
AEMO (2019); “National Electricity Market”, acessado em 12/04/2019 [www.aemo.com.au/Electricity/National-Electricity-
Market-NEM]
16 AEMO (2010); “An Introduction to Australia’s National Electricity Market, July 2010”
[https://web.archive.org/web/20110311060546/http://www.aemo.com.au/corporate/0000-0262.pdf]
14

4.1. O futuro das redes de empresas distribuidoras de energia à luz das redes de
cidadãos distribuidores de energia
Baseado no tópico “The future of network utilities in the light of citizen utilities” (“O futuro das redes de
empresas distribuidoras de energia à luz das redes de cidadãos distribuidores de energia”), do artigo
citado “Citizen utilities: The emerging power paradigma” (Green & Newman, 2017), publicado na revista
Energy Policy, foram elaboradas as seguintes considerações, com foco em GD-FV (que são apresentadas
no fluxograma da Figura 1):
• Eletricidade de fontes locais: A GD-FV permite a geração de energia elétrica através de uma
fonte localmente disponível, e tende à formação de uma rede de UCs distribuidoras de energia.
Essa democratização da provisão de eletricidade tem potencial para ser uma grande força
transformadora para a sustentabilidade de economias locais e para a difusão do uso de veículos
elétricos. No entanto, essa rede de UCs distribuidoras de energia ainda requer que uma rede
seja mantida, embora com menor capacidade, mas com muito menos necessidade de geradores
de grande porte atreladas ao sistema de T&D. Como as concessionárias brasileiras enfrentarão
esse desafio emergente, e já de fato presente em países como Austrália e China?
• Resposta das empresas distribuidoras: O crescente avanço em diversos países de redes de
distribuição geridas por cidadãos, compostas por sistemas GD e baterias, está pressionando as
empresas distribuidoras a se envolverem com seus clientes através de outros modelos de
negócio, reconhecendo-os como potenciais geradores, bem como compradores de eletricidade,
ou prossumidores. As respostas potenciais para as empresas distribuidoras são “lutar contra”
("fight"), “não reagir” (“flight –> business-as-usual”), “abandonar o mercado” (“flight –>
divestment from market”) ou “inovar” (“innovate”), conforme apresentado na Figura 1. Essas
opções não são mutuamente exclusivas. As empresas distribuidoras podem, por exemplo
“combater” e, ao mesmo tempo, “inovar”. Alguns comentários sobre as abordagens possíveis:
o “Lutar contra” ("fight"): Se as empresas distribuidoras quiserem “lutar contra” a adoção de
GD-FV pelo mercado, elas podem: fazer lobby por políticas protecionistas que mantenham
sua participação de mercado; ou insistir que os consumidores continuem a pagar pela
infraestrutura quando não a utilizarem, através da implementação de tarifas fixas mais altas.
No entanto, o aumento nos encargos para os clientes pode resultar em mais motivos para
que esses clientes abandonem completamente a rede. Outra forma de “lutar contra” seria
restringir a absorção de GD-FV a certas proporções ou horários do dia e limitar o
fornecimento de energia pelas baterias de sistemas GD-FV para a rede. A proibição
raramente funciona a longo prazo com inovações disruptivas, como é o caso da GD-FV com
baterias, uma vez que os consumidores tentarão contornar o sistema por completo, sendo
que os responsáveis pela escolha de não inovar acabam sofrendo piores resultados. Por
exemplo, os taxistas tradicionais que adotaram estratégias de “lutar contra” (inclusive
através de vandalismo e ameaças) não impediram a implantação dos serviços UBER e
similares, nem o impacto que isso teve no mercado tradicional.
o “Não reagir” (“flight –> business-as-usual”): Se refere à inação de empresas distribuidoras
que não tomam nenhuma atitude e continuam a desenvolver seu modelo de negócio sem
alterações. Não administrar a transição entre o antigo e o novo paradigma provavelmente
levará a baixas de ativos.
o “Abandonar o mercado” (“flight –> divestment from market”): Se refere a empresas
distribuidoras que preferem sair do mercado do que inovar.
o “Inovar” (“innovate”): As empresas distribuidoras podem inovar, buscando novos modelos
de negócio para continuar a desempenhar seus pontos fortes como marcas estabelecidas,
com uma ampla base de clientes e experiência técnica.
15

Figura 1. Opções “lutar contra” ("fight"), “não reagir” (“flight –> business-as-usual”), “abandonar o mercado” (“flight –> divestment from market”) ou “inovar” (“innovate”) para empresas
distribuidoras ameaçadas por modelos de negócios de GD. Fluxograma desenvolvido pelos autores do artigo “Citizen utilities: The emerging power paradigm” (Green & Newman, 2017), com
informações do relatório “New Energy Outlook 2015” da Bloomberg New Energy Finance - BNEF17.

17 “New Energy Outlook 2015”, Bloomberg New Energy Finance. A versão mais recente do relatório está disponível em https://about.bnef.com/new-energy-outlook/
16

5. Sugestão de metodologia para cálculo dos benefícios/prejuízos para o


investidor em GD-FV e para o consumidor que não adota a GD-FV
A metodologia sugerida para cálculo dos benefícios/prejuízos para o investidor em GD-FV (prossumidor)
e para o consumidor que não adota a GD-FV, é a utilização do impacto tarifário médio direto no
consumidor individual (R$/kWh e R$/mês na conta média do consumidor residencial brasileiro) ao invés
do VPL total não-rateado que foi utilizado na AIR e que não dá uma medida do impacto individual por
Unidade Consumidora (UC).
Também se sugere a quantificação do custo do risco do investimento em GD-FV, que não foi citado na
AIR.

6. Sugestão de metodologia para estimação do custo evitado com bandeiras


tarifárias disparadas pela entrada em operação de usinas térmicas a gás e do
benefício pela preservação dos níveis dos reservatórios das UHEs
Para a estimativa do custo evitado com bandeiras tarifárias disparadas pela entrada em operação de
usinas térmicas a gás e do benefício pela preservação dos níveis dos reservatórios das UHEs, sugere-se o
desenvolvimento de metodologia baseada na Teoria de Opções Reais (TOR), que se mostra mais
adequada, por incorporar incertezas e a opção de troca entre tecnologias.
A TOR é uma análise moderna de investimento sob incerteza em projetos e ativos reais cujo objetivo é a
maximização de valor sob incerteza. No ambiente de negócios, incerteza é a regra (e não a exceção) e o
tomador de decisão a tem que considerar – assim como quantificar – as opções (reais) que possui em
cada cenário.
Essa teoria permite que sejam consideradas, em função das condições de mercado ao longo dos anos de
execução do projeto (e, consequentemente, da análise de retorno de investimento do mesmo):
• Opções de espera: flexibilidade de adiar um investimento;
• Opções de contração/expansão: opções de contrair ou expandir a escala de operações;
• Opões de parada temporária: opções de parada temporária das operações (p.ex.: shut-down da
produção);
• Opção de abandono: opção de abandonar o projeto;
• Opções de troca: opções de troca de insumos ou de produtos, e
• Opções de crescimento: investimentos em P&D, em testes de mercado, entre outros. São
opções reais (OR) valiosas que capacitam a empresa a melhorar seu desempenho competitivo
no mercado e/ou reagir melhor a mudanças de cenário (incluindo através de novos modelos de
negócio).
Para elaborar tal metodologia, recomendam-se os livros “Análise de investimentos com opções reais –
Teoria e prática com aplicações em petróleo e outros setores”, volumes 1 (2014) e 2 (2015), por Marco
Antonio Guimarães Dias.
17

7. Sugestão de metodologia e exemplificação da avaliação dos impactos na AIR


da adoção do payback descontado ao invés do payback simples utilizado
Na AIR foi utilizado o fluxo de caixa simples, que não leva em conta o valor do dinheiro no tempo. A
metodologia sugerida é a de fluxo de caixa descontado, na base mensal, utilizando as premissas
indicadas na dissertação “Avaliação do retorno do investimento em sistemas fotovoltaicos integrados a
residências unifamiliares urbanas no Brasil (Montenegro, 2013), com as devidas atualizações de valores.

7.1. Preços de sistemas GD-FV no Brasil


O estudo de mercado desenvolvido por Greener (2019) entrevistou 760 empresas integradoras
fotovoltaicas de todas as regiões do Brasil, no período entre 3 de dezembro de 2018 e 9 de janeiro de
2019, utilizando respostas de 690 das empresas entrevistadas (91% de validação). Parte das análises
apresentadas nesse estudo foi incluída no Anexo 1.
Este estudo mostrou que a redução nos preços médios totais (kit FV e integração) dos sistemas
residenciais de 4 kWp GD-FV nos últimos dois anos (jan/2017 a jan/2019) foi de 32,4% (de 7,74 R$/Wp
para 5,23 R$/Wp). No mesmo período, a taxa de câmbio do dólar aumentou 16,3% (de 3,210 R$/US$ em
jan/2017 para 3,734 R$/US$ em jan/2019). Essa redução de preços ocorreu devido à expansão no
mercado de GD-FV no Brasil no período, que trouxe reduções consideráveis nas despesas nacionalizadas
(e.g. projetos, mão-de-obra de instalação e estruturas metálicas) referentes ao GD-FV (Greener, 2019), e
também pela redução dos preços do módulo fotovoltaico no mercado internacional no mesmo período
(BloombergNEF, 2018). Note-se que, de jun/2017 a jan/2018, há uma redução de 33,3% nos preços
médios da integração GD-FV no Brasil, mas um aumento de 13,2% nos preços médios dos kits PV com 4
kWp. Como destacado por Greener (2019), o aumento dos preços dos kits PV neste período ocorreu
principalmente devido ao aumento da cotação do dólar.

