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UNIVERSIDADE PAULISTA

LICENCIATURA EM LETRAS PORTUGUÊS - ESPANHOL

O adolescente de 14 a 17 anos: O papel da escola e da família no gosto pela leitura

Alexandra Carolin Rodriguez Antivero

Atibaia -SP
2014
ALEXANDRA CAROLIN RODRÍGUEZ ANTIVERO– RA 1204357

O adolescente de 14 a 17 anos: o papel da escola e da família no gosto pela leitura

Trabalho de Con clusão de Cu rso para


obtenção do títu lo de graduação em
Let ras Português – Espanhol
apresentado a Universid ade Pau li sta -
UNIP –

Ori entador: Prof. Rod rigo Faqueri

Universidade Paulista

Atibaia – SP – 2014
Alexandra Carolin Rodriguez Antivero

O adolescente de 14 a 17 anos:
O papel da escola e da família no gosto pela leitura

Trabalho de Conclusão de Curso


para obtenção do título de
Graduação em Letras
apresentado à Universidade
Paulista – UNIP.

Aprovado em:

BANCA EXAMINADORA
_______________________/__/___
Prof.
Universidade Paulista – UNIP
_______________________/__/___
Prof.
Universidade Paulista – UNIP
_______________________/__/___
Prof.
Universidade Paulista UNIP
Antivero, Alexandra Carolin Rodriguez.
....O adolescente de 14 a 17 anos : O papel da escola e da família no gosto
pela leitura. / Alexandra Carolin Rodriguez Antivero. - 2014.
....114 f. : il. color.

....Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) apresentado ao curso de


Letras da Universidade Paulista, Atibaia, 2014.

....Orientador: Prof. Rodrigo Faqueri.

....1. leitura. 2. adolescentes. 3. gosto. 4. escola. 5. família. I. Faqueri, Prof.


Rodrigo (orientador). II. Título.
Agradecimentos

Agradeço primeiramente a Deus, por ter permitido que chegara até aqui. Por tudo o que vivi,
pelas mudanças incluída a mudança do meu país para o Brasil, pela família preciosa, pelos
amigos que tenho e pelas oportunidades que surgiram.
Meus agradecimentos são em especial ao meu marido Ricardo e ao meu filho Felipe, meus
amados, por suportar as horas que passava perante o computador, estudando, lendo,
escrevendo, tentando. Perdão por tantos domingos brincando sozinhos!
À minha irmã Nancy e à minha mãe Ezilda, que mesmo estando longe sempre me
incentivaram. Agradeço aos meus amigos queridos Fabiano e Eliana que me ajudaram na
revisão do texto. Ao meu querido colega de curso Ricardo Miranda, que mesmo virtualmente
norteou meu trabalho, esclarecendo dúvidas e questionando minhas escolhas. Também para a
escola EIPG na pessoa da Coordenadora que me abriu as portas para aplicar o questionário e
claro, aos adolescentes que responderam minhas perguntas.
Agradeço ao professor orientador Rodrigo Faqueri da UNIP que me mostrou o que faltava
para desenvolver este trabalho da melhor forma.
Resumo

Muitos adolescentes não sentem prazer na leitura. Por quê? Será que se perdeu a prática da
leitura com a chegada massiva da tecnologia? As pesquisas afirmam que o jovem lê menos.
Muitos professores, perguntam-se com frequência, quais são os fatores que provocam que o
estudante não leia e mal consiga interpretar aquilo que lê. A sala de professores é celeiro deste
tipo de comentários! Muitas vezes pensa-se que é um comentário típico de um professor de
Literatura ou de Língua Portuguesa, mas, não é. Podemos ouvir isto dos professores de
Matemática, Química, Espanhol entre outros.
Perante esta situação surgem perguntas. Como obter êxito na leitura? Qual é o papel que a
escola e a família exercem no gosto pela leitura nos adolescentes de 14 a 17 anos. Será que
ainda não se achou a fórmula da leitura?
Este trabalho busca encontrar algumas respostas a esta questão mostrando detalhes da prática
de leitura entre os adolescentes que frequentam a escola escolhida. Para isso se apresenta um
levantamento exploratório feito na EIPG, escola particular da cidade de Atibaia – SP com
adolescentes entre 14 e 17 anos. Os dados foram coletados entre agosto e outubro de 2014 na
escola através do uso combinado de um questionário respondido por 61 alunos, a observação
em sala de aula e conversas. Seguindo a ordem das perguntas feitas no levantamento, a análise
dos dados mostra que:
1. o adolescente escolhe por iniciativa própria a leitura de best-sellers;
2. tem dificuldade com os textos que a escola indica, seja pela falta de interesse no tema ou
pela parte linguística e que lhe provoca inquietação a obrigatoriedade da leitura;
3. se generaliza de forma equivocada dizendo que o adolescente não lê, não levando em
consideração a prática de leitura que ele faz por própria iniciativa;
4. o exemplo da família exerce um papel fundamental no gosto pela leitura;
5. a escola também exerce papel importante como incentivadora e o adolescente o reconhece.
Palavras chaves: leitura, adolescentes, gosto, escola, família.
Resumen

Muchos adolescentes no sienten placer en la lectura. ¿Por qué? ¿Será que se perdió la práctica
de la lectura con la llegada masiva de la tecnología? Los sondeos afirman que el joven no lee
como antiguamente.
Muchos profesores se preguntan con frecuencia cuáles son los factores que provocan que el
estudiante no lea y mal logre interpretar aquello que lee. ¡La sala de profesores es un granero
de ese tipo de comentarios! Muchas veces se piensa que este es un comentario típico de un
profesor de Literatura o de Lengua Portuguesa, pero, no lo es. Se puede oír esto de los
profesores de Matemáticas, Química, Español, entre otros.
Delante de esta situación preguntas. ¿Cómo tener éxito en la lectura? ¿Cuál es el papel que la
escuela y la familia ejercen en el gusto por la lectura en los adolescentes de 14 a 17 años?
¿Será que todavía no se encontró la fórmula de la lectura, si es que existe?
Este trabajo busca algunas respuestas para estas preguntas mostrando detalles de la práctica
lectora entre los adolescentes. Para eso se presenta una pequeña encuesta hecha en EIPG,
escuela particular de la ciudad de Atibaia – SP con adolescentes que tienen entre 14 y 17
años. Los datos fueron recogidos entre agosto y octubre de 2014 en la escuela, usando la
combinación de un cuestionario respondido por 61 alumnos, la observación en el salón de
clase y conversaciones informales con los adolescentes. Siguiendo el orden de las preguntas
hechas en la encuesta, el análisis de los datos muestra que:
1. el adolescente elige por iniciativa propia la lectura de best-sellers;
2. tiene dificultad con los textos que la escuela le indica, sea por la falta de interés en el tema
o por la parte lingüística y que le provoca inquietud la obligación de lectura.
3. se generaliza de forma equivocada diciendo que el adolescente no lee, no tomando en
consideración la práctica de lectura que hace por iniciativa propia.
4. el ejemplo de la familia ejerce un papel fundamental en el gusto por la lectura.
5. la escuela también ejerce papel importante como incentivadora y el adolescente lo
reconoce.
Palabras clave: lectura, adolescentes, gusto, escuela, familia
Abstract

Many teenagers don´t take pleasure in reading. Why? Is it because of loss of practice due to
the massive influx of technology? Research confirms that young people read less.
Many teachers often ask themselves, what are the factors that cause the student not to read
and barely be able to interpret what they read. The staff room is full of these questions!
Often it is thought that it is a typical com ment coming from a Portuguese or literature
professor, but it isn’t. We hear those comments from Math, Chemistry, and Spanish teachers
among others.
Questions arise due to this situation. How do you become successful at reading? What is the
role that school and family play in the love of reading among adolescents 14-17 years old?
Have they still not found a formula?
This research seeks to find some answers to this question by showing details of the practice of
reading among teenagers attending school. For this purpose, a survey was done in an
exploratory way by EIPG, a private school in the city of Atibaia - SP with teenagers between
14 and 17 years old. Data were collected between August and October 2014 at the school,
through a combination of a questionnaire answered by 61 students, classroom observation,
and personal interviews. Following the order of the questions asked in the survey, the data
analysis shows that:
1. the majority of students are inclined to pick and choose by their own initiative, bestselling
books.
2. texts indicated by the school cause difficulty on the students, either by lack of interest in the
subject or linguistic difficulty plus the stress forced on the student due to forced reading.
3. generalizes wrongly saying that the teenager does not read, not taking into account the
practice of reading that he does on his own initiative, by themselves
4. the role of the family regarding reading interest.
5. the school also plays an important role as supportive for the reading and the teenager
recognizes
Key words: reading, teenagers, like, school, family.
Lista de gráficos e tabelas

Gráfico I – Livros lidos no ano. 29


Gráfico II – Leitores de 6 ou mais livros por idade em porcentagem. 30
Gráfico III – Livros lidos (pedidos pelo Professor). 31
Gráfico IV – Tipo de leitura preferido. 34
Gráfico V – Leitores de revistas, jornais e gibis e o prazer da leitura X leitores de
livros e o prazer da leitura. 35
Gráfico VI – Gosto dos livros que... 36
Gráfico VII – Leitura dos textos literários. 38
Gráfico VIII – Quando gostou da leitura de paradidáticos / literários 39
Gráfico IX – Incentivo para a leitura 41
Gráfico X – Leitura x prazer 42
Gráfico XI – Prazer da leitura ao longo dos anos 45
Gráfico XII – Papel da escola no incentivo à leitura 47
Tabela I – Referente à pergunta: Quantos livros você lê no ano? 29
Tabela II – Referente à pergunta: Dos livros que o Professor pediu; quantos você leu? 31
Tabela III – Referente à pergunta: Qual é o seu tipo de leitura preferido? 33
Tabela IV – Referente à pergunta: De quais livros você gosta mais? 36
Tabela V – Referente à pergunta: Quando falamos de textos literários clássicos você... 37
Tabela VI – Referente à pergunta: Quando você mais gostou de ler livros
paradidáticos / literatura clássica? 39
Tabela VII – Referente à pergunta: Quem te incentivou a ler ou a quem você observava
lendo durante a infância? 40
Tabela VIII – Referente à pergunta: A leitura é um ato prazeroso? 42
Tabela IX – Referente à pergunta: Você considera que o prazer obtido através da
leitura ao longo dos anos... 43
Tabela X – Referente à pergunta: Você considera que as escolas em geral exercem
o papel de incentivadoras da leitura? 46
Sumário
INTRODUÇÃO 10
CAPÍTULO 1 – ARTICULAÇÃO TEÓRICA 13
1.1 A importância da leitura 13
1.2 O papel da escola 15
1.3 O papel da família 16
1.4 O adolescente e a tecnologia 17
1.5 A leitura no Brasil 20
1.6 A visão dos órgãos públicos sobre a leitura – Políticas Públicas no Brasil 22
CAPÍTULO 2 – A PESQUISA – ESTUDO DE CASO 24
2.1 Metodologia 24
2.2 A coleta dos dados 25
2.3 A Escola 26
CAPÍTULO 3 – RESULTADO E ANÁLISE 29
3.1 Resultados 29
3.2 Análise dos dados 36
Conclusão 48
Referências 51
Apêndices 53
Questionário original 53
Questionários respondidos pelos adolescentes 54
10

INTRODUÇÃO
A leitura faz parte do cotidiano do individuo. Diariamente está presente em
diferentes espaços e ao alcance dos olhos de forma tal que muitas vezes não se lhe dá a
devida importância. Destinos de ônibus, propaganda publicitária nos diferentes meios de
transporte, placas de ruas, outdoors, ofertas de produtos na frente de lojas, jornais e revistas
nas bancas, entre outros são os que o individuo tem ao seu alcance sem esforço.
O livro é um elemento de vital importância na e para a sociedade. É através dele que
a sociedade e o individuo se desenvolvem. É um grande representante da cultura.
Historicamente o livro atendia grupos minoritários até que alcançou a sociedade em geral, e
assim, “O livro popularizado modificou a educação, democratizou a informação e o
conhecimento.” (ROCHA, 2005, p. 4).
A partir dessa popularização a leitura tem sido estudada na sua relação com o leitor,
fato fundamental para que exista. “A obra literária que, até então, era entendida na sua relação
com uma época, uma vida, um inconsciente ou uma escrita é repentinamente considerada em
relação àquele que, em última instância, lhe fornece sua existência: o leitor.” (JOUVE, 2002,
p. 11)
Sem a participação do leitor o texto escrito não apresenta aquele diálogo com o
interlocutor, com quem troca sentidos e significações que revelam o sentido que o autor
colocou ao escrever. Umberto Eco afirma que
O texto está, pois, entremeado de espaços brancos, de interstícios a serem
preenchidos, e quem o emitiu previa que esses espaços e interstícios seriam
preenchidos e os deixou brancos por duas razões. Antes de tudo, porque um texto é
um mecanismo preguiçoso (ou econômico) que vive da valorização de sentido que o
destinatário ali introduziu; (...). Em segundo lugar, porque à medida que passa da
função didática para a estética, o texto quer deixar ao leitor a iniciativa
interpretativa, embora costume ser interpretado com uma margem suficiente de
univocidade. Todo texto quer que alguém o ajude a funcionar. (ECO, 1986, p. 37)

