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Revista da Estrutura de Aço | Volume 3 | Número 2

Revista da Estrutura de Aço | Volume 3 | Número 3


Revista da Estrutura de Aço | Volume 5 | Número 3

Volume 5 | Número 3
Dezembro de 2016

CBCA
Centro Brasileiro da Construção em Aço
Revista da Estrutura de Aço | Volume 5 | Número 3

ARTIGOS
Tabuleiros de pontes híbridas aço-concreto: modelos
de dimensionamento das regiões de ligação
Pedro M. Esteves, José J. Oliveira Pedro e João F. Almeida

148

Método geral para a verificação da estabilidade em


elementos estruturais metálicos
Trayana Tankova, Liliana Marques e Luís Simões da Silva

162

Ligações aparafusadas entre vigas e pilares de


secção tubular
Guiomar Vicente, Rui Simões, Carlos Rebelo e Luis S. Silva

180

Um elemento finito geometricamente exato para


colunas mistas aço-concreto
David Manta e Rodrigo Gonçalves

197
Revista da Estrutura de Aço | Volume 5 | Número 3

Prefácio

A CMM, Associação Portuguesa de Construção Metálica e Mista organiza de dois


em dois anos, desde a sua fundação em 1997, um Congresso que junta acadêmi-
cos, projetistas e empresas do setor, proporcionando uma mostra dos últimos de-
senvolvimentos científicos e de obras realizadas no âmbito da construção metáli-
ca e mista. Na sua última edição, realizada em 26 e 27 de Novembro de 2016, o
X Congresso de Construção Metálica e Mista deu especial relevância ao tema da
reabilitação do ambiente construído. As intervenções nessa área requerem o esta-
belecimento de equipas multidisciplinares, envolvendo interlocutores de diferentes
especialidades, cuja interação o congresso estimulou.

Na tradição dos Congressos anteriores, o X Congresso de Construção Metálica e


Mista teve como principal objetivo divulgar as mais recentes inovações e realizações
nessa temática, procurando contribuir para a divulgação, promoção, consolidação e
expansão do setor. O congresso foi um local privilegiado para o intercâmbio de ideias
e experiências entre os vários intervenientes no projeto e na execução de estruturas
metálicas e mistas, bem como nas atividades de investigação e ensino da área.

Para além de conferencistas convidados o congresso contou com a apresentação


oral de cerca de 90 trabalhos distribuídos pelos seguintes temas: arquitetura e aço;
eficiência energética e sustentabilidade de edifícios; execução e gestão da quali-
dade da construção em aço; grandes projetos; pontes metálicas e mistas; segurança
estrutural e desempenho de novos materiais e produtos, soluções industrializadas
para construção de edifícios e a construção em aço na indústria petrolífera, mineira
e na produção de energias renováveis.

Em face da qualidade técnica e científica dos artigos apresentados, os Editores da


“Revista da Estrutura de Aço” apoiada pelo CBCA – Centro Brasileiro da Construção
em Aço convidaram o Presidente da Comissão Científica do Congresso a selecio-
nar, com base na sua qualidade, artigos para publicação na Revista. Seguindo essas
premissas foram selecionados 4 artigos que posteriormente seguiram o processo
normal de revisão adotado pela revista.
Revista da Estrutura de Aço | Volume 5 | Número 3

Os trabalhos selecionados para o número especial da “Revista da Estrutura de Aço”,


que contêm tanto artigos de âmbito científico quanto de cunho técnico, foram:
Método geral para a verificação da estabilidade em elementos estruturais me-
tálicos; Um elemento finito geometricamente exato para colunas mistas aço-betão;
Ligações aparafusadas entre vigas e pilares de secção tubular e Tabuleiros de
pontes híbridas aço-betão: modelos de dimensionamento das regiões de ligação.

É a segunda vez que a “Revista da Estrutura de Aço” edita um número especial com
base em artigos apresentados em um Congresso de Construção Metálica e Mista
organizado pela CMM, Associação Portuguesa de Construção Metálica e Mista. A
CMM colabora com grande entusiasmo nessa iniciativa, pois considera a “Revista da
Estrutura de Aço” um veículo privilegiado para divulgar no Brasil o que de melhor
se faz em Portugal no domínio da Construção Metálica e Mista.

Editor convidado

Paulo Vila Real


Universidade de Aveiro
Portugal
recebido: 27/05/2016
aprovado: 24/10/2016 Volume 5. Número 3 (dezembro/2016). p. 143 - 161 ISSN 2238-9377

Revista indexada no Latindex e Diadorim/IBICTo

Tabuleiros de pontes híbridas aço-concreto: mode-


los de dimensionamento das
regiões de ligação
Pedro M. Esteves1*, José J. Oliveira Pedro1 e João F. Almeida1
1
CEris, ICIST, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa, Avenida Rovis-
co Pais, 1 — 1049-001 Lisboa – Portugal, pedro.esteves@ist.utl.com, jo-
se.oliveira.pedro@ist.utl.pt, jalmeida@civil.ist.utl.pt

Steel-concrete hybrid bridge decks: design models for connection regions

Resumo
Os tabuleiros híbridos aço-concreto são utilizados em diversas pontes por razões construtivas
e/ou económicas. Tipicamente, a estrutura do tabuleiro é constituída por vigas de concreto
nos tramos laterais e vigas de aço ou mistas aço-concreto nos tramos principais, habitualmen-
te ligadas com continuidade nas regiões de transição entre os dois materiais.
As normas de projecto referem-se separadamente ao dimensionamento de estruturas de aço e
concreto. Contudo, a ligação híbrida deve ser projectada de uma forma integrada, utilizando
um modelo eficiente e intuitivo de encaminhamento das cargas na região de ligação. Deste
modo, propõe-se um novo modelo de dimensionamento para estas zonas, baseado em formu-
lações desenvolvidas nas últimas décadas, relacionadas com a instabilidade de placas e mode-
los de campos de tensões. Analisa-se pormenorizadamente o caso de estudo de uma ligação
utilizada no tabuleiro híbrido de um viaduto sobre a auto-estrada A4, em Portugal.
Palavras-chave: tabuleiros de pontes híbridas; regiões de ligação; modelos de campos de ten-
sões; instabilidade de placas; modelos de bielas e tirantes.

Abstract
Steel-concrete hybrid bridge decks have been used in several bridges due to constructive and
economical reasons. Usually they adopt reinforced concrete back spans and main spans with
all-steel or steel-concrete composite girders, typically with monolithic connections in between.
Design codes address separately to the design of the steel and concrete parts of the connec-
tion. However, a rational design, with an efficient transfer of stresses between the steel and
the concrete parts, should be based on a global understanding of the connection region struc-
tural behaviour. Therefore, a new model for the design of the connection region is proposed,
based on web shear buckling models developed over the last decades for steel panels and
stress field models for structural concrete elements. A detailed case-study of the connection
region of a hybrid bridge deck, crossing the A4 highway, in Portugal, is presented.
Keywords: hybrid bridge decks; connection regions; tension field models; plate buckling;
strut-and-tie models.

*autor correspondente 143


1. Introdução

Nos últimos anos, pontes híbridas constituídas pela combinação de tabuleiros de aço
ou mistos aço-concreto, e de concreto armado, têm merecido a atenção dos Engenhei-
ros, devido às suas vantagens económicas, construtivas e estruturais. O conceito fun-
damental de uma estrutura híbrida consiste na utilização racional dos materiais estru-
turais. Tabuleiros de concreto armado protendido são usualmente soluções económi-
cas em pontes de pequeno vão, enquanto os tabuleiros metálicos ou mistos são, em
geral, utilizados em pontes de maior vão, por serem mais leves, rápidos e fáceis de
construir.

As soluções híbridas permitem conjugar as vantagens das duas tipologias anteriores,


adotando-se tabuleiros em concreto nos tramos laterais e tabuleiros totalmente metá-
licos ou mistos aço-concreto nos longos vãos principais. Este foi o caso, por exemplo,
da Ponte da Normandia, da Ponte Stonecutters ou, recentemente, da Terceira Traves-
sia do Bósforo, contribuindo para o aumento dos vãos destas estruturas.

Os tabuleiros híbridos têm sido também utilizados em pontes de pequeno a médio


vão, com vantagens funcionais e construtivas, nomeadamente nos casos de alarga-
mento de tabuleiros existentes.

Os regulamentos EN1992 e EN1993 sugerem modelos de dimensionamento individuais


das regiões metálica e de concreto estrutural. Contudo, a questão fundamental no di-
mensionamento de uma ligação híbrida consiste na definição integrada da solução es-
trutural mais eficiente para transmitir os esforços entre a região metálica e a região de
concreto.

2. Principais tipos de ligações híbridas

As ligações híbridas aço-concreto podem transmitir apenas esforços de corte ou tam-


bém momentos fletores, sendo neste último caso uma ligação monolítica executada:
(1) com chapas e conetores; (2) com barras e/ou cabos de protensão; ou
(3) combinando as duas soluções anteriores.

144
Uma solução do primeiro tipo foi utilizada nos viadutos sobre a auto-estrada
auto estrada A3 (Figu-
(
ra 1). Nesta ligação, localizada na seção a 1/5 do vão, onde os esforços de flexão das
cargas permanentes são mais reduzidos, os esforços de corte são distribuídos pelos
conetores
onetores dispostos nas almas e banzos de uma peça metálica auxiliar, que permite a
ligação à parte metálica do tabuleiro por soldadura ou aparafusamento.

Figura 1 – Peça metálica utilizada na ligação dos viadutos sobre a auto-estrada


auto A3
(Portugal) onde se dispõem os conetores de corte (Cabral, Bispo & Rito, 2011).
2011)

O segundo tipo de ligação utiliza a compressão da seção de ligação com barras ou ca-
c
bos de protensão.. O afastamento entre barras permite resistir ao momento fletor ins-
in
talado na seção.. Frequentemente, prolongam-se
prolongam se também os cabos de protensão do
tabuleiro de concreto protendido,
protendido ancorando-os
os na zona metálica ou mista. A obra de
alargamento da PI 275 (Portugal) constitui um exemplo deste tipo de ligação, tendo
sido utilizados simultaneamente
ltaneamente cabos e barras protendidass na conexão monolítica -
Figura 2a (Rito & Loureiro, 2006).
2006)

A solução utilizando
zando simultaneamente conectores e barras ou cabos protendidos foi
aplicada, por exemplo, na Ponte de Nagisa (Japão) e na Terceira Travessia do Bósforo
(Turquia). Ambas adotaram um tabuleiro híbrido, suspenso por tirantes e pendurais,
mas vãos principais bastante diferentes, 110 m na Ponte de Nagisa e 1408 m na Tercei-
Terce
ra Travessia do Bósforo.

Na ligação híbrida da Ponte de Nagisa é utilizada uma peça metálica pré-fabricada,


pré
preenchida por concreto armado autocompactável (Figura
( 2b). A transmissão de flexão
é assegurada pelos conetores dispostos nos banzos da peça de ligação,
ligação, enquanto a
transmissão do corte é assegurada pelos conetores dispostos na chapa vertical e pela
força de atrito mobilizada pela compressão das barras de protensão.

145
(a) Ligação adotada na PI 275 - Portugal (Rito & (b) Ligação adotada na Ponte de Nagisa -
Loureiro, 2006) Japão (Sato, et al., 2003)
Figura 2 – Exemplos de ligações híbridas com cabos e barras de protensão
(unidades: m).
A ligação utilizada na Terceira Travessia do Bósforo é topo a topo, com “dentes” metá-
licos na seção de concreto, barras protendidas e conetores. As barras protendidas são
dimensionadas para equilibrarem o binário produzido pelo momento fletor atuante,
garantindo ainda a compressão da ligação. O esforço cortante é equilibrado pelos
“dentes” e conetores soldados verticalmente ao longo da extremidade do tabuleiro
metálico e pela força de atrito gerada na interface de ligação entre os dois materiais.

3. Análise da região de ligação

Estuda-se uma ligação híbrida de uma nervura de concreto armado protendido a um


caixão misto com o mesmo contorno exterior, a 1/5 do vão principal, com geometria
semelhante à da Figura 2a (Rito, 2011). No estudo da ligação avalia-se a resistência do
caixão misto. O consolo curto de concreto armado é dimensionado para este esforço
resistente, utilizando modelos de bielas e tirantes.

3.1. Modelo do comportamento estrutural da região mista

A questão fundamental consiste na avaliação da capacidade última ao esforço cortante


do painel de extremidade do caixão misto. A geometria da alma na interface de ligação
torna necessária uma análise local do encaminhamento das cargas. A capacidade da
alma esbelta dos tabuleiros de pontes (são correntes esbeltezas entre 100 e 200, ten-
do-se adotado uma esbelteza de 150) é determinada pela instabilidade local de placa,
sendo, por isso, corrente avaliar a resistência pós-crítica associada à instabilidade por
esforço cortante da alma.

146
A resistência de uma placa ao corte pode ser obtida por diversos métodos (Lebet &
Lääne, 2005), tendo-se adotado o Método do Campo Diagonal de Tração (MCDT), ba-
seado no modelo de Cardiff-Praga. Trata-se do método incluído na ENV 1993-1-1 de
1992, e que deve ser aplicado a vigas de alma cheia com reforços transversais inter-
médios, com espaçamento entre  ≤  ≤ 3, sendo  e  a altura e o espaçamento
entre reforços da alma de espessura
 (Figura 3a). De acordo com este mé-
todo, o painel da alma instabiliza quan-
do se atinge a tensão crítica de corte
 , não tendo capacidade para absor-

ver compressões adicionais. Neste ins-


tante, um novo mecanismo de transmis-
são de forças é desenvolvido, permitin-

(a) Fase pré-crítica do absorver os esforços de corte adicio-


nais através de uma membrana de tra-
ção inclinada que se pode ancorar nos
banzos superior e inferior e nos reforços
transversais da alma (Figura 3b). Pode
estabelecer-se uma analogia entre este
mecanismo de pós-flambagem e o com-
porta-mento estrutural de uma treliça
(b) Fase pós-crítica
de Pratt, equiparando-se a resistência
Sc
Rótula plástica de pós-flambagem disponível na chapa
de alma à resistência da barra diagonal
’ da treliça (Stiemer, 2007), controlada
pela capaci-dade de ancorar a força dia-
gonal com inclinação
. O colapso ocor-
re ao atingir-se a cendência desta dia-
Diagonal gonal fictícia, e com a formação das ró-
St plastificada

(c) Colapso
tulas plásticas nos banzos. A resistência
Figura 3 – Modelo de comportamento se- última é obtida pela sobreposição da
gundo o MCDT (Stiemer, 2007).