7.2. Tarifas residenciais de energia de dez/2012 a abr/2019


Em Montenegro (2013) é apresentado um levantamento das tarifas residenciais de energia sem
impostos (tarifa B1) para dez/2012 para as 27 capitais brasileiras. Os valores não se alteraram até
maio/2013, que foi o mês das avaliações de retorno de investimento apresentadas naquele estudo, e
que estão atualizados neste relatório. Foram verificados os valores atualizados das tarifas B1 sem
impostos para abr/2019 (ANEEL, 2019), e foi feita uma comparação com os valores, também sem
impostos, praticados em dez/2012, para as 27 capitais brasileiras. Para o período considerado (dez/2012
a abr/2019), considerando a tarifa B1 para as 27 capitais, observou-se:
• Que a média dos aumentos médios anuais das capitais foi de 11%,
• Que aumento médio anual mínimo foi de 7% (Natal-RN) e
• Que o aumento médio anual máximo foi de 18% (Macapá-AP).
Na avaliação de investimento atualizada, foram consideradas tarifas com tributos e impostos, levando
em conta as diferentes alíquotas por UF e por nível de consumo.
18

7.3. Método
O método desenvolvido em Montenegro (2013) para avaliar o retorno do investimento em sistemas
residenciais de micro GD-FV foi a base para avaliar o retorno sobre o investimento desses sistemas
quando instalados em cada uma das 27 capitais brasileiras. Estes são alguns dos valores e especificações
adotados nas análises de investimento dos sistemas micro GD-FV para as 27 capitais, para abr/2019:
• Fluxo de caixa descontado, na base mensal, utilizando TMA de 6,4% (SELIC).
• Tipo de consumidor: residencial (não baixa renda), trifásico.
• Consumo total mensal: 250 kWh/mês, constante ao longo do ano e ao longo dos anos.
• Tarifa de energia aplicada para o início do sistema GD-FV: tarifa B1 real, incluindo impostos, no
mês do início do sistema GD-FV (ou seja, abril/2019).
• Aumento médio anual da tarifa: 2% ao ano (optou-se por uma análise bem mais conservativa do
que os valores identificados no tópico 7.2).
• Custo mensal de disponibilidade: tarifa B1 do mês de análise (com impostos e tributos)
multiplicada por 100 kWh.
• Irradiação solar mensal (kWh/m2.mês): irradiação solar mensal em um plano com inclinação
igual à latitude local e voltada para o norte. Dados coletados em Pereira et al. (2017).
• Taxa de Desempenho (PR, Performance Ratio): 80%. Este é um valor médio para instalações de
qualidade operando no Brasil, com PRs de 80 a 90% para sistemas fotovoltaicos instalados a
partir de 2010 sendo uma prática comum na Alemanha (Reich et al., 2012; Thevenard e Pelland,
2013; Fraunhofer ISE e PSE, 2019).
• Produtividade mensal (kWh/kWp.mês): é numericamente igual à multiplicação da radiação solar
mensal no plano do gerador fotovoltaico por PR.
• Potência fotovoltaica instalada: 1 kWp. Com esta potência, em nenhuma capital, em nenhum
mês do ano, o consumo mensal líquido (consumo total bruto mensal menos geração
fotovoltaica mensal) cobrado pela concessionária está abaixo dos 100 kWh correspondentes a o
custo mensal de disponibilidade. Esse critério influencia, portanto, para resultados mais
otimistas do que os que de fato ocorrem quando o sistema GD-FV gera créditos a serem
compensados no mês seguinte (o que é usual), fazendo que o custo de disponibilidade seja
cobrado nesses meses.
• Redução anual do rendimento: 0,5% ao ano. Valor típico para o Brasil (Viana et al., 2012).
• Preço do Wp instalado: 5 R$/Wp. Valor estimado para abr/2019, a partir de Greener (2019).
19

7.4. Resultados
A Tabela 1 mostra os resultados obtidos na análise do retorno do investimento em sistemas micro GD-
FV para as 27 capitais brasileiras, para abr/2019, considerando os valores e especificações mencionados
no tópico anterior.
A capital com melhor retorno de investimento foi Belém-PA (VPL de R$17.860, TIR de 37,7% e payback
time de 3,6 anos), e a com pior retorno de investimento foi Macapá-AP (VPL de R$7.209, TIR de 19,3% e
payback time de 7,2 anos).
A média dos valores para as capitais foi: VPL de R$12.096, TIR de 28% e payback time de 5 anos.
São os valores de payback time baixos e TIR elevadas que têm atraído a atenção do investidor para a
GD-FV. Se este cenário for alterado com a introdução das Alternativas 1 a 5 apresentadas na AIR, os
investimentos em GD-FV não mais farão sentido econômico e o mercado irá sofrer retração.

Tabela 1. VPL, TIR e payback time para investimento em sistemas micro GD-FV para as 27 capitais brasileiras, para abr/2019.
VPL TIR Payback time
Capital UF
(R$) (% a.a.) (ANOS)
Aracaju SE 12.591 28,5% 4,8
Belém PA 17.860 37,7% 3,6
Belo Horizonte MG 15.176 33,1% 4,1
Boa Vista RR 11.143 26,0% 5,2
Brasília DF 11.699 26,9% 5,0
Campo Grande MS 11.263 26,2% 5,2
Cuiabá MT 12.575 28,4% 4,8
Curitiba PR 9.089 22,6% 6,1
Florianópolis SC 8.162 21,0% 6,6
Fortaleza CE 11.913 27,3% 4,9
Goiânia GO 14.618 32,0% 4,2
João Pessoa PB 14.544 32,0% 4,2
Macapá AP 7.209 19,3% 7,2
Maceió AL 15.801 34,0% 3,9
Manaus AM 11.630 26,8% 5,0
Natal RN 9.334 23,0% 5,9
Palmas TO 14.535 31,9% 4,3
Porto Alegre RS 9.799 23,8% 5,8
Porto Velho RO 10.372 24,7% 5,5
Recife PE 12.057 27,6% 4,9
Rio Branco AC 12.170 28,0% 4,8
Rio de Janeiro RJ 11.801 27,3% 5,0
Salvador BA 12.189 27,9% 4,8
São Luís MA 13.175 29,5% 4,6
São Paulo SP 10.817 25,3% 5,3
Teresina PI 13.549 30,7% 4,3
Vitória ES 11.511 26,8% 5,1
20

7.5. Referências utilizadas neste capítulo


ANEEL (2019); “Tarifas residenciais Brasil” [www.aneel.gov.br/dados/tarifas]
BloombergNEF (2018); “New Energy Outlook 2018”. [https://about.bnef.com/new-energy-outlook/]
Fraunhofer ISE and PSE (2019); “Photovoltaics Report, 14 March 2019”,
[www.ise.fraunhofer.de/content/dam/ise/de/documents/publications/studies/Photovoltaics-Report.pdf]

Greener (2019); “Estudo Estratégico Mercado Fotovoltaico de Geração Distribuída - 1o Semestre 2019”.
[www.greener.com.br/pesquisas-de-mercado/estudo-estrategico-mercado-fotovoltaico-de-geracao-distribuida-1o-
semestre-de-2019/]

Montenegro, A. A. (2013); “Avaliação do retorno do investimento em sistemas fotovoltaicos integrados a


residências unifamiliares urbanas no Brasil”; Dissertação de Mestrado; Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Civil -UFSC [https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/130917]
Pereira, E. B. et al. (2017); “Atlas Brasileiro de Energia Solar - 2a Edição”; São José dos Campos - SP
[http://labren.ccst.inpe.br/atlas_2017.html]

Reich, N. H. et al. (2012); “Performance ratio revisited: is PR > 90% realistic?”; Progress in Photovoltaics,
(January), pp. 717–726 [https://doi.org/10.1002/pip.1219]
Thevenard, D. and Pelland, S. (2013); “Estimating the uncertainty in long-term photovoltaic yield
predictions”; Solar Energy, 91, pp. 432-445 [https://doi.org/10.1016/j.solener.2011.05.006]
Viana, T. S. et al. (2012); “Sistema fotovoltaico de 2 kWp integrado a edificação: análise do desempenho
de 14 anos de operação”; IV Congresso Brasileiro de Energia Solar e V Conferência Latino-
Americana da ISES. [Erro! A referência de hiperlink não é válida.http://bit.ly/2DhBPrr]

8. Avaliação crítica da quantificação do potencial de geração de empregos


utilizado na AIR
Em um país com taxa de desemprego de 12,4% (13,1 milhões de trabalhadores nessa condição) e taxa
de subutilização da força de trabalho de 24,6% (27,9 milhões de pessoas)18, chama a atenção o pouco
caso feito quanto aos benefícios promovidos pela GD (principalmente GD-FV) em relação à geração de
empregos e de renda (além de impostos decorrentes desses empregos, renda e das novas empresas do
setor).
Na AIR é considerado que “cada MW de GD instalada poderia ser traduzida na geração de 25 empregos”
(Fl. 28), quando na verdade é um mercado com fluxo contínuo e crescente de novas instalações GD que
gera milhares de novos empregos19 (também contínuos) em todo o país. Caso o mercado GD sofra
contração (e isso ocorrerá se a mensagem que a ANEEL passe aos potenciais futuros prossumidores e às
empresas do setor seja de insegurança quanto à regulamentação de longo prazo), muitos desses
trabalhadores serão demitidos.

