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Aula 07
Titularidade
A ação de iniciativa privada se diferencia da ação pública no que tange ao direito de agir, uma
vez que, esse direito, na ação privada, é dado ao particular.
Nesse tipo de ação, o Estado transfere ao ofendido ou ao seu representante legal a legitimidade
para propor a ação penal.
O ofendido se dirige ao órgão jurisdicional para ver sua pretensão ser satisfeita, não só com o
objetivo de punição do autor do fato mas, como uma forma de voltar-se ao interesse social, com
a preocupação de punição para aqueles que infringem o dispositivo penal.
Trata-se de legitimação extraordinária e foi conferida essa legitimidade ao ofendido por razões
de política criminal.
Ação penal privada propriamente dita: é aquela que só pode ser exercida pelo ofendido ou por
seu representante legal, e, no caso de morte do ofendido ou declarada a sua ausência, por
qualquer uma das pessoas elencadas no artigo 31 do Código de Processo Penal, quais sejam:
cônjuge, ascendente, descendente e irmão, os quais poderão prosseguir na ação penal já
instaurada.
Ação penal privada subsidiária da pública: iniciada através de queixa quando embora se trate
de crime de ação pública, o Promotor não tenha oferecido a denúncia no prazo legal.
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Nesse caso, a ação penal é originariamente de iniciativa pública mas, o Ministério Público não
promove a ação penal no prazo estabelecido pela lei, e, por isso, o ofendido ou o seu
representante legal poderão de forma subsidiária ajuizá-la. Previsão feita no art. 5º, LIX CRFB/88.
Ação privada personalíssima: O Ilustre Promotor de Justiça, Fernando Capez, afirma que a “Sua
titularidade é atribuída única e exclusivamente ao ofendido, sendo o seu exercício vedado até
mesmo ao seu representante legal, inexistindo, ainda, sucessão por morte ou ausência”.
1) Da oportunidade ou conveniência: significa que a vítima não está obrigada a promover a ação
penal, mesmo estando presentes as condições necessárias para a propositura da ação.
Logo, o ofendido tem a faculdade de propor a ação penal, se for de seu interesse, de
acordo com a sua conveniência e oportunidade. E assim, o ofendido opta pela impunidade ou
por dar publicidade ao fato que gerou a infração penal e que infringiu a vida íntima dele.
2) Da Disponibilidade: entende que se o ofendido decidir ingressar com uma ação penal contra
o autor do fato, aquele poderá a qualquer tempo desistir do prosseguimento do processo, ou
seja, o ofendido é quem decide se quer prosseguir até o final.
Essa disponibilidade pode se dar de duas formas, quais sejam, pela perempção ou pelo
perdão do ofendido, que são causas de extinção da punibilidade.
3) Da Indivisibilidade: tem previsão expressa no artigo 48 do Código de Processo Penal: "A queixa
contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos, e o Ministério Público
velará pela sua indivisibilidade.”
O Estado dá ao ofendido a possibilidade de propositura da ação penal, mas, com base
nesse princípio, o ofendido não tem a faculdade de propor a ação penal em face de apenas um
autor do fato, quando, na verdade, existiu mais de um agente na infração penal.
4) Da Intranscendência: decorre do Artigo 5º, inciso XLV, da Constituição Federal e diz respeito
ao fato de que a ação penal só deve ser proposta contra aquela pessoa que praticou a infração
penal.
*Vale salientar que, os princípios norteadores são aplicáveis a todos os tipos de
ação privada, com exceção do princípio da disponibilidade que não é aplicado às ações privadas
subsidiárias da pública.
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Decorrem Do Princípio Da Disponibilidade
A renúncia acontece na ação penal privada, mas não ocorre na pública condicionada a
representação.
b) Perdão – O perdão do ofendido não obsta o prosseguimento da ação, acontece após a queixa,
isto é, durante o processo (art.51 CPP e art. 105 CP)
É um ato bilateral, pois o ofendido pode perdoar e o Acusado pode ou não aceitar o
pedido do perdão.
Porém, se for o caso de diversos agentes e um dos agentes não aceitar o perdão, contra
ele o perdão não surtirá efeito. Sendo certo que, com relação aos demais serão automaticamente
perdoados.
Isto ocorre, uma vez que a lei não pode retirar do outro agente o direito de prosseguir
na ação penal, com a finalidade de provar a sua inocência.
Outrossim, se a lei obrigasse os demais agentes a aceitarem o perdão, ela estaria
retirando o caráter da bilateralidade existente no referido instituto.
Assim como a renúncia, o perdão vale para todos.
Aqui também temos o perdão expresso ou tácito.
c) Perempção - revela sanção à parte desidiosa que não movimenta o processo (art.60 CPP)
Na ação privada, e somente nela, pode ocorrer a perempção, que gerará efeitos de
extinção da punibilidade, nos termos do Artigo 107, Inciso IV do Código Penal.
Ocorre depois do início da ação penal.
