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ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO

PROCURADORIA-GERAL FEDERAL

PROCURADORIA FEDERAL JUNTO À UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ/MG

PROTOCOLO

 
NOTA n. 00326/2021/PROT/PFUNIFEI/PGF/AGU
 
PROCESSO N.º: 23088.025846/2021-78
INTERESSADO: DIRETORIA DE SERVIÇOS GERAIS
ASSUNTO: CONTRATO DE CESSÃO ONEROSA DE ESPAÇO QUE ENTRE SI CELEBRAM A UNIFEI E A ADUNIFEI S.
SIND, PARA UTILIZAÇÃO DE ESPAÇO NO CENTRO DE VIVÊNCIA DA UNIFEI.
 
 
EMENTA: Cessão onerosa de Uso de Bem Público. ADUNIFEI, seção sindical ANDES. Lei nº 6.120/1974 e
Lei nº 9.636/1998. Possibilidade.
 
 
I – DO OBJETO
Trata-se de processo administrativo eletrônico com 19 (dezenove) páginas em 5 (cinco) eventos/documentos, após sua
conversão em arquivo digital pdf, que retorna a esta Procuradoria Federal com pedido de análise e parecer sobre o termo de cessão
onerosa de uso de uma área de 18,67 m² (box 1) localizada Centro de Vivência da UNIFEI, no campus sede, na Av. BPS 1303,
Bairro Pinheirinho, para a Associação dos Docentes da Universidade Federal de Itajubá - ADUNIFEI, seção sindical ANDES (p
08/17).
 
Tal solicitação se deve ao encaminhamento de fls. 02/03 da Agência da Receita Federal em Varginha/MG solicitando
uma área no próprio federal para mudança da agência da RFB em Itajubá.
 
Após reunião do Comitê Gestor de Infraestrutura (CGInfra) da UNIFEI (p. 04), a proposta de cessão foi aprovada
Resolução nº 39/2021, do CEPEAd (p. 06).
 
Breve é o relatório.
 
II - DA ANÁLISE JURÍDICA
Este parecer é condicionado, conforme recomendação do “Manual de Boas Práticas Consultivas da AGU”, 2ª ed.,
2012, no seu enunciado n.º 05: “Não é necessário que o Órgão Consultivo, após expressar seu juízo conclusivo de aprovação acerca
das minutas de editais e contratos, em cada caso concreto, pronuncie-se, posteriormente, para fiscalizar o cumprimento das
recomendações ofertadas em anterior manifestação jurídica, desde que suas orientações explicitem, se for o caso, os termos das
cláusulas que o Advogado Público entenda adequadas".
 
Segundo definição trazida no art. 99 do Código Civil, as áreas situadas nos campi da UNIFEI constituem bens de uso
especial, que são aqueles destinados “a serviço ou estabelecimento de administração federal, estadual ou municipal, inclusive de suas
autarquias”.
 
Esse tipo de bem, conforme assente na doutrina administrativista, só pode ter sua utilização delegada a terceiros por
meio de institutos do direito público, que são a autorização de uso, a permissão de uso, a concessão de uso e a cessão de uso, esta
última prevista no art. 18, § 5º, da Lei nº 9.636/98:
  Art. 18. A critério do Poder Executivo poderão ser cedidos, gratuitamente ou em condições especiais, sob
qualquer dos regimes previstos no Decreto-Lei no 9.760, de 1946, imóveis da União a:
[...]
II - pessoas físicas ou jurídicas, em se tratando de interesse público ou social ou de aproveitamento econômico
de interesse nacional.
 [...]
§5º. A cessão, quando destinada à execução de empreendimento de fim lucrativo, será onerosa, e sempre que
houver condições de competitividade, deverão ser observados os procedimentos licitatórios previstos em lei.
 
