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PARECER JURÍDICO
DA CONSULTA
Trata-se de consulta solicitada pelo Professor Jeison Maikel Kwitschal a fim de análise de
um contrato de concessão da administração pública municipal de Itaiópolis com o objetivo de
obtenção de nota referente à média 3 da disciplina de direito administrativo II.
O contrato escolhido é o nº 16/2017 firmado pelo Município de Itaiópolis com Auto Peças
Bauer LTDA, que tem como objeto o seguinte ementado: “Serviço de recuperação, transporte e
guarda de veículos apreendidos e/ou removidos de cujos condutores cometerem infrações
previstas no Código de Trânsito Brasileiro.” Por evidente, o objeto do contrato diz somente ao
serviço prestado dentro do município referido.
A análise aqui feita restringe-se aos critérios presentes na lei nº 8.987/95, na Constituição
Federal e na lei nº 8.666/93, além de demais dispositivos legais, jurisprudenciais e doutrinários
que se julguem pertinentes.
DA FUNDAMENTAÇÃO
Primeiramente é válido conceituar o Contrato de Concessão Pública, tarefa essa que bem
faz o clássico Hely Lopes Meirelles:
Vencida essa análise inicial conceitual passamos a outros elementos peculiares dessa
concessão, sendo um deles a legalidade do ato.
Perceba-se que no primeiro artigo da lei já se cria o serviço municipal de guincho para
apreensão e prevê-se que o mesmo será prestado por meio de concessão precedida de
procedimento licitatório, logo, esse pré-requisito jurídico está devidamente preenchido
atendendo o disposto no artigo 2º da lei 8.987/95.
DA CONSTITUCIONALIDADE
Outro caso citado no acórdão supracitado é o da ADIN abaixo citada julgada pelo mesmo
órgão nos autos nº 9048710-20.2008.8.26.0000:
A questão ganha relevo diante da constatação de que muitas normas presentes nas
Constituições estaduais apenas reproduzem dispositivos da Constituição Federal, ou,
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em outros casos, a eles fazem remissão... (...) A partir da decisão na RcL n° 383
assentou-se não configurada a usurpação de competência quando os Tribunais de
Justiça analisam, em controle concentrado, a constitucionalidade de leis municipais
ante normas constitucionais estaduais que reproduzem regra da Constituição de
observância obrigatória. O acórdão possui a seguinte ementa: "EMENTA: Reclamação
com fundamento na preservação da competência do Supremo Tribunal Federai Ação
direta de inconstitucionalidade proposta perante Tribunal de Justiça na qual se
impugna Lei municipal sob a alegação de ofensa a dispositivos constitucionais
estaduais que reproduzem dispositivos constitucionais federais de observância
obrigatória pelos Estados. Eficácia jurídica desses dispositivos constitucionais
estaduais. Jurisdição constitucional dos Estados-membros. - Admissão da propositura
da ação direta de inconstitucionalidade perante o Tribunal de Justiça local, com
possibilidade de recurso extraordinário se a interpretação da norma constitucional
estadual, que reproduz a norma constitucional federal de observância obrigatória elos
Estados, contrariar o sentido e o alcance desta. Reclamação conhecida, mas julgada
improcedente'. (...) a tese subjacente ao entendimento adotado pelo Plenário do
Supremo Tribunal Federal, que, no julgamento da RCL 733, por unanimidade de votos,
seguiu a orientação do Min. limar Galvão, no sentido de que as normas constitucionais
estaduais remissivas à disciplina de determinada matéria prevista na Constituição
Federal constituem parâmetro idôneo de controle no âmbito locaL(...)" Portanto, tal
qual o entendimento adotado na RCL n° 383 para as hipóteses de normas
constitucionais estaduais que reproduzem dispositivos da Constituição Federal,
também as normas constitucionais estaduais de caráter remissivo podem compor o
parâmetro de controle das ações diretas de inconstitucionalidade perante o Tribunal
de Justiça estadual. Dessa forma, também aqui não é possível vislumbrar qualquer
afronta à ADI n° 508/MG, ReL Min. Sydney Sanches (DJ 23.5.2003). Com essas
considerações, nego seguimento à presente reclamação, por ser manifestamente
improcedente, ficando prejudicado o pedido de medida liminar (art 21, § Io, do RfSTF)"
Rcl 4432 / TO – TOCANTINS RECLAMAÇÃO
Relator(a): Min. GILMAR MENDES Julgamento: 27/09/2006
cabível (art.30 II CF). Ainda válido frisar que a redação do CTB sobre o tema é deveras vaga
e a própria CF autoriza os Estado e Municípios a suplementarem a norma federal (art.30 II
CF).