147
resistência pré-critica da placa com a resistência do campo diagonal de trações da fase
pós-critica (Figura 3c).

Assim, a resistência total ao esforço cortante ,  é obtida pela soma da parcela e-


lástica ou pré-crítica com a parcela correspondente à resistência pós-crítica:

.  =   + 0.9  sin


(1)

O valor da tensão associada ao campo de trações  pode ser deduzido pelo critério
de von Mises-Hencky. Assim que a tensão de tração na alma atinge o valor da tensão
resistente do aço, ocorre um mecanismo de colapso semelhante ao apresentado na
Figura 4a, formando-se quatro rótulas plásticas nos banzos. A contribuição para a re-
sistência ao corte deste mecanismo, associado ao campo de trações formado na alma,
depende da largura do campo de tensões, definida por . O valor de  é, por sua vez,
função da distância entre rótulas plásticas nos banzos comprimido e tracionado,  e
 , as quais podem ser obtidas através do equilíbrio da viga da Figura 4b.

(a) Plastificação do banzo superior ao ancorar (b) Modelo de resistência plástica do


a diagonal tracionada banzo superior
Figura 4 – Modelo de comportamento do painel de extremidade ao ancorar a
diagonal tracionada.

O MCDT foi adotado por permitir individualizar as parcelas pré-crítica e pós-crítica, o


que não se verifica no Método do Campo de Tensões Rodado, incluído na versão atual
do Eurocódigo 3 – Parte 1-5. Acresce que o MCDT trata da mesma forma as situações
de um reforço de extremidade rígido e não rígido, que podem ambas ocorrer nas liga-
ções em estudo.

148
3.2. Modelo do comportamento estrutural da região de concreto estrutural

Os modelos de bielas e tirantes têm sido utilizados na análise, dimensionamento e


pormenorização de regiões especiais em concreto estrutural. Tratam-se de modelos de
aplicação geral, tanto em zonas onde é válido o princípio de Bernoulli, como em zonas
de descontinuidade, apresentando consistência no tratamento das regiões de transi-
ção entre as zonas B e D (Lourenço & Almeida, 2013).

De fato, estes modelos constituem uma ferramenta sólida para avaliar o comporta-
mento estrutural de um elemento de concreto, permitindo simular espacialmente o
caminho das cargas no interior de uma região em estudo e ainda ter em conta o com-
portamento do concreto em estado fendilhado. Estas vantagens conduzem a que o
Método de Bielas e Tirantes seja particularmente interessante no estudo das regiões
de descontinuidade dos tabuleiros híbridos.

3.3. Geometria da ligação híbrida

As dimensões ℎ e  do consolo curto de concreto são importantes no comportamento


da ligação (Figura 5). Existe todo o interesse em que o comprimento  seja curto, sendo
função da carga vertical a transmitir. A altura ℎ limita, por outro lado, a largura da di-
agonal de tração pós-crítica (Figura 5), e consequentemente a resistência ao esforço
cortante.
300
1500

Figura 5 – Exemplo de incompatibilidade geométrica com o MCDT.

149
No dimensionamento do consolo de concreto armado, uma relação /ℎ baixa conduz
a uma transmissão direta da carga, facilitando a pormenorização dessa região. A cali-
bração do comprimento  do consolo curto está também dependente da necessidade
de assegurar que, no caso da adoção de um reforço de extremidade duplo (Figura 6c),
o dimensionamento do painel de apoio  × ℎ! não é condicionado pela sua estabili-
dade, mas sim pela sua resistência plástica.

(a) Corte transversal 1-1

(b) Planta por 2-2 e 3-3


300
790

1500

(c) Corte
650

longitudinal
4-4

Figura 6 – Região mista da ligação híbrida do caso de estudo (unidades: mm).

150
4. Caso de estudo

Na apresentação dos possíveis modelos de dimensionamento da ligação híbrida é utili-


zado o caso de estudo com a geometria apresentada na Figura 6, realizado com aço
estrutural S355 J2K3 e o concreto C35/45 XC4. Primeiramente são apresentados os
modelos de dimensionamento para as regiões de ligação, considerando uma conexão
simplesmente apoiada. Em seguida, o modelo de dimensionamento para uma ligação
monolítica é introduzido. A espessura dos reforços transversais é definida em cada ca-
so, de modo a que estes não condicionem a resistência da ligação.

4.1. Modelo 0 – Modelo de resistência crítica de pré-flambagem

O Modelo 0 admite que a resistência ao corte é limitada pela tensão de corte crítica da
chapa de alma. Trata-se, assim, de um modelo de uma placa sujeita a um estado de
corte puro, com tensões principais orientadas segundo ângulos de 45o em relação à
direção de atuação do esforço cortante (Figura 7). Este modelo deve ser aplicado
quando não existem reforços transversais de extremidade com capacidade para anco-
rar as trações do campo diagonal, no regime pós-crítico.

Figura 7 – Modelo 0 com resistência crítica de pré-flambagem (unidades: mm).

A chapa de reforço de extremidade inferior de 10 mm cumpre as exigências mínimas


de inércia aplicáveis a reforços transversais com a função de apoios de painéis de alma

151
do Eurocódigo 3 – Parte 1-5. A resistência ao corte calculada por este modelo é de
817 kN, para uma chapa de alma com 1500 mm de altura e 10 mm de espessura.

4.2. Modelo 1 – Modelo com reforço de extremidade simples

A utilidade de um reforço transversal de extremidade no aumento da resistência ao


corte é notável, permitindo ancorar um campo diagonal de tração que se desenvolve
após a chapa de alma instabilizar. A resistência total ao corte da seção de ligação é da-
da pela soma desta parcela pós-crítica com a resistência crítica ao corte, avaliada pelo
Modelo 0. O modelo 1A utiliza um reforço transversal de extremidade simples (Figura
8) e não considera a contribuição da laje de concreto na resistência ao esforço cortan-
te, metodologia habitual no dimensionamento de vigas mistas.

Figura 8 – Modelo de dimensionamento 1A (unidades: mm).

A Figura 9 apresenta o mecanismo de colapso associado à plastificação dos banzos e


do reforço transversal de extremidade, para um esforço cortante atuante de 1429 kN,
traduzindo-se num aumento de resistência de 75% em relação ao Modelo 0.

O modelo 1B (Figura 10) apresenta a mesma composição de um reforço transversal de


extremidade simples, tal como o 1A. A diferença consiste unicamente ao nível da con-
sideração da contribuição parcial da resistência à flexão da seção mista formada pela
laje de concreto armado e pelo banzo superior de aço para a resistência pós-crítica ao
esforço cortante (Figura 10).

Para assegurar o comportamento misto entre o banzo superior e a laje de concreto


deve existir uma pormenorização adequada de conetores, sujeitos localmente aos es-
forços impostos pela diagonal tracionada da alma (Figura 11).

152
2
∅1

Área (A)

= /
∅2
4

(a) Mecanismo global do painel de (b) Modelo de cálculo plástico do


extremidade reforço de extremidade

Figura 9 – Mecanismo de colapso proposto para o Modelo 1.

(a) Modelo de dimensionamento proposto 1B


20//0.20 + 16//0.20

400x35 mm2
20//0.20 + 12//0.20
3200

(b) Seção mista do banzo superior e da laje de concreto armado

Figura 10 – Modelo de dimensionamento 1B (unidades: mm).

Figura 11 – Esforços de dimensionamento dos conetores devido à ação do


campo diagonal de tração.

153
Verifica-se que, considerando apenas 10% da resistência à flexão da laje de concreto,
obtém-se um esforço cortante resistente de 1596 kN (95% superior ao do Modelo 0).
Apesar deste modelo se basear numa adaptação do MCDT, ensaios laboratoriais têm
comprovado a influência benéfica da laje de concreto na resistência ao corte pós-
crítica das vigas mistas (Gomes, Cruz & Silva, 2000).

4.3. Modelo 2 – Modelo com reforço de extremidade duplo

No Modelo 2 adotam-se dois reforços de extremidade constituídos por chapas de


13 mm, para assegurar a sua estabilidade local, o que conduz a um esforço cortante
resistente de 1712 kN, 110% superior ao do Modelo 0 (Figura 12).

300
674
790

1500
650

Figura 12 – Modelo de dimensionamento 2 (unidades: mm).

Através da Figura 13 verifica-se que, ao contrário dos modelos anteriores, a carga ver-
tical não pode ser transmitida na vertical até ao apoio pela chapa do reforço de extre-
midade, dando origem à força de desvio "# . Torna-se, assim, necessário adaptar o

modelo de cálculo do reforço de extremidade (Figura 13c), devido à existência desta


força de desvio e ao fato do comportamento estrutural do reforço ser distinto dos mo-
delos anteriores, na situação em que é vencida a força de atrito no apoio.

154
= / Assim, considerando a fle-
2
∅1 xão vertical do reforço, as-

Área (A) sume-se o modelo de uma


viga de inércia variável,
3
com o vão igual à altura
total da alma (1500 mm)
encastrada no banzo supe-
∅2 [mm]
4
rior/laje e apoiada no ban-
(a) Equilíbrio de forças no (b) Mecanismo de cálculo plás-
apoio de extremidade tico do reforço de extremidade
zo inferior, e sujeita à com-
ponente horizontal do
campo diagonal de tração
da fase pós-crítica. Para
evitar a rotura prematura
da ligação para um valor
inferior à resistência de
1712 kN, adota-se um re-
(c) Deformada aproximada do painel de extremidade
forço transversal de extre-
Figura 13 – Mecanismo de colapso associado ao midade inferior com 39 mm
Modelo 2.
de espessura.

4.4. Modelo 3 – Modelo de ligação monolítica

O Modelo 3 considera a ligação monolítica, com a transmissão adicional do momento


fletor. Utilizam-se reforços transversais duplos semelhantes aos do Modelo 2, devido
ao fato desta solução apresentar uma maior resistência ao corte relativamente às an-
teriores. A transmissão de flexão nesta ligação híbrida é possibilitada através da intro-
dução das barras de protensão e das chapas de topo (Figura 14). As chapas de topo a
toda a largura da seção transmitem as compressões diretamente ao concreto, e as bar-
ras comprimem o tabuleiro na ligação, eliminando as trações que resultam dos mo-
mentos fletores, tornando assim a ligação monolítica.

155
(a) Seção transversal 1-1

300
100
790

1500
650

300

(b) Corte longitudinal 4-4


400
1000

600

(c) Planta por 2-2 (d) Planta por 3-3

Figura 14 – Geometria da ligação proposta para o Modelo 3 (unidades: mm).

A concretagem de um bloco de concreto armado de 1 m no interior da seção mista (Fi-


gura 14) confere maior rigidez e resistência à ligação monolítica, facilitando também a
ancoragem dos cabos protendidos. As chapas de topo facilitam esta concretagem em
2ª fase e evitam que o caixão metálico deslize em relação à seção de concreto. A exis-
tência do bloco de concreto comprimido contra as chapas de topo evita que estas te-
nham flexão significativa, sendo a sua espessura apenas função da rigidez que se pre-
tende assegurar na ligação topo a topo. Assim, na rotura, as rótulas plásticas formam-

156
se na seção mista composta pelo banzo superior/laje, sendo avaliada a resistência à
flexão desta seção tendo em conta:

1) O esforço axial imposto pela diagonal tracionada da alma;

2) Uma compressão/tração adicional devida ao momento fletor global na ligação.

No caso do momento fletor global instalado na ligação híbrida ser de 40% da resistên-
cia plástica do tabuleiro misto, obtêm-se esforços cortantes resistentes de 1677 kN e
1645 kN, em simultâneo com a atuação de um momento fletor positivo e negativo,
respetivamente (Figura 15).

300
661
790

1500
650

(a) Modelo de dimensionamento para uma ligação híbrida sujeita a um


momento fletor positivo 300
664
790

1500
650

(b) Modelo de dimensionamento para uma ligação híbrida sujeita a um


momento fletor negativo

Figura 15 – Modelos de dimensionamento 3 – Ligação monolítica


(unidades: mm).

157
4.5. Distribuição transversal da reação vertical no consolo curto de concreto

Para dimensionar a região em concreto estrutural da ligação para o Modelo 3 é neces-


nece
sário caraterizar a distribuição transversal da reação vertical de 1645 kN no consolo
curto de concreto. De fato,
fato a carga vertical é transmitida lateralmente pelas almas do
caixão misto e, por isso, a sua distribuição transversal depende muito da rigidez da
chapaa de topo da ligação. Com recurso a um modelo de elementos finitos (Figura
( 16),
analisou-se
se a distribuição transversal da reação no
n consolo curto para quatro casos dis-
di
tintos, apresentados na Figura 17.

Chapas de topo

Chapas de reforço

Figura 16 – Modelo de elementos finitos e identificação das chapas intervenientes no


estudo paramétrico.

400 NERVURA 400

(a) Chapas de topo com 50 mm e (b) Chapas de topo com 50 mm e


com reforços 30 mm sem reforços

400 400

(c) Chapas de topo com 20 mm e (d) Chapas de topo com 20 mm e


com reforços 30 mm sem reforços
Figura 17 – Distribuição transversal da reação de apoio no consolo curto de concreto
(unidades: mm).

158
É interessante observar a influência da espessura das chapas de topo e das chapas de
reforço/nervuras na uniformização da reação de apoio. A adoção de chapas de topo
com maiores espessuras e de reforços rigidifica a zona central do caixão misto, diminu-
indo os picos de tensão transmitidos à nervura de concreto (observável nas Figu-
ras. 17c e 17d).

