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Relatório Final
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Como o marco histórico adotado é as jornadas de meados de 2013, opta-se por iniciar as
pesquisas pelos romances de 2014, romances concluídos pós-manifestações.
atualidade do debate em torno do que significa o regime autoritário em tempos
de esfacelamento da democracia, seguido pelas leituras das formas de
resistência. Ao que tudo indica, temos uma hipótese: os romances estão
voltando para o passado para apontar com mais profundidade uma questão
colocada na atualidade: o estado de exceção. O obscurantismo do passado que
aparece como contraexemplo para uma sociedade sem expectativas de um
futuro vindouro.
Por conseguinte, estabelecida esta etapa, o momento posterior foi de
interpretação e análise a luz das discussões teóricas realizadas. É desta ação
que se verificará – ou não – a existência da relação entre atualidade histórica e
atualidade romanesca. Em cada obra, separadamente num primeiro momento,
e em estudo comparado, num segundo momento, a fim de perceber a existência
de similaridades na técnica adotada pelos autores e os motivos estéticos,
filosóficos e sociais deste diálogo.
RESULTADOS
A pesquisa realizada já nos dá alguns resultados importantes para o
debate. O primeiro deles se percebeu logo nos primeiros textos críticos
analisados. Ora, as questões chaves que colocamos em discussão e que foi
norteadora da pesquisa foi: diante da história do Brasil em que não há reparação
e desmonte de diversas estruturas legadas pela ditadura militar, ainda existe
obras literárias que represente as problematizações das contradições sociais do
Brasil naquele período? Que tipo de visão e discurso estes romances possuem
sobre este período da história do país? Em tempo, a chegada do regime
neoliberal trouxe, junto com seus dispositivos concorrenciais, um discurso moral
e conservador que, no Brasil, tem flertado com uma ideologia de direita,
refundadora de privilégios e autoritarismos que até então pensava-se encerrada
com o fim da ditadura militar, nos anos 80. Tem o romance brasileiro apresentado
abertura em sua estética para entender esta nova sensibilidade na qual segrega,
domina e violenta a população? Os romances que abordam os “anos de chumbo
do país” seria então uma resposta a esse novo militarismo?
Podemos dizer que este problema se coloca como um desafio que foi
evidenciado com certa preocupação em ensaios de dois escritores: “Dez
fragmentos sobre a literatura contemporânea no Brasil e na Argentina”, de
Ricardo Lísias (2010), e “A era da pós-ficção: notas sobre a insuficiência da
fabulação no romance contemporâneo” (2017), de Julian Fucks.
No primeiro texto, Lísias constata que a literatura brasileira ainda carece
de ficcionalizar traços importantes da sua história, como, por exemplo, o legado
de uma literatura sobre o golpe de 64. Aponta assim a falta de uma obra
contundente sobre o tema, já que, na maioria dos romances posteriores ao
período histórico referido, houve um deslocamento da temática da violência de
Estado para a violência urbana, esta última síndrome da classe média brasileira.
A presente proposta de pesquisa buscou em seu principal objetivo construir
uma rede panorâmica do romance brasileiro atual, agora focado no ano de 2016,
sob a perspectiva de identificar as representações de situações de acirramento
social das identidades humanas provocadas por aquilo que pesquisadores como
Luc Boltanski e Ève Chiapello (2009) denominaram de “o novo espírito do
capitalismo”, mais especificamente como essa nova ordem do neoliberalismo
autoritário adentra na estrutura sócio-política brasileira. Esta pesquisa é
continuidade da pesquisa anterior. Os principais romances publicados em 2016
apontariam para o contexto de transformação social que o Brasil tem passado
desde 2013? Sabemos hoje que o Brasil atravessa uma profunda crise
institucional, econômica e cultural, mas ainda não sabemos se a produção do
gênero romanesco brasileiro se encontra a altura destas discussões prementes.
A pesquisa encontrou uma conexão existente entre o romance brasileiro e o seu
grau de comprometimento com o tempo hodierno. Isso não significa que estamos
preestabelecendo a busca de um romance engajado em uma causa específica,
mas sim estamos procurando entender como a autonomia estética do romance
pode leva-lo a uma situação de completa anomia do material social trabalhado
na representação literária, como ocorreu na pesquisa anterior. Percebemos na
perscrutação dos romances de 2015 que existiu pouca reverberação temática
dos problemas da sociedade brasileira, tratados de maneira tangencial, quando
muito, percebidos com um certo distanciamento. Agora é o momento de
adentrarmos nos romances de 2016, para saber se esta situação do romance
contemporâneo permanece ou está suscetível às transformações.