A cessão de uso foi prevista, originalmente, como um instrumento gratuito, utilizado para viabilizar a cooperação entre
órgãos ou entidades públicas. A Lei nº 9.636/1998, entretanto, ampliou as hipóteses de utilização da cessão de uso. É o que observa
Lucas Rocha Furtado:
“De instituto destinado à colaboração entre órgãos públicos, hoje pode ser utilizado para permitir que
particulares possam igualmente dele servir para a realização de empreendimentos, ainda que haja um fim
lucrativo. Nesta hipótese, a cessão ‘será onerosa e, sempre que houver condições de competitividade, deverão
ser observados os procedimentos licitatórios previstos em lei. Em conclusão, além das hipóteses de colaboração
entre órgãos públicos, a cessão pode ser utilizada como instrumento para viabilizar que bens públicos possam
ser utilizados por particulares para atender a interesses coletivos ou sociais”.
 
José dos Santos Carvalho Filho é enfático ao defender que “o fundamento básico da cessão de uso é a colaboração
entre entidades públicas e privadas com o objetivo de atender, global ou parcialmente, a interesses coletivos” (In: Manual de Direito
Administrativo, Lumen Juris Editora, 18ª ed., p. 1.025).
 
No Acórdão TCU nº 187/2008 – Plenário encontramos breves considerações sobre os quatro institutos aqui
comentados. Conforme o Relator Min. Ubiratan Aguiar, em seu voto:
“A questão que se discute nos autos é a regularidade ou não da ocupação de áreas, no Senado Federal, pela
Presidência do então Partido da Frente Liberal (atual Democratas), pela Presidência do Partido Progressista
Brasileiro (PP), pelos Institutos Tancredo Neves (ligado ao antigo PFL), Teotônio Vilela (ligado ao PSDB) e
pela Fundação Ulisses Guimarães (ligada ao PMDB).
Tais entidades, com exceção do Partido Progressista Brasileiro, estão ocupando essas áreas com base em
‘termo de ocupação de área por terceiros’ (fls. 26/41), enquanto o PP ocupa a área com base no ‘termo de
autorização de uso de área’ (fls. 42/45).
Segundo definição trazida no art. 99 do Código Civil, as áreas situadas no prédio do Senado Federal
constituem bens de uso especial, que são aqueles destinados ‘a serviço ou estabelecimento de administração
federal, estadual ou municipal, inclusive de suas autarquias’. Esse tipo de bem, conforme assente na doutrina
administrativista, só pode ter sua utilização delegada a terceiros por meio de institutos do direito público, que
são a autorização de uso, a permissão de uso, a concessão de uso e a cessão de uso.
Conforme destacado no voto que consubstanciou o acórdão recorrido, a situação das áreas que ora se discute
não é compatível com a autorização e a permissão, dado o caráter precário dos institutos. Também não se
enquadram como concessão de uso, instrumento pertinente a situações em que as atividades exigem
investimentos vultosos por parte do concessionário. Assim, a única modalidade em que se poderia enquadrar o
caso em tela seria a cessão de uso, o que já evidencia a inadequabilidade dos instrumentos utilizados pelo
Senado Federal para formalizar a relação entre o órgão e os ocupantes das áreas. Entendo cabível determinar
ao órgão que regularize os instrumentos de ocupação das áreas.
O mais relevante, entretanto, é verificar se a situação em tela se enquadra nos contornos legais pertinentes ao
instituto da cessão de uso.
Tal instituto foi previsto no Decreto-Lei nº 9.760/46, em seu art. 64:
‘art. 64. Os bens imóveis da União não utilizados em serviço público poderão, qualquer que seja a sua
natureza, ser alugados, aforados ou cedidos.
...
§3º. A cessão se fará quando interessar à União concretizar, com a permissão da utilização gratuita de imóvel
seu, auxílio ou colaboração que entenda prestar.’
Originalmente, a cessão de uso era um instrumento utilizado para que um órgão da administração pública
cedesse, gratuitamente, no intuito de colaboração, espaços que não estava utilizando para outro órgão
desenvolver suas atividades. Nesse sentido, define o instituto Hely Lopes Meirelles:
‘cessão de uso é a transferência gratuita da posse de um bem público de uma entidade ou órgão para outro, a
fim de que o cessionário o utilize em condições estabelecidas no respectivo termo, por tempo certo ou
indeterminado. É ato de colaboração entre repartições públicas, em que aquela que tem bens desnecessários
aos seus serviços cede o uso a outra que deles está precisando’ (Direito Administrativo Brasileiro, Malheiros
Editores, 33ª Edição, pag. 528).
Na mesma linha, definiu o Procurador-Geral junto a este Tribunal:
‘A cessão de uso de bens públicos é instrumento utilizado para viabilizar a cooperação entre órgãos ou
entidades públicas.
...
Assim, quando julgado conveniente, determinado órgão poderá ceder o uso de espaços em edifícios públicos a
fim de que outro órgão possa desenvolver atividade que interesse às duas unidades administrativas. Seria o
caso, no exemplo, citado por José dos Santos Carvalho Filho, de “O Tribunal de Justiça ceder o uso de
determinada sala do prédio do foro para o uso de inspetoria do Tribunal de Contas’ (Curso de Direito
Administrativo, Editora Fórum, pag. 845).
Segundo essa concepção ‘original’ da cessão de uso, tal instituto não poderia ser utilizado para que entidades
privadas, como Partidos Políticos ou institutos e fundações ligados a eles ocupassem áreas do prédio do
Senado Federal.
No entanto, a Lei nº 9.636/98, que em seus arts. 18 a 21 trata do instrumento em questão, ampliou as
possibilidades de utilização da cessão, conforme se verifica em seu art. 18:
‘art. 18. A critério do Poder Executivo poderão ser cedidos, gratuitamente ou em condições especiais, sob
qualquer dos regimes previstos no Dec-Lei 9.760, de 1946, os imóveis da União a:
I – Estados, Municípios e entidades sem fins lucrativos, de caráter educacional, cultural ou de assistência
social;
II – pessoas físicas ou jurídicas, em se tratando de interesse público ou social ou de aproveitamento econômico
de interesse nacional, que mereça tal favor.
...
§5º. A cessão, quando destinada à execução de empreendimento de fim lucrativo, será onerosa, e sempre que
houver condições de competitividade, deverão ser observados os procedimentos licitatórios previstos em lei’
Observa-se que a referida lei possibilitou a cessão de uso de áreas públicas também a entidades privadas, até
mesmo com fins lucrativos, em certas situações. Passou a haver a previsão, também, de que a cessão seja
onerosa em determinados casos, e não mais sempre gratuita como disciplinava o Decreto-Lei nº 9.760/46.
Estando a Lei nº 9.636/98 em vigor, que possibilitou a cessão de uso a entidades privadas, há que se averiguar
se as instituições que atualmente ocupam áreas públicas no Senado Federal podem ser enquadradas no art. 18
dessa lei.
Em relação aos Institutos Tancredo Neves e Teotônio Vilela è a Fundação Ulysses Guimarães, elas podem ser
enquadradas no inciso I, ante seu caráter educacional, conforme pode ser visto dos objetivos dessas
instituições:
‘O principal objetivo do Instituto Tancredo Neves é promover o pensamento liberal e suas repercussões na
política, na economia e na sociedade. Para isso, desenvolve estudos e pesquisas científicas sobre temas ligados
à realidade brasileira e internacional e promove estudos sobre o liberalismo contemporâneo. ’ (www.itn.org.br)
‘Cabe ao instituto promover estudos, seminários, palestras e debates sobre a realidade nacional, com objetivo
de formular políticas públicas coerentes com o ideário da social-democracia: respeito aos princípios
democráticos, responsabilidade fiscal e social, coerência e ética política. Publicações variadas compõem um
acervo bibliográfico útil para acadêmicos, pesquisadores, cientistas sociais e estudantes. Revistas de
divulgação contemplam o interesse de simpatizantes e militantes da social-democracia, fornecendo-lhes
elementos básicos para o debate político e ideológico. ’ (www.itv.org.br)
‘A Fundação Ulysses Guimarães é uma instituição de direito privado, sem finalidade lucrativa, criada para
constituir-se num centro de estudos de ciências políticas e sociais capaz de dar suporte teórico a um parlamento
brasileiro independente, fundamentado em valores políticos, cuja base é formada pelo exercício da democracia
e da livre expressão. ’ (www.fugpmdb.org.br)          
Com relação aos partidos políticos, eles podem ser enquadrados no inciso II do referido art. 18, em função do
interesse público envolvido na atuação dos partidos políticos dentro de um regime democrático. Aliás, penso
que, quanto mais fortalecidos forem os partidos políticos, mais robusta será nossa democracia.
O §5º do art. 18 da Lei nº 9.636/98 estabelece que, sempre que houver competitividade, deverão ser observados
os procedimentos licitatórios previstos em lei. Considerando o elevado número de partidos existentes, levando-
se em conta que apenas dois partidos e três instituições ocupam áreas hoje no Senado Federal, pelo menos em
tese estaria caracterizada a situação que ensejaria a realização de licitação. ” (sublinhamos)
 
