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ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO

CONSULTORIA-GERAL DA UNIÃO

CONSULTORIA JURÍDICA ADJUNTA AO COMANDO DO EXÉRCITO

NÚCLEO DE ASSUNTOS MILITARES

 
PARECER n. 00358/2019/CONJUR-EB/CGU/AGU
 
NUP: 67200.005609/2018-27
INTERESSADOS: COMANDO DE PREPARO - COMPREP
ASSUNTOS: ASSESSORAMENTO ESPECIALIZADO À ATIVIDADE JURÍDICA. PODER DE POLÍCIA.
SERVIDÃO MILITAR. VIGÊNCIA DO DECRETO Nº 3.437/1941
 
 
EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL. DIREITO ADMINISTRATIVO. DIREITO
MILITAR. DECRETO Nº 3.437/1941. PODER DE POLÍCIA  ADMINISTRATIVA.
SERVIDÃO MILITAR. UNIFORMIZAÇÃO DE ENTENDIMENTO. 
1. Uniformização de entendimento jurídico relacionado às ações de polícia administrativa,
patrulhamento, fiscalização de trânsito de veículos e de pessoas nas áreas de Servidão Militar,
bem como do entendimento quanto à vigência do Decreto-Lei nº 3.437/1941 e dos seus efeitos.
 
Excelentíssimo Consultor Jurídico,
 
1. RELATÓRIO
 
1. Trata-se de processo administrativo eletrônico proveniente da Consultoria Jurídica Junto ao Ministério da
Defesa -  CONJUR-MD  e  que versa sobre possível uniformização de entendimento jurídico relacionado às ações de
polícia administrativa, patrulhamento, fiscalização de trânsito de veículos e de pessoas nas áreas de Servidão Militar, bem
como do entendimento quanto à vigência do Decreto-Lei nº 3.437/1941 e dos seus efeitos.
 
2. Os termos da consulta são apresentados na Cota nº  00292/2019/CONJUR-MD/CGU/AGU, de 11 de
março de 2019 (sequencial 5), in verbis:
 
Por meio do Parecer nº 831/2018/COJAER/CGU/AGU, devidamente aprovado pelo Despacho n.
00030/2019/COJAER/CGU/AGU, a Consultoria Jurídica-Adjunta do Comando da Aeronáutica
solicita desta CONJUR-MD a uniformização de entendimento jurídico  relativo às ações de
polícia administrativa, patrulhamento, fiscalização de trânsito e pessoas na área de Servidão
Militar, bem como do entendimento quanto à vigência do Decreto-Lei nº 3.437/1941 e aos
seus efeitos.
Considerando que o assunto é comum às Forças Armadas e merece tratamento uniforme, a
manifestação conclusiva desta Pasta deve ser precedida da participação das Forças Singulares.
Portanto, adotem-se as seguintes providências:
a) abrir tarefas no Sapiens para as doutas CONJUR-MB e CONJUR-EB,  para conhecimento do
caso e emissão de manifestação jurídica. Abre-se ainda a possibilidade de colher manifestação
técnica das áreas finalísticas competentes, para subsidiar a uniformização de tese em
tela. Solicita-se resposta no prazo de 30 (trinta) dias;
b) registrar  no "Quadro de Teses Uniformizadas e Análises Relevantes", disponível na pasta da
Coordenação-Geral de Direito Administrativo e    Militar - CGDAM, as principais informações
referentes ao presente processo.
Considerando que o assunto versa sobre emprego militar, dever-se-ia abrir tarefa no SEI para
o EMCFA, para emissão de manifestação de mérito. Todavia, tendo em vista que o EMCFA já se
pronunciou a respeito da matéria no bojo do processo NUP nº 60240.000059/2019-15, o qual
deverá ser apensado neste expediente.
Por  fim, manter os autos em arquivo corrente na COADM pelo prazo de 30 (trinta) dias.
Transcorrido o referido prazo, abra-se vista para esta CG.
Cientifique-se a CONJUR-FAB das providências acima. (grifei).
 
