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CONTRATOS CIVIS E COMERCIAIS

LINHA DE SEBENTAS
Contratos Civis e Comerciais

Índice
Contratos de Organização ou Cooperação Empresarial ............................................................... 6
Associação em Participação (DL 231/81) .................................................................................. 6
Elementos.............................................................................................................................. 6
Forma .................................................................................................................................... 7
Participação nos lucros e nas perdas .................................................................................... 7
Deveres do Associante .......................................................................................................... 7
Extinção da Associação em Participação............................................................................... 7
Consórcio (DL 231/81)............................................................................................................... 8
Elementos.............................................................................................................................. 8
Forma .................................................................................................................................... 9
Modalidades de Consórcio .................................................................................................... 9
Repartição de valores e produtos ....................................................................................... 10
Agrupamento Complementar de Empresas (Lei 4/73 e DL 430/73) ....................................... 10
Elementos............................................................................................................................ 10
Forma e registo ................................................................................................................... 11
Firma.................................................................................................................................... 11
Órgãos ................................................................................................................................. 11
Responsabilidade do ACE e dos seus membros .................................................................. 11
Transmissão da participação no ACE .................................................................................. 12
Contratos de Financiamento Empresarial ................................................................................... 12
Abertura de Crédito ................................................................................................................ 12
Função Socioeconómica ...................................................................................................... 13
Elementos............................................................................................................................ 13
Modalidades ........................................................................................................................ 14
Distinção do Mútuo ............................................................................................................. 14
Forma .................................................................................................................................. 15
Cessação .............................................................................................................................. 15
Contrato de Suprimento ......................................................................................................... 15
Características ..................................................................................................................... 15
Regime................................................................................................................................. 15
Beneficiários ........................................................................................................................ 15
Objeto.................................................................................................................................. 16
A permanência dos créditos na sociedade.......................................................................... 16
A permanência .................................................................................................................... 17
Modalidades ........................................................................................................................ 17
Regime................................................................................................................................. 17
Regime do contrato de suprimento na falência.................................................................. 18

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Contratos Civis e Comerciais

Aspetos relevantes .............................................................................................................. 18


Locação Financeira (DL 149/95) .............................................................................................. 18
Características ..................................................................................................................... 18
Locador ................................................................................................................................ 19
Vendedor/Fornecedor......................................................................................................... 19
Distinção de figuras afins do Leasing .................................................................................. 19
Forma .................................................................................................................................. 20
Fim do contrato ................................................................................................................... 20
Obrigações do locador ........................................................................................................ 21
Obrigações do locatário ...................................................................................................... 21
Aspetos do Regime .............................................................................................................. 21
Cessão Financeira / Factoring (DL 171/95) ............................................................................. 23
Quais as vantagens para o aderente? ................................................................................. 23
Antecipação de Fundos ....................................................................................................... 23
Vantagens do recurso ao factoring para a empresa aderente ........................................... 24
Modalidades ........................................................................................................................ 24
Vantagens na prestação de serviços ................................................................................... 24
Desvantagens ...................................................................................................................... 24
Factoring Confidencial......................................................................................................... 25
Características do contrato ................................................................................................. 25
Crédito Documentário............................................................................................................. 25
Risco para o Vendedor ........................................................................................................ 26
Risco para o Comprador ...................................................................................................... 26
Carta de Embarque ............................................................................................................. 26
Abertura de Linha de Crédito .............................................................................................. 26
Relação-base / Subjacente - Comprador / Vendedor ......................................................... 26
Relação entre Ordenador e Emitente - Comprador / Banco............................................... 27
Pagamento .......................................................................................................................... 28
Stand-By Letter .................................................................................................................... 28
Regra «Solve et Repete» ..................................................................................................... 29
Regras Uniformes (2007)..................................................................................................... 29
Realização do Crédito Documentário.................................................................................. 29
Contratos de Garantia ao Crédito Empresarial ........................................................................... 30
Garantia Autónoma ................................................................................................................. 30
Garantias Especiais .............................................................................................................. 30
Fiança ...................................................................................................................................... 30
Acessoriedade ..................................................................................................................... 30
Garantia Autónoma à 1º solicitação ....................................................................................... 31

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Contratos Civis e Comerciais

Performance Band............................................................................................................... 32
Modalidades de Solicitação de Pagamento ........................................................................ 32
A Compra e Venda....................................................................................................................... 32
Compra e venda de bens defeituosos e bens de consumo (DL 67/2003, DL 84/2008 e Diretiva
1999/44) .................................................................................................................................. 32
Objeto.................................................................................................................................. 33
Obrigações do Vendedor (artigo 2º, nº1) ........................................................................... 33
Protecção do Consumidor ................................................................................................... 33
Contratos de Distribuição Comercial ...................................................................................... 34
Modalidades da Distribuição Comercial ............................................................................. 34
Agência (DL 178786) ............................................................................................................... 35
Atuação por conta do principal: .......................................................................................... 35
Autonomia do Agente: ........................................................................................................ 35
Prestação ............................................................................................................................. 36
Retribuição .......................................................................................................................... 36
Momento da aquisição da comissão (artigo 18º) ............................................................... 36
Forma .................................................................................................................................. 37
Exclusividade ....................................................................................................................... 37
Proteção de terceiros .......................................................................................................... 37
Cessação do contrato .......................................................................................................... 37
Lógica do contrato............................................................................................................... 39
Concessão................................................................................................................................ 39
Características ..................................................................................................................... 40
Regime Jurídico ................................................................................................................... 40
Franquia .................................................................................................................................. 40
Características ..................................................................................................................... 41
Casos Práticos.............................................................................................................................. 42
Caso 1 ...................................................................................................................................... 42
Caso 2 ...................................................................................................................................... 43
Repetitório de Perguntas ............................................................................................................ 44

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Contratos Civis e Comerciais

I. Contratos de Organização ou Cooperação Empresarial

Associação em Participação

Consórcio

Agrupamento Complementar de Empresas

II. Contratos de Financiamento Empresarial

Abertura de Crédito

Contrato de Suprimento

Locação Financeira

Cessão Financeira

Crédito Documentário

III. Contratos de Garantia ao Crédito Empresarial

Fiança

Garantia Autónoma

Garantia Financeira

IV. A Compra e Venda

Compra e venda de bens defeituosos

Compra e venda de bens de consumo

V. Contratos de Distribuição Comercial

Agência

Concessão

Franquia

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Contratos Civis e Comerciais

Contratos de Organização ou Cooperação Empresarial


Associação em Participação (DL 231/81)
Noção

É o contrato através do qual uma pessoa se associa à atividade económica


exercida por outra pessoa.

Esta figura implica pelo menos dois sujeitos: um deles, normalmente, um


comerciante, que obtém o financiamento e mantém o exclusivo controlo da sua
atividade, sendo o único a surgir nas relações externas – associante – e outro, que não
tem de exercer uma atividade comercial e que realiza um investimento remunerado na
atividade do primeiro – associado.

A associação em participação serve, então, de meio de financiamento de médio


prazo ao exercício de atividades económicas. Esta não tem personalidade jurídica, sendo
apenas o associante que surge, perante terceiros, como titular e dono do negócio. Posto
isto, podemos concluir que apenas em relação a este se constituem direitos e obrigações
perante terceiros e a sua relação com o (s) associado (s) é uma relação meramente
obrigacional.

Elementos
1. Fim Comum – no âmbito deste contrato, o associante obtém lucros quer no seu
próprio interesse, quer no interesse do associado, traduzindo-se na obtenção e
posterior participação nos lucros no fim comum das partes. A participação nas
perdas pelo associado pode, porém, ser excluída por cláusula do contrato (artigo
21º, nº2).

2. Contribuição do associado – condição indispensável à constituição deste


contrato é a contribuição do associado que, nos termos do artigo 24º, nº1, deve
ingressar no património do associante quando consista na constituição ou
transmissão de um direito. Note-se que esta contribuição deve ser suscetível de
avaliação patrimonial.

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Forma
O contrato de associação em participação não está sujeito a forma especial, de
acordo com o artigo 23º, exceto se a natureza dos bens que constituem a contribuição
do associado exigir forma especial para a transmissão. De qualquer forma, a
inobservância da forma devida não implica a nulidade de todo o negócio de associação
em participação, desde que se possa proceder à sua conversão, recorrendo ao artigo
293º do Código Civil.