Autor e leitor dialogam constantemente, construindo assim os diferentes significados


do texto. O papel do leitor é sempre ativo, pois, ele forja sua relação com o texto.
“O leitor não é passivo, ele opera um trabalho produtivo, ele reescreve. Altera o
sentido, faz o que bem entende, distorce, reemprega, introduz variantes, deixa de
lado os usos corretos. Mas ele também é transformado: encontra algo que não
esperava e não sabe nunca aonde isso poderá leva-lo.” (PETIT, 2008, p. 28, 29)

A leitura desenvolve e alimenta no leitor habilidades próprias como a capacidade de


decodificar, entender e refletir sobre o texto e compartilhar sua experiência de vida, seus
conhecimentos de mundo adquiridos ao longo de sua caminhada seja esta curta ou longa.
11

“No momento em que inicia a leitura, o leitor coloca em ação não apenas a capacidade de
decodificar, mas também todo o conhecimento e a experiência construídos em sua vivência
cultural e social. (KUPSTAS,1998, p.60)
Ao mesmo tempo, ser leitor é uma decisão. Esta não pode ser imposta ou pressionada.
O leitor tem seu tempo e sua decisão é natural e absoluta. Não adianta forçar a ler a quem
decidiu não gostar de leitura. Ele tem que identificar a leitura como um ato de prazer e não
como uma obrigação imposta pela família, escola ou sociedade a qual pertence.
“Para ser leitor é preciso desejar. Para desencadear esse desejo é preciso mostrar que
a leitura e as histórias são isentas de obrigações e podem estar ligadas ao prazer. Não
se pode impor o gosto por alguma coisa, mas sim possibilitar que as pessoas
conheçam e, então, tenham direito de escolha para experimentar, se apropriar e
gostar. Entrar em contato com os livros passa por um percurso, requer um
desenvolvimento, leva tempo...” (WADA, 2004, p. 40)

Segundo pesquisas a leitura tem sido deixada de lado. Pais, professores, pesquisas em
geral dizem que o adolescente não lê como antigamente. Será que ele lê de forma diferente?
Será que ele ainda lê algum tipo específico de gênero? Será que a leitura lhe provoca prazer?
Qual é o papel da escola e da família no incentivo à leitura?
Sabemos que em geral o gosto pela leitura tem varias raízes. Uma delas é a família.
Esta exerce uma grande influência tanto positiva quanto negativamente. A escola também tem
um papel fundamental neste quesito. As que de diferentes formas estimulam a leitura ajudam
na formação cultural dos estudantes, valorizando e aumentando seu pensamento crítico. Quem
lê bastante, escreve melhor, tem melhor vocabulário, têm mais informações para argumentar e
defender determinadas posições, fala melhor. Em fim, tem mais ferramentas perante os
desafios profissionais e pessoais já que a leitura é a ferramenta por excelência para isto.
As mudanças culturais que a sociedade e consequentemente o adolescente tem passado
também influenciam neste afastamento com relação à leitura. Os avanços tecnológicos
ocorridos nos últimos vinte anos fizeram com que o adolescente viva essa mudança no seu dia
a dia e em todos os aspectos da sua vida. Tudo o que quer é obtido com um click, desde as
informações mais difíceis até as mais simples. Muitas amizades são virtuais, a interação é
através de jogos via rede, filmes em 4D.Tudo é muito rápido e a tecnologia sempre está
presente.
A leitura por sua vez é o oposto. É necessária a interação consciente e plena, o
pensamento, o uso da imaginação para descobrir os detalhes do texto. Para muitos jovens isto
é fonte de prazer enquanto que para outros se torna um desafio extenuante que não estão
dispostos a cumprir. Como afirma Iser (1999) no seu livro O Ato da Leitura:
12

O autor e o leitor participam, portanto de um jogo de fantasias; jogo que


sequer se iniciaria se o texto pretendesse ser algo mais do que uma regra de jogo. É
que a leitura só se torna um prazer no momento em que nossa produtividade entra
em jogo, ou seja, quando os textos nos oferecem a possibilidade de exercer as nossas
capacidades. (ISER, 1999, p. 10)

Assim, para que a leitura seja produtiva deve haver dedicação e interação entre leitor e
autor. Usando sua experiência de vida e seus conhecimentos adquiridos o leitor conseguirá
dar sentido ao texto escrito.
O objetivo deste levantamento foi obter dados sobre os hábitos de leitura dos
adolescentes de 14 a 17 anos e assim mostrar a realidade da leitura entre eles através de um
questionário realizado com alunos de uma escola particular da cidade de Atibaia. Logo, com
esses dados esboçar reflexões que levassem a compreender suas atitudes ligadas diretamente à
leitura como prática assim como, identificar caminhos que posam estabelecer uma melhora na
sua percepção da leitura e no seu relacionamento com ela.
Michèle Petit diz que entre os jovens a leitura não é algo que ocorre naturalmente.
(PETIT, 2008, p. 101) e também que o adolescente sente medo dos livros principalmente se
faz parte de um meio no qual a proximidade com o livro não é trabalhada. (PETIT, 2008,
p.103) Será que o adolescente não lê? Sente prazer na leitura? Que tipo de texto lê? Interessa-
se pelos clássicos da literatura? Qual o papel da escola e da família no incentivo à leitura?
O tema da leitura entre os jovens é desafiador. Pesquisas apontam que atualmente o
adolescente lê menos. Os professores afirmam que em sala de aula sentem a falta de interesse
e gosto pelos textos literários e que o adolescente usa a tecnologia a seu favor para ler
resumos de textos de leitura obrigatória, mas, que em sala se dispersa muito em função dela.
Este tema tem sido estudado por vários autores que de forma magistral contribuíram
para esclarecer como é tratada a leitura pelos jovens. Estes se usaram como referencial teórico
para tecer breves considerações sobre o tema e assim firmar os resultados do levantamento
feito com os adolescentes da escola EIPG da cidade de Atibaia-SP. Busca-se abordar a
temática da leitura, o prazer que desperta no jovem e o papel que a escola e a família exercem
no incentivo à leitura.
13

CAPÍTULO 1
1. REFERENCIAIS TEÓRICOS
No que refere à elaboração do fundamento teórico desde trabalho foi realizada uma
pesquisa bibliográfica como primeiro passo que incluiu a leitura e interpretação de livros,
revistas, monografias e artigos, tanto no formato impresso quanto no digital sobre a temática
abordada. Sabe-se que o tema é muito amplo.

1.1 A importância da leitura.


Quando se procura informações sobre a leitura no Brasil se obtém respostas não muito
alentadoras. Sabe-se que se lê pouco. A revista Veja na sua edição de 28/03/2012 noticiava
que segundo a pesquisa Retrato da Leitura no Brasil do Instituto Pró-Livro em parceria com o
Ibope Inteligência que:
De acordo com o levantamento nacional, o número de brasileiros considerados
leitores – aqueles que haviam lido ao menos uma obra nos três meses que
antecederam a pesquisa – caiu de 95,6 milhões (55% da população estimada), em
2007, para 88,2 milhões (50%), em 2011. A redução da leitura foi medida até entre
crianças e adolescentes, que leem por dever escolar. Em 2011, crianças com idades
entre 5 e 10 anos leram 5,4 livros, ante 6,9 registrados no levantamento de 2007. O
mesmo ocorreu entre os pré-adolescentes de 11 a 13 anos (6,9 ante 8,5) e entre
adolescente de 14 a 17 (5,9 ante 6,6 livros). (REVISTA VEJA, edição 2262,
28/03/2012, acessado em 06/07/2014)

Aprofundando-se na pesquisa se chega a dados mais esclarecedores. Indica-se que


desses leitores 48% são estudantes. Quando se observa especificamente este grupo de
estudantes a pesquisa indica que numa média de 3,41 livros lidos em 3 meses, 2,21 foram
indicados pela escola, 0,49 são de literatura, 1,72 didáticos (0,57 lidos inteiros e 1,15 em
partes), 1,20 lidos por iniciativa própria sendo que 0,47 são de literatura, 0,15 corresponde a
leitura da Bíblia, 0,11 a leitura de livros religiosos e 0,47 a leitura de outros tipos.
Ainda com relação à pesquisa, os entrevistados responderam que gostam de assistir
televisão 85%, escutar música ou rádio 52%, descansar 51%, reunir com amigos e família
44%, assistir vídeos ou filmes em DVD 38%, sair com amigos 34% e ler 28%.
Perante estes dados, se observa que o brasileiro tem várias alternativas antes do livro.
A pergunta que surge é: Qual é a importância da leitura?
A leitura é um instrumento que ajuda o adolescente a compreender a sociedade na qual
está inserido, a encontrar-se nesse meio, a entender que exerce uma função social. Através da
leitura o individuo já na sua adolescência aprende a torna-se crítico, a estar atento a detalhes e
a ser decisivo dentro de uma sociedade. A antropóloga Michèle Petit no seu livro Os jovens e
a leitura mostra a importância da leitura na formação da identidade do indivíduo desde que ele
14

está na adolescência, ela diz “Hoje, cada um deve construir sua identidade e experimentar,
bem ou mal, na busca do sentido, valores, referências, lá onde os limites simbólicos não
existem, com todos os riscos que isso comporta, particularmente na adolescência.” (PETIT,
2008, p.12)
O livro e a leitura historicamente foram sinónimos de poder. (PETIT, 2008, p.12)
Quem possuía a capacidade de interpretar os signos era visto como superior. Esta
superioridade levou muitas pessoas a serem subjugadas, manipuladas e governadas como se
acompanha ao longo da história. Hoje em dia, a ideia de leitura está associada com a liberdade
de pensamento, de decisões e de reflexão. Essa é a postura que se espera dos jovens na
sociedade atual, que tenham senso crítico para tomar suas próprias decisões sabendo das
consequências que estas terão. “(...) a leitura, em particular a leitura de livros, pode ajudar os
jovens a serem mais autônomos e não apenas objetos de discursos repressivos ou
paternalistas.” (PETIT, 2008, p.19)
Se o individuo lê-se mais, certamente se evitaria tantos absurdos que se noticiam nos
jornais, pois, exerceria sua cidadania mais plenamente. A falta de informação e de leitura leva
a pessoa a não participar plena e conscientemente das atividades relativas ao meio onde vive,
muitas pessoas nessas condições sentem-se diminuídas na sua inteligência e direitos e assim,
afastam-se do seu papel de cidadãos. Michèle Petit diz a este respeito “E se a leitura desperta
o espírito crítico, que é a chave de uma cidadania ativa, é porque permite um distanciamento,
uma descontextualização; mas também porque abre um espaço para o devaneio, no qual
outras possibilidades são cogitadas.” (PETIT, 2008, p.28)
A ausência da leitura provoca alienação da realidade em que vive, submissão a
qualquer imposição e consequentemente a exclusão social desse individuo. “Observamos que
os indivíduos que se encontram distantes da leitura e sem competência para procurar e
selecionar as informações que necessitam tornam-se potencialmente excluídos dos processos
sociais.” (WADA, 2004, p. 39)
A leitura é também uma grande ferramenta de socialização que abre a cabeça para
novos horizontes “Este é um motivo a mais para nos interessarmos pelo papel que a leitura
pode desempenhar na elaboração da subjetividade, na construção de uma identidade singular e
na abertura para novas sociabilidades, para outros círculos de pertencimento”. (PETIT, 2008,
p.12)
Para o autor Vincent Jouve “a leitura é uma atividade complexa, plural, que se
desenvolve em várias direções” (JOUVE, 2002, p. 17). O individuo usa diferentes ferramentas
para realizar a atividade de leitura, assim, é desafiado a usar todos os seus sentidos e também
15

a concentração, decodificação, interpretação, reflexão, senso crítico, etc. Sendo assim, para o
autor, o processo de leitura apresenta cinco grandes dimensões. A neurofisiológica para a
identificação dos signos, a do processo cognitivo para a construção de significação partindo
de palavras, a afetiva para ter a emoção como base da identificação, a argumentativa para
análise do texto como discurso e a simbólica para a interação entre formas dominantes do
meio e a leitura. (JOUVE, 2002, p. 17-22). Dessa forma, a leitura requer um compromisso
geral da parte do leitor, pois, envolve variados elementos do seu ser. Ele precisa jogar em
vários frentes para alcançar um objetivo maior que é a interação com o texto.