4.6. Dimensionamento da região de concreto estrutural

O encaminhamento de car-
gas na nervura em concreto
estrutural pode ser traduzi-
do pelo esquema tridimen-
sional do modelo de bielas
e tirantes proposto (Figu-
(a) Modelo de equilíbrio para a reação vertical atuante sobre
ra 18a). Este modelo cor-
o consolo curto de concreto
responde ao caso (d) da Fi-
gura 17, em que a reação
vertical se concentra essen-
cialmente nos 0.4 m junto
ao contorno da seção
transversal na interface de
ligação, na proximidade das (b) Modelo de equilíbrio das barras protendidas e da reação
almas do caixão misto. A vertical

adoção de barras de pro- Figura 18 – Modelo de bielas e tirantes da região de


concreto da ligação híbrida monolítica.
tensão na ligação conduz ao
segundo modelo de bielas e tirantes (Figura 18b). Na região da nervura de concreto da
ligação híbrida deve ser adotada uma pormenorização de armaduras coerente com as
forças de tração dos tirantes destes modelos.

5. Conclusões

A questão fundamental no dimensionamento de uma ligação híbrida consiste na defi-


nição integrada da solução estrutural mais eficiente para transmitir os esforços entre a

159
região metálica/mista e a região de concreto. Para os casos de estudo de uma ligação
rotulada e monolítica, e com base em modelos de campos de tensões, foram propos-
tos modelos para a transmissão de um esforço cortante e um momento fletor para o
dimensionamento da ligação de um tabuleiro híbrido. O estudo realizado conduziu às
seguintes conclusões:

i. Os modelos propostos permitem entender de forma simples o caminho das car-


gas na região de ligação, constituindo, por isso, uma ferramenta essencial no seu
dimensionamento;

ii. A consideração da contribuição da resistência pós-crítica ao esforço cortante


permite um incremento de 817 kN para 1429 kN do esforço cortante resistente
da ligação;

iii. O Modelo 1B, que considera a contribuição de 10% da resistência à flexão da laje
de concreto armado, permite maiores comprimentos de ancoragem da diagonal
do modelo pós-crítico sobre o banzo superior, o que se traduz no aumento para
1596 kN do esforço cortante resistente;

iv. O Modelo 2, com um reforço de extremidade duplo, é mais eficiente que os an-
teriores, conduzindo ao aumento para 1712 kN do esforço cortante resistente da
ligação;

v. A ancoragem das barras de protensão numa ligação monolítica analisada com o


Modelo 3 aumenta a rigidez da ligação e evita a flexão local das chapas de topo
da ligação;

vi. As chapas de topo aplicadas no Modelo 3 têm uma influência relevante na distri-
buição transversal da reação vertical sobre o consolo curto de concreto; esta dis-
tribuição da reação é essencial para definir os modelos de bielas e tirantes de
dimensionamento da nervura de concreto na zona de ligação.

6. Agradecimentos

Este trabalho foi realizado com o apoio de uma bolsa de iniciação à investigação da
Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), a qual se agradece. Reconhece-se igual-

160
mente o apoio concedido pelos Engenheiros da Armando Rito, S.A. durante a realiza-
ção deste trabalho.

7. Referências bibliográficas

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161
recebido: 13/06/2016
aprovado: 24/10/2016 Volume 5. Número 3 (dezembro/2016). p. 162 - 179 ISSN 2238-9377

Revista indexada no Latindex e Diadorim/IBICTo

Método geral para a verificação da estabilidade


em elementos estruturais metálicos
Trayana Tankova1*, Liliana Marques1, Luís Simões da Silva1
1
Departamento de Engenheira Civil, Universidade de Coimbra, Portugal
recebido: 27/05/2016 ttankova@uc.pt, lmarques@dec.uc.pt, luisss@dec.uc.pt
aprovado: 24/10/2016

A general methodology for the stability design of steel


members

Resumo
Este artigo sumariza o desenvolvimento de uma novo método para a verificação da
estabilidade de elementos estruturais esbeltos em aço, garantindo consistência com as regras
de dimensionamento presentes na EN 1993-1-1 (EUROCODE, (2005)), e permitindo aos
projetistas a verificação de elementos estruturais com diversos tipos de geometrias,
carregamentos e condições de fronteira. Para a verificação do método proposto, é necessário
efetuar uma análise bifurcacional de estabilidade e usar o multiplicador da carga crítica do
modo relevante de modo a obter os esforços de 2ª ordem. Neste artigo, o método bem como
os fundamentos teóricos na qual a mesma se baseia serão apresentados. A validação será
efetuada para elementos de secção e/ou carregamento variável ao longo do seu comprimento.
Palavras-chave: Método Geral; Estabilidade; Instabilidade por flexão; Estruturas Metálicas;
Metodologia de Dimensionamento

Abstract
This paper summarizes the development of a new design methodology for the stability
verification of slender steel members. The methodology aims for generality and consistency
with the recommendations of EN 1993-1-1, thus allowing the designers to apply it to members
of various geometries, loading and support conditions. For the verification by the proposed
method, it is required to perform a Linear Buckling Analysis and use the critical load multiplier
and relevant buckling mode to obtain the second order forces that appear in slender steel
members. In this paper the methodology and its background are summarized. Validation for
members with non-uniform geometry and/or loading along the length is performed.

Keywords: General Methodology; Stability; Flexural buckling; Steel structures; Design


methodology

*autor correspondente 162


1 Introdução
O EC3 fornece várias metodologias para a verificação de elementos e pórticos. No
entanto, estas metodologias apresentam uma aplicabilidade limitada no que diz
respeito ao tipo de secção, condições de fronteira, tipo de carregamento.
Adicionalmente, existem vários parâmetros a ser determinados tal como o
comprimento de encurvadura e os fatores de momento equivalentes.
Consequentemente, a verificação de elementos não uniformes conduz a dificuldades
tais como a definição da curva de encurvadura; as propriedades da secção a considerar
para a verificação de estabilidade; ou mesmo a classe da secção, tendo em conta que
esta varia em função da forma da secção e do tipo de carregamento.
Alternativamente, a cláusula 6.3.4 do EC3-1-1 (Metodologia Geral) deve ser
considerada para verificação da segurança de estruturas com elementos de secção
variável, uma vez que a sua aplicação resolve algumas das dificuldades descritas. No
entanto, tem-se verificado a falta de fiabilidade aquando da sua aplicação (Simões da
Silva et al., 2010), o que se deve essencialmente à falta de clareza relativamente a
certos aspetos da sua aplicação como, por exemplo a escolha da curva de
encurvadura; e também ao seu empirismo.
Em Marques et al., (2012) e (2013) foram apresentadas deduções analíticas para a
verificação da instabilidade por flexão de colunas e instabilidade por flexão-torção de
vigas. Através da consideração de fatores calibrados que têm em conta a secção do
elemento estrutural na qual a combinação de esforços de 1ª e 2ª ordem é mais
elevada, são apresentadas nestes trabalhos metodologias práticas para o
dimensionamento de colunas e vigas de secção variável. No entanto, a generalização
destes fatores a elementos com combinações generalizadas de carregamento, forma
da secção transversal e condições de fronteira, é irrealista.
Deste modo, é desenvolvida uma nova metodologia, a qual será apresentada de
seguida. A mesma baseia-se numa interação linearizada das tensões mais relevantes à
qual a secção está sujeita: (i) tensões devido às forças aplicadas; (ii) tensões devido às
forças de segunda ordem. O procedimento é de simples aplicação e extende-se a
vários tipos de geometria, carregamento, e condições de fronteira.
163
Neste artigo apresentam-se os fundamentos teóricos da metodologia desenvolvida
bem como a sua validação para colunas de secção variável com esforço axial constante
e variável, sujeitas a instabilidade por flexão.

2 Modelo analítico
A nova metodologia desenvolvida é consistente com as regras de dimensionamento
para colunas no EN 1993-1-1. Assim, este mesmo modelo analítico é apresentado.

2.1 Instabilidade por flexão de colunas

As regras de dimensionamento para colunas são apresentadas na cláusula 6.3.1 da EN


1993-1-1. A dedução das mesmas pode ser consultada em Maquoi e Rondal (1978) e
Strating e Voz (1973).

A instabilidade lateral de uma coluna com uma imperfeição inicial (ver Figura 1) é
brevemente apresentada aqui. Como referência, considera-se encurvadura por flexão
de uma coluna prismática em torno do eixo de menor inércia (z-z), sendo que o
processo é análogo para a verificação da instabilidade em torno do eixo de maior
inércia. Assim, considerando a equação diferencial respetiva (1),

EI z v′′( x) + Nv( x) = − Nv0 ( x) (1)

bem como as condições de fronteira v(0)= v(L)=0, obtém-se

N πx πx
v( x ) = vˆ0 sin = vˆ sin (2)
N cr, z − N L L
em que Ncr,z é a carga crítica elástica, v(x) é o deslocamento lateral e v0(x) é a
imperfeição inicial, a qual se assuma ter a mesma forma que v(x):

πx
v0 (x ) = vˆ0 sin (3)
L

Figura 1 Coluna com imperfeição inicial

164
Estabelece-se assim a seguinte relação de amplificação devido à presença de
imperfeições inicias:

1
vˆtot = vˆ0 + vˆ = vˆ0 (4)
1 − N N cr, z

Considerando um critério de cedência elástico a meio vão, isto é, igualando as tensões


normais na fibra mais comprimida à tensão de cedência fy, obtemos:

N M zII
+ = fy (5)
A Wz

Que resulta na equação conhecida de Ayrton-Perry:

χz
χ z +ηz 2
= 1.0 (6)
1− χz λ z

em que

Af y
λz = é a esbelteza normalizada;
N cr , z

N Ed
χz = é o fator de redução;
N pl , Rd

e0 A
ηz = é o fator de imperfeição generaliza;
Wz

e Wz o módulo elástico de flexão em torno do eixo de menor inércia (z-z).

2.2 Verificação prática

O modelo teórico para colunas de secção prismática é transposto para regras práticas
através da calibração de fatores de imperfeição os quais têm em conta a presença de
várias imperfeições, geométricas e materiais. A calibração destes fatores de
imperfeição e desenvolvimento das respetivas curvas de encurvadura presentes no
EC3-1-1 podem ser consultados em Maquoi e Rondal (1978) e Strating e Voz (1973).
Apenas os fatores ηi são calibrados, sendo que toda a formulação analítica é
preservada.

165
Tabela 1: Métodos de verificação da estabilidade

Instabilidade por flexão


Método
Cláusula 6.3.1, EN 1993-1-1
A . fy – secções de classe 1, 2 e 3
Resistència Aeff . fy – secções de classe 4
NRk, MRk

Carga π 2 E Ii
Ncr,i =
crítica L2

λi λ i = N Rk / N cr ,i
ηi (
α i λ i − 0 .2 )
αi Ver tabela 6.2 da EN1993-1-1

ϕi (
0.5 × 1 + η i + λ i
2
)
1  φ i + φ i − λ i  ≤ 1
2 2
χi
 
Verificação NEd ≤ Nb,i, Rd = χi × NRk / γ M 1

3 Metodologia

3.1 Introdução

A metodologia de dimensionamento do EC3-1-1 apresentada na Secção 2 foi deduzida


para:
- elementos de secção prismática;
- colunas simplesmente apoiadas;
- carregamento pontual, isto é, diagrama de esforço axial constante.
Adicionalmente, os fatores de imperfeição a considerar foram calibrados com base nos
mesmos pressupostos. Assim, os mesmos não são aplicáveis a elementos de secção
variável com carregamento variável e outras condições de fronteira. De modo a
generalizar a aplicabilidade da verificação de colunas sujeitas a instabilidade por
flexão, desenvolveu-se uma nova metodologia a qual é apresentada neste artigo.
Esta metodologia é também baseada num modelo de Ayrton-Perry, no entanto o
formato final na qual a mesma é apresentada é distinto do formato conhecido. No
EC3-1-1 a verificação é efetuada através da determinação de um fator de redução χ
(ver Tabela 1), enquanto que na nova mitologia a verificação da segurança é feita
através da verificação de uma equação de interação, a qual se baseia na interação
166
linear das tensões do elemento estrutural e considera: (i) tensões normais devido aos
esforços aplicados; (ii) tensões normais devido os esforços de segunda ordem. A Figura
2 ilustra a utilização de tensões na fibra mais comprimida do banzo de uma coluna de
secção variável com instabilidade no eixo de maior inércia. O rácio de utilização é
apresentado ao longo do comprimento da coluna, x/L. É possível verificar que a
contribuição dos esforços de segunda ordem não é negligenciável
Esta interação entre os esforços de primeira e segunda ordem é consistente com a
metodologia presente no EC3-1-1 e apresentada na Secção 2, em que o fator de
redução … é também deduzido com base numa interação linear das tensões do
elemento (Eqs. (5) e (11)). Para aplicar a nova metodologia, o projetista deverá
primeiro efetuar uma análise bifurcacional de estabilidade (LBA – Linear Buckling
Analysis), a qual resultará para um dado modo crítico relevante, no fator de carga
crítica bem como a forma do respetivo modo. A metodologia em questão trata a
instabilidade por flexão. O valor da carga crítica bem como a forma do modo crítico
são então considerados para a determinação das tensões devidas aos esforços de
segunda ordem. Os termos que dizem respeito aos esforços de segunda ordem são
amplificados de modo a ter em conta a imperfeição do modo relevante. Deste modo, a
consistência com o caso de colunas prismáticas é garantida.

Figura 2 Utilização das tensões de compressão num elemento não uniforme

Metodologias análogas são propostas em Chladný e Stujberová (2013), Aguero et al.