3. Assim, tendo em vista "a possibilidade de colher manifestação técnica das áreas finalísticas competentes,"
os  autos foram encaminhados  aos órgãos técnicos competentes do Exército brasileiro para conhecimento e possível
emissão de manifestação técnica finalística, por meio da Nota nº 00261/2019/CONJUR-EB/CGU/AGU (sequencial 7) -
aprovada pelo Despacho nº 00146/2019/CONJUR-EB/CGU/AGU.
 
4. A Diretoria de Patrimônio Imobiliário e Meio Ambiente do Exército  (Parecer nº 005/2019-
DPIMA.AsseApAsJurd - sequencial 13) e o Comando de Operações Terrestres (DIEx nº 2086-
AsseApAsJ/SCmdo/COTER - sequencial 14) apresentaram as devidas manifestações técnicas finalísticas sobre o tema. 
 
5. É o relatório.
 
2. PRELIMINARMENTE: DA FINALIDADE, ABRANGÊNCIA E LIMITES DO PRESENTE
PARECER
 
6. A função da Consultoria Jurídica da União é apontar possíveis riscos do ponto de vista jurídico e
recomendar providências, para salvaguardar a autoridade assessorada. Assim, foge do âmbito de atribuições desta unidade
de assessoria jurídica uma avaliação sobre a conveniência e oportunidade do quanto pretendido.
 
7. Finalmente, impõe-se salientar que determinadas observações são feitas sem caráter vinculativo, mas em
prol da segurança da própria autoridade assessorada a quem incumbe, dentro da margem de discricionariedade que lhe é
conferida pela lei, avaliar e acatar, ou não, tais ponderações.
 
3. FUNDAMENTOS
 
8. A  CONJUR-MD  quer uniformizar tese referente às ações de polícia administrativa, patrulhamento,
fiscalização de trânsito de veículos e de pessoas nas áreas de servidão militar, bem como do entendimento quanto à
vigência do Decreto-Lei nº 3.437/1941 e dos seus efeitos.
 
9. Partindo da premissa de que a servidão militar é uma espécie de servidão administrativa (conforme
apontado pelo órgão assessorado), assinala-se a doutrina de Carvalho Filho sobre o tema:
 
(...)
VI. Servidão Administrativa 
1. Sentido e Natureza Jurídica
Servidão administrativa é o direito real público que autoriza o Poder Público a usar a
propriedade imóvel para permitir a execução de obras e serviços de interesse coletivo.

Cuida-se de um direito real público, porque é instituído em favor do Estado para atender a fatores
de interesse público. Por isso, difere da servidão de direito privado, regulada pelo Código Civil e
tendo como partícipes da relação jurídica pessoas da iniciativa privada (arts. 1.378 a 1.389,
Código Civil). O núcleo do instituto, porém, é o mesmo. No art. 1.378 do Código vigente, o
legislador deixou registrados os dois elementos da servidão:
[...] 
2. Fundamentos
O fundamento geral da servidão administrativa é o mesmo que justifica a intervenção do
Estado na propriedade: de um lado, a supremacia do interesse público sobre o interesse
privado e, de outro, a função social da propriedade, marcada nos arts. 5º, XXIII, e 170,
III, da CF. O sacrifício da propriedade cede lugar ao interesse público que inspira a
atuação interventiva do Estado.
[...] 
3. Objeto 
A servidão administrativa incide sobre a propriedade imóvel, como acertadamente
entendem diversos estudiosos.  DROMI acrescenta que a incidência do ônus real é sobre
imóvel alheio, já que o instituto pressupõe sempre uma relação jurídica integrada por
dois sujeitos. Institui-se a servidão, normalmente, sobre bens privados, mas nada impede
que, em situações especiais, possa incidir sobre bem público. (Carvalho Filho, José dos
Santos. Manual de Direito Administrativo - epub. 24ªed. Editora Lumen Juris. 2011. sp).
 