Participação nos lucros e nas perdas


Nesta matéria vale o contratualmente acordado entre as partes – artigo 25º, nº1.
Se as partes nada convencionarem a este respeito e se as contribuições do associante e
do associado tiverem sido avaliadas, a participação do associado nos lucros será
proporcional ao valor da sua contribuição; se não tiverem sido avaliadas, a participação
do associado será em metade dos lucros (e das perdas), sem prejuízo de uma eventual
redução judicial dessa participação em termos equitativos, a pedido do interessado
(artigo 25º, nº3).

Deveres do Associante
Além dos deveres acordados pelas partes e dos demais deveres legais, o
associante tem os deveres gerais, previstos no artigo 26º, e os deveres relativos à
prestação de contas (artigo 31º).

Extinção da Associação em Participação


A associação em participação extingue-se por força das circunstâncias previstas
contratualmente e dos factos referidos no artigo 27º.

Em particular, temos de ainda de verificar as hipóteses de extinção por denúncia


ou resolução do contrato, previstas no artigo 30º:

 Os contratos celebrados por tempo determinado só podem ser extintos


unilateral e antecipadamente com base em justa causa – ou seja, só podem ser
objeto de resolução;

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 Os contratos celebrados por tempo indeterminado podem ser denunciados


pelas partes a todo o tempo, uma vez decorridos dez anos sobre a data da
respetiva celebração.

Consórcio (DL 231/81)


É o contrato pelo qual duas ou mais pessoas singulares ou coletivas que exerçam
uma atividade económica se obrigam entre si a, de forma concertada, realizar certa
atividade ou efetuar certa contribuição com o fim de prosseguir um determinado escopo
ou objeto.

As principais características desta figura centram-se no seu carácter muito


simplificado e flexível e no facto de permitir salvaguardar a autonomia jurídica e a
independência económica dos seus membros. Traço fundamental deste contrato é que
este não dá origem a um novo ente jurídico e nem sequer a um património autónomo.

Elementos
1. Sujeitos – O consórcio exige a pluralidade de sujeitos, que podem ser pessoas
singulares ou coletivas, que estabelecem entre si uma relação concertada no
âmbito e para a prossecução da atividade económica definida como objeto do
consórcio. Esta atuação consertada tende a gerar uma relação “intuitus
personae” entre os membros do consórcio, dado o elevado nível de confiança
recíproca exigido.

2. Objeto – os consorciados assumem reciprocamente a obrigação de concertação


das suas atividades ou contribuições, tendo em vista a prossecução do objeto
fixado para o consórcio, que se reconduz a uma das atividades económicas
indicadas no artigo 2º. Há, ainda, algumas entidades que, apesar de não
preencherem os requisitos do artigo 2º, não ficam excluídas deste modelo de
cooperação. São elas: os sindicatos bancários, a locação financeira, as operações
lucrativas de forma financeira, entre outras.

3. Fim comum – o consórcio visa a prossecução de um fim comum, que consiste na


atividade económica definida como seu objeto. Note-se que este fim não

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consiste na realização de lucros; os consorciados individualmente considerados


é que obtêm lucros, através da concertação das suas atividades.

Forma
O contrato de consórcio está sujeito a simples forma escrita, exceto se implicar
uma transmissão de bens que careça de forma mais solene.

Modalidades de Consórcio
Seguindo a classificação legal, as duas modalidades existentes de consórcio
baseiam-se na sua projeção externa, então:

1. Consórcio Interno

 As atividades ou os bens são fornecidos a um dos membros do consórcio e só


este estabelece relações com terceiros; ou
 As atividades ou os bens fornecidos diretamente a terreiros por cada um dos
membros do consórcio, mas sem expressa invocação dessa qualidade.

No consórcio interno, sendo convencionada a participação nos lucros e/ou nas


perdas, aplica-se o regime da associação em participação (artigo 25º).

2. Consórcio Externo

 As atividades ou os bens são fornecidos diretamente por cada um dos membros


do consórcio, com expressa invocação dessa qualidade.

O consórcio externo é objeto de uma regulação muito mais detalhada que o


consórcio interno, dispondo a lei, desde logo, sobre a orgânica do consórcio externo,
prevendo a criação quer de um órgão facultativo, quer de um órgão obrigatório.

 Órgão facultativo – o contrato de consórcio externo pode prever a criação de um


conselho de orientação e fiscalização, composto por todos os membros do
consórcio (artigo 7º);

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 Órgão obrigatório – o contrato deve designar um dos consorciados como chefe


do consórcio (artigo 12º), ao qual competirá exercer as funções internas e
externas que lhe forem contratualmente atribuídas.

Relativamente à denominação do consórcio externo, há também regulação


expressa, dispondo o artigo 15º, nº1, 1º parte, que os membros do consórcio podem
fazer-se designar coletivamente juntando todos os seus nomes, firmas ou
denominações sociais com o aditamento “Consórcio”.

Repartição de valores e produtos


Quanto à repartição de valores e produtos, aplicam-se os artigos 16º e 17º:

 Artigo 16º - aplicável quando o objeto do consórcio é um dos previstos nas


alíneas b) e c) do artigo 2º, dispõe sobre a distribuição dos valores recebidos de
terceiros, permitindo que se estipule no contrato uma distribuição dos valores a
receber de terceiros diferente da resultante das relações diretas de cada um dos
consorciados com esses terceiros ou que estes valores, ao invés de serem pagos
diretamente a cada um dos consorciados, o sejam a um deles, por conta
daqueles;
 Artigo 17º - dispõe sobre a repartição do produto da atividade do consórcio pelos
seus membros, quando o respetivo objetivo for o previsto nas alíneas d) e e) do
artigo 2º.

Agrupamento Complementar de Empresas (Lei 4/73 e DL 430/73)


O ACE define-se como a entidade constituída por duas ou mais pessoas
singulares ou coletivas com o fim de melhorar as condições de exploração das respetivas
empresas, constituindo, assim, um instrumento de cooperação de empresas.

Elementos
1. Sujeitos – podem agrupar-se para constituir um ACE pessoas singulares ou
coletivas e sociedades com natureza empresarial. É frequente a formação de
agrupamentos complementares de empresas por empresas pertencentes ao
mesmo grupo económico, mostrando também a prática de agrupamentos
constituídos por empresas concorrentes.

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2. Objeto – os sujeitos agrupados criam uma organização para a prossecução de


uma determinada atividade concreta em termos mais vantajosos do que os
obtidos normalmente no mercado ou através do recurso à atividade própria (por
exemplo, verificados determinados requisitos, as prestações de serviços pelos
ACE’s estão isentas de IVA).
3. Fim – O ACE não tem como finalidade principal a obtenção de lucros, mas apenas
potenciar o lucro das empresas agrupadas, proporcionando-lhes, para o efeito,
melhores condições para o exercício e desenvolvimento das respetivas
atividades.

Forma e registo
O contrato de ACE deve ser reduzido a escrito, salvo se forma mais solene for
exigida para a transmissão dos bens com que os sócios entram para o agrupamento
(Base III, nº1), e inscrito no registo comercial, adquirindo o ACE, personalidade jurídica
(Base IV da Lei 4/73 e artigo 4º do DL 430/73).

Firma
Quanto à firma do ACE, atente-se no disposto no artigo 3º do DL 430/73, nos
termos do qual a firma do agrupamento poderá consistir numa denominação particular
ou ser formada pelos nomes ou firmas de todos, alguns ou, pelo menos, um dos seus
membros. A firma do ACE deverá ainda conter o aditamento “Agrupamento
Complementar de Empresas” ou “A.C.E.” (Base III, nº2).

Órgãos
No ACE podem coexistir três órgãos:
 Assembleia Geral (artigos 7º; 2º, nº2; 10º e 13º do DL 430/73);
 Administração (artigos 6º e 8º, nº1 do DL 430/73 e a Base III, nº4, da Lei 4/73);
 Fiscalização – tem carácter facultativo, exceto se o ACE emitir obrigações (artigo 8º,
nº2 do D 430/73 e a Base V da Lei 4/73).

Responsabilidade do ACE e dos seus membros


 As empresas agrupadas são solidariamente responsáveis pelas dívidas do ACE, salvo
cláusula em contrário no contrato celebrado entre o ACE e um credor determinado;

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 Esta responsabilidade é subsidiária, gozando as empresas agrupadas do benefício da


excussão prévia dos bens do ACE face aos credores deste (Base II, nº 2 e 3 da Lei
4/73).