18 IBGE (2019) “Desemprego sobe para 12,4% e população subutilizada é a maior desde 2012”, 29/03/2019
[https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/24110-desemprego-sobe-para-12-4-
e-populacao-subutilizada-e-a-maior-desde-2012]
19No Brasil já existem mais de 6.000 empresas atuando no setor de GD-FV segundo o “Estudo Estratégico Mercado Fotovoltaico
de Geração Distribuída - 1o Semestre 2019” da Greener (2019) [www.greener.com.br/pesquisas-de-mercado/estudo-
estrategico-mercado-fotovoltaico-de-geracao-distribuida-1o-semestre-de-2019/]
21

É importante se levar em conta que, com o advento da Indústria 4.020,21,22, a chamada “era dos robôs”23
irá eliminar milhões de empregos em todo o mundo. Alguns exemplos:
• A rede de Pizzarias Domino’s (que tem pizzarias no Brasil) usa robôs para entregar pizzas na
Austrália desde 201624 e na Europa desde 201725.
• A Zume Pizza, do Vale do Silício, já substituiu os pizzaiolos. Suas pizzas são produzidas através de
um processo totalmente automatizado. Desde 2015 essa empresa usa robótica e IA para fazer pizza
mais rapidamente. O SoftBank está em negociações para investir até US$ 750 milhões na Zume,
segundo a Bloomberg26.
• Robôs estão substituindo integralmente (e com muito mais velocidade e eficiência) trabalhadores
humanos em restaurantes27.
• Um sistema automatizado (DoNotPay28,29) que faz apelações em tribunais de pequenas causas já
economizou o equivalente a R$ 12 milhões no Reino Unido com honorários que seriam pagos a
profissionais humanos.
• Em 2014, um médico-robô desenvolvido pela empresa chinesa iFlytek foi o primeiro do mundo a
passar num exame oficial para obter licença para atuar profissionalmente como médico
(equivalente ao exame da OAB, para atuar como advogado). Desde 2015 ele atende pacientes num
centro médico da cidade de Hefei, na China30. Esse robô é capaz de lembrar diagnósticos e receitas
de outros médicos que trabalham no centro ao tratar seus pacientes, aprendendo e se baseando
também nessas experiências.
“Exemplos como esses se reproduzem em todos os setores da economia mundial. Eles ilustram um
processo novo e muito importante: as empresas se automatizam cada vez mais, com softwares
poderosos e inteligência artificial, de tal modo que se expandem empregando número muito menor de

20 Ford, M. (2015); Livro “Rise of the Robots: Technology and the Threat of a Jobless Future”.
21 O Governo Federal, por meio do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) e da Associação Brasileira de
Desenvolvimento Industrial (ABDI), lançou a “Agenda brasileira para a Indústria 4.0”, que é um conjunto de iniciativas que
visam promover o desenvolvimento da Indústria 4.0 no país. http://www.industria40.gov.br/
22 Feldmann, P. (2018); “Era dos robôs está chegando e vai eliminar milhões de empregos”; Folha de S. Paulo, 29/07/2018
[https://folha.com/r03xj1iy]
23 Um projeto que leva esse nome (“The Robot-Era Project”) é bastante ilustrativo sobre esse conceito. Esse projeto recebe
investimentos através do European Community's Seventh Framework Programme (FP7/2007-2013) [http://www.robot-
era.eu/robotera/]
24McFarland, M. (2016); “Domino’s has a robot delivering pizzas in Australia”; The Washington Post, 21/03/2016
[www.washingtonpost.com/news/innovations/wp/2016/03/21/dominos-has-a-robot-delivering-pizzas-in-australia]
25 Kahn, J. (2017); “Domino’s Will Begin Using Robots to Deliver Pizzas in Europe”; Bloomberg, 29/03/2017
[www.bloomberg.com/news/articles/2017-03-29/domino-s-will-begin-using-robots-to-deliver-pizzas-in-europe]
26 Zaleski, O. & Wang, S. (2018); “SoftBank in Talks to Invest Up to $750 Million in Zume, the Startup That Sells Robot-Made
Pizza”; Bloomberg, 07/08/2018 [www.bloomberg.com/news/articles/2018-08-07/softbank-in-talks-to-invest-up-to-750-million-
in-zume-the-startup-that-sells-robot-made-pizza]
27Naylor, T. (2019); “Restaurants are now employing robots – should chefs be worried?”; The Guardian, 07/03/2019 (atualizado
em 14/03/2019) [www.theguardian.com/food/2019/mar/07/food-tech-the-march-of-the-robots-reaches-the-kitchen]
28Haskins, C. (2018); “New App Lets You 'Sue Anyone By Pressing a Button' - DoNotPay is a free app that is designed to help
normal people fight big corporations in small claims court.”; Motherboard, 10/10/2018
[https://motherboard.vice.com/en_us/article/bj43y8/donotpay-app-lets-you-sue-anyone-by-pressing-a-button]
29Descrição do app no Apple App Store: “The DoNotPay app is the home of the world's first robot lawyer. Fight corporations,
beat bureaucracy and sue anyone at the press of a button.” [https://itunes.apple.com/app/id1427999657]
30 Xinhua Agency (2018); “China's AI-general practitioner system starts hospital trial”; China Daily, 05/03/2018
[www.chinadaily.com.cn/a/201803/05/WS5a9cf668a3106e7dcc13fa45.html]
22

trabalhadores. É o que os americanos chamam de “jobless growth”, crescimento sem empregos. Há


muitos anos se previa que isso poderia acontecer —e agora a previsão virou realidade.” (Feldmann,
2018)22.
Por toda essa situação, é fundamental que se valorizem mercados capazes de gerar empregos pouco
propensos ao fenômeno do “jobless growth” (mais recentemente, se passou a adotar o termo “job-loss
growth”31 para alguns mercados), como é o caso dos empregos gerados pela mini e micro GD-FV,
principalmente quanto aos instaladores dos sistemas.

9. Revisão bibliográfica de publicações brasileiras e resumo dos estudos sobre


o Fator Efetivo de Capacidade de Carga (FECC) e potencial de redução de
carga em alimentadores urbanos proporcionado pela GD-FV
Este tópico analisa um estudo de caso sobre o Fator Efetivo de Capacidade de Carga - FECC (tradução
para o português do termo original em inglês cunhado por Garver em 196632: ELCC – Effective Load
Carrying Capability) para a GD-FV realizado no Brasil e o consequente potencial de redução de carga em
alimentadores urbanos proporcionado pela GD-FV.
Não é de hoje que o setor elétrico vem criando estratégias para controlar a curva de carga
principalmente nas horas de pico. Umas das alternativas que já vem sendo estudada antes da RN
482/2012, é a utilização de GD-FV, distribuindo a geração entre os pontos consumidores.
Jardim, Rüther et al. (2008)33, Rüther, et al. (2008) e Knob, Rüther, et al. (2004)34 analisaram as curvas de
cargas para regiões com maior consumo diurno (comerciais) e compararam com a capacidade de
geração fotovoltaica. Como parâmetro, foi utilizado o cálculo do FECC da GD-FV. A análise pode ser feita
para qualquer região, desde que se tenha os dados de geração FV e de consumo.
Jardim et al. (2008) usaram como estudo de caso dois bairros da cidade de Florianópolis - SC, com
características distintas: (i) residencial e horizontal (casas) com grande área de cobertura disponível e (ii)
região central e comercial, com edificações verticais e com pouca área de cobertura disponível. Os
dados de consumo foram extraídos, por meio da CELESC, dos alimentadores de cada bairro, central (ICO
07) e residencial (INE 02). A geração fotovoltaica foi simulada para cada caso e em seguida, conforme
apresentado na Figura 2 e na Figura 3, confrontados valores de consumo de energia e geração solar
fotovoltaica.

