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*O presente artigo é de autoria coletiva, tendo sido escrito no âmbito das atividades do Grupo de Pesquisa que investiga e
justiciabilidade dos Direitos Humanos no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. São autores dos presentes artigo: José Ricardo
Cunha (Doutor em Direito e professor da UERJ e FGV Direito Rio); Alexandre Garrido da Silva (Mestrando em Direito Público
pela UERJ e Professor substituto na UERJ); Diego Werneck Arguelhes (Mestrando em Direito Público pela UERJ e Pesquisador
na FGV Direito Rio); Diana Neves, Tamara Vaz de Melo, Ana Claudia da Silva Frade, Andréia da Silva Frade, Bruno Gazzaneo
Belsito e Cecília Barcellos Zerbini (Graduandos em Direito pela UERJ); Priscila de Santana (Graduanda em Direito pela PUC-
Rio); Joaquim Cerqueira Neto e Ana Carolina Cerqueira Vargas (Graduandos em Direito pela UCAM.
missa o caráter inevitavelmente criativo de nos e financeiros) por meio dos quais os
toda decisão judicial, por outro, identifica Poderes Legislativo e Executivo, suas co-
a questão central como sendo de níveis de missões e ministérios produzem ou solici-
criatividade, mais especificamente do es- tam a produção de pesquisa e levantamen-
tabelecimento do nível de criatividade que tos sofisticados (Cappelletti, 1993: 87).
se deve esperar dos juízes (ou até mesmo Pense-se, por exemplo, no que acon-
incentivá-los a adotar) em uma dada socie- teceria se a determinação do salário míni-
dade.4 mo em todo o território nacional ficasse a
Nesse ponto, porém, é preciso reco- cargo única e exclusivamente de um juízo
nhecer que a fixação desse grau de criati- judicial sobre qual quantia é necessária
vidade está longe de ser pacífica. Há um para cumprir o art.7º da Constituição. O
crescente movimento de crítica à divulga- impacto sobre a realidade sócio-econômica
ção da idéia de “criação judicial do direi- de cada aumento ou diminuição de centa-
to”, mesmo entre quem reconhece – como vos é impossível de ser previsto pelo juiz.
Cappelletti – que a atividade desenvolvida Em problemas sociais como esse - que Lon
pelos juízes não é mecânica, nem é imune Fuller chama de “policêntricos” - o julga-
a elementos externos (e muitas vezes con- dor tem diante de si algo como uma “teia
trários) ao direito positivo. Para os fins do de aranha”: puxar um fio em uma direção
presente trabalho, essas críticas podem ser alterará toda a dinâmica da estrutura; se o
agrupadas em três grandes categorias, que puxar com força redobrada, o resto da teia
passamos a analisar. não será duplamente tensionado, mas sim
alterado de uma forma difícil ou até mesmo
3.1.1. O Argumento da Incompetência impossível de prever (Fuller, 1958: 395).
Técnica Cappelletti procura relativizar a for-
ça desse argumento por meio da constata-
Independentemente da qualidade de ção de que os poderes eleitos também já
sua formação jurídica, os juízes em geral demonstram altos níveis de “incompetên-
não têm capacidade de desenvolver por cia institucional”.5 No próprio caso do sa-
conta própria as investigações que a “cria- lário-mínimo, acima exposto, não é difícil
ção” da melhor norma para o caso con- perceber que, no Brasil, nem mesmo o Po-
creto pode demandar. Quando estiverem der Executivo ou o Poder Legislativo têm
em jogo problemas sociais, econômicos e boas condições de tomar uma decisão bem
políticos de alta complexidade – o que é fundamentada e adequada sobre a fixação
particularmente agravado em um contex- desse valor.
to de jurisdição de massa, no qual a mes- Contudo, os críticos da “criação
ma decisão tenderá a ser reproduzida para judicial do direito” podem apresentar a
inúmeros titulares de idênticos direitos –, seguinte versão mais sofisticada do ar-
o conhecimento da doutrina e da jurispru- gumento da incompetência: não se trata
dência é largamente insuficiente para o apenas de qual poder ou órgão está mais
bom exercício da função jurisdicional. Isto qualificado tecnicamente para tomar as
é especialmente válido se entendermos que decisões, mas sim de qual poder ou órgão
o juiz deve sempre construir a melhor de- está mais legitimado a tomar essa decisão
cisão possível (isto é, a mais “justa”) para específica, ainda que errada. É nesse pon-
cada caso. Além disso, os integrantes do to que entra em cena o problema da legiti-
Poder Judiciário muitas vezes não dispõem mação democrática das decisões judiciais
sequer da estrutura e dos recursos (huma- “criativas”.
um ato de boa fé, imaginando ser o mesmo uma mínima previsão de como os conflitos
conforme o direito, para então descobrir no seriam decididos.
momento da sentença que, de acordo com Vale notar que esse não é apenas um
um critério extrajurídico empregado pelo problema de eficiência do sistema como
juiz, a conduta passou a não ser permitida. um todo, mas igualmente uma questão de
Em síntese, a “criatividade” do juiz justiça: uma decisão que inove completa-
entra em conflito com os valores da cer- mente no repertório de normas jurídicas
teza e da previsibilidade e, dessa forma, vigentes é, em última instância, um co-
se afigura como “iníqua”, porque “colhe a mando com eficácia retroativa, o que se
parte de surpresa” (Cappelletti, 1993: 85). afigura intolerável em um Estado de Direi-
É impossível para os cidadãos se informa- to (Neumman, 1999: 39).