Transmissão da participação no ACE


O regime da transmissão das participações no ACE pelas empresas agrupadas,
previsto no artigo 11º, nº 1 e 2, do DL 430/73 é também um dos aspetos característicos
desta figura.
A transmissão das participações no agrupamento só é possível juntamente com
a transmissão do estabelecimento ou empresa do transmitente, dependendo ainda do
consentimento do ACE a atribuição pelo transmissário da posição de membro do
agrupamento.

Contratos de Financiamento Empresarial

Contratos que têm por objeto o financiamento dos clientes pelo banco. Num
sentido amplo, os negócios de financiamento são também contratos de crédito
bancário, todavia, ao passo que:

 Nos contratos de crédito stricto sensu o banco adianta dinheiro ou disponibilidades


monetárias ao cliente, assumindo a posição de credor
 Nos contratos de financiamento o banco limita-se a disponibilizar determinados
serviços ou operações financeiras sem disponibilização monetária, não assumindo
assim qualquer posição credora.

Abertura de Crédito
Traduz-se numa das formas mais comuns pela qual uma empresa reúne capital
alheio necessário à sua atividade, através de financiamento. É um contrato nominado,
sendo referido no Código Comercial como uma operação de banco, no entanto, não é
um contrato típico porque não está prevista regime legal, nem noção legal do contrato
de abertura de crédito – artigo 362º Cód. Comercial. A questão discutida é, então, qual
o regime aplicável, por analogia.

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Nesta matéria temos de nos focar na fruição do crédito, ou seja, a


disponibilização de um crédito tem um valor próprio. Assim, um banco – creditante,
constitui a favor do seu cliente – creditado, por um período determinado (ou não),
fundos que poderá utilizar se, quando e como quiser.

Creditante Creditado

1º Constituição de uma disponibilidade de dinheiro

2º Utilização dessa disponibilização

Função Socioeconómica
 Creditado – há uma função de segurança, na medida em que assegura a
existência de recursos para suprir eventuais despesas e custos. No contrato de
abertura de crédito, o creditado paga juros pelo valor realmente utilizado e não
sobre o valor total colocado à disposição. Há um acesso imediato a fundos para
necessidades eventuais, adaptando o valor dos juros a essas necessidades.
 Creditante – obtém uma remuneração composta por dois elementos. A primeira
remuneração é a comissão de imobilização de fundos que remete para própria
disponibilização, pedida na 1ª fase. A segunda refere-se aos juros pagos pela
utilização desses fundos, gerando remuneração para o creditante.

Elementos
1. Sujeitos – o contrato de abertura de crédito é composto pelo creditante, que é
um Banco (artigo 9º) e pelo creditado, que pode ser pessoa singular ou coletiva.
2. Objeto – é o acreditamento. O objeto é o crédito enquanto bem económico, a
fruição de uma disponibilidade de crédito e não o dinheiro em si. A
disponibilidade do crédito constitui o direito de crédito do creditado.
3. Conteúdo – relativamente ao conteúdo temos de considerar as duas vertentes:

Para o creditante (Banco):

 Dever de constituir e manter a disponibilidade;

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 Ser credor da obrigação de restituição dos fundos e juros;

Para o creditado:

 Direito à disponibilização e utilização do crédito;


 Dever de pagar a comissão de imobilização;
 Direito a exigir a prestação do banco;
 Dever de pagar os juros.

Modalidades
 Abertura de Crédito Garantida – pode ser pessoal (através de um terceiro), real (com
bens próprios) ou mediante títulos de crédito;
 Abertura de Crédito a Descoberto/Não garantida – através do conhecimento da
pessoa em si e do seu património.
 A favor do próprio contraente;
 A favor de terceiros (para pagamento de dívidas).
 Simples – o creditado tem direito a usar uma só vez, mas as restituições que efetue
não reconstituem a disponibilidade de fundos, não havendo repristinação. Por
exemplo, se o crédito for no valor de 50 000€ e usar metade do valor, mesmo que
restitua os 25 000€, não pode voltar a fruir dos 50 000€;
 Conta corrente – o creditado efetua sucessivos levantamentos e pode efetuar
depósitos de forma a reconstituir o montante de crédito que poderá continuar a
dispor. É o caso dos cartões de crédito.
 Com fim vinculado;
 Sem fim vinculado.

Distinção do Mútuo
No contrato de mútuo, a entrega do montante é o elemento constitutivo, só
assim se forma o contrato por ser um contrato real quanto à sua constituição, não
bastando o consenso e sendo necessário um ato material.

No contrato de abertura de crédito, o que se pretende é beneficiar da


disponibilização. O creditado pode não usar o dinheiro disponível, evitando o
pagamento dos juros correspondentes. É um contrato consensual.

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Forma
Aplica-se o regime do Mútuo Bancário, regulado pelo DL 32/1765, de 29 de Abril de
1943.

Cessação
 Celebrado por tempo indeterminado, aplica-se o regime da conta corrente (artigo
349º Cód. Comercial);
 Relativamente à devolução, é aplicável o regime do Mútuo, tendo 30 dias para o
fazer, nos termos do artigo 1148º, nº2, Cód. Civil;
 Também quanto ao pagamento dos juros, é aplicável o regime do Mútuo.

Contrato de Suprimento
Os suprimentos são empréstimos que visam substituir o capital próprio do
interessado, traduzindo-se numa forma/meio de crédito.

Características
 O autor dos suprimentos é o sócio, independentemente da sua quota, constituindo-
se a qualidade de sócio no momento em que o contrato é celebrado;
 Se o sócio sai da sociedade, os créditos mantêm a qualidade de suprimentos;
 Se um terceiro credor entra para a sociedade, os seus créditos serão qualificados
como suprimentos.

Regime
O regime do suprimento distingue-se do mútuo civil porque as situações jurídicas
(do mútuo) não eram as mais justas e adequadas ao suprimento. De acordo com o artigo
1148º do Código Civil, há o prazo de 30 dias para o reembolso do mútuo em que não
tenha sido acordado.
Assim também se evita que aos suprimentos fosse exigida a forma legalmente
exigida para os mútuos (escritura pública) - artigo 243º/6 do Código das Sociedades
Comerciais, daqui para a frente designado por CSC.

Beneficiários
Por vezes, o conflito de interesses entre sócios e credores sociais não é tão
agudo, a relação entre estes não é tão próxima. Podia partir-se aqui de uma distinção
entre acionista-investidor e o acionista-empresário (acionista que conforma a atuação

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da sociedade), de acordo com uma participação social mínima (para que fosse
considerado acionista-empresário).
De acordo com o Supremo Tribunal de Justiça, a aplicação do Contrato de
Suprimento aos “acionistas empresários” depende de uma participação social
correspondente a 10% do capital social.
O montante, porém, não deveria ser o único e decisivo critério para a
determinação de acionista-empresário. Ou seja, este deve ser o critério de partida mas
devem existir outros que permitam à empresa estabelecer ou determinar ou provar que
aqueles suprimentos são daquele sócio/acionista, que provem o interesse empresarial
daquele sujeito.

Objeto
Dinheiro ou outra coisa fungível - artigo 243º/1 CSC.

A permanência dos créditos na sociedade


 Critério material de qualificação: créditos com função económica de substituição
do capital próprio. Um critério seguro (artigo 243º/ 2 e 3 CSC) é a permanência
(a duração) do crédito.
 Índices de permanência
o Estipulação do prazo de reembolso superior a um ano;
o Não estipulação de prazo de reembolso;
 Estipulação de prazo de reembolso inferior a um ano e o reembolso não é exigido
durante um ano.

O Professor Raul Ventura entende que existem três situações em que um crédito
de um sócio terá carácter de permanência e, nesta medida, é considerado suprimento:
a. Ser celebrado um contrato com prazo de reembolso superior a um ano –
artigo 243º/2 CSC;
b. Ser celebrado um contrato sem qualquer prazo e o reembolso não ser exigido
durante um ano, o crédito permanece na sociedade por um ano – artigo
243º/3 CSC;

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c. Contrato celebrado com prazo de reembolso inferior a um ano mas, de facto,


o reembolso não ser exigido durante um ano.

O crédito é considerado suprimento quando está na sociedade com alguma


estabilidade, ou seja, durante um período de tempo razoável/considerado estável.

A permanência
Os credores sociais podem provar que existe contrato de suprimento se o
reembolso for efetuado antes de decorrido o prazo de um ano (artigo 243º/4 CSC):
 É necessário que o credor seja capaz de provar que a sociedade, naquele momento
(da concessão daquele crédito), não conseguiria empréstimos por outra via ou meio
por não ter para tal condições favoráveis.
 Também a sociedade deve ser admitida a provar que um empréstimo concedido por
tempo indeterminado e reembolsado antes de decorrido o prazo de um ano
constitui um suprimento.
O sócio ilide a presunção de permanência. Tem relevância em casos de
insolvência.