31 Singh, M. (2019); “Jobless growth turning into job-loss growth”; The Economic Times, 17/02/2019 [https://bit.ly/2D21zrs]
32Garver, L. L. (1966); “Effective Load Carrying Capability of Generating Units”; IEEE Transactions on Power Apparatus and
Systems [https://ieeexplore.ieee.org/abstract/document/4073133]
33Jardim, C. S.; Rüther, R. et al. (2008); “O potencial dos sistemas fotovoltaicos interligados à rede elétrica em áreas urbanas:
dois estudos de caso”; An. 5 Encontro de Energia no Meio Rural.
[www.proceedings.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=MSC0000000022004000200029&lng=en&nrm=iso]
34
Rüther, R.; Knob, P.; Jardim, C.S.; Rebechi, S.H. (2008); “Potential of building-integrated photovoltaic solar energy generators
in assisting daytime peaking feeders in urban areas in Brazil”. Energy Conversion and Management, 49, 1074-1079
[https://doi.org/10.1016/j.enconman.2007.09.020]; Knob, P.; Rüther, R.; Jardim, C. S.; Beyer, H. G. (2004); “Investigating the
Peak Demand Reduction Capability of PV: A Case Study in Florianopolis, South Brazil”; 19th European Photovoltaic Solar Energy
Conference, 2004, Paris, França
[www.researchgate.net/publication/228423133_Investigating_the_peak_demand_reduction_capability_of_PV_a_case_study_i
n_Florianopolis_South_Brazil].
23

Ao analisar o gráfico da Figura 2, pode ser concluído que a demanda diminui significativamente quando
a geração fotovoltaica auxilia a rede elétrica convencional. Essa redução se deve ao fato de que os
horários de pico podem coincidir com os horários de geração fotovoltaica nas áreas comerciais.
Ao analisar o bairro residencial, por meio da Figura 3, pode-se observar que o pico de consumo não
coincide com o de geração. Diferente do bairro comercial, o pico máximo de consumo residencial ocorre
no período da noite, por volta das 21 horas, enquanto o pico de geração ocorre durante o dia.
Pelo fato de as residências do bairro possuírem grandes áreas de cobertura disponível, foi possível
prever uma geração maior do que o consumo da região. No entanto, como se pode observar na curva,
os sistema GD-FV residenciais não puderam contribuir para a redução do pico de consumo, mas
poderiam auxiliar na redução das curvas de carga de outras áreas adjacentes, onde o pico coincida com
a geração, como é o caso da região central da cidade, apresentada na Figura 2.
O FECC só terá relevância em regiões que possuam demanda com pico diurno e se justificará em regiões
onde seja necessário fazer ampliação de linhas de T&D.

Figura 2. Curvas de demanda (Alimentador ICO 07), geração solar FV e demanda menos geração FV comercial.
Fonte: Jardim et al. (2004).

Figura 3. Curvas de demanda (Alimentador INE 02), geração solar FV e demanda menos geração FV residencial.
Fonte: Jardim et al. (2004).
24

10. Deserção da rede (grid defection)


Este tópico aborda a comparação das alternativas levantadas na AIR para o modelo do Sistema de
Compensação de Energia Elétrica com um modelo de autoconsumo integral ou quase integral (tendendo
a 100%) da energia gerada pela GD-FV, admitindo a redução de custo e o uso intensivo de sistemas
eletroquímicos de armazenamento de energia elétrica (e.g. baterias de íons de lítio) para um nível
tendendo a 100% de autonomia e deserção parcial ou total da rede (grid defection).
Numa análise preliminar, a deserção da rede pode parecer ser prejudicial ao prossumidor, uma vez que
não permite que as residências ou edificações comerciais dotadas de GD-FV injetem a energia
excedente na rede elétrica pública, utilizando a rede como uma bateria virtual de capacidade
praticamente ilimitada.
No caso de uma UC com sistema GD desconectada da rede e com sistema de armazenamento de
energia, sempre haverá excesso de produção nos períodos do ano em que a geração for maior do que o
consumo (a não ser que se tenha um banco imenso de baterias). Portanto, a rede deveria ser um
facilitador para modelos de negócio inovadores que permitam transações de energia entre
prossumidores, em vez de ser abandonada; pois, no caso de abandono, o ônus ocorre tanto para o
prossumidor como para os demais usuários da rede, impactando negativamente na sempre almejada
modicidade tarifária pela necessidade de acionamento da geração térmica emergencial e cara.
As barreiras e tarifas incidentes sobre o net-metering – ou Sistema de Compensação de Energia Elétrica
(SCEE) – farão com que pequenos produtores de energia busquem cada vez mais por soluções de
autonomia e produção fora da rede (off-grid), evitando taxações e altos custos quando conectadas a ela.
As distribuidoras precisam adotar essa mudança da figura do consumidor para prossumidor e não lutar
contra o inevitável. A Figura 4 apresenta uma possível trajetória da rede elétrica, apresentada por meio
de pesquisas realizadas pelo Rocky Mountain Institute (2015)35, em regiões onde sistemas fotovoltaicos
conectados à rede e com armazenamento de energia já são uma realidade.
Neste contexto, a presente revisão da REN 482/2012 é de extrema relevância e irá sinalizar ao mercado
e ao prossumidor o caminho a tomar no médio e longo prazo; sendo que o caminho da deserção poderá
trazer consequências desastrosas para o sistema tradicional de distribuição de energia elétrica através
da rede pública de distribuição, com impactos negativos na modicidade tarifária. Decisões tomadas no
presente podem levar a resultados inesperados e desagradáveis no futuro.

35 Rocky Mountain Institute (2015); Relatório “The Economics of Load Defection: How grid-connected solar-plus-battery
systems will compete with traditional electric service, why it matters, and possible paths forward”
[https://rmi.org/insight/economics-load-defection/]
25

Figura 4. Possíveis trajetórias da evolução da rede elétrica.


Fonte: Relatório “The Economics of Load Defection”; Rocky Mountain Institute, pág. 41 (2015)35.

A AIR pode já prever a qualificação dos sistemas de armazenamento eletroquímico como iniciativa de
eficiência energética de edificações, tendo em vista que eles poderão ser extensivamente adotados em
virtude da aplicação de qualquer das Alternativas 1 a 5 apresentadas na AIR e da acentuada redução de
custos esperada para as tecnologias de baterias associadas à mobilidade elétrica.
O Rocky Mountain Institute (2014)36 realizou um estudo em cinco UFs dos EUA (NY, KY, TX, CA e HI), que
apresentam maiores condições que influenciam a paridade da rede (recurso solar, preços da energia no
varejo e o número de sistemas GD-FV já instalados). Os resultados focaram na tecnologia que vem
crescendo e apresentando preços competitivos no mercado, os kits de sistemas FV com baterias (solar-
plus-battery systems). Segundo essa pesquisa, consumidores equipados com sistemas GD-FV + bateria
podem optar em continuar ou deixar de usar os serviços de energia da concessionária, pois toda a
energia que seria injetada na rede (bateria virtual), passa a ser armazenada num banco de baterias físico
junto ao ponto de geração e consumo, chamado de “utility in a box”. Essa expressão representa um
novo desafio para as concessionárias de energia elétrica.
A análise do Rocky Mountain Institute (2014)36 mostra que os sistemas GD-FV + bateria alcançam
paridade de rede – para um número crescente de clientes em certas regiões, especialmente aqueles
com altos preços de eletricidade – bem dentro do período de 30 anos pelo qual as concessionárias
capitalizam os principais ativos de energia. Sendo assim, futuramente, consumidores (mais comerciais
do que residenciais) que representam bilhões de dólares em receitas de serviços públicos, terão a opção
de eliminar os custos da rede, se assim desejarem, por meio de sistemas de GD-FV + bateria isolados da
rede elétrica pública.

36Rocky Mountain Institute (2014); Relatório “The Economics of Grid Defection: When and where distributed solar generation
plus storage competes with traditional utility service” [https://rmi.org/insight/economics-grid-defection/]
26

Devido à rápida redução dos custos de produção de baterias, o Climate Council of Australia (2015)37
apresentou em seu relatório uma expectativa de alcançar paridade com a rede elétrica Australiana em
2020, a qual hoje possui mais de 2 milhões de instalações de GD-FV (11,1 GWp FV instalados) dentro de
um território que conta com cerca de 9 milhões de UCs.
A futura paridade de sistemas de GD-FV + bateria no futuro, entre outros fatores, pode sinalizar a
eventual extinção dos modelos tradicionais de serviços públicos, levando a chamada “espiral da morte”
(Laws, et al., 2017)38, ou seja, com a diluição da receita, as concessionárias de energia aumentam os
preços para recuperar o faturamento e acabam por obter queda na demanda e prejuízo. O principal
prejudicado nesta espiral passa a ser justamente aquele consumidor que não adotou a GD-FV para a
qual a AIR 0004/2018 sugere penalidades.
O avanço da tecnologia de baterias e a integração desses sistemas junto da rede poderão gerar novas
oportunidades e benefícios tanto para o consumidor, quanto para a rede. O que precisaria ser
desenvolvido é uma remodelação do mercado em conjunto das concessionárias, reguladores,
provedores de tecnologia e clientes. Podendo, assim, chegar a oportunidades disruptivas para construir
o mercado e melhorar o sistema de energia do futuro.
Uma opção a ser analisada, seria o “energy trading”; ou seja, um livre comercio de energia entre os
prossumidores e consumidores. A rede de energia elétrica iria receber pela gestão e operação da
infraestrutura da rede, enquanto cada produtor seria responsável por sua geração e o consumidor
poderia comprar créditos de energia de uma fonte mais barata. Portanto, essa seria uma infraestrutura
distribuída baseada em consenso que permite a confiança entre as contrapartes. Ainda que esta
proposta possa no presente parecer demasiadamente futurística, ela poderá ocorrer mais cedo ou mais
tarde por pressão do mercado.
Na Alemanha ocorreu o unbundling39 entre “distribuição” e “fornecimento/comercialização” (retailing)
de energia elétrica. No modelo alemão, no qual a liberalização do mercado foi completa, existem mais
de 1.000 fornecedores de energia. Aqui no Brasil “distribuição” e “fornecimento/comercialização”
(retailing) ainda são verticalmente integrados. Na pág. 480 do livro “Regulation of the Power Sector”
(Arriaga, 2013)40 a questão do unbundling é desenvolvida. Sugere-se à ANEEL que avalie se o modelo
atualmente em prática no Brasil (com os problemas de conflito de interesses decorrentes de
“distribuição” e “fornecimento/comercialização” serem praticados pela mesma empresa, em cada área
de concessão), por ser verticalmente integrado, afeta o desenvolvimento da GD-FV no país. Além disso,
destaca-se o seguinte trecho da pág. 670 do mesmo livro:
“Global remuneration of distribution companies is frequently based on the volume of electricity
distributed, and distribution charges are generally collected through volumetric (€/kWh) charges.
Since DG reduces the amount of electricity distributed, distribution utilities in general will be
biased against DG and may create barriers to its deployment unless these regulatory
shortcomings are properly fixed. Also note that most of the current regulatory mechanisms are
focused on cost reduction and lack ‘natural’ incentives for innovation.”