(2015), Badari e Papp, (2015) e Papp, (2015). Em Chladný e Stujberová (2013), os
autores baseiam a sua abordagem nas recomendações da EN 1993-1-1, secção
5.3.2(11), em que a amplitude da imperfeição é definida com base na instabilidade
167
lateral de colunas prismáticas, e a forma é adotada a partir do modo crítico relevante.
Adicionalmente, considerando a metodologia proposta, o projetista deverá encontrar
a localização ao longo do elemento na qual a verificação deve ser realizada. Em certos
casos é necessário um processo iterativo para o fazer.
Em Aguero et al. (2015), os autores propõem uma metodologia para obter a
imperfeição equivalente de elementos em compressão e flexão com imperfeições
laterais e torsionais. Esta metodologia baseia-se também na secção 5.3.2(11) da EN
1993-1-1, sendo que neste caso os autores propõem expressões (para secções
elásticas e plásticas) a considerar na amplificação dos esforços de segunda ordem
obtidos da LBA. O projetista deverá utilizar um processo iterativo de modo a encontrar
a localização crítica ao longo do elemento na qual a magnitude desta imperfeição é
determinada.
Em Badari e Papp, (2015) são propostas novas curvas de encurvadura para
instabilidade por flexão-torção de vigas, as quais forma calibradas com base em
simulações numéricas avançadas. A verificação é efetuada através da determinação do
fator de redução χ em várias localizações da viga.
Em Papp, (2015) é proposta uma metodologia generalizada inovadora para o cálculo
da resistência à instabilidade de colunas, vigas e vigas-coluna. A metodologia proposta
não se baseia num processo iterativo, tal como as anteriores, mas sim na
determinação de um membro simplesmente apoiado equivalente. Esta transformação
é feita através da resolução de uma equação de 2ª ordem, a qual poderá ser pouco
prática. Adicionalmente, de modo a simplificar o processo de aplicação desta
metodologia, o autor permite que se assuma que a transformação seja feita com base
no ponto de referência onde apenas os esforços de segunda ordem atingem um valor
máximo (Papp, (2015)).
Embora os métodos anteriores sejam bastante similares e se baseiem no mesmo
modelo analítico, considera-se que a simplicidade de aplicação da presente
metodologia garantindo sempre elevada consistência analítica, prevalece em relação
aos mesmos. Em termos gerais, para aplicar a aplicação da metodologia proposta
neste artigo, basta verificar a equação de interação apresentada em várias localizações

168
ao longo do elemento e garantir que é sempre respeitada. O procedimento é
apresentado na secção 3.2.

3.2 Metodologia proposta

A equação geral de interação que representa a verificação da instabilidade por flexão


de colunas é dada na Eq. (15). Aqui, as equações são generalizadas ao modo crítico –
em torno do eixo de menor ou maior inércia, devendo ser consideradas as
propriedades respetivas para cada caso.
σ ( x) N ( x) M II ( x)
= + ≤1 (15)
fy A( x) f y W ( x) f y

Na Eq. (15), é dado o momento fletor de segunda ordem


M II ( x) = EI ( x)δ " ( x) (16)
Em que E é o modulo de Young, I(x) é o momento de inércia e δ” a curvatura. Em cada
secção, a curvatura pode ser calculada a partir da relação de amplificação (Marques et
al., (2012)):
N ( x)δ 0 " ( x)
δ " ( x) =
(α cr N ( x) − N ( x)) (17)
Tal como considerado na Secção 2.1, assume-se que a imperfeição inicial apresenta a
mesma forma que o modo crítico:
W ( x)
δ 0 " ( x) = δ cr " ( x)e0 e 0 = α ( λ ( x ) − 0 .2 )
A( x) (18)
ou a imperfeição inicial é proporcional à forma do modo crítico δcr”, e a amplitude é
dada por e0, que por sua vez foi calibrado para colunas prismáticas sujeitas a
instabilidade por flexão. Deste modo, mantém-se consistência com o EC3-1-1 (cláusula
6.3.1) e o respetivo fator de imperfeição α. A verificação final é dada por:
N ( x) EI ( x)δ cr " ( x)
ε ( x) = + α (λ ( x) − 0.2) ≤ 1 (19)
A( x) f y A( x) f y (α cr − 1)

em que λ é a imperfeição generalizada obtida do seguinte modo:

A( x) f y
λ= (20)
α cr N ( x )

169
A verificação de qualquer elemento sujeito a esforço axial e instabilidade por flexão
pode ser efetuada através da verificação da Eq. (19) num número adequado de
secções ao longo do elemento, considerando para isso o valor do esforço axial, N(x), e
propriedades da secção, A(x), Iz(x). Com este procedimento evita-se a calibração de
parâmetros que representem a localização crítica (na qual as tensões são máximas),
uma vez que se baseia na equação de Ayrton-Perry no seu formato mais “bruto”, isto
é, sem haver necessidade de ser manipulada e representada em termos de um fator
de redução χ e, consequentemente, da sua resistência última, Nb,Rd.
A verificação pode ser interpretada como uma verificação de diversas “colunas
equivalentes” com propriedades geométricas das respetivas secções e carga crítica
αcrN(x).

3.3 Resumo

Nas secções anteriores foi apresentada uma nova metodologia para verificação de
colunas sujeitas a instabilidade por flexão. Baseia-se na verificação das tensões devidas
aos esforços de primeira e segunda ordem. O procedimento é facilmente aplicável a
elementos com secção variável, esforço axial variável e diversas condições de
fronteira.
De modo a garantir simplicidade na formulação da metodologia, torna-se necessário
proceder a uma simplificação inevitável. A metodologia proposta assume que o valor
da imperfeição é independente do nível de carregamento. No entanto, esta
imperfeição é apenas válida quando a equação é igual a 1 e não <1: a localização da
secção crítica varia com o aumento do carregamento uma vez que a relação entre
esforços de primeira e de segunda ordem variam. Por exemplo, na Figura 3, o método
é aplicado a uma coluna de secção variável com um rácio γh=γb=hmax/hmin=bmax/bmin=3
com carregamento axial constante, na qual o esforço axial máximo é Nmax=587kN. A
Figura 3 representa o rácio de utilização das secções para vários níveis do esforço axial
considerados na equação (19). É visível a variação da localização crítica com os
diferentes níveis de esforço axial aplicados. Verifica-se também que quando é aplicado
um esforço mais elevado que o máximo (neste caso Nmax=658kN), a equação conduzirá
a um resultado maior que a unidade.

170
1.6
Nmax=131.6kN
1.4 Nmax=329kN
Nmax=460.6kN
1.2
Nmax=526.4kN

Rácio de utilização ε
1 Nmax=559.3kN
Nmax=587kN
0.8 Nmax=658kN
Secção critica
0.6

0.4

0.2

0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Comprimento, m

Figura 3 Rácio de utilização para vários níveis de carregamento

Embora a generalização desta metodologia está ainda sob validação, devido à sua forte
base analítica, espera-se que conduza a níveis adequados e consistentes de segurança.
Adicionalmente, é bastante mais flexível e geral quando comparada com metodologias
que se baseiam na calibração de fatores auxiliares, as quais são inevitavelmente
aplicáveis a um número limitado de casos mais gerais.
Os efeitos locais para secções esbeltas podem ser introduzidos posteriormente através
da consideração das propriedades efetivas de cada secção na qual a equação está a ser
aplicada.
Finalmente, os esforços de segunda ordem relevantes devem ser escolhidos tendo em
conta uma observação cuidada da forma do modo crítico bem como das forças
envolvidas. O valor do multiplicador da carga crítica, αcr, bem como a forma do modo
respetivo, podem ser obtidos a partir de qualquer programa de elementos finitos.
A Figura 4 ilustra a sequência de aplicação da metodologia.

171
Figura 4 Aplicação da metodologia proposta

4 Validação

4.1 Modelo numérico

O modo crítico é obtido usando o programa de elementos finitos Abaqus 6.14 [15].
Cada elemento é modelado com elementos finitos lineares de casca com 4 nós (S4) e 6
graus de liberdade por nó.
Análises avançadas foram também efetuadas considerando não linearidades
geométricas e materiais com imperfeições, ou seja, GMNIA. Este tipo de análises
permite capturar os efeitos de segunda ordem que são essenciais para problemas de
estabilidade.

Figura 5 Lei constitutiva

A não linearidade material é incorporada no modelo através duma lei constitutiva


elasto-plástica de acordo com a Figura 5. As imperfeições geométricas foram

172
modeladas utilizando uma imperfeição inicial de acordo com o primeiro modo crítico
global e uma amplitude de L/1000. As tensões residuais foram consideradas de acordo
com a Figura 6.

(a) Secção soldada (b) Secção laminada, h/b>1.2


Figura 6 – Tensões residuais (“+” Tracção and “–“Compressão)

O carregamento é aplicado de modo incremental, no qual o tamanho do incremento é


escolhido de modo a garantir convergência. As equações de equilíbrio são resolvidas
para cada incremento utilizando o procedimento iterativo de Newton-Raphson.
A malha adotada tem 16 subdivisões em cada banzo e alma, e entre 100 e 300 ao
longo do comprimento do elemento.
As condições de fronteira são implementadas de modo a representar apoios de
forquilha: impedimento de deslocamentos transversais (δz) e verticais (δy) e rotação
em torno do eixo longitudinal (ϕx). Num dos apoios o deslocamento longitudinal (δX) é
também impedido. As secções dos apoios são modeladas de modo a impedir a
distorção das mesmas.

4.2 Estudo paramétrico

De modo a mostrar a aplicabilidade da metodologia, foi efetuado um estudo


paramétrico utilizando o modelo numérico apresentado na secção 4.1.

Tabela 2: Estudo paramétrico

Rácio Rácio
Modo
Carregamento γh=hmax/hmin γb=bmax/hmin Secções N
crítico

z-z 18
1...5 1…5 100x100x10x10
y-y 14

173
Nesta fase, pretendeu-se verificar a aplicabilidade do método a colunas de secção
variável, com esforço axial variável. Os parâmetros considerados apresentam-se na
Tabela 2.

4.3 Resultados e discussão

Aplicação da metodologia
De modo a poder avaliar a fiabilidade do método, foram efetuados diversos tipos de
análise. Em primeiro lugar analisou-se a variação do rácio de utilização das secções ao
longo do elemento, comparando com a expressão analítica derivada em Marques et
al., (2012). Uma vez que a relação de amplificação é ligeiramente diferente, é
espectável que a localização da secção crítica seja diferente. De todo o modo,
verificou-se que o multiplicador do carregamento último, αb, é semelhante para ambos
os casos, como pode ser observado na Figura 7, a qual representa uma coluna de
secção variável com rácio de variação γh=γb=3 e carregamento axial distribuído. Na
Figura 7 o rácio de utilização εtot é representado para o carregamento último, αb. São
também representadas as contribuições de ambos os termos do rácio de utilização, εI
e εII, respetivamente as tensões devido ao esforço axial aplicado e devido ao momento
de segunda ordem. Por sua vez, εtot corresponde à soma dos termos anteriores. A nova
metodologia é comparada com o modelo teórico de Marques et al., (2012). Observa-se
pela Figura 7 que existe uma diferença na localização crítica entre os dois métodos
devido ao fator de amplificação aplicado na componente dos esforços de segunda
ordem. A diferença entre o valor do carregamento último nos dois métodos é, no
entanto, negligenciável.
Elementos de secção variável
Uma das principais lacunas nas regras de verificação da estabilidade de elementos no
Eurocódigo 3 é a limitação da sua aplicabilidade. Por exemplo, não são aplicáveis a
elementos de secção variável. A metodologia presente é válida para elementos com
secção variável. A validação da metodologia proposta a colunas de secção variável é
apresentada na Figura 8a) e 9a), em que se comparam o método proposto em
Marques et al., (2012) com o novo método, em termos de carregamento máximo, αb,
respetivamente para instabilidade por flexão em torno do eixo de maior inércia e de
174
menor inércia. Os resultados são apresentados para vários comprimentos de coluna,
representação esta que é feita no eixo das abcissas em termos de esbelteza
normalizada.
1.2
εtot, novo

1 εM, novo
αb=0.89 εN, novo

0.8
αb=0.91 εtot, LM
Rácio de utilização ε

εN, LM
εM, LM
0.6

0.4

0.2

0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Comprimento, m

Figura 7 Rácio de utilização

Curva b
No plano
1.00
1.2
Curve b
1 0.80
GMNIA
Teoretioco αb

0.8 Novo 0.60


LM [3]
αb

0.6
0.40

0.4 Novo
0.20
LM [3]
0.2
0.00
0 0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00
0 1 2 3 4 5
λ(xcI) Experimental (GMINA), αb
(a) Instabilidade por flexão em torno do eixo de (b) Dispersão dos resultados
maior inércia
Figura 8 Resistência analítica vs. experimental – Instabilidade por flexão em torno do eixo de maior
inércia

A dispersão dos resultados é apresentada na Figura 8b) e 9b), indicando uma


aproximação muito próxima de ambos os métodos (αb,model) aos modelos numéricos
(αb,GMNIA), com a vantagem de que o método proposto é mais abrangente. Finalmente,
na Tabela 3 estão resumidos os parâmetros estatísticos para os casos analisados, em
termos do rácio αb,GMNIA/ αb,model. Um rácio acima da unidade indica que o método

175
“analítico” está do lado da segurança, e vice-versa. A média da variável αb,GMNIA/
αb,model bem como o coeficiente de variação (CoV) são apresentados na Tabela 3.

Curva c
Fora do plano
1.2 1.00
Curve c
αb

1 GMNIA 0.80

Teoretico αb
0.8 Novo
0.60
LM [3]
0.6
0.40
0.4 Novo
0.20 LM [3]
0.2

0 0.00
0 1 2 3 4 5 0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00
λ(xc I)
Experimenta(GMINA), αb

(a) Instabilidade por flexão em torno do eixo de (b) Dispersão dos resultados
menor inércia
Figura 9 Resistência analítica vs. experimental – Instabilidade por flexão em torno do eixo de menor
inércia

Table 3: Avaliação estatística αb,GMNIA/ αb,model

Modo crítico Maior inércia (y-y) Menor inércia (z-z)


LM NM LM NM

Média (αb,GMNIA/ αb,model) 1.03 1.04 1.02 1.03


CoV (αb,GMNIA/ αb,model) 5% 4% 5% 4%

5 Exemplo

Finalmente, ilustra-se no seguinte exemplo o processo de aplicação do método


proposto. Considera-se para tal uma coluna de secção linearmente variável com rácios
de variação da secção γh=γb=3 e esforço axial constante. A coluna é impedida de
instabilizar em torno do eixo de menor inércia, sendo então o modo relevante a
instabilidade em torno do eixo de maior inércia. Em primeiro lugar, é efetuada uma
análise LBA de modo a obter a carga crítica bem como a forma do modo crítico δcr e
subsequentemente a respetiva segunda derivada δcr”. A Figura 10 ilustra estes passos.