1.2 O Papel da escola


Observando-se a escola no seu papel de incentivadora da leitura nos adolescentes, se
encontra sob seus ombros algumas ‘obrigações’ impostas. Pensa-se que a obrigação da escola
é ensinar o jovem a gostar da leitura, a ser apreciador dos grandes clássicos e um leitor por
excelência.
Na prática este papel de incentivador da leitura deve ser compartilhado por vários
elementos que fazem parte da sociedade. “É preciso não esquecer que há essa dimensão ampla
da leitura, mas que ela é também campo de atuação de outras instituições além da escola
(família, Igreja, Estado, meios de comunicação, círculo de amigos, etc.)” (GARCIA, 1992,
p.18). Quando o adolescente chega à escola, ele já traz consigo formação leitora positiva ou
negativa.
No que diz respeito ao papel da escola no gosto pela leitura entre os adolescentes,
grande parte da responsabilidade recai sobre o professor. Quando estes profissionais não
vivenciam a prática da leitura por prazer, pois, com dificuldade interagem no seu dia a dia
com os livros que são indicados pelas escolas, quando não leem por preguiça ou
simplesmente não exigem o mínimo esforço por parte do estudante, exercem o papel de
grandes vilões.
A leitura deve ser considerada um dos elementos essenciais na formação total do
estudante, pois, quando este jovem chegue ao campo profissional será avaliado não somente
pela capacidade dentro da sua área específica para a qual se preparou, mas também pela forma
como se expressa, como usa a argumentação, como escreve, como pensa, entende e se
relaciona com mundo, pela sua capacidade de reflexão. Não há como separar competência
leitora do campo profissional, são dois caminhos que andam juntos. Para que seja bem
sucedido neste quesito a leitura é imprescindível e deve ser estimulada pelos professores,
família e escola.
16

O papel da escola através dos professores deve ser de favorecedor da leitura. O


professor deve inserir o aluno nas diferentes situações de leitura em sala de aula, não somente
nas leituras obrigatórias, mas, também nas leituras que o adolescente faz por conta própria.
Assim, fará que o aluno vivencie novas experiências que o levem a reconhecer na leitura uma
variedade de possibilidades que o ajudarão no seu crescimento pessoal e também profissional,
deixando de lado o fantasma da leitura chata, cansativa e desinteressante. O adolescente deve
entender que a leitura é um instrumento de melhora na sua vida atual e futura.
Muitas escolas não cumprem este papel e provocam no adolescente o sentimento de
repúdio à leitura ou de leitura por obrigação, limitada somente ao estudo, esquecendo assim o
estímulo à leitura prazerosa. Sabe-se que este não é o objetivo da escola, mas, poderia ser
trabalhada também a leitura amena.
Os adolescentes (...) retratam a escola a partir de um mesmo olhar. Uma escola que
não favorece o gosto pela leitura e escrita. Uma escola onde as práticas rotineiras e
sem sentido se repetem. O que transparece em suas palavras é que a escola se fecha
sobre si mesma, desconhecendo os interesses de seus alunos. Fechada em suas
muralhas, desconhece o mundo que circula do lado de fora. Enquanto os jovens de
hoje se abrem sobre um mundo sem fronteiras numa variedade de formas de leitura e
escrita, a escola continua a trabalhar a língua como um sistema abstrato de normas.
Desconhecendo as experiências que os alunos vivem mediante atividades ligadas ao
cinema, à televisão, aos jogos de RPG, às listas de discussão, aos chats e sites da
internet, insiste numa leitura e escrita da escola e para a escola. (...) Ao se fechar
para os interesses dos alunos, a escola pode estar perdendo a oportunidade de
conscientizá-los das implicações desses diferentes instrumentos culturais. (YUNES,
2003, p.25)

É imprescindível então que a escola assuma seu papel de incentivadora da leitura da forma
positiva. Deve conhecer os seus alunos adolescentes e seus interesses e abrir-se às novas
formas de interação tecnologia-leitura para cativar o adolescente e buscar a aproximação deste
com a leitura.

1.3 O Papel da família


A família foi e continua sendo a base para o desenvolvimento emocional e social do
adolescente. Ele é o reflexo da sua família. As mudanças ocorridas nas últimas décadas na
sociedade e nas famílias têm afetado diretamente o comportamento dos jovens. “A família (...)
também passou por um processo de transformação, independentemente da classe social. (...)
Portanto, a conversa e a troca entre gerações têm-se tornado limitada, (...).” (WADA, 2004,
p.25)
Principalmente o papel da família neste quesito é fundamental, desde pequena a
criança deve ser estimulada a ler para assim, tornar-se um adolescente leitor, crítico, que
entende e interpreta o mundo segundo seu próprio raciocínio. A oportunidade que pais, tios,
17

avós e outros familiares têm de oferecer livros para que a criança tenha contato deve ser
aproveitada.
Nas gerações passadas os avós tiveram aquele papel de contadores de histórias que
hoje tem se perdido. Este e outros hábitos a família deve seguir cultivando, o incentivo à
leitura, manuseio dos livros por parte da criança, o incentivo à criação de histórias através da
observação de figuras. Os próprios pais podem ser os contadores de histórias na hora de
dormir e ao mesmo tempo incentivar aos filhos a recontar-lhes essa história.
Quando a criança é educada numa família e ambiente no qual há pessoas que tem uma
relação direta com o livro e a leitura tem um lugar privilegiado, a possibilidade de formar um
leitor que aprecie a prática da leitura é alta. Claro que pode acontecer que a criança chegando
à adolescência não goste de ler, mas, quando em casa recebe o estímulo adequado continuará
a ter gosto pela leitura, pois, esta é uma prática que quando cultivada tende a criar raízes no
leitor. No entanto, se a família, especificamente os que estão diretamente vinculados com a
criança no seu cotidiano não são apreciadores da leitura essa criança necessitará de estímulos
externos para chegar a desenvolver o gosto pela leitura. Aqui terá importância o papel do
professor e da escola.
Quando a leitura é incentivada no seio familiar esse leitor e torna precoce, já que
consegue compreender de forma mais ampla o mundo em que vive, podendo alcançar uma
maturidade crítica de modo mais fácil. Quando a criança é estimulada pela família à leitura
fica evidenciado no seu comportamento perante o livro, na importância que dá a ele e na
forma como se relaciona.
É no seio familiar onde deve dar-se a orientação e o exemplo à criança para que se
aproxime aos livros. Não é mágica, é prática, é exemplo. É na casa que a criança tem acesso à
tv e computador e a todo tipo de tecnologia, que não deve ser proibida mas sim integrada com
a leitura. Hoje a tecnologia oferece os livros eletrônicos onde só muda o suporte. Essa é uma
ótima oportunidade de integração entre tecnologia e leitura onde a criança e o jovem podem
cultivar os hábitos de leitura. Dessa forma, se aproximam da leitura sem afastar-se da
tecnologia que eles tanto gostam e se estabelecem mudanças no relacionamento entre o
adolescente e livro.
Sendo assim, não basta somente comprar livros, tem que haver intercâmbio, tem que
haver leitura em conjunto, histórias compartilhadas para que haja gosto pela leitura. Este deve
ser cultivado.
O gosto pela leitura não pode surgir da simples proximidade material com os livros.
Um conhecimento, um patrimônio cultural, uma biblioteca, podem se tornar letra
morta se ninguém lhes der vida. Se a pessoa se sente pouco à vontade em aventurar-
18

se na cultura letrada devido a sua origem social, ao seu distanciamento dos lugares
do saber, a dimensão do encontro com um mediador, das trocas, das palavras,
‘verdadeiras’, é essencial.(PETIT, 2008, P.154)

Quando família e escola estão em sintonia, o trabalho do professor como mediador é


menos complicado. Hoje, a concorrência que o mediador enfrenta é grande. Com o advento da
tecnologia, da rapidez na comunicação, do universo 4D e de todos os avanços aos quais o
adolescente tem sido exposto, incentivar a leitura é um trabalho árduo. Dada à proximidade
familiar é imprescindível que os integrantes trabalhem a favor da criança e do adolescente no
que diz respeito à leitura. O maior exemplo é ver aos pais, avós e tios tendo com o livro e a
leitura um relacionamento íntimo.

1.4 O ADOLESCENTE E A TECNOLOGIA


O jovem é tecnológico. A tecnologia ao mesmo tempo em que facilita o acesso à
informação, à pesquisa e aos textos oferece diversão, música, histórias em quadrinhos, filmes
e outras formas de entretenimento que faz que o jovem tenha que escolher.
Por isso, a tecnologia deve ser integrada com a leitura para não gerar uma briga
constante no adolescente. Como faz um jovem que precisa ler textos de forma obrigatória e ao
mesmo tempo quer continuar interagindo com seu mundo na internet? Alguns até começam a
leitura, mas muitas vezes desanimam ou perdem o interesse já nos primeiros capítulos.
Será que o adolescente não possui concentração e paciência para realizar esta
atividade? Com certeza o adolescente de hoje tem capacidade, paciência e concentração para
jogar jogos complicadíssimos em rede, para assistir filmes e também para ler assuntos
relativos à tecnologia, música, viagens, ou tudo quanto lhe interessar.
Com o acesso fácil à Internet fica evidente que o jovem lê e escreve de forma
diferente, usa abreviações, palavras específicas da web. Esta é uma geração tecnológica,
multimídia, que vive em movimento constante, que tem a seu alcance todas as novidades e
aparelhos. Para resolver então a questão da leitura dos textos solicitados pelos professores, por
exemplo, a solução que encontra o estudante é procurar os resumos existentes nos sites.
Aqui surgem os caminhos que os próprios adolescentes apresentam e que podem
interligar leitura e tecnologia, leitura e modernidade, leitura e adolescência.
Os professores propõem o ‘estímulo à leitura’ que, hoje, dizem estar muito restrita a
histórias em quadrinhos. Afirmam: ‘A revista em quadrinhos é um fato. A televisão
e o computador também. Deve-se, no entanto, sem ignorar a existência desses meios
de comunicação, canalizá-los para a leitura que é, ainda (...), a melhor forma de
provocar a reflexão e a imaginação criativa. (BARBOSA, 1998, p.38)
19

Os adolescentes de hoje fazem parte de uma sociedade na qual subsistem múltiplas


culturas e eles devem aprender a usá-las a seu favor.
Estamos perante uma geração que nasceu no mundo digital. Foi dado a eles o nome de nativos
digitais, pois, nasceram, cresceram e vivem num mundo em que a tecnologia reina. Assim,
esse personagem é um nativo digital, ou como denominou Don Tapscott é um
jovem da Geração Net (TAPSCOTT, 1999). Nascido rodeado pela tecnologia
digital, ele está acostumado a interagir, explorar, construir, descobrir. Ele é
“produto” de uma sociedade cercada pelas mais diferentes tecnologias e estas são,
por sua vez, não apenas instrumentos nas mãos dessa geração, mas ferramentas que
integram o perfil desses jovens. (PARNAIBA, 2010, p.3)

Estes jovens não se apegam aos métodos tradicionais de vida, eles são interativos,
tecnológicos, as atividades que eram normais à geração dos pais destes nativos digitais não
são feitas nem vivenciadas da mesma forma por eles.

Esses jovens são atraídos por características que a TV que seus pais conheceram não
oferecia, por exemplo, a interatividade. Essa nova geração de jovens é chamada de
Geração Net, ou N-Gen, e corresponde às pessoas que em 1999 tinham entre 02 e 22
anos de idade (TAPSCOTT, 1999) e, portanto, hoje tem entre 12 e 32 anos. Ainda
podemos incluir nessa faixa os nascidos a partir do século XXI. Cercados por
computadores, videogames, câmeras digitais, celulares 3G, iPods, tocadores de
MP3, Internet e todas as tecnologias digitais, os jovens N-Gen são
completamente diferentes das gerações anteriores. Isso se reflete em seu modo de se
comunicar, de ver e interpretar o mundo, de aprender, de se divertir, de formar sua
personalidade. (PARNAIBA, 2010, p.6)

O adolescente desta geração tem seu mundo, seu vocabulário, sua forma de interagir, de
relacionar-se, de fazer amigos, de conviver com as novidades, enfim, sua vida é totalmente
diferente da vida das gerações anteriores.