37Climate Council of Australia (2015); Relatório “Powerfull Potencial: Baterry Storage for Renewable Energy and Eletric Cars”
[https://www.climatecouncil.org.au/uploads/ebdfcdf89a6ce85c4c19a5f6a78989d7.pdf]
38Laws, N. D.; Epps, B. P.; Peterson, S. O.; Laser, M. S.; Wanjiru, G. K. (2017); “On the utility death spiral and the impact of utility
rate structures on the adoption of residential solar photovoltaics and energy storage”; Applied Energy, v. 185, p. 627–641,
2017. [https://doi.org/10.1016/j.apenergy.2016.10.123]
39 Unbundling se refere a ações que visam separar os diversos preços agregados a um produto ou serviço.
40Arriaga, I. J. P. (Editor) (2013); “Regulation of the Power Sector”; Ed. Springer. Chapter 9. Electricity Retailing; Topic 9.5.2. ECE
Instruments for Utility Regulation; pg. 480 [https://books.google.com.br/books?id=RPK8BAAAQBAJ&pg=PA480] & Chapter 14.
Challenges in Power Sector Regulation, pg. 670 [https://books.google.com.br/books?id=RPK8BAAAQBAJ&pg=PA670]
27

A geração de energia descentralizada já é uma realidade em países mais desenvolvidos. Neste contexto,
estudos já vêm buscando soluções e tecnologias inovadores para lidar com esse paradigma da potência
emergente ou a ausência dela na rede das concessionárias (Green & Newman, 2017)41.
A energia solar fotovoltaica é uma tecnologia emergente que vem de baixo para cima; ou seja,
pequenos produtores unidos irão mudar o mercado. Sendo assim, a ANEEL deve buscar alternativas
para democratizar a geração de energia oriunda de fontes renováveis para pequenos prossumidores.

11. Considerações finais


Como mencionado nas contribuições feitas originalmente para a CP 010/2018, o mercado GD-FV está
em início de desenvolvimento no Brasil e ainda não se consolidou. Ao contrário do que consta na AIR
nas págs. 36 e 47, parágrafos 112 e 151, respectivamente, que tratam 3,365 GW (local) e 1,25 GW
(remoto) como números de um mercado consolidado, na realidade tais valores são ínfimos se
comparados ao potencial brasileiro. Na taxa em que a GD-FV vem sendo adotada no Brasil, estima-se
que o limite de 3,365 GW possivelmente será atingido até o final do ano 2020. É importante, antes de se
pensar em retirar benefícios conquistados por este setor de geração de energia – que é um grande
gerador de empregos diretos e indiretos (bem como de canalização de capital e investimentos em ativos
de geração diretamente pelo consumidor final) –, que sejam resolvidos os problemas de gestão de
informação junto às concessionárias, para que, através de informações confiáveis sobre a energia que
está de fato sendo injetada na rede, possam ser feitas análises mais bem fundamentadas sobre o
impacto da GD-FV sobre o sistema elétrico.
É importante também reconhecer que o consumidor que opta por investir na GD-FV está trazendo
capital novo para o setor de geração de energia elétrica, papel este que no Brasil nunca havia sido
desempenhado pelo consumidor final de energia até o advento da REN 482/2012. Esta iniciativa tem
que ser estimulada em vez de tolhida.
Cabe também lembrar que, com a possibilidade de opção pela Tarifa Branca para o consumidor
residencial, desde o início de 2018, o Brasil entra em um período de transição para a adoção desta
modalidade. Com a Tarifa Branca e os medidores inteligentes, abre-se o leque de alternativas para o
consumidor que opta por GD-FV e a equação financeira resultante necessita ainda ser melhor
compreendida.
Neste mesmo contexto, o desenvolvimento de sistemas de armazenamento eletroquímico de energia
elétrica (baterias) vem tendo um grande impulso em todo o mundo, com reduções de custo
apresentando comportamento semelhante ao da geração FV.
A adoção de baterias no contexto da Tarifa Branca e do autoconsumo é um novo aspecto a ser
considerado. O retorno financeiro e o mercado para sistemas de armazenamento de energia ainda não
é claro e, através do P&D Estratégico 021, a ANEEL vem estimulando a investigação e a remoção de
barreiras para a sua utilização no Brasil.
A deserção da rede é um risco real se o custo das baterias cair com a mesma velocidade e intensidade
experimentados pela tecnologia solar fotovoltaica e que não deve ser desprezado, sob pena de
inviabilizar o mesmo sistema de distribuição de energia que esta revisão da REN 482/2012 busca
compensar pela penalização do prossumidor que adota a GD-FV.

41 Green, J. & Newman, P. (2017) “Citizen utilities: The emerging power paradigm”; Energy Policy, v. 105, p. 283-293
[https://doi.org/10.1016/j.enpol.2017.02.004]
28

É importante lembrar que, da mesma forma que a redução de custos experimentada pela tecnologia
solar fotovoltaica (cerca de 10 vezes nos últimos 10 anos!) foi consideravelmente maior do que qualquer
previsão apresentada por especialistas em estudos e mercados (e.g. Bloomberg New Energy Finance –
BNEF, Pricewaterhouse Coopers – PwC entre outros), o mesmo está em vias de acontecer com o custo
das baterias, especialmente no contexto da mobilidade elétrica e das baterias de segunda-vida42.
O fomento à GD-FV através do estímulo ao estabelecimento de cooperativas, consórcios e condomínios
solares deve também ser estimulado pelo Governo Federal, tendo em vista o caráter democratizante
que esta nova modalidade de adoção da tecnologia solar FV trouxe ao cenário nacional a partir da
primeira revisão da REN 482/2012. Estas iniciativas devem também ser estimuladas e a recente
publicação pelo sistema OCB (Organização das Cooperativas do Brasil) do “Guia de Constituição de
Cooperativas de Geração Distribuída Fotovoltaica” (2018)43, elaborado pela OCB e Cooperação Alemã
através da GIZ e DGRV, com o apoio do Instituto IDEAL, vem colaborar neste sentido.
Vale reforçar que, ao penalizar os prossumidores, além dos empregos que serão perdidos, também
empresas pequenas, médias e grandes serão diretamente afetadas.
É hora, portanto, de estimular ainda mais a opção pela GD-FV no Brasil e consolidar este mercado.

Florianópolis, 18 de abril de 2019.


Prof. Ricardo Rüther
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC
Instituto para o Desenvolvimento das Energias Alternativas na América Latina – IDEAL
IDEAL Estudos e Soluções Solares – IESS

42Baterias de íons de lítio descartadas de veículos elétricos quando atingem cerca de 80% de sua capacidade de retenção de
carga são denominadas baterias de segunda-vida; pois, apesar de não serem mais adequadas para o uso em veículos elétricos –
por comprometerem a autonomia dos mesmos –, ainda podem ser utilizadas satisfatoriamente em aplicações estacionárias por
vários anos. Com a adoção em massa da mobilidade elétrica em todo o mundo, espera-se que nos próximos anos o manancial
de baterias de íons de lítio de segunda-vida descartadas de veículos elétricos abra caminho para o seu uso intensivo na GD-FV,
com acentuada redução de custos resultante da produção em larga escala. Admitindo-se que: (i) um veículo elétrico típico tem
uma bateria de íons de lítio com capacidade de cerca de 40 kWh quando novo; (ii) a capacidade dessa bateria em segunda-vida
seja estimada em cerca de 30 kWh, e (iii) a residência unifamiliar típica que adote o sistema GD-FV + baterias utilize entre 5 e
10 kWh de capacidade de armazenamento, tem-se que cada bateria descartada de veículo elétrico pode, em segunda-vida,
atender entre 6 e 3 residências respectivamente.
43 OCB (2018); “Guia de Constituição de Cooperativas de Geração Distribuída Fotovoltaica”
[www.somoscooperativismo.coop.br/publicacao/33/guia-de-constituicao-de-cooperativas-de-geracao-distribuida-fotovoltaica]
29