176
N1(x) = 421kN αcr,1 =1.37 > 1.0
δcr(x)”
0.2

0.15

δcr''
0.1

0.05

0
0 2 4 6 8 10
Length, L [m]

Figura 10 Obtenção da carga e modo crítico

De seguida, a Eq. (11) é aplicada num número significativo de localizações ao longo da


coluna, permitindo calcular o rácio de utilização global e proceder à verificação final. A
Figura 11a) ilustra o processo de cálculo, e a Figura 11b) ilustra a variação da utilização
de esforços ao longo do elemento.
x N(x) Iy A λ(x) εN (x) εM(x) ε(x) Check
m kN m4 m2 - - - - -
1
0.00 421 4.5E-06 2.8E-03 1.33 0.64 0.01 0.647 <1
ε(x)
0.50 421 6.1E-06 3.1E-03 1.40 0.58 0.17 0.751 <1
Rácio de utilização ε(x)

1.00 421 8.1E-06 3.4E-03 1.47 0.53 0.31 0.842 <1 0.8 εN(x)
1.50 421 1.0E-05 3.7E-03 1.53 0.48 0.42 0.906 <1 εM(x)
2.00 421 1.3E-05 4.0E-03 1.59 0.45 0.50 0.943 <1 0.6
2.50 421 1.7E-05 4.3E-03 1.65 0.42 0.54 0.958 <1
2.63 421 1.8E-05 4.4E-03 1.67 0.41 0.55 0.959 <1
0.4
3.00 421 2.0E-05 4.6E-03 1.71 0.39 0.56 0.952 <1
4.00 421 2.9E-05 5.2E-03 1.82 0.34 0.55 0.894 <1
5.00 421 4.1E-05 5.8E-03 1.92 0.31 0.49 0.801 <1 0.2
6.00 421 5.5E-05 6.4E-03 2.02 0.28 0.40 0.684 <1
7.00 421 7.2E-05 7.0E-03 2.11 0.26 0.31 0.562 <1 0
8.00 421 9.3E-05 7.6E-03 2.20 0.24 0.20 0.439 <1 0 2 4 6 8 10
9.00 421 1.2E-04 8.2E-03 2.28 0.22 0.10 0.317 <1 Comprimento, L [m]
10.00 421 1.4E-04 8.8E-03 2.36 0.20 0.00 0.209 <1

Processo de cálculo Rácio de utilização

Figura 11 Aplicação da método

6 Conclusões e trabalho futuro


No presente artigo foi apresentado um novo método para a verificação da estabilidade
de elementos estruturais em aço. A verificação é feita através de uma equação de
interação ao longo de várias localizações no seu comprimento. É de simples aplicação,
assentando numa forte base teórica. Deverá ser aplicável a elementos com vários tipos
de secções; condições de fronteira e carregamento; elementos com secção variável; e
com contraventamentos irregularmente espaçados.
O modelo teórico foi apresentado sucintamente e subsequentemente validado através
da comparação com simulações numéricas e com a dedução analítica presente em

177
Marques et al., (2012). Como expectável, foram observadas diferenças na localização
da secção crítica (secção sujeita a tensões mais elevadas). Por outro lado, o valor da
resistência última apresentou resultados muito próximos de ambos os métodos em
comparação – análise numérica GMNIA e método apresentado em Marques et al.,
(2012).
A validação do método foi efetuada para elementos com secção em I linearmente
variável (alma e banzos) e carregamento axial variável. Numa próxima fase da
investigação, o método será aplicado e validado a um maior número de casos distintos
– secções não linearmente variáveis; outros tipos de secções transversais; condições
de fronteira e contraventamentos intermédios. Pretende estender-se o método a
outros tipos de fenómenos, tais como a instabilidade de vigas por flexão-torção, ou a
instabilidade torsional de colunas. Numa fase final, verificar-se-á a aplicabilidade do
método a estruturas porticadas.
7 Agradecimentos

A investigação presente recebeu financiamento das seguintes fontes:


• European Community’s Research Fund for Coal and Steel (RFCS), projecto
SAFEBRICTILE RFS-PR-12103 – SEP no. 601596
• Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), projecto TAPERSTEEL PTDC/ECM-
EST/1970/2012
• Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), bolsa SFRH/BD/99702/2014
• Fundos FEDER, Competitivity Factors Operational Programme - COMPETE e
fundos nacionais FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia, no âmbito do
projeto POCI-01-0145-FEDER-007633.
8 Bibliografia

ABAQUS (2014). v.6.14, Dassault Systems/Simulia, Providence, RI, USA.


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pp. 23-39.

179
recebido: 13/06/2016
aprovado: 24/10/2016 Volume 5. Número 3 (dezembro/2016). p. 180 - 196 ISSN 2238-9377

Revista indexada no Latindex e Diadorim/IBICTo

Ligações aparafusadas entre vigas e pilares de


secção tubular
Guiomar Vicente1*, Rui Simões2, Carlos Rebelo3 e Luís S. Silva4
1*, 2, 3, 4
ISISE, Departamento de Engenharia Civil, Faculdade de Ciências e
Tecnologia da Universidade de Coimbra, Rua Luís Reis Santos – Polo II 3030-788
Coimbra, guiomar.vicente@uc.pt | rads@dec.uc.pt | crebelo@dec.uc.pt |
luisss@dec.uc.pt

Bolted joints to tubular members

Resumo
Detentoras de formas visualmente apelativas e de excelentes propriedades mecânicas, as
secções tubulares apresentam um potencial enorme em aplicações estruturais. Contudo, são
muitas vezes preteridas em consequência das dificuldades encontradas na conceção, cálculo e
execução de ligações, nomeadamente de ligações aparafusadas. A ligação com “reverse
channel” é uma solução aparafusada que viabiliza a união a secções tubulares com recurso a
parafusos convencionais. O desempenho estrutural daquela tipologia de ligação foi avaliado
experimental e numericamente para quatro configurações. Observou-se que a tipologia com
“reverse channel” viabiliza a conceção de ligações de resistência total e de elevada rigidez
rotacional, ao abrigo do sistema de classificação previsto na EN 1993-1-8 (CEN, 2005a), desde
que adotada a configuração que melhor o propicie.
Palavras-chave: Ligações aparafusadas, Secções tubulares, Análise experimental, MEF
Abstract
Visually appealing and with great mechanical properties, the tubular sections have a huge
potential which is currently spoiled due problems with the joints conception, design and
execution, mainly with the bolted joints. The use of a reverse channel enables the use of
conventional bolts in joints with tubular members. The structural behaviour of the reverse
channel joint was experimental and numerically observed within four different configurations.
It was found that, with a proper configuration, the use of a reverse channel can provide full
strength joints and high levels of rotational stiffness, according to the recommendations in the
EN 1993-1-8 (CEN, 2005a) about the classification of joints.
Keywords: Bolted joints, Tubular sections, Experimental analysis; FEM

180
1 Introdução

O potencial intrínseco de elementos tubulares é frequentemente subaproveitado face


às dificuldades identificadas pelos engenheiros de estruturas, na conceção e
dimensionamento de ligações que os envolvam.

Na europa, as recomendações para o dimensionamento de ligações são apresentadas


na norma EN 1993-1-8 (CEN, 2005a). As ligações a elementos tubulares são
sumariamente abordadas no capítulo sétimo da norma referida, onde apenas algumas
configurações soldadas são contempladas. Para essas são apresentadas formulações
empíricas que permitem estimar a resistência; contudo, não é dada qualquer indicação
de como deve ser determinada a rigidez rotacional. Relativamente às soluções
aparafusadas para ligações a elementos tubulares, a norma EN 1993-1-8 (CEN, 2005a)
é omissa.

O CIDECT (Comité Internacional para o Desenvolvimento e Estudo da Construção


Tubular) tem dado um grande contributo no sentido de complementar as lacunas
existentes na norma EN 1993-1-8 (CEN, 2005a) relativamente à conceção e
dimensionamento de ligações envolvendo elementos tubulares. Nas suas publicações
números 3 (PACKER et al., 2009) e 9 (KUROBANE et al., 2004) apresenta algumas
recomendações para o dimensionamento de ligações soldadas e aparafusadas. Porém,
para ligações aparafusadas que se pretendem resistentes à flexão são apresentadas
expressões empíricas e excessivamente conservativas, havendo ligações para as quais
são apenas apresentadas propostas de configuração.

A escassez de informação, de conhecimento e de regulamentação acerca do


comportamento de ligações que envolvam elementos tubulares reflete-se na
impossibilidade de conceber e dimensionar ligações cuja adequabilidade de
desempenho estrutural sejam unanimemente aceites e reconhecidos entre os
engenheiros. A aplicação de reforços em todos os pontos de união de elementos,
dispostos de forma a assegurar a continuidade dos mesmos, constitui uma solução
cujo desempenho estrutural é, empiricamente, aceite entre engenheiros. Porém, é
também uma solução extremamente onerosa que não satisfaz a necessidade de

181
garantir o equilíbrio entre custos e segurança estrutural. Deste modo, deverá apenas
ser considerada em último recurso.

As ligações soldadas entre elementos tubulares são geralmente mais fáceis de


executar, mesmo em algumas situações em que é requerida a aplicação de preparação
de chanfros. No entanto, a execução de soldaduras de boa qualidade só é possível sob
determinado tipo de condições ambientais. Em ambiente fabril, esses requisitos são
facilmente cumpridos contudo, “in situ” obrigam à adoção de medidas extraordinárias
que encarecem significativamente a solução.

“In situ” a solução aparafusada para a união de elementos é geralmente mais


vantajosa. A quantidade de material necessária à sua execução pode frequentemente
ser superior ao requerido para a execução de uma solução soldada estruturalmente
equivalente. Contudo, o facto de não requerer mão-de-obra especializada nem a
adoção de medidas extraordinárias, que assegurem os pré-requisitos de condições
ambientais, permite a adoção de um processo de montagem mais expedito e
consequentemente uma redução significativa dos custos globais da obra.

Com a exceção das ligações que são feitas junto à extremidade, a união a elementos
tubulares com parafusos convencionais é impossibilitada pela falta de acesso ao
interior das secções para colocar e apertar os parafusos. Este problema é
frequentemente contornado com a adoção de pequenos troços auxiliares soldados à
secção tubular (Figura 1, a e b) ou utilizando parafusos não convencionais (Figura 1, c).

a) Com chapa de extremidade b) Com “reverse channel” c) Com “hollow bolts”

Figura 1 - Ligações a secções tubulares

182
No âmbito de um projeto de investigação recentemente concluído no Departamento
de Engenharia Civil da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra,
projeto “FRAMEUP” (VELJKOVIC et al., 2013) (VELJKOVIC et al., 2014), houve
necessidade de desenvolver uma ligação viga-pilar, com ambos os elementos em
secção tubular, que satisfizesse determinados requisitos de resistência, de rigidez
rotacional e que facilitasse a montagem “in situ” da estrutura de um edifício
residencial (Figura 2). A solução adotada foi a ligação com “reverse channel”, cujo
desempenho foi avaliado experimental, numérica e analiticamente. Nas secções
seguintes apresenta-se o trabalho, experimental e numérico, desenvolvido.

a) Montagem do andar mais elevado b) Montagem de um andar intermédio

c) Montagem do piso térreo d) Edifício concluído

Figura 2 – Edifício “FRAMEUP”

183
2 Ligações com “reverse channel”

2.1 Conceito

Esta tipologia de ligação consiste na utilização de um troço auxiliar, o “reverse


channel”, de secção transversal em “C” que é soldado pelas suas extremidades livres
(“legs”) ao elemento de secção tubular. A união ao outro elemento, ao qual deverá
estar soldada uma chapa de extremidade, é feita na alma do “reverse channel” com
parafusos convencionais (Figura 3).

Figura 3 - Elementos da ligação viga-pilar com “reverse channel”

Para a secção transversal do “reverse channel” podem utilizar-se perfis laminados em


“C”, secções reconstruídas por soldadura de chapas ou secções obtidas por corte
longitudinal de secções tubulares de secção quadrada ou retangular.

No estudo aqui apresentado optou-se por um “reverse channel” obtido por corte
longitudinal de elementos tubulares laminados a quente (CEN, 2006).

2.2 Programa experimental

Foram definidos quatro provetes da ligação com “reverse channel” para testar em
laboratório. A geometria dos provetes foi definida com o intuito de respeitar os
requisitos do edifício “FRAMEUP”, ou seja, de assegurar a resistência e rigidez
rotacional necessários para garantir um desempenho adequado da estrutura. A
184
estrutura do edifício “FRAMEUP” é porticada e não pode ter contraventamentos
verticais, obrigando a que as ligações viga-pilar tenham uma rigidez rotacional elevada.
Face a estes requisitos, concebeu-se a configuração esquematizada na Figura 4. Os
pilares e as vigas são perfis tubulares SHS 250x10 e RHS 250x150x8 (CEN, 2006),
respetivamente, e os parafusos são M27 (10.9) (CEN, 2005b). As espessuras
consideradas no “reverse channel”, na chapa de extremidade e no reforço da chapa de
extremidade são apresentadas na Tabela 1, para cada um dos provetes. Na Figura 4,
podem ver-se três “reverse channels” soldados ao pilar. Os dois “reverse channels”
laterais não foram submetidos a qualquer carregamento, tendo sido considerados com
o intuito de avaliar experimentalmente o efeito da sobreposição de soldaduras nos
cantos da secção do pilar.

