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Mecânica Quântica
Neste capı́tulo, introduzimos os problemas e as primeiras idéias inovadoras que conduziram aos
primórdios da Fı́sica Quântica, e permitiram seu posterior desenvolvimento formal.
e portanto
∂ P∞ ∞
∂xP n=1 e
−nx
1 ∂S X
ǭ(ν) = −hν ∞ = −hν , S= e−nx (5.4)
n=1 e S ∂x
−nx
n=1
61
62 CAPÍTULO 5. MECÂNICA QUÂNTICA
S − e−x S = 1
1
→S = (5.5)
1 − e−x
Portanto
1 ∂S −e−x e−x hν
ǭ(ν) = −hν = −hν(1 − e−x ) 2
= hν = x (5.6)
S ∂x (1 − e )
−x 1−e −x e −1
ou finalmente,
hν
ǭ(ν) = (5.7)
eβhν−1
Essa é a energia média que deve entrar na densidade de energia da radiação, ou seja:
8π 2
u(ν)dν = ǭ(ν) ν dν (5.8)
c3
8π 2 hν
= ν dν (5.9)
c3 eβhν − 1
ou
8πhν 3 1
u(ν)dν = dν (Radiação Térmica Quântica) (5.10)
c3 e khν
BT − 1
Definindo
η = hν/kB T, (5.11)
4 T4
8πhν 3 dν 8πkB η3
u(ν)dν = = (5.12)
c 3 eη − 1 h3 c 3 e η − 1
e definimos
h3 c 3 η3
u∗ (η)dη = 4 T4 u(ν)dν = dη (5.13)
8πkB eη − 1
h3 c 3 2
u∗ (η)dη = 4 T 4 u(ν)dν = η dη (5.15)
8πkB
5.1. MODELO DE PLANCK 63
O espectro de radiação térmica aparece em vários sistemas fı́sicos, e.g. o espectro da radiação
solar. Curiosamente, o espectro de corpo negro mais perfeito que se conhece na natureza é o
da radiação cósmica de fundo (RCF), que foi liberada 300.000 anos após o Big Bang, e pode
ser detectada hoje em todas as direções do Universo. Esse espectro corresponde a uma radiação
com T = 3K com pico na região de microondas, e é umas das observações mais importantes em
Cosmologia. A detecção desta radiação em 1964 deu a Penzias e Wilson o prêmio Nobel de Fisica
em 1978. Essa medida indicou que, de fato, o Universo foi muito quente no passado e, ao se esfriar,
essa radiação se desacoplou da matéria. A deteção de flutuações de temperatura da ordem de uma
parte em 10−5 nesta radiação, feita em 1992 pelo satélite COBE, deu a Smoot e Mather o prêmio
Nobel em 2006. Este feito iniciou a era da cosmologia de precisão.
hνmax νmax
ηmax = βhνmax = = const → = const (5.16)
kB T T
Portanto,
νmax,1 νmax,2
= (5.17)
T1 T2
Ou seja, a posição do pico νmax é proporcional à temperatura T . Podemos calcular a posição do
pico mais explicitamente, derivando u(ν):
ou
ηmax
→ e−ηmax = 1 − , onde ηmax = βhνmax . (5.19)
3
A solução desta equação dá
νmax ηmax kB
ηmax ≈ 2.82 → = = 5.88 × 1010 s−1 K−1 (5.20)
T h
V 3
Ω~k d3 k = d k
π3
V dΩ 2 V dΩ 2
Ωk dkdΩ = 3
k dk = k dk
π 8 8π 3
2
V dΩ 2πν 2πdν V
Ων dνdΩ = 3
= 3 ν 2 dνdΩ
Figura 5.2: Emissão de radiação pela su- 8π c c c
perfı́cie de um corpo negro ideal. A radiação
é emitida com vetor de onda ~k fazendo um e a densidade de energia da radiação nesta direção fica
ângulo θ com a normal ao corpo negro, em
um ângulo sólido dΩ. (Reif)
2hν 3 1
u(ν)dνdΩ = dνdΩ (5.21)
c3 e khν
BT − 1
A intensidade da radiação (energia emitida por unidade de tempo por unidade de área do corpo
negro, ou fluxo de energia) na frequência ν e ângulo sólido dΩ fica então:
e como
π π/2 1
1
Z Z Z Z