O primeiro item a ser observado na lei 8.987/95 é o contido no artigo 2º inciso II, onde
exige-se que para se conceder um serviço público é necessário que esta seja precedida de uma
licitação na modalidade de concorrência. No caso do contrato averiguado este foi decorrente do
edital de licitação de concorrência pública nº 01/2017, devidamente juntado ao parecer.
Sobre a licitação nesta modalidade de delegação do serviço público leciona Hely Lopes
Meirelles:
O artigo 22 da lei de licitações define, em seu parágrafo primeiro, o que é uma licitação
em modalidade de concorrência: “§ 1oConcorrência é a modalidade de licitação entre quaisquer
interessados que, na fase inicial de habilitação preliminar, comprovem possuir os requisitos
mínimos de qualificação exigidos no edital para execução de seu objeto.” Conforme a Ata de
Recebimento, Abertura e Julgamento dos Envelopes Documentação e Propostas de Preços,
referente à Concorrência Pública Nº 1/2017 a proponente Auto Peças Bauer cumpriu os requisitos
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de documentação previstos nos artigos 27 a 32 da lei, como exposto no seguinte trecho do referido
documento:
Tendo em vista que o rol de documentos solicitados no item 5.0 do edital é muito extenso,
optou-se por não os relatar aqui, evitando desta forma tornar o documento excessivamente longo,
estando presentes na documentação ora anexa a este parecer.
Ainda na ata consta a informação que a proponente Auto Peças Bauer foi a única presente,
como contido no trecho a seguir:
O artigo 21 da lei de licitações define que os avisos com o resumo dos editais devem ser
publicados, ao menos uma vez, com a antecedência mínima de 30 (trinta) dias, no caso de
concorrência, antes do recebimento das propostas. Sendo o caso do contrato ora analisado, visto
que este foi publicado no site do órgão no dia 22/02/2017 (art. 21, III), conforme documento anexo,
sendo realizado o recebimento, abertura e julgamento das propostas no dia 24/03/2017.
Também insta salientar a presença dos recursos administrativos previstos no artigo 109
da lei 8.666/93, conforme exposto no item 11.0 do edital:
e) rescisão de contrato
O procedimento formal foi atendido, como previsto no artigo 43 da lei 8.666/93 e é possível
extrair da Ata emitida pelo órgão responsável e juntada aqui. Quanto à igualdade entre os licitantes
não há muito o que se falar, tendo em vista que houve apenas um licitante no ato. Os demais
requisitos foram devidamente observados, sem maiores pontuações sobre estes itens.
DO CONTRATO
Para essa análise começamos a observar o presente contrato sobre a ótica dos princípios
do serviço público, que tem forte origem constitucional, que perneará todo o processo aqui
observado.
Sintetiza o doutrinador:
Tudo isso, para Meirelles, define o serviço adequado previsto constitucionalmente no artigo
175, parágrafo único IV.
Maria Sylvia Zanella Di Pietro traz ainda o princípio da mutabilidade do regime jurídico
quando trata dos princípios inerentes ao serviço público: “Existem determinados princípios que
são inerentes ao regime jurídico dos serviços públicos (cf. Rivero, 1981: 501-503): o da
continuidade do serviço público, o da mutabilidade do regime jurídico e o da igualdade dos
usuários.” (PIETRO. Direito Administrativo, 2001, p. 100).
Após essa breve colocação sobre alguns dos princípios aplicáveis ao serviço público
brasileiro verifiquemos a concessão do serviço municipal de guincho de Itaiópolis.
Iniciamos pela tarifa cobrada referente à estadia do automóvel, prevista na cláusula 2.3
do contrato anexado. A título de comparação usaremos as tarifas cobradas pelo Município de
Curitiba como tabela exemplificativa abaixo:
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Itaiópolis: R$ 70,00
Curitiba: R$ 253,80
Como definir, dessa forma, se o valor cobrado por um Município é módico e por outro não?
Qual o critério para se estabelecer a modicidade de uma taxa? Nestes pontos deve prevalecer a
razoabilidade, não havendo critérios objetivos de definição dos valores que devem ser
estabelecidos pela Administração, sob pena de não atender a realidade de muitos casos
específicos. Como modicidade tarifária lembremos que os serviços públicos concedidos são
remunerados mediante tarifa e esta deve ser módica, baixo, sem causar grandes encargos ao
usuário final deste.