QUEIXA-CRIME
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Prazo Para Queixa-Crime
Prazo para queixa-crime: nos termos dos arts. 103 do CP e 38 do CPP, a parte decai do direito de
queixa após seis meses a contar da data em que descobre a autoria do delito.
Esse prazo é para o oferecimento de queixa junto ao juízo, fazendo-se necessário orientar
a vítima nesse sentido, pois o requerimento à Autoridade Policial para instauração de inquérito,
não suspende o referido prazo.
No caso de morte do ofendido (art.31CPP) = os representantes terão o mesmo prazo para ofertar
a queixa à partir da data em que qualquer dos representantes houver tomado conhecimento da
autoria da conduta.
A Súmula 594 do STF dispõe que se o ofendido for menor, teremos dois prazos, ou seja, o prazo
será autônomo de 6 meses a partir da data em que completa 18 anos.
Na ação penal privada o MP atua como fiscal da lei (custos legis), no sentido de serem observados
os procedimentos legais e os direitos das partes.
Aditamento Na Queixa-Crime
Prazo: 03 dias contados da data em que o MP receber os autos – se este não se pronunciar dentro
do prazo – entender-se-á que o MP não tem o que aditar, e o processo prosseguirá (art. 46 §2º
CPP).
Condições de aditamento: na ação penal privada só pode aditar para acrescentar circunstâncias
que possam influir na caracterização do crime, sua classificação ou fixação da pena.
Rejeição Da Queixa-Crime
A queixa poderá ser rejeitada, na forma do artigo 395 do Código de Processo Penal, quando:
a)For manifestamente inepta;
b)Faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal;
c)Faltar justa causa para o exercício da ação penal.
Se o querelante oferecer queixa que não abranja todos os ofensores, esta deverá ser rejeitada.
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Entende-se que, neste caso, houve renúncia tácita no tocante aos não incluídos e a renúncia
tácita, sendo causa extintiva da punibilidade, se comunica a todos os querelados, como expresso
no art. 49 CPP.
O Professor Mirabete entende que esta rejeição da queixa somente é cabível se a não-
inclusão de algum ofensor pelo querelante for voluntária.
• fraude à execução;
• concorrência desleal;
• exercício arbitrário das próprias razões, desde que praticado sem violência.
Ação penal privada personalíssima caracteriza-se quando somente o ofendido pode propor a
ação mediante queixa.
Ex.: Art. 236, § único (induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento).
Não há a possibilidade dos representantes legais do ofendido promover a ação penal, sendo
inclusive causa de extinção da punibilidade a morte do ofendido, o que não está prevista no art.
107 do CP.
Sabe-se que o primeiro requisito para o direito de queixa é a legitimação para o exercício da ação
penal privada.
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É fato impeditivo, para o caso do artigo 236 do Código Penal, a inexistência de sentença
transitada em julgado, que, em razão de erro ou impedimento, anule o casamento.
A ação penal privada pura admite o instituto da sucessão processual. Logo, se a vítima falecer, o
processo poderá iniciar ou prosseguir através dos familiares.
A Ação Civil Ex Delicto pode ser definida simploriamente como uma ação ajuizada na esfera cível,
requerendo a indenização de dano moral ou material juridicamente reconhecido em infração
penal.
Portanto, tal ação somente caberá nas hipóteses em que a repercussão da infração penal
também atingir a esfera da responsabilidade civil.
Apesar da legislação penal não tratar o tema de acordo com sua amplitude e relevância, o CP
prevê em seu art. 91, I, a obrigação de reparação do dano quando houver condenação.
Nesse sentido, a legislação inclusive incentiva, através de concessão de benefícios aos agentes,
a reparação dos ofendidos, conforme hipóteses citadas abaixo:
1 - Causa de diminuição da pena quando o agente repara o dano ou restitua a coisa ao
ofendido (art. 16 CP);
2 - Reparação de dano como atenuante genérica (artigo 65, III, b CP);
3 - Substituição das condições genéricas da suspensão condicional da pena por condições
específicas (art. 78,§2º CP);
4 - Reparação do dano como condição para a concessão do livramento condicional, salvo
impossibilidade efetiva (artigo 83, IV CP);
5 - Condição para a reabilitação (artigo 94, III CP);
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6 - Extinção de punibilidade no caso de peculato culposo, quando o dano é ressarcido
(artigo 312, § 3º CP).
Contudo, o Código de Processo Penal ao tratar deste tipo de ação prevê meios mais eficazes para
a vítima buscar a reparação, além de prever a utilização do sequestro, da busca e apreensão, do
arresto e da hipoteca legal.
Espécies de Reparação
(a) Restituição - é a espécie de reparação mais simples. Consiste na restituição da coisa, caso a
lesão do bem jurídico se constitua na privação de um objeto (por exemplo, em casos de furtos).
O pedido de restituição de bem pode ser requerido na própria instância criminal, por
meio de incidente de restituição de coisas apreendidas, na hipótese de o bem já ter sido
apreendido e de não haver dúvida quanto à sua propriedade.