cos θdΩ = dφ cos θ sin θdθ = 2π udu = 2π =π (5.25)
0 0 0 2
5.2. EFEITO FOTOELÉTRICO 65
temos
I(ν)dν = πu(ν)c dν
2πhν 3 1
→ I(ν)dν = dν (5.26)
c2 e khν
BT − 1
2πhν 3 1
Z Z
I = I(ν)dν = 2 hν dν (5.27)
c e kB T − 1
Mudando x = βhν, i.e. ν = x/hβ e dν = dx/hβ, temos
2πh(x/hβ)3 1 dx
Z
I = (5.28)
c2 ex − 1 hβ
2π x3
Z
= 2 3 4 dx (5.29)
c h β ex − 1
Como
x3 π4
Z
dx = (5.30)
ex − 1 15
temos
2πkB4 T4 4
2π 5 kB
4
π
I= 2 3
= T4
c h 15 15c2 h3
I = σT 4 (5.31)
onde
2π 5 kB
4
σ= = 5.67 × 10−8 Kg s−3 K−4 (Constante de Stefan-Boltzmann) (5.32)
15c2 h3
E1 = E2
K1 + U 1 = K2 + U 2
→ K1 = K2 − (U2 − U1 ) (5.33)
K1 = K2 − e∆V (5.34)
Vamos agora considerar a situação limite em que o elétron tem energia cinética máxima em 1
(i.e. velocidade totalmente horizontal), ou seja K1 = Kmax . Vamos supor também que o elétron
chega em C com energia cinética nula, i.e. K2 = 0. Como o elétron mais energético acaba não
chegando em C, nenhum outro elétron chega, e portanto i = 0, ou seja ∆V = −VF . Assim temos
Por outro lado, a energia da radiação Erad é usada para i) liberar o elétron do átomo e ii) dar
essa energia cinética Kmax ao elétron. A energia necessária para quebrar a ligação do elétron ao
átomo é denotada W e chama-se função trabalho. Portanto, temos Erad = W + Kmax , ou seja
Podemos então confrontar as espectativas baseadas na teoria clássica da radiação, com o que se
observa de fato:
Classicamente, como Erad cresce com I, espera-se que VF também cresça com I. Além disso,
como Erad depende apenas de I, mudando a frequência ν, nada deveria ocorrer com VF . Ademais,
qualquer que fosse a frequência, aumentando I, eventualmente Erad > W e haveria corrente.
Entretanto, como vimos, o que se observa é que VF não depende de I e depende de ν. E existe
um valor mı́nimo ν0 tal que, para haver corrente, é preciso que ν > ν0 .
Para explicar os fatos observados, Einstein retomou a hipótese de Planck da quantização da
radiação, supondo que ela é formada por fótons, i.e. pacotes de luz. A energia de cada fóton da
radiação é dada por
Erad = hν (5.38)
eVF = hν − W (5.39)
68 CAPÍTULO 5. MECÂNICA QUÂNTICA
Temos que
Figura 5.7: Potencial de freamento VF em
função da frequência ν da radiação para dois h W
VF = ν− (5.40)
metais de materiais diferentes. (Serway) e e
Portanto, medindo VF em função de ν, temos que a inclinação do gráfico é tan θ = h/e, i.e.
pode ser usada para medir a constante de Planck.
Por outro lado, a interseçao com o eixo x ocorre em VF = 0, i.e. em ν0 = W/h, e pode ser
usada para medir a função trabalho W do material. Além disso, a projeção da reta ocorre em
VF = −W/e e também dá a função trabalho.
h
L = mvr = n, n = 1, 2, 3, ... (5.41)
2π
onde h é a constante de Planck. Lembre-se que h de fato tem unidade de momento angular. Com
esse modelo, podemos calcular as orbitas possiveis do eletron, bem como as energias nessas orbitas,
como faremos a seguir. Bohr também ganharia o prêmio Nobel em 1922 por esse modelo atômico.
