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TRATAMENTO ELETROQUÍMICO DE REJEITO DE MINÉRIO DE FERRO

VISANDO À RECUPERAÇÃO DE ÓXIDOS DE FERRO E REUSO DA ÁGUA


DE PROCESSO.

Edital CNPq Nº 06/2019


Bolsas de Produtividade em Pesquisa

Proponente

Iranildes Santos
Pesquisadora Adjunto A
Instituto Tecnológico Vale

Área de conhecimento do projeto: Engenharia de Minas


Linha de pesquisa: Tratamento de minérios

Palavras-chave: rejeitos, efluentes, minério de ferro, eletroquímica.

Ouro Preto/MG, julho de 2019

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Sumário
1. Contextualização teórica do tema/Resumo ………...………......................…………………….3
2. Objetivos……………………......................................................................................................5
2.1. Objetivo geral............................................................................................................................5
2.2. Objetivos específicos….............................................................................................................5
3. Metodologia…...……...……………………………….....………........………..........……..…..6
4. Resultados esperados …………………….…….…....................................................…….....…8
5. Relevância e impacto do projeto para o desenvolvimento científico, tecnológico ou de
inovação...........................................................................................................................................8
6. As principais atividades de pesquisa desenvolvidas pelo proponente.........................................9
6.1. Principais projetos....................................................................................................................9
6.2. Principais artigos.....................................................................................................................10
6.3. Principais orientações em andamento e concluídas................................................................11
7. Referências bibliográficas….....……………….…...................................................................12

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Este projeto abordará o uso da tecnologia eletroquímica para tratamento de rejeitos de minério
de ferro. Vale ressaltar que, a tecnologia poderá ainda ser utilizada para tratamento de diversos
tipos efluentes gerados no âmbito da indústria mineral, tais como água de processo e de lastro
(água do mar usada para manter a estabilidade de navios durante o transporte) e que precisa ser
tratada para descarte no mar.

1. Contextualização teórica do tema/Resumo

Todos os setores econômicos dependem de água em seus processos produtivos. Vale lembrar
ainda que, muitas formas de produção de energia também dependem de água. De acordo com a
United Nations World Water Assessment Programm (WWAP, 2017), 3.928 km3 de água potável
são captados por ano no mundo. Deste total, 19% é consumida pelo setor industrial sendo que 16%
retorna ao meio ambiente como efluente industrial.
A mineração é uma atividade essencial para suprir a demanda da humanidade por
infraestrutura e itens que se tornaram essências para a sobrevivência da sociedade moderna, tais
como os aparelhos eletro-eletrônicos que dependem de diversos tipos de metais para a sua
produção.
As indústrias minerais e metalúrgicas utilizam grande volume de água em seus processos
produtivos; consequentemente grandes quantidades de rejeitos e de efluentes são geradas. Estes
contêm contaminantes (reagentes químicos, gases, metais pesados e materiais particulados) que
precisam ser eliminados para recirculação da água para os processos ou para descarte, conforme a
legislação.
Processamento de minérios gera basicamente três tipos de resíduos:
 Estéreis com baixa umidade (que pode ser inferior a 10%) e que são dispostos em pilhas
ou em cavas exauridas;
 Rejeitos com umidade que pode ser superior a 50%, que são destinados às barragens de
onde a água pode ser captada para tratamento e recirculada para o processo e;
 Efluentes líquidos que são tratados para reuso ou descartados, conforme legislação.
A maior commodity mineral do Brasil é o minério de ferro. O país é o segundo maior produtor
e possui a segunda maior reserva de minério de ferro do mundo (USGS, 2019). As principais
reservas ficam localizadas em Minas Gerais e Pará. Estas reservas apresentam características
químicas e mineralógicas diferentes e, por isto, o processamento mineral é diferente. No Pará, o
minério de ferro contém alto teor de ferro e é processado a seco, sem etapa de concentração a
úmido por flotação, que é um dos processos que mais consome água na indústria mineral. Enquanto
que, em Minas Gerais, o minério é de baixo teor de ferro e associado à contaminantes e, por isto,

