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A EFETIVIDADE DE POLITICAS PÚBLICAS NA QUESTÃO DO REFUGIADO NO

BRASIL

Anadia Aparecida Cunha Cardozo1; Miguel Ângelo Silva de Melo2. Discente do Curso
de Direito Faculdade Paraíso do Ceará/FAP. Departamento de Direito da Faculdade
Paraíso do Ceará/FAP, cardozocrato2000@yahoo.com.br;
prof.msc.miguelangelomelo@hotmail.com.

RESUMO

Refugiado é toda a pessoa que, em razão de fundados temores de perseguição devido


à sua raça, religião, nacionalidade, associação a determinado grupo social ou opinião
política, encontra-se fora de seu país de origem e que, por causa dos ditos temores,
não pode ou não quer regressar ao mesmo. Estes exigem uma demanda de políticas
públicas, devido às dificuldades iniciais enfrentadas pelos refugiados e seus familiares
até adquirirem condições materiais e psicológicas para estabelecer uma nova vida e
realidade. Este estudo visou averiguar a efetividade de políticas públicas na questão
do refugiado no Brasil. Estudo com uma abordagem qualitativa tendo por objetivo o
desenvolvimento de uma pesquisa exploratória, de caráter dedutivo utilizando-se
recursos bibliográficos partindo de fontes primárias e secundárias. Os dados foram
coletados por meio de levantamento da bibliografia publicada. Os resultados
encontrados mostram que a partir da Lei 9474/97 o Governo do Brasil tem a
responsabilidade de recepcionar os refugiados, facilitando sua integração e
disponibilizando o seu acesso às políticas públicas. Os refugiados sofrem de uma
grande carência de experiência profissional, ao chegar o refugiado recebe uma
carteira de identidade, emitida pela Polícia Federal dando o direito de usufruir a
programas governamentais. No entanto, o programa de políticas publica no Brasil
ainda é bastante tímido no que tange ao recebimento, acolhimento e “reassentamento
como também não tem estrutura suficiente e nem programas claramente definidos
para receber e integrar refugiados. Conclui-se que no Brasil, a maior parte dos
refugiados no mundo espera por soluções permanentes para suas condições. Os
direitos de ir e vir e de trabalhar são altamente restringidos e as oportunidades de
lazer geralmente inexistem ou são pouco oferecidas.

Palavras-chaves: Brasil. Políticas Públicas. Refugiados.


INTRODUÇÃO

A intolerância religiosa, étnico, político ou econômico tem ocasionado situações


de conflito como guerras civis no plano internacional colocando em risco grupos ou
indivíduos. Em razão disso, as migrações forçadas resultou em uma população
mundial atual de, aproximadamente, 9,7 milhões de refugiados. Deste total, 38.300
são provenientes da América Latina e do Caribe (ACNUR, 2004b, p. 4). É de se
ressaltar que o crescente contingente de refugiados espalhados pelo globo representa
uma problemática que desafia a comunidade internacional há mais de cinqüenta anos.

Segundo estatística do CONARE (Comitê


Nacional para os Refugiados), “4.131 refugiados
de 72 nacionalidades vivem no Brasil, dos quais
3.745 são “espontâneos”, que chegam ao país por
si só, freqüentemente através de redes sociais, e
386 reassentados, oriundos de outros países de
primeiro asilo, pelos programas de
reassentamento, coordenados pelo CONARE com
o apoio do ACNUR (Alto Comissariado das
Nações Unidas para os Refugiados) e outras
organizações da sociedade civil. O maior grupo
acolhido é de angolanos (1.687); em seguida,
aparecem os colombianos (551) e congoleses
(356)” (MOREIRA, 2010, p. 118).