Modalidades
 Mútuo – artigo 243º/1/1ºp CSC;
 Diferimento de créditos – artigo 243º/1/2ºp CSC - convenção expressa ou
declaração tácita.
 Modalidade atípica: aquisição de crédito de terceiro contra a sociedade – artigo
243º/5 CSC.

Grande risco que houve no domínio das sociedades por quotas era o dos
suprimentos não serem feitos por escritura pública. A partir de determinado valor o
mútuo deveria ser celebrado por escritura pública e os suprimentos nunca o eram.
O artigo 243º/6 CSC vem dispor que a validade do mútuo suprimento não
depende de forma especial, não lhe sendo aplicável a exigência de forma que o artigo
1143º do Código Civil estabelece para o mútuo.

Regime
 Competência da gerência e da administração para a celebração;

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 Forma: liberdade de forma - artigo 243º/6 CSC.


 Reembolso dos suprimentos: possibilidade de requerer ao tribunal a fixação de um
prazo (arts. 245º/1 e 777º/2 Código Civil).

Regime do contrato de suprimento na falência


 O sócio credor não pode requerer a falência da sociedade – artigo 245º/2 CSC.
 Subordinação dos suprimentos ao pagamento dos restantes créditos sociais (artigo
245º/3/a) e artigo 48º/1/g) CIRE – Código de Insolvência e Recuperação das
Empresas). Ou seja, primeiro são pagos todos os credores da sociedade, só depois,
se ainda restar algum capital, é que o sócio (que emprestou) obtém o reembolso
devido.
Ou seja, os suprimentos passaram a ser capital de risco, é difícil que os sócios
que constituíram os suprimentos recebam ou revenham o (seu) capital emprestado à
sociedade (sob forma de suprimento). Os suprimentos (na falência) passam a ser capitais
que respondem pelas dívidas sociais.

Aspetos relevantes
 Proibição de compensações – artigo 245º/3/b) CSC.
 Nulidade das garantias reais – artigo 245º/6 CSC.
 Resolubilidade dos reembolsos de suprimentos no ano anterior à falência – artigo
245º/5 e artigo 121º/1/i) CIRE.

Locação Financeira (DL 149/95)


O artigo 1º do DL 149/95 dispõe que a locação financeira é o contrato pelo qual
uma das partes – locador – se obriga, mediante retribuição, a ceder à outra – locatário
– o gozo temporário de uma coisa, móvel ou imóvel, adquirida ou construída por
indicação desta, e que o locatário poderá comprar, decorrido o período acordado, por
um preço nele determinado ou determinável mediante simples aplicação dos critérios
neles fixados.

Características
 Indicação da coisa dada pelo locatário ao locador, no contrato;
 Dever de o locador celebrar um contrato de compra e venda com o vendedor com
vista à aquisição da coisa;
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Contratos Civis e Comerciais

 O locatário tem do dever de pagamento de rendas e a faculdade de aquisição da


coisa no final do contrato;
 A sociedade locadora só adquire o bem para ceder o gozo da coisa.
 O locador interpõe-se entre o locatário e o vendedor com uma função de
financiamento, adiantando ao locatário o preço do bem.

Locador
 Nova forma de obter rendimentos pelo capital que investe, ou seja, pelos capitais de
crédito;
 Nova forma de financiamento quase sem risco, isto é, o locador tem uma garantia
fortíssima uma vez que mantém a propriedade do bem;
 O locador não se sujeita ao risco do bem, uma vez que o locatário continua sujeito a
pagar rendas;
 Não responde pelas desconformidades do bem;
 Divisão entre propriedade jurídica e propriedade económica.

Vendedor/Fornecedor
 Novo meio de vender bens;
 Facilitar o escoamento dos bens;
 Pagamento a pronto pelo locador.

Distinção de figuras afins do Leasing


Locação Financeira restitutiva ou “Sale and Leaseback”
Uma empresa tem um determinado bem. Esta vende o bem a uma sociedade de
locação financeira e esta dá esse bem em locação à empresa vendedora. O bem nunca
sai do sítio.

Exemplo:
Vendedor --------> Comprador
Locatário <---------- Locador

Os tribunais têm entendido que esta figura não viola o pacto comissório.

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Contratos Civis e Comerciais

Locação Operacional
As rendas pagam todo o bem. O locatário adquire o bem no final do pagamento das
rendas. O locador presta determinados serviços acessórios.

Renting
Inclui a prestação de serviços acessórios pelo locador. Tem um prazo mais curto. Locador
não é o produtor do bem em causa. São tipos sociais e não locais. O locador presta
sempre serviços acessórios (ramo automóvel) e não é o fabricante dos bens. Aqui há
apenas 2 entidades: locador e locatário.

Aluguer de Longa Duração


Contornar limitações do regime jurídico da locação. Só tem por objeto bens imóveis (≠
locação financeira) e celebrados por prazos inferiores à locação financeira. O locador
financeiro efetua logo uma promessa unilateral de venda caso o locatário assim o
entenda.
a) Proposta irrevogável de venda;
b) Promessa unilateral.

Forma
 Podem ser celebrados por documento particular, salvo quando se trate de bens
imóveis que é necessário o reconhecimento presencial das assinaturas + licença de
construção do imóvel.
 Publicidade do contrato de locação financeira – artigo 3º, nº 4 do DL 149/95;
 A propriedade do bem pertence ao locador;
 A locação financeira tem que ser objeto de registo quando se trate de bens imóveis
ou bens móveis sujeitos a registo;
 Tutela da expectativa de aquisição do bem no final do contrato por parte do
locatário.

Fim do contrato
O locatário tem três possibilidades (artigo 7º DL):
 Restitui o bem;

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Contratos Civis e Comerciais

 Compra o bem por um determinado valor residual, exercendo essa opção em face
da promessa unilateral de venda constante do contrato;
 Prorroga ou celebra um novo contrato de locação financeira.

Obrigações do locador
Artigo 9º/1 DL

 Alínea a) - Adquirir o bem alocado;


 Alínea b) – Conceder o gozo da coisa;
 Alínea c) – Ceder a coisa ao locatário no fim do contrato.

Obrigações do locatário
 Pagamento das rendas – artigo 10º/1 a) DL;
 Dever de aviso ao locador sempre que tenha conhecimento de vícios do bem – artigo
10º/1 i) DL;
 Dever de efetuar um seguro do bem alocado, ou seja, o locatário tem o dever de
efetuar um seguro a favor do locador (beneficiário do seguro) – o locatário mantem
a obrigação do pagamento de rendas, ou seja, o risco corre sempre por conta do
locatário. Desta forma, o legislador obriga a que este faça um seguro em favor do
locador.
 Obrigação de restituição do bem alocado no final do contrato, salvo algumas
exceções.

Aspetos do Regime
i. Quem é que responde pelos vícios da coisa objeto da locação?
O locador não responde pelos vícios do bem alocado ou pela sua inadequação
face aos fins do contrato, ou seja, o locador não responde pelos defeitos do bem – artigo
12º do DL. O locador apenas limita-se a financiar a coisa, não escolhendo a coisa – há
uma isenção do locador. Ver Ac. Relação de Guimarães de 6 de Outubro de 2004.

ii. Que direitos pode o locatário pode exercer perante o vendedor ou


empreiteiro?

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Contratos Civis e Comerciais

Direito à reparação ou substituição do bem e direito resolução ou redução do


contrato - artigo 13º do DL.
Para o professor Alexandre Mota Pinto, o locatário pode exercer todos os
direitos, para além do direito a uma indemnização por danos.

iii. De que forma é que a redução ou resolução do contrato de compra e venda


vai ter alguma implicação nas rendas no contrato de locação de financeira?
A resolução ou redução do valor do contrato de compra e venda vai implicar a
resolução ou caducidade do contrato de leasing ou a diminuição do valor das rendas a
pagar pelo locatário.

iv. Por conta de quem é que corra o risco pelo perecimento ou deterioração
da coisa?
O risco corre por conta do locatário. Inversão da regra do risco disposta no artigo
796º/1 do Código Civil. Este artigo diz que o risco corre por conta do
proprietário/adquirente (locador). Logo estamos perante uma inversão do risco pelo
perecimento da coisa. O locatário é um simples proprietário económico. A consequência
da deterioração do bem: é a manutenção da obrigação do pagamento das rendas ao
locador pelo locatário. Aqui tem importância o seguro em favor do locador por parte do
locatário, de modo a que parte do risco corra por parte da seguradora.