5.3. ÁTOMO DE BOHR 69
5.3.1 Órbitas
Vemos acima que também v e r dependem do inteiro n, e portanto denotamos vn e rn para as
órbitas possiveis. Temos
h nh
mvn rn = n → vn = (5.42)
2π 2πmrn
Classicamente, o elétron sofre a Força de Coulomb da atração com o próton, que também deve
ser a força centrı́peta da órbita:
2
1 e2
m nh
= (5.45)
4πǫ0 rn2 rn 2πmrn
ǫ 0 n 2 h2
rn = Raios orbitais (5.46)
πme2
ǫ 0 h2
a0 = = 5.29 × 10−11 m (Raio de Bohr) (5.47)
πme2
rn = n 2 a 0 (5.48)
e2
vn = (5.49)
ǫ0 2nh
5.3.2 Energias
O elétron tem energia cinética e potencial enquanto se move ao redor do núcleo. Estas também
serão quantizadas devido às quantizações de vn e rn :
2
e2 me4
1 1
Kn = mvn2 = m → Kn = (Cinética) (5.50)
2 2 ǫ0 2nh 8n2 h2 ǫ20
1 e2 e2 πme2 me4
Un = − = − → U n = − (Potencial) (5.51)
4πǫ20 rn 4πǫ20 ǫ0 n2 h2 4n2 h2 ǫ20
70 CAPÍTULO 5. MECÂNICA QUÂNTICA
me4
En = K n + U n → En = − Nı́veis Energéticos (5.52)
8n2 h2 ǫ20
me4
1 1
∆Eij = Ei − Ej = − (5.53)
8ǫ20 h2 i2 j 2
Como essa energia deve corresponder à energia do fóton emitido/absorvida, temos ∆Eij = hν =
hc/λ e portanto, podemos obter os possı́veis comprimentos de onda dos fótons emitidos/absorvidos:
me4
hc 1 1
= 2 2 −
λ 8ǫ0 h i2 j 2
me4
1 1 1
→ = 2 3 − (5.54)
λij 8ǫ0 h c i2 j 2
Definimos a constante de Rydberg:
me4
R= = 1.097 × 107 m−1 (5.55)
8ǫ20 h3 c
em termos da qual, temos
1 1 1
→ =R 2
− 2 (5.56)
λij i j
E 2 = m2 c 4 + p 2 c 2 (5.57)
Figura 5.8: Efeito Compton. Um fóton de comprimento de onda λ0 se espalha ao colidir com um elétron,
transmitindo a este parte de sua energia e passando a ter um comprimento de onda λ. (Halliday)
Vamos primeiro assumir que o eletron está livre, o que é aproximadamente válido para os
elétrons em camadas superficiais do átomo. Usamos então as leis de conservação para o sistema
isolado fóton-elétron:
0 = pγ sin θ − pe sin φ
Eγ
0 = sin θ − pe sin φ
c
Eγ
→ sin φ = sin θ (5.59)
pe c
Conservação da energia:
Eγ0 + Ee0 = Eγ + Ee
Eγ0 + me c2 = Eγ + m2e c4 + p2e c2
p
ou ainda
1 1 1
− = (1 − cos θ) (5.62)
Eγ Eγ0 me c 2
h
∆λ = λ − λ0 = (1 − cos θ) (Efeito Compton) (5.63)
me c
Por outro lado, se o elétron estiver preso ao átomo, o fóton terá que transmitir seu momento a
todo o átomo, não apenas o elétron. Desta forma, a massa do elétron acima me deve ser substituı́da
pela massa do átomo ma , que é muito maior do que a massa de um unico elétron. Mesmo para o
átomo de hidrogênio, com apenas um próton no núcleo, temos ma = 1800me . Portanto, quando
o espalhamento acontece nesses eĺetrons, temos uma variação ∆λ muito menor do que no caso de
elétron livre. De fato podemos aproximar
Portanto, ao observar os fótons espalhados, esperamos alguns deles com o mesmo comprimento
de onda incidente, e outros com o comprimento diferindo do incidente pela Eq. 5.63. Foi exatamente
isso que Compton observou.
h
Eγ = hν e pγ = (Fótons) (5.65)
λ
Em 1924, de Broglie propôs que, similarmente, partı́culas como elétrons, até então vistos clas-
sicamente como corpúsculos, deveriam apresentar propriedades ondulatórias, tendo associados um
5.5. ONDAS DE DE BROGLIE 73
comprimento de onda que depende de seu momento linear, com exatamente a mesma relação que
relaciona momento e comprimento de onda da radiação.
h
λ= (Partı́culas) (5.66)
p
Essa proposta foi verificada experimentalmente, e deu a de Broglie o prêmio Nobel em 1929. Ou
seja, de Broglie ganhou o prêmio Nobel por converter a equação p = h/λ em λ = h/p e interpretar
isso de maneira correta !