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precisa ser cominuído a úmido e concentrado por flotação para atingir o teor de ferro e sílica
adequado para atender o mercado consumidor. Vale ressaltar ainda que, à tendência é que o
processamento de minério de ferro em Minas Gerais aumente à demanda por água em função da
alteração da composição química e mineral das reservas com o passar dos anos. Atualmente, em
algumas usinas de beneficiamento de minério de ferro, a etapa de flotação consome 0,48 t de água
para cada 0,52 t de minério.
A tecnologia eletroquímica vem sendo bastante aplicada nos últimos anos como uma
alternativa para o tratamento de diversos tipos de rejeitos e efluentes (Ma et al., 2017; Santos et
al., 2006; Garcia-Segura et al, 2018; Sivagamik et al., 2018; Yan et al., 2011; Walsh, 2001;
Pletcher and Walsh, 1990). Uma das vantagens desta tecnologia é que apenas eletrólito é
necessário adicionar ao processo, considerando um efluente com baixa condutividade.
A concentração de minério de ferro por flotação reversa faz uso de amido, que atua como
agente depressor de hematita/óxidos de ferro, e de amina, que atua como agente coletor dos
minerais de quartzo e como estabilizador de espuma. Este processo gera grande quantidade de
rejeito contendo, basicamente, minerais de quartzo e partículas finas e ultrafinas de óxidos de ferro
(equivalente a aproximadamente 10% do conteúdo metálico do minério alimentado na usina). A
perda dos óxidos de ferro para o rejeito pode ser atribuída às bolhas de ar (flotação verdadeira), ao
arraste pelo fluxo hidráulico ascendente do processo (flotação por arraste) e/ou ainda a co-adsorção
de amina. Considerando, por exemplo, o rejeito de flotação da usina de Vargem Grande II (VGR-
II), localizada em Minas Gerais-MG, este contém um teor médio de Fe e SiO2 da ordem de 15% e
79%, respectivamente. Uma das formas de recuperação dos óxidos de ferro presentes no rejeito
seria por flotação direta. Entretanto, os reagentes orgânicos contidos no rejeito interferem na
flotação direta, visto que novos reagentes precisam ser adicionados e a interação entre eles poderá
inviabilizar a recuperação dos óxidos de ferro. Neste sentido o tratamento eletroquímico do rejeito
da flotação reversa de minério de ferro poderá viabilizar a recuperação dos óxidos de ferro por
flotação direta sem troca de água no processo.
Ensaio exploratório, em bancada, realizado em 2018 mostrou que o uso da tecnologia
eletroquímica como etapa de pré-tratamento do rejeito scavenger de minério de ferro antes
da flotação direta dos óxidos de ferro proporcionou a obtenção de um concentrado com teor
de Fe e SiO2 de 35 e 18%, respectivamente, com recuperação metálica acima de 45%.
Enquanto que, a partir do rejeito scavenger de minério de ferro sem pré-tratamento
eletroquímico, o concentrado obtido continha apenas 8,5% de Fe e 86,6% de SiO2. Porém,
estes resultados foram obtidos com apenas dois ensaios. Diante dos resultados obtidos, surge a
necessidade de investigar os parâmetros eletroquímicos adequados para degradação parcial e/ou
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total dos reagentes presentes no rejeito scavenger para atingir um concentrado de minério de ferro
com teor de Fe acima de 60%, SiO2 abaixo de 13% e recuperação metalúrgica acima de 60%. Os
resultados exploratórios mostraram ainda que além de viabilizar a recuperação dos óxidos de ferro,
melhorou a filtrabilidade do rejeito e a turbidez visual, conforme mostra a figura 1. Considerando
que a tendência é a eliminação do uso de barragens na mineração de ferro, a melhora da
filtrabilidade, em função da degradação dos reagentes e, consequentemente, a redução da
viscosidade, poderá favorecer o descarte do rejeito através do empilhamento da fração sólida e
reuso da fração líquida para o processo.

Rejeito da flotação reversa

Antes Depois
Figura 1: Aspecto visual do rejeito de minério de ferro antes e depois do tratamento eletroquímico
para degradação dos reagentes, amido e amina.

2. Objetivos
2.1. Objetivo geral

Estudar a eficiência da tecnologia eletroquímica para o tratamento de rejeito de minério de


ferro visando à recuperação dos óxidos de ferro e ao reuso da água de processo.

2.2. Objetivos específicos

 Investigar os parâmetros eletroquímicos, tais como densidade de corrente, tempo de


residência e eletrólito de suporte que podem influenciar na degradação de amido e amina,
e consequentemente; na recuperação de óxidos de ferro do rejeito.
 Realizar o tratamento do efluente final, depois da flotação direta, e enquadrar dentro das
especificações para reuso no processo ou descarte.
 Estabelecer fluxograma de processo para pré-tratamento de rejeito de minério de ferro
seguido de flotação direta e tratamento do efluente final.