12. Referências utilizadas neste relatório


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“Distributed energy storage and system integration” [https://acola.org.au/wp/wp-
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AEMO (2010); “An Introduction to Australia’s National Electricity Market, July 2010”
[https://web.archive.org/web/20110311060546/http://www.aemo.com.au/corporate/0000-0262.pdf]

AEMO (2019); “National Electricity Market”, acessado em 12/04/2019 [www.aemo.com.au/Electricity/National-


Electricity-Market-NEM]

ANEEL (2019) “Unidades consumidoras com geração distribuída com Tipo de Geração: UFV”; acesso em
03/04/2019 [http://www2.aneel.gov.br/scg/gd/gd_fonte_detalhe.asp?Tipo=12]
ANEEL (2019) “Unidades consumidoras com geração distribuída”; acesso em 03/04/2019
[http://www2.aneel.gov.br/scg/gd/GD_Fonte.asp]

ANEEL (2019); “Tarifas residenciais Brasil”; acesso em 03/04/2019 [www.aneel.gov.br/dados/tarifas]


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26.67/134.12]

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[https://books.google.com.br/books?id=RPK8BAAAQBAJ&pg=PA480] & Chapter 14. Challenges in Power
Sector Regulation, pg. 670 [https://books.google.com.br/books?id=RPK8BAAAQBAJ&pg=PA670]
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[www.energycouncil.com.au/media/15358/australian-energy-council-solar-report_-january-2019.pdf]

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Eletric Cars” [www.climatecouncil.org.au/uploads/ebdfcdf89a6ce85c4c19a5f6a78989d7.pdf]
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petróleo e outros setores”, Vol. 1, Editora Interciência
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petróleo e outros setores”, Vol. 2, Editora Interciência
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[www.greener.com.br/pesquisas-de-mercado/estudo-estrategico-mercado-fotovoltaico-de-geracao-distribuida-1o-
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30

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32

Apêndice 1. Análises de sistemas GD-FV atualmente instalados no Brasil


Neste Apêndice são apresentados gráficos e tabelas com análises da distribuição de sistemas GD-FV
conectados à rede no Brasil. Todas as análises foram desenvolvidas com base nos dados que estavam
disponíveis em 03/04/201944, na tabela “Unidades consumidoras com geração distribuída com Tipo de
Geração: UFV” da ANEEL45. Essa tabela inclui dados desde o primeiro sistema GD-FV conectado à rede,
em 2007 (ou seja, desde bem antes da REN 482/2012, nos períodos em que tal conexão dependia de
autorização direta da concessionária). Os dados foram coletados à noite, para evitar alteração da tabela
ao longo da coleta, já que não é possível baixar diretamente a tabela completa. Sempre que se fizer
menção à “instalação” do sistema GD-FV, é no sentido de “conexão à rede” do sistema GD-FV. P.ex.:
“quantidade de UCs que instalaram GD-FV no ano indicado” se refere à “quantidade de UCs que
conectaram sistemas GD-FV à rede no ano indicado”.
Quando da coleta de dados aqui analisados (3/4/2019), segundo dados da ANEEL46,:
• O total acumulado de sistemas GD-FV instalados era de 66.873,
• 82.302 UCs estavam cadastradas para receber os créditos desses sistemas GD-FV e
• A potência total acumulada de sistemas GD-FV instalados era de 689 MWp.
Segundo os mesmos dados, os sistemas GD-FV representavam:
• 99,6% da quantidade de sistemas GD instalados no Brasil,
• 91,0% da quantidade de UCs que recebem os créditos de GD no Brasil e
• 84,2% da potência total de sistemas GD instalados no Brasil.
Vale destacar que as informações apresentadas neste tópico não incluem efetivamente todos sistemas
GD-FV que foram conectados à rede até a data de consulta (03/04/2019), pois alguns sistemas chegam a
ser lançados na referida tabela ANEEL até anos após sua data de conexão à rede. Além disso, estão
incluídos sistemas que já não estão mais injetando energia na rede, pois não há uma verificação sobre
quantos dos sistemas GD-FV lançados na tabela ANEEL ainda estão efetivamente em operação (ou
mesmo se de fato eles chegaram a entrar em operação).
Conforme mostram a Tabela 2 e a Tabela 3, somente no período de 7/3/2019 a 3/4/2019 foram
incluídos na tabela ANEEL os seguintes sistemas GD-FV:
• 1.637 sistemas GD-FV instalados de 2010 a 2018. Desse total, 1.395 se referem a sistemas GD-
FV instalados em 2018, que foram lançados, portanto, entre dois meses e 14 meses depois da
conexão (para sistemas instalados em dez/2018 e jan/2018, respectivamente).
• 2.893 sistemas GD-FV instalados em jan/2019 e fev/2019. Desse total: 502 sistemas instalados
em jan/2019 foram lançados entre 34 e 92 dias após a conexão, e 2.391 sistemas instalados em
fev/2019 foram lançados até 61 dias após a conexão.

Há de se verificar junto à ANEEL o motivo de prazos tão extensos para o lançamento da conexão dessa
quantidade razoável de sistemas GD-FV, pois prejudicam análises atualizadas da realidade de mercado.
Segundo os dados atuais: 4% dos sistemas GD-FV instalados em 2018 foram lançados na planilha ANEEL

44Sugere-se a inclusão pela ANEEL de análises e gráficos atualizados, como os aqui apresentados, na versão final da AIR, mas
com data de consulta mais próxima à da publicação da versão Erro! Indicador não definido. da AIR.
45 ANEEL (2019) “Unidades consumidoras com geração distribuída com Tipo de Geração: UFV”; acesso em 03/04/2019
[http://www2.aneel.gov.br/scg/gd/gd_fonte_detalhe.asp?Tipo=12]
46 ANEEL (2019) “Unidades consumidoras com geração distribuída"; acesso em 03/04/2019
[http://www2.aneel.gov.br/scg/gd/GD_Fonte.asp]
33

somente entre 6/mar e 4/abr de 2019, e 61% dos sistemas GD-FV instalados em fev/2019 foram
lançados na tabela ANEEL somente entre 6/mar e 4/abr de 2019.

Tabela 2. Levantamento de sistemas GD-FV instalados, por ano de conexão, através de consultas feitas em 6/3/2019 e
3/4/2019 à tabela “Unidades consumidoras com geração distribuída com Tipo de Geração: UFV” da ANEEL.

Qde. UCs com GD-FV por Qde. UCs com GD-FV por
Diferença entre dados
ano de conexão à rede ano de conexão à rede
ANO disponíveis em 3/4 e
[dados disponíveis em [dados disponíveis em
6/3/2019
6/3/2019] 3/4/2019]
2007 1 1 -
2008 2 2 -
2009 - - -
2010 - 1 1
2011 1 1 -
2012 5 5 -
2013 52 52 -
2014 286 286 -
2015 1.439 1.446 7
2016 6.669 6.732 63
2017 13.755 13.926 171
2018 33.027 34.422 1.395
TOTAL 55.237 56.874 1.637

Tabela 3. Levantamento de sistemas GD-FV instalados, por mês de conexão, através de consultas feitas em 6/3/2019 e
3/4/2019 à tabela “Unidades consumidoras com geração distribuída com Tipo de Geração: UFV” da ANEEL.

Qde. UCs com GD-FV por Qde. UCs com GD-FV por
Diferença entre dados
mês de conexão à rede mês de conexão à rede
MÊS/ANO disponíveis em 3/4 e
[dados disponíveis em [dados disponíveis em
6/3/2019
6/3/2019] 3/4/2019]
jan/2019 4.179 4.681 502
fev/2019 1.521 3.912 2.391
TOTAL 5.700 8.593 2.893
34

i) Sistemas GD-FV instalados por ano


Neste tópico são apresentadas informações sobre sistemas GD-FV no Brasil, por ano de instalação.

Conforme mostram a Figura 5 e a Figura 6:


• A quantidade de sistemas GD-FV instalados em 2018 (34.422) é 147% maior que a quantidade
instalada em 2017 (13.926).
• A quantidade de UCs que passaram a receber créditos de sistemas GD-FV em 2018 (43.504) é
163% maior que a quantidade que passou a receber créditos em 2017 (16.518).
• A potência total de sistemas GD-FV instalados em 2018 (390 MWp) é 212% maior que a
potência total instalada em 2017 (125 MWp).
• O total acumulado de sistemas GD-FV no Brasil ainda é insignificante em relação ao potencial do
mercado, e à penetração na rede: apenas 66.873 sistemas, totalizando 689 MWp.