B B'
A A'
B B'
A 125
250
ts 1/2 SHS 250 x tc 1/2 SHS 250 x tc
45 70 50

105

SHS 250x10 10
250

8
580

250

125

8
1/2 SHS 250 x tc
50 70 45

tc

80
105

tp

15 RHS 250x150x8
75 100 75
80
A' 250 tc

tp

a) Vista frontal b) Vista lateral c) Planta

Figura 4 – Geometria das ligações

Tabela 1 - Provetes das ligações

Espessura do Espessura da
Espessura do
“reverse chapa de
Tipo de reforço
Nome do provete channel” extremidade
ensaio (ts)
(tc) (tp)
[ mm ] [ mm ] [ mm ]
M-BC.1_CHN20_PL20_ST00 Monotónico 20 20 0
M-BC.2_CHN20_PL20_ST20 Monotónico 20 20 20
M-BC.3_CHN16_PL20_ST20 Monotónico 16 20 20
M-BC.4_CHN16_PL15_ST15 Monotónico 16 15 15

185
O esquema de ensaio adotado está representado na Figura 5. Nos pilares foi aplicada
uma carga axial de compressão de 400 kN. A ligação foi submetida a momento fletor
negativo sob ação de um carregamento monotónico aplicado na extremidade livre da
viga. A força na viga foi aplicada em controlo de deslocamento por um atuador de
capacidade 100 tf.
1 Ligação com "reverse channel"

6 2 Pilar SHS 250x10

3 Viga RHS 250x150x8


1000
500 4 Base rígida

10 5 5 Viga de reação HEB 500


240
490

15 9 6 Pórtico de reação
200
18 14
300 7 7 Atuador 100 tf
1250

1 00 Tf

17 8 Sistema de carregamento da viga


16 8
1200

18
575

1 9 Rótula superior de suporte do atuador


4290

2400

250
3 10 Parede de reação em betão armado
1200

2 11 Laje de reação em betão armado


1975

4 12 Sapata
300
180 13 Rótula inferior do pilar
13
420

12
14 Rótula superior do pilar
11
15 Macacos hidráulicos

16 "Dywidags"
400
200 200 17 Contraventamento lateral
800 1000 1000
18 Células de carga

a) Desenho b) Fotografia

Figura 5 – Esquema de ensaio

A força aplicada na viga foi medida, de forma redundante, pela célula de carga
incorporada no atuador e por uma célula de carga intercalada entre a viga e o atuador.
A carga axial no pilar foi medida com quatro células de carga colocadas entre a base
rígida, existente na extremidade superior do pilar, e os macacos hidráulicos. Os
deslocamentos no provete foram medidos com transdutores de deslocamento nos
pontos assinalados no esquema da Figura 6.

186
Det. A AA'

A
75
D18 to D21
D11 / D10

490
4 células D18
de carga 45 D16 / D17 75
200 D22 25
D14 / D15
D19
A' D14 D16

300
200
100 Tf
D23 Det. B
D05

695
100 D20

270
Det. A 1 célula de D15 D17
D11 carga D21
D06

4290

2400
D16

580
D14 D08

270
D17
D15
D07 D10
D12

695
Det. B D09 225
D24 40
D13
540
D08
Legend:
300

200
180 Transdutores de deslocamento
420

Célula de carga

Figura 6 – Localização dos transdutores de deslocamento e das células de carga

2.3 Análise numérica

O comportamento das ligações M_BC 2, M_BC 3 e M_BC4 (Figura 4 e Tabela 1) foi


também avaliado numericamente com o “software” de análise por elementos finitos
“Abaqus 6.11-2”.

A geometria e as condições de fronteira foram definidas de forma a reproduzir os


provetes e o esquema de ensaio adotados nos ensaios laboratoriais. Nos modelos
numéricos, os “reverse channels” laterais não foram considerados.

Os elementos constituintes dos provetes ensaiados foram modelados com recurso a


várias “parts”. A posição relativa das “parts” foi estabelecida de acordo com a
configuração de cada ligação. A interação entre elas e com o exterior foi definida com
as propriedades disponíveis no “software”. A zona intermédia do pilar e o “reverse
channel” foram modelados conjuntamente numa “part”, admitindo que as soldaduras
de penetração total existentes nos provetes garantem a continuidade entre eles. A
união entre a chapa de extremidade e a viga, que no provete é assegurada pela
soldadura, foi modelada como “tie constraint”. A interação dos parafusos com a chapa
de extremidade e com a alma do “reverse channel”, bem como a interação entre a
chapa de extremidade e a alma do “reverse channel”, foi definida atribuindo às
superfícies de contacto entre elas as propriedades seguintes:

− “Tangential behaviour directionality isotropic with a friction coefficient of 0,2”;


187
− “Normal behaviour where pressure-overclosure were considered as “hard”
contact”

O pilar foi considerado rotulado nas duas extremidades. Na extremidade superior o


deslocamento vertical, segundo o eixo do pilar, não foi restringido. Nessa extremidade
foi aplicada uma carga uniformemente distribuída submetendo o pilar a uma
compressão de 400 kN.

Na extremidade livre da viga, foi aplicado um deslocamento de forma a solicitar a


ligação com um momento fletor negativo.

A modelação foi feita integralmente com elementos sólidos tridimensionais. Com


exceção da zona de união entre o “reverse channel” e o pilar onde foram considerados
elementos C3D6 (“6-node linear triangular prism”), todas as restantes partes foram
modeladas com elementos C3D8R (“an 8-node linear brick, reduced integration,
hourglass control”).

Para conseguir um equilíbrio entre o rigor dos resultados e o tempo despendido com o
respetivo cálculo, adotou-se uma malha refinada nos elementos da ligação e na sua
envolvente e uma malha esparsa nas zonas mais distantes (Figura 7). Foram
considerados quatro elementos segundo a espessura nos elementos da ligação e zona
envolvente, e dois elementos nas zonas mais distantes da viga e do pilar (YU et al.,
2008). Nas restantes direções, os elementos da malha foram definidos com 2.5 mm na
viga e 5.5 mm nos restantes elementos da zona envolvente da ligação, e com 50 mm
nas zonas mais distantes (Figura 7).

188
a) Ilustração global b) Detalhe na zona da ligação

Figura 7 – Dimensão da malha considerada nos modelos

As propriedades materiais dos elementos da ligação foram obtidas experimentalmente


através de ensaios de tração (CEN, 2005c) com provetes proporcionais cortados de
peças do mesmo lote dos elementos da ligação. As relações tensão-extensão obtidas
nos ensaios foram convertidas em “true-stress true-strain” e inseridas no “Abaqus”.

No modelo, as propriedades materiais das soldaduras foram consideradas iguais às dos


elementos em que foram modeladas. Deste modo, a soldadura entre a viga e a chapa
de extremidade foi considerada com as propriedades materiais da viga, e a soldadura
entre o “reverse channel” e o pilar foi modelada com as propriedades materiais do
“reverse channel”.

2.4 Resultados

As propriedades estruturais das ligações, nomeadamente o momento resistente, a


rigidez de rotação e a capacidade de rotação, são obtidas a partir da relação entre o
momento fletor e a rotação. As curvas momento rotação (M-φ) resultantes das
ligações ensaiadas foram desenhadas considerando o momento fletor atuante na
secção identificada na Figura 8. A rotação foi medida tendo em consideração as

189
flexibilidades dos painéis de alma do pilar, do “reverse channel”, da chapa de
extremidade, dos parafusos e do segmento de viga entre a chapa de extremidade e os
pontos A-B assinalados na Figura 8. As curvas momento-rotação resultantes estão
representadas na Figura 9. Na mesma figura apresenta-se também uma fotografia de
um provete depois de ensaiado. Na Figura 10 apresentam-se fotografias que ilustram a
forma como ocorreu a rotura da ligação, na zona adjacente da viga.

Superfície considerada
para z
quantificar o momento
fletor atuante
100 X

u
(deslocamento
vertical)

80
100

125

Figura 8 - Identificação das superfícies de referência consideradas para a quantificação


do momento fletor atuante e da rotação da ligação

300

250

200
M [ kN.m]

150

100

50

0
0.00 0.04 0.08 0.12 0.16
ϕ [ rad ]

experimental M_BC.1 experimental M_BC.2

experimental M_BC.3 experimental M_BC.4

a) Curvas momento-rotação b) Fotografia do provete ensaiado

Figura 9 - Resultados dos ensaios

190
a) Detalhe do banzo tracionado da viga b) Detalhe do painel da alma da viga

Figura 10 – Fotografias dos provetes ensaiados

A rigidez rotacional e a resistência correspondentes às ligações ensaiadas são


apresentadas na Tabela 2. Estes valores foram determinados a partir das curvas
momento-rotação (Figura 9). Os valores de rigidez rotacional correspondem aos
declives das retas que melhor se aproximam do troço reto inicial das curvas momento-
rotação. A equação, de cada uma daquelas retas, foi determinada por regressão linear,
assumindo um coeficiente de correlação de 0.98. Os valores de resistência são os
momentos fletores correspondentes do ponto de intersecção da curva momento-
rotação com uma reta de inclinação igual a 1/3 da rigidez inicial (FAELLA; PILUSO;
RIZZANO, 1999).

Tabela 2 - Rigidez rotacional e resistência das ligações ensaiadas

Rigidez rotacional Resistência


Nome do provete Sj, ini Mj, Rd
[ kNm/rad ] [ kNm ]
M-BC.1_CHN20_PL20_ST00 11617.00 174
M-BC.2_CHN20_PL20_ST20 18145.00 237
M-BC.3_CHN16_PL20_ST20 14663.00 214
M-BC.4_CHN16_PL15_ST15 13601.00 193

191
O edifício “FRAMEUP”, ao qual se destinam as ligações ensaiadas, apresenta uma
estrutura porticada sem contraventamentos verticais, cujas vigas têm um
comprimento médio de 5.5 m. Deste modo, segundo as recomendações da norma
EN 1993-1-8 (CEN, 2005a), as ligações ensaiadas devem classificar-se como rígidas se
apresentarem valores de rigidez rotacional superiores a 21955 kNm / rad e como
nominalmente articuladas para valores inferiores a 439 kNm / rad. Quando os valores
de rigidez rotacional estão compreendidos entre aqueles limites, a ligação deve
classificar-se como semi-rígida. Segundo a resistência, as ligações ensaiadas devem
classificar-se como nominalmente articuladas para valores de resistência inferiores a
49 kNm, ou como ligações de resistência total para valores de resistência superiores a
198 kNm. Sob este enquadramento, segundo a rigidez, as ligações ensaiadas
classificam-se de semi-rigídas. Segundo a resistência, os provetes M_BC 2 e M_BC 3
classificam-se como ligações de resistência total e os provetes M_BC 1 e M_BC 4 como
ligações de resistência parcial.

As curvas momento rotação resultantes da análise numérica são apresentadas na


Figura 11 e na Figura 12. A título comparativo, as curvas experimentais são também
apresentadas naquelas figuras. Na Figura 12 é também apresentada uma imagem do
modelo numérico no instante correspondente à aplicação da totalidade do
carregamento considerado. Nela é visível a rotura da viga à semelhança do que foi
observado nos ensaios experimentais.

300 300

250 250

200 200
M [kNm]
M [kNm]

150 150

100 100

50 50

0 0
0.000 0.040 0.080 0.120 0.160 0.000 0.040 0.080 0.120 0.160
φ [rad] φ [rad]

experimental M_BC.2 experimental M_BC.3


numerical M_BC.2 numerical M_BC.3

a) Curvas M-φ da ligação BC2 b) Curvas M-φ da ligação BC3

192
Figura 11 – Resultados da análise numérica (parte I)

300

250

200
M [kNm]

150

100

50

0
0.000 0.040 0.080 0.120 0.160
φ [rad]

experimental M_BC.4
numerical M_BC.3

a) Curvas M-φ da ligação M_BC4 b) Detalhe da rotura da viga

Figura 12 – Resultados da análise numérica (parte II)

De acordo com o ilustrado nas figuras anteriores, as curvas numéricas reproduzem de


forma bastante aproximada o comportamento das ligações ensaiadas. As maiores
diferenças entre os resultados experimentais e numéricos observam-se nas curvas
M-φ da ligação M_BC2. Porém, esta diferença poderá, em parte, ser uma
consequência de um deslocamento acidental observado nos apoios da ligação M_BC2
aquando da realização do ensaio. As curvas numéricas correspondentes às ligações
M_BC3 e M_BC4, em regime elástico sobrepõem as correspondentes experimentais.
Contudo, em regime plástico as curvas numéricas apresentam valores de resistência
ligeiramente superiores aos observados experimentalmente. Nos modelos numéricos,
cujos resultados aqui se apresentam, a fratura observada na viga foi simulada de forma
aproximada. Deste modo, na curva “true stress”-“true strain” das propriedades do
material da viga, foi considerado um ponto auxiliar após o ponto correspondente à
estricção, com o qual se simulou o efeito da redução de secção sobre a capacidade
resistente do material.

193
Os mapas de tensões (von Mises) observados nos modelos numéricos no instante de
carga máxima são apresentados nas figuras seguintes (Figura 13, Figura 14 e Figura
15).

Figura 13 - Mapa de tensões da ligação M_BC 2

Figura 14 - Mapa de tensões da ligação M_BC 3

Figura 15 - Mapa de tensões da ligação M_BC 4


194
À semelhança do que foi observado nos ensaios, em que a viga foi o primeiro
componente da ligação a atingir a rotura, as imagens anteriores mostram que as
tensões mais elevadas se concentram, em primeira instância, na viga, seguindo-se-lhe
a alma do “reverse channel”.

3 Conclusões
O estudo realizado permite concluir que:

Os parâmetros geométricos que mais influenciam a rigidez rotacional da ligação em


análise são as espessuras do “reverse channel” e da chapa de extremidade;

A resistência das ligações é influenciada pelas espessuras do “reverse channel” e da


chapa de extremidade, revelando-se mais baixa para espessuras menores. Contudo,
em todas as análises efetuadas, a viga demostrou ser a componente que precipitou a
rotura da ligação, pelo que a influência da variação de espessuras sobre a resistência
da ligação não se revelou conclusiva;

De acordo com os parâmetros definidos na EN 1993-1-8 (CEN, 2005a) para a


classificação de juntas, verifica-se que é possível conceber ligações com “reverse
channel” semi-rígidas e de resistência total;

É possível prever o comportamento de ligações com “reverse channel”, com um bom


nível de confiança, através de modelos numéricos;

As configurações com “reverse channel” permitem obter ligações com grande


capacidade de rotação;

A conceção de ligações rígidas com “reverse channel” implica a adoção de reforços


adicionais, o que se traduz no aumento significativo dos custos da ligação.

Na sequência deste trabalho, está a ser desenvolvida uma nova configuração de


ligação a elementos tubulares. Essa configuração surge com o intuito de otimizar a

195
solução com “reverse channel” para as situações em que se pretende uma ligação com
elevados valores de rigidez rotacional.

4 Agradecimentos

Os autores agradecem o financiamento do Fundo de Investigação do Carvão e do Aço


através do projeto de investigação FRAMEUP (RFSR-CT-2011-00035).

5 Referências bibliográficas

CEN. EN 1993-1-8 : Eurocode 3 - Design of steel structures - Part 1-8: Design of joints
(European committee for standardization, Ed.), Brussels, 2005a.

CEN. EN 14399-4 : High-strength structural bolting assemblies for preloading - Part 4 : System
HV - Hexagon bolt and nut assemblies (European committee for standardization, Ed.),
Brussels, 2005b.