rem de antemão acerca de uma “norma ju-
dicial” se ela na prática foi criada (ou com- 3.2. Júpiter e Hércules: Duas Matrizes para
pletamente reconstruída) ad hoc pelo juiz Avaliar o Problema da “Criatividade”
para resolver o caso. Por mais justa que a
aplicação dessas regras possa ser diante de A análise dos argumentos que usa
um caso concreto, o Direito precisa cum- Cappelletti para confiar na “criatividade ju-
prir uma relevante função de fornecimento dicial”, bem como a análise dos problemas
de pautas de conduta com base nas quais o apontados, deixa transparecer que este de-
cidadão tomará as decisões em seu cotidia- bate muitas vezes parece se dar a partir de
no. (Hart, 1994) concepções distintas da atividade judicial.
A generalização de decisões impre- Para esclarecer esse ponto, utilizaremos a
visíveis prejudicará o cumprimento dessa descrição que o belga François Ost faz das
função. Nas palavras de Canotilho: matrizes a partir das quais o ato de julgar
“Das regras da experiência derivou- é enfocado, cada uma com preocupações,
se um princípio geral da segurança jurídi- finalidades e compromissos distintos. Na
ca cujo conteúdo é aproximadamente este: verdade, o autor imagina um “modelo de
as pessoas – os indivíduos e as pessoas juiz” em correspondência com cada uma
coletivas – têm o direito e poder confiar das três matrizes propostas - Júpiter, Hér-
que aos seus atos ou às decisões públicas cules e Hermes (Ost, 1993). Para os fins
incidentes sobre os seus direitos, posições deste trabalho, enfocaremos apenas os
ou relações jurídicas alicerçadas em nor- dois primeiros paradigmas, na medida em
mas jurídicas vigentes e válidas ou em atos que, por serem os mais comuns (Hermes é,
jurídicos vigentes e válidos ou em atos na verdade, o modelo que Ost julga mais
jurídicos editados pelas autoridades com adequado para os desafios que o futuro co-
base nessas normas se ligam aos efeitos meça a impor à magistratura e ao próprio
jurídicos previstos e prescritos no ordena- Direito), funcionam mais adequadamente
mento jurídico” (Canotilho, 1999: 73-74). como chave explicativa para compreender
Não se pode simplesmente ignorar o papel as preocupações por trás de críticos e de-
de estabilização de expectativas que o di- fensores da criatividade judicial.
reito cumpre nas sociedades contemporâ- Em linhas gerais, o direito Jupite-
neas; mesmo que os juízes fossem dotados riano adota a forma de lei, expressão da
de sabedoria e conhecimento infinitos, o vontade do legislador. Do foco supremo
resto da população – sem essa sabedoria de juridicidade – a norma fundamental
e esse conhecimento – não teria como se do ordenamento jurídico positivo, isto é,
planejar, por não ter os meios necessários a a Constituição – emana o resto do Direi-
dade da regra que será aplicada na decisão legalidade da regra não é mais levada em
proferida aos casos particulares; a solução consideração. O Direito se reduz ao fato,
do caso concreto e singular se encontra de- à indiscutível materialidade da decisão.
duzida de uma regra geral e abstrata. Essa exortação da criatividade judicial tem
Assim, o direito determina o que a como resultado a proliferação de decisões
regra geral ou superior prescreve, não ha- particulares e específicas; a generalidade e
vendo, portanto, qualquer possibilidade a abstração da lei deixam lugar à singula-
de o juiz se abster de sua fiel observância, ridade dos casos concretos. A própria ra-
porquanto se revela como ato de vontade cionalidade jurídica perde espaço para os
do Estado-legislador. Resta apenas segui- saberes oriundos de campos ligados à aná-
la e aplicá-la no caso concreto. lise da realidade social, como a economia,
O modelo de Hércules, por sua vez, a contabilidade, a medicina, a psicologia
expressa uma perspectiva completamente (Ost, 1993: 178).
distinta. A figura do profissional encarre- Em última instância, o próprio juiz
gado de aplicar o direito – o juiz – ganha é a única fonte válida do Direito, cabendo
o primeiro plano, como reflexo do cresci- a ele dar consistência às simples possibili-
mento das funções judiciais ligadas às exi- dades jurídicas, ao tomar decisões particu-
gências do Estado Social do século XX. Em lares. As decisões judiciais passam, então,
contraposição ao juiz jupiteriano (“homem ao coração do sistema.
de lei”), Hércules atua como um engenhei- De que forma essas duas matrizes
ro social. Tal evolução, sobretudo no que podem nos ajudar a compreender o debate
diz respeito às jurisdições constitucionais acerca da criatividade judicial? Júpiter e
habilitadas para apreciar a constituciona- Hércules são úteis como chaves explicati-
lidade das leis, conduz à relativização do vas para decifrar os compromissos básicos
mito da supremacia do legislador. que estão por trás dos críticos e dos defen-
Nessa perspectiva, o Direito não é sores da criatividade judicial. De fato, por
um simples conjunto de regras, mas um trás dos argumentos favoráveis à criação
fenômeno fático complexo, formado pelos do direito pelos juízes, encontramos uma
comportamentos das autoridades judiciais. concepção “Hércules” da decisão judicial,
Muda-se, assim, radicalmente a perspecti- comprometida basicamente com a melhor
va do Direito, agora visto simbolicamen- solução para cada caso. O valor básico é a
te sob a forma de uma pirâmide invertida eqüidade, que se torna o critério da respon-
ou de um funil - a criação do direito se dá sabilidade social do Judiciário: os juízes
através do juiz, o qual faz imperar a singu- devem tomar para si a tarefa de resolver
laridade do caso particular face às regras os problemas da sociedade, ainda que de
gerais e abstratas. Aquelas regras apenas forma pontual. Cada decisão é uma oportu-
ganham consistência quando o juiz aprecia nidade de dar soluções adequadas e justas
o fato e formula sua decisão, não passan- para problemas sociais. Para tanto, Hércu-
do as mesmas de mera justificação a pos- les procura ser contextualista.