A Geração Net não se conforma em ser apenas espectadora dos acontecimentos. Ela
cria, modifica, personaliza, expressa sua opinião, critica, analisa, simula, constrói,
desconstrói o mundo ao seu redor e em tempo real. Ao contrário dos seus pais
boomers, acostumados a sentar e receber informações, seja pela TV ou na escola, os
nativos digitais estão acostumados a buscar pelas informações que lhes interessam e
a interagir com quem disponibilizou tais informações, a conferir mais de uma fonte,
a investigar mais profundamente sobre um assunto que os interessem. Além disso,
também constroem informações e as transmitem. (PARNAIBA, 2010, p.6)

Quando se pensa na facilidade que os nativos digitais têm para obter as informações surgem
novamente as pergunta que levaram a este trabalho, o que o adolescente lê, o que o motiva a
ler, gosta da leitura? Logo se entende que o adolescente tem ao alcance da sua mão todas as
ferramentas para tornar-se um leitor crítico, um cidadão com todas as características que deve
possuir para exercer sua função de forma cabal e entender o mundo globalizado em que está
inserido identificando as diferenças.

Assim, esses jovens tendem a aceitar melhor a diversidade, são mais curiosos,
autoconfiantes, contestadores e tem melhor auto-estima. Isso tudo porque interagem,
o tempo todo, com pessoas num universo mais diversificado culturalmente, onde
20

podem mudar de opinião e de identidade várias vezes, até encontrar uma que melhor
lhe servir. E esta pode ser mudada novamente. (PARNAIBA, 2010, p.6)

Estes adolescentes são consequência de uma tecnologia que mudou o mundo a partir da
década de 1980, tornando tudo mais rápido, mais simples de ser alcançado, dando liberdade
ao indivíduo de conhecer o mundo através do computador. “Na década de 80, novas
mudanças tecnológicas possibilitaram a expansão do uso do computador. Essas mudanças
estão aí, não há como escapar. Com um telefone e um computador temos acesso ao mundo em
segundos.” (KUPSTAS, 1998, p. 145) A tecnologia encurta distâncias e reduz o tempo, traz
rapidamente informações. Faz com que surja um novo tempo, o tempo do imediatamente, do
agora, do já. (KUPSTAS,1998, p.144) Os adolescentes ou nativos digitais são diferentes,
vivem uma vida em que tudo é feito de forma diferente, pois, tudo é tecnologia. Relacionam-
se, leem, compram, jogam, marcam saídas, estudam, conhecem tudo online. Assim, os
avanços tecnológicos estão presentes no dia a dia deles. (KRUPSTAS, 1988, p.145) Devem-
se encontrar os meios para direcionar estes adolescentes criativos, interativos e práticos que
dominam a tecnologia para favorecer a leitura crítica. Assim, além de adolescente
tecnológicos se terá adolescentes críticos.

1.4 A LEITURA NO BRASIL


Por muito tempo ler e escrever era privilégio da elite no Brasil. Consequentemente nos
anos 40 todo o que se ensinava girava em torno disso e
uma escola estaria orientada para a elite financeira e intelectual de um país ainda se
descobrindo no processo de urbanização e industrialização. “Nessas circunstâncias,
o ensino da língua materna (...) atrelou-se a uma feição tradicional (...)” e logo “A
alteração do alunado com a incipiente democratização do acesso das camadas mais
populares, modificou as formas de ensino de língua (...).” (BASTOS, 2014, p.32)

Do cultivo da norma culta, do falar e escrever bem se passou a ver a língua nas
relações sociais, dada a chegada das camadas mais populares da sociedade ao âmbito
educacional. Mas, nos anos 50 cresceu a fusão entre texto e gramática e já nos anos 60 a
gramática se sobrepôs ao texto e buscava-se que o estudante usasse as normas gramaticais de
forma correta. (BASTOS, 2014, p.32 e 33). Esta forma se cultivou por décadas, a gramática
normativa no centro do ensino e a leitura e escrita sempre voltada para a simples
decodificação dos signos. Não havia construção de significados na leitura, somente a
repetição de ideias encontradas nos textos.
A estrutura social desigual, as diferentes realidades existenciais dos alunos e a falta de
senso crítico nos programas escolares da época foram criando uma situação educacional
21

muito complicada. Na década de 1980 há mudanças nas práticas pedagógicas do ensino de


leitura e escrita baseando-se no modelo sociointeracionista de ensino. (da SILVA, 2012)
Assim,
surgem novos princípios, que ocasionam mudanças significativas nas práticas de
ensino. Primeiramente, destaca-se a eclosão das novas competências linguísticas que
devem ser trabalhadas no contexto educacional. Alude-se, nesse ponto, aos Níveis
de Ensino de Língua
Portuguesa, isto é, a Leitura, a Produção de Texto, a Oralidade e a Análise
Linguística. Surgem, agora, novos eixos para o ensino, trazendo à tona uma
perspectiva de equidade no espaço dado ao estudo da língua. (da SILVA, 2012,
p.66,67)

As novas práticas empregadas levaram em consideração a interação entre as partes


envolvidas, deixando de ver-se a leitura como uma simples decodificação. Na teoria a leitura
assumiu o seu papel interacional. Na prática os avanços se deram de modo muito gradual,
assim,
a década de 90, porém, é uma década de crise; as conquistas para o livro e para a
leitura são cada vez mais apagadas pela concorrência de outros meios, pelo forte
crescimento da internet e, principalmente, pela acentuada queda do poder aquisitivo e
praticamente pelo desaparecimento do livro infantil e do juvenil na escola como
alavanca para a leitura prazerosa. Com a crise, estabelece-se, também, o Fla x Flu
político, acentuam-se as diferenças entre as diferentes correntes teóricas, USP x
Unicamp x UFRJ x PUC-RJ, CBL x Snel, etc. Todos achavam que a leitura e os livros
eram fundamentais para a formação do cidadão, mas qualquer ideia ou projeto que
fosse idealizado por seu concorrente era, por definição, ‘incompetente’. (AMORIM,
2006, p. 26)

Até a atualidade, diferentes estudiosos têm trabalhado este assunto chegando aos
paradigmas atuais lembrados na introdução deste trabalho. Como vimos, a leitura no Brasil
deixa a desejar. Poderia ser um ato constante das pessoas, mas, as pesquisas insistem em
mostrar que o brasileiro lê pouco. Não encontramos a leitura como a opção de lazer escolhida
pela maioria, muito pelo contrário, a escolha de atividades de lazer passa por assistir tv, sair
com amigos, ouvir música, etc. Plínio Martins Filho, Presidente da Editora da USP diz “Uma
das causas da falta de hábito é que a leitura tem que disputar espaço com outras formas de
entretenimento. As grandes editoras do Brasil surgiram junto com o radio e a televisão que, de
alguma forma, são meios de lazer baratos e de fácil acesso.” (CALDEIRA, 2002, s/p) Já o
livro, é um produto considerado caro, motivo pelo qual muitos não têm acesso.

1.5 A VISÃO DOS ÓRGÃOS PÚBLICOS SOBRE A LEITURA – POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL

Toda sociedade precisa ser formada por indivíduos que tenham consciência crítica.
Um país para avançar precisa ter nos seus cidadãos pessoas comprometidas com os interesses
sociais, políticos e educacionais. Para que isto seja possível se faz necessária à leitura. A
leitura traz benefícios pessoais ao leitor, habilidades comunicativas como a escrita e a
linguagem fluente, traz conhecimento na área cultural, econômica, política, educativa, social e
22

psicológica. Livra o individuo de ser principiante convertendo-o numa pessoa letrada já que o
conhecimento fornece identidade, experiências, crescimento, fundindo-se com o próprio ser.
Através dela o leitor imprimirá nos textos sua própria experiência e obterá os significados
esperados na leitura.
Nesta sociedade em que se está inserido, onde muitos meios de comunicação perderam
sua imparcialidade ao dar as notícias, onde os âncoras e apresentadores dão suas opiniões
sobre elas, manipulando e despejando no indivíduo as suas próprias ideias, tentando formar a
opinião pública, se faz extremamente necessário a presença do pensamento crítico. Assim, o
indivíduo que tem a leitura como uma prática constante tem as armas para desmiuçar o que
ouve, tendo uma posição crítica perante as informações que recebe. A visão dos órgãos
públicos perante a leitura é mostrada nos Parâmetros Curriculares Nacionais que apresentam a
seguinte ideia com relação às capacidades que os indivíduos devem obter:
compreender a cidadania como participação social e política, assim como
exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, (...) Questionar a
realidade formulando-se problemas e tratando de resolvê-los, utilizando para
isso o pensamento lógico, a criatividade, a intuição, a capacidade de análise
crítica, selecionando procedimentos e verificando sua adequação. (PCN,
1997, p.5)

Considera-se política pública “um conjunto de ações desenvolvidas com o objetivo de


orientar e garantir os direitos dos cidadãos, em relação a tomadas de decisões em assuntos
públicos, políticos ou coletivos”. (SCHIESARI, 2009, s/p.) As políticas públicas em favor da
leitura no Brasil têm avançado de forma tímida. Ao longo da história foram criados distintos
órgãos para fomento da leitura em toda sua extensão que tiveram desempenho polêmico na
difusão da leitura e consequentemente dos livros.
Atualmente há leis, projetos e parcerias em diferentes âmbitos de incentivo à leitura,
mas, o ponto alto são os Parâmetros Curriculares Nacionais estabelecidos para os diferentes
ciclos. Eles orientam a prática da leitura crítica, na qual o leitor interpretará e dará significado
ao texto segundo suas próprias experiências e não de forma imposta desde o começo da vida
escolar do aluno. A preocupação com a interação entre leitor e texto e a busca pela leitura
prazerosa fica evidente quando se lê que o compromisso da escola
para tornar os alunos bons leitores — para desenvolver, muito mais do que a
capacidade de ler, o gosto e o compromisso com a leitura —, a escola terá de
mobilizá-los internamente, pois aprender a ler (e também ler para aprender) requer
esforço. Precisará fazê-los achar que a leitura é algo interessante e desafiador, algo
que, conquistado plenamente, dará autonomia e independência. Precisará torná-los
confiantes, condição para poderem se desafiar a ‘aprender fazendo’. Uma prática de
leitura que não desperte e cultive o desejo de ler não é uma prática pedagógica
eficiente.” (PCN, 1997, p.38)
23

Quando nos primeiros anos de educação já se cultiva a leitura os resultados certamente


serão vistos no Ensino Médio, pois, teremos a presença de adolescentes com uma visão crítica
do mundo em que estão inseridos, com opiniões sobre política, sociedade, educação e cultura.
Serão jovens com formação geral como se prevê nos PCN,
Propõe-se, no nível do Ensino Médio, a formação geral, em oposição à formação
específica; o desenvolvimento de capacidades de pesquisar, buscar informações,
analisá-las e selecioná-las; a capacidade de aprender, criar, formular, ao invés do
simples exercício de memorização. (PCN, 2000, p. 5)

Assim, os adolescentes podem exercer sua cidadania de forma ativa e consciente,


tendo também a oportunidade de crescimento, cumprindo assim o objetivo proposto na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação que diz que “tem por finalidades desenvolver o educando,
assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe
meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores” (Art.22, Lei nº 9.394/96).
Para mudar a dura realidade da leitura no país se faz necessário um trabalho em
conjunto entre Governo Federal, Estadual, Municipal, escola, sociedade em geral e família.
“A imperiosa necessidade de maior estreitamento entre as ações de Cultura e Educação e o
papel da prática social da leitura como estratégia de promoção do desenvolvimento nacional e
da cidadania (...)”(AMORIM, 2006, p. 13) só trará benefícios ao país, melhorando assim as
taxas divulgadas nas últimas pesquisas. Só o empenho de todos os responsáveis poderá mudar
a cara do Brasil com relação à leitura. Governo e sociedade têm confirmado a crescente
preocupação com o papel da leitura na vida social (AMORIM, 2006). Aspira-se desse modo a
mudar
constatações como a dos baixos níveis de leitura no Brasil (menos de 2 livros lidos
por habitante/ano, por exemplo, contra 2,4 na Colômbia ou 7 na França) ou a
crônica e persistente dificuldade de acesso ao livro – seja pelo número insuficiente
de bibliotecas públicas e livrarias, seja pelo preço do livro, acima da capacidade de
compra do brasileiro – chamaram, mais uma vez, a atenção para um quadro que
precisa urgentemente ser modificado. Na raiz do problema está, seguramente, a
ausência das habilidades técnicas necessárias para o exercício da leitura. Apenas um
em cada quatro brasileiros acima de 15 anos consegue ler e compreender textos um
pouco mais complexos, já que os demais são analfabetos absolutos ou analfabetos
funcionais.
Os analfabetos funcionais até conseguem decodificar palavras ou frases simples,
mas não vão além de seu significado restrito, sem conseguir interpretar o que está
escrito. Somada à dificuldade de leitura e à compreensão de textos expressa por
milhões de crianças brasileiras em idade escolar, conforme demonstram os estudos
comparativos realizados no Brasil e em outros países, essa não qualificação é uma
das principais causas para o baixo índice de leitura nacional.” (AMORIM, 2006, p.
14)
A questão da leitura, em geral, não tinha interessado aos que planejavam os programas
oficiais de língua portuguesa. A maioria deles preocupou-se com a gramática. Agora, este
panorama está mudando, pois, a leitura tem sua importância reconhecida.
24

CAPÍTULO 2
2 A PESQUISA DE CAMPO
Explicar-se-á a metodologia usada para a obtenção dos dados, a coleta dos dados em
particular e a caracterização da Escola escolhida para tal levantamento.