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3. Metodologia

Trata-se de um projeto em escala de bancada e piloto com duração prevista para 36 meses a
ser desenvolvido em parceria com o Programa de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da
COPPE/UFRJ. Os ensaios eletroquímicos em bancada serão realizados no ITV e na
COPPE/UFRJ. Os ensaios piloto de eletro-oxidação seguido de flotação direta e tratamento do
efluente final serão realizados no ITV/CDM (Centro de Desenvolvimento Mineral).
A Figura 2 apresenta o fluxograma simplificado do processo a ser investigado para eletro-
oxidação de rejeito de minério de ferro seguido de flotação direta visando à recuperação dos óxidos
de ferro.
As principais etapas do projeto são:
1) Definir a estrutura, equipamentos e procedimentos para execução experimental em escala
de bancada e piloto no ITV.
2) Definir a metodologia para determinação de amido, amina e identificação de subprodutos
da degradação de amido e amina.
3) Realizar a caracterização do rejeito de minério de ferro e dos materiais de eletrodo
(Ti/RuO2 (chapa e placa) e aço inox) a serem utilizados.
4) Realizar testes investigando os parâmetros: densidade de corrente, tempo de
residência, configuração da célula eletroquímica, assim como outros fatores que possam
influenciar na eficiência do processo para degradação da matéria orgânica (amido e amina)
presente no rejeito.
5) Obter um rejeito com teor de reagentes (amido e amina) reduzido e realizar ensaios de
flotação direta para recuperação dos óxidos de ferro.
6) Realizar a caracterização do rejeito de minério de ferro, depois da eletro-oxidação, e dos
produtos da flotação direta.
7) Realizar ensaios para tratamento do efluente final, depois da flotação direta, investigando
os parâmetros tempo de residência, densidade de corrente e formação de subprodutos
inadequados para reuso da água ou para descarte.
8) Estimar o custo do processo através do consumo energético e de material de eletrodo.

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Rejeito de minério de ferro

Eletro-oxidação

Flotação direta

Material flotado Material afundado


(Fe + água contendo reagentes) (SiO2 + água contendo reagentes)

Concentrado
Filtração Eletro-oxidação
(Óxidos de ferro)

Rejeito sólido
Filtração
(Empilhamento)

Água de processo

Eletro-oxidação

Água de processo*
tratada

* parte desta água retornará para a etapa de flotação direta para fechar o balanço de água e o restante poderá ir para a etapa de
flotação reversa, para outras unidades da usina ou para descarte, dentro das especificações exigidas pela legislação.

Figura 2. Fluxograma simplificado do processo para eletro-oxidação de rejeito de ferro para


posterior flotação direta visando à recuperação de óxidos de ferro e tratamento da água de
processo.

A caracterização do rejeito de minério de ferro antes e/ou depois do tratamento será realizada
por medidas de tamanho de partículas, determinação da concentração de amina, matéria orgânica
e de amido, pH e demanda química de oxigênio (DQO). A determinação do teor de amina será
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realizada por método colorimétrico usando clorofórmio e verde de bromocresol e seguindo a
metodologia descrita por Monte (1996) e Araújo et al. (2009). Método titulométrico será utilizado
para determinação da concentração de matéria orgânica na fase sólida. Os teores de Fe, Al2O3,
SiO2 e outros elementos serão determinados por absorção atômica. E, ensaios de adsorção usando
amina, quartzo e hematita puros serão realizados para identificar o fracionamento de amina nas
fases sólida e líquida.
Os ensaios de voltametria cíclica serão realizados usando Ti/RuO2 e aço inox como eletrodo de
trabalho, com área exposta de 1cm2. Aço inox será utilizado como contra eletrodo e Ag/AgCl
(saturado em KCl, Eo = 0,198 V vs SHE) como eletrodo de referência. Os voltamogramas serão
obtidos com diferentes taxas de varredura e eletrólitos de suporte, NaCl e Na2SO4.

4. Resultados esperados.

 Obter rejeito de minério de ferro com baixa concentração de amina e amido;


 Obter produto, concentrado de óxidos de ferro recuperado do rejeito, com teor de ferro
superior a 60% e teor de sílica inferior a 12% com recuperação metálica acima de 60%;
 Obter efluente final, água de processo, adequado para reuso no processo industrial ou
descarte, conforme a legislação.

5. Relevância e impacto do projeto para o desenvolvimento científico, tecnológico ou de


inovação.

 Desenvolver tecnologia para viabilizar à recuperação de óxidos de ferro que seriam


descartados em barragens, consequentemente prever ganhos financeiros; considerando que
aproximadamente 15% de óxidos de ferro é perdido para o rejeito e que atualmente não é
recuperado industrialmente;
 Introduzir a tecnologia eletroquímica, não utilizada pela mineração, para tratamento de
efluentes gerados na concentração de minério de ferro e de outros metais;
 Formação de recursos humanos especializado em processos eletroquímicos para
atuação na área mineral com foco em tratamento de efluentes e recuperação de metais de
valor agregado a partir de rejeitos da mineração. A formação de recursos humanos será
possível através dos cursos de especialização e mestrado do ITV e das parceiras realizadas
entre o ITV e as universidades.