Assim, nesse julgado foram consolidados pela Corte de Contas os seguintes entendimentos:
(I) a precariedade dos institutos da autorização de uso e da permissão de uso;
(II) a pertinência da concessão de uso nas “situações em que as atividades exigem investimentos vultosos por parte do
concessionário”; e
(III) a necessidade, para utilização da cessão de uso, do cumprimento das hipóteses previstas no art. 18, I e II da Lei nº
9.636/1998, quais sejam, que o cessionário seja entidade sem fins lucrativos das áreas de educação, cultura, assistência social ou saúde,
ou então pessoa física/jurídica cuja atividade revele interesse público ou social ou de aproveitamento econômico de interesse nacional.
 
Destarte, ao analisar matéria correlata, o PARECER n. 00014/2015/DEPCONSU/PGF/AGU trouxe entendimentos
doutrinários sobre o tema, conforme se vê:
(...)
22. Sobre o tipo de instituto aplicável, é importante, primeiro, distinguir as modalidades que cercam a hipótese
de uso de imóvel comercial pertencente à autarquia federal. Como dito, no processo, nota-se que foram citadas
a cessão de uso e a concessão de uso (aqui incluída a concessão de direito real de uso). Confira se.
23. Efetivamente, tendo em vista a já comentada ausência de maior sistematização legislativa sobre o uso de
bens públicos imóveis, a análise acerca do instituto cabível à hipótese dos autos requererá, além da adequada
compreensão sobre as disposições legais existentes, o auxílio das valiosas lições da doutrina administrativista
consagrada.
24. A doutrina não é uniforme e oscila entre identificar o termo ‘cessão de uso’ como a transferência gratuita
da posse para outra entidade de direito público, e aponta-lo como outorga de uso também a particulares,
inclusive onerosa [a ocorrer em vista das disposições legais mais recentes sobre o tema], desde que, é claro,
preenchidos os requisitos legais específicos para esta última hipótese. Vejam se alguns conceitos, verbis:
“Cessão de uso: é a transferência gratuita da posse de um bem público de uma entidade ou órgão para outro,
a fim de que o cessionário o utilize nas condições estabelecidas no respectivo termo, por tempo certo ou
indeterminado. É o ato de colaboração entre repartições públicas, em que aquela que tem bens
desnecessários aos seus serviços cede o uso a outra que deles está precisando.
Como bem ponderou Caio Tácito (‘Bens Públicos Cessão de Uso’, RDA 32/482), esta cessão se inclui entre as
modalidades de utilização de bens públicos não aplicados ao serviço direto do cedente e não se confunde com
nenhuma das formas de alienação.
Trata-se, apenas, de transferência de posse do cedente para o cessionário, mas ficando sempre a Administração
proprietária com domínio do bem cedido, para retomá-lo a qualquer momento ou recebe-lo ao término do prazo
da cessão. Assemelha se ao Comodato do Direito Privado, mas é instituto próprio do Direito Administrativo, já
previsto na legislação federal concernente aos bens móveis da União (Dec.-lei 9.760/46, arts. 64, § 3º, 125 e
216, e Lei 9.636/98, arts. 18 a 21). Também não se confunde com qualquer das modalidades pelas quais se
outorga ao particular o uso especial de bem  público (autorização de uso, permissão de uso, concessão de uso,
concessão do direito real de uso), nem, tampouco, se identifica com a velha concessão de domínio dos tempos
coloniais, espécie obsoleta de alienação. (MEIRELLES, Hely Lopes. Licitação e contrato administrativo. 11ª ed.