CEN. NP EN 10002-1 - Materiais metálicos Ensaios de tracção Parte 1: Método de ensaios à


temperatura ambiente, Brussels, 2005c.

CEN. EN 10210-1 : Hot finished structural hollow sections of non-alloy and fine grain steels -
Part 1: Technical delivery conditions, Brussels: European committee for standardization, 2006.

FAELLA, C.; PILUSO, V.; RIZZANO, G. Structural steel semirigid connections - Theory, design
and software, 1999.

KUROBANE, Y. et al. Design Guide 9 For structural hollow section column connections
(CIDECT, Ed.)Verlag TÜV Rheinland, 2004.

PACKER, J. A. et al. Design Guide 3 For rectangular hollow section (RHS) joints under
predominantely static loading (Comité International pour le Développement et l’Étude de la
Construction Tubulaire, Ed.), 2009.

VELJKOVIC, M. et al. FRAMEUP – Optimization of frames for effective assembling, Midterm


Report, 2013.

VELJKOVIC, M. et al. FRAMEUP – Optimization of frames for effective assembling, Final


Report, 2014.

YU, H. et al. Numerical simulation of bolted steel connections in fire using explicit dynamic
analysis. v. 64, p. 515–525, 2008.

196
recebido: 13/06/2016
aprovado: 24/10/2016
Volume 5. Número 3 (dezembro/2016). p. 197 - 214 ISSN 2238-9377

Revista indexada no Latindex e Diadorim/IBICTo

Um elemento finito geometricamente exato para


colunas mistas aço-concreto
David Manta1 e Rodrigo Gonçalves2*
1
DEC/FCT/Universidade NOVA de Lisboa, 2829-516 Caparica, Portugal,
d.manta@campus.fct.unl.pt
2
CERIS e DEC/FCT/Universidade NOVA de Lisboa, 2829-516 Caparica, Portugal,
rodrigo.goncalves@fct.unl.pt

A geometrically exact finite element for steel-concrete composite


columns

Resumo
Neste artigo apresenta-se um elemento finito de barra 2D não-linear para colunas mistas aço-
concreto, desenvolvido segundo o conceito “geometricamente exato” (e.g., Simo e Vu-Quoc,
1985). A descrição cinemática é do tipo Euler-Bernoulli, o que torna o elemento
particularmente eficiente do ponto de vista computacional, uma vez que (i) a retenção de
corte (shear locking) é eliminada a priori e (ii) apenas são utilizadas leis constitutivas uniaxiais.
Apresentam-se vários exemplos mostrando que, com poucos elementos finitos, é possível
obter, com grande precisão, trajetórias de equilíbrio pré- e pós-colapso de colunas de aço,
concreto e mistas.
Palavras-chave: colunas mistas aço-concreto, elementos finitos de barra, formulação
geometricamente exata, encurvadura, Eurocódigo 4

Abstract
In this paper, a 2D non-linear beam finite element for steel-concrete composite columns is
presented, which is developed in accordance with the “geometrically exact” concept (e.g.,
Simo and Vu-Quoc, 1988). Euler-Bernoulli kinematics are employed, making the element
particularly efficient from a computational point of view, since (i) shear locking is eliminated a
priori and (ii) only uniaxial constitutive laws are employed. Several examples are presented,
showing that, with a few elements, it is possible to obtain pre- and post-collapse equilibrium
paths of steel, concrete and composite columns with great accuracy.

Keywords: steel-concrete composite columns, beam finite elements, geometrically exact


formulation, buckling, Eurocode 4.

*autor correspondente 197


1 Introdução

Muito embora o Eurocódigo 4 (CEN, 2004) permita que a verificação da segurança de


colunas mistas aço-concreto seja efetuada com base em análises geometricamente e
fisicamente não-lineares (o “Método Geral”, ou simplesmente “MG”), esta via não é
adotada frequentemente, por requerer (i) a utilização de programas de elementos
finitos sofisticados, que contabilizem todos os efeitos não-lineares relevantes, e (ii) o
domínio de conceitos teóricos avançados. No entanto, conforme salientado por Roik e
Bergmann (1992), o MG conduz, em geral, a um dimensionamento mais económico,
dado que os métodos simplificados incorporam hipóteses que os colocam do lado da
segurança, por vezes significativamente. Apesar deste argumento, existem muito
poucos estudos relativos à aplicação do MG. Hanswille e Bergmann (2006) abordaram
as implicações decorrentes da utilização de leis constitutivas com valores médios
(conforme prescrito pelo MG) e propuseram uma abordagem alternativa, baseada
num fator de segurança obtido a partir da relação entre a resistência da secção
calculada usando valores de cálculo e valores médios. Esta variante do MG foi utilizada
subsequentemente por Lippes e Hanswille (2011) para analisar colunas de alta
resistência constituídas por um tubo de aço preenchido com concreto e um núcleo
adicional de aço. Neste caso foram utilizados modelos de elementos finitos do tipo
sólido 3D, os quais exigem um esforço computacional significativo.

O presente artigo pretende contribuir para uma maior utilização do MG do Eurocódigo


4 (EC4). Para isso, propõe-se um elemento finito de barra 2D, relativamente simples de
implementar e computacionalmente muito eficiente, que permite incorporar os
efeitos não-lineares mais relevantes. O elemento é dito “geometricamente exato”, na
medida em que a formulação subjacente é válida independentemente da magnitude
dos deslocamentos envolvidos (Simo e Vu-Quoc, 1988). Em acréscimo, a descrição
cinemática incorpora a hipótese de Bernoulli de uma forma exata, o que torna possível
(i) eliminar a priori o efeito de retenção de corte (shear locking) e (ii) utilizar leis
constitutivas (não-lineares) puramente uniaxiais. Neste artigo, apresenta-se um
resumo dos principais resultados obtidos num trabalho anterior (Gonçalves e Carvalho,
2014), aplica-se a formulação para o caso de barras de eixo curvo, apresentam-se as
expressões relativas à ação de momentos e introduz-se um método de controle de

198
dependência da malha, o que é essencial para modelar corretamente o
comportamento de elementos à flexão contendo concreto. No decurso do artigo,
apresentam-se vários exemplos numéricos que ilustram as potencialidades do
elemento finito proposto. Para efeitos de comparação e validação, apresentam-se
resultados de referência da literatura e resultados obtidos com modelos de elementos
finitos do tipo 2D solid e 3D Brick, recorrendo aos programas ADINA (Bathe, 2016) e
ATENA (Cervenka et al., 2013), respetivamente.

2 Descrição do elemento finito

O elemento finito de barra proposto utiliza uma descrição cinemática 2D do tipo Euler-
Bernoulli, em que a única incógnita é o vetor de posição do seu eixo, r (ver Figura 1).
Assume-se que a barra é esbelta, com dimensões da secção transversal muito
inferiores ao comprimento da barra e ao raio de curvatura do eixo. Trata-se de uma
versão melhorada do elemento descrito por Gonçalves e Carvalho (2014), pelo que
partilha algumas semelhanças com a versão 2D do elemento de Boyer e Primault
(2004), mas considera em acréscimo (i) configurações iniciais curvas e (ii) leis
constitutivas não-lineares com um método para evitar dependência da malha.

Utiliza-se um referencial Cartesiano (X1, X2, X3) e os respetivos vetores de base (E1, E2,
E3), conforme mostra a Figura 1. Definem-se duas configurações para a barra: (i) a
configuração inicial, indeformada e representada com o índice “0”, e (ii) a
configuração atual, deformada. Em ambas as configurações, o eixo da barra é descrito
pelo respetivo vetor de posição (r ou r0), contido no plano X2 = 0. O referencial que
acompanha a secção transversal é dado por (n, E2, t) ou (n0, E2, t0), com

r′ r0′
t= , t0 = ,
|| r ′ || || r0′ || (1)
n = E2 × t , n0 = E 2 × t 0 ,
onde g' = dg/dX3, ||a|| é a norma do vetor a, × designa um produto externo entre dois
vetores, o vetor t indica a tangente ao eixo e n define a interseção do plano do eixo
com a secção transversal (definida por E2 e n ou n0). Note-se que se tem para os
produtos internos t ⋅ n = t0 ⋅ n0 = 0, de acordo com a hipótese de Bernoulli.

A configuração atual da barra é definida por

199
x = r + Λ( X 1E1 + X 2 E2 ),
(2)
Λ = n ⊗ E1 + E2 ⊗ E2 + t ⊗ E3 ,

Figura 1 – Descrição cinemática do eixo da barra, discretização da secção transversal e


leis constitutivas para o concreto e o aço.

onde ⊗ designa o produto tensorial habitual entre dois vetores e Λ é a matriz de


rotação que define a orientação da secção transversal, transformando (E1, E2, E3) em
(n, E2, t), o que quer dizer que se considera uma configuração de referência da barra
com o eixo coincidente com X3 (logo X1 e X2 definem a secção transversal). Para a
configuração inicial as relações são análogas, embora escritas em termos de r0, t0 e n0.

Utiliza-se o tensor de deformação introduzido por Simo (1985), que corresponde a


uma retro-rotação, por ΛT, do gradiente de deformação. Em virtude da descrição
cinemática adotada, este tensor apenas contém um termo não-nulo, o qual está
associado à deformação longitudinal e é dado por (Gonçalves e Carvalho, 2014)

ε = ε − ε 0 − X 1 (κ − κ 0 ),
ε =|| r ′ || − 1, ε 0 =|| r0′ || −1, (3)
κ = n ⋅ t ′, κ 0 = n0 ⋅ t 0′ ,

200
onde ε e κ representam a extensão e a curvatura do eixo da barra, respetivamente.
Deve salientar-se que se assume que a deformação em ambas as configurações é
pequena (embora as rotações e deslocamentos sejam ilimitados), caso contrário
existirão diferenças significativas em relação à deformação de Green-Lagrange.

As equações de equilíbrio são obtidas recorrendo ao princípio dos trabalhos virtuais.


Para o caso elástico, a tensão relaciona-se com a deformação através de σ = Eε, onde
E é o módulo de elasticidade do material. Admitindo que os eixos X1 e X2 são centrais
principais e que a barra é reta, a integração na secção transversal da parcela das forças
interiores fornece as expressões clássicas da teoria das peças lineares

T
δε   EA 0  ε 
δWint = − ∫    dX , (4)
L
δκ   0 EI  κ  3
onde L é o comprimento da barra, A é a área da secção transversal e I é a sua inércia
em relação ao eixo X2.

O elemento finito é obtido aproximando, por polinómios cúbicos de Hermite, o campo


de deslocamentos do eixo da barra entre as configurações de referência e atual (r −
X3E3) e de referência e inicial (r0 − X3E3). Assim, para efeitos de implementação, é
conveniente escrever as equações em termos das variações de r. Começando pelo
trabalho virtual das forças interiores, tem-se

T
δr ′ 
δWint = − ∫   Ξ Dε σ dV , (5)
V 
δr ′′
 X 1 ( I − 2t ⊗ t )( E 2 × r ′′) 
t+
Ξ Dε =  || r ′ || 2 , (6)
 
 − X 1n / || r ′ || 
onde I é a matriz identidade, σ é a tensão normal longitudinal conjugada de ε, V é o
volume da barra e ΞDε é uma matriz auxiliar.

Admitindo que apenas atuam forças F e momentos ME2 no eixo da barra, o trabalho
virtual das forças exteriores é dado por

E2 × t
δWext = F ⋅ δr + ME 2 ⋅ (t × δt ) = F ⋅ δr + Mδr ′ ⋅ . (7)
|| r ′ ||
Para efeitos de implementação, é ainda conveniente obter a linearização incremental-
iterativa (∆) das expressões anteriores. Para a parcela das forças interiores tem-se

201
T
 δr ′   ∆r ′ 
( )
∆δWint = − ∫   Ξ D 2ε σ + Et Ξ Dε Ξ DT ε   dV ,
δr ′′
(8)
V  ∆r ′′
I − t ⊗t ~ ~ ~
 E 2 r ′′ ⊗ t + t ⊗ E 2 r ′′ κ (4t ⊗ t − I )  X 1 ( I − 2t ⊗ t ) E 2 
− 2 X 1  
Ξ D 2ε =  || r ′ || , (9)
+ 
  || r ′ || 3 || r ′ || 2  || r ′ || 2 
 Sim. 0 

onde Et é o módulo tangente para a relação constitutiva utilizada e a~ designa a matriz


antissimétrica associada ao vetor a. Quanto à parcela das forças exteriores, a respetiva
linearização é dada por
~
E 2 ( I − 2t ⊗ t )
∆δWext = Mδr ′ ⋅ ∆r ′. (10)
|| r ′ || 2

A aproximação é da forma r = Ψ(X3)( d 0 + dˆ ) + X3E3, onde a matriz Ψ(X3) contém as

funções de aproximação e os vetores d 0 , dˆ correspondem aos seus valores nodais para

a configuração inicial e para a diferença entre configurações, respetivamente. Assim,

tem-se δr' = Ψ' δ dˆ e δr'' = Ψ'' δ dˆ e expressões análogas para as variações ∆.


Substituindo nas expressões anteriores, obtém-se (i) a matriz de rigidez tangente
elementar a partir de (8) e (10), (ii) o vetor das forças interiores com (5) e (iii) o vetor
das forças exteriores com (7). Recorre-se a integração numérica, com três pontos de
Gauss ao longo do eixo da barra para mitigar os efeitos de retenção de membrana
(membrane locking). Na secção transversal, a integração é efetuada dividindo-a em
“fatias”, conforme mostra a Figura 1, utilizando um único ponto de integração em cada
uma delas. Para obter as trajetórias de equilíbrio, recorre-se ao método de Newton-
Raphson com controle de carga/deslocamento.

As leis constitutivas adotadas encontram-se representadas na Figura 1. Para o aço,


considera-se uma lei do tipo elástico-perfeitamente plástico. Para o concreto, adota-se
uma lei sem resistência à tração e com comportamento não-linear à compressão,
admitindo que as descargas são elásticas. Uma vez que se considera que a tensão
decresce (em módulo e segundo uma reta) após o valor de pico (fc), para diminuir os
efeitos de dependência da malha (ver, por exemplo, Jirasek e Bazant, 2002), ajusta-se
a extensão final εf através de

fc d
ε f = ε c1 − + , (11)
Ec L

202
onde L é o comprimento do elemento finito, o parâmetro d necessita ser calibrado e
os restantes parâmetros são indicados na figura.