Exemplo 1
Considere um fóton de radiação visı́vel, e.g. vermelha e λ = 700nm= 7.0 × 10−7 m. Temos
h 6.63 × 10−34 J.s
p= = = 9.47 × 10−28 Kg m/s (5.67)
λ 7 × 10−7 m
Exemplo 2
Considere um elétron (me = 9.11 × 10−31 Kg) com uma velocidade ve = 2 × 108 m/s= 2c/3. Este
elétron tem velocidade comparável à da luz e é portanto relativı́stico. Vamos usar as expressões
relativı́sticas para calcular sua energia e seu momento. Temos
E 2 = p2 c2 + m2 c4 , ou E = mc2 γ (5.68)
p = mγv (5.69)
2 2
K = E − mc = mc (γ − 1) (5.70)
p
onde γ = 1/ 1 − β 2 e β = v/c (5.71)
Para β = 2/3, temos γ ≈ 1.34. E para o elétron, temos
me c2 = 8.18 × 10−14 J = 5.11 × 105 eV = 511 keV. (5.72)
−13
E = 1.1 × 10 J = 684 keV (5.73)
−22
p = mγv = 1.8 × 10 kg m/s (5.74)
−14
K = 2.74 × 10 J = 174keV (5.75)
Note que o momento do elétron é muito menor do que o de um fóton de luz vermelha. Temos
então o comprimento de onda
h 6.63 × 10−34 J.s
λ= = = 3.7 × 10−12 m = 3.7 × 10−3 nm (5.76)
p 1.8 × 10−22 kg m/s
De fato, esse comprimento de onda é 100 vezes menor do que o raio de Bohr
Exemplo 3
Considere agora um elétron com energia cinética K = 54eV. Como essa energia é muito menor
que a energia de repouco do elétron, ele é não-relativı́stico, i.e. v ≪ c. Quando este é o caso, temos
β ≈ 0, γ ≈ 1 + β 2 /2, e as expressões se reduzem às clássicas:
p ≈ mv (5.77)
mv 2 p2
K ≈ = (5.78)
2 2m
mv 2
E ≈ mc2 + ≈ mc2 (5.79)
2
74 CAPÍTULO 5. MECÂNICA QUÂNTICA
λ
∆θ ≈ (5.86)
a
e, portanto, os efeitos de difração só são observados quando λ ≈ a, ou seja, quando a largura
da fenda é da ordem do comprimento de onda da luz. Para luz vermelha, temos λ ≈ 700nm
= 7 × 10−7 m.
5.6. INTERFERÊNCIA DE ELÉTRONS 75
Por outro lado, para elétrons de energia ∼ 54 eV, temos λe ≈ 1.7 × 10−10 m, ou seja próximo ao
tamanho do átomo (lembre raio de Bohr a0 ≈ 0.5×10−10 m). Portanto precisamos de uma ”fenda”de
largura próxima ao tamanho do átomo para medirmos efeitos de interferência significativos nestes
elétrons. Qualquer fenda usual será muito maior do que isso, o que torna essa experiência não tão
fácil de se fazer como para a luz. Uma possibilidade é usar cristais, em que os átomos se arranjam de
maneira ordenada, e a luz pode ”difratar”pelo espaço entre os átomos, que é da ordem de 10−10 m.
Em 1927, Davisson e Germer fizeram uma experiência que comprovou o caráter ondulatório de
elétrons, usando cristais de nı́quel. Por esse feito, Davisson ganhou o prêmio Nobel em 1937. O
aparatus experimental usado é mostrado na Fig. 5.9
d sin θ = λ (5.91)
Figura 5.11: Intensidade de elétrons no ex-
perimento de Davisson-Germer. O pico em ou seja, quando a diferença de caminho entre dois raios
θ = 50o é explicado pela interferência cons-
espalhados de átomos adjacentes do cristal é igual a um
trutiva dos elétrons nesse ângulo, e demons-
tra a sua natureza ondulatória. (Young)
comprimento de onda do elétron.
Para d = 2.15 × 10−10 m e θ = 50o , eles obtiveram
em excelente acordo com o valor predito, e mostrando portanto que o pico observado era devido à
natureza ondulatoria do elétron.
Figura 5.12: Padrao de interferência de uma onda clássica (esquerda) e de uma partı́cula clássica (direita).
Para a onda clássica existe um padrão de interferência na intensidade resultante quando ambas as fendas
estão abertas. Já no caso da partı́cula classica, a distribuição de partı́culas é a superposição dos casos de
cada fenda individual, não havendo intereferência. (Nussenzveig)
Na Fig. 5.12, mostramos a intensidade de ondas clássicas apos passarem por uma fenda dupla
e a densidade de probabilidade de partı́culas clássicas ao serem ejetadas sobre a mesma fenda.
