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RESUMO: O texto propõe uma reflexão atualizada sobre a espiritualidade dos padres deserto
como forma de se chega ao autoconhecimento e domínio de si mesmo através das categorias
místicas do silêncio, oração e renúncia vivenciadas pelos monges do deserto. A espiritualidade
do deserto apresenta-se como uma forma autêntica de se buscar uma intimidade maior com
Deus em meio ao nosso mundo amplamente marcado pelas seduções do sistema consumista.
Neste contexto, procura-se evidenciar como a mística de Santo Antão, Pacômio e Evágrio Pôntico,
Padres do Deserto do Século IV, podem ser atualizadas em nossa cotidianidade como forma de
se conservar a própria dignidade humana cuja vocação é alçar voos aos valores eternos e não
efêmeros deste mundo.
ABSTRACT: The text proposes an updated reflection on the spirituality of the desert fathers
as a way to come to self-knowledge and self-control through the mystical categories of silence,
prayer and renunciation experienced by the monks of the desert. The desert spirituality
presents itself as an authentic way to seek greater intimacy with God in the midst of our world
widely characterized by the allurements of the consumerist system. In this context, we seek to
show how the mystique of Saint Anthony, Pachomius and Evagrius Ponticus, the Desert Fathers
of the fourth century, can be updated in our daily lives as a way to preserve human dignity
whose vocation is to launch flights to eternal values and not to the ephemeral of this world.
104 em três tópicos e uma conclusão a partir das categorias espirituais do silêncio,
oração e renúncia, utilizadas pelos Padres do Deserto como caminho para se
chegar à alta contemplação que propicia a união mística do coração humano
ao coração divino.
). Outros fatos narrados a partir da vida dos padres do deserto são também
muito ilustrativos para se evidenciar o silêncio como caminho transformador do
interior humano e altamente propiciador de conversão e de autoconhecimento.
Com efeito, a oração é uma categoria na via mística dos padres do deserto
que permite ao orante unir-se intimamente ao seu Senhor, a tal ponto de se fazer
cumprir as palavras do Apóstolo Paulo: “não sou eu quem vive, é Cristo quem vive
em mim”. Por isso, a meta do monge do deserto é sempre a sua união mística com
Deus mediante uma oração contínua em que sua alma se eleva para dentro de
Deus (ibidem, 2009).
Portanto, meus filhos, não nos cansemos, não pensemos que o tempo
seja longo ou que fazemos grande coisa. ‘Os sofrimentos do tempo
presente não têm proporção com a glória futura que se manifestará
em nós’(Rm 8,18). Olhando para o mundo, não pensemos que
renunciamos a grandes coisas. A terra inteira é muito pequena diante
do céu. Se, pois, possuíssemos a terra inteira e renunciássemos
totalmente a ela, isso não seria digno do reino dos céus. Como quem
desprezasse uma dracma para ganhar cem, assim o senhor de toda
a terra, renunciando a ela, deixaria pouco e receberia o cêntuplo. Se
toda a terra não é digna do reino dos céus, aquele que deixa algumas
jeiras de terra não perde, por assim dizer, nada, e, se deixa sua casa
e muito ouro, não tem motivo para se gloriar ou esmorecer. Aliás,
as coisas que não deixamos, a morte no-las tira, e elas muitas vezes
passam às mãos de pessoas para as quais não quereríamos que
fossem, como diz o Eclesiastes (Ecl 4,8). Por que não deixá-las por
virtude, para obtermos a herança do reino? Portanto, que o desejo
de possuir não nos invada (ATANÁSIO, idem, pg. 310).
Diantedessequadroavassalador,temosascategoriasdaespiritualidadedos
padres do deserto como mecanismos místicos para dar um novo direcionamento
à existência humana. O silêncio surge como grito profético paradoxalmente na
busca humana por seu autoconhecimento e controle de si mesmo. A oração
aparece como via segura para se reatar os laços que o consumismo fragiliza na
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relação homem – Deus. A renúncia se mostra como caminho a ser percorrido por
um coração sedento dos bens eternos e não transitórios deste mundo.
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CONCLUSÃO
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