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Desenvolvimento Profissional Docente

Aula 05
Relacionamento interpessoal

Objetivos Específicos
• Discutir os problemas do relacionamento interpessoal no âmbito educacional
e examinar suas prováveis causas e possíveis soluções.

Temas

Introdução
1 Planejamento da disciplina
2 Seleção de estratégias
3 Clima em sala de aula
4 Processo de avaliação
5 Características do professor
6 Como se relacionar
7 Ética
8 Alunos utilitaristas
9 Ensino e emoções
Considerações finais
Referências

Professora
Maria Olinda Gottsfritz Sementille
Desenvolvimento Profissional Docente

Introdução
O relacionamento interpessoal na educação do ensino superior é uma composição de
vários fatores diferentes, mas que interagem entre si e se complementam. Há os aspectos
relacionados à organização da escola, ou instituição, da organização do curso, aspectos sociais
e pessoais também (Tardif, 2011).

O estudo da relação professor-aluno é feito para que haja uma compreensão de quais
fatores propiciam uma relação saudável, que ajudam a minimizar os conflitos em sala de aula
e quais os tipos de conflitos que podem surgir.

Ao organizar o curso, é fundamental criar condições facilitadoras de aprendizagem que,


ao mesmo tempo, fortaleçam a aproximação entre o professor e o aluno e minimizem a
ocorrência de conflitos dentro da sala de aula. O relacionamento pode ser cuidado desde o
momento da organização do curso como um todo e passando até por aspectos da pessoa do
professor que precisam ser cuidados. Masetto (1992, p. 22) propõe os seguintes pontos: 1.
Planejamento do curso, 2. Definição do conteúdo do curso, 3. Seleção e utilização de
estratégias, 4. Clima de sala de aula, 5. Processo de avaliação e 6. Características do Professor.

O texto indicado para leitura desta aula é “Trabalhando as relações interpessoais”


de Jussara de Barros. O link está disponível no ambiente virtual.

1 Planejamento da disciplina
As sugestões são de compartilhar com o aluno o planejamento da disciplina, considerando
as expectativas dos alunos, seus interesses e a especificidade da disciplina, pois assim os
alunos tendem a se envolver mais com o desenvolvimento das atividades e apresentam um
comportamento mais ativo e comprometido com os objetivos combinados. Assim, definir
conteúdos que os estudantes considerem úteis, que façam parte da experiência prévia do
aluno e que atendam suas necessidades práticas propicia um aumento no interesse e na
participação.

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2 Seleção de estratégias
A seleção de estratégias pode ser decisiva na facilitação da aprendizagem: escolher
atividades variadas, além de aulas expositivas, dinâmicas, exercícios práticos individuais e em
grupos, discussões de filmes e incremento dessas possibilidades.

Segundo Bordenave e Pereira (2010), a eficácia dos meios dependerá da interação entre
eles e os alunos, aumentando tanto a receptividade como a atenção, a percepção, o interesse
e a participação ativa dos alunos, bem como a eficácia do comportamento docente do
professor, pois ampliará a abrangência da própria comunicação verbal. Alunos interessados
reforçam o comportamento de ensinar do professor e contribuem para que a interação no
processo de ensino seja mais dinâmica e agradável, facilitando o relacionamento entre aluno
e professor.

3 Clima em sala de aula


A abertura do professor para incluir o aluno ativamente no planejamento do curso
permite que o clima em sala de aula seja mais cooperativo, pois o aluno se compromete e
se sente valorizado, porque é ouvido e suas expectativas e necessidades são consideradas,
modificando possíveis resistências ao aprendizado. A possibilidade de o aluno questionar,
expressar seus pontos de vista e suas opiniões descontrai o ambiente e auxilia na ligação
entre a teoria e a prática.

4 Processo de avaliação
O processo de avaliação é um dos pontos mais sensíveis na relação professor-aluno,
porque a avaliação pode ser sentida como uma crítica e não como uma etapa na construção
de seu conhecimento. A avaliação deve estar mais voltada para identificar o que o aluno
aprendeu e não para a nota, tem um efeito mais eficiente quando é mais imediata, pois
quando a avaliação demora a ocorrer, ela perde um pouco do seu sentido. A avaliação
contínua é mais interessante, por criar um processo de realização e feedback que fortalece a
compreensão do aluno daquilo que ele precisa aperfeiçoar, daquilo que não compreendeu,
ou ainda, dos equívocos cometidos na aprendizagem.

