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Nível de interesse no pré-sal do Brasil é fenômeno global,

diz James Reilly, do Citibank


epoca.globo.com/economia/nivel-de-interesse-no-pre-sal-do-brasil-fenomeno-global-diz-james-reilly-do-
citibank-23905956
26 de agosto de
2019

Um dos principais executivos responsáveis pela área de energia do


Corporate Banking do banco Citi, James Reilly considera o pré-sal do
Brasil uma das melhores oportunidades do mundo no setor de
petróleo.

Além da já conhecida alta produtividade dos campos, ele cita a


redução nos custos de exploração das reservas acima de 2 metros de
profundidade na Bacia de Santos, o que torna as reservas ainda mais
disputadas por todo o mundo. Em entrevista a ÉPOCA, ele lembrou
que são essas áreas que farão as empresas globais prosperarem.

Como o senhor avalia a importância do pré-sal para o setor de


petróleo no mundo?

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Além dos Estados Unidos, não há região que tenha recebido mais
foco do setor do que a América Latina. Há um ano, teríamos uma lista
com Brasil, México, Argentina e, em menor grau, Colômbia, Equador e
Trinidad. Mesmo no ano passado, eu colocaria o Brasil no topo da
lista. Hoje há incertezas políticas na Argentina. No México, há uma
cautela sobre o futuro da reforma energética. Por isso, acho que o
Brasil se destaca. Primeiro, houve uma mudança positiva no ambiente
em torno do Brasil tanto política quanto econômica, com mudanças
no regime regulatório que impactou a oportunidade do pré-sal.
Segundo, o Brasil tem uma província provada de recursos no pré-sal
que a diferencia entre outras oportunidades em todo o mundo. É uma
oportunidade espetacular para as grandes petroleiras multinacionais
que podem lidar com o custo de capital. A produtividade é incomum,
assim como o custo operacional dos poços, que podem produzir até
45 mil barris por dia.

E esse interesse pelo pré-sal pode vir de onde?

O nível de interesse no Brasil é um fenômeno global. Já vimos os


grandes players internacionais da América do Norte e da Europa,
como Exxon, Chevron, Shell, Total, Equinor e BP. Há ainda interesse
da Ásia, como, principalmente, os chineses. Por isso, acho que é
mundial. Quando houver o leilão no fim deste ano, espero que haja
mais evidências do entusiasmo dessas empresas pelo Brasil.

Como o senhor compara a vantagem competitiva do pré-sal com


a volta do crescimento das fontes não convencionais, como o
shale gas nos Estados Unidos?

Eu acho que há um amplo debate sobre as condições das águas


ultraprofundas e como elas se comparam ao investimento em
projetos não convencionais. Eu acho que o que vimos no último ano e
meio tem sido a queda no custo de águas ultraprofundas. A
produtividade que você obtém no pré-sal torna essa reserva a mais
proeminente oportunidade. Por isso, há espaço no portfólio das

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grandes companhias. As empresas que estão em águas
ultraprofundas são os que vão prosperar. E essas empresas já estão
aqui no Brasil.

Como o preço do barril pode afetar esses planos?

Com o preço do petróleo entre US$ 50 e US$ 70, há um conforto para


áreas que são o foco das empresas hoje, como o não convencional e
o pré-sal. Nossa previsão é que os preços do petróleo vão cair no
próximo ano e depois sobem, mas será sempre entre US$ 50 e US$
70.

A venda de ativos na Petrobras está muito elevada?

As companhias do tamanho da Petrobras têm uma base enorme de


ativos. O que percebemos é que diversas vezes essas empresas
reavaliam seus ativos para reduzir a alavancagem e financiar outros
programas de investimento. O programa de venda de ativos da
Petrobras tem chamado a atenção porque a empresa tem tornada
sua estratégia pública em pronunciamentos. Se você olhar a Exxon,
ela está sempre vendendo ativos e acho que você veria isso entre a
maioria das grandes petroleiras internacionais.

E como o senhor analisa hoje o atual cenário de fusões e


aquisições no setor de petróleo no mundo?

O cenário de fusões e aquisições tem sido dominado por negócios


táticos. Nesse grupo, eu incluiria alguns dos negócios feitos no Brasil.
São ativos que nem sempre podem ser comprados quando você
coloca dinheiro em uma rodada de ofertas. É assim que as empresas
multinacionais estão se expandindo ao comprar essas oportunidades
no Brasil. Se você olha para os Estados Unidos, há uma série de
aquisições entre US$ 2 bilhões e US$ 6 bilhões envolvendo
companhias que estão na Bacia do Permiano [no sudoeste do país]. O
objetivo desses negócios é ganhar vantagem competitiva. Enquanto
isso, as grandes aquisições têm um objetivo de transformação do

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negócio. Eu destacaria o negócio envolvendo a Anadarko [adquirida
pela Chevron por US$ 33 bilhões em abril deste ano], o que vai mudar
por completo a empresa.

Qual é o desafio para a indústria?

As companhias de petróleo viram uma redução significativa no valor


de seus ativos. O desafio é como as empresas vão conseguir melhorar
isso. Eu acho que a perspectiva de preço do petróleo será sempre um
desafio. Eu acho que você também tem um tópico que se tornou
muito mais importante no últimos anos que é a gestão de risco
ambiental e social.

E como estão os investimentos das empresas de petróleo em


energias renováveis?

Até agora as multinacionais americanas Chevron e Exxon realmente


não entraram intensamente em energias renováveis, como solar ou
eólica. Não vi entrarem em distribuição de eletricidade ou
transmissão. É o oposto da Europa. BP, Shell, Total e Equinor estão
fazendo esses investimentos, mas ainda relativamente pequenos em
comparação com o total investido. Isso é reflexo do ambiente político
no qual eles trabalham. Em grande parte da Europa é um tema
politicamente muito mais importante do que nos Estados Unidos.

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