teriori. A regra não constitui mais do que Por sua vez, os argumentos contrários
uma justificativa da decisão (na medida em à criatividade judicial podem ser recondu-
que ela não se impõe a priori), mas apenas zidos a uma concepção “jupiteriana” da ju-
uma previsão da futura decisão. É a regra risdição. Na definição do papel do Direito,
que deriva da decisão, e não o inverso. enfatiza-se a segurança, a previsibilidade,
Aqui, a efetividade é condição ne- a estabilidade; procura-se uma resposta ge-
cessária e suficiente para a validade; a ral, não contextual, para o problema da ati-
vidade dos juízes. Por razões de segurança, mesmo modo, seguindo a forma clássica
a justiça no caso concreto é aqui afastada, da técnica de separação de poderes, se um
pois a possível decisão mais justa não seria caso foi decidido por meio da aplicação das
necessariamente generalizável. decisões tomadas em um momento anterior
pela sociedade ou por seus representantes
4. Criatividade Judicial e Estado de Di- (e mesmo que essa aplicação não seja um
reito: A Possível Conciliação ato mecânico ou puramente cognoscitivo),
então não cabe dizer que o julgador errou
Atravessando Hércules e Júpiter, po-
por ter sido “criativo” sem que possuísse
rém, encontramos um fio condutor: a idéia
legitimidade para tanto. Os juízes estão
de vinculação ao Direito (geralmente vei-
plenamente legitimados para interpretar a
culada na expressão “Estado de Direito”).
aplicar as normas jurídicas. Pelos mesmos
Essa idéia – que, apesar de antiga, vem so-
motivos, não haveria aqui que se falar em
frendo importantes reformulações nas últi-
frustração de expectativas, imprevisibili-
mas décadas (Canotilho, 1999: 63) - con-
dade e retroatividade das decisões.
sagra, em última instância, a exigência de
Criticar a “criatividade” judicial é,
que a atividade jurisdicional seja baseada
em última instância, apontar que o juiz está
no direito, identificável a partir das fontes
se desviando de sua função – a aplicação
apropriadas em uma dada sociedade, mais
do Direito. Não basta respeitar as “virtudes
do que em considerações e critérios como a
passivas” procedimentais: é necessário fun-
própria justiça ou a “eficiência econômica”,
damentar – de forma que satisfaça os cri-
ou a “felicidade da nação” etc (Cappelletti,
térios daquele auditório específico, daquela
1993: 102). Tanto o juiz “Júpiter”, quanto
comunidade – cada decisão em decisões
o juiz “Hércules”, de quem nos fala Fran-
anteriores. Se uma decisão específica foi
çois Ost, reconheceriam algum valor nesse
fundamentada no Direito, todas as possíveis
ideal, ainda que, no modelo de Hércules,
críticas e acusações normalmente ligadas ao
o direito seja visto como uma ferramenta,
rótulo de “criatividade” perdem sua força,
um instrumento para se atingir fins sociais
deixando possivelmente exposto o seu teor
relevantes.
ideológico (isto é, critica-se a decisão como
É evidente que, se o juiz embasar sua
“criativa” pelo simples fato de que não se
decisão no direito vigente [mesmo que ele
concorda com o seu conteúdo).
não se identifique única e completamente
com o texto das normas – (Guastini, 2005:
4.1. Criatividade, Argumentação Jurídica e
22 e ss)], por mais que certos grupos e in-
Justificação do Direito
teresses possam ser prejudicados com esse
resultado, o conteúdo específico dessa de-
As teorias jurídicas contemporâneas
cisão não pode ser criticado como “criati-
trabalham com três importantes distinções
vo”.
conceituais no âmbito da teoria da argu-
De fato, nenhuma das críticas acima
mentação jurídica que são fundamentais
delineadas pode prosperar se se reconhece
para o propósito de delimitação analítica
que o juiz simplesmente aplicou o direito.11
do conceito de criatividade judicial e para
Quem se preocupa com a incompetência
a sua compatibilização com a idéia de
terá todos os motivos para levantar suas
Estado de Direito: em primeiro lugar, há
objeções, já que a atividade típica para a
a relevante distinção teórica entre a pers-
qual os juízes são selecionados envol-
pectiva do observador e a do participante
ve justamente a aplicação do Direito. Do
em uma argumentação jurídica ou entre o
de submissão dos poderes públicos à ra- certas decisões criticadas e/ou louvadas
zão” (Aguiló, 1997: 75). Esta afirmação como “criativas” podem ser justificadas
é incompatível com a assertiva feita por com base no direito vigente. Para tanto, é
diversos autores de matriz kelseniana de preciso abandonar a concepção reducio-
que, nos casos difíceis, a decisão judicial, nista que entende o ordenamento jurídico
enquanto manifestação também de ato centrado nos códigos e nas grandes leis.