5 Características do professor
Quais as características do professor que são facilitadoras da aprendizagem? Este é um
item importante a ser refletido, pois não são os aspectos do temperamento do professor
que importam, mas as posturas que o professor adota. Não faz diferença se o professor é
extrovertido, animado, piadista, sério ou introvertido. É esperado que mostre coerência entre

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o que fala e o que faz, que aceite ouvir os alunos e considere suas posições. Isso não quer
dizer que o professor precise se tornar passivo diante das expectativas dos alunos, mas que
os compreenda em suas demandas e, quando não concordar, possa argumentar com clareza
e objetividade.

Para que a relação do professor e aluno se estabeleça de maneira profícua, o professor


precisa ter interesse pelo aluno e o veja não só como estudante, mas como uma pessoa com
estória, interesses e questões que extrapolam o âmbito da sala de aula. E é claro, o professor
precisa gostar daquilo que faz, valorizar o conhecimento e a construção do saber, apreciar a
transformação do aluno.

O professor não precisa se apresentar como o detentor de todo o conhecimento,


alguém que tem todas as respostas e é infalível e superior. Geralmente esse tipo de postura
é interpretada como arrogância e distanciamento afetivo e não produz efeitos benéficos
para o relacionamento ou para a aprendizagem. É mais interessante mostrar interesse pelo
aprimoramento pessoal, pela busca incessante do conhecimento e assumir as possíveis
limitações inerentes a qualquer profissional.

6 Como se relacionar
É primordial estabelecer um bom contato com os alunos no início do curso; portanto, as
apresentações são necessárias e fortalecem o relacionamento, pois ter uma boa impressão
do professor motiva os alunos para a matéria.

Há várias maneiras de propor essa apresentação, desde as mais simples, com a pessoa
falar sobre si, seu trabalho e seus interesses, até utilizar dinâmicas variadas. Essas técnicas
podem auxiliar na aproximação do próprio grupo, pois é comum existirem pessoas que
estudam numa mesma turma por um tempo e que nunca tiveram uma aproximação pessoal
maior; um grupo mais coeso, mais harmonizado, no qual as pessoas se relacionem, permite
uma melhor adesão às tarefas propostas.

Conhecer os alunos pelo nome, tão logo quanto possível, é uma importante estratégia
de aproximação, pois impressiona os alunos e os faz sentirem-se importantes e reconhecidos
dentro do grupo. Masetto (1992) sugere que os professores com maior dificuldade de
apropriação criem listas com os nomes e as fotografias dos alunos como um recurso de
memorização.

Tardif (2010, p. 141) também descreve o trabalho docente como um conjunto de


interações personalizadas com os alunos, no qual o professor se envolve pessoalmente
e precisa do consentimento e assentimento deles para obter a participação no processo.
“A personalidade do professor é um componente essencial de seu trabalho”. No trabalho
docente não é possível separar o profissional do pessoal. A tentativa de trabalhar de modo
indiferente e desapegado leva a dificuldades na relação com os alunos e gera resistência no

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envolvimento do grupo. Esse tipo de relação incrementa a carga de trabalho do professor: “o


trabalhador mental carrega seu trabalho consigo: ele não pensa somente em seu trabalho (o
que a maioria dos trabalhadores faz), mas seu pensamento é, em grande parte, seu trabalho”
(TARDIF, 2010, p. 143).

Bordenave e Pereira (2010) relacionam uma série de características necessárias ao


professor. Ser um bom comunicador, usar vocábulos novos, se preocupar que os alunos
saibam os sentidos dos termos, saber provocar a atenção e o interesse propondo questões. Às
vezes o professor tem ideias organizadas de forma particular e, outras vezes, excessivamente
herméticas, de modo que não consegue sair de seu “script”. A preocupação com a velocidade
da fala, a articulação das palavras e o tom de voz são fatores importantes. Por outro lado, não
se deve confundir ser um bom comunicador com ser um bom professor. Ensinar não é apenas
transmitir, mas estimular a identificação de novos problemas e sua solução.

7 Ética
A ética do professor é um dos aspectos intrínsecos do seu trabalho. O professor de
qualquer nível de ensino precisa saber dividir a atenção que dá a cada um de seus alunos,
saber mostrar interesse por todos individualmente e independentemente da origem, do
credo, da posição social. O professor trabalha com a massa e precisa atingi-la, é claro que
supor que dará conta das necessidades singulares de cada um é inatingível, de qualquer
modo a preocupação com a equidade e respeito no tratamento deve ser uma bússola de
orientação.