Repetimos aqui o critério para a seleção das obras da pesquisa anterior,
pautado não só pela temática prévia, mas pelo destaque que tiveram tanto na
crítica literária especializada quanto nos concursos literários de expressão
nacional (no caso desta pesquisa, o Prêmio Jabuti). Dos dez romances finalistas
do prêmio Jabuti de 2016, identificamos uma categoria possível de análise: cinco
romances carregam a temática da violência da ditadura militar. Estes servirão
para um corpus mínimo introdutório e ilustrativo de uma questão muito longe de
se esgotar, mas que tem um valor de discussão contemporânea no momento.
Volto semana que vem, de Maria Pilla, A resistência, de Julián Fuks,
Mulheres que mordem, de Beatriz Leal e Ainda estou aqui, de Marcelo Rubens
Paiva revisitam o tema da ditadura militar. Este olhar para um passado negro da
história brasileira se faz presentificado de acordo com o atual contexto, primeiro,
de uma necessidade emergencial de resposta ao discurso negacionista da
ditadura militar fomentado pela nova direita brasileira, segundo, para chamar
atenção ao novo golpe implementado na democracia brasileira através da
destituição da presidente Dilma Roussef, e por fim, com a militarização crescente
da sociedade e de como persiste a estrutura política e social de um militarismo
traumático, de ontem e de hoje. A intenção é perceber quais recursos estéticos
e estratégias narrativas estas obras recorrem para ficcionalizar este aspecto que
está inserido na nova era do capitalismo no Brasil. Com esta temática
contrastada com os romances analisados do ano de 2015, parece que temos um
bom portfólio para discutir uma sensível mudança da forma/temática da
produção romanesca brasileira contemporânea.
Segue abaixo resultados diretos das discussões de cada romance:
AGRADECIMENTOS
“O presente trabalho foi realizado com apoio do CNPq, Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – Brasil”. Sob o edital
PIBIC/CNPq-UEPB 2018/2019
REFERÊNCIAS
DIDI-HUBERMAN, Georges. O que vemos, o que nos olha. São Paulo: Editora 34,
2010.
HABERMAS, Jurgen. Teoria do agir comunicativo. São Paulo: Martins Fontes, 2015.
HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento. São Paulo: Editora 34, 2003.
ZIZEK, Slavoj. O sujeito incômodo: o centro ausente da ontologia política. São Paulo:
Boitempo, 2016.
APRECIAÇÃO DO ORIENTADOR
Para as atividades do discente bolsista, ao iniciar a pesquisa,
direcionamos um cronograma de leituras e encontros quinzenais em acordo com
o plano de trabalho do projeto. Os textos de leitura, tanto teóricos quanto
literários, eram escolhidos previamente, fichados e debatidos em encontro, que
duravam, em média, uma hora e meia. Relata-se aqui que o bolsista sempre
participou destas reuniões com assiduidade e participação. E vendo os
resultados constante neste relatório, acredito que sua participação efetiva foi
crucial para alcançar os objetivos traçados, sempre trazendo questões, dúvidas
e interpretações possíveis de cada texto debatido. Além do mais, o discente
sempre se mostrou solicito e atencioso com a pesquisa, o que fez com que ela
caminhasse bem dentro do cronograma traçado.
As principais dificuldades surgiram muito mais pela natureza da pesquisa
do que necessariamente pelos procedimentos. Por exemplo, a carga de leitura
foi intensa e extensa, o que nos fez repensar a questão bibliográfica para o futuro
desenvolvimento da pesquisa, já que ela tem que ser concentrada em um ano
de atividades e de bolsa.
Por fim, quero acrescentar a qualidade das discussões estabelecidas com
o discente, que se mostraram em um nível acadêmico surpreendente para a
condição de um graduado. Acredito que este estudante termina esta pesquisa
com a certeza da iniciação cientifica concluída, ou seja, os primeiros passos para
a vida de pesquisador foram dados na direção correta.
PRODUÇÃO CIENTÍFICA
Destacamos que a natureza desta pesquisa só permitiria a apresentação
em encontros científicos a partir de quando os resultados da amostra estivessem
analisados em sua integralidade, o que só ocorreu nos meados de junho de
2018. Sendo assim, somente a partir de agora podemos iniciar a apresentação
deste trabalho em congressos e demais eventos científicos.