de vontade, somente pode ser explicada Também é preciso se lembrar de que os
a partir de seus móbiles empíricos. Com tratados e convenções internacionais são
fundamento na idéia de Estado de Direito fontes de direitos, como ocorre no Direito
há o direito dos destinatários das normas Internacional dos Direitos Humanos.
jurídicas de não serem julgados a partir de Ao se trabalhar categorias fulcrais
convicções ideológicas, crenças religiosas como Estado de Direito ou Razão Pública,
ou posicionamentos políticos estranhos ao não se pode seriamente aprofundar o deba-
Direito. Nenhum desses motivos empíri- te sem que se tenha em conta a importância
cos é passível de universalização e, por- dos direitos humanos. Na sociedade atual,
tanto, aptos a conquistar de um modo ideal estes consistem no principal instrumento
o consentimento de todos os cidadãos com de defesa, garantia e promoção das liber-
fundamento em valores, princípios ou re- dades públicas e das condições materiais
gras constitucionais. essenciais para uma vida digna. Por isso,
Com fundamento na exposição pre- os Poderes Executivo e Legislativo são
cedente, podemos concluir que a compre- sempre solicitados a atuar conforme es-
ensão ordinária que temos do conceito de tes direitos. Contudo, o último guardião e
Estado de Direito e de interpretação jurí- esperança de proteção de tais direitos é o
dica enquanto partícipes de uma argumen- Poder Judiciário. De efeito, faz-se impe-
tação jurídica realmente levada a termo, rioso lutar pela efetividade de sua tutela
pressupõe uma série de idealizações ine- jurisdicional.
vitáveis (imparcialidade, independência Mas será que os juízes conhecem (e
e publicidade) sem as quais, por exem- reconhecem) os Direitos Humanos já apli-
plo, a idéia de Estado de Direito restaria cáveis no território nacional?
absolutamente sem sentido. Nesses mol-
des, a “criatividade judicial” só pode ser 5.1. Aplicação das Normas de Direitos Hu-
compreendida como inovação justificada manos pelos Juízes do Tribunal de Justiça
a partir das fontes do direito aceitas pela do Estado do Rio de Janeiro 14
sociedade.13 Uma decisão “criativa” que
se justifique com argumentos fundados no No Tribunal de Justiça do Rio de
Direito vigente não pode ser criticada por Janeiro, na comarca da capital, ao serem
questionados sobre qual seria a natureza
ser “ilegítima” ou “imprevisível” – pois o
dos direitos humanos, 7,6% dos juízes afir-
juiz não teria feito nada além do que exa-
maram serem os direitos humanos “valores
tamente se espera dele em um regime de
sem aplicabilidade efetiva”. Para outros
Estado de Direito.
34,3% constituiriam “princípios aplicados
5. Direitos Humanos: Fonte [ainda] Des- na falta de regra específica” e, para 54,3%
conhecida do Direito? configurariam “regras plenamente aplicá-
veis”. É importante ressaltar como cerca
A partir do marco teórico desenvolvi- de 7% dos juízes concebem os direitos hu-
do até aqui, apresenta-se a hipótese de que manos apenas como valores sem nenhuma
força jurídica, mesmo após todos os esfor- gistrado em processos cujo desate depen-
ços jurídicos e políticos de afirmação de desse de normas de tal natureza. Visou-se à
tais direitos. Com entendimento relativa- averiguação do reconhecimento, por parte
mente semelhante encontram-se os 34,3% dos magistrados entrevistados, da presen-
dos juízes que acreditam que os direitos ça, nos casos sob seu exame, de normas de
humanos são princípios que possuem ca- direitos humanos, já que estas se eviden-
ráter meramente subsidiário, podendo ser ciam de múltiplas formas no ordenamento
aplicados apenas diante da ausência de jurídico brasileiro, configurando-se como
norma específica. Para estes juízes, qual- verdadeiros desdobramentos normativos
quer ponderação com norma mais especí- da tutela jurídica da dignidade.
fica, inclusive com conteúdo antagônico, Assim, interrogados sobre a atuação
levaria à não aplicação das normas de di- em processos nos quais incidissem normas
reitos humanos. Porém, a posição majori- de direitos humanos, 24% dos juízes res-
tária revelou uma concepção forte de direi- ponderam negativamente, enquanto outros
tos humanos, pois mais de 50% dos juízes 25% revelaram haver atuado em vários
concebem os direitos humanos como re- feitos com aplicabilidade de normas desta
gras plenamente aplicáveis. natureza. Por sua vez, 30% informaram ter
Uma minoria também de magistra- atuado em alguns processos em que nor-
dos acredita que o Poder Judiciário não mas de direitos humanos eram aplicáveis,
deve interferir no sentido da promoção da enquanto 22% afirmaram ter atuado em
efetivação dos direitos de segunda geração poucos casos.