São Paulo: Malheiros, 1997. p. 553.)
"Cessão de uso é aquela em que o Poder Público consente com o uso gratuito de bem público por órgãos da
mesma pessoa ou de pessoa diversa, incumbida de desenvolver atividade que, de algum modo, traduza
interesse para a coletividade.
A grande diferença entre a cessão de uso e as formas até agora vistas [autorização de uso e permissão de uso]
consiste em que o consentimento para a utilização do bem se fundamenta no benefício coletivo decorrente da
atividade desempenhada pelo cessionário. O usual na Administração é a cessão de uso entre órgãos da mesma
pessoa. (...)
A cessão de uso, entretanto, pode efetivar-se também entre órgãos de entidades públicas diversas. Exemplo: o
Estado cede grupo de salas situado em prédio de uma de suas Secretarias para a União instalar um órgão do
Ministério da Fazenda. Alguns autores limitam a cessão de uso às entidades públicas.
Outros a admitem para a Administração Indireta [Diógenes Gasparini].
Em nosso entender, porém, o uso pode ser cedido também, em certos casos especiais, a pessoas privadas, dede
que desempenhem atividade não lucrativa que vise a beneficiar, geral ou parcialmente, a coletividade. (...)
Em semelhante sentido, aliás, está definida a legislação incidente sobre imóveis pertencentes à União. Nela é
prevista a cessão gratuita de uso de bens imóveis federais quando o governo federal pretende concretizar
"auxílio ou colaboração que entenda prestar" [art. 64, Decreto-lei nº 9.760/46]. Em outro diploma admitiu-se a
cessão a "Estados, Municípios e entidades sem fins lucrativos, de caráter educacional, cultural ou de
assistência social". (...)
O fundamento básico da cessão de uso é a colaboração entre entidades públicas e privadas com o objetivo de
atender, global ou parcialmente, a interesses coletivos. É assim que deve ser vista como instrumento de uso do
bem público."
(CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 24ª ed. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2011. p.1089 e ss.)
"A cessão é instituto típico de direito público, instituído pelo art . 64 do Decreto-lei nº 9.760/46, para as
hipóteses em que interesse à União concretizar, com a permissão da utilização gratuita de imóvel seu, auxílio
ou colaboração que entenda prestar. Era disciplinada pelos artigos 125 e 126 do referido Decreto-lei e pelo
Decreto-lei nº 178, de 16267. Tais dispositivos não estão mais em vigor, aplicando se as normas contidas nos
artigos 18 a 21 da Lei nº 9.636/98. (...)
A cessão pode ser assim caracterizada: é ato de outorga de uso privativo de imóvel do patrimônio da União;
essa outorga, depois de autorizada por Decreto do Presidente da República, se faz mediante termo ou
contrato, no qual se especificam as condições em que o uso se exercerá; o uso é gratuito, devendo ser oneroso
quando a destinado à execução de empreendimento de fim lucrativo; podem ser cessionários os Estados, os
Municípios, entidades educacionais, culturais ou de finalidades sociais, bem como os particulares (pessoas
físicas ou jurídicas), nesta última hipótese quando se tratar de aproveitamento econômico de interesse nacional;
torna-se nula em caso de utilização em desacordo com as condições estabelecidas. Além disso, a cessão se faz
sempre por prazo determinado, conforme estabelece o § 3o do art. 18 da Lei nº 9.636/98. (DI PIETRO, Maria
Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 27ª ed. São Paulo: Atlas , 2014. p. 779 e ss.) (g. n.)
 