10. A Servidão administrativa é o direito real público (porque é instituído em favor do Estado para atender a
fatores de interesse público) que autoriza o Poder Público a usar a propriedade imóvel para permitir a execução de obras e
serviços de interesse coletivo, encontrando fundamento na supremacia do interesse público sobre o interesse privado e na
função social da propriedade, podendo ser instituída sobre bens privados e públicos.
 
11. A servidão militar decorre da necessidade de proteção das áreas vizinhas aos aquartelamentos e tem a sua
origem concomitante ao surgimento dos próprios fortes militares.
 
12. Sobre o conceito de servidão militar e em relação ao entendimento do  Exército sobre a  vigência do
Decreto-Lei nº 3.437/1941 e seus efeitos, destacam-se trechos do  Parecer  nº 005/2019-
DPIMA.AsseApAs.Jurd (sequencial 13):
 
(...)
o. Partindo do ponto de vista legal e considerados os argumentos supracitados, se faz necessário
adentrar na segunda questão, qual seja, a vigência do Decreto-Lei nº 3.437, de 17 de julho de
1941.
p. O referido diploma legal, traça os limites à ingerência do poder militar em regiões contíguas às
fortificações militares e ainda se encontra em vigor,  uma vez que foi recepcionado pela
Constituição Federal de 1988. Na realidade, segundo essa norma, a projeção do poder de atuação
da administração militar fora dos muros dos aquartelamentos se sobrepõe a quaisquer bens
existentes dentro do perímetro traçado na lei, não interessa se de propriedade pública ou privada,
assim preceitua o art. 1º do referido diploma legal:
 
Art. 1º  Na 1ª zona de 15 braças (33 metros) em torno das fortificações. nenhum aforamento de
terreno será concedido e nenhuma construção civil ou pública autorizada, considerando-se nulas
as propriedades porventura existentes, sem ônus para o Estado. 
 
q. Assim, conforme o disposto no art. 1º do referido Decreto, há uma limitação total decorrente da
servidão militar da utilização, seja por quem for, da área de 33 metros após o limite externo do
quartel. A vedação recai inclusive sobre as propriedades já existentes, assim conclui-se que a área
de 33 metros que circunda o quartel está submetida aos interesses da Instituição Militar, a qual
administra referida fortificação;
r. Já no art. 2º do mesmo Decreto há um abrandamento da servidão militar, sendo que esta
servidão, embora menos restritiva, persiste até o limite de 1.320 metros após o término da área do
quartel. Nessa área pode existir alguma concessão a ser autorizada após a apreciação da
Administração Militar, podendo esta autoridade ser entendida, atualmente, como sendo ato
privativo do Comando Militar da Força Terrestre que tem o imóvel da União sob sua jurisdição.
 
Art. 2º Na 2ª zona de 600 braças (1.320 metros) observar-se-á o seguinte:
a) Nenhum novo aforamento de terreno será concedido;
b)  nenhuma construção ou reconstrução será permitida fora dos gabaritos determinados pelo
Ministério da Guerra que poderá também promover a desapropriação do imóvel, se necessitar do
terreno as obras da Organização da Defesa da Costa;
c)  qualquer construção ou reconstrução em andamento, ou já autorizada, será sustada, para
cumprimento do disposto na letra anterior.
 
s) verifica-se, assim, que a própria norma em seu preâmbulo estabelece que estas áreas que
margeiam os aquartelamentos são consideradas áreas de servidão militar, sendo estas consideradas
como indispensáveis à defesa do Ministério da Guerra, ministério este que, atualmente,
corresponde ao Comando do Exército, consoante o disposto no Decreto-Lei nº 200, de 25 de
fevereiro de 1967, em seu art. 202:
 
Art. 202. O Ministério da Guerra passa a denominar-se Ministério do Exército.
 