Válido destacar a valiosa lição de Hely Lopes Meirelles sobre a remuneração do serviço
público concedido:
O serviço concedido deve ser remunerado por tarifa (preço público), e não por taxa
(tributo). E a tarifa deve permitir a justa remuneração do capital, o melhoramento e
expansão do serviço, assegurando o equilíbrio econômico e financeiro do contrato. Daí
por que impõe-se a revisão periódica das tarifas, de modo a adequá-las ao custo
operacional e ao preço dos equipamentos necessários à manutenção e expansão do
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A lei de concessões, em seu artigo 23, estabelece quais são as cláusulas essenciais ao
contrato de licitação:
O objeto do contrato e a sua área estão previstos logo na sua cláusula primeira. O prazo
da concessão está localizado na cláusula terceira que dispõe in verbis:
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Sobre o prazo da concessão válido lembrar que somente podem ser previstas por prazo
determinado, como bem assevera José dos Santos Carvalho Filho:
Não há norma expressa que indique o limite de prazo, com que a fixação deste ficará
a critério da pessoa federativa concedente do serviço. É claro que o prazo deverá levar
em conta o serviço concedido. Tratando-se de serviços cuja prestação se exija o
dispêndio de recursos vultuosos, deve o contrato ser firmado em prazo que assegure
ao concessionário o ressarcimento do capital investido, porque, a não ser assim, não
haveria interesse da iniciativa privada em colaborar com o Poder Público.
Ainda o autor mencionado informa que é licita a prorrogação do contrato, desde que
respeitado o contrato. Tudo isso condizente com a cláusula terceira do contrato referido.
Sobre o modo e forma da prestação do serviço este está estabelecido no edital de abertura
do processo licitatório e em cláusulas esparsas do contrato em orientação especialmente técnicas.
No tocante aos requisitos do artigo 23 III da lei 8.666/93 estes estão sobretudos previstos
na cláusula quinta, que prevê as obrigações da concessionária.
Passando ao requisito previsto no inciso VI do referido artigo temos que no contrato não
há nenhuma menção expressa acerca dos direitos e deveres do usuário. Por se tratar de uma
concessão aplica-se as normas gerais de direitos e deveres dos usuários previstos no artigo 7º e
seguintes da lei 8.666/93, porém a própria norma exige a previsão contratual específica destes o
que caracteriza omissão pelo órgão emissor, possibilitando possível questionamento judicial
sobre.
14.2 Pela inexecução total ou parcial do contrato, ou por infração de quaisquer das
cláusulas contratuais, o Município poderá aplicar as seguintes sanções:
14.2.1 - Multa de 0,1 % (um décimo por cento) sobre o valor do contrato.
14.2.2 - Suspensão temporária de participação em licitação e impedimento de
contratar com o Município.
14.2.4- Multa de 1% (um por cento) por atraso no pagamento do valor correspondente
à outorga da concessão, acrescido de correção monetária.
14.3 - As sanções previstas no item 14.2 poderão acumular-se entre si e não excluem
a possibilidade de declaração de caducidade da concessão.
Ainda na seara das sanções e da fiscalização é válida a citação de José dos Santos
Carvalho Filho:
Quanto aos bens Reversíveis define José dos Santos Carvalho Filho: “Reversão é a
transferência dos bens do concessionário para o patrimônio do concedente em virtude da extinção
do contrato.” (FILHO, Manual de Direito Administrativo, 2018, p.436).
A reversão pode ser onerosa ou gratuita. No primeiro caso, o concedente tem o dever
de indenizar o concessionário, porque os bens foram adquiridos com seu exclusivo
capital.(…)
Portanto, o fato do contrato ser omisso quanto à reversibilidade dos bens pode ser
consequência de que o concessionário já dispunha dos itens necessários à execução do serviço,
não fazendo nenhum investimento necessário para sua adequação.
Os requisitos dos incisos XII, XIV e XV do artigo 23 da lei de concessões estão previstos
respectivamente nas seguintes cláusulas: 6ª e 11ª.
DA PROBIDADE ADMINISTRATIVA
A improbidade administrativa no Brasil está disciplinada na lei 8.429/92 e sobre ela afirma
Maria Sylvia Zanella Di Pietro:
Note-se que essa lei definiu os atos de improbidade em três dispositivos: no artigo 9º,
cuida de atos de improbidade administrativa que importam enriquecimento ilícito; no
artigo 10, trata dos atos de improbidade administrativa que causam prejuízo ao erário;
e no artigo 11, indica os atos de improbidade administrativa que atentam contra os
princípios da administração pública. Entre esses últimos, alguns são definidos
especificamente em 7 incisos; mas o caput deixa as portas abertas para a inserção de
qualquer ato que atente contra “os princípios da administração pública ou qualquer
ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e
lealdade à instituições.” Vale dizer que a lesão ao princípio da moralidade ou a
qualquer outro princípio imposto à Administração Pública constitui uma das
modalidades de ato de improbidade. Para ser ato de improbidade, não é necessária a
demonstração de ilegalidade do ato; basta demonstrar a lesão à moralidade
administrativa.
Com base em tudo exposto até agora a única possibilidade de responsabilização dos
agentes por improbidade administrativa na celebração do presente contrato seria algum eventual
atentado contra os princípios da administração pública. Situação essa remota visto não haver
nenhum indício de violação do disposto no artigo 37 da Constituição Federal.
CONCLUSÃO