(econômicos, sociais e culturais), justifi- Observa-se, então, que 52% dos ma-
cando não caber ao Judiciário a implemen- gistrados entrevistados atuaram esporadi-
tação de políticas públicas. Outros, ainda, camente no julgamento de demandas em
acreditam que a tutela destes direitos é de que eram suscitadas normas de direitos
competência dos demais poderes da Re- humanos. Assim, totalizam-se 76% que
pública ou que tal aplicação resultaria no apenas ocasionalmente atuaram em tais
fenômeno do juiz-legislador. Porém, a am- feitos ou que nestes nunca exerceram seu
pla maioria dos magistrados (79%) defen- mister. Por outro lado, paradoxalmente, a
de a aplicação complementar dos direitos maioria dos juízes entrevistados declarou
econômicos e sociais e dos direitos civis que os direitos humanos são normas plena-
e políticos. Além disso, consideram que mente aplicáveis no ordenamento jurídico
mesmo aqueles direitos que impõem uma brasileiro, entendendo que não são apli-
atuação estatal devem ser judicialmente cadas efetivamente, no entanto, por não
tutelados. Esta ampla parcela da magistra- serem imanentes aos casos judiciais que
tura entrevistada, aproximadamente 80%, lhes foram submetidos. Destaque-se, con-
portanto, delega aos direitos humanos, tudo, como é duvidosa tal inferência, pois,
pelo menos teoricamente, a condição de como é notório, grande parte das contro-
normas plenamente aplicáveis e considera vérsias submetidas à apreciação do Poder
que, mesmo aquelas que venham interferir Judiciário versa sobre conflitos cujo cerne
no orçamento estatal devem ser garantidas é exatamente situado na seara dos direitos
por meio das decisões judiciais. humanos e, muitas vezes, envolve mais
Na pesquisa empreendida, uma das precisamente os direitos fundamentais.
questões mais expressivas foi a indagação Deste modo, aventa-se a hipótese de
acerca da justiciabilidade dos direitos hu- desconhecimento dos direitos humanos,
manos, revelada através da atuação do ma- pelo que os entrevistados, em razão da
pouca intimidade com o conceito geral e as sam a todos os indivíduos de forma gené-
normas de direitos humanos, teriam velada rica e abstrata, como de normas de alcance
sua percepção, o que dificultaria seu reco- especial, destinadas a sujeitos específicos
nhecimento no que tange aos casos afeitos e a violações que necessitam de resposta
à matéria em menção. diferenciada. O Brasil ratificou a maior
Por outro lado, em qualquer caso parte destes instrumentos de proteção,
concreto submetido ao Poder Judiciário, tais como: a Convenção para a Elimina-
deverá o julgador levar em consideração ção de todas as Formas de Discriminação
todo o ordenamento jurídico, promovendo Racial, em 27/03/68; a Convenção para a
uma interpretação sistemática. Isto porque Eliminação de toda Forma de Discrimina-
as normas jurídicas não são os textos nem ção contra a Mulher em 01/02/84; a Con-
o conjunto deles, mas os sentidos cons- venção sobre os Direitos da Criança, em
truídos a partir da interpretação sistemá- 24/09/90; o Pacto Internacional de Direitos
tica de textos normativos (Ávila, 2005). Civis e Políticos, em 24/01/92 e o Pacto de
Conseqüentemente, em qualquer deman- Direitos Econômicos Sociais e Culturais,
da submetida ao magistrado, deve este ter em 24/01/92. No entanto, o Brasil não re-
em conta a dignidade da pessoa humana, conhece a competência de alguns de seus
verdadeiro valor fundamental do Estado órgãos de supervisão e monitoramento no
Democrático brasileiro, consignado no in- caso de apreciação de denúncias individu-
ciso III do art. 1° da Carta Constitucional ais, como o Comitê de Direitos Humanos e
de 1988. Assim, afigura-se razoável que o Comitê contra Tortura. Juntamente com
quando uma situação subjetiva existencial o Sistema de Proteção da ONU, existe ou-
estiver em questão, a norma jurídica seja tro no plano regional, que é o Sistema de
construída em função dos direitos huma- Proteção Interamericano da OEA. O Siste-
nos, sejam estes oriundos da Constituição ma de Proteção da ONU e da OEA tutelam
ou mesmo de normas internacionais, ainda os mesmos direitos, sendo a escolha do
que possam ser considerados aí diferen- instrumento mais propício de competência
tes níveis de intensidade desta vinculação da vítima. Esses sistemas se complemen-
(Sarlet, 2002: 85). Não reconhecer tal apli- tam, visando uma garantia adicional e uma
cabilidade pode estar, portanto, relaciona- maior promoção e efetivação dos direitos
do a um conhecimento precário quanto ao fundamentais. No campo dos sistemas re-
tema, ou mesmo ao seu desconhecimento. gionais de proteção, temos, além do Siste-
Vale notar que, segundo dados obti- ma Interamericano, os Sistemas Europeu e
dos na mesma pesquisa, os juízes parecem Africano.
