A ELISÃO FISCAL NO ESTADO DO CEARÁ: O CASO DO ICMS NO TRANSPORTE
ALTERNATIVO COMPLEMENTAR INTERMUNICIPAL DE PASSAGEIROS
É sabido que a regulamentação e a gestão dos serviços do Sistema de Transporte
Rodoviário Intermunicipal de Passageiros do Estado do Ceará é de responsabilidade da Agência Reguladora do Estado do Ceará – ARCE, igualmente se sabe, que o Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual, intermunicipal e de comunicação - ICMS, é de competência do Estado do Ceará. Ocorre que o transporte alternativo complementar de passageiro intermunicipal, a partir de Fortaleza para diversas cidades da região metropolitana e entre cidades da mesma região, funciona a título precário mediante autorização do poder concedente, no caso a ARCE, cujo a fiscalização compete ao DETRAN. Ora, o Estado do Ceará, tem a obrigação legal de regulamentar, mas falta o interesse em regularizar, pois o ato de apenas autorizar o serviço deste modal de transporte tem inviabilizado a incidência tributária do ICMS, ocasionando uma elisão fiscal de valor incalculável, de modo a gerar prejuízos ao erário em detrimento da atividade privada de um segmento. Observa-se, portanto, que a falta de licitação para o transporte alternativo complementar se caracteriza como um dos maiores empecilhos para a gestão, isso porque o procedimento exige critérios técnicos, de forma que somente os habilitados integrarão o sistema, além de permitir a formalização da profissão, e mais importante, a responsabilização administrativa, civil ou mesmo penal. Ademais, sem contar que a não licitação pode implicar em outras formas de elisão ou mesmo evasão fiscal, em seus diversos níveis, na qual eventualmente, possam ou devem se submeterem os titulares ou proprietários que exploram o serviço. Assim sendo, como o ato de pagar tributo é advindo de força da lei, e que o crédito tributário a favor do Estado somente se dá com a ocorrência do fato gerador, não parece coerente o Estado do Ceará não exigir a arrecadação do ICMS no transporte alternativo complementar intermunicipal de passageiro na região metropolitana de Fortaleza e em algumas regiões do estado , até por questão de justiça, uma vez que as empresas já legalizadas que prestam o mesmo tipo de serviço, são fontes legítimas de geração deste tributo e ainda geram emprego e renda no setor. Não existe uma estatística a nível estadual que comprove o números de prestadores (trabalhadores) ou de veículos que desenvolvem esta atividade, também não há uma previsão de quantos passageiros são transportados diariamente e nem o quanto se arrecada em valor, tornando dessa feita uma espécie de “caixa preta”, haja vista a ausência de um controle financeiro ou mesmo de qualquer estimativa para tanto. É notório a elisão fiscal praticada por este segmento de transporte no Estado do Ceará, pois embora a prestação do serviço advenha de uma conduta lícita (autorização), no entanto, impede o nascimento da obrigação tributária, ou mesmo adia o seu cumprimento. Também, o ato de não licitar o modal de transporte para assim tributar o ICMS, pode implicar ainda em uma conduta omissiva por parte do Estado, ou seja, se sujeitando a responsabilização, de forma que se faz necessário, logo, em curto prazo organizar o processo licitatório e exigir a tributação do ICMS. Não parece plausível o transporte alternativo complementar intermunicipal de passageiros existir no estado, especialmente os estabelecidos na região metropolitana de Fortaleza e em algumas regiões do estado, funcionar há bastante tempo e não existir nenhuma previsão legal de quando será licitado, e, tampouco, quando será instituída a cobrança do ICMS. O estado não deve ceder aos caprichos políticos, ou a interferências de determinados segmentos, enquanto se exige o sacrifício de outros, até por questão de ética e de respeito aos princípios constitucionais e infraconstitucionais, bem como ao fato da supremacia do interesse público. Mesmo presente o mecanismo fiscalizatório de controle aos operadores do sistema, não é suficiente para o Estado através do procedimento de autorização impor a cobrança do tributo estadual ICMS, até porque a autorização pressupõe um título precário e desprovido de muitas exigências, enquanto a licitação é um processo legítimo que constitui-se de regras legais.