No caso de ondas clássicas, quando fechamos e.g a fenda 2, obtemos um padrão de intensidade
concentrado na região da fenda 1, e vice-versa. Mas quando abrimos ambas as fendas o padrão
5.6. INTERFERÊNCIA DE ELÉTRONS 77
resultante é de intereferencia:
É interessante notar que isso acontece mesmo se jogarmos um fóton da radiação por vez. Ou
seja, cada fóton interfere consigo mesmo, não necessariamente com outros. Assim, devemos concluir
que cada fóton passa por ambas as fendas ao mesmo tempo.
Já no caso de partı́culas clássicas, podemos falar da distribuição de partı́culas, ou da probabili-
dade de elas estarem em certa posição na tela de observação. Neste caso, temos as probabilidades
P1 e P2 para as fendas individuais. No caso de as duas fendas abertas, a probabilidade resultante
é a soma dos padrões de cada fenda:
P12 = P1 + P2 (5.95)
Figura 5.13: Padrão de interferência de um elétron quando ele só é detectado na tela de observação (esquerda)
e quando ele é detectado nas fendas para verificar por qual delas ele passou. No primeiro caso o elétron sofre
interferência, passando por ambas as fendas exatamente como a radiação. Já no segundo, o elétron age como
uma partı́cula clássica, já que a observação o força a ”passar”por apenas uma das fendas. (Nussenzveig)
Na Fig. 5.13, mostramos o experimento de fenda fupla, mas injetando eletrons, produzidos por
um fio aquecido.
No primeiro caso (esquerda), os elétrons são detectados apenas na tela de observação, e o
resultado para suas probabilidades são idênticos às intensidades de ondas clássicas. Ou seja, com
cada uma das fendas abertas, têm-se as probabilidades individuais P1 e P2 , enquanto no caso de as
duas fendas abertas, ocorre interferência dos elétrons, gerando o padrão de interferência. Novamente
isso acontece mesmo que enviemos um elétron de cada vez. Isso implica que o elétron de fato passa
por ambas as fendas, pois só assim ele sofreria interferência consigo proprio. Portanto, deve existir
uma função ψ(x) cujo quadrado dá a probabilidade P (x), i.e. que faça o papel do campo elétrico
das onda eletromagnética, ou seja
Essa função de onda de fato é o principal objeto de estudo na mecânica quântica. Vamos voltar
a ela no próximo capı́tulo quando iremos introduzir a equação que descreve essa função.
Já no segundo caso (direita), os elétrons são detectados na própria fenda, para sabermos por
qual delas ele ”passou”antes de que ele chegue à tela de observação final. Neste caso, o que se
78 CAPÍTULO 5. MECÂNICA QUÂNTICA
P12 = P1 + P2 (5.98)
A explicação para isso é o chamado colapso da função de onda. No momento em que observamos
algo com caráter ondulatório (radiação, elétrons), nós forçamos essa entidade a mostrar o seu caráter
corpuscular. Em termos da função de onda, dizemos que a função de onda (que era algo espalhado
no espaço) colapsou para a posição de deteção (algo localizado).
Na mecânica quântica, a própria observação ”afeta”o resultado do que está sendo observado.
As naturezas ondulatórias e corpusculares, tanto de elétrons ou de fótons, se mostram em diferentes
situações, mas não ao mesmo tempo.
2π λ
a sin θ = π → θ ≈ sin θ = (5.99)
2λ a
Por outro lado,
py λ
tan θ = → py = px tan θ ≈ px θ = px
Figura 5.14: Difração de um elétron por uma px a
fenda de largura a. (Nussenzveig) px λ
→ py ≈ (5.100)
a
Só podemos ter o padrao de difracao se não medirmos a posicao por onde eletron passa na
fenda. Assim, mesmo que o eletron tenha inicialmente momento apenas na direcao x, ao passar
5.7. PRINCÍPIO DE INCERTEZA DE HEISENBERG 79
pela fenda nao sabemos sob qual angulo θ ele ira parar na tela, ou seja, nao sabemos o valor de py
adquirido ao difratar. Como ∼ 90% dos eletrons estao dentro do primeiro maximo, a incerteza em
py é pelo menos
px λ
∆py ≥ py ≈ (5.101)
a
Mas por de Broglie, λ = h/px , e portanto
px h
∆py ≥ → ∆py a ≥ h (5.102)
px a
Por fim, como a incerteza na coordenada y é a largura da fenda, ∆y = a, temos
∆py ∆y ≥ h (5.103)
~ h
∆x∆p ≥ , ~= (5.104)
2 2π
ou seja, em qualquer experimento, as incertezas na posiçao e no momento linear de uma partı́cula/sistema
só podem ter incertezas tais que a desigualdade acima seja válida. Em particular, se medimos a
posição com precisão infinita ∆x = 0 isso implica total desconhecimento do momento ∆p = ∞ e
vice-versa.