No âmbito da AGU, e com o objetivo de dirimir controvérsia quanto a possibilidade de cessão onerosa de uso aos
sindicatos, o Departamento de Orientação e Coordenação de Órgãos Jurídicos (DECOR) exarou o Parecer nº.
00097/2019/DECOR/CGU/AGU, aprovado pelo Despacho nº. 00060/2020/GAB/CGU/AGU do Consultor-Geral da União Substituto
(Processo nº 00593.000129/2019-11), em que apreciou a cessão de uso de imóvel da União a sindicato/associação de servidores com o
seguinte entendimento:
a) em relação à primeira divergência, isto é, se seria possível a utilização de um bem público por
associação/sindicato de classe, salvo melhor juízo e com as venias em relação aos entendimentos contrários,
forçoso concluir no sentido de que é juridicamente possível a cessão de uso nesses casos, desde que essa
atividade seja considerada de apoio às necessidades do órgão e seus servidores, consubstanciado em ato do
Ministro de Estado ou autoridades equivalentes dos outros Poderes, devendo existir uma análise do caso
concreto a substanciar a decisão da autoridade, detalhando as atividades que serão desenvolvidas pela
entidade sindical e correlacionando-as com os interesses do órgão cedente e de seus servidores, de modo a
justificar o enquadramento da atividade como de apoio, nos termos do inciso VI do art. 12 do Decreto nº
3.725/2001.
b) em relação à segunda divergência, isto é, se a cessão de uso de imóvel público a associação/sindicato de
classe poderia ser gratuita ou onerosa, salvo melhor juízo e com as venias em relação aos entendimentos
contrários, forçoso concluir no sentido de que ela deve ter natureza onerosa, sendo vedada a cessão de uso,
nesses casos, de maneira graciosa.
c) em relação à terceira divergência, isto é, se a cessão de uso de imóvel público a associação/sindicato de
classe deve ser sujeita a certame de licitação, salvo melhor juízo e com as venias em relação aos entendimentos
contrários, forçoso concluir no sentido de que, havendo viabilidade de competição, a cessão onerosa deve ser
precedida de procedimento licitatório, preferencialmente na modalidade pregão. (g.n)
 
No caso concreto, verifica-se que Associação dos Docentes da Universidade Federal de Itajubá - ADUNIFEI, seção
sindical ANDES, se trata de uma entidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, criada com o objetivo representar os
docentes da UNIFEI, cabendo-lhe a defesa dos direitos e interesses individuais e coletivos de seus sindicalizados, inclusive nas
questões judiciais e ou administrativas. Porém, o estatuto da associação não está juntado aos autos.
 
No caso presente, os dois sindicatos que representam as duas categorias de servidores da UNIFEI estão sendo
contempladas com área para a montagem de um escritório de atendimento aos seus associados, o que acaba por inviabilizar a
necessidade de competição. Porém, em nosso entender, não se pode dispensar o procedimento formal de inexigibilidade.
 
Pelo exposto, podemos concluir que não há qualquer nulidade se a denominação do que se pretende fazer vier a ser
cessão onerosa de uso ou permissão onerosa de uso: basta que tudo que a lei exija para que se pratique o ato seja realizado pela
universidade. O nomem iuris (denominação legal) do instituto não é determinante para caracterização da sua natureza jurídica, assim
como não é suficiente para caracterizar uma nulidade. Para a validade do instituto, basta que as exigências legais sejam cumpridas na
sua formação, como por ex. a competência, forma, finalidade, objeto, etc.
 
Dentre todos os instrumentos jurídicos apresentados acima, e por todas as razões expostas até aqui, entendo que o que
o mais adequado às finalidades da Administração é a cessão onerosa de uso. Isso decorre da combinação do art. 18 da Lei 9.636/1998,
acima transcrito, com a previsão da Lei 6.120, de 15 de outubro de 1974, que dispõe sobre a alienação de bens imóveis de instituições
federais de ensino, que diz que “em nenhuma hipótese será permitida a doação ou cessão gratuita, a qualquer título, de bens
imóveis das instituições de que trata esta Lei” (art. 5º).
 