t) E, atualmente, corresponde ao Comando do Exército, nos termos dos arts. 19 e 20 da Lei
Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999:
 
Art. 19. Até que se proceda à revisão dos atos normativos pertinentes, as referências legais a
Ministério ou a Ministro de Estado da Marinha, do Exército e da Aeronáutica passam a ser
entendidas como a Comando ou a Comandante dessas Forças, respectivamente, desde que não
colidam com atribuições do Ministério ou Ministro de Estado da Defesa.
Art. 20. Os Ministérios da Marinha, do Exército e da Aeronáutica serão transformados em
Comandos, por ocasião da criação do Ministério da Defesa.
 
u) Do anteriormente disposto, depreende-se que a natureza jurídica do instituto previsto no
Decreto-Lei nº 3.437, de 17 de julho de 1941, é de servidão administrativa militar, que opera
tanto nas áreas particulares quanto naquelas de domínio público, tendo em vista a
possibilidade de recair tal instituto também sobre bens públicos, muito embora exista na doutrina
aqueles que defendem que tal servidão recai sobre os particulares apenas:
 
Servidões militares verificam-se quando nas proximidades de quartéis ou fortalezas ficam os
particulares proibidos de executar trabalhos sem licença da autoridade militar.
(CRETELLA JUNIOR, José. Tratado de Direito Administrativo: Poder de Polícia)
 
[...]
x. A servidão militar é espécie de servidão administrativa, sendo que esta última é conceituada
como direito real de gozo, de natureza pública, instituído sobre imóvel de propriedade alheia, com
base em lei, por entidade pública ou por seus delegados, em favor de um serviço público ou de um
bem afetado a fim de utilidade pública. Conforme exposto anteriormente, "servidões militares
verificam-se quando, nas proximidades de quartéis ou fortalezas, ficam os particulares proibidos
de executar trabalhos sem licença da autoridade militar" ou no no caso submetido a estudo, fica o
particular proibido de se utilizar do estacionamento nas margens da calçada do quartel.
[...]
y. Assim, a depender da área de servidão militar, de acordo com a legislação pertinente, ou ainda,
caso esta seja omissa em estabelecer limites das áreas susceptíveis à servidão militar, deverá ser
observada como área limite de atuação aquela necessária para guardar os aquartelamentos como
área de segurança que são. Em regra, poderão ser considerados como limites a área de 1.320
metros depois que termina a área do quartel, de outra monta nada impede que, desde que
justificada a necessidade da área, poderá ser ampliado tal limite da área de servidão militar.
z. Indispensável destacar que se trata não só de um direito da Administração Militar defender o
local sob sua jurisdição administrativa, mas também trata-se de um dever originado no princípio
da indisponibilidade dos bens públicos, que no caso, são bens da União Federal afetados ao
Exército Brasileiro como finalidade específica de uso no cumprimento da missão constitucional
aquilatada no art. 142 da Constituição Federal de 1988: 
 
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são
instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na
disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria,
à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem. 
§ 1º Lei complementar estabelecerá as normas gerais a serem adotadas na organização, no preparo
e no emprego das Forças Armadas.
 
aa. É no sentido de preservar o local sob Administração  Militar, mantendo-o em condições
efetivas de ser usado como local de preparo e adestramento militar para  pronto emprego nas
missões constitucionais, sejam elas principais: defesa externa; ou secundárias: a garantia dos
poderes constituídos  e da lei e da ordem, que a Lei Complementar (LC) nº 97/99, que trata do
preparo e emprego das Forças Armadas atribui à Administração Militar o dever legal de defender
a referida área à  frente de qualquer pessoa e/ou situação que ameace o direito de fruição e a
Ordem Pública no local, não é outros o sentido do art. 13 da referida LC 97/99: 
 