O locatário tem poderes para defender a coisa e para usar das faculdades
possessórias, embora não seja proprietário. Há uma cisão entre a propriedade jurídica
e a propriedade económica, ou seja, entre o domínio útil da coisa e o domínio jurídico
da mesma. Porquê? Existe porque as entidades financeiras precisam da propriedade da
coisa para ter a garantia máxima.

v. Consequências do incumprimento do contrato por parte do locatário,


nomeadamente do pagamento de rendas.
Cumular a restituição do bem alocado com a constituição das rendas vincendas.
A jurisprudência tem aceitado como consequências:

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Contratos Civis e Comerciais

 Obrigação da restituição do bem alocado – faculdade do locador optar pela


resolução do contrato;
 Pagamento das rendas vencidas até à efetiva restituição do bem alocado;
 Cláusulas penais que correspondem ao pagamento de 1/5 das rendas vincendas. Ver
Ac. STJ de 9 de Março de 1993 e Ac. STJ de 21 de Maio de 1998.

Cessão Financeira / Factoring (DL 171/95)


A cessão financeira está regulada no Decreto-Lei 171/95, 18 Julho, e é o contrato
pelo qual uma das partes – cedente financeiro ou aderente – cede a outrem –
cessionário financeiro ou factor – um crédito. Baseia-se na seguinte relação triangular:

Factor (sociedade factoring)

Aderente / cedente / credor Devedor

Quais as vantagens para o aderente?


 O valor é-lhe antecipado pelo factor;
 Não corre o risco do devedor ficar insolvente.

O aderente fornece ao devedor, com pagamento a 180 dias. Decide ceder o


crédito ao factor e este paga o valor do seu crédito ao factor, que por sua vez paga ao
aderente o valor do seu crédito. O aderente vê o seu crédito satisfeito imediatamente
quando só ia receber em 6 meses.

Antecipação de Fundos
O aderente cede o crédito à empresa factoring mediante o pagamento de uma
remuneração a factoring. Ou seja:

Cessionário / Factoring

Aderente / Cedente Devedor / Cedido

 O cedido paga ao cessionário, que efetua a cobrança.

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Contratos Civis e Comerciais

 O aderente paga a remuneração e juros ao cessionário, a quem cedeu o crédito.

Vantagens do recurso ao factoring para a empresa aderente


 Garantia de maior liquidez (sabe que quando emite uma fatura vai conseguir
liquidar);
 Aumento da rendibilidade (recebe mais depressa o dinheiro, podendo negociar
preços mais favoráveis);
 Permite limitar o endividamento a curto prazo;
 Aumenta o fundo de maneio.

Modalidades
Próprio / Pro soluto / Sem recurso

O aderente cede o crédito ao factor e este assume o risco pela


insolvência/incumprimento do contrato. Não pode exigir o valor do crédito que lhe foi
cedido, ao cedente.

Impróprio / Pro Solvendo / Com recurso

Caso o devedor não cumpra, o facto tem a possibilidade de exigir a devolução do


valor ao cedente. A empresa factoring para mitigar os riscos contrata com seguros de
crédito.

Vantagens na prestação de serviços


 Dispensa-se de um departamento destinado à cobrança;
 Dispensa-se a carteira de clientes (no factoring sem recurso, normalmente são eles
que procedem à gestão de identificação dos melhores clientes).

Desvantagens
 Tem custos:
o Pagamento de juros sobre antecipação de fundos;
o No factoring próprio há uma comissão de garantia / risco;
o Comissão de factoring (pela celebração do contrato) – é determinado por
percentagem sobre o volume das faturas entregues (entre os 2% e 5%).
 Para a gestão:

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Contratos Civis e Comerciais

o Passa a obedecer a uma lógica financeira e menos comercial (por exemplo, se o


cliente encontrar um sócio em Marrocos, mas a sociedade factoring não gostar
dele);
o As empresas que recorrem ao factoring total perdem uma grande autonomia
perante a clientela, uma vez que deixa de ter contacto direto.

O factoring pode, ainda, ser total ou parcial. É total quando o cliente se obriga a
oferecer a cessão de todos os créditos que obtiver, tendo a empresa a escolha de os
aceitar ou não.

Este contrato é um contrato de adesão pelo que a liberdade contratual está


limitada.

Factoring Confidencial
É encarado o recurso ao factoring como um problema de imagem, em que o
objetivo é camuflar. Neste caso, não há uma verdadeira cessão de créditos, e o factoring
nunca é levado ao conhecimento do devedor.

Características do contrato
1. Oneroso – serviços de factoring envolve uma remuneração;
2. Consensual – só se torna perfeito com o consenso das partes;
3. Duradouro;
4. Atípico Misto – contém conteúdos de tipos diferentes (contrato de prestação de
serviços, promessa de cessão de créditos futura, assunção do risco pelo
aderente, cuja função é típica de um contrato de seguro);
5. Formal – forma escrita (artigo 7º do DL).

Crédito Documentário
O crédito documentário realiza uma função de financiamento e garantia, tendo
sido impulsionado em Londres no séc. XVIII. Trata-se de um meio de pagamento no
comércio internacional, em que o preço é pago através de um banco, contra a entrega
de determinados documentos. A compra e venda internacional comportam
determinados riscos extras, uma vez que a distância não proporciona o cumprimento
simultâneo das obrigações.

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Contratos Civis e Comerciais

Beneficiário Ordenador
(vendedor) (comprador)

Carta de Crédito Mandato


Comercial
Emitente
(banco)

Este mecanismo foi desenvolvido para superar a insegurança e o risco que existe
no comércio internacional de mercadorias:
 Língua;
 Diferentes ordens jurídicas;
 Transporte;
 Motivos políticos (guerras e revoluções).

Risco para o Vendedor


Não receção do preço. Solução?
Garantia pelo banco.

Risco para o Comprador


Incumprimento do contrato. Solução?
Pagamento mediante entrega dos documentos comprovativos.

Carta de Embarque
Contém as informações necessárias para comprovar que a mercadoria embarcou
corretamente.

Abertura de Linha de Crédito


1. Função de pagamento na compra e venda internacional de mercadorias;
2. Função de segurança ou garantia;
3. Função de financiamento – isto é o verdadeiro crédito. O Banco ao pagar ao
Vendedor já é uma antecipação de fundos que serão pagos posteriormente, pelo
Comprador.

Relação-base / Subjacente - Comprador / Vendedor


Podem estipular diversas cláusulas no contrato:

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Contratos Civis e Comerciais

 Natureza do crédito;
 Nome do banco;
 Duração do crédito;
 Documentos necessários para entregar ao banco;
 Montante do crédito;
 Prazo para a utilização do crédito.

Relação entre Ordenador e Emitente - Comprador / Banco


Trata-se de um acordo entre o Comprador e o Banco.
1º São dadas instruções ao banco-emitente para que este emita uma carta de crédito.
Uma carta de crédito é um mandato sem representação (“mandato comercial
sem representação”), para que o banco atue por conta do ordenador, mas em nome
próprio.

2º Define-se as obrigações do banco. É importante referir aqui que, quanto à natureza


do crédito, este pode ser:
 Irrevogável – nem o banco nem o ordenador podem revogar a obrigação (nunca);
 Revogável – a qualquer momento uma das partes pode dar ordem de
cancelamento. O banco, por exemplo, se verificar que a insolvibilidade do
ordenador, pode cancelar.

3º Define-se as obrigações do ordenador:


 Pagamento de Comissões (abertura, confirmação, juros – quando há
antecipação);
 Reembolso – reembolsa o banco no montante que este pagou, para poder
levantar os documentos).

Normalmente, são contratos de adesão, com recurso a cláusulas contratuais


gerais. As regras aplicáveis a estes contratos são as regras uniformes, para as quais o
crédito documentário remete.

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Contratos Civis e Comerciais

Então:
Banco/Ordenador - Mandato Comercial;
Banco/Beneficiário - Promessa Unilateral de pagamento, submetida à condição
suspensiva de entrega dos documentos. Traduz-se na Carta de Crédito que
simboliza a execução do pagamento.

Pagamento
 À vista – contra entrega de documentos;
 A prazo – a x tempo da entrega de documentos;
 Negociação.