No que tange a minuta juntada às p. 08/17, observo que a administração descreveu a área que se pretende ceder, o
prazo de cessão, como também a contrapartida onerosa por parte da cessionária, razão pela qual não vejo óbice legal para não ceder a
área pretendida.
 
O valor mensal da cessão não foi fixado na cláusula terceira, e deve refletir o valor de mercado. Além deste valor, há
de ser estabelecido uma taxa relativa aos custos com energia elétrica, água e vigilância do local, a ser reajustado anualmente por índice
a ser fixado no referido termo. No caso, o índice escolhido foi o IGP-M (item 4.1). Recomenda-se que os valores do aluguel e da
taxa sejam, portanto, definidos de forma clara.
 
A minuta de contrato apresentada, em leitura literal dos dispositivos, sem questionamentos específicos, parece estar
adequada à lei e as normativas de regência. A análise realizada não impede futuro posicionamento jurídico diverso, mediante
apresentação de impugnação de pontos específicos em conformidade com alegações e interpretações contra os itens da atual minuta.
 
Conforme antes mencionado, decorre também o fato de que diante da possibilidade de não ser necessária a realização
de licitação, em consonância com o disposto no artigo 25 da Lei nº 8.666/93, que diz que “é inexigível a licitação quando houver
inviabilidade de competição (...)”, recomenda-se que seja respeitado o procedimento de inexigibilidade, cuja justificativa técnica
deverá ser apresentada pela Administração.
 
Cabe mencionar que o próprio inciso VIII do art. 13, do Decreto nº 3.725, de 2001, prescreve que quando houver
condições de competitividade os procedimentos licitatórios previstos em lei deverão ser observados. No tocante a esse aspecto, há
justificativa nos autos quanto à necessidade da cessão da área à associação, considerando que esta visa a defesa dos interesses dos
servidores da IFES.
 
Quanto a Regularidade fiscal e trabalhista da cessionária, deve ser comprovado nos autos a regularidade fiscal da parte
com quem se irá contratar.
 
Nesse sentido já deliberou o Tribunal de Contas da União, a exemplo do estabelecido na ementa do Acórdão nº
2575/2009, que impõe a observância da "exigência de comprovante de regularidade com o INSS e o FGTS de todos aqueles que
contratam com o poder público, inclusive nas contratações realizadas mediante convite, dispensa ou inexigibilidade de licitação,
mesmo quando se tratar de compras para pronta entrega, nos termos do art. 195, §3º, da Constituição Federal e entendimento
firmado no TCU na Decisão nº 705/1994 ".
 
Recomenda-se, portanto, que a cessionária deverá comprovar a sua regularidade fiscal.
 
III - CONCLUSÃO
Assim, em face do exposto, e atendidas as demais condições deste parecer, entendo que é válida a cessão de uso,
com base no art. 18, II, da Lei 9.636/1998, cc. art. 2º da Lei nº 6.120/1974 e demais legislações atinentes a matéria.
 
Este é o parecer.
Itajubá, 02 de setembro de 2021.
 
 
 
Claudio Jose Freire Guimarães
Procurador-Chefe junto a UNIFEI
 
 
ANTONIO JOSE RIBEIRO JUNIOR
Servidor AGU - PF/UNIFEI
Matricula SIAPE: 2415691
 
 

Atenção, a consulta ao processo eletrônico está disponível em http://sapiens.agu.gov.br mediante o fornecimento do


Número Único de Protocolo (NUP) 23088025846202178 e da chave de acesso aa863ab5
 

Documento assinado eletronicamente por CLAUDIO JOSE FREIRE GUIMARAES, de acordo com os normativos legais aplicáveis.
A
conferência da autenticidade do documento está disponível com o código 715495272 no endereço eletrônico http://sapiens.agu.gov.br.
Informações adicionais:
Signatário (a): CLAUDIO JOSE FREIRE GUIMARAES.
Data e Hora: 02-09-2021 11:47.
Número de Série:
8668723657972523201.
Emissor: AC ONLINE RFB v5.

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