desconhecer não apenas os direitos em si, Indagados os juízes se possuem co-
mas também a arquitetura institucional nhecimento de como funcionam os Sis-
criada para a sua proteção e promoção. temas de Proteção da ONU e da OEA,
Com o advento da Declaração Universal obtivemos os seguintes percentuais: 59%
dos Direitos Humanos (em dezembro de conhecem superficialmente como funcio-
1948) e a Declaração Americana de Di- nam os Sistemas de Proteção Internacio-
reitos e Deveres do Homem (em abril de nal; 20% não sabem como funcionam os
1948), iniciou-se o desenvolvimento dos Sistemas de Proteção. Considerando-se os
Sistemas de Proteção Internacional dos percentuais mais altos, em que o primeiro
Direitos Humanos da ONU e da OEA. O corresponde a um conhecimento superfi-
Sistema de proteção da ONU é constituído cial e o segundo a um desconhecimento
tanto de normas de alcance geral que vi- dos Sistemas, temos que 79% dos magis-
trados não estão informados sobre os Sis- vit curia que significa que o juiz sempre
temas Internacionais de Proteção dos Di- conhece o Direito abstrato. Em lingua-
reitos Humanos. gem processual aparece na expressão da
O desconhecimento dos Sistemas mihi factum, dabo tibi ius. A mensagem
Internacionais de Proteção aos Direitos simbólica transmitida por estes brocardos
Humanos se apresenta como obstáculo à é a de que o juiz sempre conhece todo o
plena efetivação dos direitos desta nature- ordenamento jurídico e por isso suas de-
za no cotidiano do Poder Judiciário. E isso cisões estão sempre amparadas por este
porque o desconhecimento de tais sistemas ordenamento. Bem, a consolidação do Es-
de proteção se mostra intimamente ligado tado de Direito já assentou que não basta a
à não aplicação das normativas relativas presunção da juridicidade da sentença pelo
aos direitos humanos. fato dela emanar da autoridade judiciária.
Perguntados se possuíam conheci- Como anteriormente visto, é exigência
mento acerca das decisões das cortes inter- deste mesmo Estado de Direito que a sen-
nacionais de proteção dos direitos huma- tença seja pública para que sua fundamen-
nos, obtivemos o seguinte percentual: 56% tação possa ser não apenas conhecida mas,
responderam que eventualmente possuem também, submetida a uma pretensão de
tais informações; 21% responderam que correção tanto por parte do segundo grau
raramente; 13% responderam que freqüen- de jurisdição como também de outros ato-
temente e 10% que nunca obtiveram infor- res sociais na qualidade de intérpretes da
mações acerca de tais decisões. Constituição aberta.
Não há dúvida de que um percentual Com efeito, a função simbólica de
de apenas 13% para os juízes que freqüen- resguardar a intocabilidade do conheci-
temente têm acesso a tais decisões é muito mento jurídico do magistrado, presente no
reduzido para uma profusão real de uma brocardo iura novit curia cedeu espaço ao
cultura dos direitos humanos. Quando debate próprio da democracia, como é de
questionados sobre o auxílio e enriqueci- se esperar em sociedades plurais e pós-
mento que essas decisões poderiam produ- convencionais onde não é a força da tra-
zir nas suas sentenças, obteve-se o seguin- dição mas, sobretudo, da argumentação no
te resultado: 50% disseram que sim; 41% âmbito do debate público que estabelece
disseram que talvez e 9% responderam que o sentido do certo e do errado, do justo e
não. Assim, poucos conhecem o conteúdo do injusto, do aceitável e do inaceitável.
Nessa esteira, os juízes atuam como mais
dessas decisões, mas a maioria acredita
um player no jogo democrático e, como os
que seria relevante este conhecimento.
demais atores, estão submetidos às regras
Acredita-se que seria importante a institu-
do jogo e à necessidade de justificar pu-
cionalização de canais de divulgação, no
blicamente suas ações, sua judicatura. É
âmbito do Tribunal de Justiça, acerca das
claro que os juízes, por outro lado, ocupam
decisões das cortes internacionais de direi-
um lugar fundamental e estratégico, pois
tos humanos, inclusive como parte de um
lhes cabe a tarefa última de guardiões do
processo que busque uma maior efetivida-
próprio Estado de Direito, não sendo outra
de e aplicabilidade de tais direitos.
a finalidade da jurisdição senão a de ga-
6. Conclusão: Iura Novit Curia? rantir direitos dos cidadãos, sejam direitos
subjetivos, coletivos ou difusos. É nesta
Um dos mais conhecidos brocardos perspectiva que devem ser reconhecidos os
ou aforismos no meio jurídico é o iura no- limites para a exposição pública do Poder
ATIENZA, Manuel. As Razões do Direito: te- RAWLS, John. O liberalismo político. Tradu-
orias da argumentação jurídica. Tradução de ção de Dinah de Abreu Azevedo. 2ª edição. São
Maria Cristina Guimarães Cupertino. 3ª edição. Paulo: Ed. Ática, 2000.
São Paulo: Landy Editora, 2003. SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa
ÁVILA, Humberto. Teoria dos Princípios: Da humana e direitos fundamentais na Constitui-
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ralista e procedimental da Constituição. Porto NOTAS
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HART, Herbert L. A. O Conceito de Direito.
1
“O bom juiz pode bem ser criativo, dinâmico e
Trad. Armindo Ribeiro Mendes. 2a ed. Lisboa: “ativista” e como tal manifestar-se; no entanto,
Fundação Calouste Gulbenkian, 1994. apenas o juiz ruim agiria com as formas e as
ISENSEE, Josef . Die alte Frage nach der Re- modalidades do legislador, pois, a meu enten-
chtfertigung des Staats. Juristen Zeitung, 1999, der, se assim agisse deixaria simplesmente de
p. 267 apud TORRES, Ricardo Lobo. A legiti- ser juiz” (Cappelletti, 1993: 80).