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6. As principais atividades de pesquisa desenvolvidas pelo proponente

Eu, Iranildes Daniel dos Santos, graduada (2003) em Química Bacharelado pela Universidade
Federal de Sergipe, UFS. Mestrado (2005) em flotação de minério de ferro e doutorado (2009) em
Eletroquímica, ambos pela COPPE/UFRJ. Pós-doutorado (2009-2011) na área de bioflotação pela
PUC-Rio. Pós-doutorado (20011-2013) em eletrometalurgia e tratamento de efluente pela COPPE-
UFRJ. Desde 2013 atuo como pesquisadora da Associação do Instituto Tecnológico Vale, empresa
criada para o desenvolvimento de pesquisas na área mineral.
No ITV, atuo nas áreas de metais básicos, ferrosos e tratamento de efluentes gerados na
mineração, coordenadora do curso de especialização em beneficiamento mineral e professora
colaboradora do curso de mestrado em Instrumentação, Controle e Automação de Processos de
Mineração – PROFICAM do ITV em parceria com a Universidade Federal de Ouro Preto.
Os itens abaixo apresentam os principais projetos, artigos publicados em revistas internacionais
e orientações concluídas e em andamento.
O fator H do proponente no Scopus é mostrado abaixo.

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6.1. Principais projetos

1) Eletro-oxidação de rejeito de minério de ferro para posterior recuperação dos óxidos de


ferro: projeto financiado pelo ITV e desenvolvido em parceria com a COPPE-UFRJ e a
Vale S.A. Envolve 1 aluno de iniciação científica.
2) Desenvolvimento de processo para tratamento de efluente gerado durante o
armazenamento de fertilizantes em áreas portuárias: projeto financiado pelo ITV e
desenvolvido em parceria com a COPPE-UFRJ e a Vale S.A. Envolve 1 aluno de
doutorado.
3) Sulfatação seletiva de minério laterítico de níquel: projeto financiado pelo ITV e
desenvolvido em parceria com a COPPE-UFRJ e a Vale S.A. Envolve 1 aluno de
doutorado e 1 pós-doc (bolsista do edital CNPq/ITV 020/2016).
4) Decomposição redutora de sulfato de magnésio para uso como agente neutralizante em
processos industriais: projeto financiado pelo ITV e desenvolvido em parceria com a PUC-
Rio e a Vale S.A. Envolve 1 aluno de mestrado.

Todos os projetos são financiados pelo ITV e Vale S.A. e desenvolvidos em parceria com os
Departamentos de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da COPPE-UFRJ e de Engenharia
Química e de Materiais da PUC-Rio.

6.2. Principais artigos

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6.3. Principais orientações em andamento e concluídas.

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7. Referências bibliográficas

K. Sivagamik, K.P. Sakthivel, I.M. Nambi, Advanced oxidation processes for the treatment of
tannery wastewater, J. Environ. Chem. Eng. 6 (2018) 3656–3663.

S. Garcia-Segura, J.D. Ocon, M.N. Chong, Electrochemical oxidation remediation of real


wastewater effluents- a review, Process Saf. Environ. 113 (2018) 48–67,

M.R.G. Santos, M.O.F. Goulart, J. Tonholo, C.L.P.S. Zanta, The application of electrochemical
technology to the remediation of oily wastewater, Chemosphere 64 (2006) 393–399.

L. Yan, H. Ma, B. Wang, Y. Wang, Y. Chen, Electrochemical treatment of petroleum refinery


wastewater with three-dimensional multi-phase electrode, Desalination 276 (2011) 397–402.

P. Ma, H. Ma, S. Sabatino, A. Galia, O. Scialdone, Electrochemical treatment of real wastewater.


Part 1: effluents with low conductivity, Chem. Eng. J. 336 (2017) 133–140.

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F. C. Walsh, 2001. Electrochemical technology for environmental treatment and clean energy
conversion. Pure Appl. Chem., Vol. 73, No. 12, pp. 1819–1837.

D. Pletcher; F. C. Walsh, 1990. Industrial Electrochemistry. Springer Science & Business Media,
1990. ISBN: 0412304104, 9780412304101.

U.S. Geological Survey, 2019, Mineral commodity summaries 2019: U.S. Geological Survey, 200
p., https://doi.org/10.3133/70202434.

WWAP (United Nations World Water Assessment Programm). 2017. The United Nations World
Water Development Report 2017. The Untapped Resource. Paris, UNESCO.

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