Stand-By Letter
O pagamento deve ser feito pelo comprador, no entanto, se o ordenador
incumprir a sua obrigação, esta carta fica suspensa até esse momento, sendo então
utilizada, obrigado o Banco ao pagamento da obrigação. Isto funciona apenas se o
beneficiário enviar uma declaração ao emitente a dar conta da situação de
incumprimento.
Só é utilizada em caso de incumprimento do comprador.

Até aqui, vimos que intervêm três partes distintas. Mas na prática, por vezes, a
relação envolve 4 partes.

Banco Banco
Emitente

Relação B

Relação C

Beneficiário Ordenador

Relação A

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Contratos Civis e Comerciais

O beneficiário tem um direito próprio que lhe permite que a sua relação C seja
autónoma relativamente a A e a B.
O banco acrescentado ao diagrama pode ser de três naturezas:
 Confirmador
 Designador
 Notificador
Acontece frequentemente o Beneficiário pedir a intervenção de um Banco da
sua confiança, daí que possa assumir uma das três naturezas.

Regra «Solve et Repete»


Significa que primeiro paga-se, depois discute-se.

Regras Uniformes (2007)


Artigo 4º A
Artigo 5º
O banco não tem que ver com a mercadoria. Os documentos têm de estar em
conformidade, mas o banco não é responsável pelos possíveis defeitos que a mercadoria
pode conter. Como por exemplo, se o vinho transportado estiver estragado. Situação
diferente é se houver diferenças entre o nº de garrafas declarado na carta de crédito e
o nº de garrafas declarado nos documentos. Aí, o Banco já tem que verificar, sob pena
de responder perante o vendedor.

Há então, inoponibilidade ao banco das exceções do contrato. O beneficiário


pode, no entanto, posteriormente, propor uma ação contra o ordenador.

Quando o banco tem suspeitas fundadas quanto aos documentos, pode recusar
o pagamento.

Realização do Crédito Documentário


1) O Banco recebe os documentos e analisa-os, no prazo de 5 dias, e verifica se
estão em conformidade com a carta de crédito;
2) O Banco requer o reembolso do montante assegurado. Se não efetuar o
reembolso, tem direito de retenção relativamente aos documentos que lhe
foram entregues; ou pode exercer o penhor, para perfazer a quantia.

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Contratos Civis e Comerciais

Contratos de Garantia ao Crédito Empresarial


Garantia Autónoma
A garantia bancária autónoma baseia-se, antes de mais, na garantia geral das
obrigações: se o crédito não for cumprido, o credor tem a possibilidade de o executar à
custa do património do devedor (artigo 601º C. Civil). Assim sendo, quanto maior for o
património, mais segura será a garantia, porque haverá mais bens para garantir a
obrigação.

Neste âmbito temos de mencionar, então, o princípio da igualdade, presente no


artigo 604º do C. Civil, que contempla duas especificidades:

 Tem de ser dado tratamento igual aos credores, na falta de causas de preferência;
 Se o património não for suficiente, divide-se igualmente pelos seus credores.

As causas de preferência consistem em garantias especiais, na medida em que se


traduzem em causas legítimas que permitem a um credor ser pago em primeiro lugar,
com determinados bens.

Garantias Especiais
As garantias especiais constituem uma alteração qualitativa ou quantitativa da
garantia. Ou seja, há uma alteração qualitativa, quando a garantia é real (penhor,
hipoteca, direito de retenção); por sua vez, será uma alteração quantitativa, quando a
garantia for pessoal (fiança).

Fiança
Disposta no artigo 627º, nº1 do C. Civil, constitui um novo garante, que tem o
mesmo conteúdo que a obrigação principal. Esta figura permite a alguém, para além do
devedor, garantir a obrigação com o seu próprio património.

Acessoriedade
A característica essencial da fiança é a acessoriedade, que torna a fiança mais
fraca e menos segura. A acessoriedade baseia-se na dependência funcional e genética
perante a obrigação principal.

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Contratos Civis e Comerciais

Quais os seus corolários?

 A obrigação do fiador não pode ser mais ampla nem mais onerosa que a principal;
 A invalidade da obrigação principal determina a invalidade da fiança;
 A extinção da obrigação principal determina, também, a extinção da fiança;
 E, ainda, o fiador pode opor os mesmos meios de defesa que o afiançado,
relativamente à obrigação principal.

Por estas razões, torna-se necessário uma garantia mais forte do que a prestada
através da fiança.

 Autonomização - A obrigação de garantia não é afetada pelas vicissitudes da


obrigação garantida;
 Automaticidade – A obrigação de garantia tem de ser cumprida à primeira solicitação
“garantee on first demand”.

O objetivo daqui decorrente é reforçar a segurança e evitar os inconvenientes da


acessoriedade da fiança.

Estas garantias têm o seu fundamento na liberdade contratual (artigo 405º do C.


Civil). Assim, quando se formam, têm tipicidade social e não legal.

Garantia Autónoma à 1º solicitação


Nesta figura, encontramos essencialmente uma autonomia total entre as
obrigações. Se o credor solicitar o cumprimento da obrigação, o Banco tem de o fazer
“de olhos fechados”. Aqui, o Banco não pode opor meios de defesa ao beneficiário,
como na fiança. Na fiança, o objeto é o mesmo, aqui não.

Esta figura distingue-se ainda do Crédito Documentário, vejamos:

Garantia Autónoma Crédito Documentário


Contrato de qualquer natureza Compra e venda internacional
Pagamento aquando da entrega dos
Pagamento à 1ª solicitação
documentos

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Contratos Civis e Comerciais

Função de garantia A 1ª função é de pagamento


Negócio causal -----

Performance Band
 Garantia da onerabilidade da oferta (“bid bond”) – é comum nos contratos de
empreitada;
 Garantia de reembolso (“repayment garantee”) – casos de pagamento antecipado.

Modalidades de Solicitação de Pagamento


Os requisitos que possivelmente poderão ser estabelecidos pelo Banco, ditados na
relação base, são:

 A pedido simples – não tem de justificar o pedido;


 A pedido justificado – invoca os motivos;
 Documentário – exige-se a entrega de determinado documento para acionar a
garantia.

O beneficiário não pode invocar nenhum vício da obrigação principal, no


entanto, há uma única exceção: os casos de fraude manifesta. O Banco, tendo
elementos (inequívocos) que o façam concluir que há fraude na execução da garantia,
pode recusa o pagamento.

Em casos de dúvida, o Banco terá de satisfazer a obrigação.

A Compra e Venda
Compra e venda de bens defeituosos e bens de consumo (DL 67/2003, DL 84/2008 e
Diretiva 1999/44)
A regulação desta matéria está no DL 67/2003, 8 Abril e DL 84/2008, 21 Maio e,
ainda, na Diretiva 1999/44, CE 25 Maio. Esta legislação vale apenas para a compra e
venda celebrados entre um profissional (venda de bens de consumo como atividade
profissional) e um consumidor (uso privado dos bens de consumo).

Aplica-se o regime presente no Código Civil quando englobam:

 Vendedores;

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Contratos Civis e Comerciais

 Consumidores;
 Vendedores como consumidores e compradores como profissionais.

Objeto
O objeto desta regulação são bens imóveis ou móveis corpóreos, ainda que
sejam em 2ª mão.

Este regime inclui ainda:

 Empreitada (artigo 1º A, nº2)


 Locação (locatário como vendedor)
 Vendas forçadas (vendas em execução)

Obrigações do Vendedor (artigo 2º, nº1)


 Regra da Conformidade / Princípio da Pontualidade: a entrega da coisa tem de
ser de acordo com o contrato, sem conter qualquer vício. Há, no entanto, uma
presunção de desconformidade (nº2)
o Vendedor não é responsável se:
 O comprador tiver conhecimento desses vícios;
 O comprador não puder ignorar e tiver aceitado (vícios visíveis ou
aparentes).
o Responsabilidade pela má instalação (por ele ou empregados) ou más
instruções.

Proteção do Consumidor
O artigo 3º, nº1 encontra-se na lógica de se provar que já havia desconformidade
no momento da entrega, para isso, existe então a presunção do nº2.

Pode haver falta de conformidade manifesta, no prazo de 2 anos (bem móvel) ou


5 anos (bem imóvel), no entanto, não se aplica quando:

 Há uma incompatibilidade com a natureza do bem (quando é depreciável);


 Há uma incompatibilidade com as características do bem (vícios que resultam
da falta de uso).