Figura 5. Sistemas GD-FV no Brasil: (i) quantidade de UCs que instalaram GD-FV no ano indicado, (ii) quantidade de UCs que
passaram a receber créditos GD-FV no ano indicado, (iii) ) quantidade acumulada de UCs que instalaram GD-FV até o ano
indicado, (iv) quantidade acumulada de UCs que passaram a receber créditos GD-FV até o ano indicado.
35

Figura 6. Sistemas GD-FV no Brasil: (i) potência GD-FV instalada no ano indicado,
(ii) potência GD-FV instalada acumulada até ano indicado.
36

ii) Sistemas GD-FV instalados por ano, por modalidade


Neste tópico são apresentadas informações sobre sistemas GD-FV no Brasil, por ano de instalação, por
modalidade, nesta ordem:
• Autoconsumo remoto,
• Geração compartilhada,
• Geração na própria UC e
• Múltiplas UCs.

Na Tabela 4 são apresentados os percentuais, por modalidade, de: (i) quantidade acumulada de UCs
com GD-FV; (ii) quantidade acumulada de UCs que recebem créditos GD-FV, e (iii) GD-FV: potência
acumulada (MWp). Observa-se que a modalidade “Geração na própria UC” está em primeiro lugar,
seguida de longe pela modalidade “Autoconsumo remoto”. As modalidades “Geração compartilhada” e
“Múltiplas UCs” apresentam participações ínfimas no já pequeno mercado GD-FV do Brasil.

Tabela 4. Percentuais, por modalidade, de: (i) quantidade acumulada de UCs com GD-FV; (ii) quantidade acumulada de UCs que
recebem créditos GD-FV, e (iii) GD-FV: potência acumulada. Levantamento feito a partir dos dados disponíveis em 03/04/2019
na planilha “Unidades consumidoras com geração distribuída com Tipo de Geração: UFV” da ANEEL.

Qde. acumulada UCs


Qde. acumulada GD-FV: potência
que recebem
UCs com GD-FV acumulada (MWp)
créditos GD-FV

Autoconsumo remoto 12,93% 28,38% 19,21%

Geração compartilhada 0,34% 0,93% 0,92%

Geração na própria UC 86,69% 70,44% 79,78%

Múltiplas UCs 0,04% 0,24% 0,09%

100,00% 100,00% 100,00%

Nas Figuras 7 a 14 são apresentados os valores anuais para cada modalidade, a partir de 2014, com
valores acumulados considerando desde a instalação do primeiro sistema GD-FV registrado na planilha
“Unidades consumidoras com geração distribuída com Tipo de Geração: UFV” da ANEEL (que foi
conectado à rede em 2007). Ao comparar os gráficos entre modalidades, observar que eles utilizam
escalas diferentes, em função da parcela de participação no mercado GD-FV do Brasil ser bastante
diferente para cada modalidade.
37

Figura 7. Sistemas GD-FV na modalidade “autoconsumo remoto” no Brasil: (i) quantidade de UCs que instalaram GD-FV no ano
indicado, (ii) quantidade de UCs que passaram a receber créditos GD-FV no ano indicado, (iii) ) quantidade acumulada de UCs
que instalaram GD-FV até o ano indicado, (iv) quantidade acumulada de UCs que passaram a receber créditos GD-FV até o ano
indicado.

Figura 8. Sistemas GD-FV na modalidade “autoconsumo remoto” no Brasil: (i) potência GD-FV instalada no ano indicado,
(ii) potência GD-FV instalada acumulada até ano indicado.
38

Figura 9. Sistemas GD-FV na modalidade “geração compartilhada” no Brasil: (i) quantidade de UCs que instalaram GD-FV no ano
indicado, (ii) quantidade de UCs que passaram a receber créditos GD-FV no ano indicado, (iii) ) quantidade acumulada de UCs
que instalaram GD-FV até o ano indicado, (iv) quantidade acumulada de UCs que passaram a receber créditos GD-FV até o ano
indicado.

Figura 10. Sistemas GD-FV na modalidade “geração compartilhada” no Brasil: (i) potência GD-FV instalada no ano indicado,
(ii) potência GD-FV instalada acumulada até ano indicado.
39

Figura 11. Sistemas GD-FV na modalidade “geração na própria UC” no Brasil: (i) quantidade de UCs que instalaram GD-FV no
ano indicado, (ii) quantidade de UCs que passaram a receber créditos GD-FV no ano indicado, (iii) ) quantidade acumulada de
UCs que instalaram GD-FV até o ano indicado, (iv) quantidade acumulada de UCs que passaram a receber créditos GD-FV até o
ano indicado.

Figura 12. Sistemas GD-FV na modalidade “geração na própria UC” no Brasil: (i) potência GD-FV instalada no ano indicado,
(ii) potência GD-FV instalada acumulada até ano indicado.
40

Figura 13. Sistemas GD-FV na modalidade “múltiplas UCs” no Brasil: (i) quantidade de UCs que instalaram GD-FV no ano
indicado, (ii) quantidade de UCs que passaram a receber créditos GD-FV no ano indicado, (iii) ) quantidade acumulada de UCs
que instalaram GD-FV até o ano indicado, (iv) quantidade acumulada de UCs que passaram a receber créditos GD-FV até o ano
indicado.

Figura 14. Sistemas GD-FV na modalidade “múltiplas UCs” no Brasil: (i) potência GD-FV instalada no ano indicado,
(ii) potência GD-FV instalada acumulada até ano indicado.
41

iii) Sistemas GD-FV instalados por UF


Neste tópico são apresentadas informações sobre a distribuição de sistemas GD-FV no Brasil por
Unidade Federativa (UF). Conforme mostram a Figura 15 e a Figura 16:
• As quatro UFs com maior quantidade de sistemas GD-FV são, nessa ordem: MG (14.023
sistemas), SP (11.646 sistemas), RS (9.476 sistemas) e SC (5.289 sistemas).
• As quatro UFs com maior potência total instalada de sistemas GD-FV são, nessa ordem: MG (149
MWp), RS (112 MWp), SP (85 MWp) e SC (49 MWp).

Figura 15. Quantidade acumulada de sistemas GD-FV instalados por UF no Brasil, em 03/04/2019, em ordem decrescente. É
indicada também a quantidade acumulada de UCs que recebem créditos GD-FV por UF.
42

Figura 16. Potência acumulada total de GD-FV por UF no Brasil, em 03/04/2019, em ordem decrescente.
43

iv) Sistemas GD-FV instalados por mês


Neste tópico são apresentadas informações sobre sistemas GD-FV no Brasil, por mês de instalação,
segundo dados disponíveis em 03/04/2019, conforme mostram a Figura 17 e a Figura 18.

Figura 17. Sistemas GD-FV no Brasil: (i) quantidade de UCs que instalaram GD-FV no mês indicado, (ii) quantidade de UCs que
passaram a receber créditos GD-FV no mês indicado, (iii) ) quantidade acumulada de UCs que instalaram GD-FV até o mês
indicado, (iv) quantidade acumulada de UCs que passaram a receber créditos GD-FV até o mês indicado.

Figura 18. Sistemas GD-FV no Brasil: (i) potência GD-FV instalada no mês indicado,
(ii) potência GD-FV instalada acumulada até mês indicado.
44

v) Sistemas GD-FV instalados por mês, por modalidade


Neste tópico são apresentadas informações sobre sistemas GD-FV no Brasil, por mês de instalação, por
modalidade, nesta ordem:
• Autoconsumo remoto,
• Geração compartilhada,
• Geração na própria UC e
• Múltiplas UCs.

Conforme foi mostrado na Tabela 4, a modalidade “Geração na própria UC” está em primeiro lugar,
seguida de longe pela modalidade “Autoconsumo remoto”. As modalidades “Geração compartilhada” e
“Múltiplas UCs” ainda apresentam participações ínfimas no ainda pequeno mercado GD-FV do Brasil
(tanto quanto à participação no mercado regulado brasileiro, quanto se comparado com GD-FV nos
países em que o mercado está de fato consolidado).
Nas Figuras 19 a 26 são apresentados os valores mensais para cada modalidade, a partir de jan/2017,
com valores acumulados considerando desde a instalação do primeiro sistema GD-FV registrado na
planilha GD ANEEL (conectado em 2007). Ao comparar os gráficos entre modalidades, observar que eles
utilizam escalas diferentes, em função da parcela de participação no mercado GD-FV do Brasil ser
bastante diferente para cada modalidade.
Através da comparação das Figuras 19 a 26, pode-se verificar que, além de bastante pequeno, ainda é
bastante irregular o mercado GD-FV para as modalidades “geração compartilhada” e “múltiplas UCs”.
Além disso, verifica-se que o mercado mensal para a modalidade “autoconsumo remoto” também é
irregular. Somente para a modalidade “geração na própria UC” se percebe uma tendência contínua de
crescimento de mercado, com apenas pequenas reduções em alguns meses.
45

Figura 19. Sistemas GD-FV na modalidade “autoconsumo remoto” no Brasil: (i) qde. de UCs que instalaram GD-FV no mês
indicado, (ii) qde. de UCs que passaram a receber créditos GD-FV no mês indicado, (iii) ) qde. acumulada de UCs que instalaram
GD-FV até o mês indicado, (iv) qde. acumulada de UCs que passaram a receber créditos GD-FV até o mês indicado.