2.1 METODOLOGIA
Com o avanço da tecnologia, o acesso massivo à internet e a modernidade instalada na
sociedade muitos disseram que o livro no formato conhecido desapareceria ou pelo menos
perderia a força que sempre teve. Claramente se observa que a entidade chamada livro não
perdeu seu lugar na sociedade e que sempre haverá pessoas interessadas na leitura.
Perante todo esse movimento trazido pela tecnologia se pensa que os jovens têm que
escolher entre ser levados pela modernidade ou manter o parâmetro que a sociedade
apresentava no século passado relativo à leitura.
O tema da leitura entre os jovens é um desafio constante. As perguntas que aparecem
são inúmeras. Será que o adolescente lê? Sente prazer na leitura? Que tipo de texto lê?
Interessa-se pelos clássicos da literatura? Qual o papel da escola e da família no incentivo à
leitura? Tem em casa modelos de leitores? Como escolhe os livros que lê? Gosta dos textos
que a escola indica para leitura? Acha que a escola cumpre seu papel de incentivadora da
leitura?
A proposta deste trabalho é obter dados sobre os hábitos de leitura dos adolescentes de
14 a 17 anos e assim observar a realidade da leitura entre eles. Buscando elementos que levem
às respostas para todas estas perguntas preparou-se uma pesquisa exploratória usando como
base um questionário com as perguntas mostrado como apêndice neste trabalho. Através do
questionário procura-se ter uma ideia das condições relativas às práticas de leitura, gostos,
modelos e comportamentos em geral relativos à leitura e os livros.
Também se fará observação em sala de aula das diferentes turmas onde há
adolescentes que responderam ao questionário proposto. Encontra-se na EIPG adolescentes de
14 anos a partir do 8º ano do Ensino Fundamental II. Por isso, a observação foi feita em aulas
do 8º e 9º ano do Fundamental II e 1ª, 2ª e 3ª série do Ensino Médio. Após a observação se
proporá uma breve conversação informal com dois alunos de cada sala, escolhidos
aleatoriamente, para detalhar um pouco mais suas respostas.
É certo que num levantamento reduzido como o proposto neste trabalho às perguntas
feitas aos adolescentes sofrem certa manipulação, pois, foram feitas com a intenção de obter
25

as respostas específicas para trabalhar determinados temas. As informações obtidas devem ser
estudadas com muito cuidado para não cair na generalização.
Para escolher este tema foi efetuada a leitura anterior de vários livros e trabalhos de
curso que tratavam do assunto e principalmente foi observada a pesquisa Retratos da leitura
no Brasil do Instituto Pró-livro. Buscou-se então, uma integração entre os dados obtidos com
este levantamento e as afirmações que emergem de pesquisas realizadas por órgãos de renome
no Brasil. Logo, com os dados obtidos esboçaram-se breves reflexões que levaram a
compreender as atitudes ligadas diretamente à leitura como prática assim como,
identificaram-se caminhos que estabelecem uma melhora na postura do adolescente com
relação a ela.
Os grandes conceitos abordados são a proximidade entre adolescente e leitura, a
motivação para a leitura, os modelos de leitores próximos do adolescente, o tipo de leitura
preferida e o papel da escola como motivadora. Estes dados foram obtidos diretamente do
questionário proposto e acrescidos com a informação obtida através das entrevistas e da
observação em aula.

2.2 A COLETA DOS DADOS

Os dados desde levantamento foram colhidos na primeira semana do mês de agosto de


2014 na escola EIPG (Escola Internacional Preparando Gerações) da cidade de Atibaia. Essa
instituição foi escolhida então por não apresentar como empecilho para a leitura a falta de
recursos econômicos. A observação em sala de aula e a conversa foram realizadas durante o
mês de outubro de 2014.
Buscava-se eliminar os obstáculos para a leitura relacionados à situação
socioeconômica e tentar formar a situação ideal para a leitura. Assim, os adolescentes dariam
os reais motivos que os afastam ou não da leitura e isto seria muito positivo para este
levantamento. A colaboração da Coordenadora do Ensino Fundamental II e Médio também
foi decisiva para a escolha da escola, pois, ela permitiu o acesso aos adolescentes no horário
de aula para a coleta dos dados facilitando também uma série de informações da escola.
A faixa etária que se buscava alcançar era entre 14 e 17 anos e havia alunos dessa
idade a partir do 8º ano. Por isso os questionários foram oferecidos nas diferentes turmas. Por
se tratar de uma escola que atende a um número relativamente pequeno de alunos o
levantamento foi feito com 61 alunos entre 14 e 17 anos. Também não se discriminou o sexo
26

dos adolescentes, pois, não se buscava entender o perfil masculino ou feminino da leitura e
sim da faixa etária.
O questionário estava constituído de 10 perguntas que incluíam, entre outros, os
seguintes pontos:
1. Dados pessoais (idade, sexo, série, exceto nome)
2. Práticas de leitura (leitura pedida pela escola, gêneros preferidos, número de livros
lidos ao ano)
3. Representação de leitores e leituras (leitura por obrigação ou prazer, modelo de leitor)
4. Escola (papel no incentivo à leitura)
O questionário foi entregue aos alunos após explicar os motivos pelos que se faz
necessário e o que se procura responder. Os adolescentes se interessaram pelo tema e
disseram que responderiam de modo verdadeiro. Frisou-se o pedido de sinceridade nas
respostas, se o adolescente tivesse que responder que não gostava de ler ou que não lia que
respondesse sem medo, pois, não tinha que colocar o nome no questionário. O que se
objetivava era 100% a verdade.
O fato de que o professor regular de Literatura, Redação ou Gramática não teria acesso a
aquelas respostas também foi informado, assim, se evitaria que o aluno ficasse constrangido
com as respostas que daria evitando que ele quisesse responder a uma expectativa do seu
professor o que para o levantamento seria uma maior garantia de acerto.
A observação em sala de aula foi realizada durante as três primeiras semanas do mês de
outubro de 2014 com autorização da Coordenação e com a ajuda do professor responsável,
quem tratou o tema leitura com os alunos durante alguns momentos das aulas de forma tal que
os adolescentes respondessem as perguntas lançadas por ele sem pressão.
Também se teve a oportunidade de participar de uma semana de apresentação oral por
parte dos alunos da leitura realizada por eles das obras Vida Secas na 1ª série do EM,
Memórias Póstumas de Bras Cubas na 2ª ´serie e Capitães de Areia na 3ª série. Após a
observação houve as conversas. Os alunos foram perguntados se gostariam de participar de
uma breve conversa na qual somente falariam a idade e responderiam algumas perguntas mais
abertamente. Assim, foram selecionados dois adolescentes de cada idade para conversar.

2.2 A ESCOLA
Atibaia é um município localizado há 60 quilómetros de São Paulo capital. É uma
cidade considerada boa para viver, conhecida por muitos por ser o segundo melhor clima do
27

mundo, possui aproximadamente 140 mil habitantes e grande parte da sua população mora na
cidade e trabalha em São Paulo capital.
A escola EIPG foi fundada há 12 anos na cidade com o intuito de ser uma instituição
diferente de todas as que existem no município. Oferece estudo em período integral para a
Educação Infantil, Ensino Fundamental I e II, e Ensino Médio. Seu currículo é bilíngue,
oferecendo dez horas de aula de inglês por semana. Segue a estrutura escolar americana
também na alimentação dos alunos, há uma empresa encarregada de servir a alimentação com
orientação nutricional no café da manhã, almoço e lanche da tarde.
As turmas não têm salas, na verdade a escola trabalha com salas ambientes aonde o
aluno circula, dessa forma há aquele trânsito por parte do aluno o que evita que ele fique
sentado o tempo todo, dessa forma ele tem a oportunidade de conversar enquanto desloca-se
entre uma sala e outra. Busca-se que o aluno tenha esses minutos de descontração para
diminuir a conversa paralela durante a aula. A escola oferece locker, ou seja, um armário com
chave para que o aluno guarde durante todo o ano seu material escolar, mochila e pertences
em geral.
Todas as salas têm computador com acesso à internet, projetor, ventiladores e ar
condicionado. Atende a aproximadamente 330 alunos das classes media e alta da própria
cidade e de cidades próximas. É a escola cuja mensalidade é a mais cara, os alunos que ali
estão matriculados não têm problemas financeiros.
O bairro onde a escola está localizada é nobre, uma das regiões mais tradicionais e
caras da cidade. O local físico é apropriado para a quantidade de alunos, professores e
funcionários administrativos. O espaço é formado por duas casas, residências em si que foram
adaptadas para a função administrativa. Foram construídas salas, banheiros, quadra, parque de
areia e brinquedos e aproveitaram-se as piscinas já existentes nas residências. O local é limpo,
há vários funcionários de limpeza e manutenção que fazem a conservação.
A sala dos professores é um local agradável, há dois ambientes, em um deles há uma
mesa com suco, café, chá, biscoitos, geladeiras e cadeiras. No outro ambiente há outra mesa
com cadeiras, computador com acesso à internet, vários pufes para o descanso dos
professores, armários e escaninhos e dois murais de avisos.
Foi comentado que para o próximo ano a escola projeta mudar o local de
funcionamento do Fundamental II e Médio, deixando o local atual somente para a Educação
Infantil e Fundamental I. O local que estão preparando para os alunos maiores fica na rua
mais cara da região, conhecida como Avenida Lucas Nogueira Garcez.
28

Os alunos possuem uma ótima condição financeira, não há desculpas do tipo - não
posso comprar -. As conversas e comentários normais são sobre viagens ao exterior,
eletrônicos de ponta, roupas de marca e o tão falado Intercâmbio oferecido pela escola a partir
do 9º ano do Ensino Fundamental II e 1ª, 2ª, 3ª série do Ensino Médio cujo custo é alto.
A falta de problemas financeiros não quer dizer que é uma escola perfeita. Em
conversas com a Coordenadora surgiram os problemas enfrentados por eles o por as escolas
em geral. Há alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem, alunos com diferentes
laudos e alunos sem estrutura familiar. Foi dito também que muitos pais se fazem presentes
nas reuniões com os professores nos finais dos trimestres.
A escola é muito bem vista no bairro, não há problemas nos horários de entrada e
saída, seus alunos têm uma postura boa, são educados, assim, o relacionamento com a
comunidade é tranquilo.
29

CAPÍTULO 3
3.1 RESULTADO E ANÁLISE DOS DADOS LEVANTADOS
Neste capítulo se apresentarão os principais resultados do levantamento. Para realizar
a análise dos resultados se procedeu à ordenação na forma em que as perguntas foram feitas
no questionário juntamente com apontamentos feitos na observação de aulas e conversas.
Apresentam-se as tabelas nas quais foram quantificados os questionários e após o gráfico
correspondente a cada uma delas em porcentagem. Para entender a prática leitora dos
adolescentes de 14 a 17 anos do caso estudado, começa-se com a descrição do número de
livros que são lidos no ano em porcentagem.
Tabela I - Referente à pergunta: Quantos livros você lê no ano?

14 anos 15 anos 16 anos 17 anos Total %

Não leio 0 5 1 2 8 13,2


livros

1a3 4 4 5 4 17 27,8

3a5 9 1 4 1 15 24,6

6 ou mais 12 4 2 3 21 34,4

Total dos alunos pesquisados 61

Gráfico I

Livros lidos no ano

13,2

34,4 Não lê livros


1a3
27,8 3a5
6 ou +

24,6
30

A partir do primeiro gráfico se observa que a grande maioria dos adolescentes – 86,8%
- pratica a leitura em maior ou menor grado. Somente 13,2% declarou não ler livros (Tabela
I). Não se busca com isto classificar os adolescentes em leitores ou não leitores, somente
constata-se que os adolescentes, em maior ou menor grau, praticam a leitura. Os números da
leitura entre adolescentes neste levantamento se aproximam ao padrão brasileiro estabelecido
pela pesquisa Pró-livro. Durante a observação em sala de aula comprovou-se que os alunos,
repetidamente disseram que costumam ler os lançamentos voltados para a massa adolescente.
Da mesma forma nas conversas se ouviu de parte dos adolescentes que eles dedicam seu
tempo à leitura dos gêneros que lhes interessa e que escolhem por iniciativa própria.