(c) Reparação - será cabível quando o dano não for ressarcível em espécie, ou seja, quando não
puder ser estimado em dinheiro, por sua natureza não patrimonial, com o intuito de confortar a
dor sofrida pelo ofendido.
(d) Indenização - figura como um meio de compensação por dano causado por ato ilícito
praticado pelo Estado.
Como exemplo, podemos citar a absolvição em revisão, em que o Estado tem o dever de
indenizar o interessado pelos danos sofridos (artigo 630 do CPP).
Em que pese a classificação citada, a própria legislação, e aqui inclui-se a Constituição Federal,
não a obedece, definindo como indenização (termo genérico) qualquer pedido ressarcitório ou
reparatório.
Perceba-se que no caso de óbito ou ausência a lei não se limita ao cônjuge, ascendentes,
descentes de irmãos, e sim a todos os herdeiros.
O MP pode entrar com a ação no caso de vítima pobre, onde não houver defensoria pública.
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Legitimidade passiva: autor do crime ou responsável civil. No Juizado Especial, se o responsável
civil fizer parte do acordo, a sentença homologatória será título executivo contra sua pessoa.
A jurisprudência majoritária entende que o responsável civil, na ação ex delicto pode usar
qualquer argumento, até mesmo a negativa de autoria ou inexistência do fato, o que seria
impossível ao autor do crime.
Isso ocorre porque o responsável não participou da ação penal e não pode ser tolhido de sua
defesa.
Ex: dono de empresa de ônibus que está sendo processado civilmente por atropelamento
causado culposamente por um de seus motoristas.
Sistema da livre escolha: o autor escolhe se vai demandar a reparação na esfera cível ou
na penal.
Hoje no Brasil existe a regra que a sentença penal pode arbitrar o valor mínimo de indenização,
que é liquido e executável na esfera cível (art. 387, IV CPP).
Percebe-se uma tentativa de adoção do sistema da confusão, pois as pretensões cível e
penal estariam veiculadas na mesma ação, desde que haja pedido nesse sentido.
Suspensão da demanda civil: o juiz cível pode suspender a ação visando aguardar o resultado
do processo criminal, essa suspensão pode ocorrer até mesmo antes do processo criminal ter
início, sendo que prosseguirá se a ação penal não tiver início em 3 (três) meses – art. 315 § 1º
CPC.
Proposta a ação penal, o processo ficará suspenso pelo prazo máximo de 01 (um) ano – art. 315
§ 2º CPC.
Corrente majoritária, inclusive o STJ entende que a suspensão é uma faculdade do juiz.
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Execução Da Sentença Condenatória Penal - Ação Civil “Ex Delicto”
Execução da sentença condenatória penal: a sentença penal que arbitre valor mínimo de
indenização é título executivo judicial no cível, podendo ser liquidada, caso o juiz criminal não
defina o valor, ou caso a vítima entenda que o valor seja insuficiente.
Se houver fiança, a vítima pode pedir o levantamento em seu favor, numa verdadeira execução
na esfera penal.
O STJ entende que a sentença concessiva de perdão judicial, não pode ser executada, pois
meramente declaratória.
Havendo extinção da pretensão punitiva também não cabe execução, sendo ela possível quando
houver extinção da pretensão executória, pois nesse caso os efeitos secundários da sentença são
preservados.
Absolvição pela prova de inexistência do fato: não haverá responsabilidade penal nem cível,
pois a infração inexistiu.
O pedido de arquivamento, pelo MP, do inquérito ou das peças de informação, não impede a
ação cível.
Não houver prova de existência do fato: leva a absolvição, pois in dubio pro reo, mas nada
impede a discussão na esfera cível.
Não constituir o fato infração penal: mesmo não sendo infração penal, pode constituir ilícito
civil, cabendo indenização.
Estar provado que o réu não concorreu para a infração: havendo certeza de negativa de autoria,
não cabe indenização.
Não existir prova de ter o réu concorrido para a infração: a dúvida ocasiona a absolvição, mas
isso não impede a discussão na esfera cível.
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Existir circunstância que exclua o crime ou isente o réu de pena, ou mesmo se houver fundada
dúvida sobre sua existência: havendo excludentes de ilicitude, isso impede o ajuizamento de
ação indenizatória.
Excepcionalmente pode subsistir a indenização: deterioração ou destruição de coisa alheia,
quando o causador do perigo não é o dono da coisa (mesmo absolvido na esfera penal, terá de
indenizar, tendo ação regressiva contra o causador do perigo); legítima defesa putativa ou
aberratio ictus (erro de alvo); excludentes de culpabilidade.
Não existir prova suficiente para a condenação: não impede a ação cível.
Revisão criminal e ação rescisória: havendo revisão criminal procedente, ela desaparece com a
sentença condenatória transitada em julgado, impedindo o início da execução no cível ou
eliminando a já iniciada. Cabe restituição já tiver havido o pagamento.
Prazo Prescricional: começa a correr com o trânsito em julgado da sentença criminal e prescreve
em 3 anos – art. 206 § 3º, V CC.
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