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Contratos Civis e Comerciais

Contratos de Distribuição Comercial


São contratos, típicos ou atípicos, que disciplinam as relações jurídicas entre o
produtor e o distribuidor ‘’lato sensu’’ com vista à comercialização dos bens e serviços
do primeiro.

Os sistemas económicos contemporâneos são caracterizados por uma


progressiva autonomização da função de distribuição comercial.

 Em eras económicas mais recuadas, o produtor assegurava sozinho a


comercialização dos seus próprios produtos e serviços.
 Com o advento da produção industrial em série e do consumo em massa, o produtor
foi confiando progressivamente a sujeitos especializados a tarefa de fazer chegar os
seus bens às mãos do consumidor final.

Modalidades da Distribuição Comercial


 Direta: é o produtor que se encarrega da colocação dos seus próprios produtos ou
serviços no mercado (usualmente recorrendo para tal a divisões orgânicas ou a
pessoal dependente: filiais; sucursais; gerentes de comércio; auxiliares de comércio)
 Indireta: o produtor concentra-se exclusivamente na função produtiva e renúncia à
tarefa de comercialização, confiando esta a empresários ou intermediários
autónomos especializados (transportadoras, armazenistas, comissários,
mediadores, agentes, concessionários, franquiados, etc.)
o Simples: caracteriza-se pela ausência de coordenação entre a produção e a
distribuição, o produtor concede uma grande autonomia aos seus
distribuidores no exercício da respetiva atividade empresarial distributiva
o Integrada: existe a coordenação entre a produção e a distribuição, o
distribuidor surge aos olhos do público como um empresário integrado no
âmbito da estratégia e rede de distribuição concebida pelo produtor, como
tal sujeitando-se, em maior ou menor grau, às orientações e fiscalização
genéricas deste último (exemplo: caso comum dos agentes, concessionários,
franquiados, ou distribuidores seletivos)

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Contratos Civis e Comerciais

Agência (DL 178786)


É o contrato pela qual uma das partes – o agente – se obriga perante outra – o
principal – a promover a celebração de contratos por conta de outrem (artigo 1º). O que
se entende por promover é a extensa atividade material que o agente deve levar a cabo
(angariação de clientes, difusão de produtos, negociação de contratos). Está regulado
pelo Decreto-Lei 178/86, de 3 de Julho.

De acordo com o nº1 do artigo 2º, só tem poderes para concluir/celebrar


contratos se lhe forem atribuídos poderes de representação, por escrito. O agente
limita-se a intermediar/promover a celebração do contrato, entre o principal e os
clientes.

O agente age em nome próprio, mas por conta de outrem, visto que tem de
defender os interesses do principal e não pode difamar os produtos (artigo 6º).

Constituindo a agência uma figura paradigmática ou matriz da distribuição


comercial, a doutrina e a jurisprudência portuguesas, admitem a extensão analógica do
seu regime aos demais contratos de distribuição legalmente atípicos.

Atuação por conta do principal:


Os efeitos dos atos que o agente pratica destinam-se a ser projetados ou
repercutidos na esfera jurídica do principal, verdadeiro ‘’dominus negotii’’ – atuação por
conta alheia;

A atuação do agente deverá ser realizada em benefício ou em vantagem do


principal, prosseguindo aquilo que sabe ser ou pensa ser o interesse deste último –
atuação no interesse alheio (≠ concessão comercial e franquia: o distribuidor atua por
conta própria)

Autonomia do Agente:
O agente exerce a sua atividade de modo independente, gozando de autonomia
quanto à execução da sua obrigação de promoção contratual (afloramento legal desta
característica é a possibilidade legal de recurso a subagentes – art. 5º).

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Contratos Civis e Comerciais

Permite distinguir o agente do trabalhador ou outros colaboradores


dependentes do principal: embora o grau de autonomia possa variar em função da
maior ou menos integração do agente na rede distributiva do principal, ela deverá
sempre existir sob pena de descaracterização da própria relação contratual (art. 7º al.
a)).

Não serão agentes aqueles indivíduos que, ostentando embora tal designação,
se encontrem ligados a um empresário através de um contrato laboral ou outras figuras
congéneres (gerentes de comércio, auxiliares, caixeiros).

Prestação
A prestação caracteriza-se por ser: autónoma, determinada, estável e
duradoura.

Retribuição
A comissão do agente é calculada com base no nº de negócios promovidos pelo
agente, recorrendo aos usos e equidade (artigos 15º e 16º).

Contemplam-se, então, os seguintes casos:

 Negócios promovidos diretamente pelo agente (artigo 15º, nº1);


 Negócios realizados por clientes, angariados pelo agente, com o principal – aqui, o
principal tem o dever de comunicar ao agente a situação;
 Casos em que existe o direito exclusivo e os contratos tiverem sido realizados
naquela área geográfica (artigo 16º, nº2);
 Contratos que ocorrem após o termo da vigência do contrato de agência, mas
apenas se se provar que o contrato foi promovido por aquele agente (artigo 16º,
nº3).

Momento da aquisição da comissão (artigo 18º)


 Momento do cumprimento do contrato pelo principal;
 Momento em que o principal deveria ter cumprido o contrato celebrado;
 Momento do cumprimento pelo cliente (terceiro).

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Contratos Civis e Comerciais

Forma
É consensual, não carecendo de forma escrita. Uma das partes pode exigir um
documento essencial, que indique o conteúdo do contrato e posteriores aditamentos
ou alterações. Isto é mais importante para o agente, por ser a parte mais fraca.

Exclusividade
De acordo com o artigo 4º, a exclusividade depende de acordo escrito do
principal. O principal não pode recorrer a outros agentes para o exercício da atividade,
numa determinada área geográfica, nem o agente poderá representar outras marcas
sem o consentimento do principal (artigo 4º a contrario e artigo 6º).

Proteção de terceiros
 O agente tem o dever de informação sobre os seus poderes;
 O agente celebrando um negócio sem poderes de representação, o negócio torna-
se ineficaz quando ao principal. Este, por sua vez, tem 5 dias para informar o cliente
relativamente à sua recusa de ratificação do contrato. Se não o fizer, considera-se
ratificado, exceto o caso em que o cliente esteja de má-fé (artigo 22º).

Tutela da Aparência

O negócio é eficaz perante o principal, nos casos em que é criada perante os


clientes a convicção de que o agente tem poderes de representação, desde que o
principal tenha contribuído para fundar a confiança do terceiro.

Cessação do contrato
Esta matéria está regulada nos artigos 24º e seguintes. Se as partes nada
disserem, presume-se que foi celebrado sem prazo (artigo 27º).

Formas de cessação

1. Denúncia
 Unilateral;
 Celebrado por tempo indeterminado;
 Sem justificação;
 Pré-aviso – o artigo 28º estabelece prazos mínimos, mas podem igualmente ser
estabelecidos prazos mais longos (nº3).

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2. Resolução (artigo 30º)


 Com causa ou justificação;
 Celebrado por termo determinado ou indeterminado.

Efeito da resolução ilícita no contrato duradouro:

 A resolução não produz efeitos, mantendo-se o contrato;


 Pinto Monteiro considera que se dá a extinção do contrato se se considerar que isso
revela um incumprimento que gera obrigação de indemnizar pela parte que
(ilicitamente) resolveu.

3. Acordo das partes

4. Caducidade

Relativamente à caducidade, é fulcral centrarmos as atenções numa figura que


se aplica a todas as formas de cessação de contrato:

Indemnização de clientela – compensação do agente mais-valias que o principal


beneficia pela angariação dos clientes. Exclui-se, apenas, quando o motivo for imputável
ao agente (nº3) – incumprimento do agente, denúncia pelo agente, etc.

Requisitos

 Cessação do contrato;
 O agente ter angariado novos clientes, ter aumentado substancialmente o volume
de negócios, ou, ainda, numa situação de grande crise, ter mantido o volume de
negócios (perspetiva de Pinto Monteiro);
 A outra parte venha a beneficiar da atividade (se não beneficiou porque mudou de
atividade, não há direito a esta compensação);
 O agente ter deixado de receber qualquer contribuição (se foi acordado que o
agente continuaria a receber comissões, exclui-se a possibilidade desta
compensação).