mv 2
E=K= , p = mv (5.105)
2
Temos, do principio de incerteza de Heisenberg
~ ~
∆p ≥ = (5.106)
2∆x 2v∆t
Por outro lado,
~ ~
∆E = mv∆v = v∆p ≥ v = (5.107)
2v∆t 2∆t
portanto
~
∆E∆t ≥ (5.108)
2
Interpretação: Não é possı́vel saber a energia de um sistema com precisão ∆E maior do que
~/2∆t onde ∆t é o tempo de existência do sistema.
80 CAPÍTULO 5. MECÂNICA QUÂNTICA
Como
h h 2π
p= = = ~k (5.109)
λ 2π λ
podemos associar um vetor de onda ~k ao momento linear p~ = ~~k.
O formalismo da mecânica quântica mostra que essas funções ψ(x) e φ(p) estão relacionadas pela
Transformada de Fourier. A idéia é que qualquer função pode ser expandida em senos, cossenos
ou eikx . Neste sentido, ψ(x) é uma superposição de eikx com coeficientes φ(p) de vários p’s, e
vice-versa.
1
Z ∞
φ(k) = √ e−ikx ψ(x)dx, k = p/~ (5.110)
2π −∞
ou, em termos do momento:
1
Z ∞
φ(p) = √ e−ipx/~ ψ(x)dx (5.111)
2π~ −∞
1
Z ∞
ψ(x) = √ eipx/~ φ(p)dp (5.112)
2π~ −∞
1 1
ψ(x) = √ eik0 x = √ eip0 x/~ (5.113)
2π~ 2π~
Neste caso a função de onda no espaço de momentos fica
1
Z ∞
φ(p) = √ e−ipx/~ ψ(x)dx
2π~ −∞
1 1
Z ∞
= √ e−ipx/~ √ eip0 x/~ dx
2π~ −∞ 2π~
1
Z ∞
= e−i(p−p0 )x/~ dx
2π~ −∞
= δ(p − p0 ) (5.114)
5.7. PRINCÍPIO DE INCERTEZA DE HEISENBERG 81
i.e. o momento é bem localizado, mas temos incerteza infinita na posição da partı́cula, já que ψ(x)
oscila em todo o espaço.
1
Z ∞
φ(p) = √ e−ipx/~ ψ(x)dx
2π~ −∞
1
Z ∞
= √ e−ipx/~ δ(x − x0 )dx
2π~ −∞
1
= √ e−ipx0 /~ (5.116)
2π~
i.e. a posicao é bem localizada, mas temos incerteza infinita no momento da partı́cula, já que φ(p)
oscila em todo os momentos.
Exemplo: Pacote Gaussiano. Este caso corresponde a uma situação intermediária entre as duas
anteriores, em que conhecemos a posição da partı́cula (e.g. x = 0) com incerteza ∆x distribuı́da
de acordo com uma distribuição normal (Gaussiana). Portanto
1 x2
P (x) = |ψ(x)|2 = √ e− 2∆x2 (5.117)
2π∆x2
o que implica
1 2
− x 2
ψ(x) = e 4∆x (5.118)
(2π∆x2 )1/4
e portanto
1
Z ∞
φ(p) = √ e−ipx/~ ψ(x)dx
2π~ −∞
1 1 1
Z ∞
2
= √ e−ikx e−ax dx, a= (5.119)
2π~ (2π∆x 2 )1/4
−∞ 4∆x2
k2 p2 /~2
= (5.121)
4a ∆x2
temos
82 CAPÍTULO 5. MECÂNICA QUÂNTICA
p2
1 1 p
2 )e− (~/∆x)2
φ(p) = √ π(4∆x
2π~ (2π∆x2 )1/4
1/4 p2
4∆x2
−
= e 4(~/2∆x)2 (5.122)
2π~2