3 Aplicações

3.1 Grandes deslocamentos

Em primeiro lugar, ilustram-se as potencialidades do elemento finito no campo dos


grandes deslocamentos e barras curvas, em regime elástico. Na Figura 2 mostram-se as
configurações deformadas de uma consola sujeita à ação de um momento
concentrado, aplicado na sua extremidade livre, considerando discretizações com 2, 4,
10 e 20 elementos de igual comprimento. Note-se que, para uma deformada
formando n circunferências completas, a solução exata da teoria de Euler-Bernoulli
(que coincide com a presente formulação, recordar (4)) é dada por M = 2nπEI/L.

Os resultados mostram que a consideração de um número crescente de elementos


permite obter configurações cada vez mais precisas e que, com apenas dois
elementos, é possível aproximar razoavelmente a configuração deformada
correspondente à primeira circunferência completa (n = 1). Não se observam efeitos
de retenção de membrana, em virtude do esquema de integração reduzida adotado.

Figura 2 – Consola sujeita a um momento aplicado na extremidade livre.

203
Considera-se agora o exemplo introduzido por DaDeppo e Schmidt (1975), o qual é
utilizado frequentemente no contexto de validação de elementos finitos de barra
curvos. A geometria e carregamento do problema, bem como os resultados obtidos,
são fornecidos na Figura 3.

Figura 3 – Arco com 215º.

204
O gráfico da Figura 3 mostra as trajetórias de equilíbrio (evolução do deslocamento
vertical e horizontal do ponto de aplicação da carga) obtidas com o elemento proposto
(discretizações com 20 e 30 elementos) e as obtidas por Gerstmayr e Irschik (2008)
com 256 elementos de barra. Observa-se uma excelente concordância, em particular
quando se usam 30 elementos. A figura mostra também as configurações deformadas
obtidas com a formulação proposta, permitindo constatar a sua elevada complexidade
e a magnitude dos deslocamentos envolvidos.

3.2 Colapso de colunas e vigas

Consideram-se agora alguns exemplos relativos à determinação de trajetórias de


equilíbrio de barras com materiais não-lineares.

A Figura 4 mostra as curvas carga-deslocamento relativas a cinco exemplos analisados


por Gonçalves e Carvalho (2014), sendo três deles utilizados por vários autores para
efeitos de validação de elementos finitos. Todos os parâmetros relevantes são
fornecidos na figura. No caso do concreto, utilizaram-se as leis materiais uniaxiais
fornecidas na bibliografia, sem alterar o troço pós-pico.

O primeiro exemplo (Figura 4a) é retirado de Gonçalves e Camotim (2012) e diz


respeito a uma coluna de aço simplesmente apoiada com uma imperfeição inicial de
10 mm a meio-vão, na forma do modo crítico de instabilidade. Com o elemento finito
proposto, as análises são efetuadas com 1 e 4 elementos e discretizando a secção em
10 fatias. Para efeitos de comparação, mostram-se também resultados obtidos com
elementos solid 2D de 9 nós em estado plano de tensão, sendo os cálculos realizados
com o programa ADINA. Obtêm-se resultados excelentes com apenas um elemento
finito, tanto para o caso elástico como elastoplástico. No entanto, com quatro
elementos, é possível reproduzir o ramo descendente da curva elastoplástica com
bastante precisão e observa-se uma ligeira melhoria dos resultados elásticos para um
valor da carga próximo de 200 kN.

Os resultados da Figura 4b dizem respeito a uma coluna de concreto armado ensaiada


por Espion (1993) e analisada por Bratina et al. (2004) com 2 elementos finitos de
barra. Com o elemento proposto, a secção transversal foi discretizada em 12 fatias e

205
observa-se que os resultados são muito satisfatórios, mesmo utilizando um único
elemento finito.

Figura 4 – Colapso de colunas de aço, concreto e mistas aço-concreto

206
A Figura 4c refere-se a uma das colunas mistas ensaiadas por Bridge (1976) e analisada
por Pi et al. (2006), usando quatro elementos finitos de barra. Com o elemento
proposto, discretizou-se a secção em 10 fatias (incluindo o tubo de aço) e modelou-se
apenas metade da coluna, devido à simetria do problema. Os resultados obtidos estão
em excelente acordo com os fornecidos na bibliografia, mesmo quando apenas se
utiliza um único elemento finito.

No gráfico da Figura 4d apresentam-se resultados relativos a uma coluna mista de alta


resistência ensaiada por O’Brien e Rangan (1993) e também analisada por Pi et al.
(2006) com quatro elementos de barra. A tensão de cedência do aço utilizada por
estes últimos autores é ligeiramente superior à fornecida no artigo de O’Brien e
Rangan, sendo esta a razão de se terem efetuado análises com dois valores distintos,
com o elemento finito proposto. Como a secção é circular, utilizou-se uma
discretização em malha axissimétrica, com 7 subdivisões na direção radial (6 para o
concreto e 1 para o aço) e 10 subdivisões na direção angular para metade da secção
(utilizou-se uma simplificação de simetria na secção). Para além disso, analisou-se
apenas metade da coluna em virtude da simetria. Os resultados com apenas um
elemento estão mais uma vez em excelente concordância com os demais resultados.

Por fim, o gráfico da Figura 4e mostra os resultados obtidos para quatro colunas mistas
com a mesma secção transversal (constituída por um perfil HEA200 parcialmente
envolvido por concreto), mas diferentes comprimentos — os valores da respetiva
esbelteza, calculados de acordo com o EC4, são indicados para cada curva. Para o
concreto utilizou-se a lei constitutiva do Eurocódigo 2 (CEN, 2004) com os valores dos
parâmetros indicados na figura. As colunas apresentam uma imperfeição inicial
sinusoidal de amplitude igual a L/200 e apenas se modela metade do comprimento,
em virtude da simetria do problema. O gráfico compara os resultados obtidos com (i)
modelos refinados de elementos solid 2D de 9 nós em estado plano de tensão (ADINA,
ver figura) e (ii) modelos com 4 elementos de barra propostos, discretizando a secção
com uma fatia para cada banzo e 8 fatias para o concreto e a alma do perfil. Observa-
se que existe uma excelente concordância em todos os casos.

207
Figura 5 – Coluna mista sujeita à flexão

Considere-se agora a coluna mista da Figura 5, a qual se encontra sujeita à flexão


simples por ação de uma força vertical, aplicada na secção de meio-vão. Este caso é
relativamente exigente do ponto de vista computacional, devido à ocorrência de
fendilhação generalizada e de esmagamento localizado no concreto (para além de
plastificação no aço). De facto, neste caso não foi possível obter resultados
satisfatórios com modelos de elementos solid 2D, por perda de convergência para
níveis muito reduzidos de carga, pelo que foi necessário recorrer a modelos
tridimensionais com elementos do tipo brick, utilizando o programa ATENA. Os
parâmetros geométricos e materiais são fornecidos na figura (foi utilizada a lei do
Eurocódigo 2 para o concreto à compressão). Em virtude da simetria, os modelos com
o elemento de barra proposto apenas consideram metade da peça. No caso dos
modelos de elementos brick, somente um quarto da barra foi modelada e foram
considerados dois níveis de discretização (ver figura). Os gráficos da Figura 5 mostram
as curvas carga-deslocamento obtidas com os vários modelos e níveis de discretização.

No caso dos elementos propostos, o gráfico da esquerda mostra os resultados obtidos


sem ajustamento de εf e o gráfico da direita mostra os resultados para os mesmos

níveis de discretização, mas com correção de εf, considerando neste caso d = 0,2 m. O

208
gráfico da esquerda permite constatar que existe uma clara dependência da malha, a
qual é significativamente reduzida no gráfico da direita.

Estes gráficos mostram ainda que existe uma excelente concordância entre os
resultados obtidos com o elemento proposto e os elementos brick, apesar de estes
últimos envolverem um número muito maior de graus de liberdade e esforço
computacional. Finalmente, refere-se que se observa que o refinamento do modelo
brick não conduz a resultados significativamente diferentes.

3.3 Estudo paramétrico

O elemento finito de barra proposto foi utilizado por Gonçalves e Carvalho (2014) para
realizar um estudo paramétrico relativo à utilização do MG do EC4 em colunas
formadas por um perfil de aço em I ou H, parcialmente/totalmente envolvido por
concreto. Nesta secção apresentam-se os principais resultados desse estudo, que
envolveu seis perfis de aço (IPE 200/600, HEA 200/600 e HEM 200/600) e todas as
combinações de S235, S460, C25/30 e C45/55. Para reduzir o número de parâmetros,
não foi considerada armadura e, para as secções totalmente envolvidas, foi adotado o
valor máximo de recobrimento permitido pelo EC4: 0,3h na direção da alma, onde h é
a altura do perfil, e 0,4b na direção perpendicular, sendo b a largura dos banzos do
perfil. Todas as secções satisfazem os requisitos para dispensar a consideração dos
efeitos da encurvadura local, de acordo com o EC4.

Em primeiro lugar foi analisado o valor das imperfeições geométricas iniciais a


considerar na análise. De acordo com o EC4, estas imperfeições devem ser iguais a
L/200 para a flexão em torno do eixo forte (y) e L/150 para o eixo fraco (z). Pode
mostrar-se que, pelo método simplificado do EC4, o qual utiliza uma amplificação de
esforços simplificada, o valor da imperfeição geométrica que fornece uma resistência à
compressão idêntica à das curvas de encurvadura é dado por

α M M pl , N , Rd  χN pl, Rd 
e0 = 1 − , (12)
χN pl, Rd  Ncr, II 

onde αM = 0,9 (S235 a S355) ou 0.8 (S420 e S460), χ é o fator de redução, obtido da
curva de encurvadura apropriada, Mpl,N,Rd é o momento resistente para um nível de
esforço axial igual a χNpl,Rd (onde Npl,Rd é a resistência plástica da secção à compressão)

209
e Ncr,II é o esforço axial crítico, calculado com uma rigidez de flexão reduzida. Deve
salientar-se que a expressão (12) é válida para colunas simplesmente apoiadas, sendo
necessário proceder a alterações para outros casos (ver Gonçalves e Camotim, 2005).
Conforme demonstrado por Gonçalves e Carvalho (2014), a imperfeição dada por (12)
é por vezes significativamente inferior à prescrita pelo EC4, o que quer dizer que estas
últimas podem conduzir a um dimensionamento demasiado conservativo (em relação
à resistência obtida pelas curvas de encurvadura do EC4). Em particular, foram
observadas reduções da resistência superiores a 30%.

O estudo paramétrico efetuado comparou, para as colunas selecionadas, os valores da


resistência obtidos com (i) as curvas de encurvadura do EC4 e (ii) o elemento finito
proposto, usando valores médios ou de cálculo na lei constitutiva do concreto e as
imperfeições geométricas dadas pelo EC4 ou a expressão (12). As análises com o
elemento finito proposto foram efetuadas discretizando apenas metade das colunas
(simplificação de simetria) com quatro elementos. As secções transversais foram
divididas em 8/12 fatias para os casos parcialmente/totalmente envolvidos por
concreto, respetivamente.

Na Figura 6 apresentam-se apenas os casos que corresponderam às maiores e


menores diferenças em relação à resistência fornecida pelas curvas de encurvadura.
Para as secções parcialmente envolvidas, observa-se que a utilização de uma lei
constitutiva do concreto baseada em valores médios (conforme preconizado no EC4)
conduz a resistências superiores às das curvas de encurvadura, particularmente para
esbeltezas reduzidas, mesmo no caso de se utilizar a imperfeição do EC4 (que é
superior à dada pela expressão (12)). Quando se utilizam valores de cálculo, a maioria
dos resultados localiza-se abaixo da curva de encurvadura, embora significativamente
abaixo no caso da encurvadura ocorrer com flexão em torno do eixo fraco. No entanto,
é de salientar que se observa que os resultados ficam mais perto da curva ao utilizar
valores de cálculo e, simultaneamente, a imperfeição (12), muito embora em alguns
casos os valores da resistência se localizarem acima da respetiva curva de
encurvadura.

210
Figura 6 – Resultados do estudo paramétrico relativo a colunas mistas

211
As conclusões para colunas totalmente betonadas são bastante semelhantes, muito
embora se registe uma maior dispersão de valores. A utilização de valores médios na
lei constitutiva tende a sobrestimar a resistência da coluna, por vezes
significativamente, e os resultados localizam-se mais perto da curva de encurvadura do
EC4 no caso de se utilizarem valores de cálculo na lei constitutiva e, simultaneamente,
a imperfeição dada pela expressão (12).

4 Conclusões

Neste trabalho apresentou-se um elemento finito de barra 2D, geometricamente


exato, capaz de modelar, com grande precisão e eficiência, o comportamento
geometricamente e fisicamente não-linear de barras curvas esbeltas. O elemento é
particularmente atrativo por apenas utilizar leis constitutivas uniaxiais. Apresentaram-
se vários exemplos que demonstram as potencialidades do elemento, nomeadamente
na área da modelação não-linear de colunas mistas aço-concreto. Mostrou-se ainda
que o elemento é capaz de modelar, com grande precisão, o comportamento de
barras curvas.

Apresentaram-se ainda os principais resultados de um estudo paramétrico, em que o


elemento proposto foi utilizado para avaliar a influência de vários parâmetros na
resistência à encurvadura de colunas mistas constituídas por um perfil de aço em I ou
H parcialmente/totalmente envolvido por concreto. Concluiu-se que, se a lei
constitutiva para o concreto for escrita em termos de valores de cálculo e,
simultaneamente, for utilizada a imperfeição dada pela expressão (12), a resistência
obtida está mais próxima da fornecida pelas curvas de encurvadura do EC4. Muito
embora seja necessário efetuar mais estudos antes que seja possível recomendar esta
abordagem, é importante notar que, para os casos analisados, a utilização de valores
médios na lei constitutiva do concreto, mesmo em conjunto com a imperfeição do EC4
(mais conservativa), conduz a valores da resistência superiores aos das curvas de
encurvadura. É ainda importante salientar que a execução do estudo paramétrico foi
muito facilitada pela rapidez e eficiência do elemento finito proposto.

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