Art. 13. Para o cumprimento da destinação constitucional das Forças Armadas, cabe aos
Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica o preparo de seus órgãos
operativos e de apoio, obedecidas as políticas estabelecidas pelo Ministro da Defesa. 
§ 1o  O preparo compreende, entre outras, as atividades permanentes de planejamento,
organização e articulação, instrução e adestramento, desenvolvimento de doutrina e
pesquisas específicas, inteligência e estruturação das Forças Armadas, de sua logística e
mobilização. 
§ 2o  No preparo das Forças Armadas para o cumprimento de sua destinação
constitucional, poderão ser planejados e executados exercícios operacionais em áreas
públicas, adequadas à natureza das operações, ou em áreas privadas cedidas para esse
fim.
§ 3o  O planejamento e a execução dos exercícios operacionais poderão ser realizados com a
cooperação dos órgãos de segurança pública e de órgãos públicos com interesses afins. (grifei)     
              
 
13. O fato é que  as áreas vizinhas às OMs também são  sensíveis às questões de segurança, pois  margeiam
locais vitais para a segurança nacional.  Como bem apontado no  DIEx nº 2086-AsseApAsJ/SCmdo/COTER, "não seria
razoável admitir-se que o aquartelamento ficasse a mercê de ser surpreendido por alguma espécie de atentado, como por
exemplo, a explosão de um carro bomba que fora autorizado a estacionar ao lado do quartel sob a justificativa de que a
rua é um 'bem público de uso comum do povo', e assim, colocando em risco toda uma área de segurança do próprio
Estado enquanto Nação."
 
14. Portanto, o Exército entende que o  Decreto-Lei nº 3.437/1941 traça os limites da  ingerência do poder
militar em regiões contíguas às fortificações militares e ainda se encontra em vigor, pois  foi recepcionado pela
Constituição Federal de 1988 - CF/88. Ainda foi sublinhado que a projeção do poder de atuação da administração militar
fora dos muros dos aquartelamentos se sobrepõe a quaisquer bens existentes dentro do perímetro traçado na lei, não
interessando se de propriedade pública ou de privada. Concluindo, pontuou que a natureza jurídica do instituto previsto
no Decreto-Lei nº 3.437, de 17 de julho de 1941, é de servidão administrativa militar, que opera nas áreas particulares e
nas de domínio público.
 
15. Quer dizer, na visão do Exército brasileiro,  o  Decreto-Lei nº 3.437/1941 (que ainda está vigente) criou
uma servidão administrativa militar nas áreas  contíguas às fortificações militares (áreas necessárias para guardarem os
aquartelamentos), com o objetivo de se preservarem tais locais, mantendo-os em condições efetivas para serem utilizados,
conforme os mandamentos constitucionais e legais que atribuem as competências das Forças Armadas.
 
16. Ademais, consoante apresentado nos pareceres técnicos citados no item 4 do presente opinativo, há
decisões judiciais favoráveis às  ações de polícia administrativa, patrulhamento, fiscalização de trânsito de veículos
de pessoas em áreas de servidão militar.  
 
17. Pontua-se que a natureza jurídica da missão constitucional atribuída às Forças Armadas impõe certas
restrições à rotina da população civil que circula nas imediações dos quartéis.
 
18. Passada essa primeira análise (conceito de servidão militar e entendimento do Exército sobre a vigência
do Decreto-Lei nº 3.437/1941 e sobre seus efeitos), passa-se à análise das ações de polícia administrativa, patrulhamento,
fiscalização de trânsito e de pessoas nas áreas de servidão militar.
 
19. Inicialmente, realça-se que o poder de polícia, em síntese, compreende a prerrogativa legal reconhecida à
Administração Pública parar restringir e condicionar o exercício de certos direitos, com o objetivo de atender o interesse
público. O poder de polícia tem por destinatários todos os particulares que se submetem à autoridade estatal (trata-se da
denominada “supremacia geral” do Estado sobre os respectivos administrados).
 