Figura 20. Sistemas GD-FV na modalidade “autoconsumo remoto” no Brasil: (i) potência GD-FV instalada no mês indicado,
(ii) potência GD-FV instalada acumulada até mês indicado.
46

Figura 21. Sistemas GD-FV na modalidade “geração compartilhada” no Brasil: (i) qde. de UCs que instalaram GD-FV no mês
indicado, (ii) qde. de UCs que passaram a receber créditos GD-FV no mês indicado, (iii) ) qde. acumulada de UCs que instalaram
GD-FV até o mês indicado, (iv) qde. acumulada de UCs que passaram a receber créditos GD-FV até o mês indicado.

Figura 22. Sistemas GD-FV na modalidade “geração compartilhada” no Brasil: (i) potência GD-FV instalada no mês indicado,
(ii) potência GD-FV instalada acumulada até mês indicado.
47

Figura 23. Sistemas GD-FV na modalidade “geração na própria UC” no Brasil: (i) qde. de UCs que instalaram GD-FV no mês
indicado, (ii) qde. de UCs que passaram a receber créditos GD-FV no mês indicado, (iii) ) qde. acumulada de UCs que instalaram
GD-FV até o mês indicado, (iv) qde. acumulada de UCs que passaram a receber créditos GD-FV até o mês indicado.

Figura 24. Sistemas GD-FV na modalidade “geração na própria UC” no Brasil: (i) potência GD-FV instalada no mês indicado,
(ii) potência GD-FV instalada acumulada até mês indicado.
48

Figura 25. Sistemas GD-FV na modalidade “múltiplas UCs” no Brasil: (i) qde. de UCs que instalaram GD-FV no mês indicado, (ii)
qde. de UCs que passaram a receber créditos GD-FV no mês indicado, (iii) ) qde. acumulada de UCs que instalaram GD-FV até o
mês indicado, (iv) qde. acumulada de UCs que passaram a receber créditos GD-FV até o mês indicado.

Figura 26. Sistemas GD-FV na modalidade “múltiplas UCs” no Brasil: (i) potência GD-FV instalada no mês indicado,
(ii) potência GD-FV instalada acumulada até mês indicado.
49

vi) Comparação micro x mini GD-FV


Neste tópico são apresentadas comparações entre micro- (até 75 kWp) e mini- (até 5 MWp) GD-FV no
Brasil, conforme dados disponíveis em 3/4/2019. Conforme mostram a Figura 27 e a Figura 28, o
mercado GD-FV no Brasil continua sendo majoritariamente de sistemas de até 75 kWp, tanto em relação
à quantidade de sistemas instalados, quanto em relação à potência total acumulada instalada.

Figura 27. Comparação entre micro-GD-FV e mini-GD-FV no Brasil em relação a: (i) quantidade de UCs que instalaram GD-FV, e
(ii) quantidade de UCs que recebem créditos GD-FV.

Figura 28. Comparação entre micro-GD-FV e mini-GD-FV no Brasil em relação à potência total acumulada instalada.
50

vii) Sistemas GD-FV por faixa de potência instalada


Neste tópico são apresentadas informações sobre sistemas GD-FV instalados no Brasil, por faixa de
potência, passando desde a micro-GD-FV (até 75 kWp) até a mini-GD-FV (até 5 MWp), conforme dados
disponíveis em 3/4/2019. A análise dos dados apresentados na Figura 29 e na Figura 30, permitem
verificar que, dentre as faixas de potência analisadas:
• O maior percentual de sistemas GD-FV instalados tem potência entre 2 e 3 kWp: 22% do total de
sistemas GD-FV. São ainda sistemas bastante pequenos.
• Os sistemas GD-FV que atendem ao maior percentual de UCs (consumo local e remoto) também
se encontram na mesma faixa de potência acima (entre 2 e 3 kWp): 19% das UCs que recebem
créditos GD-FV, os recebem de sistemas nessa faixa de potência.
• Já quanto à potência instalada, agora estratificando a micro-GD-FV (e não mais considerando a
micro-GD-FV como um todo, como no tópico anterior), o maior percentual é atingido pela mini-
GD-FV: 19% da potência total instalada fica na faixa entre 75 e 5.000 kWp.
Fazendo agora a análise em termos de totais acumulados (sistemas com potência de zero ao limite
superior da faixa indicada), tem-se que:
• 63% dos sistemas GD-FV têm no máximo 5 kWp,
• 57% das UCs que recebem créditos GD-FV, os recebem de sistemas com até 5 kWp.
• 56% da potência total GD-FV instalada corresponde a sistemas com no máximo 30 kWp.

Tais verificações reforçam a conclusão de que o mercado GD-FV no Brasil continua sendo baseado em
micro-GD-FV de pequeno porte (de até 5 kWp), e que, mesmo numa análise por potência, o mercado
majoritariamente é de micro-GD-FV (com sistemas de até 30 kWp). Este quadro, no entanto, tende a se
alterar à medida que mais e mais potenciais consumidores da mini-GD passem a compreender os
benefícios envolvidos e passem a adotar a tecnologia.
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Figura 29. Sistemas GD-FV no Brasil, por faixa de potência: (i) quantidade de UCs que instalaram sistemas GD-FV com potências
na faixa indicada, (ii) quantidade de UCs que recebem créditos de sistemas GD-FV com potências na faixa indicada, (iii)
quantidade acumulada de UCs que instalaram sistemas GD-FV com potências até o limite superior da faixa indicada, (iv)
quantidade acumulada de UCs que recebem créditos de sistemas GD-FV com potências até o limite superior da faixa indicada.

Figura 30. Sistemas GD-FV no Brasil, por faixa de potência: (i) Potência total de sistemas GD-FV com potências individuais na
faixa indicada, (ii) Potência total acumulada de sistemas GD-FV com potências individuais até o limite superior da faixa indicada.
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viii) Mini-GD-FV por faixa de potência instalada


Neste tópico são estratificadas por faixas de potência as informações sobre mini-GD-FV no Brasil,
conforme dados disponíveis em 3/4/2019. A análise dos dados apresentados na Figura 31 e na Figura
32, permitem verificar que, dentre as faixas de potência analisadas:
• 78% da mini-GD-FV no Brasil é composta de sistemas com no máximo 200 kWp.
• 55% das UCs que recebem créditos de mini-GD-FV, os recebem de sistemas com potência entre
500 e 1000 kWp.
• Em termos de potência: 39% da mini-GD-FV é composta por sistemas com até 200 kWp, e 80%
da mini-GD-FV é composta por sistemas com até 1000 kWp.
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Figura 31. Mini-GD-FV no Brasil, por faixa de potência: (i) quantidade de UCs que instalaram sistemas com potências na faixa
indicada, (ii) quantidade de UCs que recebem créditos de sistemas com potências na faixa indicada, (iii) quantidade acumulada
de UCs que instalaram sistemas com potências até o limite superior da faixa indicada, (iv) quantidade acumulada de UCs que
recebem créditos de sistemas com potências até o limite superior da faixa indicada.

Figura 32. Mini-GD-FV no Brasil, por faixa de potência: (i) Potência total de sistemas com potências individuais na faixa indicada,
(ii) Potência total acumulada de sistemas com potências individuais até o limite superior da faixa indicada.
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Anexo 1. Evolução preços sistemas micro GD-FV no Brasil


Para avaliar a evolução recente de preços de microgeradores FV no Brasil, foram utilizados resultados da
pesquisa de mercado desenvolvida pela GREENER (2019)47, que entrevistou 760 empresas integradoras
de todo país, no período de 03/12/2018 a 09/01/2019, com aproveitamento de 91% de respostas das
empresas. Ou seja, os valores médios correspondem às respostas validadas de 690 empresas
integradoras de todas as regiões do Brasil. Os preços indicados na pesquisa são apresentados na Figura
33 e na Figura 34. É importante mencionar que a tendência de evolução dos preços da tecnologia
fotovoltaica segue sendo de queda.
Para os sistemas GD-FV com 2 kWp, a redução média de preços no período de apenas um ano (jan/2018
a jan/2019) foi de aproximadamente 9%. Para o período anterior (jan/2017 a jan/2018), a redução foi de
24%.
Para os sistemas GD-FV com 4 kWp, a redução média de preços no período de apenas um ano (jan/2018
a jan/2019) foi de aproximadamente 10%. Para o período anterior (jan/2017 a jan/2018), a redução foi
de 25%.
Conforme análise de dados apresentados no Apêndice 1, 46% dos sistemas GD-FV instalados no Brasil
têm no máximo 4 kWp, e 80% têm no máximo 10 kWp.

Figura 33. Preços médios para o cliente final (com indicação também de valores médios máximos e médios mínimos), de
sistemas GD-FV chave-na-mão, com potência de 2 kWp a 5.000 kWp, no Brasil, em jan/2018. Fonte: GREENER (2019).

47 GREENER (2019); “Estudo Estratégico Mercado Fotovoltaico de Geração Distribuída - 1o Semestre 2019”
[www.greener.com.br/pesquisas-de-mercado/estudo-estrategico-mercado-fotovoltaico-de-geracao-distribuida-1o-semestre-de-2019/]
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Figura 34. Evolução de preços para o cliente final, de microgeradores FV chave-na-mão, com potência de 2 kWp a 5.000 kWp,
no Brasil, de jun/2016 a jan/2019. Fonte: GREENER (2019).

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