De acordo com a Convenção de Genebra de 1951, o termo “refugiado” aplica-


se a qualquer pessoa que “em conseqüência de acontecimentos ocorridos antes de 1
de Janeiro de 1951, e receando com razão ser perseguida em virtude da sua raça,
religião, nacionalidade, filiação em certo grupo social ou das suas opiniões políticas,
se encontre fora do país de que tem a nacionalidade e não possa, ou em virtude
daquele receio, não queira pedir a proteção daquele país; ou que, se não tiver
nacionalidade e estiver fora do país no qual tinha a sua residência habitual após
aqueles acontecimentos, não possa, ou, em virtude do dito receio, a ele não queira
voltar” (CIERCO, 2007, p.149).
A Lei 9.474, que define o estatuto dos refugiados no Brasil, é a primeira
legislação abrangente dedicada a este tema na América Latina. Dois aspectos que ela
possui merecem atenção especial. O primeiro diz respeito à definição do conceito de
refugiado. Além de reproduzir a definição clássica da Convenção de 1951, no seu
Artigo 1º (III), a Lei 9.474 afirma que um indivíduo deve ser reconhecido como
refugiado se "devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado
a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país". Esta definição
abrangente é importante, sobretudo quando são consideradas as causas dos recentes
deslocamentos forçados ao redor do mundo. Além disso, a definição vai ao encontro
da prática adotada pelo Governo brasileiro desde o início da década de 1990
(ANDRADE; MARCOLINI, 2002).
Os movimentos de refugiados, referentes a indivíduos que deixam seus países
de origem e tentam se estabelecer em outros países, retratam os fluxos de pessoas
através das fronteiras nacionais, que vêm se acentuando nas últimas décadas.
Conseqüentemente, esse grupo de indivíduos constitui um problema tanto para os
países que os acolhem, quanto para aqueles dos quais provêm e, muitas vezes, para
os países da região. Estes exigem uma demanda de políticas públicas, devido às
dificuldades iniciais enfrentadas pelos refugiados e seus familiares até adquirirem
condições materiais e psicológicas para estabelecer uma nova vida e realidade.
Para Pacífico (2010, p. 358), as políticas públicas “são as políticas realizadas
pelo governo, diretamente ou por intermédio de agentes autorizados, visando à
melhoria da qualidade de vida da população-alvo daquelas políticas”. Portanto, as
políticas públicas possuem sempre natureza estatal, mesmo que, durante a
implementação de programas, projetos e atividades, exista o envolvimento de agentes
privados.
Nesse sentido, vale destacar que a questão dos refugiados é um tema de
relevâncias por apresentar uma dupla dimensão: requer a cooperação entre os países,
por se tratar de um problema humanitário, mas, ao mesmo tempo, acarreta conflito
entre eles, por se tratar de um problema também político, que abrange disputas e
interesses.

OBJETIVOS

Este estudo visou averiguar a efetividade de políticas públicas na questão do


refugiado no Brasil.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi desenvolvido com uma abordagem qualitativa tendo por objetivo o
desenvolvimento de uma pesquisa exploratória, de caráter dedutivo utilizando-se
recursos bibliográficos partindo de fontes primárias e secundárias.
A temática e a problemática dos refugiados não devem ser reduzidas apenas
ao processo de proteção, mas também na ótica da prevenção e da solução. Para tanto
as políticas públicas para esses indivíduos são necessárias no primeiro momento no
país, amenizando as ameaças ou a efetiva violação desencadeada pelos conflitos
internos e pela limpeza étnica sobre os direitos universais do ser humano, que levam à
solicitação do refúgio.
Os dados foram coletados por meio de levantamento da bibliografia publicada,
no mês de outubro de 2010. Os descritores utilizados foram: Brasil, políticas públicas e
refugiados.