20. A doutrina moderna aponta que o poder de polícia compreende quatro fases distintas que se inserem no
denominado ciclo de polícia, a saber: ordem de polícia, consentimento de polícia, fiscalização de polícia e a sanção de
polícia.  Destarte, o poder de polícia possui incidência ampla.
 
21. A projeção do poder de polícia administrativa do Exército, em áreas adjacentes às OMs, justifica-se pela
necessidade de se prover a segurança do próprio Estado brasileiro.
 
22. Dessa forma, as ações de patrulhamento e de fiscalização de trânsito de veículos e de pessoas nas áreas de
servidão militar estão fundamentadas no poder de polícia conferido às Forças Armadas.
 
23. Nesse ponto, ressalta-se a importância de se demonstrar a diferença entre o termo polícia administrativa e
polícia judiciária, que foi muito bem demonstrado no Parecer  nº  00076/2019/COJAER/CGU/AGU (sequencial 2), in
verbis:
 
Uma importante distinção a ser feita diz respeito às atividades de polícia administrativa e polícia
judiciária. A polícia administrativa é o que se denomina comumente "poder de polícia", incidindo
sobre atividades, bens e direitos dos indivíduos, exaurindo-se em si mesma e tendo caráter
eminentemente preventivo [2].
Já a polícia judiciária é atividade desenvolvida por corporações específicas (como as polícias civil
e federal), preparatória para a função jurisdicional penal, e incidente sobre indivíduos a quem se
atribui o cometimento de ilícitos penais, possuindo caráter eminentemente repressivo. Conforme
exemplifica Carvalho Filho [3] :
"Vejamos um exemplo: quando agentes administrativos estão executando serviços de fiscalização
em atividades de comércio, ou em locais proibidos para menores, ou sobre as condições de
alimentos para consumo, ou ainda em parques florestais, essas atividades retratam o exercício de
Polícia Administrativa. Se, ao contrário, os agentes estão investigando a prática de crime e, com
esse objetivo, desenvolvem várias atividades necessárias à sua apuração, como oitiva de
testemunhas, inspeções e perícias em determinados locais e documentos, convocação de
indiciados etc., são essas atividades caracterizadas como Polícia Judiciária, eis que, terminada a
apuração, os elementos são enviados ao Ministério Público para, se for o caso, providenciar a
propositura da ação penal."
A partir disso, parcela da doutrina chega a criticar o uso da expressão "poder de polícia", que
confunde a atividade administrativa com a atividade policial, sugerindo outras nomenclaturas,
como "limitações administrativas à liberdade e à propriedade" ou "Administração ordenadora" [4]
.
Vê-se, pois, que, não obstante exista a atividade de polícia judiciária, a expressão "poder de
polícia" é muito mais associada à atividade administrativa que restringe e condiciona a liberdade e
a propriedade. Ademais, não há óbice a que as duas funções estejam concentradas em um só
órgão, como no caso da polícia militar, que exerce normalmente a polícia administrativa
(patrulhamento das vias públicas) ao mesmo tempo em que é polícia judiciária no tocante a crimes
militares, conforme o artigo 8º do Código de Processo Penal Militar [5]. Grifei.
 
24. O Exército brasileiro, ao efetuar  ações de patrulhamento e de fiscalização de trânsito de veículos e de
pessoas nas áreas de servidão militar, estará realizando atividades relacionadas à polícia administrativa.
 
25. No tocante às ações de polícia administrativa nas áreas de servidão militar, é imperioso demonstrar o
posicionamento da Força Terrestre exarado no já citado Parecer nº 005/2019-DPIMA.AsseApAs.Jurd. 
 
26. Para o órgão assessorado, o surgimento das áreas adjacentes aos aquartelamentos (áreas contíguas,
próximas, vizinhas das áreas reservadas às sedes das organizações militares) ocorreu concomitantemente ao surgimento
dos fortes militares. Outrossim, a servidão militar é um instituto gerado pela necessidade de proteção dos Fortes Militares,
o que deve incluir os espaços vizinhos que se situem no perímetro necessário à segurança dos quartéis (áreas vitais para a
sobrevivência da instituição militar).  Logo, em razão da segurança da organização militar e das pessoas que transitam
próximas a tal área, bem como pelo respeito ao princípio da supremacia do interesse público, o Exército deve prover a
segurança das áreas adjacentes aos organismos militares.
 