mação dos direitos humanos e os princípios da
2
Roberto Guastini elenca nada menos do que
ponderação e da razoabilidade. In: TORRES, quatro significados diferentes para a assertiva
Ricardo Lobo (Org.). Legitimação dos Direi- de que os juízes “criam direito”. Para os fins
tos Humanos. Rio de Janeiro: Editora Renovar, deste tópico, basta enfatizar a idéia de que os
2002. juízes “criam direito”, pois a norma individual
KANT, Immanuel. À Paz Perpétua. In: ______ a ser aplicada no caso é resultado da interpreta-
_. À Paz Perpétua e outros opúsculos. Tradução ção de disposições pré-existentes – um trabalho
de Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 2002. de “tradução” que dificilmente pode ser encara-
MACCORMICK, Neil. Raisonnement juridi- do como mecânico (2005: 221-222).
que et théorie du droit. Traduit de l’anglais par 3
Mesmo autores que negam qualquer distinção
Jérôme Gagey. Paris: Presses Universitaires de qualitativa forte entre “aplicação” e “criação”
France, 1996. do direito, como Hans Kelsen, acabam adotan-
NEUMANN, Franz. Estado Democrático e Es- do alguma espécie de critério para diferenciar
tado Autoritário. Rio de Janeiro: Zahar, 1969. essas funções. No caso da teoria pura do Direi-
to, a distinção afirmada é tão somente de grau: povo. Mas é por demais evidente que nenhuma
a atividade do juiz que põe (cria) a norma indi- democracia proporciona a igualdade genuína
vidual, a partir da moldura da norma geral posta de poder político. (...) O poder econômico dos
pelo legislador, é análoga à do legislador que grandes negócios garante poder político especial
põe normas gerais dentro da moldura constitu- a quem os gere. Grupos de interesse, como sin-
cional posta pelo Poder Constituinte. (cf Kel- dicatos e organizações profissionais, elegem fun-
sen, A Interpretação, in Teoria Pura do Direito. cionários que também têm poder especial. (...)
São Paulo: Martins Fontes, 1998). Concepções Essas imperfeições no caráter igualitário da de-
que nivelam ou identificam completamente mocracia são bem conhecidas e, talvez, parcial-
a atividade do legislador e a do juiz, se é que mente irremediáveis” (Uma Questão de Princí-
existem, parecem estar fora da área de atuação pio. São Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 31).
da teoria do direito, podendo ser excluídas da 7
A expressão tornou-se célebre com a obra de
presente análise. Alexander Bickel: The Least Dangerous Bran-
4
Ou, contrario sensu, o grau de “formalismo” a ch. The Supreme Court at the Bar of Politics
ser esperado dos juízes, já que posições mais ra- (New Haven: Yale University Press, 1986),
dicais sobre o papel das normas positivadas na originalmente publicada em 1962.
decisão judicial dificilmente são encontráveis 8
Para relativizar esse problema, afirma-se que,
na realidade. Nas palavras de Cass Sunstein: “It em relação às instâncias superiores, a legiti-
is hard to find anyone who believes that canons mação decorreria do fato da escolha de seus
of construction have no legitimate place in in- integrantes ser submetida ao crivo de agentes
terpretation,, or who thinks that literal language políticos. Dessa forma, haveria uma espécie de
should always be followed, no matter how legitimação indireta, como no caso dos Minis-
absurd and palpably unintended the outcome. tros do Supremo Tribunal, que, sendo escolhi-
No antiformalist thinks that judges interpreting dos pelo Presidente da República e submetidos
statutes should engage in ad hoc balancing of ao crivo do Senado, estariam indiretamente
all relevant considerations. The real division sendo escolhidos pela própria sociedade. Se-
is along a continuum. One pole is represented gundo esse argumento, esta seria uma escolha
by those who aspire to textually driven, rule- política cuja essência não é diferente de muitas
bound, rule-announcing judgments; the other outras que se processam ordinariamente por en-
is represented by those who are quite willing tes eleitos diretamente pela população.
to reject the text when it would produce an un- 9
O próprio Cappelletti, porém, afirma: “Visto
reasonable outcome, or when it is inconsistent que os juízes tratam todos os casos como en-
with the legislative history, or when it conflicts tidades isoladas, também os problemas que os
with policy judgments of certain kinds or sub- envolvem – problemas que podem ser de amplo
stantive canons of construction” (1999a: 05). interesse, como a reforma das prisões – são tra-
5
Cf. Cappelletti, ob. Cit., p. 89. Dialogando – e tados fora do mais amplo contexto de escolhas
discordando – de Lon Fuller, Owen Fiss obser- políticas, no qual deveriam se inserir” (p.87).
va que há mecanismos institucionais para dimi- 10
Cf., nesse sentido, os exemplos trazidos por
nuir a chance de erro na apreciação judicial de Cass Sunstein na obra One Case at a Time:
questões sócio-econômicas complexas, como Judicial minimalism on the Supreme Court
por exemplo, a designação de peritos e a utiliza- (Cambridge (MA): Harvard University Press,
ção de pareceres de grupos na função de amicus 1999), especialmente o capítulo III: Decisions
curiae. (cf. Um Novo Processo Civil: estudos and Mistakes.
norte-americanos sobre jurisdição, constituição 11
É importante ressaltar que a definição do que
e sociedade. São Paulo: Revista dos Tribunais, seja “o direito” a ser aplicado já é em si uma
2004, especialmente o Capítulo I). questão controversa.