RESULTADOS

No Brasil, no período anterior a Lei 9474/97, nas décadas de 60 e 70, durante a


vigência de regimes ditatoriais na América Latina, muitas pessoas chegavam ao país
em busca de refúgio, “porém, o reconhecimento de refugiados, durante muitos anos,
foi restritamente limitado. As causas centrais foram a manutenção da “reserva
geográfica”, que foi abolida somente em 1989, e o próprio regime ditatorial vigente em
nosso país que não reconhecia as condições para a condição de refúgio nos irmãos
latino-americanos perseguidos pelos governos ou vítimas da violência em seus países.
Refugiados reconhecidos, portanto, até final dos anos 80, reduziam-se a algumas
dezenas” (MILESI, 2000).
A partir da Lei 9474/97, o CONARE emanou Resolução permitindo que, após
seis anos do reconhecimento do refúgio, o refugiado pode requerer o visto
permanente, caso este tenha se integrado na sociedade brasileira e queira optar
definitivamente pela residência no Brasil. O ACNUR, assiste aos refugiados por um
período inicial limitado, com auxílio para subsistência, moradia, transporte, mas foca-
se principalmente no aprendizado da língua, na capacitação e orientação profissional e
propicia acesso ao micro-crédito, através de parcerias. Em contrapartida e conforme
previsto no Acordo Macro, o Governo do Brasil tem a responsabilidade de recepcionar
os refugiados, facilitando sua integração e disponibilizando o seu acesso às políticas
públicas de saúde, educação e emprego, com o apoio do ACNUR e de organizações
governamentais ou não governamentais (DOMINGUEZ; BAENINGER, 2006).
O Brasil, com o aprofundamento da temática e o debate sobre a importância do
acesso dos refugiados aos direitos sociais, culturais, econômicos, vem reconhecendo
a necessidade de inclusão dos refugiados nas políticas públicas existentes. Sendo
assim, no país existem Redes de Proteção que operam na implementação de políticas
públicas para os refugiados, somando-se aos esforços e articulações, incorporando
várias instituições, entes, personalidades, organizações sociais, universidades, que se
unem na luta pela defesa do refúgio, nas migrações contemporâneas, na promoção de
políticas públicas e ações solidárias de proteção, assistência e integração dos
migrantes e dos refugiados. Em território brasileiro esta rede é composta de,
aproximadamente, 40 instituições, presentes em todas as regiões do país, que,
articuladas pelo IMDH e com o apoio do ACNUR, está unida no compromisso
humanitário da atenção e reassentamento de refugiados e refugiadas, defesa de
direitos, promoção e integração de migrantes presentes no Brasil ou em regiões de
fronteira (IMDH, 2007).

Em primeiro lugar, o Brasil abriga a presença


histórica do Alto Comissariado das Nações Unidas
para os Refugiados (ACNUR) desde a década de
1970. Criado em janeiro de 1951, como um braço
humanitário e social das Nações Unidas voltado
para a proteção de populações atingidas pelas
agruras das guerras civis e perseguições de
ordem geral, o ACNUR passou a atuar no Brasil,
por meio de um escritório oficial localizado na
cidade do Rio de Janeiro, a partir de 1977.
Naqueles anos, a preocupação incidia sobre os
primeiros fluxos de refugiados, provenientes de
países da América do Sul, deslocados pelas crises
institucionais que afetavam os países da região.
Uruguaios, argentinos, paraguaios e chilenos
foram os primeiros assistidos no Brasil sob o
manto da proteção do ACNUR (VERWEY;
ZERBINI; SILVA, 2000, p.183).