27. Por fim, o órgão assessorado concluiu que o Exército brasileiro possui pleno poder de polícia nas áreas de
servidão militar, tendo um poder/dever de atuar de diversas formas: expedindo licenças, autorizações, fazendo controle
de trânsito, restringindo a utilização de estacionamento nas imediações de fortes militares, regulamentando as atividades
civis e construções no raio de 1.320 metros após o término da área de suas fortificações e atuando preventivamente nos
delitos que possam ocorrer em tais áreas. 
 
28. O certo é que o Exército deve exercer a defesa do patrimônio que lhe é afetado (defesa militar preventiva
das instalações das Organizações Militares).
 
29. Assim, as ações de polícia administrativa do Exército (patrulhamento, fiscalização de trânsito de veículos
e de pessoas) nas áreas de servidão militar objetivam a defesa militar preventiva das instalações das OMs.
 
4. CONCLUSÃO
 
30. Em face das informações prestadas pelo Exército brasileiro, conclui-se que: 

a servidão militar é um instituto gerado pela necessidade de se proteger os Fortes Militares. Em razão


da segurança da organização militar e das pessoas que transitam próximas a essa área, bem como pelo
respeito ao princípio da supremacia do interesse público, o Exército deve prover a segurança das áreas
adjacentes aos organismos militares.
o Decreto-Lei nº 3.437/1941 traça os limites da  ingerência do poder militar em regiões contíguas às
fortificações militares e ainda se encontra em vigor, pois foi recepcionado pela Constituição Federal de
1988 - CF/88;
a projeção do poder de atuação da administração militar fora dos muros dos aquartelamentos se
sobrepõe a quaisquer bens existentes dentro do perímetro traçado na lei, não interessando se de
propriedade pública ou de privada;
a natureza jurídica do instituto previsto no Decreto-Lei nº 3.437, de 17 de julho de 1941, é de servidão
administrativa militar, que pode ser operados em áreas particulares e públicas;
as ações de patrulhamento e de fiscalização de trânsito de veículos e de pessoas nas áreas de servidão
militar estão fundamentadas no poder de polícia conferido às Forças Armadas;
o Exército brasileiro possui pleno poder de polícia nas áreas de servidão militar, tendo um poder/dever
de atuar de diversas formas: expedindo  licenças, autorizações, fazendo controle de trânsito,
restringindo a utilização de estacionamento nas imediações de fortes militares, regulamentando as
atividades civis e construções no raio de 1.320 metros após o término da área de suas fortificações e
atuando preventivamente nos delitos que possam ocorrer em tais áreas.

 
É o parecer.
 
À consideração superior.
 
Brasília, 03 de abril de 2019.
 
 
MARCOS VINÍCIUS MARTINS CAVALCANTE
ADVOGADO DA UNIÃO
 
 
Atenção, a consulta ao processo eletrônico está disponível em http://sapiens.agu.gov.br mediante o
fornecimento do Número Único de Protocolo (NUP) 67200005609201827 e da chave de acesso 32725339
 

Documento assinado eletronicamente por MARCOS VINICIUS MARTINS CAVALCANTE, de acordo com os
normativos legais aplicáveis.
A conferência da autenticidade do documento está disponível com o código 244754337 no
endereço eletrônico http://sapiens.agu.gov.br.
Informações adicionais:
Signatário (a): MARCOS VINICIUS MARTINS
CAVALCANTE.
Data e Hora: 03-04-2019 16:47.
Número de Série: 13811934.
Emissor: Autoridade Certificadora
SERPRORFBv4.

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