Gráfico II

Leitores de 6 ou mais livros por idade em %

30

48 14 anos
15 anos
16 anos
16,6 17 anos

28,5

No gráfico II ainda referido à mesma questão individualiza-se a quantidade de


adolescentes de cada idade que leem seis ou mais livros por ano. Percebe-se que a idade em
que os adolescentes leem mais é aos 14 anos e conforme a idade aumenta, a leitura é deixada
de lado até a chegada do vestibular.
Nas conversas verificou-se que o adolescente acessa a internet diariamente,
principalmente acessam as redes sociais. Especificamente os de 14 anos relataram que os pais
ainda mantém certo controle sobre o tempo que eles ficam conectados. Quanto maior
liberdade no acesso à tecnologia menor tempo de leitura. Observando-se a idade e
considerando que, segundo o levantamento e como já foi dito, os adolescentes de 14 anos são
os que mais praticam a leitura evoluindo para a menor prática à medida que passam os anos,
31

pode-se atribuir este comportamento aos hábitos vinculados ao uso da tecnologia que
aumentam de forma gradual com o passar dos anos.
O uso da tecnologia pode levar o jovem a procurar o imediatismo, o que requer menos
esforço em lugar da reflexão e isto reflete na leitura no seu conceito tradicional que requer
concentração, dedicação, intercâmbio e valoração de sentidos. Já o computador permite que o
adolescente realize várias ações ao mesmo tempo, ele pode navegar na internet, ouvir música,
jogar, participar de chats, todas as coisas com as quais o adolescente – nativo digital – está
familiarizado e gosta, enquanto que a leitura requer estar concentrado numa única dimensão,
ter um único objetivo e focar nele para alcançá-lo.
Outro ponto que se analisará está relacionado ao número de livros solicitados pelo
professor que o adolescente efetivamente lê. A tabela apresenta os números do levantamento.

Tabela II - Referente à pergunta: Dos livros que o professor pediu quantos você leu?

14 anos 15 anos 16 anos 17 anos Total %

1a3 6 7 3 6 22 36

Todos 19 4 6 2 31 50.8

Nenhum 0 3 3 2 8 13,2

Total dos alunos pesquisados 61

Gráfico III
32

Livros lidos (pedidos pelo Professor)


0

13,1

36 1a3
Todos
Nenhum

50,8

A partir do gráfico observa-se que 86,8% dos adolescentes parcial ou totalmente leem
os livros solicitados pelo professor sendo que somente 13,1% declara que não lê nenhum dos
livros solicitados (Tabela II). O principal motivo para a leitura é então a exigência da escola.
Neste ponto surge a ideia de obrigatoriedade da leitura, fator que tem sido repetidamente
citado pelos autores consultados no referencial teórico.
O adolescente perde a motivação para a leitura por ter que ler por obrigação, ele
entende a leitura como uma prática associada à realização de atividades escolares e não
necessariamente ao lazer. A prática da leitura está totalmente vinculada com a escola. Assim,
a leitura
Transformada em dever de casa ou/e matéria de prova – como acontece em muitos
colégios que ignoram (inercialmente) a viva discussão que se empreende contra a
utilização paradidática da literatura infanto-juvenil – seu efeito é devastador: forma
gerações de inimigos do livro, para quem malignos autores aliados a sádicos
professores conspiram para arruinar os fins de semana de jovens saudáveis e
desejosos de viver. (CONTE, 2002, p.35)

Durante a observação em aula a professora trabalhou o texto literário Memórias


póstumas de Bras Cubas, no começo quando a professora fez a introdução percebeu-se pelo
silêncio na sala que teria gerado certo interesse nos alunos. À medida que foi discorrendo no
texto ficou evidente a dificuldade que os alunos têm para interpretar o vocabulário mais
erudito e as metáforas perdendo aos poucos o interesse ficando evidenciado no barulho que
começa e as conversas paralelas.
Na conversa informal os adolescentes confirmaram que não têm tanto interesse na
leitura de textos literários, mas, mesmo assim eles se esforçam para ler os textos solicitados.
Um deles disse especificamente que tentou realizar essa leitura em consideração a professora
de quem gosta muito. Também disse que começou a leitura, mas, que o livro possuía muitos
capítulos para ler e ao mesmo tempo estava difícil de entender e que por isso recorreu à
33

internet para ter uma visão geral do livro. Ele sabia o nome dos personagens, alguns detalhes
do enredo, em que pessoa era narrada a história, mas, que não tinha entendido a ideia de
defunto-autor. Aqui se vê a importância de um professor e a diferença que pode fazer na vida
dos adolescentes. Mesmo não gostando da leitura ele cumpriu a indicação do professor pelo
carinho que sente por ele.
Com relação ao tipo de leitura preferido pelos adolescentes se apresenta a tabela
quantitativa dos gostos e se analisará o gráfico correspondente.
Tabela III - Referente à pergunta: Qual é o seu tipo de leitura preferido?

14 anos 15 anos 16 anos 17 anos Total %

Revistas- 0 2 2 5 9 14,7
jornais

Gibis 1 0 1 2 4 6,6

Livros 1 0 1 0 2 3,3
paradid.

Romance 8 2 4 2 16 26,2

Drama 1 1 0 0 2 3,3

Comédia 3 2 1 0 6 9,8

Poesia 0 0 0 0 0 0

Ficção
cientifica 8 2 0 0 10 16,4

Fantasia 3 2 2 0 7 11,5

Outro 0 3 1 1 5 8,2

Total dos alunos pesquisados 61


34

Gráfico IV

Tipo de leitura preferido

8,2
14,7

Revistas e jornais
11,5
Gibis
6,5
Livros paradidáticos
Romance
3,3
Drama
Comédia
16,4
Poesia
Ficção científica
Fantasia
26,2 Outro
0
9,8
3,3

Descreve-se neste gráfico que o adolescente se interessa por outro tipo de leitura. Os
paradidáticos e a poesia não estão entre os preferidos, mas, não se pode dizer que a prática da
leitura foi perdida por esta geração. Os preferidos são os livros de romance que são lidos por
26,2%, ficção científica 16,4%, drama 3,3%, fantasia 11,5%, comédia 9,8%, livros
paradidáticos 3,3%, gibis 6,5%, revistas e jornais 14,7% e poesia 0%. (Tabela III). Talvez os
temas e o suporte usados possam ter mudado junto com os adolescentes, porém, o mais
importante é comprovar que mesmo com os avanços tecnológicos e mudanças sociais o gosto
pela leitura pode ser cultivado por estes adolescentes e ainda despertado.
O que também chama a atenção é que 21,2% dos adolescentes indicaram que gostam
de ler revistas, jornais e gibis. Destes a grande maioria pertence ao grupo dos 17 anos. Este
número pode ser explicado pela suposta preferência que têm os adolescentes pelos textos
resumidos que normalmente encontram na internet e pela facilidade da leitura encontrada
neste tipo de publicação.
35

Um tema que sempre gera dúvidas é o prazer da leitura associado ao livro de muitas
páginas e o desgosto com a leitura associado à leitura de gibis, revistas e jornais. Para tentar
entender este ponto se cruzaram as informações relacionadas ao assunto.

Gráfico V

Adolescentes que leem Adolescentes que leem


revistas, jornais e gibis e o livros e o prazer da
prazer da leitura leitura

8,8
25
33,3 Sim Sim
Mais ou menos Mais ou menos
35,6
Não 55,6
Não
41,7

Dos adolescentes que afirmaram ler jornais, revistas e gibis, 33,3% assinalaram que a
leitura é um ato prazeroso, 41,7% que é mais ou menos prazeroso e 25% que não sentem
prazer na leitura. Já os que leem livros em geral, 55,6% sentem prazer na leitura, 35,6%
afirmam que é mais ou menos prazeroso e somente 8,8% não sentem prazer na leitura.
Quando relacionamos as variáveis tipo de leitura e prazer gerado, observa-se que entre
os que declaram ler livros, a grande maioria afirma sentir prazer na leitura. Esta ideia é menos
clara entre os adolescentes que leem revistas, jornais e gibis. Assim, se pode pensar que os
que desfrutam da leitura escolhem formatos tradicionais de leitura, enquanto os que escolhem
formatos mais simples sentem menos prazer na leitura.
Neste levantamento comprovamos que tudo o que se faz por obrigação de uma ou de
outra forma acaba tornando-se entediante e levando ao desinteresse. Durante a conversa com
um adolescente de 16 anos, quando indagado sobre a preferência leitora este disse que lia
revistas e jornais. Questionado sobre o motivo dessa leitura respondeu que gostava, pois,
escolhia o tema da sua preferência para ler e porque a revista trazia imagens que faziam que a
leitura fosse mais amena.
36

Quando se pergunta sobre os livros que o adolescente gosta de ler, o desgosto pelos
livros de leitura obrigatória fica evidenciado. A tabela mostra a quantificação dos dados. No
gráfico mostra-se a resposta de cada idade relacionada com a escolha dos livros.
Tabela IV - Referente à pergunta: De quais livros você gosta?

14 anos 15 anos 16 anos 17 anos Total %

Dos que
escolhe por 17 5 6 5 33 54
iniciativa
própria.

Dos que o
professor
pede em sala 1 0 1 0 2 3,3
de aula como
leitura
obrigatória.

Dos que
alguém 5 3 2 2 12 19,8
indica

Não gosta de
ler livros 2 6 3 3 14 22,9

Total dos alunos pesquisados 61


Gráfico VI

Gosta dos livros que...

22,9 Escolhe por iniciativa própria

Professor indica (obrigação


escolar)

54 Alguém indica
19,7
Não gosta de ler

3,3
37

A grande maioria – 54% - declarou que gostam dos livros que escolhem por iniciativa
própria, os que alguém indica também tiveram peso -19,7% - declararam que gostam de ler os
indicados e 3,3% declararam que gostam de ler os que o professor indica como obrigação
escolar (Tabela IV). Novamente aparece o lado vilão da obrigatoriedade da leitura
provocando no adolescente a rejeição. Nesta pergunta apareceram as primeiras cifras altas dos
que indicam que não gostam de ler – 22,9% - dos adolescentes de 14 a 17 anos assinalaram
esta opção.
Durante a observação em sala de aula comprova-se o desinteresse por parte de muitos
alunos com relação aos livros que o professor indica. Vários, ao serem questionados pela
professora disseram não ter lido o texto. Observaram-se apresentações orais na 1ª série do
E.M. do livro Vidas Secas. Alguns alunos apresentaram um conteúdo amplo, próprio de quem
teve um contato maior com a obra e pesquisou a respeito. Outros apresentaram o resumo da
internet. Nas conversas informais os adolescentes deixaram claro que não gostam da
obrigatoriedade das leituras exigidas pela escola na pessoa do professor.
Quando se analisa especificamente os dados obtidos através da pergunta referente aos
textos literários não houve novidades. Os adolescentes que normalmente costumam apreciar a
leitura mostraram sua força e ao mesmo tempo os que não gostam também foram
representados fortemente no seguinte gráfico.

Tabela V - Referente à pergunta: Quando falamos de textos literários clássicos você...

14 anos 15 anos 16 anos 17 anos Total %

Gosta de ler 12 4 3 2 21 34,4

Não gosta de
ler porque o
assunto não 9 3 5 6 23 37,7
interessa

Não gosta de
ler porque o 2 5 4 1 12 19,7
vocabulário é
confuso

Outro 2 2 0 1 5 8,2

Total dos alunos pesquisados 61


38

Gráfico VII

Leitura de textos literários

8,2

Gosta de ler
34,4
19,7
Não gosta, o assunto não
interessa
Não gosta, vocabulário confuso

Outro

37,7

A leitura dos clássicos da literatura tem sido um tema tabu para muitos. Quando se fala
com os professores vez após vez o relato é o mesmo. O adolescente não gosta da leitura de
este tipo de texto. Os motivos citados na questão foram o desinteresse pelo tema tratado no
livro e a dificuldade com relação ao vocabulário considerado confuso por muitos
adolescentes. 65,6% dos entrevistados disse que não gosta da leitura de clássicos, enquanto
34,4% afirma gostar (Tabela V).
Estes resultados condizem com os resultados observados nas pesquisas dos grandes
institutos. O jovem não lê textos que sejam difíceis de interpretar ou cujo tema não lhe
interesse. Os professores têm sua reclamação confirmada na observação de aula, os alunos
apresentam um comportamento diferente quando se trabalham estes textos. Parece que a
tendência é de reclamação por parte deles sempre que este tema é trabalhado. A afirmação eu
não entendi foi ouvida várias vezes durante a aula.
Os textos lidos no Ensino Fundamental II e EM são bem diferentes no que diz respeito
à dificuldade de interpretação e compreensão. Isto fortalece os dados apurados no
levantamento, pois, o gráfico seguinte mostra o gosto na leitura dos paradidáticos / literários
nos diferentes ciclos escolares.
Nas conversas tidas os adolescentes disseram que há livros mais interessantes que os
propostos pela escola e que eles os preferem não somente pelo tema – que eles escolhem –
mas também pelo vocabulário usado, atual e entendível.
39

Tabela VI - Referente à pergunta: Quando você mais gostou de ler livros


paradidáticos/literatura clássica?