A análise do trabalho docente nos mostrou que o professor não é um trabalhador que
se contenta em aplicar meios e que se comporta como um agente de uma organização:
ele é sujeito do seu próprio trabalho e ator de sua pedagogia, pois é ele que a modela,
quem lhe dá corpo e sentido no contato com os alunos (negociando, improvisando,
adaptando. (TARDIF, 2010, p. 149)

Outra dimensão da ética está na divisão do conhecimento: o professor domina um


assunto, seus códigos, suas habilidades e deve propiciar ao aluno, na interação com ele,
o acesso a esse conhecimento, inclusive através de um discurso que inclua o estudante
e não o contrário. Parece algo óbvio de se dizer, porém, nesse ponto, a vaidade trazida
pelo conhecimento detido leva alguns profissionais a se colocarem em uma posição de
superioridade – sentimento que se revela através de suas condutas e de seu discurso –, algo
ao qual alguns alunos se mostram negativamente sensíveis. Muitas vezes o próprio professor
pode não perceber sua atitude, mas com certeza ela influencia a qualidade da interação que
estabelecerá com o corpo discente.

Tardif (2011) aponta e compartilhamos de sua visão de que “ensinar é trabalhar com
seres humanos, sobre seres humanos, para seres humanos”. Compreender a dinâmica das
relações interpessoais e as pessoas é fundamental nesse processo. Atualmente o mundo

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dos jovens muda mais depressa que a escola, o que cria um descompasso na educação e
nas relações entre os jovens e os professores, dificultando o entendimento e a comunicação
entre as partes.

Na realidade, podemos colocar a hipótese de que a condição e a profissão docentes


estão atualmente em fase de mutação. Essa mutação deve-se essencialmente ao
surgimento de novas definições e à extensão de novos usos do conhecimento em
nossas sociedades pós-industriais, que modificam as missões e os papéis tradicionais
da escola em geral e dos professores em particular, afetando os fundamentos de sua
formação e de sua competência profissional, bem como as bases do ‘saber ensinar’.
Hoje fala-se até de uma sociedade ‘sobre-educada’, instruída demais, o que causa
espanto e perturbação em relação à antiga moral de instrução dos anos do pós-guerra
(Tardif, 2011, p. 143).

Ou seja, há mais mudanças ocorrendo na sociedade, nas relações, nos papéis sociais e,
consequentemente, na educação, do que a própria sociedade pode dar conta. A televisão,
a televisão a cabo, a internet e o ciberespaço estão levando a mudanças cada vez mais
consideráveis, de sorte que o impacto maior ainda está em processo.

“Os professores não podem mais se comportar como simples transmissores de


conhecimento estáveis ou invariáveis e de uma cultura eterna: a cultura escolar, como também
a cultura da sociedade, são envolvidas por um turbilhão” (Tardif, 2011, p. 145). Na verdade,
não tem sido fácil saber o que ensinar e como ensinar, nem saber o que é preciso aprender,
pois os debates realizados dentro da educação não chegam a conclusões e consensos a
respeito de quais são os blocos de competência fundamentais em cada área.

8 Alunos utilitaristas
Antigamente havia uma ideia de formar alunos com uma base de cultura geral e,
nos dias atuais, o ensino e os alunos estão mais pragmáticos, funcionam com uma lógica
mercadológica, os saberes se tornaram bens de consumo e os professores devem fazer o
marketing de vendas de suas disciplinas. Assim, muitas vezes não é o aluno que tem que
provar que aprendeu, mas o professor que precisa demonstrar sua competência e a utilidade
do que está ensinado. Nesse contexto, a moral antiga perde sua validade e tudo se relativiza.
A docência sempre foi uma profissão de “inculcar” valores, educar para o bem comum e,
para tanto, o professor era um profissional valorizado pela ética não só de sua atividade, mas
também de sua conduta.

Enquanto, outrora, os professores dispunham de um ‘saber magistral’ (teologia, filosofia,


racionalismo, pedagogia, ciência, valores estáveis, etc.) que definia a natureza do ensino, do
professor e do aluno, atualmente os professores não dispõem mais de tal recurso simbólico
para legitimar sua ação. Pelo contrário, o etnopluralismo, o relativismo cultural, a dispersão
dos valores, a dificuldade de definir uma formação fundamental, a desqualificação progressiva

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dos conhecimentos escolares, tudo isso faz com que os professores assumam, por si mesmos,
contradições insolúveis, em um mundo de ‘certezas mortas’ (Hargreaves apud Tardif, 2011).

Hoje falta aos profissionais do ensino, e aos de outras áreas, normas que lhes sejam
comuns, não há visão ética do mundo compartilhada por eles e vive-se sob a arbitrariedade
econômica e a sua lógica. A preocupação em voga é de racionalizar o ensino e torná-lo
instrumental e eficiente.