6
Uma eloqüente formulação dessa posição pode 12
Por exemplo, a distinção entre a perspectiva
ser encontrada na obra de Ronald Dworkin: do observador e a perspectiva do participante é
“Sem dúvida, é verdade, como descrição geral, desenvolvida na teoria sociológica por Alfred
que numa democracia o poder está nas mãos do Schutz: Cf. SCHUTZ, Alfred. El mundo social
y la teoría de la acción social. In: ______. Es- responsibility for preventing forced evictions
tudios sobre teoría social. Buenos Aires: Amor- rests with governments, Recalling that Gen-
rortu Editores, 1974. eral Comment No. 2 (1990) on international
13
Que, vale notar, não se reduzem necessaria- technical assistance measures adopted by the
mente ao direito positivo. Committee on Economic, Social and Cultural
14
Os dados a serem apresentados nesta seção Rights at its fourth session, states, inter alia,
resultam da investigação empírica acerca da that international agencies should scrupulously
justiciabilidade dos direitos humanos no Tri- avoid involvement in projects which involve,
bunal de Justiça do Rio de Janeiro, por meio among other things, large-scale evictions or
de Grupo de Pesquisa coordenado pelo Prof. displacement of persons without the provision
Dr. José Ricardo Cunha. Um relatório prelimi- of all appropriate protection and compensation
nar da Pesquisa foi publicado no nº 03 da SUR (E/1990/23, annex III, para. 6), Mindful of the
– Revista Internacional de Direitos Humanos. questions concerning forced evictions included
Cf. www.surjournal.org. in the guidelines for States’ reports submitted
15
Commission on Human Rights resolution in conformity with articles 16 and 17 of the In-
1993/77a 1993/77. FORCED EVICTIONS The ternational Covenant on Economic, Social and
Commission on Human Rights, Recalling Sub- Cultural Rights (E/1991/23, annex IV), Noting
Commission on Prevention of Discrimination with appreciation that the Committee on Eco-
and Protection of Minorities resolution 1991/12 nomic, Social and Cultural Rights, in its Gener-
of 26 August 1991, Also recalling its own reso- al Comment No. 4, considered that instances of
lution 1992/10 of 21 February 1992, in which forced evictions were, prima facie, incompat-
it took note with particular interest of General ible with the requirements of the International
Comment No. 4 (1991) on the right to adequate Covenant on Economic, Social and Cultural
housing (E/1992/23, annex III), adopted on Rights and could only be justified in the most
12
December 1991 by the Committee on Eco- exceptional circumstances, and in accordance
nomic, Social and Cultural Rights at its sixth with the relevant principles of international law
session, and the reaffirmed importance attached (E/1992/23, annex III, para. 18), Taking note
in this framework to respect for human dignity of the observations of the Committee on Eco-
and the principle of non-discrimination, nomic, Social and Cultural Rights at its fifth
Reaffirming that every woman, man and child and sixth sessions concerning forced evictions,
has the right to a secure place to live in peace Taking note also of the inclusion of forced evic-
and dignity, tions as one of the primary causes of the inter-
Concerned that, according to United Nations national housing crisis in the working paper on
statistics, in excess of one billion persons the right to adequate housing, prepared by Mr.
throughout the world are homeless or inad- Rajindar Sachar (E/CN.4/Sub.2/1992/15),
equately housed, and that this number is grow- Taking note further of Sub-Commission resolu-
ing, Recognizing that the practice of forced tion 1992/14 of 27 August 1992,
eviction involves the involuntary removal of 1. Affirms that the practice of forced evictions
persons, families and groups from their homes constitutes a gross violation of human rights, in
and communities, resulting in increased levels particular the right to adequate housing;
of homelessness and in inadequate housing 2. Urges Governments to undertake immediate
and living conditions, Disturbed that forced measures, at all levels, aimed at eliminating the
evictions and homelessness intensify social practice of forced evictions;
conflict and inequality and invariably affect 3. Also urges Governments to confer legal se-
the poorest, most socially, economically, en- curity of tenure on all persons currently threat-
vironmentally and politically disadvantaged ened with forced eviction and to adopt all nec-
and vulnerable sectors of society, Aware that essary measures giving full protection against
forced evictions can be carried out, sanctioned, forced eviction, based upon effective participa-
demanded, proposed, initiated or tolerated by a tion, consultation and negotiation with affected
range of actors, Emphasizing that ultimate legal persons or groups;
4. Recommends that all Governments provide 6. Also requests the Secretary-General to com-
immediate restitution, compensation and/or pile an analytical report on the practice of forced
appropriate and sufficient alternative accom- evictions, based on an analysis of international
modation or land, consistent with their wishes law and jurisprudence and information submit-
or needs, to persons and communities that have ted in accordance with paragraph 5 of the pres-
been forcibly evicted, following mutually satis- ent resolution, and to submit his report to the
factory negotiations with the affected persons Commission at its fiftieth session;
or groups; 7. Decides to consider the analytical report at
its fiftieth session, under the agenda item en-
5. Requests the Secretary-General to transmit
titled “Question of the realization in all coun-
the present resolution to Governments, relevant
tries of the economic, social and cultural rights
United Nations bodies, including the United contained in the Universal Declaration of Hu-
Nations Centre on Human Settlements, the spe- man Rights and in the International Covenant
cialized agencies, regional, intergovernmental on Economic, Social and Cultural Rights, and
and non-governmental organizations and com- study of special problems which the developing
munity-based organizations, soliciting their countries face in their efforts to achieve these
views and comments; human rights”. a/ Adopted on 10 March 1993.