14 anos 15 anos 16 anos 17 anos Total %

Na Educação
Infantil 0 0 0 0 0 0

No Ensino
Fundamental 1 0 3 0 4 6,6
I

No Ensino
Fundamental 17 7 4 4 32 52,5
II

No Ensino 1 0 3 2 6 9,8
Médio

Sempre 3 2 0 0 5 8,2

Nunca 3 5 2 4 14 22,9

Total dos alunos pesquisados 61

Gráfico VIII

Quando gostou de ler


paradidáticos/literatura
0

6,6
22,9 Educação Infantil
Ensino Fundamental I
Ensino Fundamental II
8,2 Ensino Médio
Sempre
52,5
9,8 Nunca
40

Os dados indicam que a maioria dos adolescentes – 52,5% - preferem os textos


trabalhados durante o Ensino Fundamental II, 9,8% indicaram que preferem os lidos no
Ensino Médio, 6,6% os do Fundamental I, 8,2 indicaram que sempre gostaram e 22,9%
indicaram que nunca gostaram de lê-los (Tabela VI).
Como exemplos dos textos usados no FII pode-se citar, entre outros, João Bobo e o
segredo da princesa, A chave da sabedoria, Os doze caçadores, Os sapatos dançarinos, A
cigarra e as formigas, A galinha dos ovos de ouro, A coruja e a águia, O cachorrinho
engraçadinho, O mistério do coelho pensante, A bailarina, Edmundo o céptico, O ladrão,
Morte e vida Severina, Grande sertão: veredas, Macunaíma, Odisseia.
Já no Ensino Médio se analisam textos mais complicados, por exemplo, Auto da barca
do inferno, Os Lusíadas, A cartomante, Memórias de um Sargento de Milícias, Senhora, Dom
Casmurro, O primo Basílio, O crime do Padre Amaro, O cortiço, Os sertões, Triste fim de
Policarpo Quaresma, Casa-Grande & Senzala, Vidas Secas, entre outros.
Nesta questão se observa que o adolescente encontra dificuldade no vocabulário
apresentado nas obras e desinteresse no tema tratado nos textos literários clássicos. À medida
que os textos tornam-se mais complicados ele perde o gosto pela leitura e a realiza por
obrigação ou simplesmente não a realiza. Tudo o que é feito por obrigação acaba
desmotivando o leitor. Também houve quem respondeu que nunca gostou deste tipo de texto,
22,9% dos adolescentes assinalaram esta resposta.

No fundamento teórico deste trabalho foi mostrada a importância da família no gosto


pela leitura. É desde criança que se fomenta a leitura e os motivadores principais são os pais,
avós, tios, irmãos ou quem porventura conviva com ela. Geralmente quando a criança tem um
modelo de leitor em casa à tendência é apreciar a leitura. Também a escola e os professores
têm um papel importante, pois, o primeiro contato com os textos de literatura, em geral,
acontece aqui. Dependendo desse contato se formarão leitores ou se afastará o adolescente da
literatura.
No seguinte gráfico se mostra o papel que cada um desenvolve na formação leitora dos
adolescentes.

Tabela VII - Referente à pergunta: Quem te incentivou a ler ou a quem você observava lendo
durante a infância?
41

14 anos 15 anos 16 anos 17 anos Total %

Pais 15 4 4 4 27 44,3

Avós 0 0 0 1 1 1,6

Professores 4 2 2 0 8 13,1

Escola 1 5 3 3 12 19,7

Outros 5 3 3 2 13 21,3

Total dos alunos pesquisados 61


Gráfico IX

Quem incentivou a leitura...

21,3

Pais
44,3 Avós
Professor
Escola
19,7
Outros

13,1
1,6

Os maiores incentivadores da leitura são sem dúvida os pais. Há um ditado popular


que diz que vale mais o exemplo que a palavra. 44,3% dos adolescentes afirmam que viram
nos pais o exemplo de leitor. A escola ficou com 19,7% dos créditos, professores com 13,1%,
avós 1,6% e outros 21,3% (Tabela VII). É evidente a importância da família no incentivo a
leitura, mas, se ressalta o trabalho em conjunto entre ela, a escola e a sociedade como um
todo. O trabalho de incentivo à leitura não deve ser visto como uma iniciativa isolada, no
entanto, um conjunto de iniciativas em prol de um único objetivo.
42

Durante a infância o papel da escola é de dar as ferramentas para que a leitura seja
aprendida e realizada, ou seja, a escola apresenta a técnica. O hábito deve ser adquirido em
casa. Quando os pais são leitores assíduos e transferem aos filhos esse costume a tendência é a
repetição da prática leitora, assim, a leitura de jornais, revistas, livros, literatura em geral,
despertam a curiosidade e o interesse na criança e ajudam na construção da aprendizagem da
leitura como hábito. O papel principal da família é motivar a leitura para que a criança e o
adolescente tenham consciência da importância da leitura para a vida, para a sociedade e para
o país.
Quando se fala do prazer produzido pelo ato da leitura às opiniões se dividem. Os que
gostam de ler evidentemente acham que isto lhes produz prazer. No próximo gráfico se
apresentam os dados.
Tabela VIII - Referente à pergunta: A leitura é um ato prazeroso?

14 anos 15 anos 16 anos 17 anos Total %

Sim 16 4 6 4 30 49,2

Mais ou 9 4 3 5 21 34,4
menos

Não 0 6 3 1 10 16,4

Total dos alunos pesquisados 61


Gráfico X

A leitura é um ato prazeroso...

16,4

Sim
49,1
Mais ou menos
Não
34,4
43

Os que disseram que é um ato prazeroso correspondem a 49,1%, os que não entendem
a leitura como cem por cento prazerosa são 34,4% e os que acham que a leitura não é um ato
prazeroso correspondem a 16,4%. Somados os que acham a leitura mais ou menos prazerosa e
os que não encontram prazer nela o total corresponde a 50,8% (Tabela VIII).
Deve-se lembrar de que se encontraram adolescentes entre 14 e 17 anos a partir do 8º
ano do FII até 3ª série do EM. Estes adolescentes já tiveram experiências de leitura de textos
no FII e que na questão 6 a grande maioria respondeu que foi a época em que mais gostaram
dos textos lidos.
A resposta a esta pergunta pode ser consequência das experiências leitoras atuais, ou
seja, do Ensino Médio, em que o tema do texto não é tão interessante e vocabulário torna-se
mais complicado, sem contar que existe a leitura exigida pela escola. Talvez a obrigatoriedade
da leitura acadêmica tenha tirado da leitura a experiência estética motivada pelo prazer do
texto em si, pela troca entre pessoa e livro.
A leitura é um exercício que requer o uso da imaginação e esforço para interpretar o
autor. Muitos adolescentes optam pela lei do menor esforço. Preferem dedicar-se ao
videogame, ao computador ou ao celular que têm a característica de oferecer grandes
quantidades de imagens que facilitam a interpretação das histórias sem tanto esforço. Na
verdade as imagens contam a história sem a necessidade de palavras.
Dessa forma tomam o lugar do livro, que para ser interpretado, precisa que o
adolescente se esforce para criar as imagens passadas pelas palavras tornando a leitura menos
prazerosa para muitos. Os dados mostram que o gosto pela leitura e o prazer que esta oferece
dividem as opiniões dos adolescentes do nosso levantamento.

Referente ainda ao prazer obtido na leitura, esta pergunta foi feita pensando no
aumento desse prazer ao longo dos anos. Será que esse adolescente comparativamente sente
maior ou menor prazer à medida que se aproxima do final do Ensino Médio? Em que
momento gostou mais das leituras realizadas?

Apresenta-se a tabela na qual se separam os dados obtidos no levantamento relativo a


cada faixa etária e o gráfico para representar as respostas em porcentagem.

Tabela IX - Referente à pergunta: Você considera que o prazer obtido através da leitura ao
longo dos anos...
44

14 anos 15 anos 16 anos 17 anos Total %

Aumentou 12 3 3 3 21 34,4
muito

Aumentou 10 4 4 3 21 34,4
um pouco

Não mudou 2 5 3 3 13 21,3

Diminui 1 1 1 0 3 4,9

Diminuiu 0 0 1 0 1 1,7
muito

Perdeu-se 0 1 0 1 2 3,3
totalmente
Total dos alunos pesquisados 61

Justificativas dadas pelos alunos que responderam que o prazer pela leitura diminuiu ao
responderem a pergunta nº 9. Você considera que o prazer obtido através da leitura ao longo
dos anos...
( ) Aumentou muito
( ) Aumentou um pouco
( ) Não mudou
( ) Diminuiu, porque ____________________________________________________
( ) Diminuiu muito , porque _______________________________________________
( ) Perdeu-se totalmente, porque ____________________________________________

Adolescentes de 14 anos:

“A escola obriga você a ler livros que eu não gosto.”

Adolescentes de 15 anos:
“Comecei a me interessar por outras coisas.”

Adolescentes de 16 anos:
45

“Não tenho tido muito tempo pra me concentrar.”


Justificativas dadas pelos alunos que responderam que o prazer pela leitura diminuiu muito ao
responderem a pergunta nº 9. Você considera que o prazer obtido através da leitura ao longo
dos anos...
( ) Aumentou muito
( ) Aumentou um pouco
( ) Não mudou
( ) Diminuiu, porque ____________________________________________________
( ) Diminuiu muito , porque _______________________________________________
( ) Perdeu-se totalmente, porque ____________________________________________
Adolescentes de 16 anos:
“A escola me forçou a ler livros muito desinteressantes.”
Justificativas dadas pelos alunos que responderam que o prazer pela leitura perdeu-se
totalmente ao responderem a pergunta nº 9. Você considera que o prazer obtido através da
leitura ao longo dos anos...
( ) Aumentou muito
( ) Aumentou um pouco
( ) Não mudou
( ) Diminuiu, porque ____________________________________________________
( ) Diminuiu muito , porque _______________________________________________
( ) Perdeu-se totalmente, porque ____________________________________________
Adolescentes de 15 anos:
“Esqueci.”
Adolescentes de 17 anos:
“Eu esqueço de tudo o que leio.”

Gráfico XI

Considera que o prazer obtido na leitura ao


longo dos anos...
1,7

4,9

Aumentou muito
21,3 34,4
Aumentou um pouco
Não mudou
Diminuiu
Diminuiu muito

34,4
46

Nesta questão 68,8% dos adolescentes responderam que o prazer na leitura aumentou
muito ou um pouco, enquanto que 21,3% disseram que não mudou. 4,9% disseram que
diminuiu e 1,7% que diminuiu muito (Tabela IX) e justificam essa perda pelo fato da escola
obrigá-los a ler textos que eles não gostam, porque se interessaram por outras coisas e ainda
porque não têm tempo para a leitura.
Mesmo evidenciando-se a presença dos adolescentes que afirmam que o prazer
provocado pela leitura diminuiu bastante, o número dos que afirma que aumentou sobrepõe-
se, levando a pensar que para a ampla maioria o prazer que a leitura produz é grande. “Diante
de algumas situações de inércia, torna-se necessário repetir o óbvio: leitura é prazer.”
(CONTE, 2002, p. 35). Prevalece aqui como resposta a positividade com relação à leitura
associada ao prazer. O adolescente ainda gosta de ler pelo simples fato de sentir-se à vontade
com relação ao efeito causado pela leitura.

Na última pergunta a ideia foi que eles avaliassem o papel da escola como
incentivadora da leitura. Será que o adolescente acha que a escola tem cumprido seu papel
estimulador ou tem pecado forçando a leitura por obrigação e barganhado leitura por nota?