Segundo Carneiro e Rocha (2006, p. 29), a comunidade refugiada sofre de


uma grande carência de experiência profissional quando da chegada ao Brasil,
fazendo com que seu ingresso no mercado de trabalho aconteça principalmente por
meio da economia informal. Desse modo, o microcrédito, as cooperativas e outros
programas para alcançar a proficiência são de grande valor para sua integração na
sociedade.
Uma vez reconhecida a condição jurídica de refugiado no Brasil, a pessoa
recebe uma carteira de identidade, emitida pela Polícia Federal, tem direito à
assistência médica pública, e está autorizado a estudar e a trabalhar. Graças às
estratégias desenvolvidas para integrar os refugiados na sociedade local, a maioria
deles beneficia-se de programas sociais públicos e privados. Com base numa análise
caso-a-caso, o refugiado pode receber ajuda financeira, concedida pelo ACNUR, por
um período de tempo determinado. Esta ajuda, equivalente a um salário mínimo, é
distribuída pelas Cáritas Arquidiocesanas do Rio de Janeiro e de São Paulo
(ANDRADE; MARCOLINI, 2002).
O Brasil, ainda com todos estes avanços na construção de um arcabouço
jurídico, permanece tímido no que tange ao recebimento, acolhimento e
“reassentamento” de refugiados, sendo um país de dimensões continentais e que
mesmo tendo uma enorme gama de injustiças sociais internas, poderia avançar muito
mais neste campo, acolhendo-os e os reassentando em um número muito maior, visto
que ultrapassado neste quesito até mesmo por países como Moçambique, geográfica
e politicamente de menor expressão internacional. Segundo o ACNUR e o próprio
CONARE, o país tem mais de 3.000 refugiados oficiais, isto é, para um país com 8
milhões de metros quadrados de área territorial e uma população estimada em 180
milhões de pessoas, com fartos recursos naturais e demográficos, além de enorme
potencial para o desenvolvimento, é realmente extremamente tímido (SILVA, 2004).
Fora isso, há o problema qualitativo também. Ou seja, mesmo com uma
avançada legislação sobre refugiados, o Brasil ainda não tem estrutura suficiente e
nem programas claramente definidos para receber e integrar refugiados, sendo que
recém está implantando seu Programa Nacional para Direitos Humanos desde o
governo de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002). E os que existem estão
prioritariamente ainda baseados na caridade, nas ações humanitárias isoladas de
Organizações Não Governamentais, que às vezes, mais promovem o círculo da
dependência econômica do que trazem a cidadania a este refugiado, devido ao seu
aspecto assistencialista predominante (BARRETO, 2003).

CONCLUSÃO

A maior parte dos refugiados no mundo espera por soluções permanentes para
suas condições. Os direitos de ir e vir e de trabalhar são altamente restringidos e as
oportunidades de lazer geralmente inexistem ou são pouco oferecidas. Em que pesem
os avanços, os Poderes Públicos federal, estadual e municipal devem, ainda, abraçar,
conjunta e articuladamente, o cumprimento desta responsabilidade.
Importa, ainda, que tais políticas, além de serem formalmente previstas, sejam
estabelecidas e implementadas a partir de valores éticos, humanitários e de
solidariedade social, sob pena de pouco contribuírem para a efetiva garantia dos
direitos fundamentais, respeito à dignidade e cidadania de todo o ser humano.
Há, contudo, vazios, carências e necessidades que urgem a vontade política,
medidas, decisões e viabilização para consolidar a inserção do País numa postura de
acolhida e integração de refugiados. A sociedade civil, como não poderia deixar de
ser, atua diuturnamente para efetivação dos direitos dos refugiados e refugiadas e
para criação de políticas públicas - ou inserção nas políticas já existentes.
É possível que, no futuro, outras gerações jamais consigam entender como o
homem do final do milênio, que rompeu fronteiras com a globalização, que aproximou
as distâncias com as redes de informática, que esbanjou tecnologia, não conseguiu
evitar que milhões de semelhantes atravessassem fronteiras em busca de um único
bem: a liberdade.

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador Prof. Me. Miguel Ângelo Silva de Melo, por todo o seu interesse,
dedicação e confiança na realização deste trabalho. Muito obrigada

A todos os professores (as) da Faculdade Paraíso do Ceará/FAP, que ao longo


desses três semestres tanto tem somado para a minha formação.e em especial ao
professor Shakespeare Teixeira Andrade.

REFERÊNCIAS

ACNUR. Tendências Globais para os Refugiados: Resumo dos Refugiados e


Populações, recém-chegados, a soluções duradouras, os requerentes de asilo e
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BARRETO, L. P. T. F. “A política de refúgio no Brasil contemporâneo”. In: BOUCAULT,


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DOMINGUEZ, J. A; BAENINGER, R. Programa de Reassentamento de Refugiados


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