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Lógica do contrato
1. Partes
2. Considerandos
3. Cláusulas
 Objeto (território, produtos, poderes)
 Exclusividade (prazo)
 Obrigações do agente (promoção, confidencialidade, informação, não
concorrência, performance mínima)
 Obrigações do principal (meios necessários para promoção, prazo
para rejeição/aceitação do agente)
 Retribuição (contratos efetuados, pagamento, valor das comissões)
 Indemnizações de clientela
 Despesas
 Prazo
 Lei aplicável

Concessão
Contrato pelo qual um empresário – o concedente – se obriga a vender a outro
– o concessionário – ficando este último, em contrapartida, obrigado a comprar ao
primeiro, certos produtos, para revenda em nome e por conta própria numa
determinada zona geográfica, bem assim como a observar determinados deveres
emergentes da sua integração na rede de distribuição do concedente.

Apesar da sua atipicidade legal, trata-se indubitavelmente de um contrato


socialmente típico, perfeitamente sedimentado na prática dos negócios,
correspondendo mesmo a uma das modalidades mais difundidas da distribuição
comercial de bens ou serviços de marca ou grande qualidade (automóveis, bens de luxo,
material informático, moeda).

Nesta figura, distintamente do que acontece no contrato de agência, o


cessionário atua em nome próprio e por conta própria. O cessionário adquire o produto
ao produto, com o fim de o revender. Aqui, o cessionário assume o risco do negócio.

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Características
 Obrigações Recíprocas de Compra e Venda
 Atuação em Nome e por Conta Próprios
 Autonomia
 Estabilidade

O contrato de concessão comercial constitui um contrato-quadro, uma vez que


visa criar e disciplinar uma relação jurídica de colaboração estável e duradoura entre as
partes, cuja execução se traduz na celebração futura entre estas de sucessivos contratos
de compra e venda.

A concessão comercial representa ainda um contrato consensual (art. 219º CC),


oneroso (originando vantagens patrimoniais para os contraentes), intuitos personae
(celebrado em atenção às especiais qualidades da outra parte, gerando deveres
reforçados de lealdade e de boa fé) e de adesão (regra geral, elaborado mediante o
recurso a cláusulas contratuais gerais).

Regime Jurídico
O Contrato de Concessão não tem base legal direta, pelo que estamos face a uma
figura assente na autonomia privada.

À partida trata-se de um contrato que não está sujeito a forma solene, podendo
ser meramente verbal ou pode resultar de condutas concludentes.

O Regime do Contrato de Concessão resultará da interpretação e da integração


do texto que tenha sido subscrito pelas partes.

A doutrina e a jurisprudência nacionais têm acolhido a posição de que se deve


recorrer analogicamente ao regime da agência, uma vez que este é um instrumento
fundamental para acudir a lacunas que surjam em concretos contratos de concessão.

As figuras relativas à cessação do contrato no contrato de agência são aqui


aplicáveis.

Franquia
Contrato pelo qual um empresário – o franquiador – concede a outro empresário
– o franquiado – o direito de exploração e fruição da sua imagem empresarial e

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respetivos bens imateriais de suporte (mormente, a marca), no âmbito da rede de


distribuição integrada do primeiro, de forma estável e a troco de uma retribuição. Ou
seja, neste caso, o franquiado obedece às diretrizes que o franquiador lhe impõe. O
franquiado vende a marca e o franquiado utiliza a forma da marca.

O Contrato de Franquia representa o mais relevante, heterogéneo e complexo


contrato de distribuição comercial. Resulta de uma técnica contratual nascida nos E.U.A.
no séc. XIX e que foi rapidamente adquirindo um relevo central no panorama económico
mundial, nela repousando a expansão de inúmeras empresas a nível internacional.
‘’Tudo é Franchisável’’!

Características
 Um contrato atípico (não dispõe de uma disciplina legal própria);
 Inominado (não dispõe de um ‘’nomen iuris’’);
 Consensual (exceto quando envolva a licença de explicação de direitos privativos de
propriedade industrial – art. 31º/6 e art. 32º/3 CPI);
 Intuitos personae;
 Contrato-quadro (na medida em que prevê e regula a obrigação das partes
concluírem subsequentemente contratos futuros, geralmente de compra e venda,
entre si ou com terceiros);
 Fruição da imagem empresarial do franquiador;
 Transmissão do ‘’Know-how’’ e Assistência Técnica;
 Controlo e Fiscalização do Franquiado;
 Onerosidade.

Tal como nas figuras acima descritas, as formas de cessação do contrato são as
mesmas.

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Casos Práticos
Caso 1
Jacinto celebrou um contrato com Bernardo pelo qual efetuou uma contribuição de
100mil€ para a atividade deste, de compra e venda de mobiliário, ficando a participar
em 25€ dos lucros resultantes dessa atividade. Passados 5 anos, Jacinto apercebeu-se
que Bernardo obteve lucros chorudos (500mil€) e não lhe tem dado contas desses lucros.

a) Pode Jacinto exigir a sua parte dos lucros? Qual o valor dessa parte?

Estamos perante uma situação de associação em participação (contrato de cooperação


empresarial), em que o fim comum é a compra e venda de mobiliário e a contribuição

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de 100mil€. Jacinto é o associado e Bernardo o associante, e a sua participação é de 25%


(artigo 21º/2 e 25º/1).

Sim, Jacinto tinha direito a 25% dos 500mil€ (125mil€), nos termos dos artigos 25º, nº 1
e 5 e artigo 31º, nº5.

b) Pode Jacinto por termo ao contrato?

Não, o contrato não era com tempo determinado, logo segundo os artigos 27º/7 e
30º/3, Jacinto não pode resolver o contrato porque ainda não decorreram 10 anos
desde a sua celebração.

c) Suponha que Alfredo dispõe de um crédito sobre Bernardo por falta de entrega
de móveis já pagos. Pode exigir o pagamento desse crédito ao Jacinto?

A associação em participação não cria um ente com personalidade jurídica nem com
património autónomo, logo pode apenas exigir o crédito a Bernardo. Jacinto não
responde pela obrigação.

Caso 2
Jacinto sofreu um acidente de viação ao serviço da sua entidade patronal, “Transportes
e Cortiças do Douro Litoral, ACE” que agrupa 5 empresas produtoras de cortiça. Sabendo
que Jacinto tem direito ao pagamento de uma indemnização de 20mil€, diga quem pode
ser responsabilizado pelo pagamento desse valor.

Estamos perante um agrupamento complementar de empresas (base I, nº1), uma vez


que contém a denominação expressa “ACE” (base III, nº3). O fim principal do ACE é o
transporte da cortiça. Neste caso, responde primeiro o património do ACE, na medida
em que se aplica o benefício da excussão prévia. Subsidariamente, responde o
património dos seus membros.

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Repetitório de Perguntas

1. Defina contrato de Associação em Participação.


2. Qual a relação entre associante e associado num contrato de Associação em
Participação?
3. O contrato de Associação em Participação cria um novo ente dotado de
personalidade jurídica?
4. Qual a diferença entre o Consórcio e a Associação em Participação quanto ao
objeto/fim do contrato?

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5. Comente a seguinte afirmação: “A obrigação de indemnizar terceiros é restrita ao


membro do consórcio a quem for imputada essa responsabilidade.”.
6. Qualifique um Agrupamento Complementar de Empresas (ACE).
7. Quais as diferenças entre um ACE e um Consórcio?
8. Resolva a seguinte hipótese:
“Jacinto sofreu um acidente de viação ao serviço da sua entidade patronal, a Transportes de cortiças do Douro
Litoral ACE, que agrupa 5 empresas produtoras de cortiças. Sabendo que Jacinto tem direito ao pagamento de uma
indemnização de 20 mil euros, diga quem é responsável pelo pagamento desse valor.”

9. Qual a vantagem do contrato de abertura de crédito face ao mútuo bancário?


10. Quais são os direitos e obrigações das partes num contrato de abertura de crédito?
Responda tendo em conta as duas fases do contrato.
11. Defina abertura de crédito simples e abertura de crédito em conta corrente. Qual a
diferença entre ambas?
12. O que é um contrato de suprimento?
13. Pode uma Sociedade Anónima ser beneficiária de suprimentos?
14. Comente a seguinte afirmação: “ Os suprimentos são considerados capitais de
risco.”.
15. Quais os elementos de um contrato de Leasing ou de Locação Financeira?
16. Dê uma noção sucinta de locação financeira restitutiva (“lease-back”).
17. O contrato de fiança e a garantia bancária autónoma são contratos de garantia.
Quais as caraterísticas essenciais de cada contrato?
18. Pode o beneficiário de um garantia bancária autónoma invocar vícios da obrigação
principal? Justifique a sua resposta.
19. No que é que consiste o crédito documentário?

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