Tabela X - Referente à pergunta: Você considera que as escolas em geral exercem o papel de
incentivadoras da leitura?

14 anos 15 anos 16 anos 17 anos Total %

Sim 10 6 1 2 19 31,2

Mais ou 12 6 9 5 32 52,4
menos

Não 3 2 2 3 10 16,4

Total dos alunos pesquisados 61


47

Gráfico XII

Considera que as escolas exercem papel de


incentivadoras da leitura...

16,4

31,2
Sim
Mais ou menos
Não

52,4

Na resposta a esta questão, 31,2% dos adolescentes afirmam que a escola cumpre o
papel de incentivadora da leitura, 52,4% afirmam que cumpre em partes e 16,4% que não
incentiva a leitura (Tabela X). Quando se observam estes dados, deve-se lembrar de que o
papel da escola é ativo e que “o efeito da escola sobre o gosto pela leitura é muitas vezes
complexo.” (PETIT, 2008, p.154) O ensino dos textos clássicos muitas vezes provoca esse
sentimento de rejeição nos adolescentes principalmente nas idades estudadas neste trabalho,
pois, “no ensino médio, sobretudo, quando a postura do leitor diante do livro deve ser mais
distanciada e a abordagem mais erudita, muitos jovens perdem o gosto por ler.” (PETIT,
2008, p.155) Cabe à escola fazer com que o contato entre o adolescente e a leitura seja
fecundo e motivador para assim obter bons leitores.
48

CONCLUSÃO
Quando se pensou no tema que abordaria este trabalho a primeira pergunta que surgiu,
com base nas pesquisas observadas, foi: O adolescente lê?
Em conversas com alguns professores de distintas disciplinas se ouviu muitas vezes que o
adolescente não lê os textos indicados. Ao mesmo tempo, o professor afirmava que o aluno lia
bastante outro tipo de livros. Esta questão foi o que motivou a escolha deste tema. Assim,
começou a observação dos adolescentes.
Em inúmeras situações se encontraram adolescentes com seus livros sendo carregados
nas mãos e muitos deles lendo e andando ao mesmo tempo. Isto gerou aquela dúvida cruel:
Que o adolescente não leia textos de leitura obrigatória quer dizer que não gosta de ler? A
proposta foi tentar entender as práticas de leitura dos adolescentes de 14 a 17 anos. Buscou-se
saber o que eles gostam de ler, como escolhem os livros, que pensam dos textos indicados
pela escola, quem os motiva a ler e se a escola faz parte desses motivadores.
A escola foi escolhida para evitar desculpas financeiras como o motivo para não ler e
assim, a articulação entre questionário, observação de aula e conversa informal mostrou-se
satisfatória, pois, permitiu a ampliação das respostas obtidas. Comprovou-se que a leitura é
considerada importante para muitos adolescentes enquanto que para outros não tanto.
Verificou-se que o nível socioeconômico nem sempre é garantia de leitores, pois, os
adolescentes que responderam as questões apresentam uma situação financeira e social muito
boa e quando se analisaram os dados obtidos houve muitos que declararam não gostar da
leitura. Não necessariamente a facilidade de acesso ao livro é fator determinante para a
leitura.
Verificou-se neste levantamento que o adolescente lê best-sellers que é a leitura da
moda e da sua geração. Eles leem o que lhes interessa. Pode-se verificar também nas
conversas que eles têm consciência de que o volume de leitura é pouco e que poderiam ler
muito mais dada à facilidade que tem de acesso aos livros em qualquer suporte.
Quando se fala de leitura obrigatória, aquela pedida pelo professor, não há acordo.
Verifica-se que eles a consideram desinteressante, com vocabulário difícil, antiga demais para
a modernidade na qual estão inseridos. Parece que há um abismo entre as leituras que eles
fazem por iniciativa própria e as dos textos solicitados pela escola, ou literatura, já que eles
não consideram que ambas fazem parte do mesmo universo, como se os textos clássicos não
fossem feitos para eles.
Durante a conversa informal um adolescente de 15 anos perguntou para que
contribuiria na sua vida a leitura desse texto antigo. Não se procurou saber neste trabalho há
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quantos anos está em vigor à recomendação dos textos literários vigentes nos programas de
cada série, mas, talvez para evitar essa tensão entre adolescentes e livros se poderiam revisar
os títulos do currículo escolar para que gerem interesse nos alunos.
Os avanços tecnológicos têm contribuído para a universalização das facilidades em
todos os aspectos. O nativo digital acessa todas as informações que necessita ou que lhe
interessam de forma rápida e objetiva. A interação avanços tecnológicos – leitura tem
melhorado e muitos adolescentes já fazem uso desse recurso para ler livros online.
Comprova-se que ainda há muito por ser alcançado nesta área. Os adolescentes e a
escola poderiam usar a tecnologia muito mais a seu favor. O que tem limitado a escola neste
quesito se acredita, pelo visto na observação de aula, é a dificuldade que tem o adolescente
em controlar a internet especificamente e não ser controlado por ela. De forma constante viu-
se que durante a aula o adolescente navega pela internet, usa as redes sócias e chats de forma
desnecessária, causando atrito com o professor. Assim, a tecnologia tem que ser deixada de
lado pela falta de autocontrole.
Com relação à pergunta que deu inicio a este trabalho, confirma-se o observado
durante a preparação do tema: o adolescente lê. Talvez não leia o que a escola e os
professores esperam, ou seja, os textos que fazem parte do currículo escolar, mas, de nenhuma
forma podemos dizer que ele não lê.
Sobre o papel da família no gosto pela leitura verificou-se no levantamento que o
modelo de leitor visto pelos adolescentes ao longo dos anos é principalmente dos pais e
familiares. Assim, a família não pode fugir da responsabilidade que tem nas práticas leitoras
do adolescente. Os pais são os primeiros encarregados de semear o hábito de leitura na
criança.
É sua responsabilidade colocar a criança em contato com o livro. Isto pode acontecer a
partir de simples ações que mostrem à criança que ler é fascinante. Desde os contos lidos à
noite, na recontagem das histórias pelas crianças, na recriação na qual se pode contar a
história desde o ponto de vista de outro personagem e nas simples conversas do dia a dia
sobre o que a criança ouve. Tudo leva a que a criança ainda pequena tenha a percepção de que
há diversidade de pontos de vista, e que através da leitura ela terá a oportunidade de construir
sua opinião.
Já que os hábitos dos pais influenciam diretamente nos filhos, o gosto pela leitura
também pode ser algo que a criança aprenda na sua casa. Se os pais dão valor à leitura e
dedicam tempo para realizá-la com seus filhos a criança aprenderá a apreciar a prática da
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leitura. Os pais são modelos que os filhos imitarão. Assim, criança leitora provavelmente será
um adolescente leitor.
A escola também tem sua parcela de responsabilidade. Os adolescentes demonstraram
isso no levantamento ao dizer que a escola tem influenciado seu gosto pela leitura. Sabe-se
que ela deve cumprir com o programa e atividades estabelecidas pelas autoridades da
educação e a leitura é mais um dos objetivos a ser alcançados.
Entende-se que o gosto pela leitura não é especificamente sua prioridade, no entanto,
deve dar prioridade ao desenvolvimento do vocabulário, da ortografia, da gramática e da
capacidade do aluno para analisar. Mesmo assim, cabe a ela apresentar a leitura de modo
amplo e diversificado para que se reconheça que a leitura não somente é um instrumento para
o aprendizado da gramática, e sim que a leitura vai além, que abre a mente, que mostra o
mundo.
A leitura não deve ser usada como um simples instrumento para medir o conhecimento
e obter nota. Deve ser maior que a obrigatoriedade imposta pela escola. Assim, o papel do
professor como representante da entidade escola é muito importante. Em primeiro lugar deve
ser um leitor por excelência, deve ter um repertório de indicações de leitura muito amplo e
deve estar sempre receptivo aos comentários dos adolescentes sobre suas práticas leitoras.
Também deve incentivar o intercâmbio de experiências em sala de aula não somente
dos textos que fazem parte do programa escolar, mas, também dos textos que o adolescente lê
por conta própria, podendo incluir jornais e revistas. A experiência do professor deve leva-lo
a intermediar e orientar a relação adolescente-leitura de modo tal que o adolescente possa
dialogar com o texto sem imposições e sim usando sua consciência crítica. Da mesma forma
pode alternar o tipo de texto, ou seja, estudar a literatura clássica e alternar com textos mais
recentes, que apresentem tema e vocabulário mais próximo do adolescente.
O modo como a escola apresenta os livros e desenvolve o trabalho com eles é de vital
importância para determinar o futuro leitor desses adolescentes.
Assim, ela cumprirá seus objetivos de aquisição de habilidades e estimulará o gosto e
interesse pela leitura.
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6. REFERÊNCIAS

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UNESP, 2006.

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[on-line] Edição 24, outubro 2002, Disponível na Internet:
http://www.usp.br/espacoaberto/arquivo/2002/espaco24out/vaipara.php?materia=0varia.
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CONTE, Valdecir. KONICZEK Stanilsaw. (orgs.). Literatura infanto-juvenil e seus


caminhos. São Paulo: Paulus, 2002.

ECO, Umberto. Lector in fabula: a cooperação interpretativa nos textos narrativos. São
Paulo: Perspectiva, 1986.

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Veja. [on- line]. Edição 2262, 28/03/2012, Disponível na Internet:
http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/habito-de-leitura-no-brasil-cai-ate-entre-criancas. Acessado em
06/07/2014.

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JOUVE, Vincent. A leitura. Tradução Brigitte Hervot. São Paulo: Editora Unesp, 2002.

KUPSTAS, Marcia (org.).Educação em debate. São Paulo: Moderna, 1998.

PARNAIBA, Cristiane. GOBB, Maria Cristina. Os Jovens e as Tecnologias da Informação


e da Comunicação: aprendizado na prática. Revista Anagrama: Revista Científica
Interdisciplinar da Graduação Ano 3 - Edição 4 – Junho-Agosto de 2010, Disponível na
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http://www.revistazn.com.br/colunistas/ana-maria-schiesari/politicas-publicas/voce-ja-parou-
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terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa. Brasília: MEC/SEF,
52

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em 29/09/2014.

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO. Parâmetros curriculares nacionais Ensino Médio.


Brasília: MEC/SEF, 2000. Disponível na Internet
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YUNES, Eliana. OSWALD,Mª Luiza.A experiência da leitura. Edições Loyola, 2003.


53

7. APÊNDICES
Questionário Original
Prezado aluno:
Obrigado pela cooperação com este levantamento. Todas as informações serão analisadas em um Trabalho de Curso.
Garantimos que todas as respostas fornecidas serão mantidas no anonimato. Por favor, responda as questões com
caneta.
Série: Idade: Sexo: M / F
1. Quantos livros você lê no ano?
( ) Não leio livros.
( ) 1-3
( ) 3-5
( ) 6 ou mais
2. Dos livros que o professor pediu; quantos você leu?
( ) 1-3
( ) Todos
( ) Nenhum
3. Qual é o seu tipo de leitura preferido?
( ) Revistas, ( )Jornais
( ) Gibis
( ) Livros Paradidáticos
( ) Livros de romance, ( ) drama, ( )comédia, ( )poesia, ( )ficção científica, ( )fantasia
( ) Outro ___________________
4. De quais livros você gosta?
( ) Dos que escolhe por iniciativa própria.
( ) Dos que o professor pede em sala de aula como leitura obrigatória.
( ) Dos que alguém indica.
( ) Não gosta de ler livros.
5. Quando falamos de textos literários clássicos você...
( ) Gosta de ler
( ) Não gosta de ler porque o assunto não interessa
( ) Não gosta de ler porque o vocabulário é confuso
( ) Outro ___________________
6. Quando você mais gostou de ler livros paradidáticos/literatura clássica?
( ) na Educação Infantil
( ) no Ensino Fundamental I
( ) no Ensino Fundamental II
( ) no Ensino Médio
( ) sempre
( ) nunca
7. Quem te incentivou a ler ou a quem você observava lendo durante a infância?
( ) Pais
( ) Avós
( ) Professores
( ) Escola
( ) Outro ___________________
8. A leitura é um ato prazeroso?
( ) Sim
( ) Mais ou menos
( ) Não
9. Você considera que o prazer obtido através da leitura ao longo dos anos...
( ) Aumentou muito
( ) Aumentou um pouco
( ) Não mudou
( ) Diminuiu, porque ______________________________________________
( ) Diminuiu muito , porque ______________________________________________
( ) Perdeu-se totalmente, porque ______________________________________________
10. Você considera que as escolas em geral exercem o papel de incentivadoras da leitura?
( ) Sim
( ) Mais ou menos
( ) Não
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