9 Ensino e emoções
Como ensinar implica relacionar-se, essa é uma profissão na qual se lida com as delícias
e os dissabores das relações humanas. Tanto é possível obter a satisfação de ser estimado e
valorizado como se sentir mal compreendido e hostilizado. As relações entre professores e
alunos é antes de tudo uma relação afetiva e de grande relevância para os seus pares. Tanto
o aluno gosta de se sentir estimado e percebido pelo professor, como o professor aprecia
ser procurado pelo aluno, sentir-se uma referência, ser valorizado. Contudo, as relações
são potencialmente confusas e levam a dilemas no exercício dos papéis e nas tomadas de
decisão. O professor não pode perder de vista que seu papel por excelência o de ensinar e
fazer aprender.

O professor “antipático”, aquele que é descrito como chato, difícil, instável pela maioria
dos alunos, é um professor que precisa rever suas motivações pessoais, suas questões
interiores, pois pode causar prejuízo as possibilidades de desenvolvimento de seus alunos.
O professor não tem obrigação de ser simpático, mas precisa propiciar, ou pelo menos não
impedir, que os alunos se aproximem da disciplina, de seu conteúdo, pois é praticamente
certo que se o aluno não gostar do professor, ele não apreciará a matéria e não dispensará a
ela a atenção que talvez seja necessária. Isso vale em qualquer fase do aprendizado, mesmo
para adultos. Ninguém é perfeito, inclusive o professor, mas é imperioso que os “mal-amados”
ou “insatisfeitos” trabalhem essas questões fora do âmbito da aula, protegendo o espaço da
aprendizagem.

É claro que nenhum professor, salvo poucas exceções, será igualmente querido por
todos os alunos, e esse não deve ser o objetivo do professor, com o risco de ele distorcer
seu papel. O cuidado está em não sustentar atitudes e posições claramente hostis frente ao
aluno. É comum relatos de alunos sobre professores que entram na sala de aula dizendo,
no primeiro dia, que são chatos mesmos e que os alunos terão de aguentá-los. Ora, qual é
a motivação desses professores para provocar a antipatia? Quais são as vantagens? Terá o
professor dificuldade no estabelecimento de relações interpessoais e as evita desse modo?

Não existe relação típica, uniforme e universal dos professores com os alunos. Muito
pelo contrário, essa relação geralmente varia de um professor a outro e depende
de múltiplos fatores: idade, nacionalidade e sexo dos professores e dos alunos,
recursos disponíveis, dificuldades das turmas, número de alunos por classe, situação

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socioeconômica dos alunos, matéria ensinada, momento da carreira, época do ano,


etc., tudo isso influencia de uma maneira ou de outra a relação professor/alunos
(Tardif, 2011, p. 160).

A questão das relações humanas é que elas nunca se repetem, cada turma tem variáveis
próprias que interferem no clima de sala de aula. Não é como num tubo de ensaio, o humano
é uma variável que sempre se altera.

Estudar a relação professor-aluno é muito importante. Sobretudo porque ela é que


responde em boa parte pelo chamado aprendizado não intencional. Com efeito, os
alunos aprendem muitas outras coisas além daquelas que os professores esperam que
aprendam. Isto porque os professores também ensinam outras coisas além daquelas
que se propõem ensinar. O que o professor ensina sem querer ensinar e que os alunos
aprendem sem querer aprender, por sua vez, pode representar o mais importante e
mais permanente produto do processo ensino-aprendizagem. E isto depende, em boa
parte, do tipo de relação que se estabelece entre professor e aluno (Gil, 2012, p. 58).

Considerações finais
O relacionamento interpessoal é uma “ferramenta” de trabalho que precisa sempre de
ajustas; aceitar isto é um dos primeiros passos que o professor necessita dar. Os ajustamentos
não são muitas vezes superficiais, mas podem requerer uma autoavaliação e uma crítica
interior do professor. Para ensinar o professor precisa sempre aprender, inclusive do ponto
de vista pessoal. É isso que torna a docência um desafio constante e maravilhoso.

Referências
BORDENAVE, J.D. e Pereira, A.M. Estratégias de Ensino-Aprendizagem. Petrópolis: Vetor, 2010.

GIL, A.C. Didática do Ensino Superior. São Paulo: Atlas, 2012.

MASETTO, M. T. Aulas Vivas Tese (e Prática) de Livre Docência. São Paulo: MG Editores
associados, 1992.

TARDIF, M. Saberes Docentes e Formação Profissional. São Paulo: Editora Vozes, 2010.

_____. O trabalho docente: elementos para uma teoria da docência como profissão de
interações humanas. São Paulo: Vozes, 2011.

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